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Begué
Acho que meu trabalho é uma busca do entendimento do vazio. O Vazio como um lugar das possibilidades infintas.
Pedro Varela De onde vem o nome Begué?
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Begué É uma daquelas evoluções de apelido… Resumidamente: Guilherme (ainda hoje há quem me chame assim… desavisadamente); Gui; Guigui (durou pouco, foi aí que a mutação iniciou de fato); Quiqui (zoação de irmã que a galera adotou como ferramenta de irritação súbita); Big ou Bigui (eu era gordinho); e finalmente… Begué. Engraçado que depois desse apelido pegar até o da minha irmã mudou de Dri (Adriana) para Dredré.
PV Como você se relaciona com desenho? Qual é a importância deste meio dentro da sua produção como um todo?
Begué Entendo o desenhar como uma ação básica do ser humano, um exercício simbólico de apreensão da realidade e o resultado – o desenho em si – é um mapa do movimento realizado em um tempo absoluto: todos os tempos de ação expostos juntos instantaneamente. Me interessa essa relação imediata que a imagem pode ter como um tempo esférico, não linear.
Gabriela Mureb Onde é que a linha vai dar?
Begué Vai dar no mundo e ela também vem do mundo. Eu entendo a “noção de linha” como um cordão umbilical entre a nossa atenção e o objeto dessa atenção. Essa “noção de linha” é o que nos proporciona uma imagem mental destacada do mundo. Também acho que a linha desenhada pode ser uma forma de representação do vazio. Uma linha define, pelo menos, duas áreas e se o vazio (simbolicamente falando) é o que está entre a matéria, então a linha (como uma fronteira) pode ser a representação do vazio.
GM E a sua relação com a música? Conta aí um pouquinho dos seus trabalhos como músico, e se vê alguma relação com o seu trabalho recente.
Begué Eu me aproximo da música intuitivamente, não faço idéia de teoria musical. Gosto de compor, ultimamente tem saído umas músicas bem simples e com um tempo cíclico, quase como um mantra. Acho que o clima das músicas tem muito a ver com o clima dos desenhos. Tem também o projeto das músicas infantis com Marcelo Daguerre e Letícia Villela, se tudo continuar fluindo bem o CD fica pronto até o meio do ano que vem. Quanto à relação da música com o trabalho em imagem acho que uma coisa vai contaminando a outra e de alguma forma é um trabalho só que estou desenvolvendo. Mesmo sem saber bem definir o que de fato ele é.
Pedro Meyer Barreto O que o empirismo esvazia?
Begué Acho que esvazia as próprias possibilidades do vazio. O empirismo determina, cria referenciais, assim a própria noção de vazio pode ser esvaziada. O vazio substantivo (o vazio do zen e da física quântica) é “inesvaziável”. O empirismo só poderia esvaziar o conceito de vazio, não o vazio em si.
Sem título, 2008 / caneta acrílica s/ papel / 150 x 200 cm
Begué-Begué é o modo infinitivo do verbo Guilherme.
Pedro Varela [por Begué] é amigo generoso, professor dedicado e interessado, artista genial. Pra mim, de saída o Pedro é assim, ele está morando atualmente no México... esse já ganhou o mundo...
Gabriela Mureb [por Begué] é amiga pra todas as horas, artista até a alma (eu diria até além dela), uma mente que deveria ser estudada sériamente, se não por neurocientistas, então que seja por nós expectadores explorando o desenvolvimento do trabalho dela.
Pedro Meyer Barreto [por Begué] é pensador nato, professor instigante e exigente, artista da imagem e da mente. Ele foi meu orientador de final de curso e seguimos contruindo diálogos sempre interessantes. Atualmente está fazendo doutorado na UFRJ.