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Jeferson Andrade

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Thiago Araújo

Thiago Araújo

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Pensei em dois pontos criando uma reta, mas o que vejo são círculos em órbitas atravessando as políticas de um deserto que só existe em nós. Eu carrego comigo a civilização e desnudo a farsa liberal de um homem em uma ilha, habitar implica pensar a micropolítica que existe nos gestos. Somos o que fazemos? Raul tinha esquizofrenia e epilepsia, dois filhos, uma esposa. Tinha hábitos de caminhadas, acredito que é o que se faz quando não se sabe para onde ir. Desapareceu em 2007 numa de suas caminhadas e nunca mais foi visto, esse dado de desaparecimento coloca Raul no ponto político do que se fazer com os desaparecidos. O vazio que existe e que incomoda. Não há corpo, não há enterro, os ritos são deixados num hiato incongruente. Decidi então criar “Ritos de Memória”, complexificando a pesquisa arqueológica pautada numa análise anti-histórica, onde os dados coletados são pontos de criação ficcional, sem a tentativa de criar elos temporais ou reconstituições fidedignas. Estabeleço um acordo entre a minha imaginação e a memória sensível do espaço. A procura pela não ciência não me torna historiador ou arqueólogo, mas próximo a um Xamã urbano ( Xamã, é um termo de origem tungúsica que nessa língua siberiana quer dizer, na tradução literal, “Aquele que enxerga no escuro”). O vazio tem uma capacidade cosmológica de entendimento podendo expandir as relações míticas que temos com o espaço habitado, intento a partir disso criar micro-situações para desvendar os segredos invisíveis de cada parede para uma pesquisa de auto-convivência com o nada, propondo a escala de subjetividade com parâmetro para realização de uma política por vir.

j Civilização sem rosto, 2013 / objeto / 20 X 10 cm 1989. Artista relacional e pesquisador experimental. Cursou Antropologia na UFF de 2008 a 2010 e atualmente faz História da Arte na UFRJ. Frequentou cursos livres na Escola de Artes Visuais Parque Lage desde 2010. Desenvolve trabalhos autorais que versam sobre ressignificações do espaço habitado, políticas de corpo e ocupação e memória social da imagem. A partir de 2012, inicia a ocupação do apartamento de um vizinho esquizofrênico desaparecido em 2007 para estruturação da ocupação como atividade poética. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

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