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sobre a Declaração Conjunta

Avaliação informativa da Presidência da IECLB sobre a Declaração Conjunta

Depois das celebrações da assinatura da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação surgiram perguntas no âmbito das comunidades da IECLB: Que significa esse evento? Como serão as relações entre as Igrejas daqui para a frente? Quais são as implicações teológicas, práticas e ecumênicas? No texto a seguir, o Pastor Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil faz uma avaliação informativa desse evento ecumênico, dando respostas orientadoras para a continuação da caminhada. O Pastor Huberto Kirchheim, como um dos Vice-Presidentes da Federação Luterana Mundial (para a região América Latina e o Caribe), foi um dos líderes eclesiásticos que assinaram a Declaração Conjunta.

1 - Na história bimilenar do cristianismo, Augsburgo se destaca como encruzilhada histórica. Pois ali, em 1530, evangélicos e católicos partiram em rumos diferentes. Agora, em 1999, voltaram para esta encruzilhada para celebrar um consenso sobre o ponto mais central da fé cristã: a doutrina da justificação por graça e fé, fé essa que se torna ativa no amor a Deus e ao próximo. Esse consenso se tornou possível graças ao encontro sob a Bíblia, o evangelho do Senhor da Igreja que ora ao Pai “a fim de que todos sejam um (...) para que o mundo creia” (João 17.21).Sob este Senhor comum, reconhecemos que a busca da unidade é tarefa de toda Igreja que se diz cristã.

2 - Se nos séculos passados, de forma polêmica, foram enfatizadas as divergências, de agora em diante ambas as Igrejas proclamam em conjunto a fé na salvação somente pela graça de Deus, não por mérito de obras humanas. O cumprimento do duplo mandamento do amor é resposta do ser humano agraciado. A partir desse consenso bíblico ambas as Igrejas querem aceitar-se como parceiras ecumênicas. Assim, agora, sem o rancor do passado, há um novo clima para cooperar e dialogar sobre outras divergências. Pessoalmente sou grato pelo privilégio que tive em poder participar das celebrações por ocasião da assinatura da Declaração Conjunta, em Augsburgo, nesse histórico Dia da Reforma, 31 de outubro de 1999. A ênfase na aproximação fraterna realmente é motivo de gratidão e de esperança.

3 - Mas que significa isso para a convivência prática das Igrejas? Aceitação mútua, paz e unidade não significam união ou fusão de estruturas. A Declaração Conjunta é antes uma plataforma para uma nova fase de convivência ecumênica, ou - como disse alguém - “uma carta de intenções”. A própria Declaração menciona os assuntos sobre os quais não há consenso. Os diálogos teológicos, por isso, deverão continuar, tanto no âmbito internacional, como no nacional, aqui no Brasil. E, ao mesmo tempo, as comunidades

serão animadas a dar passos práticos, a ensaiar encontros e a hospitalidade eucarística em ocasiões especiais. Livres das condenações recíprocas, poderão buscar com melhores resultados a cooperação em obras e reivindicações sociais, somando forças em favor de causas comuns, como o bem-estar e a paz, os direitos humanos e a justiça, e visando condições de vida digna especialmente para os pobres. A Campanha da Fraternidade - Ano 2000 e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos constituem boas oportunidades para o ensaio público desse propósito de maior unidade na missão. Os diálogos teológicos e a convivência concreta serão um processo de aprendizagem, e a Bíblia nos deverá dar os critérios para os limites da comunhão ecumênica. Pois na religiosidade popular há práticas que não podem ser aceitas como coerentes com a mensagem bíblica. E fora do enfoque central da Bíblia, que é Jesus Cristo, não pode prosperar unidade.

4 - Face aos desafios do mundo em rápida transformação, é urgente que as Igrejas trabalhem de mãos dadas. De qualquer maneira, perante o mundo, os cristãos são vistos como um grupo que mais tem em comum do que os separa. Justamente a ênfase na gratuidade da salvação é mensagem significativa e libertadora numa sociedade competitiva como a de hoje, que mais e mais pratica a exclusão social de povos e indivíduos, valorizando mais o “ mercado” do que a vida. Por uma questão de vida e sobrevivência neste mundo, continua atualíssimo, portanto, o chamado para uma mudança de mentalidade segundo o evangelho. Deus , em Jesus Cristo, acolhe e valoriza suas criaturas incondicionalmente por seu amor, sua graça e misericórdia.

5 - Processos de aprendizagem e de mudança de mentalidade demandam paciência e tempo, tolerância e perseverança. Nisso convém lembrar que, para Deus, “mil anos (...) são como o dia de ontem que se foi”(Salmo 90.4). Enquanto estamos a caminho, em meio a transitoriedade do tempo, temos saudade de sermos aperfeiçoados na unidade do corpo de Cristo. Certamente, essa unidade plena dos membros entre si e dos membros com o Senhor só se realizará no fim dos tempos, com a vinda do Reino de Deus. Mas esse Reino já irrompeu no mundo e começou a realizar-se por sinais. Gratos pelos sinais que já nos iluminam o caminho para a unidade, podemos avançar com alegria e esperança.

O texto do documento acima (páginas 44 e 45) foi publicado no livro A Mensagem da Justificação pela Fé - Uma introdução à sua compreensão bíblico-reformatória (páginas 67 e 68), de Hans Schäfer, editado

pela Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda.

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