
4 minute read
Acumular bens ou acumular vivências felizes
Eis o convite e a ação para repensar a educação: começar nos nossos círculos de convivência a valorizar pequenas coisas; redescobrir a riqueza no convívio da natureza para que possamos nos redescobrir como sujeitos de valores humanos; usar a tecnologia a favor da nossa vida e não permitir que ela nos use; brincar e jogar em família, instigando para uma comunicação de
“olho no olho”; rir das bobagens que fazemos; pesquisar para ter conhecimento; estudar em conjunto e, sobretudo, amar, pois, parodiando Olavo Bilac:
Amai para entender a vida Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas e pessoas. Coração capaz de lutar por uma vida mais justa e digna para todos!
Marguit Carmen Goldmeyer São Leopoldo/RS
ACUMULAR BENS OU ACUMULAR VIVÊNCIAS FELIZES
A sugestão é que se comece com a dinâmica e, ao final, seja feita a leitura do texto.
Dinâmica:
Objetivo: Refletir sobre o que cada pessoa gostaria de ter feito de forma diferente em sua vida. Material necessário: Folha, caneta, gravação e fotocópia da letra da música Epitáfio. Descrição da dinâmica: 1º momento: Refletir e escrever, individualmente, sobre sua vida e o que gostaria de ter realizado de modo diferente. 2º momento: Compartilhar, em duplas, o que escreveu. Depois em quarteto. Por último, apresentar as reflexões para todos e todas. 3º momento: Ouvir e cantar a música Epitáfio.
Epitáfio
Devia ter amado mais Ter chorado mais Ter visto o sol nascer Devia ter arriscado mais e até errado mais Ter feito o que eu queria fazer Queria ter aceitado as pessoas como elas são Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger Enquanto eu andar distraído O acaso vai me proteger Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos, trabalhado menos Ter visto o sol se pôr Devia ter me importado menos com problemas pequenos Ter morrido de amor Queria ter aceitado a vida como ela é A cada um cabem alegrias e a tristeza que vier O acaso vai me proteger Enquanto eu andar distraído O acaso vai me proteger Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos, trabalhado menos Ter visto o sol se pôr. (Titãs, composição de Sérgio Britto.)
4º momento: No grupo maior, dialogar sobre o termo “epitáfio” (inscrição tumular), bem como sobre a letra da música: a) Que sentimentos afloraram sobre a finitude das pessoas? b) O que levamos dessas reflexões para nosso dia a dia? c) O que cada uma de nós gostaria de escrever ou ver escrito em seu epitáfio? d) Como seria possível pensar num mundo em que acumulamos menos bens e mais convivências felizes?
(Extraído e adaptado de: SIEGLE, Carmen M.; WITT, Maria D. Dinâmicas para escolas e comunidades. São Leopoldo: Sinodal, 2016.)
Arquivo pessoal
Se fôssemos colocar no papel o que nós gostaríamos de ter feito a mais na nossa vida, com certeza a resposta não seria que queríamos ter trabalhado mais ou ter acumulado mais bens. Na sua maioria, o que estaria registrado seriam os desejos de ter tido mais tempo de convívio familiar, de uma vida mais simples, de mais tempo de conversas com as amigas e com os amigos, da risada Conviver e partilhar dão sabor à vida farta, de ter feito mais visitas, de ter tomado banho de rio, de ter participado de pescarias, de ter brincado mais. Enfim, o que seria lembrado consistiria em momentos de vivência e convivência fraterna, momentos de interação com outras pessoas, da comida partilhada com sabor de família e de amizade, dos sonhos divididos e comemorados. Quando nos damos essas oportunidades de levar a vida com menos exigências e temos mais interação fraterna, sabemos o quanto isso nos revigora e nos anima. Se sabemos que isso é bom, é porque em determinado momento de nossas vidas esses episódios fizeram parte da nossa história. Mas o que aconteceu então? O que se percebe é que, no decorrer dos anos, o ser humano deixou escapar isso que lhe faz bem, sendo engolido pela velocidade e furor do cotidiano. A consequência é que não se vive aquilo que faz tão bem ao coração. A vida simples e com alegrias espontâneas foi substituída pela agitação, pelo turbilhão de coisas, na busca por acumular, acumular e acumular, e o ser humano encontra-se solitário e indiferente. O toque físico, o abraço, o aperto de mão e o cafezinho ao redor da mesa com os quitutes que agradam ao paladar se tornaram raros. Mesmo quando se pensa na família e se age a favor dela, o que muitas vezes se faz é trabalhar e trabalhar para que todos e todas possam se sentir bem. E, muitas vezes, pensamos na filha, no filho, no esposo e esquecemo-nos de nós. Já não conversamos com a vizinha, porque precisamos deixar tudo pronto em casa; já não sentamos para dialogar com a família, porque a casa precisa estar um brinco; já não se sai para tomar um sorvete e jogar conversa fora, porque se precisa economizar ao máximo. E, assim, vamos acumulando cansaço, tristeza, depressão. Os ombros começam a ficar curvados com o peso daquilo que nos aprisiona e sufoca.