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A vida como um mosaico: juntando peças para renascer
A VIDA COMO UM MOSAICO: juntando peças para renascer
O termo mosaico vem do grego mosaiArquivo pessoal con, que significa musa, por isso também se fala em arte musiva. No Oriente, os sumérios já enfeitavam pilastras com cones de argilas coloridas e fixadas em massa, formando uma decoração geométrica. Os gregos e os romanos também utilizavam a técnica do mosaico no auge de suas culturas para decorar os pisos e as paredes das construções. A técnica consiste na colocação de tesselas, que são pequenos fragmentos de pedras, como mármore e granito, moldados com tagliolo e martellina, pedras semipreciosas, pastilhas de vidro, seixos e outros materiais, sobre qualquer superfície.
No período paleocristão, especificamente as igrejas bizantinas viraram grandes exemplos Edeltraud Fleischmann Nering da utilização dos mosaicos. Seu estilo chegou a ser copiado por muitas outras civilizações posteriores. As obras eram monumentais e simétricas, conquistando a atenção tanto das pessoas de sua época como de historiadores no futuro. Na atualidade, o mosaico continua sendo usado artisticamente na decoração de ambientes interiores e exteriores. Pode ser observado nas obras como as do artista catalão Antoni Gaudí, expostas na cidade de Barcelona na Espanha. Já no Brasil, Burle Marx talvez seja o mais conhecido mosaicista brasileiro. É dele a criação do logotipo internacional “As ondas” do calçadão de Copacabana no Rio de Janeiro. A técnica também tem sido usada em pequenas peças como copos, pratos, bancos, mesas etc.

Wikipédia
Estandarte de Ur, considerado por muitos historiadores como o mosaico mais antigo que se tem conhecimento. Foi encontrado na Suméria (antiga Mesopotâmia), atual Iraque.
A confecção de mosaicos também é utilizada pela arteterapia como ferramenta no processo terapêutico, objetivando a auto-organização da pessoa, que por vezes busca ajuda dizendo que está se sentindo “em cacos”. Ao criar, a pessoa vai materializando suas dificuldades, dores e reconstruindo pensamentos e emoções desordenados, organizando seus conteúdos emocionais, sua nova imagem corporal, caminhando para o autoconhecimento, recuperando o bem-estar. O processo de escolher material, juntar, unir, desmontar, montar, recomeçar estimula a criatividade, permite exercitar a paciência e a aprender a lidar com as imprevisibilidades. A pessoa passa a viver de forma mais colorida, prazerosa, a se organizar e enxergar novas possibilidades. A vida pode ser comparada a um grande mosaico, no qual peças de diferentes formas, tamanhos e cores vão sendo “juntadas”, “encaixadas” para originar uma nova forma, cheia de significado. Nem sempre as peças se encaixam facilmente. Há peças que descolam, quebram, pois a escolha do material foi equivocada. Outras são dispensadas ou não são encontradas de imediato, pois fica impossível serem vistas em meio a tanto material, a tantas possibilidades. Sem contar que, até finalizar, as mãos doem, os braços ficam cansados, o corpo se sente por vezes prostrado. Assim também na vida há situações que custam a se encaixar. Em todas as áreas, seja amorosa, profissional, espiritual, em qualquer parte da vida, por vezes há peças soltas que parecem não fazer parte, que parecem estar fora do padrão e que, em princípio, só atrapalham, até o momento em que você vira de um lado, mexe de outro e, de repente, como num piscar de olhos, aquela

Arquivo pessoal
peça se torna perfeita, parece que sempre pertenceu àquele lugar e tudo começa a se encaixar, ter uma forma, fazer sentido. Então aquilo que estava doendo se torna mais ameno. A situação já não é mais tão pesada. É possível recomeçar sob outro ângulo, sob outra perspectiva. Nem sempre se consegue construir sozinho um mosaico. Há momentos em que se faz necessário buscar ajuda de outras pessoas, seja para dar continuidade ou para recomeçar Mosaico com tesselas de azulejo, pedrinhas a montagem. Precisa-se de outras e pastilhas de vidro. mãos para achar a peça adequada para preencher o espaço vazio. Nem sempre encontramos pessoas dispostas a ajudar, pois não se sentem confortáveis juntando pedaços ou não se acham à altura de poder ajudar. Nesse contexto, sempre há a possibilidade de contar com a ajuda divina, que por meio de Jesus e seu processo de nascimento, morte e ressurreição nunca deixa ninguém à deriva, sem se encaixar em um espaço! Seu amor é o que liga todas as peças do mosaico chamado vida. Mesmo que algumas peças não se encaixem ou se soltem, seu imenso amor é capaz de colar e preencher todos os espaços, unir peças completamente quebradas e diferentes, afinal Jesus deixou claro o quanto aprecia toda a criação quando disse: Eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos (Mateus 28.20).
Mesmo quando todas as peças foram encaixadas e o mosaico finalizado, pode acontecer que a imagem idealizada não seja percebida com nitidez. Então é necessário certo distanciamento, olhar de longe para poder ver com clareza o que de fato a imagem ali elaborada tem a dizer. Da mesma forma, na vida, há momentos em que se precisa olhar os fatos de uma certa distância, olhar sob outro ângulo para poder ver com clareza e compreendê-los nitidamente. O psicanalista, educador, teólogo, escritor brasileiro Rubem Alves relata:
Mosaicos são obras de arte. São feitos com cacos. Os cacos, em si, nada significam. Não têm beleza alguma. São peças de um quebra-cabeça. É preciso que um artista junte os cacos segundo o seu desejo. As Escrituras Sagradas são um livro cheio de cacos: poemas, estórias, mitos, pitadas de
sabedoria, relatos de acontecimentos. Quem lê junta os cacos segundo manda o seu coração. Os mosaicos podem ser bonitos ou feios. Tudo depende do coração do artista. Como disse Jesus, o homem bom tira coisas boas do seu bom tesouro; o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro. Coração mau faz mosaico feio; coração bom faz mosaico bonito. Como sugeriu Bachelard, quem tem muitas vinganças a realizar faz mosaicos de infernos. Estou juntando os cacos de que mais gosto para fazer o meu mosaico. Há muitos outros mosaicos possíveis, diferentes do meu.

Para reflexão: Como estamos construindo nosso precioso mosaico chamado vida? Quais os materiais que escolhemos para essa obra divina? Quais as peças que não conseguimos encontrar ou que não “cabem” nos espaços de nosso cotidiano? E quando o mosaico da vida se quebra, os cacos se espalham, e o corpo se encontra sem forças, como lidar com a situação?
Todas essas perguntas nos ajudam a nos autoconhecer e encontrar novas peças para recomeçar sempre o lindo mosaico chamado vida, presente dado por Deus.

Atividade: Colagem “Mosaico da vida”
Material: papel colorido (pode Arquivo pessoal ser papel de seda, sulfite ou até revistas velhas); cartolina para suporte (pode ser usada inteira ou cortar do tamanho que fique mais prático); cola branca; tesoura; lápis preto para desenhar. Como fazer: recortar os papéis coloridos em quadradinhos do mesmo tamanho ou em formato aleatório. Sobre a cartolina poderá ser desenhada uma imagem que simbolize a vida e, em seguida, colam-se os papéis coloridos formando um mosaico. Também podem colar os papéis aleatoriamente, sem necessariamente ter desenhado algo específico. Depois de finalizado, dialogar sobre o mosaico e sobre como foi a experiência. Edeltraud Fleischmann Nering Rio Negrinho/SC
CELEBRAÇÃO DOS 120 ANOS DA OASE

Arquivo OASE
Que lindo tudo! Que comemoração maravilhosa! Felicitações por 120 anos de caminhada de OASE no Brasil! Lágrimas de alegrias, emoção de encontros e reencontros! Risadas, aplausos, corações pulsando num só batimento de vida, e muitas vozes, em harmonia, cantando: celebrai com júbilo! Nos dias 05 a 07 de abril de 2019, em Blumenau/SC, de muitos lugares, de perto e de muito longe, de ônibus, de avião, de carro, a pé, muitas pessoas trouxeram em suas bagagens a história de luta e engajamento na igreja. A celebração continua, porque a IECLB ainda está em festa. Difícil pensar a IECLB sem a Diácona Telma Merinha Kramer OASE. Com cordas e sopro, numa sintonia, ainda ecoa o canto: “Jubilamos com alegria e gratidão... o testemunho, o serviço e a comunhão”. Há 120 anos, a partir da fé que vem da Palavra, tecendo solidariedade!
É o reconhecimento de que podemos fazer diferença no mundo!
O texto de Êxodo 3.1-14 relata que Moisés estava acostumado à sua vida rotineira: cuidava das ovelhas e cabras do seu sogro Jetro; levava o rebanho de um lado para o outro, enfim apascentando e cuidando do pequeno rebanho. De repente, Deus o chama para outra missão, tira-o de sua rotina. O encontro com Deus mudou sua vida. Moisés viu um arbusto que parecia queimar, ouviu uma voz e sentiu na sua pele; é um inusitado e fabuloso encontro com aquele que é a origem, a manutenção da vida e o sentido de tudo. Quando algo é captado pelos nossos sentidos, nossa memória grava com mais facilidade a informação. Fogo, sons, sensações de pele. Deus pronuncia a razão daquele encontro e diz: Eu tenho visto como o meu povo está sendo maltratado no Egito; tenho ouvido o seu pedido de socorro por causa dos seus feitores. Sei o que estão sofrendo. Por isso desci para libertá-los (v. 7-8). Vi, ouvi e desci! E Deus disse mais: Pare aí e tire as sandálias, pois o lugar onde você está é um lugar sagrado (v. 5). Lugar sagrado é um lugar destinado à adoração. Aquele lugar comum, corriqueiro, diário, de areia, pedras, poeira, agora era o
lugar da revelação da vontade de Deus. Tornou-se um lugar para o encontro com Deus; torna-se o lugar do todo-poderoso Deus. Em respeito completo à presença de Deus, Moisés deveria descalçar-se, sim, tirar suas sandálias, pois seus pés estavam tocando solo sagrado! Deus falava-lhe pessoalmente e lhe deu uma missão, nova e desafiadora em sua vida: Deus escolheu Moisés para falar ao faraó e exigir a saída do povo hebreu da escravidão, a que estava submetido. Moisés utilizou argumentos para não cumprir essa missão. Mas, quando Deus dá uma tarefa, uma missão, ele a faz acompanhar de uma promessa: Eu estarei com você (v. 12). Queridas irmãs, somos OASE, herdeiras e continuadoras de uma história de mulheres que nos antecederam. O contexto de nossos grupos, a realidade de nossas participantes podem ter se modificado, mas o compromisso com o TESTEMUNHO, a COMUNHÃO e o SERVIÇO está preservado. Não por acaso, o encontro pelos 120 anos aconteceu no tempo da Quaresma. Tempo de refletirmos sobre nosso papel no passado, no presente e no futuro. A celebração foi repleta de gratidão e renovação do compromisso; tempo de encarar novos desafios, de valorizar e registrar a história do movimento de mulheres na IECLB.
Voltemos à imagem da sandália, dos pés. Que estradas e caminhos percorremos até aqui? Por onde andamos? Quem nos trouxe até aqui? Quem nos acompanhou? O que encontramos pela estrada afora? Que pessoas encontramos? Quem cuidou dos nossos passos? Como estão os nossos pés, cansados, doloridos? Para onde os nossos pés estão nos levando? Temos anunciado alguma coisa? Que histórias os nossos pés têm para contar sobre os 120 anos de OASE no Brasil? Tirar as sandálias é se colocar na presença de Deus com humildade e reflexão; é interagir com o mundo na busca por mais justiça e paz. Ao longo da estrada da vida, Deus, em sua graça, continua conosco, nos amparando, nos fortalecendo na caminhada, cuidando de nossos pés, para que nós continuemos a cuidar de outros pés. Como são belos nos montes os pés daquelas, daqueles que anunciam boas-novas, que proclamam a paz, que trazem boas notícias, que proclamam salvação, que dizem a Sião: O seu Deus reina! (Isaías 52.7 ARA). Amém.
Diác. Telma Merinha Kramer Assessora teológica da OASE Gramado/RS