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DE OLHO NA CIDADANIA

das crianças. Ela recebeu em sua casa os reformadores Ulrico Zwinglio, de Zurique, e João Oekolampad, de Basileia, e também trocou correspondência com vários deles, inclusive com Lutero, e até visitou-o com o seu esposo em Wittenberg. O seu marido a tratava como “pastora assistente”, o que era muito avançado para a época. Ele nunca a barrou em seus escritos e em sua atuação. Havia entre os dois uma cumplicidade na ação em favor da Reforma Protestante.

Em 1534, ela editou um hinário, apontando para a importância da música e da oração na vida cotidiana. Ela também reescreveu os Salmos 51 e 130 juntamente com o Pai-Nosso como carta de consolo, numa perspectiva inclusiva no falar sobre Deus. Ela pregou em público três vezes. A primeira em janeiro de 1548, quando faleceu seu marido. As outras duas vezes ela pregou na hora do sepultamento de duas mulheres, adeptas do pregador Schwenckfeld. Os pastores não realizaram o enterro, pois consideravam os/as seguidores/ as de Schwenckfeld heréticos, porque em seu entender os mesmos haviam se separado da Igreja Cristã. Katharina entendia que a pessoa cristã necessita exercitar o amor diariamente.

Katharina defendeu a diversidade do movimento da Reforma, opondo-se a radicalismos e exclusivismos. Ela faleceu no dia 5 de setembro de 1562. Foi uma mulher avançada em seu tempo, lutadora pela igualdade de homens e mulheres no serviço da igreja e pela divulgação pública do evangelho em palavra e ação. Ela é considerada a primeira pregadora do movimento da Reforma Protestante, teóloga, mãe na fé, defensora dos princípios protestantes. N

CLAUDETE BEISE ULRICH é teóloga, doutora em Teologia e professora na Faculdade Unida em Vitória (ES)

O direito humano de imigrar

por Cibele Kuss

Pelo menos 10 mil Crianças reFugiadas na Europa nos últimos dois anos estão desaparecidas, de acordo com a agência de polícia europeia. Muitas delas possivelmente foram traficadas pelas redes criminosas que lucram com trabalho escravo, exploração e abuso sexual. Todas elas fugiram da fome e da violência em seus países e não encontraram políticas públicas eficazes que as integrassem de fato nos países para onde fizeram o caminho do exílio.

Refletindo sobre a diaconia transformadora e tradição cristã, fazemos a memória histórica e lembramos que Maria foi uma das raras mães que não chorou a morte de seu filho Jesus, pois migrou com sua família para um tempo de exílio no Egito, África. Herodes mandara matar todos os meninos com menos de dois anos (Mateus 2.16).

Passaram-se séculos desde a fuga para o Egito, os contextos acirraram-se, e podemos entender hoje com muita lucidez que há tantas famílias em situação dramaticamente similar à vivida pela pequena criança Jesus e sua família, pobre e perseguida, que encontrou na África o lugar de sua sobrevivência.

Na Palestina, na Síria, no Brasil, muitas mães têm que esconder suas filhas e filhos, outras choram a morte, o desaparecimento. Dados do Ministério da Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos, de 2015, revelam que, no Brasil, em média 60 jovens negros são assassinados diariamente. Muitas pessoas precisam sair, fugir e migrar para encontrar políticas de segurança, trabalho, educação, saúde. O direito à mobilidade humana dentro e fora de um país necessita ser assegurado. Estamos diante da insuportável constatação de que a vida das pessoas pobres e vulneráveis continua em risco permanente e na mais profunda invisibilidade.

O direito de estar onde a necessidade humana demandar deve ser aceito pelo Estado, assim como o direito de ser pessoa imigrante vista, ouvida e plenamente integrada. Para incluirmos pessoas em situação de migração, imigração, também chamado de mobilidade humana, é importante e prioritário garantir direitos políticos, de plena cidadania. Não é possível incluir concedendo visto e carteira de trabalho e ao mesmo tempo excluir porque não há políticas públicas que acolham as necessidades integrais das pessoas. A xenofobia e o racismo são maldades humanas e estruturais cruéis e pecaminosas.

Como pessoas cristãs, vamos honrar a história familiar de Jesus e, principalmente, os seus ensinamentos, acolher e integrar pessoas imigrantes e refugiadas. Nosso testemunho público de fé é também uma afirmação política de inclusão nas políticas públicas. N

CIBELE KUSS é teóloga e secretária executiva da Fundação Luterana de Diaconia em Porto Alegre (RS)