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NOTas EcuMÊNIcas

BISPoS e PAStoReS/AS SInodAIS

convocado pela cNBB e IEclB, realizou-se em são leopoldo/rs de 18 a 20 de agosto um encontro de bispos católicos e pastores/as sinodais sobre os 500 anos da reforma em 2017. com base no documento “do conflito à comunhão”, na memória do diálogo católico-luterano no Brasil, o encontro de prelados elaborou propostas para a comemoração conjunta dos 500 anos da reforma em 2017.

Gratidão

“agradEçO a dEus E à JuNTa dIrETIva dO cONsElhO laTINO-aMErIcaNO dE IgrEJas (claI) pOr EsTa OpOrTuNIdadE dE sErvIr cOMO sEcrETárIO-gEral dEssE OrgaNIsMO EcuMÊNIcO. OBrIgadO a TOdOs Os aMIgOs, aMIgas, IrMãs E IrMãOs dE dIvErsas IgrEJas E OrgaNIsMOs EcuMÊNIcOs quE sãO MEMBrOs, cOOpEraM E MaNTÊM rElaçõEs cOM O claI, a MINha faMÍlIa, assIM cOMO cOMpaNhEIrOs E cOMpaNhEIras dE OrgaNIzaçõEs E rEdEs sOcIaIs quE ENvIaraM saudaçõEs E EXprEssaraM sEu cOMprOMIssO dE Orar, acOMpaNhar E sEr parTE dEssE caMINhar quE dEcIdI assuMIr.”

MILTON MEJÍA é o novo secretário-geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas-

Visita ao Brasil

Em visita ao Brasil no começo de setembro, o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Rev. DR. olav Fykse TveiT (foto), acompanhado da presidenta do CMI para a América Latina, reverenda Glória Ulloa, esteve em Brasília. A comitiva do CMI visitou a sede do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) e reuniu-se com lideranças da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na pauta dessas reuniões, entre outros assuntos, estavam o papel das igrejas na promoção do respeito às diferentes religiões, a importância das igrejas contribuírem para o fortalecimento da democracia participativa que leve à redução da desigualdade e à justiça ambiental.

“O ódiO religiOsO a cada dia cresce mais. estamos vendo pessoas invadirem os nossos terreiros e destruírem o nosso sagrado. então eu vim pedir socorro pelo meu povo. Tem que se dar um basta nisso. Nós temos que fazer campanha e todas as religiões se unirem para que o povo veja que nós só cultuamos um deus diferente, mas nós somos todos iguais. Nós somos humanos e merecemos respeito.”

ONEIDE RODRIGUES é lider do candomblé no Pará.

Povo evangélico

“Nós, evaNgélicos, talvez tenhamos episódios a lamentar por parte de certos segmentos que, no afã de defender seus ideais e a fé, esbarram no fanatismo. Mas não se pode, de maneira nenhuma, sob pena de cometermos uma injustiça histórica, generalizar isso. Em sua imensa maioria, o povo evangélico é um povo tolerante, pacífico e amoroso sem arredar um milímetro de suas convicções.”

Amor: o melhor caminho para a educação

por Natacha Teske colaboração: Adriana Trierweiler FAMÍLIA e eSCoLA TÊM uMa rElaçãO IMpOrTaNTE NO prOcEssO dE EducaçãO das NOvas gEraçõEs. sEus papéIs sãO dIsTINTOs, TOdavIa. ENquaNTO Na faMÍlIa acONTEcE EducaçãO E sE EXErcITaM valOrEs, a EscOla prOMOvE a TrOca dE INfOrMaçõEs rElEvaNTEs para O cONhEcIMENTO E a vIda EM sOcIEdadE.

Existe algo que é um sonho comum para muitas pessoas: ter filhos. Mas, quando os planos começam a se concretizar, pais e mães de primeira ou até de mais viagens encontram-se em meio a diversidades e contratempos. Mesmo que seja um período de intensa alegria ou repleto de dúvidas, é hora de aprender a ensinar e dar às gerações seguintes aquilo de que mais precisam: amor.

Acordar mais cedo para preparar o lanche, organizar a mochila, vestir os filhos e levar para a creche ou escola antes de ir ao trabalho é a rotina de numerosas pessoas todos os dias da semana. À noite, quando todos retornam para casa, os afazeres domésticos acabam ocupando o tempo em que poderiam desfrutar do convívio familiar.

“Tudo o que acontece produz uma marca na história de vida de cada pessoa”, ressalta a psicanalista e doutora em Saúde da Família Rosana Cecchini de Castro. O carinho e a atenção dados, a repreensão, os ensinamentos e tudo mais vão moldando a criança durante seu desenvolvimento. Segundo ela, é importante

PAPÉIS dIStIntoS: Enquanto disciplina, regras sociais e morais são tarefa dos pais, alfabetização e ensino são de responsabilidade da escola

que se organize uma rotina semanal, reservando para cada dia períodos de convivência e interação: “Nem todos os momentos serão bons, mas eles são necessários para a saúde do núcleo familiar”.

Com a expansão das novas tecnologias e cargas horárias de trabalho cada vez maiores, é perceptível a existência de crianças e adolescentes “órfãos de pais vivos”. “Eles vivem na mesma residência, mas há rara convivência entre pais e filhos. Isso também interfere no desenvolvimento e no relacionamento de todos dentro da família”, afirma Adriana Trierweiler, psicopedagoga e secretária de Educação do município de Dois Irmãos (RS). Ela acrescenta que “a família precisa ser família e reconhecer-se como tal”, acrescenta.

Fronteiras – O respeito é algo absorvido desde a primeira infância. A criança pede limites, e os pais devem assumir essa postura, ensinando o que é certo e errado e até onde ela pode chegar. Essa relação é como um elástico em que mãe e pai estão em uma ponta do elástico e o filho na outra. “Principalmente na adolescência, ele vai testar seus limites. Ele pode esticar o elástico, mas precisa saber até onde consegue ir e também para onde pode sempre voltar e se sentir seguro e amado”, comenta Adriana.

Alguém tem que ter autoridade sobre a criança e fazê-la compreender as regras da casa, da vida em família e também em sociedade. É preciso saber colocar-se como responsável por ela sem ser autoritário. Colocar limites e dizer “não” também é uma forma de carinho, de cuidado e não significa deixar de amar.

É preciso ensinar as normas que existem dentro de cada lar, e fazer a criança entender, por exemplo, que “eu durmo na minha cama e você dorme na sua” ou ainda “agora é hora de tomar banho e dormir”. “É válido impor limites e dizer até onde a criança pode ir, sabendo que estará sob os cuidados e olhares dos pais”, ressalta Rosana.

É preciso estabelecer uma diferença entre autoridade e autoritarismo. “Pai e mãe ensinam leis de convivência, de hierarquia, porque também vivem sob leis. As regras são necessárias para o ser humano e a vida em sociedade”, pondera Rosana. Ela acrescenta que o exemplo dos pais também ensina: “Se eles são justos, >>

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PRePARo: durante a infância, as crianças precisam de alguém que tome decisões em seu lugar

>> corretos ou organizados, as crianças também tendem a ser”. Em famílias nas quais prevalece o autoritarismo, não há diálogo, mas uma relação de imposição e submissão, em que alguém se coloca como líder e sua ordem é irredutível. Mas a autoridade é dada a alguém para liderar um grupo a que pertence. “É importante que tenha alguém que tome as decisões, mas que seja baseado também no diálogo, que tenha tranquilidade em explicar o motivo para cada escolha”, afirma Adriana. Para ela, o ideal é que todos os membros da família possam crescer juntos nas experiências diárias. Para a coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Sinodal, Cynthia Cristina von Mühlen, o ideal seriam pais que sabem exigir de seus filhos, mas que também se doam por eles. “A sociedade vai cobrar bons cidadãos. É preciso estar preparado, e isso vem da formação que ocorre dentro de casa”, explica.

O crescimento é mútuo. Segundo Adriana, os horários das refeições são oportunidades excelentes para estabelecer uma relação de olhares, de interação, o que fortalece ainda mais a estrutura da família, tornando um ambiente agradável de se estar e viver. “Quanto mais juntos eles estiverem, mais fortalecidos e preparados estarão para enfrentar as dificuldades que possam aparecer”, acrescenta.

Durante a infância, a criança precisa que alguém tome decisões em seu lugar até que tenha autonomia para fazer isso sozinha. “O que notamos é que muitos pais precisam de ajuda para isso. Não conseguem permanecer firmes e acabam cedendo às vontades dos filhos”, esclarece Cynthia. A pedagoga explica que, muitas vezes, os pais idealizam a criança durante a gravidez e depois têm uma incapacidade de enxergar como ela é em suas reais necessidades. “O planejamento deve ocorrer desde cedo. É de grande significância quando o casal se pergunta, por exemplo, o motivo de querer filhos”, acrescenta.

Mesmo com configurações diferentes, as famílias são importantes no desenvolvimento do ser humano, e os papéis de cada um precisam ser exercidos. “Os bebês precisam de cuidado e atenção, as crianças de controle e orientação e os adolescentes de independência e responsabilidade”, esclarece a secretária Adriana.

FaMÍLia X esCoLa – As primeiras referências da criança sempre estarão na família. “O vínculo é algo único, que surge já na gravidez. Esse é um envolvimento tão grande, de troca de afetos e emoções, que só perpassa pela família”, acredita Cynthia. Às vezes, quem está na função de professor acaba sendo um pouco mãe e pai de todos os seus alunos, o que faz com que muitas crianças busquem nos professores essa referência que não têm em casa, seja qual for o motivo.

Com a Lei 12.796, a partir de 2016, as crianças deverão ser matriculadas na educação básica a partir dos quatro anos de idade. Assim, com o início cada vez mais precoce na vida escolar, reduz-se o tempo de convívio familiar.

“Isso funciona como uma engrenagem. Uma roda começa a girar e faz com que todas as outras também girem”, esclarece Adriana. Se os pais precisam trabalhar para sustentar os filhos, eles os levam para a creche ou escola logo após a licença-maternidade, reservando pouco tempo para passar junto deles. Algumas dessas mudanças nas famílias iniciaram com a entrada da mulher no mercado de trabalho no começo do século XX. Conforme a psicopedagoga Adriana, “a era moderna deixa nebulosa a divisão de papéis no trabalho educacional”.

Mas para ser pai e mãe é necessário um grande investimento no socioemocional e no tempo dedicado aos filhos. “A família educa e a escola ensina”, declara Adriana. Os valores, a disciplina, regras sociais e morais são tarefas para os pais, enquanto a alfabetização é de responsabilidade da escola.

LiMites ULtraPassaDos – Uma charge que viralizou na internet (abaixo) apresenta três personagens – criança, pai e professor – em duas épocas diferentes diante da mesma situação: notas baixas. Afinal, de quem é a responsabilidade? As notas devem ser cobradas do aluno, que não aprendeu, ou do professor, que não ensinou direito?

Com o passar dos anos, delegou-se muito à escola, e por isso hoje cobramse dela os melhores resultados. Por outro lado, os pais com medo do posterior sentimento de culpa alimentam nos filhos uma autonomia muito precoce, deixando que decidam desde cedo o que é melhor para esses. “Se eles podem tudo, eles não erram nunca. E isso traz consequências perigosas”, alerta Rosana.

Para a pedagoga Cynthia, é difícil para os pais assumirem que o filho não é perfeito e que nem sempre faz tudo corretamente: “Talvez por isso ele aparece na charge ao lado do filho, dando razão para ele ao cobrar ou culpar o professor pelo seu baixo desempenho. Isso provoca uma distorção de valores na sociedade, pois tanto os pais como os professores têm suas funções e detêm autoridade sobre a criança”.

A charge leva à reflexão sobre a atual organização social, que deixa de ser constituída como pirâmide e passa a ser rede, com todos no mesmo patamar. “E na rede não existe mais esse lugar diferente, que conferia a autoridade aos pais”, completa Adriana.

Uma conhecida cena do livro e filme “Alice no País das Maravilhas” apresenta a personagem principal em dúvida sobre qual caminho seguir. A resposta do coelho é simples: “Se você não sabe para onde quer ir, qualquer lugar serve”. A psicopedagoga Adriana Trierweiler encerra dizendo que “a família que sabe aonde quer chegar vai pegar o melhor caminho para educar seus filhos: o amor”. N

NATACHA TESKE é jornalista em Dois Irmãos (RS)

Conselho Tutelar e sua função

por Alda Menine

AConstituição Federal assevera que criança, adolescente e jovem são sujeitos detentores do princípio da absoluta prioridade, sendo que a defesa de seus direitos fundamentais não é tarefa de apenas um órgão ou entidade, mas deve ocorrer a partir de ação conjunta e articulada entre família, sociedade/ comunidade e poder público.

Pelo fato de o artigo 227 afirmar que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem a efetivação de seus direitos, é bem importante que os meios de difusão se dediquem aos temas relevantes na área da infância e juventude, multiplicando e difundindo ao público em geral esclarecimentos sobre as leis de proteção à criança, ao adolescente e ao jovem.

Então vamos falar sobre o Conselho Tutelar. Segundo disciplina a Lei 8.069/90 – o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), “o Conselho Tutelar é órgão permanente, autônomo, não jurisdicional, encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei”.

É composto por cinco membros, eleitos pela comunidade para decidir, em conjunto, sobre a medida de proteção para cada caso. Em São Leopoldo existem dois Conselhos Tutelares, portanto dez conselheiros que atendem as demandas, conforme a região pela qual foram eleitos. A

Divulgação Novolhar palavra que define esse órgão é PROTEÇÃO. Por isso ninguém precisa temê-lo, pois está a serviço de todas as crianças, adolescentes e suas famílias.

O Conselho Tutelar é órgão municipal que possui autonomia em relação ao Poder Judiciário, e embora, dentre outras atribuições, tome decisões e aplique medidas de proteção a crianças e adolescentes, pais e responsáveis, essas ações possuem um caráter meramente administrativo e não jurisdicional. Na verdade, uma das ideias básicas para a criação do Conselho Tutelar foi o atendimento à criança e ao adolescente na perspectiva de assegurar que estivesse presente – fisicamente – em todos os municípios, com maior agilidade e menos burocracia na aplicação de medidas e encaminhamentos para os programas e serviços públicos correspondentes. Vale ressaltar que o Poder Judiciário nem sempre está presente em todos os municípios, sendo que as comarcas, muitas vezes, abrangem diversos municípios e somente um juiz ou juíza atende diversas cidades.

É preciso estar atento e participar das eleições unificadas do Conselho Tutelar, que ocorrerão neste ano no dia 04 de outubro, visando regulamentar o processo em todo o território nacional e assegurando a posse dos eleitos no dia 10 de janeiro de 2016.

Nesse período, os novos conselheiros eleitos e empossados serão guardiões da lei que protege a criança e o adolescente, independente da classe social a que pertençam.

O artigo 136, do ECA, dispõe sobre as atribuições do Conselho Tutelar, que não são poucas nem de fácil resolução, pois, em geral, envolvem conflitos familiares. Entre outras, pode-se citar:

Orientação e apoio aos pais; inclusão em programas comunitários ou oficiais de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; as questões relacionadas à matrícula em estabelecimento oficial de ensino fundamental; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico; aplicação de medidas aos pais, como, por exemplo, advertência; encaminhamento ao Ministério Público das notícias de infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente; expedição de notificações; requisição de certidões de nascimento e de óbito; assessoramento do Poder Executivo na elaboração da proposta orçamentária relativa aos programas de atendimento da criança e do adolescente. É importante a participação de todas as pessoas habilitadas para votar no dia 04 de outubro, escolhendo as pessoas mais comprometidas com a proteção e a defesa dos direitos da criança e do adolescente. Participe! N

ALDA MENINE é advogada e atua no ProameCentro de Defesa da Criança e do Adolescente Pastor Bertholdo Weber em São Leopoldo (RS)

Alerta para o consumismo dos pequenos

por Carine Fernandes

Estamos a poucos meses do Natal. Em breve, as lojas estarão cheias de novidades em brinquedos e produtos tecnológicos para atrair o consumo das crianças e adolescentes, chamados por uma forte publicidade na mídia. Apesar do apelo da indústria, especialistas apontam que o que leva ao consumo em excesso é a dificuldade para lidar com as frustrações e a falta de limites. “Essa ideia do acalmar-se e alegrar-se através do consumo está impregnada em nossa cultura, perpassa as relações familiares, não somente entre as crianças”, alerta a psicanalista da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, Katia Wagner Radke.

Para ela, a base para que a criança tenha, desde cedo, um consumo consciente está no exemplo da família através das atitudes. “Não tem como ensinar sobre consumo infantil sem um modelo vindo dos pais. Não adianta eles dizerem que não vão dar presentes se, para se acalmar, consomem. Fica um modelo com o qual a criança passa a identificar-se desde sempre: é a cultura familiar”, alerta Katia.

A compensação com presentes pela ausência na educação dos filhos é outro fator que pode desencadear o consumismo. Para a psicanalista, os presentes são, muitas vezes, formas de amenizar a culpa e terceirizar os filhos. “Eles ganham o que pedem e supostamente param de ‘exigir’.” Para ela, a única forma de mudar esse comportamento é os pais trabalharem a capacidade de suportar a sua frustração e a dos filhos. “Não dá para se ter tudo na vida”, lembra.

Além da conscientização da família, o mercado da publicidade infantil deve agir com mais responsabilidade. É o que acredita o Instituto >>

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Arquivo Pessoal aTé Os 12 aNOs, a crIaNça NãO saBE sE aquElE MuNdO quE EsTá sENdO vENdIdO é rEal, é NEcEssárIO para Ela, lhE fará BEM, Os paIs Ou rEspONsávEIs TÊM cONdIçõEs dE adquIrIr O prOduTO, Ou vaI afETar O OrçaMENTO da faMÍlIa. há uMa

vULneRABILIdAde

cONsTaTada.

rENaTO gOdOY

Alana, de São Paulo, que desenvolve o projeto “Criança e Consumo”. A iniciativa busca divulgar e debater ideias sobre as questões relacionadas à publicidade infantil. “Até os 12 anos, a criança não sabe se aquele mundo que está sendo vendido é real, se é necessário para ela, se lhe fará bem, se os pais ou responsáveis têm condições de adquirir o produto, se vai afetar o orçamento da família. Há uma vulnerabilidade constatada”, explica o pesquisador do Instituto, Renato Godoy.

A entidade entende que a publicidade direcionada à criança é ilegal e tem o apoio da lei, conforme a Constituição Federal (artigo 227), o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor (artigo 37). Mais recentemente, essa visão foi corroborada pela Resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

O consumismo infantil é mais sério do que se pensa, quando são analisadas as consequências não apenas na infância, mas também na vida adulta. Segundo a psicanalista Katia Wagner Radke, a dependência pode não ficar somente em comprar, mas sim estender-se para a droga, o álcool e relacionamentos fugazes, que ela chama de fast foods. E, enquanto criança, Godoy coloca que, além do estresse familiar (muitas vezes o filho ou a filha exigem aquilo que os pais não podem pagar), tem também o risco da obesidade infantil. “Há pesquisas que comprovam a relação direta entre a publicidade de alimentos e a obesidade infantil”, afirma o pesquisador.

Para evitar tantos problemas, o jeito é investir na conscientização. Para Godoy, é importante que haja debate sobre o assunto em casa e na escola. “Assim como há a exposição diária da publicidade aos estímulos consumistas, também deve haver um debate diário entre professores e alunos, pais e filhos. É preciso discutir o que é o consumismo, de onde vêm os desejos por determinados produtos...”, acredita.

Para a psicanalista, os pais têm que aprender a dizer não aos filhos e cuidar com a gratificação excessiva. “Criar um filho é ajudar a lidar com os limites. Presente dá-se em datas especiais e sem excessos. A vida não presenteia as pessoas a toda hora, por que tem que dar presente aos filhos cada vez que vão ao shopping?”, questiona. Ela lembra que, para a criança, a presença dos pais vale muito mais do que um presente. Cabe essa reflexão para os pais não só nas datas festivas, como no Natal, mas no dia a dia da convivência familiar. N

CARINE FERNANDES é jornalista em Porto Alegre (RS)

A velocidade e a educação

por Josué Reichow

Uma das marcas do nosso tempo é a velocidade. Nossos carros são mais velozes, nossa internet deixou de ser discada, oceanos são atravessados em algumas horas e imagens fazem uma viagem no globo em um piscar de olhos. A analogia da velocidade parece aplicar-se bem ao nosso contexto social. Mas por quê? Em nossos tempos hipermodernos, o tempo engole o espaço, haja vista que não precisamos mais do lugar para nos comunicar.

Imagine o diálogo entre dois adolescentes: “Quando podemos conversar?”, “Que tal hoje à noite?”, “Onde?”, “No Whats?”. Sem a barreira do espaço, alcançamos novos níveis de velocidade. Com isso o local recebe um bombardeio de informação, advindo de inúmeros lugares, fazendo com que um grupo social seja menos coeso e mais propício à mudança. Daí nossa percepção de que as coisas mudam mais rapidamente hoje do que mudavam antigamente.

Entretanto a velocidade traz suas ambiguidades. Se, de um lado, ela está associada à liberdade, uma vez que aumenta nosso campo de possibilidades, de outro, ela eleva a instabilidade e a insegurança. Meu receio é que, subjacente a essa crescente velocidade, esteja uma busca por uma liberdade narcisista, na lógica do eu faço o que eu quero, quando eu quero, como eu quero. Esse caminho que a liberdade toma precisa livrar-se de qualquer forma, norma, limite ou lei, uma vez que vê nisso uma barreira à sua realização. Bom, mas o que isso tem a ver com a educação?

Costumo perguntar a meus alunos se algum deles poderia fazer um solo de guitarra na próxima aula, mesmo sem nunca ter tocado esse instrumento. A maioria fica em silêncio, mas no impulso alguns respondem: “Claro!”. Deixo a resposta ecoar um pouco, e logo alguém dá-se conta de que, sem a disciplina e o conhecimento do instrumento, não temos liberdade para, por exemplo, fazer um solo. Que bela metáfora para a educação, não é mesmo? Aqueles que não conhecem a disciplina, como conhecerão a liberdade? Uma não existe sem a outra. >>

veLoCIdAde: uma de suas características é causar náuseas; por isso nao é à toa que uma das marcas da atual geração é a ansiedade

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Em nome de uma liberdade sem limites, instituições que tradicionalmente eram fontes de valores e normas para a ação individual, como a família, a igreja e a escola, entram em crise, sendo em alguns contextos tachadas de retrógradas, sofrendo uma reengenharia social em nome de modelos mais abertos. Com isso a noção de autoridade já não é tão evidente, o que pode trazer grande ansiedade para pais e mães: nunca foi tão difícil dizer um não a uma criança. Nesse sentido, o desafio da educação, tanto no ambiente familiar como no escolar, ganha novos contornos: temos crianças que nascem num mundo mais veloz e com muito mais possibilidades.

Se, de um lado, celebramos os benefícios da liberdade, por outro, percebemos que essa liberdade sem formas pode ser caótica. Nossos adolescentes navegam habilmente por um mar de informações, mas será que conseguem organizá-las? Eles possuem mais liberdade. Mas para onde vão? Ao mesmo tempo em que a velocidade causa boas sensações, ela também pode causar náuseas e um mal-estar. Não é à toa que uma das marcas da geração atual é a ansiedade. Para confirmar isso, dê uma olhada na lista de remédios mais vendidos no Brasil nos últimos anos.

Por isso a tarefa que pais e educadores têm diante de si é fundamental para dar uma direção e um sentido à nossa caminhada. Em seu pequeno livro sobre educação, “A abolição do homem”, C. S. Lewis sugere que a educação está diretamente relacionada às referências. Os limites não são obstáculos à liberdade, mas são a condição de sua existência. Que liberdade teriam as crianças de brincar se não houvesse muros protegendo-as? Precisamos preparar-nos para lidar com a liberdade. Voltando à analogia da velocidade, a educação ensina-nos a acelerar, mas também a frear quando necessário.

Portanto um dos caminhos para a educação de filhos e alunos é a construção de um ideal de liberdade que envolva o florescimento de suas vidas dentro de certos limites, por exemplo os do respeito e do convívio harmônico com outros. Aprender a compartilhar é um ótimo exercício contra uma liberdade narcisista. Educar, nesse sentido, é deixar que nossas crianças acelerem em direção ao futuro, mas sem perder de vista que para isso elas precisam de estradas bem estruturadas. N

JOSUÉ REICHOW é professor de Sociologia, Filosofia, Ensino Religioso e Inglês no Colégio Sinodal/Unidade Portão em São Leopoldo (RS)

novoS ContoRnoS: as crianças nascem num mundo mais veloz e de mais possibilidades

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O mimo dos avós

por Simone Bracht Burmeister

O convívio com pessoas mais velhas é por si só um ato educacional. Os idosos ensinam por meio de suas experiências de vida e transmitem cultura e tradições. O convívio intergeracional oportuniza aos jovens e velhos aprenderem a se respeitar, criando uma sociedade de pessoas mais abertas às diferenças e mais tolerantes. Com os avós a aprendizagem intergeracional é ainda mais intensa porque ela vem recheada de afeto.

Raquel de Queiroz escreveu: “Então, um belo dia, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha”. Para ela, os avós não têm a responsabilidade de educar. Os netos são uma bênção que os avós recebem de graça, sem nenhum esforço ou compromisso. Avós não foram feitos para ter a responsabilidade de educar. Essa é uma tarefa intransferível dos pais, quando eles existem e têm boa saúde física e mental.

Porém as várias formatações de família que se apresentam atualmente levam muitas vezes os avós a ser responsáveis pela educação dos netos. Nesse caso, eles cumprem um importante papel social, pois as crianças terão uma família e educação.

O ideal é que os avós tenham uma função de continuidade e complementaridade na educação. Eles

FoRMAção dA IdentIdAde: Os avós carregam as heranças e histórias da família e da sociedade e ajudam na construção dos valores das crianças

podem mimar, brincar e levar para passear. Os mimos fazem parte do desenvolvimento saudável da criança e de sua autoestima. Engana-se quem pensa que o mimo dos avós deseduca os netos ou contraria as regras dos pais. Cada um tem seu papel na formação da criança. Esta é mais uma lição do convívio de avós e netos: a criança aprende que, em que cada lugar ou com cada pessoa, os comportamentos podem ser diferentes, tornando-se, no futuro, um adulto capaz de ter posturas adequadas nos diversos ambientes sociais.

Pesquisas mostram que os avós têm um papel fundamental nos momentos de crise, como na separação dos pais, na superação de dificuldades na escola, no namoro e até na escolha da faculdade. Os netos não se sentem julgados ou exigidos pelos avós, como seria com os pais, por isso fica mais fácil conversar. Os avós apenas escutam e aconselham de forma mais afetiva.

Os avós também colaboram na formação da identidade. São eles que carregam as heranças e histórias da família e da sociedade. Ao repassá-las, ajudam na construção da personalidade e dos valores da criança.

Os avós encontram tempo e paciência para ouvir histórias, pescar, ensinar a fazer um bolo e ir ao cinema no meio da semana. Há também a chance de desligar da TV e dos jogos eletrônicos e divertir-se com coisas, como jogos de tabuleiro.

Atualmente, a probabilidade dos avós ainda trabalharem é grande. Por isso é fundamental saber da disponibilidade dos avós para não sobrecarregá-los. Os avós têm dificuldade para dizer não, e os pais devem ter essa sensibilidade.

Se os avós já não trabalham mais, o apoio no cuidado dos netos pode ser uma forma de garantir-lhes um papel na família e na sociedade, permitindo que se sintam úteis e valorizados. As atividades com os netos contribuem na manutenção da saúde física e mental.

Os avós têm um papel fundamental na educação dos netos e, consequentemente, na formação da sociedade. A longevidade e o convívio entre várias gerações são um privilégio que estamos vivenciando para desenvolver-nos como indivíduos, família e sociedade. N

SIMONE BRACHT BURMEISTER é psicóloga e mestra em Gerontologia Biomédica em Porto Alegre (RS)

Compromisso com adolescentes e jovens

por Guilherme Lieven

Aprendi a olhar com atenção e respeito a história de cuidados e amor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) pelas crianças, adolescentes e jovens. Ela herdou ações que promoveram a educação contínua em suas comunidades eclesiásticas e, ao mesmo tempo, construiu escolas e comprometeu-se com a educação pública. Herdou da Reforma do século XVI, em especial de Martim Lutero, a compreensão de que cabe à igreja formar bons cristãos e exigir das autoridades públicas o serviço da educação para todas as pessoas.

Os primeiros luteranos e luteranas que chegaram da Europa ao Brasil trouxeram consigo essa visão e logo se preocuparam com a educação das crianças, adolescentes e jovens. No início, antes de construir templos através de ações e esforços comunitários próprios, edificaram espaços para a educação de seus filhos e filhas.

Hoje são visíveis as iniciativas e as ações de apoio, construção de espaços, projetos pedagógicos e elaboração de material na área da educação cristã. Cita-se, ainda, o apoio à Rede Sinodal de Educação, que acompanha e participa da gestão de dezenas de escolas. E em suas comunidades eclesiásticas criaram-se instituições de ação social, envolvidas na educação popular e nas ações diaconais transformadoras. Associada a essas iniciativas, soma-se também a formação de catequistas, diáconos e lideranças comunitárias, que atuam com protagonismo na área da educação pública em municípios e estados.

A IECLB desenvolveu uma forma singular de participar e comprometer-se com a educação cristã e com a educação pública em nosso país. A sua confissão, teologia e testemunho da ação salvadora de Deus no mundo desautoriza a instrumentalização da educação para

MISSão CRIAnçA: Trabalho de acompanhamento infantil desde o Batismo na IEclB, como aqui, num encontro dominical em pomerode (sc)

Foto: Clovis Horst Lindner

PAStoRAL JoveM: acampamento de carnaval com 600 jovens no centro de Eventos rodeio 12 demonstra a opção histórica da IEclB pelos jovens

o proselitismo. Através da teologia da justificação pela fé, ela testemunha que o futuro da vida, pela fé, está resolvido mediante a abundante graça de Deus. Mas, em gratidão às dádivas de Deus, todos respondem ao chamado de Deus para participar de sua missão de antecipar para este mundo sinais de dignidade, de justiça, de paz e de comunhão com vida plena. Essa tarefa da igreja exigiu, nos últimos anos, a elaboração de um Plano de Educação Contínua (PEC) com o objetivo de orientar pedagogicamente todas as iniciativas comunitárias e instâncias de formação – uma resposta responsável aos compromissos herdados e assumidos.

A história da IECLB, suas tarefas e compromissos atuais na área da educação visibilizam o cuidado de amor para com as crianças, adolescentes e jovens. Trata-se de um carisma profético, um carisma baseado no anúncio e na denúncia. Ele identifica o anúncio de uma tarefa edificadora que surge da realidade contrária à vontade de Deus e articula-se na denúncia de uma situação desastrosa a ser transformada ou reconstruída. Anuncia à sociedade civil a mensagem da responsabilidade e do compromisso com a educação de crianças, adolescentes e jovens. Fortalece processos de resistência às forças que impedem a dignidade, a liberdade, os direitos e a comunhão com Deus. E, ao mesmo tempo, denuncia o descaso e a visível irresponsabilidade política, pública e social com a educação delas e deles. Ele acusa os sistemas, modelos educacionais e poderes nefastos que cerceiam o bem-estar, o acesso ao lazer e ao esporte e a construção da consciência de liberdade, preservação da criação e dos valores da justiça e da paz.

Transitou e foi aprovada na Câmara Federal proposta de lei que reduz a idade penal de 18 para 16 anos nos casos de crimes hediondos. Muitos segmentos da sociedade, grupos religiosos, igrejas, organizações civis, também forças políticas partidárias, surpreenderam-se com a repentina articulação de força política para aprovar uma emenda constitucional que diminui a idade penal de 18 para 16 anos. Assistiram à cômica expiação dos pecados de uma das instâncias de poder político, até então mais combatido no Brasil, questionado em manifestações de rua, acintosamente perseguido pela grande mídia. De uma hora para outra, o poder político parlamentar federal passou a atender os interesses da “família do bem” ao criminalizar adolescentes brasileiros de 16 a 18 anos de idade.

MAIoRIdAde PenAL: lei equivocada e de leitura ideológica da realidade com lógica punitiva

Divulgação Novolhar

Uma antiga leitura dualista da realidade brasileira aflora na sociedade e na opinião pública. Agora passam a ser legítimas a escolha e a definição das pessoas e organizações “do bem” em detrimento da criminalização do “resto” da sociedade brasileira. Emergem, sem nenhum escrúpulo, o racismo, o fundamentalismo, o individualismo extremo e o culto à violência institucionalizada. A grande expiação dos pecados dessa instituição de poder legislativo parece respaldar-se numa lógica punitiva que envolve o castigo e elege a violência como caminho para a transformação da realidade.

Creio que a lei votada na Câmara Federal está equivocada, e os argumentos estão fortemente travados por leituras ideológicas da questão e da situação dos adolescentes brasileiros. Em uma sociedade injusta, desigual e extremamente violenta, uma força política institucional passa a protagonizar a transformação do Estado brasileiro em uma nação que pune e mata os adolescentes. Os “novos” representantes do “bem”, sem apresentar alternativas e propostas de paz para os adolescentes e jovens, aparelham o Estado com uma velha lei que pune e encobre o verdadeiro problema da violência instalada na realidade brasileira, enfraquecendo as pequenas instituições civis e religiosas, também os processos de transformação, fundamentados em princípios éticos de paz, de justiça e de comunhão com Deus.

É tempo de apoiar as igrejas e todas as instituições civis que ensaiam e praticam a construção da paz, o cuidado e a promoção da dignidade e da vida de adolescentes e jovens. Anunciam o bem, baseando-se nos princípios do evangelho de Jesus Cristo. E, ao mesmo tempo, denunciam o desrespeito, a violência e a criminalização, que encobrem irresponsabilidades, injustiças e pecados, agora expiados na tragédia de poucos que, mortos, praticam a morte. N

GUILHERME LIEVEN é teólogo e diretor do Centro de Eventos Rodeio 12 em Rodeio (SC)

Jesus com as crianças

por Edson Ponick

Crianças estão presentes na atuação de Jesus de uma maneira muito instigante. Todos os encontros narrados foram muito especiais e auxiliam a pensar a forma como nós nos relacionamos com as crianças hoje.

Cinco narrativas se destacam. Cada uma delas aponta para uma peculiaridade importante sobre o que as crianças representaram na atuação de Jesus como Mestre e Filho de Deus. Essas características vão desde nosso cuidado com suas preciosas vidas até o reconhecimento de seu valor como agentes transformadoras de nossa sociedade.

A ressurreição da filha de Jairo mostra o desejo de Jesus (Marcos 5.21-24; 35-43). Ele quer que as crianças vivam bem, seguras, cuidadas, amadas. Jesus foi à casa de Jairo e “acordou” a menina, orientando logo que lhe dessem algo para comer. Contra toda a incredulidade das pessoas adultas, que já velavam a criança, Jesus disse: “Menina, levanta-te”. Ela se levantou e saiu caminhando.

A vida nova exige cuidados imediatos; uma delas é a retomada da alimentação. Ao ler esse relato, lembramos de Alan, o menino sírio de apenas três anos, encontrado morto na praia turca

há poucas semanas. Assim como ele, milhares de crianças morrem vítimas da inconsequência adulta.

Em outra ocasião, os discípulos impediram que crianças se aproximassem de Jesus. Diante do embaraço causado às crianças, o Mestre reagiu indignado (Marcos 10.13-16): “Deixem que elas venham a mim”. E ele as tomou em seus braços. Creio até que deve ter brincado com elas. A atitude de Jesus revela inclusão, aceitação, aconchego. Os discípulos queriam proteger o Mestre da incômoda vivacidade das crianças. Jesus alertou-os: “Deixem que as crianças venham, porque é delas o reino de Deus”. A vida que pulsa tenra e terna necessita de liberdade para vir e conviver.

Viver sendo o mais importante no reino de Deus era a preocupação dos discípulos. E, mais uma vez, Jesus os surpreendeu. Abrindo uma roda, ele chamou uma criança e convidou-a para colocar-se no centro. A criança no centro fez os discípulos vislumbrarem o reino de Deus com um novo olhar. Na discussão adulta sobre status, a criança no centro é o símbolo de um reino baseado na humildade, na doação e no acolhimento amoroso.

O timbre de voz das crianças foi valorizado quando elas gritaram: “Hosana ao Filho de Davi” (Mateus 21.14). Os doutores e mestres da Lei indignaram-se com aquele canto e cobraram uma atitude de Jesus. O Filho de Davi lembrou-os do Salmo 8, em que se lê que o perfeito louvor vem das crianças pequenas, dos bebês inclusive. Ainda hoje, o louvor das crianças atrapalha muitas pessoas adultas no espaço comunitário. Talvez nos falte ler o Salmo 8 com a mesma simplicidade que Jesus o fez para não correr o risco de excluir o perfeito louvor de nossos cultos e celebrações.

Cultos lembram-nos o momento eucarístico. Um dos milagres mais conhecidos de Jesus, narrado nos quatro evangelhos, está relacionado com o partir do pão e tem a participação protagônica de uma criança. Desafiados por Jesus a procurar alimentos para a multidão, os discípulos encontraram um menino com seu lanche (João 6.1-15). A criança e seu singelo cesto foram apresentados a Jesus sem muita convicção. Jesus recebeu ambos, agradecendo a Deus por sua presença, e o milagre aconteceu. Milhares de pessoas comeram satisfeitas graças à doação generosa de uma criança.

Chama a atenção que, sempre quando crianças participavam de um encontro com Jesus, havia pessoas adultas atravancando o caminho delas ou ignorando-as simplesmente. O Filho de Deus, que em sua divina humanidade foi criança, soube ressuscitá-las, abraçá-las, dar-lhes visibilidade, reconhecer seu louvor, deixá-las ser agentes de transformação.

Cuidar das crianças e deixá-las viver; acolhê-las com carinho e bondade; perceber a mensagem do reino de Deus na simplicidade de sua presença; compreender que sua voz, seu choro, sua alegria compõem o perfeito louvor a Deus; aprender que deixá-las participar ativamente da vida comunitária pode produzir milagres: Eis as crianças com Jesus. N

EDSON PONICK é doutor em Teologia e professor da Rede Municipal de Porto Alegre (RS)

“Christus Segnet die Kinder”, Lucas Cranach d.J. (1538) / Wikimedia Commons

IStAMBUL: um grupo de pesquisadores islâmicos emitiu o documento no principal polo industrial da Turquia

Islã divulga texto ambiental

por Clovis Horst Lindner

Aencíclica do papa Francisco “Laudato Sí” foi considerada o mais importante documento já produzido sobre a crise ambiental e as mudanças climáticas provocadas pela ganância humana. Uma entrevista com Leonardo Boff aqui na Novolhar deixava isso claro. Com ela os cristãos cobram providências urgentes das nações em defesa da criação de Deus, e o tema da encíclica também marcou a escolha da temática da Campanha da Fraternidade Ecumênica do ano que vem: “Casa Comum, Nossa Responsabilidade”. A encíclica do papa não mexeu somente com os católicos, mas é um desafio para todos os cristãos.

A cristandade, maior religião monoteísta do mundo, não ficou só com seu chamado em defesa da criação. O islã realizou um simpósio, durante quase todo o mês de agosto, em Istambul, onde um grupo de acadêmicas e acadêmicos elaborou a Declaração Islâmica sobre a Mudança Climática, espécie de encíclica muçulmana sobre a destruição ambiental. Com o documento as duas maiores religiões monoteístas do mundo se manifestam pelo fim da exploração descontrolada da Terra, e as nações do mundo precisam ouvir as religiões: ou mudamos a rota, ou rumamos fatalmente para a autodestruição.

No preâmbulo do texto produzido em Istambul, é dito que “as mudanças climáticas do passado deram origem às imensas reservas de combustíveis fósseis que hoje, ironicamente, com um uso imprudente e míope dos mesmos, estão resultando na destruição das condições que tornam possível a vida na Terra”. De saída, o texto aponta para os autores das mudanças em curso na atualidade e questiona: “O que dirão de nós as futuras gerações

sobre o legado que vamos deixar-lhes, de um planeta devastado?”.

Na linda da “Laudato Sí”, o texto islâmico denuncia: “No breve período transcorrido desde a revolução industrial até agora, os humanos consumiram grande parte dos recursos não renováveis que levaram 250 milhões de anos para serem gerados, tudo em nome do desenvolvimento econômico e do progresso humano... Estamos acelerando nossa própria destruição”.

O fracasso das tentativas de mudar o rumo da destruição ambiental também é analisado pelo texto. “Apesar das numerosas conferências realizadas sobre essa problemática, o estado geral da Terra continua se deteriorando de maneira constante”, aponta. Apesar de todas as advertências e previsões, nenhum acordo deu realmente início a uma mudança de atitude. Nesse sentido, “é essencial que todos os países, especialmente os mais desenvolvidos, intensifiquem seus esforços e adotem uma postura firme e empenhada o suficiente e que juntos possam dar a prioridade necessária à contenção dos efeitos danosos que se estão produzindo”.

O texto aponta com clareza para argumentos teológicos do contexto da fé islâmica, ao afirmar: “Reconhecemos que não somos mais que uma minúscula parte da ordem divina, mas, dentro dessa ordem, somos seres excepcionalmente fortes (…) e nossa responsabilidade é tratar todas as coisas com cuidado e reverência. A criação dos céus e da Terra é um feito muito maior que a criação da humanidade, mas a maioria da humanidade não toma conhecimento disso”.

O texto publicado pelo Islã junta-se à “Laudato Sí” e os dois chegam com força pouco antes da Conferência de Paris, Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, marcada para novembro e dezembro deste ano e que deve determinar um novo acordo internacional para manter o aquecimento global num nível abaixo dos 2ºC.

O texto dos cientistas islâmicos faz um apelo em favor do compromisso de todos os movimentos sociais e comunitários do planeta, do setor empresarial, das nações e seus líderes e de todos os líderes religiosos em defesa da criação. O apelo cita o Al Corão: “E não ande pela Terra com arrogância. Na verdade, você não pode atravessar a Terra nem alcançar a altura das montanhas” (17:37). N

Fonte: Artigo produzido com base em texto de Gustavo Duch na revista Carta Maior, de 20 de setembro de 2015, traduzido por Victor Farinelli.

Novilíngua corporativa

por Paulo Hebmüller

Você sabe que as empresas não têm mais “clientes”, mas sim “parceiros”; que cursos e assemelhados não requerem mais “pagamento” ou “mensalidades”, mas “investimento”; que carros com milhares de quilômetros rodados não são “velhos”, mas “seminovos”; que a extorsão praticada em “estacionamentos” não raro à sombra das árvores na rua foi institucionalizada como valet parking; que você paga uma certa “taxa de conveniência” mesmo quando vai pessoalmente buscar o ingresso que comprou pela internet; que as pessoas recebem cartões nos quais são classificadas como vip, gold, platinum ou “diamante” não porque sejam consideradas de fato muito importantes ou porque corram metais preciosos em lugar de sangue nas suas veias, mas porque já gastaram muito com aquele “parceiro” e assim são incentivadas a continuar gastando mais ainda.

Essas e outras bobagens, às vezes transformadas em picaretagens, das quais todos conhecemos exemplos às dúzias, constituem uma espécie de novilíngua corporativa, que há tempos invadiu nosso cotidiano.

Como a linguagem pode ser tudo menos neutra, os objetivos da novilíngua corporativa, como ocorre em tantos outros campos, jamais serão os de esclarecer: trata-se aqui de dissimular, ocultar, tergiversar, maquiar, iludir, produzir efeito de obscuridade.

Talvez o mais irritante de todos os vocábulos da novilíngua corporativa seja o que quer impingir o ridículo “colaborador” no lugar de “funcionário”.

A palavrinha muda, mas não muda o fato de que, sabemos todos, o tal “colaborador”, como se dá desde tempos imemoriais, pode ser sumariamente descolaboradorizado por quem manda.

E quem manda, curiosamente, continua sendo chamado como sempre foi: “chefe”, “dono”, “patrão” etc. (ou, quando os “colaboradores” estão a uma distância segura, por outros epítetos que não posso publicar aqui para não ser censurado).

Salvo engano ou desconhecimento de minha parte, a novilíngua corporativa não inventou um eufemismo bonitinho e fofo para a figura do mandatário. O que não deixa de ser bastante sintomático.

A história na maior parte dos casos segue na mesma batida, por mais “colaborativa” e “parceira” que seja a linguagem e “horizontais”, “desierarquizados” e cheios de sofazinhos coloridos os ambientes de trabalho: descolaboradoriza quem pode, “colabora” quem tem juízo. N

PAULO HEBMÜLLER é jornalista em São Paulo (SP)

A interdependência da escola e da responsabilidade social na formação de um futuro melhor

por Eduarda Dilkin

Aeducação, apesar de muitas vezes não receber o valor que lhe é devido, é um tema bastante polêmico, uma vez que é responsável pelo futuro de cada criança e, portanto, pelo futuro da nação. Há, então, diversos fatores que constroem a educação de cada indivíduo, sendo a escola um dos principais. Porém ela não tem o papel de somente alfabetizar ou introduzir novos conteúdos. As instituições de ensino têm um papel além do que se consegue enxergar: elas são também responsáveis pelo processo de desenvolvimento da responsabilidade social de cada indivíduo.

Com os infinitos livros didáticos, os intermináveis sites conteudistas e as milhares de videoaulas encontrados na internet, a escola quase poderia ser substituída caso seu único papel fosse ensinar português, matemática e química. No entanto, não é esse o caso.

A escola é responsável por introduzir a coletividade em meio a um mundo tão individualista. Através de atividades em conjunto ela faz com que os alunos enxerguem a importância de ser respeitado e respeitar e também de ajudar os demais. Afinal, um trabalho em grupo nunca conseguirá atingir completo êxito se cada integrante não tiver conseguido dar o melhor de si. Assim, um indivíduo depende do outro para alcançar seu objetivo. E na sociedade não é diferente: a responsabilidade social tem de estar presente na personalidade de cada indivíduo para que todos juntos saiam ganhando.

Além disso, as instituições de ensino exercem um grande papel no processo de conscientização dos alunos sobre o meio ambiente. Estima-se que são produzidas cerca de cinquenta mil toneladas de lixo por dia na cidade de São Paulo. Logo, se a mentalidade da sociedade não mudar, o planeta sofrerá grandes prejuízos, já que não se consegue eliminar o lixo da Terra. Aí não somente os produtores descontroláveis de lixo sofrerão as consequências; quem cuida da natureza também será prejudicado. Então, para que isso não aconteça, é necessário que se pense na coletividade, ou seja, é necessário que se tenha responsabilidade social.

No entanto, introduzir a responsabilidade social num país tão individualista é realmente complicado, visto que são poucos os que pensam no coletivo. Porém essa tarefa continua plenamente possível. Para isso é necessário que as escolas insistam mais em trabalhos coletivos e que os professores abordem frequentemente a importância da responsabilidade social, a fim de que as crianças se conscientizem desde pequenas sobre o assunto.

Além disso, a introdução de pequenas tarefas de reciclagem de lixo fará com que os alunos vejam para onde vai o lixo produzido por eles e, assim, enxerguem que os resíduos de fato não somem do nosso planeta. Com essas atitudes o Brasil finalmente conseguirá evoluir e, portanto, tornar-se um país ainda melhor. N

edUARdA é a autora do texto premiado

Foto: Arquivo Rede Sinodal de Educação EDUARDA DILKIN é aluna do 3o ano do Ensino Médio na Instituição de Educação Ivoti, em Ivoti (RS). A redação de sua autoria tirou o primeiro lugar no concurso de redação da Rede Sinodal de Educação.

Fundação Luterana de Diaconia faz 15 anos

por Susanne Buchweitz

A Fundação Luterana de Diaconia (FLD) está comemorando 15 anos de atividades. Ela nasceu em 2000 no Serviço de Projetos de Desenvolvimento da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) a partir de uma avaliação externa que indicou a necessidade de ampliar a presença e a voz da igreja além de suas bases confessionais.

Nesse tempo, a FLD já apoiou mais de 800 projetos em todo o país por meio de seu Programa de Pequenos Projetos – que é o “coração” da organização. Também executa e coordena outras iniciativas, como a exposição interativa Nem tão Doce Lar, a Rede de Comércio Justo e Solidário, a Rede de Diaconia – junto com a Coordenação de Diaconia e Inclusão / Secretaria da Ação Comunitária / Secretaria-Geral da IECLB – e grandes projetos, entre os quais o projeto Catadoras e Catadores em Rede, o projeto Pampa e o projeto Mulher Catadora é Mulher que Luta.

Além disso, mantém parceria estratégica e proativa com o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA), o Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), vinculados à IECLB, e o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).

A FLD realiza suas atividades com a visão da diaconia transformadora. “Acreditamos e confessamos uma diaconia transformadora que promove ações coletivas em realidades

eQUIPe: Esta é a equipe de colaboradores e colaboradoras da fundação luterana de diaconia

e grupos que vivem opressões econômicas, sociais, políticas, culturais, sexistas, racistas, xenofóbicas, homolesbotransfóbicas e ambientais”, afirma a secretária executiva Cibele Kuss.

O destaque na trajetória da organização são as parcerias construídas com algumas comunidades, paróquias e sínodos da IECLB. “A confiança depositada fortalece a instituição e o trabalho da equipe. Queremos fortalecer as parcerias e ampliar a realização de projetos com mais comunidades.”

Ao olhar para frente, Cibele diz que a “FLD tem uma bonita aprendizagem a intensificar nos diálogos entre a diaconia transformadora e os grandes temas no campo dos direitos humanos, econômico-sociais, culturais e ambientais. A diaconia que cremos e fazemos é a da transformação política, ambiental, econômica, cultural e sexual na perspectiva das relações com justiça e amor”. N

SUSANNE BUCHWEITZ é jornalista e assessora de comunicação da Fundação Luterana de Diaconia em Porto Alegre (RS)

pallOTTI

Primeiro passo: subir a favela

por Nilton Giese

Aabertura para o trabalho social e diaconal da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Belo Horizonte (CECLBH) ocorreu em agosto de 1990 com a fundação da Instituição Beneficente Martim Lutero (IBML). O primeiro desafio da IBML foi dar suporte jurídico e financeiro a um lar para pessoas idosas, hoje conhecido como Lar Luisa Griese.

Com a vinda do casal Zeller a Belo Horizonte em 1992, Gertrud, esposa do pastor Hans Zeller, não se conformava em somente dar comida às crianças que desciam da favela e tocavam a campainha da casa pastoral. Ela se perguntava pelo futuro dessas crianças e adolescentes. O primeiro passo foi conhecer a realidade onde essas crianças e jovens moravam na Vila Fátima, uma das favelas próximas à Igreja da Paz e que compõe o Aglomerado de Favelas da Serra do Curral, que é o maior complexo de favelas de Belo Horizonte (MG).

A realidade revelou que, além de comida, as crianças e os adolescentes também necessitavam de espaços de comunhão e de oportunidades de desenvolvimento. Assim surgiu o Projeto Esperança. O objetivo era ensinar as crianças e os adolescentes a produzir coisas que pudessem ser vendidas e com o dinheiro comprar a comida que antes eles estavam pedindo nas portas das casas.

Inicialmente, essas oficinas aconteciam no salão comunitário da Igreja da Paz. Mas o interesse dos jovens cresceu e demandou um espaço mais adequado. Em agosto de 1996, um barracão foi alugado na Vila Fátima e, a partir de um contrato de comodato,

vILA FÁtIMA: Kátia, coordenadora do projeto da comunidade luterana em Belo horizonte, com o maior complexo de favelas da cidade ao fundo

Fotos: Nilton Giese

novAS InStALAçÕeS:

diante do prédio, grupo de responsáveis com o pastor hans zeller

abaixo, aulas de música fazem parte do projeto. O interior das instalações erguidas na comunidade

firmado com a Associação de Moradores, o Projeto Esperança passou a chamar-se Centro de Integração Martinho (CIM).

Em 2002, o CIM já atendia regularmente 300 crianças e adolescentes no contraturno escolar, oferecendo oficinas de arte e educação (informática, esporte, apoio pedagógico, dança contemporânea, educação ambiental e flauta) a crianças e adolescentes de 5 a 15 anos. Em cada turno são servidas duas refeições. A roda de conversa no início de cada turno favorece a participação democrática de todas as pessoas, em que são ouvidas e discutidas reclamações, sugestões e críticas.

A oficina de flauta revelou vários talentos musicais. Para oportunizar continuidade no aprendizado, o professor Gelson criou em 1999 o Tocando pela Vida. Esse projeto caracteriza-se como um curso profissional de música teórica, flauta, violão e piano e acontece semanalmente na Igreja da Paz.

Em 2010, as instalações precárias do CIM exigiram a construção de um novo espaço. Após um esforço de cinco anos, no início de agosto de 2015, foi inaugurada a primeira parte desse novo espaço. Para a construção desse novo espaço foi muito importante o apoio de empresas, como a Gerdau, e de organizações como Kindernothilfe, além de campanhas de arrecadação de recursos na CECLBH. Atualmente, recebemos o apoio da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e de programas do Governo Federal, como o Mesa Brasil. No exterior, são nossos parceiros a Igreja Evangélica da Baviera através de Mission Eine Welt e a Comunidade Evangélica de Schwaig, na Alemanha. N

NILTON GIESE é teólogo e pastor da IECLB em Belo Horizonte (MG)

Pedradas religiosas

por Oneide Bobsin Quem não pecou atire a primeira pedra, disse Jesus a um grupo que queria eliminar uma mulher pega em adultério. Todos foram embora, diz o Evangelho de João. A mesma sorte não teve a menina Kailane ao sair de seu lugar de culto. Levou uma pedrada na cabeça por pessoas que viam na religião dela um espaço de demônios. Na mesma semana, também no Rio de Janeiro, um templo religioso foi alvo de agressão, como tantos outros que não são noticiados.

São pessoas convictas de sua fé que agridem fiéis das religiões de origem africana e seus espaços de culto. Lamentavelmente, aprenderam a odiar e a demonizar outras formas de crer em suas próprias igrejas, onde pastores incitam ao ódio e à agressão. Suas pregações enxergam demônios nos outros, menos neles mesmos.

Basta ligar a TV para saber de que denominações religiosas vem o incitamento ao ódio e à demonização. Mas se você for a um culto de algumas igrejas, verá que a violência lá é maior ainda. Na TV, doura-se a pílula.

Em seu artigo 5º, a Constituição Federal garante a liberdade de culto a todas as pessoas, bem como sustenta o direito de liturgia a cada religião. Portanto todos os símbolos e espaços religiosos precisam ser respeitados.

Vivemos um momento de intolerância religiosa que se agrava. Tudo em nome da fé, mas não do Deus

eM noMe dA FÉ: Kailane foi apedrejada por causa de sua fé de origem africana

Divulgação Novolhar

anunciado por Jesus. Os atentados terroristas de 2015 levaram governantes a fechar templos num país africano. Aqui não chegaremos a tanto, se as autoridades públicas agirem em nome da lei. Muitas delas, porém, são eleitas com votos de (in)fiéis que se deixam instrumentalizar por políticos. Pessoas que seguem credos e que não compactuam com a violência precisam manifestar-se, como fizeram num ato no Rio de Janeiro.

E quem sempre considerou nosso país pacífico precisa rever seus conceitos. Há muita violência em nosso meio. Como disse um sábio, cada povo adora as suas formas de violência. Há violência nas casas, contra mulheres e crianças; contras as pessoas negras e suas crenças; no trânsito, nos estádios de futebol e contra homossexuais. Só faltava a violência em nome da fé. Aí, exigindo interferência do Estado.

Como explicar tanta violência num país onde mais de 85% das pessoas se confessam cristãs e quase todas se dizem religiosas?

Quando a fé descarta totalmente a dúvida, ela se torna violenta. Para rir dessa fé violenta, vejam a comédia/romance em forma de filme “Fé demais não cheira bem”, com Steve Martin. O final é surpreendente. N

ONEIDE BOBSIN é teólogo e doutor em Ciências Sociais e professor da Faculdades EST em São Leopoldo (RS)

Tales Cristiano é o nome do menimo

por Eloir Weber

Nina e Paulo estavam muito felizes com a gravidez. Esperavam seu primeiro filho. Desde as primeiras semanas de gravidez, depois de um exame de sangue, sabiam que seria um menino. A notícia da gravidez contagiou e alegrou toda a família. Os exames pré-natais foram feitos com todo o cuidado e assiduidade. A gravidez correu muito bem.

Tudo estava se encaminhando para um parto dentro da normalidade, sem sobressaltos. A médica ginecologista que acompanhava a gravidez também era obstetra e faria o parto. O casal conheceu, conversou e tirou dúvidas com a médica pediatra que acompanharia o nascimento e os primeiros anos de vida do filho. O hospital estava escolhido. Até a bolsa com roupas para levar ao hospital estava pronta. Tudo feito com tempo e dedicação, alegria e carinho.

O ninho estava preparado para receber o menino: móveis, roupas, fraldas, objetos, enfim, todo o enxoval só esperando o pequeno ser humano que estava por vir. A previsão, pela posição do feto no ventre da mãe, era de parto normal. O nascimento poderia ocorrer a qualquer hora nos últimos dias do ano, entre o Natal e o ano-novo.

Por questões óbvias, a família decidiu não viajar: na noite de Natal, depois do culto, fariam a celebração natalina na casa do jovem casal que estava prestes a tornar-se pai e mãe. Tudo estava planejado.

No entardecer do dia 24 de dezembro, todos já estavam reunidos na casa de Nina e Paulo, fazendo os preparativos. Naquela hora, armou-se um temporal, e a tarde ficou escura. As nuvens assustadoras e as trovoadas anunciaram uma grande chuva. A chuva veio com muita intensidade, alagando ruas e ilhando pessoas. Inclusive a casa de Nina e Paulo ficou completamente ilhada e sem energia elétrica.

Para deixar a situação mais tensa, as contrações iniciaram e os espaçamentos entre as mesmas foram ficando cada vez menores – e a chuva não dava trégua. Por fim, a bolsa rompeu. A tensão tomou conta daquela casa. Tinham planejado tudo nos mínimos detalhes, mas não contavam com a possibilidade de ficar ilhados na hora do nascimento, ainda mais na noite de Natal.

Naquela hora, a avó de Nina tomou conta da situação. Ela era uma mulher idosa, nascida em um rincão distante da cidade, teve todos os seus filhos em casa com a ajuda de uma parteira. Ela requisitou todos eles para alguma tarefa: providenciar tudo o que fosse necessário para fazer um parto em casa. Com a iluminação de velas, celulares e lanternas, foram catados panos, vasilhas com água, tesoura esterilizada, grampo improvisado para o cordão umbilical...

O maior trabalho foi tranquilizar os jovens mãe e pai. Enquanto continuavam ilhados, pela mão experiente da bisavó, sob a luz de uma lanterna,

Foto: Rede Humaniza SUS/Ministério da Saúde menino veio a ser o Salvador, e é por isso que o Natal é festejado. Naquele dia, a família sentiu de uma forma muito forte que o Natal é celebrado porque, em Deus, a vida, apesar de frágil, surge com uma força imensa, que emana da fé, da esperança e é fruto do amor de Deus.

O nome do menino já tinha sido escolhido: Tales – que significa verdejar, verdejante. Esse nome foi escolhido porque ele nasceria na época do Natal: tempo no qual o pinheiro verde lembra que o amor de Deus por nós nunca perde o seu vigor. Mas, pelas circunstâncias de seu nascimento, merecia um segundo nome, que ainda não estava escolhido.

Sugestões como “Natalício” ou “Natalino” não foram bem aceitas. Alguém então sugeriu: Tales Cristiano – o segundo nome significa “cristão”. Foi esse o nome que o menino ganhou. O menino Tales Cristiano, que traz em seu nome a cor verde da esperança e a marca da fé em Jesus Cristo, seria conduzido pela mão generosa e amorosa de seu Deus, que, apesar do abandono na estrebaria, no Natal se fez gente para nos salvar e conduzir. N

nasceu o pequeno e saudável menino rosadinho: sem as melhores condições, sem boa parte daquilo que os pais tinham planejado para o nascimento. A alegria, depois do suspiro de alívio que pôs fim ao desespero, tomou conta daquela festividade de Natal. Lembraram que, no livro de Provérbios 16.1,3, a Bíblia diz que: “As pessoas podem fazer planos, porém é o Senhor Deus quem dá a última palavra. (...) Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos”.

A imagem do casal na cama, aquentando o seu filho recém-nascido, levou à reflexão de que Maria e José, no primeiro Natal, estavam muito mais desamparados para o nascimento do menino Jesus. E que, apesar do abandono na estrebaria, esse

ELOIR WEBER é teólogo e atua na Pastoral Escolar no Colégio Sinodal em São Leopoldo (RS)

O livro CONtOS DE NAtAL, de autoria de Eloir Weber, reúne oito histórias inspiradas nos valores contidos nessa festa tão popular e celebrada na comunidade e nas famílias. São histórias enraizadas na vida cotidiana e recheadas com muita emoção e experiências comuns da vida. Esse livro ajuda a descobrir os muitos significados que o Natal de Jesus Cristo, nosso Salvador, tem para os dias de hoje. Adquira seu exemplar na Editora Sinodal – www. editorasinodal.com.br – ou pelo telefone (51) 3037.2366. Boa leitura na comunidade, na família ou individualmente!

A ciência explica muito pouco

daWKINs NEga a rElIgIãO E dEIfIca a cIÊNcIa. ElE faz MIssãO NãO EM dEfEsa da cIÊNcIa, Mas cONTra a rElIgIãO. pOréM, aNTE as graNdEs quEsTõEs da vIda, Os cIENTIsTas EsTãO TãO InQUIetoS quaNTO qualquEr OuTra pEssOa.

por Dankwart Bernsmüller

rIchard daWKINs: O cientista defende o evolucionismo ateísta

Após palestra de Richard Dawkins, proferida em maio deste ano em Porto Alegre no âmbito do ciclo “Fronteiras do Pensamento”, várias pessoas expressaram decepção e – confesso – também fiquei decepcionado, mas com elas. Explico:

Motivo da crítica da audiência é o fato de Dawkins não ter aprofundado sua defesa do evolucionismo ateísta, que o tornou conhecido mundo afora. Ele e seus seguidores têm uma visão limitada de ciência, com a qual querem disseminar uma Weltanschauung (cosmovisão) que acaba sendo uma vilania contra ela mesma, pois a coloca num patamar que falseia e deifica o científico. Negar a religião em favor da ciência pura e contestar a existência de Deus corresponde a negar os sentimentos de afeto e amor que nutrimos por cônjuges, filhos e netos, é desconsiderar o belo das artes, em suma, é negar a dignidade da vida. Ser ateísta é uma opção pessoal, mas ridicularizar, maldizer ou considerar alienados aqueles que não são, como Dawkins faz, demonstra pobreza de espírito.

Além disso, há que considerar o fato de Dawkins nada apresentar de original. Sem dúvida, ele tem abrangentes conhecimentos, mas assume um posicionamento científico do século 19. Para ele, a ciência demonstra verdades absolutas. No entanto, hoje a ciência reconhece que ela não é “o” mundo, mas abarca apenas parte dele.

Adeptos do evolucionismo excludente de Dawkins fazem missão nem tanto pela ciência, mas contra a religião. O que mais espanta é que desconhecem o juízo científico sobre religião. Para exemplificar, afirmam que, no passado, as pessoas acreditavam que o mundo havia sido criado em seis dias e que, hoje, qualquer criança sabe que isso está errado.

Ora, quem detém um mínimo de visão científica sabe que há três mil anos as pessoas eram tão inteligentes quanto hoje. É certo que não dispunham de tantos recursos e, por consequência, de tantas informações como nós – mas imbecis elas não eram. Para entender o mundo na época, criavam histórias sobre ele. Nada de errado nisso – como nada de errado há na criação artística de um poeta, pintor, escultor ou dramaturgo. Suas obras são maneiras de interpretar o mundo ou de interagir com ele.

A história bíblica dos seis dias de trabalho de Deus era uma adaptação narrativa a seu próprio ritmo de trabalho. Se hoje há cientistas que tendem a considerar importante apenas o mensurável, não deveriam supor que todas as pessoas também o considerem assim. Valorizam o mensurável – mesmo que irrelevante – em detrimento do não mensurável, do espiritual.

Para as pessoas da antiguidade, a história da criação do mundo em seis dias por um Deus único, confiável e onipotente – não por inúmeros espíritos naturais assustadores que se expressam por raios, trovões, tempestades – conferia-lhes a confiança de estar vivendo num mundo razoável e substantivo, no qual vale a pena viver. Da mesma forma, para nós, hoje, vale a pena viver neste mundo se confiarmos em Deus e aceitarmos que ciência e religião não são excludentes.

Ante as grandes questões da vida, todos os cientistas estão tão inquie-