Revista APÊ ZERO 1 - edição março/abril 2015

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No seu condomínio. Na sua mão.

quer mudar o mundo? Inspire-se neles

Distribuição dirigida Ano 12 . Nº 113 Mar/Abr de 2015




indice 8 ud Espaço gourmet externo rústico: para combinar com a natureza.

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14 viver em condominio Saiba o que diz a lei sobre inadimplência em condomínios com o advogado condominial Carlos Eduardo Quadratti.

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curiosidades da terrinha Leia a história da Capela de Santo Antônio, que tem quase 200 anos.

Saiba quem são os multiplicadores de Jundiaí e o que eles fazem pela cidade.

43 pets Confira a entrevista exclusiva com a guardiã do Chico, do Cansei de ser gato, Stéfany Guimarães.

38 turismo Pensando em ir para a Irlanda? Não deixe de visitar o centenário pub The Temple Bar, em Dublin.

10 mulher Elas são fortes, inteligentes e batalhadoras: conheça duas mulheres que têm profissões consideradas masculinas e como elas lidam com este “rótulo” ultrapassado.

42 3º setor Conheça a Casa de Nazaré, entidade acolhedora de crianças e adolescentes à espera de adoção.


50 cronica Fantasma no prédio? Veja o que acontece na história do Dr. Simão.

49 classificados Lista de prestadores de serviços ideais para o seu dia a dia.

28 criancas Leia sobre a história de pais e filhos de compartilham o amor pela música.

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RADAR APe

multiplicadores

Tire suas dúvidas sobre condomínios aqui com o advogado condominial Carlos Eduardo Quadratti.

Rede Mulheres Empreendedoras de Jundiaí: recente grupo que orienta mulheres que querem ser donas do próprio negócio.


editorial

Conta de multiplicacao undiaí é exemplo nacional, sempre fica entre as primeiras cidades em rankings sobre qualidade de vida e desenvolvimento econômico. Claro que existem muitos problemas ou oportunidades de melhorias esperando para acontecer, mas o município cresce aliado a certa infraestrutura.

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Uma das missões da Apê Zero 1 é valorizar Jundiaí, seus patrimônios históricos, recursos naturais, sua beleza diversificada, cheia de contrastes entre o antigo e o novo, o rural e o urbano. Mas o que queremos destacar mesmo é o que a cidade tem de melhor: os jundiaienses. Por isso, a matéria de capa desta edição é especial: pesquisamos e encontramos pessoas que, aqui na redação, chamamos de multiplicadores. Eles são cidadãos de diversas origens, formações acadêmicas, idades e opiniões. São diferentes uns dos outros. Mas têm algo em comum: a capacidade e a coragem de mudar algo que eles acham injusto, errado, pouco divulgado. Eles não reclamaram das dificuldades e pararam por aí; ao contrário, tomaram “posse” de uma causa e, desde então, lutam por ela. Alguns, há 30 anos. Outros, há cinco. O que importa é que a matéria traz uma mistura de personalidades e atitudes que só tem a acrescentar aos leitores. *** Como estamos sempre em busca de boas histórias para contar, confira a influência que pais músicos exerceram sobre seus filhos; uma rede de mulheres empreendedoras fundada recentemente em Jundiaí; a história da Casa de Nazaré, que precisa da ajuda de todo mundo; e mulheres que não se importaram com os comentários que poderiam ouvir e começaram a trabalhar em profissões que muitos (!) ainda consideram masculinas: uma é mecânica de avião, a outra, pintora de casas. Conheça também a experiência de dois intercambistas que estiveram no centenário The Temple Bar, na Irlanda; e dicas de uma arquiteta sobre como equipar e decorar um espaço gourmet. Ah, você conhece o Chico, o gatinho que cansou de ser gato? Ele é um dos astros do Facebook atualmente e tem seguidores no Brasil inteiro. Veja como foi sua jornada até o estrelato. Acredite: ele morava na rua! *** Gostaríamos de saber sua opinião sobre a revista e receber sugestões de pautas que queira ler. Converse com a gente: falecom@apezero1.com.br. Estamos no site (www.apezero1. com.br), no Facebook e Twitter.

Tenha uma boa leitura! Nos encontramos na próxima edição... Renata Susigan, redatora.


colaboraram nesta edicao José Miguel Simão, além de síndico, leva diversão para casa dos moradores com suas crônicas sobre condomínios.

Carlos Eduardo Quadratti, advogado e jornalista que assina a editoria Viver em Condomínio e faz parte da diretoria da Proempi.

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Motivos para anunciar na apê zero 1:

l Única revista totalmente direcionada para moradores de condomínios em Jundiaí; l 140 condomínios residenciais recebem os exemplares; l São 10 mil exemplares impressos todo bimestre; l Só recebem a revista os moradores que fazem parte do nosso banco de mailing. l As revistas são entregues com etiquetas e dados do destinatário; l Até agora foram publicadas 112 edições.

Expediente A revista APÊ ZERO 1 é a nova marca da antiga revista Portal dos Condomínios e é editada pela Io Comunicação Integrada Ltda, inscrita no CNPJ 06.539.018/0001-42.

Quer seu exemplar? Caso ainda não receba, solicite para o seu condominio: falecom@apezero1.com.br ou ligue: 11 4521-3670

Redação: Rua das Pitangueiras, 652, Jd. Pitangueiras, Jundiaí - SP CEP: 13206-716. Tel.: 11 4521-3670 -

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam o pensamento da revista.

Email: falecom@apezero1.com.br Jornalista Responsável: Rodrigo Góes (MTB: 41654) Diretora de Arte: Paloma Cremonesi Designer Gráfico: Camila Godoy e Jonas Junqueira

Acesse na internet Site: www.apezero1.com.br Twitter: @apezero1 Facebook: Apê Zero 1

Redação: Renata Susigan Redes Sociais: Rafael Godoy, Gustavo Koch e

Associado:

Mônica Bacelar

Web: Vinicius Zonaro Tiragem: 10.000 exemplares Entrega: Mala Direta etiquetada e direto em caixa de correspondência, mediante protocolo para moradores de condomínios constantes em cadastro da revista.

André Luiz é o fotógrafo responsável pela maior parte das fotos desta edição.

Para Anunciar 11 4521-3670 atendimento@apezero1.com.br


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Concreto aparente, churrasqueira de vidro e teto revestido com palha dão um toque rústico ao espaço gourmet externo.

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Espaco gourmet 1

A cozinha sempre foi um dos lugares preferidos para reunir pessoas, cozinhar e degustar bebidas e pratos saborosos. Por isso, os espaços gourmets, cada vez mais presentes nas residências e condomínios, vieram para perpetuar os locais destinados à prática culinária como ambientes sociais também, não apenas de serviço. Afinal, quem não gosta de convidar os amigos e experimentar novas receitas enquanto bate papo? Transformar uma comum churrasqueira em um espaço gourmet foi a solução encontrada pela arquiteta Mariangela Mazzola. Para aproveitar o verde que já havia no local, ela projetou o espaço aberto de maneira que integrasse o jardim e ainda pudesse ser associado ao salão de festas do próprio condomínio. “Quando os moradores me pediram um lugar para churrasqueira, decidi deixá-lo bem rústico, já que é um ambiente externo”, explica. “Os materiais usados dão ideia de continuidade do jardim, já que o concreto aparente lembra um banco de praça.” O espaço gourmet tem cerca de 50 metros quadrados e comporta três balcões de concreto - para pia, churrasqueira e apoio –, moldados no local. “Com o passar do tempo, o cimento irá envelhecer e ficará mais bonito”, comenta a arquiteta. A churrasqueira de mesa tem acabamento em vidro, pois, caso fosse de concreto também, deixaria o lugar muito “pesado”. “O vidro é recomendado para manter o calor na carne, deixa o ambiente mais leve e proporciona maior interação entre quem está fazendo o churrasco e os convidados.” Além de estar integrado ao jardim, o espaço gourmet pode ser facilmente transformado em um grande salão de festas se a sala do condomínio estiver aberta. “O salão tem uma porta que, se for aberta completamente, junta os dois ambientes e dá a sensação de amplitude”, afirma. “Para aproveitar o tamanho, pode-se colocar mesas para as mulheres sentarem e conversarem com mais calma, enquanto os homens ficam próximos à churrasqueira.” Ela explica que o balcão foi feito especialmente para eles, com 1,20 metros de altura, para que possam segurar o copo e apoiar os cotovelos. Antes de decidir qual seria o local exato de instalação da churrasqueira, Mariangela fez um minucioso estudo sobre a circulação do ar para que nenhum apartamento recebesse a fumaça. “Coloquei um painel decorativo atrás da pia, com arandelas pretas que, com a luz acesa, formam figuras”, conta. “Ele também tira a visão de quem está fora do condomínio e dá mais privacidade aos condôminos.” O piso escolhido foi de um material próprio para ambientes externos, pois é lavável e liso, não retém gordura. Já o teto é de policarbonato com uma esteira de palha para amenizar o calor. A proximidade com o jardim, com árvores e grama, contribui para deixar o local ainda mais agradável e fresco. Como a cor do espaço é neutra (cinza), a decoração pode ficar por conta da criatividade do morador: copos com estampas diferentes, jogos americanos artesanais, um cooler com desenho divertido e muitas cores ajudam a deixar o espaço gourmet mais descontraído.

Fotos: Divulgação

Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz

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1. Guarda o sol cooler 24 latas R$ 202,00. 2. Art nouveau cadeira com braço R$ 699,00. 3. Drops taça champanhe 160 ml com seis unidades R$ 56,90. 4. Vann carrinho bar/aparador R$ 1235,00. Produtos da www.tokstok.com.br. *Preços sujeitos à alteração. Apê Zero 1. Mar/Abr 2015

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mulher

Profissao masculina? Quem disse? Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz ngana-se quem acredita que no século XXI ainda existam profissões masculinas e femininas. Este fato pode ser percebido pelo número, cada vez maior, de mulheres trabalhando em funções que antigamente eram exercidas apenas pelos homens. Hoje, não é preciso ir longe para encontrar caminhoneiras, motoristas de ônibus, mestre de obras ou diretoras de grandes empresas. Ao analisar o mercado de trabalho, os homens ainda têm vantagem em relação às mulheres, mas esta realidade tem mudado gradativamente. A última Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de 2013, do Ministério do Trabalho e Emprego, mostra que o número de mulheres empregadas cresceu 3,91%, enquanto o de homens teve um aumento de 2,57%. A participação das mulheres passou de 42,47% em 2012 para 42,79%, em 2013. Outro quesito que prova o desenvolvimento das mulheres é o rendimento médio em relação ao dos homens: enquanto o delas cresceu 3,34% em 2013, o deles cresceu 3,18%. No mesmo ano, o rendimento médio das mulheres foi de 2018,48 reais e o dos homens, 2451,20. Para provar que em relação a trabalho não há diferença entre os sexos, a reportagem da Apê Zero 1 conversou com mulheres que, mesmo que já tenham enfrentado ou ainda encarem algum preconceito por parte da sociedade e colegas de trabalho, sentem orgulho das funções que exercem, são responsáveis e profissionais competentes. E adoram seus empregos! Miriam Muller é técnica em Edificações, mestre de obras, pintora, professora e empresária, proprietária de uma empresa de pintura que emprega mulheres. Antes de se profissionalizar nestas funções, trabalhava na área financeira de uma agência de Publicidade e Propaganda, em São Paulo. Quando engravidou pela primeira vez, decidiu ficar em casa e acompanhar de perto o desenvolvimento da filha. No entanto, ela queria contribuir com o orçamento familiar, por isso, passou a cuidar

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Mestre de obras, pintora, professora e empresária são as profissões de Miriam, uma mulher que trabalha desde os 13 anos. de crianças em casa. “Já tive creche, restaurante, sempre tive o espírito empreendedor”, comenta. “Vendi Avon e fiz serviços bancários e de mercado para pessoas físicas. Quando tive minhas filhas, não queria de trabalhar, pois trabalho desde os 13 anos, mas também não queria deixá-las.” Com 30 anos, o marido de Miriam (Antônio Carlos) ficou desempregado e o casal (que já tinhas as três filhas - Diana, Nathália e Fernanda) começou a enfrentar grandes dificuldades financeiras. “Morávamos em um condomínio bonito, seguro e saímos de lá para morar em uma casa com um quarto e uma cozinha”, recorda.

Neste período conturbado, o marido teve a ideia de abrir uma empresa de terceirização, mas, segundo Miriam, quando ele conseguiu outro emprego, desistiu da ideia, porém, ela quis continuar. “Em São Paulo, percebia uma dificuldade grande em encontrar mão-de-obra qualificada na área de obras e manutenção”, lembra. “Como tinha muitos contatos, passei oferecer e conseguir serviços como pedreira.” Em 2000, Miriam e a família mudaram-se para Campo Limpo Paulista – onde moram até hoje -, cidade em que ela deparou-se novamente com a dificuldade em formar uma equipe de


profissionais comprometidos e bem treinados para trabalhar com ela. “Minha primeira equipe de pintoras era formada por minhas filhas”. “Eu as levava comigo e elas ficavam estudando e, quando precisava, me ajudavam.” Há cerca de cinco anos, Miriam abriu sua própria empresa, a M & M Pinturas e Texturas, e contratou as primeiras cinco mulheres que haviam sido suas alunas. Formação Quando passou a trabalhar como pedreira e pintora, Miriam quis estudar para aprimorar seus serviços. No Senai, ela fez todos os cursos relacionados a construção civil, desde a fundação até o telhado e acabamento de uma obra. “Quando ainda estava em São Paulo, o diretor da escola me convidou para dar aulas no Senai e para trabalhar na Secretaria de Educação de São Paulo na área de manutenção.” Quando já estava em Campo Limpo, Miriam fez curso técnico em Edificações na ETEC Vasco Antônio Venchiarutti, em Jundiaí, e depois fez faculdade de Gestão em Recursos Humanos e pós-graduação em Gestão de Pessoas na Faccamp (Faculdade Campo Limpo Paulista). Desde então, ela tem dado aulas, quando é convidada, nas áreas em que atua. Miriam comenta que, apesar de o marido sempre tê-la apoiado, o começo como pintora e pedreira foi difícil, pois podia sentir o preconceito das outras pessoas contra ela. “Numa ocasião, contratei um homem para assentar o piso de um lugar, ele fez o serviço do jeito errado e eu o corrigi. Ele não aceitou e achou que, por eu ser mulher, sabia menos que ele”, afirma. “Com relação à minha equipe atual, formada por mulheres e alguns rapazes, nunca tive problema, eles sempre me respeitaram.” A empresária informa que quando contratam a empresa dela e ficam sabendo que, além de proprietária, ela também pinta, as pessoas estranham, mas respeitam e, logo, se acostumam. “Geralmente, pensam que nós não temos força; quando estamos em alguma obra, os pedreiros param para olhar nosso trabalho e oferecerem ajuda.” Quando contrata alguém para integrar sua equipe, Miriam dá o seu próprio treinamento para o colaborador, mesmo que ele já tenha trabalhado na função. “Gosto que façam tudo corretamente, então, ensino a maneira certa de lixar, limpar, fazer o fundo da parede, explico qual a finalidade de cada tipo

Miriam mostra o uniforme de sua empresa

de tinta, ou seja, colocamos em prática o que as pessoas aprendem nos cursos.” Ela afirma que as vantagens em se contratar uma pintora de casas estão na responsabilidade, comprometimento, cuidado, economia de materiais e, principalmente, capricho e respeito pela segurança. “Quando nos deparamos com alguma situação mais difícil, como pegar uma lata de tinta por exemplo, pegamos em duas. Não há espaço para competição”, atesta. “E não me importo com quem se refere à minha profissão como masculina.” Mesmo que não seja fácil conseguir mulheres para trabalhar com pintura, já que os maridos geralmente sentem ciúme, ela revela que as integrantes de sua equipe (e seus companheiros) reconhecem o valor da oportunidade de trabalharem na área. “Elas fazem um serviço como outro qualquer, evoluíram financeiramente, deixaram os problemas para trás, adquiriram independência. Tudo isso é motivo de orgulho para mim, pois estamos ajudando a mudar um paradigma.” Miriam comenta que nunca foi muito vaidosa, não gosta de usar batom nem fazer as unhas, mas que suas funcionárias, sim, estão sempre maquiadas, e com a manicure em dia. Ela opina: “Nós, mulheres, já conquistemos um espaço

muito grande, apesar de termos ainda um caminho longo pela frente. Às vezes, a mulher sufoca o homem com sua independência, o que faz com que ele fique com medo e se afaste. Não é porque você é independente que não pode casar de noiva, gostar de receber flores.” Para Miriam, homens e mulheres têm que ter oportunidades iguais, pois tem capacidades iguais; apesar dos números no início desta reportagem, ela coloca sua ideologia em prática quando paga o mesmo salário para suas funcionárias e funcionários. Mecânica Carolina Cestaroli é outra mãe de família que trabalha em um serviço realizado, normalmente, por homens. Ela é técnica em Manutenção de Aeronaves, e há sete anos trabalha com controle técnico do Aeroclube de Jundiaí, um serviço burocrático. Na verdade, ela cresceu em meio a aviões. Seu pai (Eduardo) era piloto e mecânico do aeroclube, por isso, a casa da família dividia o mesmo terreno do clube. Antes de ser mecânica, Carolina formou-se em Fisioterapia, mas o retorno financeiro não foi o que ela esperava. “Não queria jogar fora cinco anos de estudos, mas o fisioterapeuta Apê Zero 1. Mar/Abr 2015

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mulher não é bem remunerado”, explica. “A área onde há maior reconhecimento é na estética, mas eu não queria trabalhar com isso, então, acabei fazendo apenas estágio.” Antes disso, ela havia cursado Magistério e dado aula em escolas infantis durante cinco anos. Como sempre gostou de observar o pai enquanto ele consertava as aeronaves e depois o acompanhava nos voos de experiência, ela decidiu fazer o curso e, atualmente, está fazendo estágio em manutenção. Em seis meses, conclui sua nova formação. Carolina conta que começoua frequentar as aulas depois de estar casada com Ângelo, na época em que seu filho, Guilherme, estava com 10 anos. “Meu marido sempre me apoiou, mas meu filho já teve vergonha do fato de eu ser mecânica. Hoje ele acha legal.”, afirma. “Meus irmãos acharam um pouco diferente também, mas como minha família tem muitos pilotos, acabaram se acostumando. Já minha mãe (Maria de Lurdes) acha o máximo porque diz que é uma maneira de mostrar que qualquer pessoa pode ser o que quiser, independentemente do sexo.” Em um meio ainda predominantemente masculino, tanto na mecânica quanto no comando de aeronaves, Carolina afirma que existe preconceito e conhece várias histórias de mulheres já foram vítimas. “Um senhor, certa vez, desceu de um avião quando soube que uma mulher era a comandante”, conta. “As pessoas acham que a mulher não é capaz de fazer certas coisas; ouve-se muitas brincadeiras, mas, na verdade, nós somos mais detalhistas, fazemos o trabalho com bastante capricho. Aqui [no aeroclube] sempre me respeitaram.” Sobre as dificuldades da área, a mecânica explica que o mercado de trabalho em que está é difícil, pois exige qualificação profissional bem especializada, bastante responsabilidade, experiência e saber falar inglês (principalmente o técnico), pois os materiais didáticos são escritos neste idioma. “Mas a remuneração é boa.” Ela fez seu curso na Academia das Águias, em Jundiaí, e avisa aos interessados que é preciso gostar de números para encarar o desafio. “Temos cinco módulos e, a cada um, precisamos fazer uma prova da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para poder seguir para o próximo”, comenta. “Aprendemos desenho técnico de aeronaves; física; operação de motores; sistemas de pneumáticos, pressurização, ar condi12

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Carolina cresceu em meio a aviões, então, deixou o Magistério e a Fisioterapia para ser mecânica de aeronaves. “Tenho três tatuagens referentes à liberdade: uma borboleta e dois aviões.”

cionado e oxigênio; comunicação e navegação; e mais diversas matérias.” As dificuldades não param por aí. Depois de terminar o curso, é necessário tirar o Certificado de Conhecimentos Técnicos e fazer o check, etapa em que um profissional da Anac vai até o local de trabalho da pessoa para verificar o que ela sabe na teoria e prática. “Depois de tudo isso, finalmente tiramos a Carteira de Habilitação Técnica.” Carolina afirma que as mulheres já conseguiram, mas ainda podem conseguir obter mais respeito por parte de alguns homens, independentemente do trabalho que façam, e equivalência de salários. “O que qualquer pessoa que trabalha com manutenção precisa ser é responsável e prezar pela segurança, afinal, lidamos com vidas.” Vaidosa, Carolina comenta que não é porque lida com motores que não pode ter as unhas sempre impecáveis. “Eu uso luvas, então, posso

fazer as unhas, passar maquiagem e usar vestidos. Mantenho uma troca de roupa no carro, caso precise fazer algum serviço que o vestido torne difícil.” Depois de dar aula para crianças e fazer faculdade de fisioterapia, Carolina optou por seguir sua origem, passar por um difícil curso de mecânica e trabalhar com aquilo que conhece desde criança. Não podia ter sido diferente: ela gosta tanto de aviões que tem o pé, o braço e as costas tatuados com aviões e uma borboleta; os brincos que usa e o pingente de sua corrente também têm a forma de um avião; adora viajar voando, pois, como diz, é o meio de transporte mais seguro que existe; não tem nem um pouco de medo de turbulência; e seus filmes preferidos são “O Voo” e “O Aviador”. “Está no meu sangue, preciso estar em contato com aviões. A sensação de liberdade que eles proporcionam é única”, descreve.



Viver em Condominio

O QUE DIZ A LEI SOBRE A INADIMPLeNCIA NOS CONDOMiNIOS? magina que você convidou alguns amigos para comer umas pizzas e na hora de pagar a conta um deles “esqueceu” a carteira, resultado: todo mundo vai ter que pagar um pouco a mais para completar a conta do restaurante por causa do “esquecidinho”. Isso é exatamente oque acontece com a contribuição condominial, quando alguém deixa de pagar, todos tem que pagar um pouco a mais para que o condomínio possa honrar seus compromissos financeiros sem comprometer seu funcionamento. Mas então oque diz a lei sobre isso? Hoje em dia a principal lei que rege as obrigações condominiais é a Lei 10.406/2002 também conhecida como Código Civil Brasileiro que traz no artigo 1.336 a obrigação de pagamento da contribuição condominial: “Art. 1.336. São deveres do condômino: I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção; (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004) § 1o O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito.” Neste sentido vemos que pagar o condomínio em dia é, antes de tudo, uma obrigação legal do condômino. Ao condômino que não cumpre esta obrigação legal, o Código Civil estipulou uma multa, que aliás causou muita polêmica ao reduzir consideravelmente a multa que antes era de 20% e agora é de até 2% apenas, tornando a contribuição condominial uma dívida “barata” se comparada com as dívidas bancárias por exemplo. Mas vale ressaltar que os juros podem ser aplicados em patamares superiores a 1% ao mês, desde que estejam previstos na convenção do condomínio, caso contrario o limite é mesmo o de 1% ao mês. Portanto, a lei permite que uma alteração na convenção do condomínio estipule juros mensais de forma a tornar desinteressante dever condomínio, mas lembrando que os juros devem ser estipulados num patamar razoável pois se forem entendidos como excessivos pelo judiciário, este tem o condão de reduzi-los. Se sua convenção é anterior a 2002 e prevê uma multa de 20%, ela deve ser aplicada nos limites da nova lei que limitou em 2% para débitos a partir do seu vigor. Outra obrigação disposta no Código Civil é a do síndico em cobrar os devedores do condomínio: “Art. 1.348. Compete ao síndico: VII - cobrar dos condôminos as suas contribui-

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ções, bem como impor e cobrar as multas devidas;” Portanto, o síndico tem a obrigação legal de cobrar os devedores das contribuições condominiais e aquele síndico que deixa de cumprir esta obrigação pode ser responsabilizado pelos prejuízos causados aos condôminos pela inadimplência e até mesmo ser destituído do cargo por desídia na função. Mas então como deve agir o síndico para que o condomínio receba seus créditos e de forma que não caracterize uma desídia de sua parte? O síndico e os conselheiros devem acompanhar de perto a listagem de inadimplência de forma a cobrar da administradora que envie uma cobrança administrativa tão logo o débito complete 30 dias de seu vencimento, alertando para o possível protesto do nome do devedor e encaminhar para cobrança jurídica tão logo o débito complete 60 dias de vencido e todos os demais que se vencerem desde então. Com relação ao protesto do débito condominial, este foi instituído no estado de São Paulo no ano de 2008 pela Lei 13.160: “Artigo 1º - Passam a vigorar com a seguinte redação os itens 7 e 8 das Notas Explicativas da Tabela IV - Dos Tabelionatos de Protesto de Títulos da Lei nº 11.331, de 26 de dezembro de 2002, que dispõe sobre os emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro, em face das disposições da Lei federal nº 10.169, de 29 de dezembro de 2000:” I - o item 7: “7 - Havendo interesse da administração pública federal, estadual ou municipal, os tabelionatos de protesto de títulos e de outros documentos de dívida ficam obrigados a recepcionar para protesto comum ou falimentar, as certidões de dívida ativa, devidamente inscrita, independentemente de prévio depósito dos emolumentos, custas, contribuições e de qualquer outra despesa, cujos valores serão pagos na forma prevista no item 6, bem como o crédito decorrente de aluguel e de seus encargos, desde que provado por contrato escrito, e ainda o crédito do condomínio, decorrente das quotas de rateio de despesas e da aplicação de multas, na forma da lei ou convenção de condomínio, devidas pelo condômino ou possuidor da unidade. O protesto poderá ser tirado, além do devedor principal, contra qualquer dos codevedores, constantes do documento, inclusive fiadores, desde que solicitado pelo apresentante.” (negritamos) Como já havíamos comentado em edições anteriores, essa lei foi editada em resposta a um momento, pois como houve a redução da multa de 20% para 2% e diante da impossibilidade do au-

mento desta, procuraram-se caminhos diversos para a intimidação do devedor mediante o protesto. Contudo, entendemos que essa lei trouxe ao protesto um desvio de finalidade tendo o intuito de intimidar para receber, mas há muito tempo a intimidação deixou de ser um meio de recebimento de crédito. O que realmente aconteceu foi que essa lei na verdade afeta o devedor eventual, mas não intimida o contumaz, o que mais uma vez consagra o nosso entendimento do desvio de finalidade que consiste em intimidar e não em cobrar. Assim, salientamos que, caso o condomínio resolva realizar o protesto, que a aplicação da nova lei seja feita com cautela. Inclusive vale lembrar que esta lei é objeto de uma ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) que visa suprimir sua eficácia. Com muito mais eficácia, tem sido a ação judicial de cobrança. Devemos lembrar ainda que o devedor de condomínio pode perder sua moradia, pois com o processo judicial a unidade condominial pode ser penhorada e leiloada para a quitação do débito e isso pode acontecer mesmo que seja a única morada do devedor, pois essa é uma exceção prevista na Lei 8009/90: “Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;” Ainda voltando ao Código Civil temos que o inadimplente com as despesas condominiais é impedido de votar e sequer participar das assembleias do condomínio: “Art. 1.335. São direitos do condômino: III - votar nas deliberações da assembleia e delas participar, estando quite.” Devemos lembrar que este controle de quem pode ou não participar das assembleias deve ser exercido pela administradora que é recomendada a manter a listagem de presença na entrada do recinto da assembleia onde deverá permitir o acesso somente aos adimplentes.

o texto na íntegra no site + Leia da Apê Zero 1. Autor do Artigo: Carlos Eduardo Quadratti, advogado especializado em direito condominial e de vizinhança, jornalista articulista inscrito no MTB 0062156SP.



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Multiplicadores Jundiaienses Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz, Renata Susigan, Arquivo e Divulgação esde que a APÊ ZERO 1 reformulou sua linha editorial há dois anos e tornou-se uma revista de variedades, a editoria Multiplicadores tem feito sucesso por mostrar cidadãos que notaram alguma oportunidade de fazer a diferença em Jundiaí e decidiram, sem apoio do poder público ou da iniciativa privada, deixar sua marca na história da cidade. A APÊ ZERO 1 tem disponibilizado este espaço aos multiplicadores das áreas política, cultural, social, esportiva, entre tantas outras, para contribuir com a divulgação de suas ações, já que tais iniciativas oferecem a oportunidade de reflexão, solidariedade e engajamento. Desde a edição de número 102, de maio e junho de 2013, 10 revistas foram publicadas com a editoria Multiplicadores. As organizações protagonistas foram diversas: Voto Consciente; Projeto Semente; AMA – Associação do Voluntário Amigo; Klabhia Team Run – grupo de corrida; Projeto Social da Escolha de Samba União do Povo; Projeto Abraço; Projeto Cidadão de Futuro; Concurso Cidadonos; Projeto Sonhar Acordado; Sebo Jundiaí; e Grendacc (Grupo em Defesa da Criança com Câncer). Nesta edição, os leitores poderão conferir a entrevista com as fundadoras da rede Mulheres Empreendedoras Jundiaí. A preocupação da revista quando a editoria foi criada era em relação à quantidade de pautas existentes. Foi questionado se haveria projetos na cidade suficientes que se enquadrassem nos requisitos para serem publicados a cada bimestre. A reportagem da Apê teve uma grata surpresa quando descobriu que era possível encontrar, em todas as edições, ideias e ações merecedoras de destaque. Por isso, se você, caro leitor, conhece alguém que contribua para a melhoria da cidade por meio do trabalho voluntário, escreva para a revista e faça sua sugestão. E confira, agora, a reportagem especial de capa, que mostrará cidadãos que enfrentam dificuldades, sem desistir de uma sociedade mais justa, atuante e bem informada.

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Casa 493 - Arte acessível Já imaginou um local onde as pessoas possam ir para se expressarem livremente, produzirem sua arte e ajudarem a propagar a cultura livremente, sem depender de ninguém? Pois é exatamente este local que os jovens produtores culturais, Pedro Calzoli, flautista, e Renato Trippe, empreendedor social, 27 e 26 anos respectivamente, estão disponibilizando na Casa 493. Lá eles oferecem um espaço destinado à criação artística e integração entre várias “tribos”. Durante três anos, enquanto a dupla organizava festas e eventos culturais em bares, ruas e chácaras, procurava um local próprio que estivesse sempre disponível para receber apresentações teatrais, musicais e de dança, exposições e oficinas. “A casa pertence à família de Pedro; pedimos para usá-la e eles cederam o local para nós”, explica Renato. Com um lugar sempre aberto para o público, eles passaram então a desenvolver seu projeto. O imóvel, que fica na rua Conde de Monsanto, no nº 493, no Vianelo, foi construído pelo avô de Pedro na década de 1950, época em que plantou uma mangueira no quintal. “Esta árvore tem uns 60 anos, e hoje é parte do patrimônio da casa, serve de cenário para as apresentações, faz sombra e ainda ajuda a amenizar o calor”, comenta Pedro. A casa colaborativa ainda não tem um ano de fundação, mas seu público tem crescido, somando atualmente 100 pessoas por semana, entre diferentes faixas etárias, a depender da atividade realizada. “O acesso à casa é gratuito; apenas quando alguma oficina é realizada, como por exemplo de agbê ou yoga, as aulas são pagas. No resto, todo mundo ajuda como pode”, afirma Renato. Pedro explica que um dos principais objetivos da Casa 493 é proporcionar a oportunidade para as pessoas se sentirem parte integrante do ambiente. “Hoje em dia, parece que as pessoas têm medo de interagir umas com as outras, não conversam, não trocam experiências nem têm paciência, então, aqui é o local ideal para substituir esta característica tão comum nos dias de hoje por um contato mais verdadeiro, acompanhado de uma xícara de café”, reflete. “Os próprios frequentadores decoraram, colocaram enfeites e ajudam como podem na manutenção da casa.” Para Renato, a Casa 493 surge como uma

A Casa 493 serve como alternativa aos artistas talentosos de Jundiaí.

alternativa aos artistas talentosos de Jundiaí que têm dificuldades em encontrar espaços para se manifestarem. “Falta apoio do poder público, mas também falta público”, opina. “A atual administração de Jundiaí tem dado mais atenção à cultura, mas ainda não é ideal, pois as mudanças não abrangem todas as pessoas.” Pedro reflete que quando há locais dispostos a receber a arte de anônimos, diversos problemas sociais tendem a diminuir, como a violência e desigualdade social. Para aumentar as chances de levar cultura e arte a quem tiver interesse, Pedro e Renato estão em processo de oficialização da Casa 493. “A partir daí, poderemos escrever projetos e participar de editais, para termos condições de manter todas as atividades gratuitas, inclusive as oficinas.” Os rapazes acreditam que o crescimento do número de casas colaborativas e coletivos é uma tendência nacional, pois os participantes se ajudam tanto na criação quanto na produção e financiamento de seus projetos. “Coletivamente, você consegue criar muito mais, principalmente porque, aqui em Jundiaí, os coletivos são parceiros, se ajudam”, comenta Renato. Foi exatamente a interação entre a Casa 493, Casa Colaborativa e o Coletivo Coisarada que

resultou no Bloco do Loki, cuja segunda edição ocorreu no carnaval deste ano. Eles incentivam o público a comparecer e conhecer a Casa, assistir às apresentações, participar das atividades e até expor seus talentos. “As pessoas devem procurar ser a mudança que querem ver na sociedade”, fala Renato. “Com atitudes amorosas e de colaboração, vários setores melhoram naturalmente, como a saúde e educação”, complementa Pedro. Movimento Voto Consciente Ensinando política Thuany de Figueiredo é cientista social, carioca e moradora de Jundiaí há 11 anos. Ela é voluntária do movimento Voto Consciente desde 2011. Quando começou a votar, em 2010, se sentiu insegura para participar de um processo democrático tão significativo porque não conhecia a política da cidade. “Certa vez, o pessoal do Voto fez uma palestra no cursinho onde minha amiga estudava, entregou a Ficha Pública, ela se interessou pelo movimento e comentou comigo”, lembra. Interessada pela proposta, Thuany procurou se informar sobre a atuação do movimento em Jundiaí, se idenApê Zero 1. Mar/Abr 2015

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tificou e passou a participar. Hoje, ela é uma dos 40 voluntários ativos. A cientista social explica que o Voto Consciente foi fundado há aproximadamente nove anos, por meio de uma iniciativa do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), cujo objetivo era contribuir para a educação política da população jundiaiense e promoção da cidadania. “O Voto tem três frentes de trabalho: acompanhamento e publicação do ranking de desempenho dos vereadores, avaliação do Plano Diretor de Jundiaí e do grau de transparência do site da Câmara”, comenta. “Os grupos de voluntários se dividem entre várias tarefas, e cada um participa de uma área: acompanhamento das sessões da Câmara, captação e recepção de novos voluntários, comunicação entre o movimento e a sociedade, palestras em associações e escolas, entre outras.” Pessoalmente, Thuany afirma que o trabalho voluntário está presente no histórico da família. “Minha mãe, Fátima, sempre foi voluntária e, quando chegamos em Jundiaí, começou a trabalhar no Grendacc”, lembra. “Eu fui colaboradora durante três anos do Cursinho Professor Chico Poço.” Ela afirma que entre as ações do Voto Consciente está a produção das Fichas Públicas, desde 2010, em anos de eleição, com informações dos políticos que pleiteiam cargos do Legislativo. “Além dos compromissos dos candidatos, em ano de eleição municipal, publicamos o ranking dos vereadores da cidade, elaborado a partir do acompanhamento das sessões da Câmara”, comenta. As fichas são produzidas por meio de financiamento coletivo e trazem uma sabatina com os candidatos da região. A primeira edição do Concurso Cidadonos ocorreu em 2011. “Escolhemos os anos em que não há eleição para fazermos um concurso de propostas que os cidadãos jundiaienses têm para a cidade, seja na área de mobilidade, segurança ou cultura”, conta. “Este ano teremos mais uma edição e as 12 propostas mais votadas serão publicadas na Ficha junto com o comprometimento dos candidatos em atendê-las ou não”, diz. Geralmente, a população ouve as propostas dos políticos, porém, o concurso possibilita que eles ouçam as demandas da população, o que mostra uma inversão na maneira de se fazer política. Há ainda a Agenda Cidadã, que é a publicação da maneira como o poder público se compromete com as propostas do Cidadonos. “Através da 18

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Thuany lembra que o voto consciente é uma excelente ferramenta de cidadania, mas é o público que precisa cobrar, fiscalizar e acompanhar as 12 propostas mais votadas no Cidadonos.

Agenda, damos visibilidade para as ideias e mostramos que o Voto Consciente apenas faz a intermediação, não é responsável por ação alguma.” Thuany revela que levou seu amigo Jean Lucas para participar do movimento. Hoje, ele acompanha as sessões da Câmara junto com ela. “Precisávamos de uma pessoa para fazer este serviço; ele se interessou e está conosco há três anos.” Para ela, o Voto Consciente tem como principal objetivo construir uma cidade mais participativa socialmente, principalmente engajando os jovens. “Nossa média de idade dos voluntários é de 23 anos e quem participa do Cidadonos geralmente são pessoas mais novas que os próprios voluntários. Historicamente, a população não tem a cultura consolidada de fiscalizar e cobrar, e é exatamente isso que queremos mudar.” Na opinião de Thuany, para que uma pessoa seja uma cidadã consciente é preciso pensar em política o tempo todo, não apenas na época das eleições. “Conhecer o funcionamento da Câmara e do Executivo, a história do prefeito e vereadores, ideologia dos partidos são formas de se manter atualizado e com uma opinião embasada”, sugere. “As pessoas estão insatisfeitas, mas não ativas. Enganase quem acredita que para fazer política é necessário ser integrante de algum partido. Você pode ser ativo na escola do filho, associação de moradores, voluntário de alguma entidade, enfim, há uma infinidade de possibilidades. É possível ter uma atuação política na sua área de formação ou interesse.” Com relação às conquistas do Voto Cons-

ciente, Thuany afirma que o movimento é consolidado e respeitado na cidade, pois atinge milhares de pessoas e ainda garante espaço para que se manifestem. “Nossas ações atingiram um nível que impacta a vida da cidade e suas políticas públicas, como por exemplo, o Bilhete Social, a Tribuna Livre e as sessões noturnas da Câmara, antiga demanda de quem gosta de acompanhar o trabalho dos vereadores em um período acessível.” Quanto aos desafios, ela relata a dificuldade de manter o interesse das pessoas, já que as demandas demoram a ser estudadas devido a questões burocráticas, e como continuar a ser a ligação entre a população e os políticos da cidade. Thuany garante que o Voto Consciente não tem atuação partidária, seus integrantes não são militantes de partido algum, nem filiados. “Nosso movimento é da sociedade civil”, afirma. “No entanto, cada integrante tem, pessoalmente, a liberdade de ter a sua preferência política. Há pessoas que simpatizam mais com partidos de esquerda, outros com partidos de direita, mas há garantia de espaço para todos.” Baseada no cenário atual do País, Thuany acredita que as pessoas ainda tenham grande dificuldade em entender política, quais são as responsabilidades de cada poder, como os partidos funcionam, o que cada cargo político faz. A missão do Voto Consciente, ela explica, é incentivar a participação crítica da população e ensinar como podem fazer isso, além de votar. “O grupo do Voto responsável pelas palestras faz este tipo de trabalho.”


O Grupo Ideias e Ideais tem 32 anos e ajuda 6 entidades por mês, apenas com trabalho voluntário e muito amor ao próximo.

Ideias e Ideais - Artesanato para ajudar entidades jundiaienses Fundado há 32 anos pela professora aposentada Umbelina Neyde Camargo junto com mais três pessoas, o Grupo de Trabalho Artesanal Ideias e Ideais é formado hoje por cerca de 70 senhoras que reúnem-se semanalmente para produzir trabalhos em tricô, tear manual, crochê, pintura, patchwork, bordado, macramê, madeira, scrapbook, arraiolo e costura. No mês de novembro, as senhoras realizam um tradicional bazar, em que colocam à venda tudo o que foi feito durante o ano. Em 2014, foram expostas e vendidas aproximadamente três mil peças. “Com o dinheiro que arrecadamos no bazar, conseguimos ajudar durante o ano seguinte as 20 entidades cadastradas, sendo seis por mês”, comenta dona Neyde, coordenadora do grupo. “Temos nosso público fiel, que sempre comparece e compra, mas todo ano o número de clientes aumenta. Há pessoas que vêm de outras cidades para adquirir nossos artigos, pois primamos pela qualidade.” Dona Neyde conta que a ideia de fazer artesanato para vender e arrecadar dinheiro amadureceu durante um tempo. Quando ela mudou-se para o atual endereço, fez amizade com suas vizinhas e, juntas, frequentavam bingos beneficentes na cidade. “Toda semana íamos em algum bingo; fizemos isso durante um ano.” En-

tretanto, a senhora sentiu necessidade de ajudar as pessoas que precisavam de uma maneira mais efetiva e direcionada. “Foi quando tive a ideia de criar o grupo.” Apesar de o começo ter sido um desafio, já que tiveram dificuldades em vender a primeira produção, as senhoras acreditaram e insistiram no projeto e, a partir daí, a iniciativa só tem aumentado a cada ano. “Não temos vínculo algum com religião, empresa ou poder público”, afirma. “O grupo cresceu porque conforme o tempo foi passando, as pessoas foram conhecendo nossa atuação e começaram a oferecer seu trabalho para ajudar. Senhoras de várias partes de São Paulo contribuem na confecção dos artesanatos”, lembra. Dentre as 70 integrantes, há moradores da Capital, Praia Grande, São Vicente e Ilha Bela. Elas recebem os materiais, fazem as peças e reenviam para o grupo. A faixa etária varia de 44 a 92 anos. Na década de 1980, o número de entidades ajudadas anualmente era menor de 10, hoje são 20 por ano, sendo seis por mês. “Isso mostra que o número de pessoas que precisam de ajuda aumentou significativamente, o que é uma pena, mas serve de incentivo para continuarmos nossa missão.” Ela explica que a contribuição com mantimentos é feita, todos os meses, a seis entidades. Em maio, quatro instituições recebem roupas infantis; na semana do Dia das Crianças, 17 ga-

Dona Neyde sentiu a necessidade de ajudar as pessoas mais efetivamente.

nham brinquedos. A Rede Feminina de Combate ao Câncer é a única organização que recebe uma doação mensal de leite. “Antes de serem cadastradas pelo grupo, visitamos as entidades para conhecer o trabalho que fazem”, afirma. “Pensamos que estamos ajudando, mas, na verdade, somos nós as ajudadas. É gratificante saber que nosso trabalho ajuda quem precisa.” Algumas das entidades ajudadas são: Associação de Assistência aos Hansenianos de Jundiaí, Creche Mãe Mei Mei, Lar Espírita Joanna de Angelis e Conferência Vicentina da Paróquia Santa Terezinha. O bazar é realizado na rua Visconde de Mauá, 314, na Vila Municipal. Este ano será nos dias 7, 8, 9 e 10 de novembro. Festas da Paróquia Senhor Bom Jesus Importante trabalho do voluntariado Independentemente de religião, as festas realizadas para contribuir com a manutenção de alguma igreja ou filosofia de vida só se tornam realidade devido ao trabalho dos voluntários. Na Paróquia Senhor Bom Jesus, do bairro Caxambu, não é diferente. Há 25 anos, o casal Antônio Carlos Rigolo, gerente de produção, e Odete Balestrin Rigolo, dona de casa, faz parte do corpo de voluntários que organiza duas festas por ano: a Festa da Uva, em janeiro, e a Festa do Senhor Bom Apê Zero 1. Mar/Abr 2015

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Jesus e do Vinho Artesanal, que ocorre em julho, e já completou 100 anos. Eles lembram que foram convidados por um casal de amigos que já trabalhava em festas da igreja, decidiram tentar e gostaram da participar. “Nós já frequentávamos a igreja, mas achamos que seria mais interessante se contribuíssemos para o trabalho social que a paróquia faz”, comenta Antônio Carlos. No início, as tarefas eram limpar as mesas, depois passaram para o caixa e cozinha até chegarem à comissão organizadora e, depois, coordenação. “Na verdade, todo mundo faz o que precisa. Hoje somos coordenadores da cozinha, mas limpamos mesas e ajudamos no que é preciso, assim como os outros voluntários”, afirma Odete. O casal encara o que faz não como um trabalho para a igreja, mas para Deus, já que o “lucro” da festa é revertido para o Clube de Mães, Vicentinos e Pastoral da Saúde. “O Clube de Mães é formado por senhoras que fazem todo tipo de artesanato, vendem em bazares e, com o dinheiro arrecadado, ajudam famílias que precisam de fraldas, roupas e remédios”, explica Odete. “Já os Vicentinos usam o dinheiro para comprar e doar cestas básicas a famílias cadastradas. E a Pastoral da Saúde, grupo de voluntários que visita pessoas internadas em hospitais, utiliza sua verba para manter suas atividades.” Após o casal começar a fazer o trabalho voluntário, cerca de 10 pessoas da família quiseram participar da iniciativa também. Entre os que aderiram à causa estão irmãos, cunhados e sobrinhos. “Hoje, temos 200 voluntários em média, mas sempre precisamos de mais, pois o público das festas é muito grande”, comenta Antônio. “Recebemos cerca de cinco mil pessoas.” Antônio conta que atender um público tão grande e com a qualidade de sempre não é fácil, pois há muita preparação e trabalho com antecedência. “As festas ocorrem aos sábados e domingos, mas nós nos reunimos cerca de cinco horas por dia durante a semana que antecede para preparar tudo. Nada é industrializado, fazemos tudo artesanalmente”, fala Antônio. “Os voluntários geralmente têm o seu emprego e à noite se reúnem para ajudar na organização”, comenta Odete. Os voluntários do Caxambu também participam das festas dos bairros da Roseira e Toca, 20

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Para o casal Antônio e Odete, voluntários há 25 anos, para ajudar é preciso estar preparado para doar.

pois sempre há falta de pessoas para trabalhar. “Se eles precisam, nós ajudamos. Se nós precisamos, eles ajudam”, afirma Antônio. Desta maneira, ninguém deixa de fazer seu evento. Segundo o casal, para ser voluntário tem que ter dom, estar preparado para doar e fazer trabalhos cansativos. “Algumas pessoas têm dificuldades em trabalhar voluntariamente, pois, para isso, é necessário ter trabalhado internamente a humildade, ter amor ao próximo e gostar do que faz”, ressalta Antônio. “Você tem que estar disposto a fazer o que é necessário, mesmo que não seja sua função principal, pois o objetivo é esse: abraçar uma causa da melhor maneira possível, sem esperar qualquer coisa em troca. É tão gratificante!”, complementa Odete. Bicicletada - Apresentando soluções em mobilidade urbana Com uma população estimada em 397.765 pessoas em 2014, segundo o IBGE/Seade, e uma frota de 194.101 carros, de acordo com a Prefeitura de Jundiaí, a cidade caminha para

uma situação em que discutir mobilidade urbana deve ser primordial. Encarar a bicicleta como meio de transporte saudável, ecologicamente responsável e favorável à diminuição dos transtornos causados pelos congestionamentos de veículos é o que grupos como o Bicicletada têm feito. Henrique Parra Parra Filho, cientista social de 25 anos, atua como voluntário neste e em outros movimentos relacionados à mobilidade urbana desde 2006. “Participo do Bicicletada e de passeios ciclísticos urbanos que chamam atenção do poder público e das pessoas para o uso da bicicleta como meio de transporte”, explica. “Esses passeios já acontecem há cerca de cinco anos.” Especialistas em urbanismo afirmam que o ideal é que as cidades tenham um conjunto integrado de meios de transporte, com ônibus, metrô, trem, monotrilhos, BRTs (Bus Rapid Transit), ciclovias e barcos, quando as alternativas são possíveis, para que a opção do carro seja usada apenas pelas pessoas que realmente necessitam fazer grandes viagens para trabalhar, por exemplo. Para Henrique, nem o poder público mu-


Henrique destaca que “É andando juntos que vamos evitar ficar parados. E andar juntos é usar transporte coletivo.”

nicipal nem a população estão preparados para lidar com as mudanças que a mobilidade urbana exige. “Nem começamos neste caminho ainda. Embora o nome seja SITU (Sistema Integrado de Transporte Urbano), só há integração entre ônibus de diferentes linhas. Não há nenhuma iniciativa, equipamento ou programa relevantes que estimulem a integração entre modais na cidade”, opina. “Os terminais não oferecem estacionamento seguro para quem vem de carro poder completar o trajeto de ônibus. Não há nenhum corredor de ônibus ou faixa exclusiva na cidade. Por fim, quem integra modais não recebe nenhum tipo de incentivo. A integração não é pensada ou estimulada.” Ele baseia sua opinião no fato de não haver bicicletas para alugar nos terminais de ônibus. “Se vou até um terminal, tenho que completar o percurso a pé ou de ônibus apenas”, reflete, levando em consideração as condições do centro da cidade como exemplo, que tem poucas calçadas, desconforto e muitos carros ou ônibus congestionados nas ruas antigas e estreitas. Para ele, o transporte por ônibus em Jundiaí não recebe a prioridade que deveria. “A cidade tem dezenas de rotas por onde passam quase todas as linhas de ônibus. Passou da hora de ajustá-las, criando faixas exclusivas e dando um sinal claro para os jundiaienses: é andando juntos que vamos evitar ficar parados. E andar juntos é usar transporte coletivo.” Henrique comenta que locomover-se de bicicleta ainda é perigoso para os ciclistas. Ele

afirma que quem mora em bairros mais antigos ou consolidados da cidade, como Vila Arens e Ponte São João, pode fazer alguns trajetos curtos de bicicleta para fazer pequenas compras ou ainda como opção de lazer. “Outro trajeto que tem grande potencial é entre os bairros residenciais e os terminais do SITU. Boa parte pode ser feito por ruas de pouco tráfego e em percurso curto. Aí está o principal uso que a bicicleta pode ter na cidade.” Uma das dificuldades que os ciclistas e ativistas de modais alternativos encontram é com relação à resistência de alguns moradores de bairros residenciais e comerciantes. Em fevereiro deste ano, diversos veículos de comunicação, como a Folha de São Paulo, noticiaram a resistência do bairro Vila Madalena (SP) em relação às ciclofaixas, porque, segundo residentes e proprietários de estabelecimentos, a instalação das mesmas causaria maior dificuldade em estacionar carros, entrar e sair de casas e diminuiria o fluxo de clientes. Henrique reflete: “Acho que deve-se evitar uma postura de polêmica e de rivalidade. A discussão real é adaptar a infraestrutura viária para que as bicicletas também sejam uma opção. Sobre os comércios, todos os estudos apontam aumento nas vendas e as vantagens das ciclovias e vagas de estacionamento para bicicletas.” Além de diminuir o trânsito, Henrique descreve os benefícios de quem adere ao transporte público coletivo e a bicicleta. “Em ambos, há diminuição da emissão de gases poluentes na atmosfera. No caso da bicicleta, ain-

da há o benefício da prática do exercício físico e combate à obesidade.” Alguns países, como a Suécia, já adotaram a alternativa de compartilhamento de carros para diminuir o trânsito. No Brasil, Recife é a primeira cidade a testar o mesmo recurso, com carros elétricos. Para Henrique, Jundiaí tem condições de ser uma das primeiras cidades brasileiras a adotar medidas assim. “Há alguns fluxos bem definidos na cidade, com dois polos de atração muito fortes: centro da cidade e distritos industriais. Sendo assim, há uma enorme possibilidade de aplicativos de compartilhamento de carros (caronas) prosperarem na cidade”, explica. “Se pessoas que moram próximas umas das outras forem diariamente ao Distrito Industrial ou ao Centro para trabalharem, há enorme possibilidade de se estabelecerem caronas e pequenas trocas financeiras para dividir as despesas.” Ele afirma que em países onde a bicicleta tornou-se um meio de transporte consolidado, a indústria - que comporta acessórios, revisão, produção de novos modelos, desenvolvimento tecnológico de bicicletas dobráveis, bicicletas com pequenos motores – encontrou oportunidades de desenvolvimento. “Além disso, o uso das bicicletas aliado à infraestrutura certa, com ciclovias, ciclofaixas e bicicletários, estão associados ao aumento das vendas de comércios de rua.” Comparando São Paulo e Jundiaí, Henrique acredita que a Capital está mais direcionada à solução do que aqui, pois possui metrô, faixas exclusivas, corredores, ciclovias, rodízio, entre outras alternativas que incentivam o uso do transporte coletivo. “Parece que já identificaram o caminho para resolver seus problemas, mesmo sendo uma das maiores metrópoles do mundo. Nós precisamos achar a nossa própria visão e as nossas próprias soluções. Aproveitar melhor os terminais, exigir condomínios que resolvam sua própria demanda por serviços e enxergar o que está na nossa frente: o futuro é ônibus e bicicleta.” Henrique explica que os movimentos Bicicletada e Pedala Jundiaí conseguiram, por meio de uma campanha, 118 paraciclos, além dos 30 que a Caixa Econômica Federal instalou nas suas agências. “São 148 paraciclos, cerca de 300 vagas de estacionamento seguro para bicicletas. As 118 adquiridas por meio de campanha aguardam autorização para instalação pela Apê Zero 1. Mar/Abr 2015

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Prefeitura, algo que deve ser feito nos próximos meses”, afirma. “Outra ação dos ciclistas da cidade foi sabatinar o Prefeito e conseguir que ele se comprometesse publicamente com a execução de ciclovias, ciclorrotas e bicicletários; conseguimos também duas leis municipais, uma ciclofaixa de lazer na Avenida Prefeito Luiz Latorre e duas ciclovias (Jardim Botânico e Engordadouro).” A Prefeitura de Jundiaí informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que “a presença desses espaços para as bicicletas foi antecipada por movimentos do Pedala Jundiaí e da Bicicletada, grupos de cidadãos que recolheram doações para 118 aparelhos chamados “paraciclos” (de fixação de bicicletas estacionadas na rua), sendo 70 deles junto a terminais de ônibus. A definição exata dos locais e de sua sinalização está na fase final para a implantação gradativa a partir das próximas semanas até o fim do ano. A Prefeitura de Jundiaí informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “nos últimos anos, apenas 6 km de ciclovias foram criados para mobilidade (na avenida Antonio Pincinato e na avenida Caetano Gornatti, no Engordadouro, recém-inaugurada), além daquelas de lazer nos parques Botânico, da Cidade e Tulipas e a ciclofaixa dominical na avenida Luiz Latorre. O trabalho visa multiplicar inicialmente esse número por cinco, chegando rapidamente aos 30 km de ciclovias. Os projetos prioritários estão sendo detalhados em diversos bairros da cidade e incluem a adaptação de projetos em andamento da própria Prefeitura e também negociações de contrapartidas de empreendimentos (EIV). Ainda não foram liberados os detalhes finais dos primeiros projetos em finalização, mas os levantamentos técnicos e de custos estão sendo realizados em diversas rotas para esse processo. Em um prazo mais longo, uma análise eleva essa estimativa para 100 km, incluindo 25 km de rotas secundárias nos próximos anos. A Prefeitura de Jundiaí tem desenvolvido nos últimos anos importantes medidas para melhorar a Mobilidade Urbana de Jundiai das quais destacam-se: primeiro trecho do BRT (Bus Rapid Transit) Colônia ao Centro que eleva os padrões de conforto, confiabilidade, rapidez, atendimento dentre outras melhorias no Sistema de Transportes Urbanos, e cujo investimento será da ordem de 135 milhões; implantação do Bilhete Único que possibilita a integração em qualquer ponto 22

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Wilson é um dos fundadores da Escolinha de Esportes Radicais, que oferece aulas gratuitas.

do Sistema com pagamento de uma única tarifa; incentivo ao uso da bicicleta como modo de transporte com a implantação de um primeiro trecho de ciclovia ao longo da Av. Caetano Gornati, que faz parte de um Pré-plano cicloviário que antecede ao Plano Cicloviário definitivo que está em desenvolvimento; manutenção do subsídio da tarifa que mantém a R$ 3,00 o valor da passagem, investindo 14 milhões nos últimos 2 anos; criação do Serviço de Transporte Adaptado com investimento de R$ 1,8 Milhão/ ano; Tarifa Social que custa apenas R$ 1,00, 2 domingos por mês. A Prefeitura de Jundiaí pretende, além de avançar nos projetos listados an-

teriormente, ampliar os corredores BRT como o trecho 2 que leva os passageiros da área central ao vetor Oeste da cidade, obras que ainda não temos como estabelecer um prazo de início e que estão orçadas em R$ 400 Milhões.” Esportes radicais - Superar medos e ultrapassar limites “Esporte é vida! E faz qualquer um ser capaz de superar seus limites, basta ter dedicação.” É com esta frase que o jundiaiense Wilson Delvechio Filho, o Urso, microempresário de marca de roupas de 31 anos, descre-



ve a importância do esporte para sua vida e para as pessoas. Ele é patinador desde a adolescência e já chegou a usar os patins como meio de transporte, principalmente quando não dirigia e as vias ainda não eram tão cheias de carros. “Depois de aprender, você pode usar o patim para fazer qualquer coisa, pois é bem fácil de andar”, comenta. Urso relaciona aos patins o fato de ter conseguido reconhecimento e conquistado amigos. Foi através deles que o rapaz viu uma oportunidade de negócio e abriu sua própria empresa. Ele já participou de vários campeonatos, mas hoje o patim é um hobby, um esporte que gosta de praticar. “O campeonato que mais me marcou foi o BIS, que disputei em 2002, em Barueri”, lembra. “Foi a primeira vez que competi com os profissionais. Também já fiquei entre os primeiros colocados em disputas em Campinas, São Paulo e Florianópolis.” Junto com seu amigo Clayton Araújo, o Cebola, atleta da BMX, ele fundou a Escolinha de Esportes Radicais, há três anos. As aulas são gratuitas e ocorrem às terças-feiras no Complexo Esportivo José Brenna, o Sororoca, para meninos e meninas de sete a 18 anos. “A ideia da escola surgiu numa época em que estavam acontecendo muitos acidentes na pista do Sororoca”, comenta. “Muita gente não sabia como andar, então, quisemos oferecer um treino para que a molecada pudesse usar a pista mais à vontade, com mais segurança.” No entanto, a ideia, que nasceu apenas como uma forma de ajudar os mais jovens a se divertirem seguramente, passou a fazer sucesso. Segundo Urso, os esportes radicais ajudam o praticante a controlar o medo, superar seus próprios limites, desenvolver a criatividade. “Para você ser um bom patinador ou fazer qualquer outro esporte radical, você tem que criar manobras, ter coragem”, ressalta. “Eles acabam levando essas características para a vida pessoal.” As aulas não têm restrição, desde que os alunos tenham autorização dos pais e estejam devidamente protegidos com os equipamentos de segurança: capacete, joelheira, cotoveleira, protetor de punho. “É importante que os pais saibam que os filhos podem ter algumas 24

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dificuldades no início”, explica. “Muitas mães de alunos começam a andar de patins junto com seus filhos.” Nas aulas, os alunos aprendem primeiro o básico, que é equilíbrio em cima dos patins, frear e fazer curvas. “Depois, começo a ensinar a descer as rampas, fazer os grinds (escorregar pelos canos)”, descreve. “É meio perigoso, sim, pois sempre tem uns tombos, por isso, o aluno tem que ter os equipamentos de proteção.” Além de patim, a Escolinha oferece aulas de bicicleta e skate. Para ampliar seu projeto e estimular mais praticantes, os professores promovem alguns

eventos, nos quais divulgam os esportes radicais para os jundiaienses e tentam conseguir doações de equipamentos de proteção e, até mesmo, patins, skates e bicicletas. “O poder público ajuda fazendo as pistas, mas poderiam ceder mais espaço para a publicidade das empresas e reverter os recursos para a manutenção e ampliação dos projetos”, explica. Sobre ajudar pessoas a superarem seus medos, Urso garante que a satisfação é imensa. “É muito gratificante”, declara. “Só de ensinar uma criança a descer uma rampa que ela achava impossível é muito legal, me dá orgulho, mostra superação”, finaliza.





Criancas

Pais e filhos unidos pela paixão por música Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz e Renata Susigan úsica é a paixão que os une. Profissionalmente ou por hobby, clássica ou popular, estes pais e filhos nasceram para fazer a arte que atinge mais rapidamente os sentidos e pode até ser explicada, mas deve ser principalmente sentida. Elaine Freitas é professora de piano e regente dos corais Cantarte e Infantil Divino Salvador. Ela começou a estudar música com seis anos. Sua família foi uma grande inspiração para que ela seguisse o caminho da arte: o tio tocava violino e a mãe (Helenice) sempre gostou de piano, apesar de nunca ter podido estudar. “Minha mãe me ofereceu esta oportunidade que ela mesma não teve”, explica. “Eu comecei, achei interessante e nunca mais parei.” Elaine afirma que estudar música hoje em dia é mais fácil do que há 40 anos, pois antes era caro e não havia tantos subsídios de governos. “Hoje é tudo fácil, as pessoas querem que as coisas aconteçam com uma velocidade enorme, a sociedade é imediatista”, comenta. “Os pais, por exemplo, não têm tempo para ajudarem os filhos a estudar, dar atenção ao que eles estão aprendendo, o que é muito importante quando se estuda música.” Para tocar piano, ela ressalta que é necessário praticar, pelo menos, uma hora diária. “Como mexe-se muito os músculos, eles precisam ser trabalhados todos os dias para o aluno não perder o que já adquiriu de prática e intimidade com o instrumento”, conta. “Cada pessoa leva um tempo para aprender, mas há que se levar em conta a dedicação, pois tocar piano é diferente de ser pianista.” Elaine estudou em diversas escolas para adquirir experiência e conhecimento na arte musical. Fez Conservatório Musical de Jundiaí (escola que já não existe), canto lírico com Chico Campos, aperfeiçoamento de piano com Nair Effenberger Guelli, Universidade Livre de Música (hoje, conhecida como Tom Jobim) e aulas particulares. “Apenas a universidade era pública, todos os outros lugares foram pagos; é um investimento”,

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Elaine Freitas, pianista.

atesta. Sua família só conseguiu bancar os estudos porque todos trabalhavam, inclusive ela desde os 14 anos, quando já dava aulas particulares. Sobre o tipo de música ao qual o grande público tem acesso atualmente, Elaine opina que a qualidade é questionável. “A mídia não oferece música de qualidade, então, as pessoas não ouvem nem têm oportunidade de conhecer estilos diferentes para saberem se gostam ou não.” Ela conta que “ama” música erudita, mas é que difícil sobreviver dela, apesar de possível, desde que a pessoa se proponha a trabalhar muito. “Eu até fiz Direito para tentar te uma profissão mais estável, prestei exame da Ordem dos Advogados do Brasil, trabalhei, mas desisti porque música sempre foi minha paixão”, enaltece. “Meus compositores clássicos preferidos são Mozart, Beethoven e Chopin.” Ela também gosta de Música Popular Brasileira: ouve Chico Buarque, Djavan, João Bosco, Elis Regina e Maria Gadú. Depois de decidir que música seria o caminho a seguir, Elaine informa que nunca parou de estudar e trabalhar. Além de dar aulas desde a

adolescência, ela administra sua escola, tem a Elaine Freitas Orquestra, que toca em casamentos, e ainda é regente dos corais citados anteriormente. “O músico tem que ter consciência de que será difícil aproveitar finais de semana, noites e feriados. Enquanto as pessoas se divertem, você trabalha, mas para quem gosta isso não é um problema.” Sua filha (Isabela) foi diretamente influenciada, pois acompanhava a mãe no trabalho. “Ela começou a estudar piano com quatro anos, participou do meu coro infantil, tocou um pouco de clarinete na Banda São João Batista, mas quis voltar para o piano e, hoje, está na Universidade Federal do Rio de Janeiro.” Elaine nunca quis integrar uma orquestra e sugere que quem tem o sonho de se tornar músico o faça. Para ela, não há idade certa para começar, desde que a pessoa tenha disciplina e amor. Naturalmente musicista A filha de Elaine, Isabela Campos, tem 20 anos e até o final de 2016 forma-se no curso de bacharelado em Música – Regência Coral. Na faculdade, ela aprende teoria e prática musicais. “Tenho aulas de harmonia, percepção musical, história da música, técnica vocal, regência, canto coral, prática de conjunto, música de câmara”, descreve Isabela. Ela toca piano desde os quatro anos e canta desde os seis. Por ter entrado no universo musical muito jovem, ela não se lembra como foi o processo de escolha do instrumento. “Provavelmente teve alguma influência da minha mãe por ela ser pianista; até testei vários outros instrumentos, como violino, clarinete e violão, mas depois cheguei à conclusão de que meu instrumento é o piano.” Ela revela que houve uma época de sua vida em que parou de tocar, mas sentiu falta e logo voltou. “Quanto ao canto, quando eu tinha seis anos, minha mãe montou um coral infantil na escola dela. Eu já estava



Jesse Chignolli, trompetista.

sempre por ali mesmo e fui cantar. Me apaixonei! Desde então nunca parei de cantar em coro. Graças a isso conheci o meio coral, conheci a regência e me encantei com ela a ponto de escolhê-la pra minha vida.” Isabela afirma que não consegue dizer quanto tempo pratica piano por dia, já que aproveita cada momento que tem para estudar as matérias. Geralmente, são duas horas diárias, mas como a rotina de aulas é intensa, algumas vezes não consegue se dedicar tanto. “Mas estudo criteriosamente todos os dias.” A musicista fez cursos na escola da mãe, no Pio X e, agora, na UFRJ. Teve diversos professores, incluindo Elaine, que contribuíram para o desenvolvimento de seu talento desde criança. Com eles, aprendeu piano, harmonia, percepção e canto. “Na faculdade, meus mestres são Patrícia Costa, Tobias Volkmann, Maria José Chevitarese, Valéria Matos e Inácio de Nonno.” Assim que se formar, Isabela já pensa em fazer mestrado fora do País. Ela opina que o mercado da música erudita no Brasil não recebe o incentivo que deveria. “Nem todas as cidades possuem orquestras e coros profissionais. Jundiaí é uma delas: não há um coro municipal remunerado e a orquestra produz pouco.” Ela informa que mesmo nas grandes capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, ainda há espaço para melhorias. De acordo com Isabela, há preocupação com a formação de público, por isso, as mesmas obras são executadas nos grandes teatros. “Os clássicos são sempre os mais escolhidos na programação das orquestras; no entanto, há um público sedento por novas obras e novos com30

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Matheus Chignolli, baterista/percussionista.

positores ou, ainda, obras nunca executadas de compositores conhecidos.” Para ela, esses fatores fazem com que a demanda de músicos seja menor, o que gera um mercado pequeno para músicos profissionais no Brasil. “A longo prazo, vejo uma mudança acontecendo”, comemora. “Acho que alguns países valorizam mais a música erudita, mas é algo cultural. Falamos muito da Europa como melhor lugar para este tipo, mas o continente cresceu com Bach, Mozart, Beethoven.” Como musicista, a maior dificuldade que percebe é com relação à valorização do músico profissional e o número de oportunidades comparadas a outras áreas. “Não há programas como o ‘Ciência sem fronteiras’ para estudantes de música, estágios e muito menos uma grande oferta de empregos formais no mercado de trabalho.” Seus compositores preferidos são Johann Sebastian Bach, Claude Debussy, Eric Whitacre e Arvo Pärt. Mas ela também abre espaço para os populares, como Foo Fighters, Jessie J, Roberta Sá E Chico Buarque. “Música boa a gente encontra em todos os estilos.” Ela almeja reger coros profissionais e, talvez, dar aulas em universidades. E resume a importância da música em sua vida: “A música é onde eu me encontro. É a minha maneira de mostrar quem eu sou. Me expresso por ela e com ela. É minha vida.” Músico desde os dois anos Jesse Chignolli é trompetista, mas trabalha na CPFL Energia. Aos dois anos já frequentava a Es-

cola de Música de Jundiaí, onde aprendia musicalização infantil. Profissionalmente, toca desde 1996. Hoje, ele integra o Trio & Arte, que faz eventos, cerimoniais, casamentos e recepções. Em Valinhos, participa do Coração Musical Valinhense, onde toca diversos estilos, como MPB, mambo e chá-chá-chá. Desde 1998 é integrante da Banda São João Batista de Jundiaí. A influência em sua vida veio do avô (Sebastião), que tocava acordeon em bandas nos anos 1950 e 1960. “Ele se apresentou com a Hebe, Cauby Peixoto e outros artistas.” Vários familiares de Jesse também foram músicos, como o pai (Jonas), que fez aula de piano durante oito anos. “Quando era pequeno, minha família se reunia aos finais de semana e todos tocavam”, lembra. Quando era criança, seu irmão (Jansen) passou a frequentar a EMJ e Jesse também quis. “Jansen aprendia trompete, mas não gostou e desistiu. Em seguida, fui eu que comecei a aprender e gostei.” Ele afirma que o trompete não é um instrumento fácil de se aprender, pois, assim como qualquer outro, exige dedicação e disciplina. Nos momentos em que pensou em parar, sua mãe (Sônia Maria) o incentivou a continuar e ele não se arrepende. “Quem me ajudou muito também foi a dona Josette Feres, da EMJ.” Jesse fez Universidade Livre de Música em São Paulo por cinco anos, participou de diversos cursos e festivais e formou-se em Licenciatura em Música na Faculdade Campo Limpo Paulista, em 2013. Além de manter seu emprego na CPFL, ele dá aula nas escolas Pio X, do Márcio Maresia, Semus, Mundo Arte e particulares. Seus esti-


los de música preferidos são instrumental, bossa nova, MPB, jazz e clássica, principalmente concertos em que o trompete é o protagonista. Os trompetistas que mais gosta são Arturo Sandoval, Wynton Marsalis e Chet Baker. Ele afirma que o cenário musical em Jundiaí é complicado para os músicos profissionais apesar de a cidade ser grande. “A orquestra jundiaiense tem apenas quatro anos; conheço muitos músicos que estão fora da cidade e do País porque o mercado de trabalho aqui não é muito favorável”, comenta. “A grande maioria dos músicos não pode se dedicar apenas à sua profissão, geralmente precisa dar aulas ou ter outros trabalhos para se manter. No Brasil, a música não é vista como profissão; acredito que a culpa seja dos próprios músicos que tocam por hobby e, por não dependerem desse dinheiro para sobreviver, acabam desvalorizando nosso trabalho.” Jesse afirma que sempre precisou ter um emprego com o qual pudesse contar financeiramente, já que formou família quando era ainda muito jovem, mas que pretende viver só de música um dia. Além de ser sua profissão, a arte representa tudo para ele, o fez conhecer e tocar em outros estados e países, como o Uruguai. “Tudo que faço é pensando em música!” Em dúvida sobre a carreira Filho de Jesse, Matheus Chignolli tem 15 anos e toca bateria e percussão. Ele estuda há três anos no Projeto Guri, mas terá que interromper a prática devido à escola. Seu pai sempre quis que ele fosse músico e, quando tinha sete anos, fez musicalização infantil. No final do curso, aprendeu flauta doce. “Queria que o Matheus tocasse piano ou violão, instrumentos harmônicos, para entender como a música funciona, para depois escolher outro instrumento”, afirma Jesse. “Fiz dois anos de piano, um ano de violão, fiquei seis meses parado e há três anos estou fazendo percussão e bateria.” comenta Matheus. Apesar de gostar da percussão, ele também deseja aprender a tocar trompete e baixo elétrico. O garoto é fã de MPB, eletrônica e clássica. “Sou eclético.” Tanto que ainda não sabe qual carreira seguir: se a de músico, engenheiro ou biólogo. Por enquanto, ele continua tocando no Conjunto Música Popular da EMJ e na orquestra do Projeto Guri.

Edinho Alves, guitarrista.

De pai para filho Edison Alves, o Edinho, é técnico em desenvolvimento de produtos e músico, toca guitarra e violão. Seu filho Noah, de três anos, o Nonô, mesmo tão pequeno, já segue os passos do pai e toca bateria (!) Edinho começou sua carreira musical com dois anos, quando ganhou uma bateria dos pais (Edison e Eliane). “Eles frequentavam bailes e eu ia junto”, conta. Foi o constante contato com a música que seu amor pela arte nasceu. Aos 11 anos, Edinho frequentou a escola Pio X, onde cursava violão erudito. “Como era muito rígido, fiz um ano e meio e parei”, recorda. Em seguida, a mãe o presenteou com o disco do Clube da Esquina e ele passou a gostar de MPB. Na adolescência, descobriu Jimi Hendrix e suas performances em que as guitarras pegavam fogo. “Foi nessa época que eu aprendi a tocar guitarra. Fiz cinco meses de aulas particulares e passei a aprender sozinho, apenas assistindo vídeos de guitarristas.” A música sempre esteve presente na vida de Edinho, já que seu tio Luis é luthier há 40 anos. “Sempre moramos no mesmo terreno que meu tio e eu o via construindo violões e violas e tocando modas”, comenta. “Ele me incentivou muito a seguir a carreira de músico, inclusive pagou o curso de violão que fiz.” Edinho é eclético, desde que a música seja boa. Ele cita alguns preferidos: Leonardo Graves, Jimi Hendrix, Pink Floyd, Milton Nascimento, Djavan, Novos Baianos, Mutantes.

Noah, o Nonô, baterista desde os dois anos.

“Prefiro música feita no Brasil porque acho que é a melhor do mundo.” Ele afirma que não vive de música, mas precisa dela para viver. “Um dia, pretendo conseguir sobreviver apenas tocando.” Ele participa das bandas Brasil in Conserto, com “S” mesmo, de MPB, e Corrosivo 420, de música experimental. Seu filho Nonô, de apenas três anos, faz parte da última banda. “Ele toca bateria”, fala sorrindo, enquanto o garoto demonstra sua habilidade com as baquetas. Assim como Edinho, Nonô sempre teve contato com música, pois acompanha os pais em shows e ganhou dos avós uma bateria de brinquedo de presente. “Quando quebrou, minha esposa, Michele, e eu demos uma de verdade para ele.” O músico opina que Jundiaí não é uma cidade muito justa com a classe musical. “Quem faz cover tem mais espaço do que quem faz música autoral. Essa situação é ruim; o mais difícil é encontrar pessoas dispostas a movimentar o mercado jundiaiense, que deveria receber mais apoio dos empresários (donos de bar).” No entanto, se não consegue espaços estruturados para receber suas bandas, Edinho afirma que simplesmente toca em praças e outros lugares públicos. A banda Corrosivo 420 é presença garantida na Casa 493 a cada 15 dias. Sobre Nonô, Edinho acredita que o garoto vá seguir carreira, uma vez que demonstra desde cedo gosto e interesse pela área. “Ele convive com tantos músicos e pessoas que gostam de música que acho que ele vai ser baterista mesmo”, complementa. Apê Zero 1. Mar/Abr 2015

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radar ape Uma assembleia pode ser ordinária e extraordinária ao mesmo tempo? Não. As assembleias ordinárias, legalmente, ocorrem apenas uma vez por ano e estão regulamentadas no artigo 1350 do Código Civil. Seu objetivo é a aprovação orçamentária do período anterior e aprovação da previsão orçamentária para o período seguinte, além da eleição do síndico e demais integrantes da administração. A assembleias extraordinárias referem-se aos demais assuntos que são tratados ao longo do ano e sempre que há necessidade de votar temas específicos ou rateios extras. Elas podem ocorrer quantas vezes forem necessárias para deliberar sobre assuntos de interesse dos condôminos.

Síndico que não recebe pela função, mas é isento de taxa condominial, é obrigado a contribuir para o INSS? Sim. É considerado como contribuinte o síndico eleito. O valor que deve ser recolhido é 20% do que seria a remuneração como síndico.

Inquilino pode ser eleito síndico? Sim, não há proibição legal quanto a isso. As assembleias podem eleger um síndico que não seja proprietário do imóvel para administrar o condomínio, desde que não exista cláusula na convenção que disponha que somente o condômino possa ser síndico, pois o conceito de condômino envolve propriedade; o inquilino tem a posse e uso do imóvel, mas não a propriedade.

Como proceder em caso de ter o carro arranhado ou batido na porta pelo meu vizinho de garagem? Caso exista a possibilidade de uma imagem de vídeo, é importante solicitá-la ao síndico para verificar o que aconteceu e provar o fato. Depois, explique a situação amigavelmente ao vizinho de garagem, a fim de não prejudicar o bom relacionamento entre condôminos e evitar problemas futuros. Colaboração: Carlos Eduardo Quadratti, advogado condominial 34

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Curiosidades da Terrinha

Capela de Santo Antonio Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz uem passa na esquina da avenida São João com a rua Santo Antônio, no tradicional bairro da Ponte São João, talvez nunca tenha reparado na Capela de Santo Antônio, uma pequena construção de 1892. Construída por Gaetano Murari, um imigrante italiano, a capela foi erguida em agradecimento ao santo que ajudou Sr. Gaetano a se estabelecer no Brasil. Quando saiu da Itália, Sr. Gaetano tinha esperança e fé de uma vida melhor. Ele prometeu que se conseguisse juntar dinheiro para comprar um terreno na cidade, antes de erguer a própria casa, construiria uma capela dedicada a Santo Antônio, que abdicou de uma vida próspera para ajudar os pobres. Sr. Gaetano conseguiu arrecadar certa quantia com a venda de hortaliças que plantava. Com bastante economia e dificuldade, antes mesmo de construir a capela, fez um oratório com caixotes de cebola e, nele, colocou a imagem de Santo Antônio.

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Dona Cida Murari, mantenedora atual da capela.

A partir daqui, grande parte da história foi perdida com o tempo, devido à falta de registros e tradição de passar informações oralmente. Infelizmente, quem conheceu Sr. Gaetano levou consigo a bela história de devoção. Sabe-se que ele e Dona Dona Anita tiveram alguns filhos. Dois deles, Silvestre e Eliseu, tornaram-se padres. O primeiro, inclusive, foi camareiro de um Papa. Até hoje, no dia 13 de cada mês e, principalmente, em 13 de junho (dia do santo), a capela

recebe fieis para rezar o terço. A grande maioria tem que ficar na rua, já que a capela tem menos de 10 m2. O grupo de oração também distribui pães de Santo Antônio benzidos, já que o costume é colocá-los próximos a algum mantimento para que nunca falte comida em casa. Atualmente, quem cuida da capela é Dona Cida, viúva de Ênio Murari, neto de Sr. Gaetano e filho de Augusto, irmão dos padres. Outra pessoa que contribui com a manutenção é um vizinho de Dona Cida, Pedro. Foi ele quem com-

prou diversas esculturas de santos e anjos (Nossa Senhora do Sagrado Coração, Nossa Senhora Aparecida, arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, entre outros) e os colocou na capela, junto com a figura do Menino Jesus em pé, peça difícil de se encontrar, segundo a mantenedora. A Capela de Santo Antônio é um exemplo de construção significativa para a cidade, rica em história, mas com pouca documentação. Por isso, precisa de pessoas dispostas a preservá-la, já que seus herdeiros não moram em Jundiaí. Apê Zero 1. Mar/Abr 2015

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turismo

The Temple Bar, um pub de 175 anos na Ilha Esmeralda Reportagem: Renata Susigan Fotos: Divulgação uem visita Dublin precisa conhecer The Temple Bar, parada obrigatória de turistas que desejam ter contato com a cultura irlandesa dos pubs e das pints - unidade de medida equivalente a 500 ml. Como bar, o local funciona desde 1840, mas a história de sua construção remonta ao século XVII. O analista de sistemas, Raphael Gavino, esteve por lá recentemente, em novembro de 2014, com a namorada Camila Godoy. No país para fazer intercâmbio, aperfeiçoar o idioma inglês e conhecer o “velho mundo”, Gavino comenta que a sensação de estar em um local centenário, com 175 anos, foi “épica”. “Mesmo após as guerras mundiais, revoluções e crises econômicas, o prédio não foi destruído”, afirma. “Várias pessoas passaram por lá, cada uma com sua história e objetivos.” Gavino explica que ter passado pouco mais de um mês na Irlanda foi uma experiência encantadora, pois, dentre os países que ele pesquisou com a namorada, foi a ilha que mais chamou atenção pela quantidade de belezas naturais, castelos, museus e cultura em geral. Como fizeram o curso de inglês na capital, procuraram pontos turísticos na cidade, como o bar, mas também receberam recomendação de amigos. “Dentro do pub há fotos e enfeites antigos nas paredes; o que chamou nossa atenção foi a quantidade de estampas de moto-clubes, países e grupos que deixaram sua recordação pendurada.” O casal esteve no centenário bar em novembro, então, o local já estava todo decorado com tema natalino. Eles consumiram apenas a famosa e tradicional cerveja irlandesa Guinness. “Por sinal, é ótima!” No entanto, o pub também tem uma coleção de 450 garrafas de whiskey, cervejas artesanais irlandesas e do Reino Unido, Irlanda do Norte e Estados Unidos. Para quem quer saborear um prato tradicional, o The Temple Bar é famoso pelas ostras frescas, mas há opções com peixes, carnes ver-

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The Temple Bar decorado para a chegada do Natal.


melhas, lanches e o black pudding (parecido com o chouriço dos brasileiros). Outra especialidade é o Irish Coffee, uma bebida quente feita com café forte, açúcar mascavo, creme e um toque de whiskey. Gavino informa que por ter um pouco de todas as tradições da Irlanda, o bar recebe muitos turistas. Além da decoração, bebidas e comidas, o pub tem uma programação de bandas locais que tocam música tipicamente irlandesa. “No decorrer da viagem até aprendemos a cantar algumas, pois em todos os restaurantes e pubs da cidade tocavam as mesmas canções”, lembra. “No dia em que fomos ao Temple, tinha uma banda ao vivo, porém, não é sempre que tem alguém no palco; às vezes, é música ambiente mesmo, mas sempre no mesmo ritmo.” O preço de estar em um lugar centenário e consumir um produto tão tradicional quanto uma Guinness estava dentro do esperado para o rapaz. “Fazendo a conversão para real, fica caro, porque pagamos cerca de 15 reais em cada pint”, recorda. “Mas claro que compensa, tanto pela ótima cerveja, quanto pela experiência de estar lá. Vale a pena conferir.” O rapaz ainda conta que durante os 35 dias de viagem, ele e Camila ficaram hospedados no albergue Jacobs Inn, que fica a um quarteirão de distância da rodoviária e de uma das estações do Luas (sistema de transporte parecido com o metrô). “Conhecemos parques, museus, castelos, restaurantes, bares, bibliotecas, o presídio histórico de Dublin, zoológico, estádio de futebol, diversas igrejas e catedrais, inclusive a St. Patrick’s Cathedral, inaugurada em 1191”, descreve.

Músicos irlandeses (acima). Rafael Gavino e Camila Godoy passeiam pela Irlanda.

A viagem cultural e histórica fez com que aprendessem mais sobre a Revolução Irlandesa, a divisão da Ilha Esmeralda (como o país é conhecido) em República da Irlanda e Irlanda do

Norte, a influência do Reino Unido e muito mais. “Com certeza, um dia pretendemos voltar para conhecer o resto dos condados que não conseguimos visitar.”

História O pub fica no pequeno bairro turístico Temple Bar, um dos mais antigos de Dublin. Foi ao redor deste lugar que a cidade foi construída. Os primeiros residentes desta região foram os vikings, daí a sua influência na história e cultura locais, incluindo o planejamento urbano e arquitetura. O The Temple Bar foi fundado em 1840, funciona todos os dias da semana e oferece, pelo menos, três sessões diárias de música. É o lugar perfeito para quem deseja conhecer a comida, bebida, decoração, costumes e música irlandeses. O bar possui um espaço chamado Beer Garden, ou o jardim da cerveja, um lugar aberto, destinado aos fumantes. The Temple Bar foi escolhido como o Irish Music Pub of the Year (pub de música irlandesa do ano), ente 2002 e 2013. O estabelecimento serve café da manhã, almoço e jantar, mas também é o lugar ideal para quem quer apenas tomar um café ou fazer um happy hour com os amigos. Para saber mais, visite: www.thetemplebarpub.com

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3° Setor

Independencia e poder de escolha para viver bem Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz ncentivar a independência e individualidade, ensinar respeito e lembrar que as pessoas podem escolher a vida que querem ter são os principais objetivos da Casa de Nazaré, entidade jundiaiense de 13 anos que acolhe crianças e adolescentes que aguardam adoção. Segundo a coordenadora da Casa, Maria Aparecida da Silva, o acolhimento ocorre como família: as crianças e os adolescentes dividem residências com poucas pessoas e vivem, na medida do possível, normalmente, como se estivessem em suas casas. Maria Aparecida explica que os motivos que levam a Justiça a encaminhar as crianças e os adolescentes para a entidade são variados, mas a maioria está relacionada à adição às drogas. “Nesses anos em que trabalho aqui, nunca vi pais que não amassem seus filhos, mas a situação em que a família vive pode ser muito doentia”, afirma. “Não há políticas públicas o suficiente de prevenção e combate às drogas; muitos pais têm recaídas e, quando conseguem se recuperar, há poucas oportunidades de trabalho. A sociedade atual, dentro da sua estrutura, tem seus medos.” Em Jundiaí, o acolhimento ocorre apenas como último recurso, quando todas as outras possibilidades já foram esgotadas. “Antes de medidas efetivas serem tomadas, as famílias socialmente vulneráveis recebem suporte dos centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)”, informa. Além disso, existe a possibilidade de as crianças e adolescentes terem uma família extensa, formada por parentes com quem convivem e mantêm vínculos ou, ainda, podem receber auxílio dos padrinhos. “O Poder Judiciário e Conselho Tutelar oferecem orientação para que os pais consigam se reestruturar, então, quando alguém vem para cá é porque a família realmente não tem condições de cuidar e todas as outras alternativas se mostraram inviáveis.”

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Maria Aparecida, coordenadora da Casa de Nazaré: “Desde pequenos ensinamos a serem independentes, terem perspectiva, para que saibam que só depende deles ter uma vida saudável e digna, mesmo que já tenham passado por situações difíceis.”



No entanto, se a família consegue se reorganizar a ponto de receber a criança ou o adolescente novamente em um ambiente “sadio”, há um tempo de observação, acompanhamento e readaptação à família. Caso contrário, a criança passa a ser adotada. “O problema é que, conforme o tempo passa durante todo o processo antes do acolhimento pela Casa, as crianças crescem e a partir de certa idade (sete anos aproximadamente) e do número de irmãos, a dificuldade de conseguirem uma família só aumenta”, conta. “A fila de espera para um casal que quer adotar é longa, pois as pessoas geralmente preferem bebês, que são poucos, ao contrário de crianças maiores e adolescentes.” Fundação Em 2002, o grupo de oração frequentado por jovens da Catedral Nossa Senhora do Desterro sentiu necessidade de realizar um trabalho social, já que na época, segundo Maria, ainda não havia tantas ações voltadas para jovens socialmente vulneráveis na cidade. “No começo, a entidade ficava em uma chácara no bairro Roseira, onde um casal de missionários se apresentou para acolher as primeiras 10 crianças”, lembra Maria. No ano seguinte, a entidade mudou de endereço, foi instalada no bairro Água Doce e, depois, no Jardim Messina, quando o número de acolhidos já havia aumentado para 22. “Desde 2008 estamos nesta chácara, no bairro do Poste, porém, hoje as crianças e adolescentes não são mais acolhidos por missionários, mas por cuidadores profissionais.” Ela explica que a mudança ocorreu devido às alterações na legislação, que passou a exigir a profissionalização do serviço antes realizado por pessoas que dedicavam suas vidas a outras. A missão da Casa de Nazaré é proporcionar a oportunidade para crianças e adolescentes se desenvolverem naturalmente, como se não estivessem institucionalizados, mas em suas próprias residências, onde têm individualidade e privacidade preservadas. O atual terreno da Casa possui 20 mil metros quadrados, seis casas, área de atividades coberta, salas administrativas e uma ampla área verde. Em cada residência há dois quartos com banheiro, sala de estar, copa, cozinha e sala de brinquedo e estudo. “Por trabalharmos a inde42

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Instituição aceita todo tipo de doação.

pendência e individualidade, cada criança tem seu armário, brinquedos, roupas, pertences”, enumera. “Aqui, vivem como se estivessem em casa e, a depender da idade, ajudam a lavar a louça, arrumam a cama, guardam a bagunça. Apesar de serem assistidos por um cuidador durante 24 horas por dia, o ambiente que criamos para elas é de um lar.” Hoje, as 36 crianças e adolescentes moradores da Casa de Nazaré têm entre 15 dias e 17 anos. A partir dos dois anos, elas estudam durante meio período; quando completam sete, têm horário para brincar e frequentam a Pastoral do Menor no contraturno escolar, onde fazem aulas de música, artesanato, reforço das matérias e esportes. Os adolescentes de 14 anos ou mais fazem cursos livres e profissionalizantes para poderem competir no mercado de trabalho. “Eles cursam informática, inglês, espanhol e, os que têm a idade certa, trabalham”, comenta. Quando completam 18 anos, os jovens têm que deixar o local. Aqueles que encontram parentes ou amigos que possam acolhê-los, vão morar com essas pessoas. Se não têm ninguém para dar apoio, a própria entidade ajuda-os a pesquisar uma casa para alugar. Se possível, os ex-assistidos pela Casa moram juntos, dividem o aluguel e as despesas. “Por isso, desde pequenos ensinamos a serem independentes, terem perspectiva, para que saibam que só depende deles ter uma vida saudável e digna, mesmo que

já tenham passado por situações difíceis”, opina. “A maioria dos que completaram a idade limite continua nos visitando, são donos de sua própria história e responsáveis pelos seus atos.” Manutenção A Casa possui um convênio com a Prefeitura de Jundiaí, que subsidia 70% das despesas mensais. Para conseguir o restante, a entidade depende de doações de pessoas físicas e jurídicas. Ao todo, são 32 funcionários contratados; os recursos e doações também são usados para manter o terreno, dois veículos – já que a chácara fica em um bairro afastado do Centro -, caseiro e lazer. Os voluntários (uma psicóloga atuante, dentistas e cabeleireiros) somam 20 pessoas. A Casa de Nazaré aceita todo tipo de contribuição, como alimentos, materiais de limpeza e higiene, roupas, calçados, material escolar. Por determinação da Lei, as crianças e adolescentes acolhidos não podem receber visitas, pois têm direito à privacidade. Para ajudar: casadenazarejd@gmail.com 11 4581-7833 / 4581-9095 Banco Bradesco: Agência: 2830 Conta corrente: 0006799-7


pets

Chico, o bichano que cansou de ser gato Reportagem: Renata Susigan Fotos: Cansei de ser gato e você gosta de animais e acessa, pelo menos, uma vez ao dia o Facebook, com certeza já viu ou ouviu falar do gatinho Chico, aquele que cansou de ser gato e decidiu assumir uma personalidade diferente por dia, já que tem sete vidas. Ele é casado com Madalena, a esposa que lida com a crise existencial do bichano, e, juntos, têm dois filhos adotivos: o Sebastião e a Terezinha. As guardiãs do Chico, Stéfany Guimarães e Amanda Nori, adotaram-no há dois anos. “Ele foi encontrado por amigos num sítio no interior de São Paulo em setembro de 2012”, lembra Stéfany. “Já tínhamos a Madalena e achávamos que ela precisava de companhia. No mesmo dia em que a Amanda postou no Facebook que procurávamos um novo integrante para a família, uma amiga falou que tinha encontrado um gatinho abandonado.” Bastou que enviassem uma foto dele e o amor foi à primeira vista. A crise de identidade de Chico começou no dia 22 de julho de 2013 como uma brincadeira que se tornou compromisso quando as guardiãs perceberam que, logo no primeiro mês, a página “Cansei de ser gato” tinha atingido 50 mil seguidores, que esperavam ansiosos para ver o que o Chico se tornaria no dia seguinte. “Em pouco tempo, lançamos o livro, fundamos a loja [que vende produtos da marca] e ele virou o gato propaganda de grandes marcas”, conta. Já que a brincadeira ficou séria e Chico conquistou milhares de fãs em pouco tempo, Stéfany e Amanda, atentas à causa animal, decidiram unir o apelo do simpático gato a entidades que cuidam de animais abandonados. “Atualmente, temos um projeto com a Hopet, uma associação que ajuda diversas ONGs que cuidam de animais”, explica. “Este ano, ajudaremos com a campanha de castração. Todo o valor obtido com a venda das canecas do

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Chico será revertido para a Hopet, atuante em São Paulo e Grande ABC.” Stéfany afirma que o fato de os quatro gatos terem sido adotados comove as pessoas. Elas recebem retorno de seguidores que revelam que antes de conhecer o Chico não gostavam de felinos, mas depois de verem a página e saberem da adoção, passaram a gostar, adotaram animais de rua e até deram o nome a eles de Chico. “A página ajuda a desmistificar aquela história de que gato é traiçoeiro, não gosta do dono, é arisco”, fala. “Quem pensa dessa maneira é porque nunca teve um. Ver o nosso pet com roupa, cabelo e bigode ajuda a provar que bichanos são ótimos companheiros e a acabar com o preconceito contra eles.” Stéfany afirma que ela e Amanda nunca imaginaram que a brincadeira pudesse ficar tão famosa. “Sabíamos que ele era muito fotogênico, lindo e carismático, mas não imaginávamos que tanta gente pudesse achar a mesma coisa.” Hoje, o Chico é tão famoso que tem 386 mil seguidores no Facebook e 80 mil no Instagram. Desde o começo da crise, o gato interage com seus fãs, “responde” comentários e “conversa” com os internautas. “Temos alguns seguidores tão assíduos que conhecemos pelo nome e sentimos falta quando eles não comentam as fotos.” O Chico tem o poder de cativar pessoas de todas as idades. No lançamento do primeiro livro, Stéfany e Amanda puderam ter contato real com o público, e perceberam que este varia de bebês a idosos com 80 anos. “Isso nos deixou super felizes!” Em família As guardiãs de Chico já tiveram cachorros, gatos e papagaios durante a infância e adolescência. Quando o gato foi adotado, com dois meses de idade, Madalena tinha seis. “Ele chegou todo machucadinho, com pulgas, vermes”, recorda. “Como os dois eram filhotes, a adaptação foi tranquila; logo se gostaram e demonstravam isso se lambendo.” Stéfany conta que as dificuldades de adaptação foram mais sentidas por ela e Amanda, pois elas se preocupavam com o bem-estar do Chico. Para isso, precisaram aprender a tratar o problema que ele tinha com vermes, dar vacinas, remédios. “Essas eram preocupações que nunca tínhamos tido antes, mas logo 44

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Chico vezes três: lendo seu livro, ensaiando para dormir e na festa da Madá, a esposa, devorando o bolo. percebemos que a barriguinha de verme tinha sarado e que ele já estava cultivando uma gordurinha no lugar”, brinca. A gata Madalena é a dona da casa. Depois que ela e Chico estavam “juntos” há mais de um ano, Stéfany e Amanda decidiram adotar mais um pet. “Quando fomos à protetora procurar um filhote, nos mostraram a Terezinha e, na sequência, o irmão dela, o Sebastião”, explica. “Não pensamos duas vezes e adotamos os dois irmãozinhos.” Na época, eles eram tão pequenos, com apenas um mês, que as

guardiãs precisaram ensiná-los a comer e usar a caixa de areia. “Madalena e Chico não gostaram nada da história de ter mais dois gatos na casa; eles ficaram duas semanas sem interagir com a gente, mas agora não conseguem se imaginar sem os filhotes. O Chico e a Terezinha não se desgrudam.” A família felina é criada dentro do apartamento de Stéfany e todas as janelas são teladas para que eles não saiam. “Tem gente muito louca e maldosa por aí, então, não podemos descuidar”, avisa.


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Fotos Produtos: Divulgação

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Vida de astro Em cada imagem, Chico mostra que é um gato calmo, pois veste as roupas, acessórios e fica parado enquanto a foto é tirada. Stéfany explica que não há uma técnica que ela e Amanda usam para chamar a atenção dele e fazê-lo olhar para a câmera. “Depois de dois anos de página, não é qualquer objeto diferente que o faz olhar para frente”, afirma. “A melhor tática continua sendo o bom e velho carinho no queixo que ele adora.” Apesar de ser um bichano tranquilo, Chico tem suas preferências e é tratado com a pompa que todo astro merece. Sua comida preferida é atum; a brincadeira, rolar no chão com a filha Terezinha; e como todo felino, odeia banho. Suas roupas são feitas por uma estilista própria. “Algumas, nós mesmas fazemos, mas as mais elaboradas são costuradas pela mãe da Amanda, a Cátia, como a de chefe de cozinha.” Stéfany revela que nunca é fácil decidir o que o Chico será a cada dia e que os seguidores contribuem, enviando sugestões. “Seguimos um calendário comemorativo e acompanhamos os assuntos mais comentados na internet para que o Chico esteja sempre dentro das tendências.” As personalidades do gato que mais fazem sucesso são as que têm relação com os assuntos atuais, como quando ele apareceu com o controverso vestido que algumas pessoas enxergavam azul e preto enquanto outras viam branco e dourado. Outros sucessos entre os fãs foram as fantasias de Pequeno Príncipe, Bob Marley e Ayrton Senna.

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Multiplicadores Mulheres Empreendedoras Cín

tia

Empreendedorismo consciente, criativo e colaborativo Vân ia

Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz

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Raio-X As jundiaienses Cíntia Carvalho, jornalista e fotógrafa, e Vânia Feitosa, produtora executiva, são as fundadoras da rede Mulheres Empreendedoras de Jundiaí. Quando as duas tornaram-se amigas,

passaram

a

desenvolver

projetos culturais na cidade. Quando Cíntia engravidou, quis sair de sua zona de conforto: ela decidiu investir sua carreira na área que gosta – fotografia – e, para isso, precisou aprender toda a burocracia que o empreendedorismo traz. Cíntia e Vânia juntaram, então, a solução para uma deficiência que perceberam em Jundiaí – a falta de apoio aos empreendedores - com a vontade de serem donas do próprio

maior objetivo da rede é trabalhar o conceito de autonomia profissional, financeira e emocional junto às integrantes. O grupo está em fase de desenvolvimento, pois ainda não conta um ano de fundação, mas busca apoiar mulheres que querem ter o próprio negócio e que não sabem por onde começar. A rede também oferece suporte para as que já são empreendedoras, mas não têm experiência com a área administrativa que existe em qualquer empreendimento. O grupo discute questões relacionadas à mulher no mercado de trabalho e as dificuldades e soluções para determinadas situações que elas enfrentam, além de incentivar os conceitos de economia criativa e consumo consciente. Quando a rede foi fundada e como ela funciona? Cíntia: Em maio de 2014, começamos a organizar os primeiros encontros entre as participantes da rede para planejarmos nossas ações e definirmos, inclusive por meio de demandas delas mesmas, como a rede atuaria. Desde então, uma vez por mês, pelo menos, nos encontramos para realizar uma atividade relacionada à área de negócios, como workshops sobre vendas e finanças. Desta maneira, contribuímos com a mulher que já é e com a que quer se tornar empreendedora, mas não sabe como começar, as diretrizes que deve seguir administrativamente. Temos também oficinas em que voluntárias ensinam gratuitamente determinada técnica, como costura ou artesanato.

negócio. Quem faz parte da rede? Cíntia: Atualmente, são 15 mulheres que 46

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participam ativamente. A maioria é formada por artesãs, que são grandes incentivadoras da economia criativa e do consumo consciente, mas temos também artistas, produtoras culturais, fotógrafas, contadoras. Temos duas apoiadoras do projeto que estão desde o início nos ajudando a colocá-lo em prática: a Amanda Moreno, artesã, e Gilsa Silva, assistente social. Nosso grupo é bem eclético, pois assim conseguimos trocar experiências e aprender umas com as outras. Quais eventos vocês promovem e qual o objetivo deles? Vânia: Em novembro de 2014, realizamos a “1ª Feira Ecocriativa” e a próxima será em abril deste ano. Essa feira foi focada na sustentabilidade e na economia criativa. Algumas pessoas levaram seus artesanatos, outras montaram um brechó e trocaram ou venderam e compraram produtos. Foi uma forma de integrarmos as participantes. Pretendemos criar um cineclube e passar filmes e documentários que tenham relação com o universo feminino e com o trabalho das mulheres, como o “Vidas Cruzadas”. Este filme mostra como as empregadas domésticas e babás negras dos Estados Unidos dos anos 1960 viviam e como elas conseguiram mudar suas perspectivas. Após cada exibição, iremos discutir o tema e trazê-lo para nossa realidade. Como vocês perceberam a necessidade de criar uma rede como esta? Cíntia: Detectamos por meio das necessidades de amigas que também deixaram seus empregos porque queriam investir em suas ideias que não estavam ligadas aos empregos



Multiplicadores Mulheres Empreendedoras comuns registrados em carteira. Primeiro, estamos abrindo espaço para que as integrantes compartilhem experiências e conhecimentos técnicos. Depois, queremos organizar nosso grupo para apresentá-lo formalmente, conseguir apoio e nos aproximarmos de outras iniciativas como a nossa. Quais as dificuldades pelas quais vocês passam? Vânia: A principal é financeira, tanto para fazer as ações da rede quanto no que diz respeito às profissionais que estão começando. Algumas artesãs têm dificuldade em dar início aos seus projetos, pois na cidade já existem as feiras livres e o programa “Jundiaí feito à mão”. Para a pessoa que está começando a empreender é difícil se enquadrar nos requisitos. Você precisa se adaptar à estrutura e normas já existentes, como ter barraca, capital inicial, uniformes. Vocês têm atuação política? Cíntia: Nossa causa é a promoção da cultura e a abertura de espaço para mulheres que estão começando a empreender; a economia criativa; e o consumo consciente. Então, consideramos que nossa atuação seja política, sim, porém, não partidária. Não temos apoio nem do poder público nem da iniciativa privada. Vocês têm algum caso de sucesso de uma integrante que queiram comentar? Cíntia: Temos o exemplo da oficina sobre administração de redes sociais. Todas melhoraram a atuação de seus empreendimentos nas redes depois que aprenderam dicas importantes na rede. Recebemos mulheres de Santos, São Paulo e outras cidades que ficaram sabendo da oficina e vieram participar. Vânia: Além de parceiras e integrantes de uma rede de empreendedorismo, somos amigas, nos ajudamos, nos apoiamos porque, às vezes, as dificuldades nos fazem querer desistir. No entanto, quando uma está passando por uma fase mais difícil, as outras se reúnem para ajudá-la, aconselhá -la, consolá-la. Todas nós temos passado por transformações positivas. 48

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Qual a função da mulher na sociedade atual? Cíntia: Podemos ser tudo! O fato de sermos mães, filhas, irmãs, amigas, profissionais e esposas nos dá condições de lidarmos com várias tarefas ao mesmo tempo e desempenharmos papeis diferentes em cada uma. Podemos ensinar às pessoas sobre como administrar tudo com eficiência. Na sua opinião, o que falta para a mulher conquistar um espaço equivalente ao dos homens na sociedade? Cíntia: A forma como nossa sociedade se comporta ainda é muito primitiva. Eu tenho minha empresa, meu marido tem a dele. Ele me ajuda, mas sou eu que cuido do nosso filho, da casa, da administração das contas. Ainda existe uma desigualdade enorme entre os gêneros. Muita gente não entende a mulher que deixa o filho com o marido para ir a uma reunião, por exemplo. É uma questão de educação: para que o homem me respeite, eu preciso me respeitar, mas a tradição tem que mudar. O peso da responsabilidade maior está na cabeça das mulheres, sim, mas na dos homens também. Vânia: Falta muito ainda para conquistarmos nosso espaço. A evolução da nossa sociedade é lenta. Em uma família, por exemplo, as filhas têm um tratamento diferente dos filhos. Elas têm mais responsabilidades, têm que ajudar na casa e eles não. É preciso que as pessoas sejam educadas para tratarem as mulheres com igualdade. Somos mais competitivas, concentradas, temos competência, mas os homens ainda têm o salário maior. Eu cresci em um ambiente pobre, então, precisei me tornar empreendedora cedo. Sou empreendedora desde criança. Minhas amigas passaram a ter as mesmas necessidades que eu, sentíamos falta do ambiente colaborativo. Então, ‘como podemos nos ajudar’ é a primeira pergunta que devemos fazer. Para entrar em contato com a rede, basta acessar a fan page do grupo no Facebook: Mulheres Empreendedoras Jundiaí.


utilidade

restaurante

fotografia

academia

classificados

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cronica

FANTASMAS NO PReDIO

Divu lgaç ão

Tudo começou naquele fatídico dia 13 de agosto do ano passado. O vigia da noite, viu sem sombra de dúvida, um vulto preto na escada de emergência, entre o sétimo e o oitavo andares do prédio. Não era uma coisa pequena, pelo contrário, corria com uma desenvoltura de quem conhecia muito bem o lugar e sabia que o vigia fazia sua ronda. A princípio, acharam que era o gato preto da Dona Adélia do sexto andar que tinha saído para dar uma de suas voltas durante a madrugada, mas pelo relato do vigia, devido ao tamanho, logo foi descartado. Não seria um morador que subia pela escada de emergência e o vigia viu somente sua sombra? Não! O vigia continuava afirmando que se tratava de uma assombração e já havia pedido para a empresa mudar seu posto, já que não queria dar de cara com uma alma penada. O conselho de administração do prédio se reuniu para tomar uma medida, afinal o boato estava se espalhando e algumas domésticas já não queriam mais trabalhar no “prédio assombrado”. Foi então que o conselho resolveu, secretamente, colocar um vaso de flores na escada de emergência entre o sétimo e oitavo andares, sem que o fantasma soubesse e nem mesmo o fiscal do corpo de bombeiro, já que qualquer objeto na escada de emergência é proibido. Neste vaso, foi colocada uma câmera que passou a vigiar qualquer movimento entre os andares, até que naquela sextafeira... tudo foi solucionado! O dançarino morador do nono andar tinha um caso secreto com o do sexto andar e seu fetiche era namorar de camisola preta! E, para ninguém saber, usava a escada de emergência. Descoberto o falso fantasma, o dançarino foi convocado para uma reunião e acabou o problema. Ao invés de uma camisola preta, foi dado-lhe um hobby cor de rosa. Desta forma, não mais assustaria o vigia e acabaria com os problemas sobrenaturais no condomínio!

Rafael Godoy

José Miguel Simão Advogado e cronista

Na internet Leia outras crônicas do Dr. Simão Procure pela palavra “crônica” no site: www.apezero1.com.br




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