A notícia por quem vive 8ª edição

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Cidade de Deus

Maio 2014

Ano III

Edição nº 8

Cidade do Bem

A Cidade de Deus continua instigando os cineastas, desta vez três estrangeiros fizeram tomadas de imagens na comunidade e em breve lançarão o filme "City ofgood". Confira nas páginas 6, 7 e 8.

Parece que teremos a tão sonhada escola de 2° grau, uma das reivindicações mais antigas da CDD. Mas as portas ainda estão fechadas. Veja na página 9.

E mais...

Insituto Rio e um investimento em rede para a Zona Oeste Mulheres em ação Ser mulher vai além de ser vaidosa O Lixo X Cidadania Farmanguinhos e o desenvolvimento comunitário A violência no Brasil Dependência química com crianças e jovens e por quê Ponto de Cultura Circuito Itinerante Conhecendo um pouco mais o Instituto Presbiteriano Álvaro Reis Poesias

A comunidade tem se reunido para elaborar o Plano de Desenvolvimento Local, se informe na página 14, e participe.

página 3 páginas 4-5 página 5 página 10 página 11 página 8 página 12 página 13 página 15 página 16

Nosso jornal faz parte do Portal da Cidade de Deus. Acesse www.cidadededeus.org.br


Editorial

por Valéria Barbosa

A Cidade de Deus tem um povo batalhador. Há valor imensurável em nossa comunidade, que é o seu povo. Vamos conferir nesta edição que as mulheres tiveram destaque profissional se capacitando como costureiras e/ou exercendo a atividades de pedreiras e pintoras com louvor, deem uma passadinha na ASVI da Rua Israel para comprovar o capricho. Também saberemos mais sobre o Instituto Rio e uma rede de projetos, como o Juventude sem Amarras, onde os jovens estão conhecendo vários conteúdos e ao final do projeto deverão fazer um seminário para outros jovens. E não para por aí, a Cidade de Deus continua instigando os cineastas, desta vez três estrangeiros fizeram tomadas de imagens na comunidade e em breve lançarão o filme Cidade do Bem, merecemos né? Vamos conferir? Parece que teremos a tão sonhada escola de 2° grau, as obras do Colégio Pedro Aleixo estão a todo vapor, quando será a inauguração? Já deram uma olhada no entorno? Lixo por todos os lados. Como estamos tratando do lixo que produzimos? Vocês conhecem a Farmanguinhos? Sabem o que acontece por lá? Vale conferir a matéria. A comunidade tem se reunido para elaborar o Plano de Desenvolvimento Local, se informe e participe. A dependência química é um tema preocupante e que vale a nossa atenção, leia e confira. Queremos parabenizar o INPAR – há mais de cem anos oferecendo vários atendimentos para crianças e famílias. Temos poesia de mestre, Obassy, compositora, atriz fundadora do grupo Raiz da Liberdade, poetisa, cantora, merendeira da Cidade de Deus e, há alguns anos, uma estrela a mais no céu.

Expediente Maio 2014 Fundadores: Ariana Apolinário, Celso Alexandre Alvear, Cilene Vieira, Dara Bandeira, Dayse Vieira, Felipe Brum, Joana da Conceição Campos, João Carlos Souza, José Alberto, Julcinara Vilela, Landerson Soares, Leila Martiniano, Maria Angélica Ponciano, Marília Gonçalves, Mônica Rocha, Rita de Cássia, Rosalina Brito, Valéria Barbosa da Silva Membros do jornal: Cilene Vieira, Dayse Vieira, Julcinara Vilela, Felipe Brum, Rosalina Brito, Maria Angélica Ponciano, Maria do Socorro Melo Brandão, Valéria Barbosa. 2

Colaboradores desta edição: Juliana Mattar, Magali Chuquer, Jacob Portela, Luiza Beal e Liliane Lo Bianco Revisão de textos: Camille Perissé, Isis Reis e Renata Melo. Agradecimentos: Aos diagramadores voluntários de cada edição do jornal: Camille Perissé, Isis Reis, Diana Helene, Alan Tygel e César Campos. Apoio: CDD, SOLTEC/UFRJ, Farmanguinhos/Fiocruz e ASVI. Este jornal foi diagramado utilizando somente programas de computador livres: Scribus, Gimp, LibreOffice.


Insituto Rio e um investimento em rede para a Zona Oeste

por Maria do Socorro Melo Brandão

“O Instituto Rio é uma fundação lugar no Prêmio Geraldo Jordão, comunitária criada no ano 2000 que foi lançado pelo Instituto Rio com o objetivo de apoiar e beneficiando projetos que estavam fortalecer iniciativas que promo- alcançando excelentes resultados na vam o desenvolvimento social da sua execução. Em 2014, o Instituto Rio inovou Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Constituído como OSCIP para acolher mais instituições da (Organização Social de Interesse zona Oeste em uma grande rede Público), o Instituto Rio trabalha lançando a Universidade Comucom foco no empoderamento das nitária: comunidades locais, na mobilização e articulação de diversos atores estratégicos presentes no território, na articulação de parcerias e redes colaborativas e na qualificação da atuação de lideranças, organizações sociais e coletivos de base comunitária. Entre os anos de 2003 e 2012 o Instituto Rio apoiou 200 projetos de 70 organizações” (ver mais no site

www.institutorio.org.br). A Associação Semente da Vida foi apoiada pelo Instituto Rio com pequenos projetos e, a partir de 2012, os editais passaram a apoiar projetos com duração de 1 ano. Em 2012 recebemos apoio pelo projeto Jovens Comunicadores da Semente, que foi renovado em 2013, sendo que em Outubro ganhamos o 2°

Atividade com Marcio Gomes, na ASVI

“A Universidade Comunitária da Zona Oeste tem a finalidade de promover a construção de um espaço público – aberto e democrático – de acesso e produção de conhecimentos orientados para dinamizar o processo de desenvolvimento da Zona Oeste do Rio de Janeiro. É um espaço de formação, diálogo, articulação, promoção e apoio às iniciativas de organizações e coletivos socioculturais presentes no território que sejam capazes de valorizar as vocações das comunidades locais (e os públicos beneficiários) e fomentar o intercâmbio, a troca de experiências e a criação de parcerias com diversos atores pertencentes aos setores público da sociedade civil e da iniciativa privada.

Através da promoção de atividades de formação - oficinas, seminários, conferências, capacitações e debates de caráter permanente oferecidas pela rede de instituições apoiadas pelo Instituto Rio e pelas organizações parceiras, a Universidade Comunitária trabalha com as seguintes linhas estratégicas: Ações afirmativas: raça, gênero e protagonismo jovem; Economia criativa e solidária; Movimento cultural; Geração de trabalho e renda; Tecnologias sociais; Direitos humanos, justiça social e cidadania; Comunicação afirmativa e comunitária; Educação afirmativa; Desenvolvimento socioambiental. ”

(site www.institutorio.org.br) AASVI CDD está fazendo parte dessa inovação, apresentando o Projeto Jovens sem Amarras. Já estamos trabalhando há algum tempo com jovens da comunidade, mas sentíamos falta de incentivar mais o desenvolvimento de uma consciência crítica. Então, através do projeto, que está trabalhando questões sobre raça, gênero e protagonismo juvenil, buscamos incentivar o jovem da Cidade de Deus para que aprenda a se tornar um protagonista de sua história. No final de 2014, esses jovens irão, junto com os educadores que estão acompanhando o trabalho, Mirian Andrade, Márcio Gomes, Valéria Barbosa e Magnólia Régis, realizar um seminário voltado para a juventude a fim de buscar uma integração com outros jovens da zona oeste. Queremos também contar com a colaboração de todas as instituições e moradores da comunidade, para que possamos criar novas propostas para mais jovens através desse grupo que está sendo capacitado. 3


Mulheres em Ação por Julcinara Vilela

Lúcia e Maria de Lourdes

Todos nós sabemos da força da mulher em diversos aspectos da vida, seja na família, vida social ou trabalho, mas existem muitos preconceitos ainda que dizem que a mulher tem que ficar na cozinha. Na comunidade da Cidade de Deus descobrimos duas mulheres: Lúcia Helena, mora há 45 anos na comunidade e Maria de Lourdes, mora há 25 anos, que fazem a diferença. Elas tem se destacado por apresentar o seu trabalho de excelente qualidade deixando muitas pessoas “desconfiadas” de que foi realizado por mulher. Elas optaram em trabalhar na construção civil e assim nos contam as suas histórias: “Vi um anuncio de uma ação global que iria acontecer, e lá o projeto ''Mão na Massa'' estaria fazendo inscrições. Convidei a Lourdes para ir comigo, onde nos escrevemos e fomos chamadas para o curso de capacitação voltado para mulheres. Antes, Lourdes trabalhava como gerente em uma lanchonete por 12 anos e em outros serviços na área de alimentação. E eu trabalhei em 4

alguns projetos aqui na comunidade, entre eles o ''Jovem Total; recepcionista; vendedora e em área de produção''. – Lúcia nos conta como foi o início de tudo. No Projeto ''Mão na Massa'' tiveram a parte teórica e posteriormente a parte prática com o curso do Senai. Tiveram a oportunidade de trabalhar Pac (no Complexo do Alemão), onde foram selecionadas 20 mulheres e entre essas estavam as duas. E Lúcia diz como realizam o trabalho: “Planejamos o nosso trabalho de acordo com o pedido do cliente (necessidade). Nunca trabalhamos em duas residências ao mesmo tempo. Procuramos avaliar o serviço antes de realizá-lo, caso não nos compita fazer, somos transparentes com o cliente tentando instruí-lo da melhor forma

possível. Seja sobre tipos de materiais a serem usados ou sobre a qualidade deles. Nunca tivemos problema com ninguém até hoje.” Elas contam que, por muitas vezes, sofrem discriminação. Geralmente por acharem que não darão conta do trabalho. “O bom é quando aceitam o nosso orçamento e ficam admirados com a nossa capacidade de realização” (essa é a superação das duas). Lúcia e Lourdes têm a seguinte mensagem para mulheres e homens que querem entrar para a construção civil: “procurem se capacitar e procurar sempre aprimoramento. O preconceito só é diluído com o trabalho bem feito”. Na página ao lado estão as informações importantes para localizar essas mãos de ouro:


https://www.facebook.com/lurdy.lu lurdylu50@yahoo.com.br (Lurdylu) Tels para contato

2443-7045 / 98480125 (Lúcia) 3342-5016/ 96337946 (Lourdes)

“Trabalhamos com colocação de cerâmicas / porcelanatos / pedras em geral / colocação de portas e janelas / pintura residencial e comercial etc.”

Ser mulher vai além de ser vaidosa por Valéria Barbosa

Ser mulher vai além de ser vaidosa, dona de casa, estudante, mãe. Ser mulher é lutar por seus ideais, cumprir, além de uma jornada de trabalho, a de casa e família para cuidar. As mulheres surpreendem a cada dia pela força e dedicação profissional. As mulheres da Cidade de Deus provam o que está acontecendo no mundo: a grande participação feminina no mercado profissional. Na Cidade de Deus, contamos com mulheres que tomam conta de crianças, as mães crecheiras, estas cuidam de filhos de mulheres que saem diariamente para trabalharem. Alimentam, cuidam da higiene, levam para escolas, cumpre as tarefas de cuidadoras de crianças. No Comitê da Terceira Idade, um grupo de 25 mulheres se reúnem todas as 5ª feiras para aprender uma nova profissão e/ou aprimorar novos conhecimentos na área de costura. A idade das alunas varia dos 20 aos 81 anos. Estas mulheres durante 12 meses estão aprendendo modelagem, corte, costura e Silk Screen, Transfer, noções jurídicas. O Objetivo deste curso, financiado pela LAMSA/Instituto INVEPAR, é que, ao final, elas sejam capazes de formar uma cooperativa de

ECOBRINDES. Dona Benta, Presidente Interina do Comitê da Terceira Idade e idealizadora do Projeto, afirma que: “A experiência está sendo muito positiva, a cada conquista das mulheres, cada produto confeccionado, cada melhora no acabamento, a felicidade é coletiva”. Se você quer aprender venha falar conosco, nossa Sede é na Rua Carmelo n°50, quem tem uma profissão tem chances de sobreviver de forma independente. 5


Cidade do Bem

por Valéria Barbosa

O filme Cidade de Deus completa 10 anos, durante todo este tempo, o sentimento de desconforto com a imagem que teve repercussão mundial vem incomodando além das fronteiras da Cidade de Deus. Em abril de 2003, um ano após o lançamento do filme Cidade de Deus, uma reportagem de duas páginas preencheu Jornal Brazilian Times, a matéria de Maurício Mendes aborda o quanto o filme balançou o coração de uma americana. Drª Victória R. Fahlberg que trabalhou na Associação de Moradores durante 10 anos. Ao ver o filme e por conhecer e trabalhar com pessoas do local, ficou indignada com a imagem que retratou o lugar. Além do posicionamento da Victóra Falhlberg, dissertações foram defendidas no país e no exterior falando sobre o tema. A estudante de doutorado na Inglater6

ra Antonia Gama, que há bem pouco tempo trabalhava na UPP Social, fez um curta onde pessoas que trabalham pelo desenvolvimento local e/ou moradores comprometidos com trabalhos sociais e culturais falam do bem mais precioso do local: as pessoas. “O filme "O olhar que eu tenho hoje" ("The way I see today") é resultado de uma pesquisa de Mestrado em Filosofia do Documentário Etnográfico realizada junto ao Granada Centre for Visual Anthropology, da Universidade de Manchester, na Inglaterra. O objetivo principal do projeto é analisar como representações feitas sobre a Cidade de Deus (com destaque para o livro e o filme "Cidade de Deus") impactaram o lugar, a partir da ótica de uma rede de atores locais construída de forma colaborativa”, explicou Antonia Gama.

Em 2014, o filme ainda é motivo de descontentamento da imagem importada sobre o local. Na Europa foi motivo o suficiente para reunir três cineastas em prol de mudar esta imagem e dar para a Cidade de Deus voz. Alguns moradores da Cidade de Deus já devem ter visto três rapazes munidos de máquinas fotográficas e de câmeras de filmagens circulando pela comunidade. Eles estão produzindo um documentário sobre a Cidade de Deus. Vamos saber um pouco mais sobre eles e sobre o trabalho que estão produzindo? Eles talvez sejam os nossos três mosqueteiros, unidos em prol de levar para o exterior a imagem boa do local e da maioria das pessoas que vivem e trabalham na comunidade da Cidade de Deus. São três cineastas europeus e uma produtora brasileira.


Quem são estes cineastas? O português Carlos Eduardo Leitão da Silva - o “Calika”, o espanhol Miguel Costa Templado, o argentino Sebastian Sarraut e a carioquíssima do Gardênia Azul Sandra Lima, que vem dando seu apoio neste projeto. “City ofgood” é Cidade do bem e “Cidy of God” quer dizer Cidade de Deus. JANPQV: Como surgiu a ideia deste documentário? Calika: É um projeto internacional. Eu sou português, o Sebastian é argentino e o Miguel é espanhol. Há três anos eu vim a 1ª vez para o Rio de Janeiro como professor no Cinema Novo que é uma escola de cinema que Thiago tem uma ligação forte Yuri Samico, Dantas e Pedro com a Cidade de Deus. Nobrega, da Vostok Ao chegar ao Cinema Novo, eu conheci algumas pessoas que eram daqui da Cidade de Deus e a imagem que eu tinha era a imagem do cinema que nós vemos no filme, uma má imagem. A partir do momento que eu comecei a conhecer algumas pessoas, vi que havia muito além do que aparecia no filme. Há três anos também aconteceu o mesmo com o Sebastian. Ele deu um curso no Cinema Novo e nós ficamos amigos, ele veio à Cidade de Deus e apaixonou-se pelas pessoas daqui e acabamos filmando alguma coisa nesta altura. Mais tarde, cada um seguiu a sua vida, ele foi para a Espanha e eu fui para Portugal. Eu continuei a vir aqui. O Sebastian conhecia o Miguel e lhe apresentou o projeto. O Miguel tem uma produtora na Espanha e decidiu abraçar o nosso projeto e mostrar o outro lado da Cidade de Deus. JANPQV: Por que a Cidade de Deus? Calika e Miguel: Por isto o filme se chama “City of Good”. O filme é “City of God” – Cidade de Deus - e nós criamos “City of Go-

od”, que é quase igual, mas é “Ci- lhadores da Cidade de Deus, que dade do bem”, para mostrar o outro não só artistas. Queremos mostrar lado, as pessoas boas que vivem no que 98 % das pessoas daqui são local e que a maioria das pessoas pessoas do bem, não são bandidos como o filme mostrou. O filme só não conhecem e até ignoram. O sentido de comunidade que mostrou coisas ruins sobre o local. JANPQV: Quais foram os criexiste na Cidade de Deus é tão grande... Isso não existe na Europa. térios de escolha destes personaÉ único da Cidade de Deus e do gens para compor o trabalho? Calika: Basicamente, as pessoas próprio Brasil. JANPQV: Quais os espaços e para compor este documentário foram indicadas por sua atuação na atividades que vocês filmaram? Calika e Miguel: Nós tivemos comunidade. Eu já tinha forte ligação com o com Mestre Derli, da capoeira; Maria do Socorro na Associação pessoal daqui. Apesar de que no Semente e Vida; com o padre da tempo que vivi no Rio de Janeiro, Paróquia Anglicana, Padre Nichol- eu morei em Ipanema. Então eu era las; Tivemos com o Cabral, que é o um Playboy, a maior parte do meu eudapassava na Cidade Produtor do Artista Plástico Gilmar Yuri Samico, Thiago Dantas e Pedro tempo Nobrega, Vostok,aqui gravam cenas de dos Santos; com com o Júlio e oMiúdo Paulo Deus. E prefiro as pessoas da Cidapara o vídeo Mestre que trabalham com cinema aqui; de de Deus. As daqui são mais vercom a Dona Benta falando sobre o dadeiras. O que tem é pouco, mas empreendedorismo das mulheres do se puderem doam. Isto não enconlocal; com o Grupo Raiz da Liber- trei nos bairros da Zona Sul. JANPQV: Vocês tiveram algudade falando da trajetória dos 35 anos do teatro na Cidade de Deus; ma dificuldade para executar este com você Valéria Barbosa e o seus trabalho? Miguel: Não. Até agora todos trabalhos; com o Leandro Firmino que é uma figura icônica na Cidade quiseram falar das coisas boas da de Deus; Ronaldão que é um gran- Cidade de Deus, nos receberam de trabalhador; com o Teco que é muito bem. Tivemos muita facilifankeiro do grupo Tico e Teco que é dade. JANPQV: O que mais surpregari e trabalha no Rio das Pedra, com o objetivo de mostrar os dois endeu vocês nestas entrevistas? Calika e Miguel: Acho que folados de músico e de trabalhador, que ele faz com alegria e com ou- ram as pessoas, a simpatia delas. tras pessoas comuns e trabalhadoras Porque para nós, estrangeiros na Europa, o que vemos na televisão? que vivem na comunidade. Iremos ainda entrevistar soció- Guerra nas favelas, tráfico de drologos da Pontifícia Universidade gas, guerra, polícia. E ainda mais Católica – PUC pra historiar e dar ligado com a Cidade de Deus a únium cunho mais técnico sobre a fa- ca coisa que eu conhecia era o filvela, também falaremos na próxima me, não imaginava mais nada. semana com um politico do Partido Talvez a coisa que me marcou mais Verde que defende a livre legaliza- foi ter conhecido o Leandro Firmição da maconha, pois não podemos no, porque ele fez o personagem esquecer-nos do tráfico que tem principal, Zé Pequeno, no filme, aqui e mostrar o outro lado, não po- apesar de eu trabalhar com cinema demos fugir por conta do próprio também, o personagem dele era cunho educacional.E vários traba- horrível, uma pessoa muito má, e 7


quando conhecemos a pessoa mesmo vimos que não é nada disto e absolutamente o contrário. E talvez a coisa que mais me marcou foi conhecer o Paulo e o Julio. Porque os dois não tendo nada, ainda mais o Julio, não dá para separar um do outro. Estão sempre juntos. O Júlio, com todas as dificuldades e a luta diária que ele tem, ligado a uma cadeira de rodas, o coração dele é gigante, ele está sempre com um sorriso na cara. Está sempre alegre.

Ele foi quem sugeriu muitas pessoas para nós entrevistarmos. Eu adoro o Julio, eu o adoro. Ele é muito meu amigo. Quando eu o entrevistei me emocionei muito e chorei. Tem gente que se queixa dos problemas tão pequenos que comparado à situação dele não é nada. Ele só quer trabalho, oportunidade de trabalho, ele não quer que deem nada pra ele, isto me toca muito. JANPQV: O que vocês farão com o resultado deste trabalho? Calika e Miguel: Nós faremos

um Documentário. Colocaremos o documentário em festivais, em TV, faremos o máximo possível para mostrar a Cidade do Bem. Porque o que nós queremos mesmo é mostrar este outro lado da Cidade de Deus. O lado bom. O lado das pessoas. Porque as pessoas podem vir e falar, mas nós queremos ajudar, porque o nosso objetivo é ajudar. Todo o dinheiro que a gente fizer é para ajudar as pessoas de cá. Obs: Calika e Miguel deixaram a autorização de voz registrada.

A violência no Brasil por Felipe José Brum

A violência no Brasil só vem aumentando nas últimas décadas. A desculpa do governo é que vivemos num país democrático, como se democracia fosse esse descaso total para com o povo, em que o direito de ir e vir é apenas teórico. As pessoas vivem enjauladas dentro de suas próprias casas, com medo de sair e serem roubadas, assaltadas e mortas. Pior, com medo de ficar em casa e serem invadidadas roubadas, assaltadas e mortas. O agravante é que ninguém tem o direito de correr atrás do prejuízo para ser ressarcido ou indenizado pelos danos materiais, morais e psicológicos causados por esse tipo de violência. As leis sempre foram feitas aleatoriamente, sem objetivos, pois nunca está escrito qual é o objetivo a ser alcançado com determinada lei ou norma. Muitas vezes, o suposto objetivo é o contrário do resultado alcançado. Vivemos num mundo de ilusão. Exemplo atual: a lei que reduziu o horário de trabalho dos caminhoneiros há dois anos, na época foi contestada pelas empresas e caminhoneiros autônomos, pois o Brasil não tinha logística para isso. Hoje, apenas dois anos depois, a lei está sendo mudada. Como se antes de ela ser aprovada não soubessem do efeito que causaria. O Brasil está tão vulnerável que qualquer candidato à presidência que proponha apenas segurança como prioridade e seja firme nisso vencerá a eleição. Falando diretamente de violência não adianta só lamentar. É preciso propostas sérias, não violentas e viáveis. Tenho coragem e proponho o desarmamento das policias civil e militar, pois quando as policias não precisarem usar armas é sinal que a violência diminuiu. Segue a proposta: Objetivo: desarmamento das polícias civil e militar. Proposta: Daqui a 50 anos (2064) as polícias não mais usarão armas. Para que isso aconteça daqui a 30 anos, em 2044, não mais usarão fuzis (isso não é novidade, pois há 40 anos as polícias não usavam fuzis, só as forças armadas). O que é preciso para que isso aconteça? Vontade política e seriedade nas ações. Muita coisa é preciso fazer agora para que esse objetivo (desarmamento das polícias civil e militar) seja alcançado daqui a 50 anos. Paz para todos. 8


Colégio Estadual Pedro Aleixo por Maria Angélica Ponciano

Com as portas fechadas, vem surgindo uma das mais antigas reivindicações da Cidade de Deus. Por muito tempo, os moradores da Cidade de Deus solicitavam uma escola de ensino médio para que seus filhos não estudassem longe de casa e que não precisassem pagar passagem. Não existia gratuidade, os gastos saíam da renda familiar. Muitos já se foram, não se viu concluído o pedido e anos vão se passando. Então os Líderes da comunidade mostraram em reuniões, encontros e congressos em pesquisas aos governantes a necessidade de uma escola na comunidade e, explicando como era o caminho da escolaridade. E assim registraram em documento, o que lhes dava segurança no que pleiteavam. E continua o tempo correndo. Em mais uma reunião, a SEEDUC mostra como será a implantação da unidade estadual de ensino, tendo em vista a necessidade de se ofertar vagas para

o Ensino Médio em horário diurno. A unidade irá se chamar CE Pedro Aleixo. Quando fica pronto sua construção e a projeção de vagas? Será o seguinte: Seis novas turmas de 1ª Série no turno da manhã para uma média de 240 alunos, seis novas turmas de 1ª Série no turno da tarde para uma média de 240 alunos; e o turno da noite irá atender os alunos do atual CE Pedro Aleixo, localizado na Rua Edgard Werneck, 1.565 – Cidade de Deus, Jacarepaguá, que está compartilhado com o prédio municipal do CIEP João Batista dos Santos, com funcionamento exclusivamente noturno, atendendo atualmente a 241 alunos nas turmas de 1ª Série do Ensino Médio. O prédio da FIA foi demolido, dando lugar à construção de um prédio novinho para o Colégio. Será dividido em quatro pavimentos, sendo: 16 salas de aula, uma sala de artes, uma biblioteca, dois laboratórios (um de Informática independente e um de Ciências),

uma quadra polivalente, um auditório para 87 pessoas e uma cozinha e refeitórios independentes. Através de pesquisas, concluíram que havia 174 alunos de 9º ano (moradores) estudando na Cidade de Deus distribuídos nas Escolas Alberto Rangel, José Clemente Pereira e Pedro Aleixo, entretanto, apesar de não registrarem a quantidade na Escola Municipal Juliano Moreira, a estimativa também foi feita, concluindo que há 591 alunos (moradores) estudando no entorno da Cidade de Deus. O Colégio, em 2013, começaria com seis turmas (240 alunos) de manhã e seis turmas (240 alunos) à tarde. Já estamos no meio de 2014, e o Colégio ainda não abriu. Assim, será benvinda a tão esperada escola de ensino médio quando mostrar seu prédio concluído e funcionar para o futuro cidadãos da Cidade de Deus. Fonte: Portal Comunitário da Cidade de Deus. www.cidadededeus.org.br 9


O Lixo x Cidadania por Cilene Vieira

Nesta comunidade, existem pessoas que se incomodam com a falta de políticas públicas, que precisam acontecer em todos os lugares, porque pagamos impostos em tudo que consumimos e este investimento precisa retornar para que possamos viver com mais saúde e tranquilidade. Você sabia que nos países desenvolvidos a população tem o costume de separar o lixo orgânico e inorgânico? LIXO ORGÂNICO ● É todo resíduo que tem origem animal ou vegetal, ou seja, que recentemente fez parte de um ser vivo. ● Neles, podem-se incluir restos de alimentos, folhas, sementes, restos de carne e ossos, papéis, madeira (palito de dentes) etc. ● Esse tipo de lixo é considerado poluente e, quando acumulado, pode tornar-se altamente malcheiroso, devido à decomposição destes produtos. ● Caso não haja um mínimo de cuidado como armazenamento desses resíduos, cria-se um ambiente propício ao desenvolvimento de organismos (bactérias, fungos, ratos, baratas e moscas) que muitas vezes podem causar doenças . ● O lixo orgânico pode ser separado e usado como adubo ou utilizado para a produção de certos combustíveis a partir da biogasificação.

No Rio de Janeiro, em março, tivemos uma greve dos trabalhadores que fazem as limpezas urbanas (Garis). O Sindicato tentou negociar com o Poder Público e não conseguiu nada. Então os trabalhadores pararam com tudo. A cidade que já não andava limpa, ficou imunda. E isso incomodou os governantes. Carnaval, turistas e cidade suja não combinam. Até que a categoria (garis), se reuniu com os governantes para decidir o aumento salarial, contando com o adicional de insalubridade, e ambas as partes chegaram a um acordo e a greve acabou. Mas na Cidade de Deus, percebemos que tem alguns moradores que não conseguem esperar o dia que o caminhão do lixo passa para pôr o seu lixo em sua porta. E quando teve a greve, aí que tudo ficou imundo. Mas se a população tivesse o costume de reciclar o seu lixo, seria bem melhor para todos: EXEMPLOS DE LIXO ORpara o meio ambiente, para a população de todas as faixas etárias. Di- GÂNICO minuiriam as doenças causadas Restos de alimentos, borra de pela falta de saneamento básico. 10

café, guardanapos e toalhas de papel, palitos de dentes, chiclete. LIXO INORGÂNICO ● inclui todo material que não possui origem biológica, ou seja, que foi produzido através de meios humanos, como plásticos, metais e alumínios, vidro etc. ● Lixo seco ( sem umidade) ● Muito do lixo inorgânico possui um grande problema: quando jogado diretamente no meio ambiente, sem tratamento prévio, demora muito tempo para ser decomposto. Plástico, por exemplo, é formado por imensas moléculas contendo milhares de átomos, o que torna difícil a sua digestão por agentes decompositores. ● Para solucionar este problema, diversos produtos inorgânicos podem ser reciclados. EXEMPLOS INORGÂNICO

DE

LIXO

Copos de Iogurte, embalagens de comida, quentinhas, sacos plásticos, garrafas Pets, garrafas de água, latinhas de Refrigerante, *Papelão, vidro, isopor. * Papelão é de origem orgânica, mas pelo seu uso na reciclagem é classificado como inorgânico para que seja depositado junto com os materiais secos e não ser contaminado por restos de alimentos que inviabiliza a reciclagem. Fonte: Google Pesquisa

Se cada um de nós conseguirmos desenvolver o que lemos, e repassar para nossos familiares, amigos, conhecidos, tudo poderá se transformar para o nosso bem estar.


Farmanguinhos e o Desenvolvimento Comunitário por Magali Chuquer e Jacob Portela Núcleo de Gestão Social de Farmanguinhos/Fiocruz (NGS)

Farmanguinhos é uma unidade da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e é o maior laboratório farmacêutico oficial vinculado ao Ministério da Saúde. Desde 2005, com a finalidade de desenvolver ações de caráter social para as comunidades localizadas em seu entorno, foi instituído o Núcleo de Gestão Social. Portanto, ao instituir um núcleo específico para ações sociais, Farmanguinhos reconheceu a importância do papel de instituições públicas, e também de empresas, no desenvolvimento comunitário das comunidades de seu entorno onde se destaca, nesse caso, a Cidade de Deus. A responsabilidade social é um tema atual e, nos últimos anos, vem sendo consolidada a crença de que as empresas devem assumir um papel mais amplo perante a sociedade que não somente o de maximização de lucro e criação de riqueza. Indo na contramão do assistencialismo, o Núcleo de Gestão Social de Farmanguinhos pauta sua ação através da implementação de projetos sociais próprios ou em parceria com outras instituições que estejam em sintonia com os anseios e demandas das comunidades do entorno, que contribuem de forma participativa na eleição de suas prioridades que depois se traduzem em ações. Neste sentido, os projetos são elaborados a partir da escuta das comunidades contribuindo assim para o fortalecimento das reivindicações comunitárias e das instituições legalmente constituídas e legitimadas pelos moradores. Atualmente, o Núcleo de Gestão Social de Farmanguinhos implementa os seguintes projetos que englobam os eixos indutores definidos pela Coordenadoria de Cooperação Social da Fiocruz, que são “Educação, Comunicação e Cultura”, “Trabalho, Renda e Solidariedade” e “Território, Saúde e Ambiente”:

● Feira do Talento Destinado aos artesãos do entorno ● Fortalecimento da Rede de Proteção da Criança e do Adolescente ● Exposição Itinerante Biodiversidade e Saúde ● Ponto de Cultura da Cidade de Deus ● Ações Pontuais Através destes projetos, Farmanguinhos busca promover o fortalecimento da educação e das organizações locais, a capacitação de agentes culturais, de arranjos produtivos locais e campanhas e ações de solidariedade. Nesses quase oito anos de atuação na área social, Farmanguinhos transformou suas ações sociais nas comunidades do entorno em política permanente podendo ser referência para as demais instituições, unidades e empresas do entorno. 11


Dependência Química com crianças e jovens estão acontecendo por quê? por Cilene Vieira e Liliane Lo Bianco

No dia nove de março de 2014, me deparei com uma cena absurda. Três meninas que aparentavam ter 9, 10 e 11 anos foram até uma loja na Cidade de Deus, por volta das 00:30, comprar açaí. Sendo que uma delas, a que aparentava ter nove anos, estava com um copo de 500 ml na mão com uma bebida verde com limões em rodelas. Perguntei a ela o que ela estava bebendo. Ela me respondeu: “refresco”. Mas voltei a indagá-la: “Essa bebida está com um cheiro muito forte de álcool”. Então ela me disse: “Eu tô com dinheiro e o homem, lá perto da quadra de samba, me vendeu e eu comprei”. (Ela estava bebendo uma caipirinha). E uma das amigas informou que aquele já era o segundo copo. A leitura que fiz foi que aquela criança estava pedindo ajuda, atenção e afeto. E sua fisionomia era de cansaço. Os olhos quase fechando, mas ela resistia e levantava a cabeça tentando mostrar força, agredindo verbalmente quem chamasse sua atenção. Perguntei onde ela morava, cadê os seus pais? E a resposta foi o silêncio. Na semana seguinte, fui até a casa de uma das amigas da menina de nove anos. A informação que recebi foi, que a família dela era de dependentes químicos, sua mãe e seu pai usavam maconha e cocaína na frente dos filhos. Logo, ali não existiam limites. Cada um fazia o que quisesse quando achasse melhor. Posso chamar de uma família desestruturada? Li uma matéria sobre a especialista (ex-moradora da CDD) que avalia que pais querem “terceirizar” filhos dependentes químicos. Segundo a presidenta da 12

Associação de Conselhos Tutelares do Município do Rio de Janeiro, Liliane Lo Bianco. “Claro que precisamos enfrentar as drogas, mas os casos de dependência química estão relacionados à ausência de políticas integradas para o fortalecimento do núcleo familiar de pessoas em situação de vulnerabilidade. Na vida real, as crianças ficam pela rua, a gente não consegue tirar. Hoje temos um grande número de crianças que são filhas do crack, são meninas e meninos usuários de substância entorpecente que se prostituem para a compra da droga. O crack amortece, despersonaliza esse sujeito”, explicou ela. “Eles criam afeto pelo crack, que dá o que eles não têm no núcleo familiar, que é prazer, liberdade”. Há mais de dez anos trabalhando com crianças e adolescentes em situação de risco, ela acredita que os vínculos familiares estão em um ponto de fragilidade que muitos pais querem se isentar das responsabilidades legais e sociais sobre os filhos por que não sabem como conduzir a situação da drogadição. “A mãe sai, deixa a criança em casa para ir ao baile e o pai não quer saber. São pais que têm os vínculos familiares já esgarçados e não têm essa relação de zelo e proteção com os próprios filhos, além de não encontrarem amparo nas políticas públicas neste segmento”. Os investimentos no combate ao uso do crack, segundo ela, devem ser voltados principalmente para a prevenção. Em sua opinião, depois que a pessoa se vicia, o tratamento torna-se muito mais difícil. “Não acreditamos na internação

compulsória, pois sem adesão, o menino volta para rua e vai se drogar de novo”, disse Liliane. “O necessário é ter um espaço para as crianças que pedem para ser tratadas”, defendeu. A Liliane Lo Bianco ressaltou que a situação é de tal gravidade que os pais, hoje, “querem terceirizar o poder familiar”. Segundo ela, ao tentarem delegar autoridade na criação de seus filhos, essas pessoas mostram que a relação de proteção familiar e de autoridade “diluiu-se”. O Conselho Tutelar é um órgão não jurisdicional composto por cinco membros eleitos pela sociedade. Os conselheiros atendem crianças e adolescentes que sofrem algum tipo de violência ou abuso e são responsáveis pela proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes. Os conselhos fiscalizam os entes de proteção – Estado, comunidade e família – e requisitam serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança. Além disso, o conselho contribui com o Executivo na formulação de ações e políticas públicas a esse público.

Quem é Liliane Lo Bianco Psicóloga, especialista em violência doméstica, Conselheira Tutelar de Jacarepaguá no seu 3º mandato, Presidenta da Associação de Conselheiros Tutelares do Município do Rio de Janeiro – ACTMRJ. Comissária de Ética da Comissão de Ética dos Conselhos Tutelares do Município do Rio de Janeiro, Ex- Moradora de Cidade de Deus.


Ponto de Cultura: Circuito Itinerante por Juliana Mattar

O Ponto de Cultura Circuito Itinerante de Cultura da Cidade de Deus, formado em 2010, é um coletivo de artistas das áreas de artes cênicas, música, artes plásticas, audiovisual e dança. Atualmente, o grupo é composto por Maria de Lourdes Braz (Proponente e Coordenadora da Casa de Santa Ana), Neuma Morais (Grupo Coral Vozes da Cidade de Deus), Cilene Vieira (Cia. Teatral Raiz da Liberdade), Lucio Santos (Cia. De Dança Trevo), Gilmar Ferreira e Roberto Senna (Cabral) (Oficina de Artes Plasticas). No grupo inicial, pertenciam também Rosalina Brito (Literatura e Poesia), Paulo Silva e Julio Pecly (audiovisual). O coletivo foi constituído através da rede de cultura criada por Magali Chuquer Portela, Supervisora do Núcleo de Gestão Social de Farmanguinhos/Fiocruz, que desenvolve amplo trabalho de parceria com instituições locais no entorno do Instituto, situado em Curicica – Jacarepaguá. O Circuito Itinerante de Cultura tem como objetivo levar a comunida-

de ações que promovam educação, cidadania, formação crítica e entretenimento, através de experiências artísticas. Estas ações buscam ampliar propostas e reflexões relativas ao ambiente e a história da Cidade de Deus, colaborando para a recuperação, caracterização e manutenção da cultura local. No primeiro ano de formação, o grupo e outras instituições da comunidade puderam se capacitar em elaboração e formatação de projetos culturais. A proposta - que inicialmente seriam seminários pontuais - com a parceria de Farmanguinhos/ Fiocruz, em Curicica, se tornou um curso com duraçāo de oito meses, o “Cultura Portátil da Cidade de Deus”, elaborado por Juliana Mattar (Farmanguinhos/Fiocruz) e aprovado no Edital para Desenvolvimento Territorializado, da Coordenadoria de Cooperação Social da Fiocruz (Manguinhos). Na segunda etapa, ao longo de um ano, o coletivo realizou o Festival Ponto de Cultura Itinerante da Cidade de Deus, totalizando cinco eventos

com apresentações com duração de um dia inteiro. Os eventos se realizaram na G.R.E.S Mocidade Unida de Jacarepagua, Quadra do Karatê, Quadra do Coroado e Praça Júlio Grooten, Cidade de Deus. Desta forma, a comunidade foi beneficiada com apresentações de coral, espetáculo teatral e de dança, exibição de curtas, exposição de artes plásticas, e oficinas, em cada uma destas áreas respectivamente. O Circuito Itinerante de Cultura também participou de outros eventos, entre eles, a Jornada de Educação Socioambiental Cidade de Deus e Maré, rumo à RIO + 20, onde presidiu a Comissão de Cultura e participou dos eventos artísticos. Além disso, realizaram também apresentações individuais em eventos fora e dentro da comunidade no período do terceiro ano. Durante estes três anos, o Circuito Itinerante de Cultura contou com as parcerias da ASVI (Associação Semente da Vida), Alfazendo, Paróquia Cristo Rei, Casa de Cultura, Jornal Abaixo-Assinado, Portal Comunitário da Cidade de Deus e Jornal A notícia por quem vive. Juntos, pensam em novos projetos e em ações que promovam maior interação com a comunidade, estimulando uma maior adesão e participação do público nas atividades propostas pelo Ponto de Cultura. Neste último ano, foi também realizado um breve documentário que conta sobre o processo de desenvolvimento das atividades do grupo ao longo desses três anos. O Ponto de Cultura Itinerante da Cidade de Deus foi patrocinado pela Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, no Projeto Mais Cultura (MINC), com o apoio de Farmanguinhos/Fiocruz. 13


Plano de Desenvolvimento Local da Cidade de Deus: você sabe do que se trata? por Valéria Barbosa

Entrevista com Celso Alexandre Alvear, pesquisador do Núcleo de Solidariedade Técnica da UFRJ (SOLTEC/UFRJ). ANPQV: Celso, o que é o plano de desenvolvimento local? O Plano foi um texto construído coletivamente aqui na Cidade de Deus, se não me engano o primeiro foi em torno de 2003, atualizado depois em 2010, reuniu diversas organizações comunitárias da Cidade de Deus. Ele teve ajuda de uma pessoa da UFRJ chamada Claúdia Pfeiffer para organizar esta reunião. E foi uma grande reunião, em que se debateu o que é desenvolvimento local e o que as organizações, pessoas, o que a comunidade queria. Depois separaram-se grupos por áreas temáticas como educação, trabalho, saúde e se discutiu o que seriam as prioridades para a Cidade de Deus. Quais eram os problemas, quais seriam as prioridades e quem poderia resolver estes assuntos. Em 2003, tinha o Comitê Comunitário da Cidade de Deus a Agência de Desenvolvimento Local, que já demonstravam como a comunidade poderia se organizar. Eu acho que o plano é uma ferramenta muito importante para 14

mudar a lógica do poder público, que chega à Cidade de Deus já dizendo qual é o problema da Cidade de Deus e quais são as soluções. Ele foi atualizado em 2010 de forma mais reativa, quando chegou a UPP na Cidade de Deus. Chegou a UPP Social querendo fazer este papel de articulador social, de falar como articular, levantar quais são os problemas, quem é de cada área e fazer ações do Estado. Lembro que a Cidade de Deus se organizou de forma antecipada, ela atualizou o Plano para quando chegar da UPP falar assim: “A gente não precisa que vocês se reúnam e digam o que precisamos. A gente já tem isto levantado, legitimado pela reunião maior da população. Então a gente quer que vocês façam isto aqui que a gente acha prioridade”. Eu acho que isto que é importante no Plano de Desenvolvimento Local, a própria comunidade dizer o que ela acha sobre os seus problemas, quais são as melhores soluções e que ela possa demandar o poder público para que ele faça o que ela quer. ANPQV: Que benefício a comunidade terá com a Implantação deste Plano?

Acho que é a gente colocar as ações em movimento. Se as pessoas veem as coisas funcionando, aquilo que elas decidiram acontecendo, as pessoas se mobilizam a participar mais. É muito fácil falar de mobilização, de participação e de criticar também e falar que na comunidade as pessoas não querem participar, mas isto é uma coisa humana, quando você não sente que nada está acontecendo e que a sua participação não é valorizada. Eu acho que a importância da ação, além de alguma melhoria, que as vezes é pequena, e não imediata, é mobilizar para mais pessoas participarem e sentir que a opinião delas vai ser ouvida, vai ser levada em conta na atualização do plano e que pode mobilizar resultados e que resultados podem mobilizar mais força. ANPQV: Qual é o papel da SOLTEC/ UFRJ neste Plano?

O SOLTEC, como Estado, tem a obrigação de estar auxiliando a Cidade de Deus a melhorar de vida. É isto que a gente, enquanto Núcleo de Solidariedade Técnica, mas também como outros professores de universidades, outros técnicos, está tentando fazer: o papel do poder público.


Conhecendo um pouco mais do INSTITUTO PRESBITERIANO ÁLVARO REIS – INPAR por Luzia Maria Corrêa da Costa Beal Participo das ações do INPAR desde 1993. Trabalhei 2 anos como voluntária, depois fui contratada na função de Assistente Social até 2013. Atualmente, sou a diretora da sede, acumulando as duas funções. Em 1910, o pastor presbiteriano Álvaro Reis, na Cidade de Lavras, motivado pela compaixão por 14 crianças órfãs, cujo os pais foram vítimas da Febra Amarela, cria o Orfanato Presbiteriano. Surge uma nova epidemia em 1919, a Gripe Espanhola, vitimando outras tantas crianças que foram transferidas para o Rio de Janeiro, na cidade de Valença onde as condições para o tratamento seriam maiores. Durante 4 anos, a Sede do INPAR ficou nesta cidade até conseguirmos um espaço que comportasse o crescimento do Instituto. Finalmente em 1923, a diretoria encontra o lugar perfeito para comportar as demandas sociais e o Orfanato Presbiteriano muda-se para Jacarepaguá, e instala a sua sede definitiva na rua Edgard Werneck, 846. O nome da Instituição sofreu alteração por conta de mudanças na lei que mudavam a forma de atendimento às crianças abandonadas nos orfanatos, ou seja, os orfanatos se transformaram em semi-internos a fim de aproximar os filhos dos pais, favorecer a adoção, implantar famílias substitutas, entre outras formas de dar um lar para as crianças. Esta mudança ganhou mais força com a implantação do ECA a partir de 13 de junho de 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescen-

te, da Lei 8.069 do. Desta forma com a mudança na lei o INPAR deixa de ser orfanato e torna-se semi-interno, espaço onde as crianças ficavam de 2ª a sexta-feira e no final de semana iam para suas casas e/ouespaço onde as crianças tinham atendimento integral durante o dia, no final da tarde o responsável apanhava a sua criança. Passando a ser legalmente reconhecido como Instituto Presbiteriano Álvaro Reis de Assistência à Criança e ao Adolescente. O INPAR é uma instituição de 103 anos. É sempre um privilégio falar do INPAR, trabalhar neste Instituto e saber que somos parte da história desta obra. Pelo INPAR passaram tantas vidas! Vidas estas que somaram para o crescimento da Instituição,que receberam cuidados especiais e de forma integral: espiritual, psicológico, educacional,social. Tantos os alunos quanto suas famílias, 370 crianças/adolescente na faixa etária de 2 a 16 anos, são atendidos diariamente. Temos uma equipe técnica composta por: assistente social, fonoaudióloga, pedagoga, psicóloga, monitoras, agente de saúde comunitária, dentista, voluntários que nos ajudam nas oficinas de artesanatos, teatro,contação de história, educação física, oficinas de dança. Temos Informática para a Cidadania, fruto da parceria com o CDI que atende a uma faixa etária abrangente. A EI, Educação Infantil por meio de intercâmbio leva nossa metodologia para outros estados do Brasil.

Atendemos também ao público da terceira idade, inclusive com passeios na cidade do Rio de Janeiro e pretendemos ampliar para os estados do Brasil e para o Mundo. Temos oficina de música para violão, flauta doce e sax. Iniciaremos a campanha Desapegue de seu Instrumento. Precisamos oferecer oportunidades para a descoberta de novos talentos. Estamos projetando um Espaço dedicado à Prevenção e atendimento para crianças e Adolescentes vitimas de Violência Doméstica e/ou Abuso Sexual. Nosso atendimento é sem proselitismo religioso, falamos e procuramos viver no amor de Cristo. Temos 60 funcionários, dos quais 11 são oriundos da Cidade de Deus, 95% de nossa clientela também, 5% são são do entorno da Instituição e também de comunidades próximas. Agradeço e encerro com nosso Mote: Ensina a criança no caminho que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.

Atividades de vivência no Colégio MV1

Para maiores informações, acessem o nosso vídeo no Youtube. http://youtu.be/x8HqRRaGizc 15


Homenagem às minhas filhas! Obassy

Era uma vez, uma mãe gorda e muito negra! Negra bem tinta... Sua negritude era tanta... Que tornou-se como Mulher, Uma figura distinta. Sentia-se muito só... Neste grande senzalão, Parou! Pensou... Repensou! Vou ter minha própria produção! Fez-se a Primeira, Lenise! Negra linda perfeição. Prá vencer na vida, Ser modelo, manequim... E continuar a produção. Logo a seguir veio a Segunda, Dayse! Negra bela, escultural. Sempre gostou de esporte, Mas eu sempre sinalizei que estudar é importante Para sermos alguém na vida E a produção continuar. Assim veio a Terceira, Cilene! Negra linda do dia de Zumbí (20/11 ) Sempre gostou de estudar Para essa desigualdade de nosso povo mudar E a produção continuar. Sem demora surgiu a Quarta, Sidilene! Que belezura de Criola, Veio junto do Carnaval Sempre foi inteligente, criativa e jeitosa. E a produção não se finda. Treze anos após, em 1 981 surge a Quinta, Cristiane!

Apoio

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Ela sempre teve algo de Deus, Para esta família que a acolheu Logo ela ganhou cinco mães Que a mimaram bastante Para ela sentir que a vida é importante. Sinto que somei bastante na vida de minhas filhas.

"Esta poesia foi feita por uma mulher muito especial, Celita Vieira de Abreu, minha mãe (mais conhecida como Anita ou Obassy), que infelizmente nos deixou em 23 de maio de 2006. Mas viverá eternamente em nossos corações." -Cilene Vieira.


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