A noticia por quem vive 11ª edição

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Cidade de Deus Janeiro de 2016 Ano 6 Edição 11 Distribuição gratuita

Um jornal para quem é e faz notícia! Venha você também construir esta história.

DONA BENTA! Uma vida de luta pelos valores da terceira idade. #personalidade • 6 JornalANoticiaPorQuemVive (21) 9 9790-5444

PARADA GAY! A CDD Sem Preconceito reúne moradores e artistas. #diversidade • 8

FLINPAR! A literatura como caminho “mágico” de transformação social. #cultura • 10

Nosso jornal faz parte do Portal da Cidade de Deus. Acesse www.cidadededeus.org.br


editorial por Lucas Ronconi

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oda estreia vem acompanhada de ansiedade, nervosismo, tensão, frio na barriga e uma enorme vontade de que tudo saia perfeito. Talvez esta seja a primeira vez que você está tendo con­tato com o Jornal A Notícia Por Quem Vive, mas não se preocupe, pois também é a minha. Guardamos um sentimento em comum: o da descoberta. E não é assim o mundo? Cheio de peripécias diárias. Essa é a beleza de ser e estar, de descobrir novas palavras, paisagens, pessoas, lugares, ideologias, sabores. A alegria imensurável de SER humano. Nessas próximas páginas, caro leitor, é isso que encontrará. Humanidade. Ela não é perfeita. Não é única. É diversa. Aventure-se sem medo, leia com liberdade e deixe de lado (pré) conceitos. Conhecerá, muito provavelmente novos mundos, histórias e singularidades. Deixe-se cativar, pois a CDD acontece e orgulha-se de ser colorida como a bandeira do movimento LGBT que trouxe à comunidade sua

primeira Parada do Orgulho GAY (Em inglês a palavra “gay” significa alegria, sabia disso?). O nosso jornal, ANPQV, ficou em terceiro lugar no concurso para o prêmio Geraldo Jordão do Instituto Rio. Estamos muito felizes. A jornada continua e passaremos pela história de vida de Dona Benta, grande personalidade da região que sem dúvida ficaria feliz em ouvir sobre a Primeira Feira Literária do INPAR. Os meninos do CDD na Tela, que conquistaram a gestão da Lona Cultural de Jacarepaguá não poderiam ficar de fora, além da galera do projeto a Voz da Rede. Nessa grande viagem, o jornal ainda realiza uma singela homenagem ao Orfanato São José. Bem, espero que se deliciem em cada palavra. Que seja uma leitura leve, proporcione reflexão e deixe um gostinho de quero mais. Nos vemos na próxima edição. Até breve!

Expediente de Novembro à Janeiro de 2015 fundadores Ariana Apolinário Celso A. Alvear Cilene Vieira Dara Bandeira Dayse Vieira Felipe Brum Joana da Conceição João C. Souza José Alberto Jucinara Vilela Landerson Soares Leila Martiniano Mª Angélica Ponciano Marília Gonçalves Mônica Rocha Rita de Cássia Rosalina Brito Valéria Barbosa

membros do jornal Mª Angélica Ponciano Maria do Socorro Cilene Vieira Felipe Brum Julcinara Vilela Rosalina Brito Valéria Barbosa Lanna Vieira Lucas Ronconi colaboradores Lilianne Mynssen Carla Siccos revisão de texto Natacha Mathias Renata Melo Raquel Tavares

Camille Perissé diagramação Lanna Vieira impressão Folha Digirida 3 mil exemplares apoio SOLTEC/UFRJ Farmanguinhos/Fiocruz ASVI Instituto Rio


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A CDD PEDE PAZ

CILENE VIEIRA

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o dia 30 de dezembro, moradores se reuniram na praça principal da Cidade de Deus, também conhecida como Júlio Groten, para unidos, chamarem a atenção das autoridades num grito pela paz. Essa manifestação foi causada devido a instabilidade na segurança pública proveniente da falta de investimento governamental nessa área, principalmente nas periferias da cidade. Na noite antecedente a véspera de Natal, duas crianças foram vítimas de arma de fogo. O atual descaso que permeia a região, onde por vezes são ouvidos sons de disparos de origem desconhecida, prejudica o comércio e tira a sensação de tranquilidade que a algum tempo reinava em nossa comunidade. O Jornal A Notícia Por Quem Vive junta-se aos moradores nesse urgente pedido de paz no florescer do novo ano. Na esperança de uma CDD tranquila, em que os únicos sons que queremos ouvir, são os dos ritmos musicais que embalam nossas ruas, travessas e vielas.

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Fazendo acontecer na Cidade de Deus A fundadora do CDD Acontece conta um pouco sobre seu bem-sucedido projeto

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ual morador da Cidade de Deus que não conhece o CDD Acontece? É um canal informativo que abrange um blog, página no facebook, Twitter, Instagram e listas de trans missão no Whatsapp. O espaço é abrangente e traz para o morador da Cidade de Deus e adjacências a vida cultural: promoções, festas, passeios, utilidades, etc. A frente desse projeto está Carla Siccos, moradora da comunidade. Ela criou a página em 2012. No início, era com o intuito de mostrar os serviços e cursos disponíveis na região. Foi até ONGs e órgãos governamentais para informar sobre o projeto e se dispor a ajudá-los a divulgar seus programas. Hoje, o CDD Acontece é um dos principais canais de informação da Cidade de Deus, com mais de 21 mil curtidas até o momento e com uma lista de transmissão com mais de mil contatos receptivos que recebem informações de cursos, oportunidade, empregos, ofertas e notícias da comunidade.

Carla Siccos nunca participou de capacitaçõs que a preparassem para trabalhar com essas ferramentas, mas desde pequena diz possuir “marra” de jornalista. O único lucro que Carla obtém vem de anúncios, que comercializa a R$ 50 cada. O CDD acontece é totalmente virtual. A ideia é estar onde todos estão: Facebook, Whatsapp, Instagram, Twitter, Blogger, Skype, Gmail, Youtube, assim como um app para celular. A metodologia é: o conteúdo publica-

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do no Facebook cai automaticamente no Twitter. O Youtube, o Instagram, o Facebook e o Whatsapp são constantemente alimentados, ou seja, dá muito trabalho. No Whatsapp, cada lista de transmissão tem 256 pessoas e já são mais de cinco listas. Carla começou a atrair o povo no WhatSapp com bate-papo. Todo mundo já entendeu e respeita a lista de transmissão do Cdd Acontece, que conta com inúmeros colaboradores que enviam material para publicação. Uma coisa da qual a Carla tem muito orgulho é que, de tanto o CDD Acontece reclamar da questão do lixo na comunidade, a Comlurb resolveu dar atenção. Carla Siccos nunca participou de capacitaçõs que a preparassem para ÃO AÇ LG U V trabalhar com essas ferramentas, mas desDI de pequena diz que tem “marra” de jornalista. A princípio, o CDD Acontece tinha a intenção de só suprir os cursos e oportunidades que existiam na comunidade, mas Carla percebeu que muitas pessoas do poder público estavam curtindo a página, por isso passou a ser usada para mostrar os problemas da CDD. Foi dessa maneira, então, que tudo surgiu. Enquanto nas “lan houses“ da CDD, todo mundo estava no Orkut, Carla dava preferência ao Youtube, com que aprendeu a usar as ferramentas que viria a usar bastante com as redes sociais. O nome pensado inicialmente para a página no Facebok foi “Acontece na Cdd”. Mas achou melhor optar por apenas duas palavras. “Com o nome Cdd Acontece dá a entender que nós fazemos acontecer”, explicou Carla.

Julcinara Vilela


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Nosso jornal presta homenagem à fundadora do Orfanato São José Estivemos no Instituto Josefa Alcântara Goulart, onde funciona acreche que atende a 75 crianças. Fomos surpreendidos pela história do local.

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senhora Josefa Alcântara Goulart foi idealizadora e presidente vitalícia do Movimento Cristão Brasileiro, fundado em 1948, que tinha como objetivo principal distribuir alimentação às famílias necessitadas. Josefa ia à busca de doações entre os seus filhos, amigos e conhecidos, iniciando um trabalho de parceria. Com essa visão futurista e comprometida com o bem estar social, srª Josefa percebe que as necessidades das famílias que procuravam o Movimento Cristão Brasileiro era muito mais que alimentação: era sair da condição de carente para encontrar cidadania. Com esta abertura de entendimento percebe a necessidade de acolher as crianças, para que suas famílias tivessem a oportunidade de ir em busca de colocação no mercado de trabalho. Nasce o Orfanato São José em 1964, com o regime de internato e um espaço de utilidade pública, onde atualmente funciona o CIEP João Batista dos Santos. Com o propósito de acolher as crianças que moravam na zona oeste e cujos responsáveis trabalhavam distante do local de moradia. Havia uma escola particular de ensino fundamental e médio (José de Alencar), que foi desativada no final da década de 80, para onde se mudou o Orfanato São José. Segundo a Coordenadora Pedagógica Bárbara Siqueira de Alcântara, neta de

dona Josefa, no Orfanato São José foram atendidas em média 600 crianças durante a existência da instituição. Em 1990, com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), houve a necessidade de mudar a modalidade de atuação, e, com isso, grande parte dos orfanatos foi extinta. Famílias tiveram de delegar para alguns parentes a guarda de seus filhos. Dessa forma, o Orfanato São José passa a atender na modalidade de creche. O Centro Integrado São José, na complementação de suas ações sócio educativas, fez parceria com o Município do Rio de Janeiro, funcionando das 7h às 17h. As matrículas seguem o calendário da Prefeitura e FOTO RETIRADA DO BANNER. POR CILENE REGINA neste ano iniciaram-se dia 1º de outubro de 2015. A lei 8090, de 13 de julho de 1990 do ECA, legitima o direito da criança ao atendimento de creche. O Jornal ANPQV espera ter podido comunicar a importância dessas instituições que se preocupam com as crianças e os adolescentes da Cidade de Deus. E tudo começou com o Orfanato São José, que foi dirigido pela Josefa Alcântara Goulart e sua equipe, que sempre trabalhou arduamente. Esperamos comunicar a importância dessas instituições que se preocupam com as crianças e os adolescentes da Cidade de Deus.

Cilene Vieira

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#personalidade • CAPA

A BENTINHA DA CIDADE DE DEUS

Benta Neves do Nascimento deixa saudades em todos cujo a vida transformou.

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o dia 21 de junho de 2015, a Cidade de Deus perdeu uma grande líder comunitária, Benta Neves do Nascimento. Escrever esta matéria não é uma tarefa fácil, por ter convivido com Dona Benta nos últimos dois anos com mais assiduidade e ver uma amizade ser firmada, aprender a conhecê-la, admirá-la foi uma tarefa de construção semanal coberta de risadas, aprendizados, cumplicidade e muito respeito. Nascida em Campos de Goytacazes, uma cidade do norte fluminense, Benta Neves do Nascimento foi moradora de área rural, aprendeu a cultura local do Jongo, e na mocidade tinha prazer em sair e dançar Jongo junto com a família e amigos. Fez ensino técnico, onde aprendeu a ser artesã, e desde muito cedo teve a certeza que a mulher precisava ser independente. Seus conhecimentos como artesã na juventude a acompanharam no compromisso com as mulheres da Comunidade da Cidade de Deus: em especial o cuidado a pessoa idosa. Acreditava que, enquanto houvesse forças e desejo, a pessoa idosa deveria aprender e até trabalhar para cumprir sua renda. Ela trabalhou até os seus 82 anos e mesmo no leito do hospital o seu pensamento se voltava para o Comitê da Terceira Idade, fundado no dia 13 de junho de 1996 cujo o objetivo era oferecer atividades culturais, de lazer, refeição e compartilhamento de experiências. O comitê fez parcerias diversas desde com o Poder Público, como instituições locais e ex-

ALEX CURTY

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ternas à comunidade da Cidade de Deus. A princípio, a parceria foi com o Orfanato São José, onde o Comitê funcionava, e lá ficou durante vários anos junto com os idosos do projeto, depois se mudou para a quadra de samba Unidos de Jacarepaguá até ficar sem espaço externo e tomar a decisão de dividir o seu espaço de moradia com o Comitê da Terceira Idade, onde dona Benta promoveu cursos para jovens e mulheres. Em 2013, se inicia o curso de emponderamento de mulheres com o patrocínio da LAMSA “Cooperativa de Ecobrindes da Cidade de Deus” e trinta e sete pessoas aprendem nas oficinas de modelagem, corte e costura, serigrafia, gestão de negócios. Em 2015, a cooperativa ganha o premio Ações Locais da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, destinado a reforma e continuidade das atividades desenvolvidas com o tema Mulheres em Ação. Benta fundou o Comitê Comunitário da Cidade de Deus e a Agência de desenvolvimento, sua vida foi dedicada à troca de experiências e ao trabalho comunitário. Era Ialorixá do Candomblé, e a sua fé era sua grande guia, acreditava na mudança das pessoas e que estas poderiam desenvolver suas capacidades e transformar suas vidas. E a mulher Benta, mãe de um casal de filhos e avó de três netos, tinha como grande orgulho suas netas estarem na faculdade e trabalhando, além de seus filhos serem profissionais respeitados. Uma grande e fiel amiga dos seus parceiros, que valorizava e participava dos eventos locais, moeda social, foi citada em dois livros, participou do programa Esquenta da Regina Casé, respeitada pelo poder público por ser uma mulher de luta e garra social. Uma mulher que defendia a Cidade de Deus e foi amiga da comunidade. Uma mulher a quem de seu tempo, que pensava em emponde-

ramento de mulheres, em controle de natalidade, acreditava que o trabalho fazia a diferença na vida das pessoas e que estas deveriam ter um ofício. Deixa um legado para sua família dar continuidade, uma Instituição em fase de crescimento com parceiros que acreditam na força do Comitê e suas netas com o ávido desejo de dar continuidade ao trabalho desenvolvido. O que aprendi neste tempo de convivência: que é preciso acreditar no potencial do outro, que respeito é a chave do sucesso, que confiança e transparência é uma alavanca poderosa para firmar uma parceria. Deixo para Benta um ALEX CURTY poema, assim como deixei muito carinho e admiração neste tempo de convivência, foi muito bom tê-la por perto, escutá-la, respeitá-la e aprender com ela. Uma sábia jongueira Senhora Benta. Vem de todos os lados Quem são eles? Riem alto. São jongueiros te esperando pra dançar pra te alegrar. Eles cantam samba de roda, Samba de terreiro mas, o forte deste povo é ser jongueiro, seus tambores estão a rufar. Não pare de dançar agora deixe as máquinas descansarem A alegria é sua hora Cantar é preciso, Conversar também Com suas mãos não deixe de criar e reencontre os seus amigos que vieram pra te abraçar. que o céu em festa a receba Marília Estrela na saudade aqui tem lugar.

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#diversidade • CAPA

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CDD Sem Preconceitos

JADER FRANÇA

A primeira Parada Gay da Cidade de Deus e as marcas que deixou na comunidade

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oje em dia, apesar de o preconceito ainda estar bastante presente na vida de uma pessoa homossexual, inúmeros países europeus e vários outros das Américas possuem suas paradas gay. E o Brasil é o possuidor da maior festa do gênero desde 2007. No último dia 1° de novembro, aconteceu a tão esperada Parada Gay da Cidade de Deus, que fica localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro e que possui aproximadamente 50 mil habitantes. Uma batida policial no bar de Stonewall, frequentado por gays e lésbicas em Nova York, em 1969, deu o pontapé para a primeira parada LGBT do mundo. A prisão e o espancamento de várias pessoas levaram dois mil manifestantes às ruas da cidade no dia

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28 de junho daquele ano. E desde então, esse dia se tornou o dia oficial do orgulho gay. As manifestações no bairro de Greenwich Village, na Ilha de Manhattan, deram início a um movimento pelos direitos civis dos cidadãos homossexuais, que conseguiramvários avanços nas últimas quatro décadas. A homossexualidade deixou de ser considerada crime ou doença em vários países, assim como muitos outros permitiram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esta comunidade que sempre foi considerada a “galinha dos ovos de ouro” dos grandes imobiliários do Rio, teve celebridades desfilando por suas ruas em prol da causa gay. Liderados por uma bela comissão de frente composta de dançarinos escassamente vestidos, dois trios


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elétricos traziam personalidades como David Braconcentrada na quadra de samba, que foi espesil, Carlinhos do Salgueiro, Lili Carabina e também cialmente estruturada para receber os entusiastas artistas da comunidade, como Tati Quebra Barradurante o evento. Próximo à entrada, o clássico paco, a rainha da bateria da Mocidade e passista no redão de som já dava o tom de antecipação para Salgueiro, Mayara Lima, o baile funk que seguiria. e o Muso Gay, Robson. Camarotes foram loEssa parada gay representou A concentração, orgacalizados nas laterais da um importante acontecimento nizada pela equipe de quadra, onde se acomodivulgação do evento, daram os patrocinadores social, que todos queriam começou às 14h de um possuir em seus perfis da rede. – comerciantes da codia ensolarado, na área munidade - de um lado e comercial da Cidade de os famosos de outro. No Deus popularmente conhecida como Kaumarine. centro do espaço, bem próximo ao povo que danAs ruas foram tomadas por uma multidão de çava, estava o pódio do DJ. A localização de ambos pessoas que durante todo o evento permaneceera relevante, já que quando o DJ errava na batida, ram conectadas e publicando fotos nas redes. Por era rapidamente corrigido a delicados berros. este fato, é possível concluir Desde início do evento, foi possível notar a preque além do cunho polítidominância de mulheres, tanto na concentração co, essa parada represenexterna quando dentro da quadra. E nessa fresta tou um importante aconé que se percebe que a aceitação ainda não chetecimento social que todos gou a todos. E mais: mesmo com a alta aderência queriam possuir em seus de moradores à causa, não foi despercebido que perfis. Essa grande aceitafamílias, em sua maioria, enquadradas no título de ção de massas pode dever-se tradicionais, permaneceram à margem, observanem parte à crescente represendo a comoção da parada com um sorriso estático tação da diversidade sexual no rosto e mãos inquietas que não sabiam ao certo nos principais meios de se aplaudiam ou apontavam. comunicação, como teleNaturalmente, esse aspecto foi ignorado pela visão, cinema, etc. grande maioria dos que festejavam. Na verdade, Sacolejar e esbravepareceu que cada espacinho não ocupado por pesjar alegria provavelmente soas que se recusaram por alguma razão à compaforam as palavras de ordem recer a festa, foi melhor preenchido pela exubeaos passistas que levaram a rância e formosura dos dançarinos “purpurinados”. plateia ao delírio, com suas coPor fim, essa parada foi uma grande vitória em direografias e rebolados no palco reção ao respeito e orgulho da diversidade sexual. da quadra da Mocidade Unida E é com muito prazer que posso afirmar: mesmo de Jacarepaguá. Logo após a os conservadores saindo do armário e ameaçando breve, porém memorável trao suado e não de todo conquistado bem estar das vessia dos trios, da multidão e minorias, a aceitação tem que vir do povo, e como de uma caravana de motoqueiros foi testemunhada nesse evento, ela existe. pela Edgard Werneck, a festa foi JADER FRANÇA

Lanna Vieira

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#cultura • CAPA

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Magia literária na CDD

KYR

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ra uma vez um grande casarão azul e branco que numa tarde de Novembro abriu seus portões para uma nobre “Rainha” de nossa sociedade: a literatura. O Instituto Presbiteriano Álvaro Reis de Assistência à Criança e ao Adolescente (INPAR) realizou sua primeira feira literária. O projeto idealizado pela equipe de informática e voluntários do INPAR, contou com o apoio da Developing Minds Foundation e construiu uma rede de comunicação entre a instituição e a região de Jacarepaguá, promovendo uma campanha de doação de livros. Além da divulgação do evento nas plataformas digitais e de convites destinados à integração de outros centros de assistência social da Cidade de Deus.

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A Feira Literária iniciou com um desfile emocionante de voluntários fantasiados de personagens infantis, fazendo com que as crianças presentes se sentissem em um verdadeiro conto de fadas. O evento teve seguimento com uma coletiva de perguntas e respostas, pensada para incentivar a leitura no meio adolescente. A coletiva contou com a participação dos jovens escritores Gabriel Chagas, que apresentou seu livro “O encantador de histórias”, e também com Jefferson Oliveira, autor da obra “Thales Martins e o livro da maldição”. Ainda teve a apresentação de musicais baseados em contos literários dos alunos do INPAR, um stand da Central Única das Favelas do Rio de Janeiro (CUFA), seus grafiteiros e grupos de artesãs. Havia uma estante de trocas de livros


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do Sesi Jacarepaguá e um representante do projeto Aluno Presente, divulgando e informando sobre os procedimentos de matrículas escolares do município. Crianças da comunidade do Salgueiro da Tijuca também marcaram presença e encantaram-se com a montagem de um eloquente Teatro de Marionetes. O encerramento ficou na responsabilidade do Teatro do Oprimido e do Studio Movimentos mais The Black Girls. O primeiro, arriscou uma leitura dramatiKYR zada, a qual abrangia questões sociais. O segundo, mostrou sua ideologia através ma coisa. Representa, portanto, uma valorização de ritmos locais característicos, como o funk e o da leitura e educação na região. Nosso objetivo é hip hop. Com o intuito de incentivar o hábito de que essa valorização na feira (e futura biblioteca) ler, ainda ocorreram doações de livros para todos se estenda para os alunos e suas famílias.” os presentes. Uma das organizadoras, Emilia Sens, Assim, foi dada a largada para implantar no insticontou um pouco de sua tuto e em toda região, o experiência no projeto assunto: livros e leitura, O importante é motivar a criança e o desdobramento do sua importância e relepara leitura, para a aventura de ler. mesmo no futuro: vância para o crescimento Ziraldo “Foi muito legal poe mudança de toda uma der participar da Feira. comunidade. Os organiMe sinto, de alguma forma, responsável por imzadores, garantem, portanto, uma possível sequência pactar positivamente a Cidade de Deus, porque a da FLINPAR (Feira Literária do Inpar) no próximo ano, felicidade e gratidão das pessoas durante o evento além da inauguração da biblioteca na instituição. me surpreendeu muito. Foi muito bonito ver a par Liliane Mynssen e Lucas Ronconi ticipação de todos no INPAR, que valorizam a mes-

THALES HENRIQUE FARO

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A Voz da Rede na Universidade Comunitária da Zona Oeste O projeto A Voz da Rede, da Associação Semente da Vida (ASVI), que ganhou o edital e o apoio do Instituto Rio em 2015, tem participado ativamente das ações realizadas pela Universidade Comunitária da Zona Oeste. A proposta do projeto é capacitar jovens para trabalhar com uma web rádio. O curso teve início em abril e em junho começaram as visitas às instituições que compõem a rede, a fim de conhecer o que cada uma está desenvolvendo. A Coordenadora do projeto, Maria do Socorro concedeu ao nosso Jornal um breve relato de sua experiência: “Tem sido um grande aprendizado, não só para nós enquanto instituição, mas para os jovens, que têm tido grandes aulas, já visitaram e conheceram projetos, como, por exemplo: OCA

Tem sido um grande aprendizado, não só para nós enquanto instituição, mas para os jovens, que têm tido grandes aulas, já visitaram e conheceram projetos Coord. Mª do Socorro (Oficina de Criação Artística) localizada no Retiro dos Artistas, que trabalha com teatro para a “melhor idade”; Raízes de Gericinó, localizado em Bangu, que resgata a história do Bumba Meu Boi, e ficou em primeiro lugar na segunda edição do prêmio Geraldo Jordão Pereira; Coletivo Mulheres de Pedra que fica em Pedra de Guaratiba e trabalha com economia solidária e o mesmo também ficou em primeiro lugar do prêmio Geraldo Jordão Perei-

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DIVULGAÇÃO

ra; marcamos presença na conclusão do Trabalho do Poesia de Esquina nas escolas; fizemos trilha para conhecer o trabalho da ACUCA - Associação Cultural do Camorim; entrevistamos o Instituto Projetar e visitamos o ateliê “As Talentosas da Rede CDD” de economia solidária. Foram muitas visitas importantes para a troca de conhecimento e experiências, que é o objetivo da Universidade Comunitária. O Projeto A Voz da Rede tem deixado os jovens muito entusiasmados com o aprendizado. Essa energia ficou tão intensa que conseguimos ganhar o segundo lugar do Prêmio Geraldo Jordão Pereira. A premiação deixou não só a equipe da ASVI, mas também os alunos cheios de orgulho. Nossa expectativa é que em 2016 possamos dar continuidade ao projeto A Voz da Rede preparando e capacitando jovens para saber a importância da comunicação, principalmente a comunitária.”

Maria do Socorro


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CDD na Tela conquista a gestão da Lona Cultural de Jacarepaguá

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Secretaria de Cultura do Município do Rio de Janeiro, no 1° semestre de 2015, lançou um concurso público, o Edital de processo seletivo de cogestão das lonas culturais do Município de Rio de Janeiro. Os espaços são equipamentos do Município que terão gestões compartilhadas com a sociedade civil que participou deste processo seletivo e foi selecionada. Nosso Jornal não poderia ficar de fora deste momento importante para os jovens do projeto “CDD na Tela”. Eles acabaram de participar deste processo seletivo de cogestão das lonas culturais e ganharam com louvor o desafio. CDD na Tela é um grupo que desenvolve projetos de cinema, TV e promove oficinas de vídeos. Tem também uma TV online comunitária que surgiu em 2012. A Lona Cultural de Jacarepaguá será uma ges-

tão participativa formada por cinco jovens do projeto CDD na Tela, três são moradores da Cidade de Deus e dois do Vidigal. Os novos gestores da Lona são: Diego Cosmitini, Igor Melo Mateus Paz, Romulo Johan e Victor Buhr. Irão administrar a Lona Cultural Municipal Jacob do Bandolim, localizada na Praça do Barro Vermelho, no Pechincha. Os jovens terão grandes desafios. O espaço foi repassado sem equipamentos, sem som, sem luz, com rachaduras e sem um público fidelizado. Estão esperando a verba da Prefeitura sair para remontarem a Lona. Os gestores terão que colocar o espaço para funcionar com qualidade, atender à diversidade das faixas etárias e ter recursos para suprir toda a falta de estrutura encontrada, além de criar uma programação interessante para conquistar o público para a Lona.

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Integrantes do CDD na Tela

Mateus Paz

Igor Melo

Diretor artístico, professor de teatro e audiovisual, publicitário, ator e estudante de cinema, natural de Salvador e de família humilde veio para o Rio tentar um Mestrado, caiu na CDD porque uma tia morava no local. No Rio, estudou teatro, atuou em peças e já trabalhou na TV Globo como editor. Foi responsável por transformar a TV online em oficinas fixas e implantou curso de teatro e de interpretação para TV e cinema.

Diego Cosmentini

Victor Buhr Diretor pedagógico e cursa Produção cultural. Nascido no Rio de Janeiro, passou boa parte da infância e juventude morando em diferentes comunidades de Jacarepaguá, hoje mora no Vidigal. Conhece e trabalha no CDD na Tela desde o início de 2015, quando começou a lecionar na extensão do projeto, em Maricá.

Rômulo Johan 14

Diretor de projetos, é estudante de produção audiovisual. Nascido e Criado na Cidade de Deus. Sempre teve o sonho de aprender audiovisual, e devido ser de família humilde, não teve condições para pagar cursos. Entrou para projetos sociais e ONGs, como Espetáculo, OI KABUM, Agência de Redes Para Juventude. Em 2012 fundou o CDD na Tela, produziu eventos, filmes independentes, videoclipes. Hoje é professor de vídeo e realiza seu sonho de replicar conhecimento através do projeto.

Diretor de relações institucionais, é estudante de Cinema. Nascido e criado no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, hoje é morador do Vidigal. Leciona o curso de Produtos Audiovisual no pólo Maricá na Tela, extensão do projeto CDD na Tela.

Diretor administrativo, é estudante de administração, cursa o 5° período. Nascido e criado na Cidade de Deus, jamais pensou em trabalhar com projetos sociais, mas se apaixonou ao ver que jovens de favela podem sim ser protagonistas de sua vida e da sua comunidade. Está no projeto desde 2012, ano que nasceu o CDD na Tela. Administra todas as oficinas do projeto.


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Entrevista com os novos gestores ANPQV – Qual a importância desta indicação para o grupo CDD na Tela?

Igor Melo – Então, é muito importante, por ser a 1ª vez que cinco jovens administram um equipamento público, coisa que até um tempo atrás não tínhamos. Todos os diretores têm a mesma faixa etária e a mesma função, cargo de diretoria e administração da Lona. Todos são integrantes do CDD na Tela e agora estamos caminhando para que vire uma ONG: “Na Tela, Escola Popular criativa”.

ANPQV – Já pensaram em algum projeto para dar visibilidade aos artistas da Cidade de Deus?

Igor Melo – Sim, nós estamos trazendo o CDD na Tela para a Lona de Jacarepaguá com todos os nossos cursos que a gente oferece no Centro de Referência da juventude (CRJ). A maioria dos grupos que estamos trazendo para a Lona são da Cidade de Deus: o Márcio de Deus com Taekondo e Jiu-jitsu, o coletivo Poesia de Esquina, os Arteiros, entre outros.

ANPQV - Qual o grande desafio deste novo compromisso?

Igor Melo – O maior desafio está sendo reerguer a Lona, facilitar o contato com os artistas, revitalizar o espaço. Iniciamos com a filosofia de portas abertas, quem chegar pode entrar e ficar à vontade. A gente quer que os jovens façam daqui um espaço deles, para conversar,

criar, ler, o que ele desejar fazer. Estamos mobilizando a comunidade local e de Jacarepaguá para juntos pedir uma reforma para a Lona. Ela é muito antiga, precisa ser trocada, ter ar-condicionado e ventilação, tem uma grande rachadura na parede cortando o prédio todo, está muito perigoso e já tem um pedido para o Governo de reforma para a Lona. Queremos um espaço de portas abertas, pintado, seguro, tendo evento toda hora, de fato é um grande desafio.

ANPQV - Como vocês estão vendo a Lona Cultural no futuro?

Matheus Paes – Eu estou vendo a Lona funcionando com pluralidade cultural, pulsando, com circo, teatro, esquetes, atividades grátis, atividades pagas, música, oficinas, feirinhas artesanais, ginástica diária para a terceira idade, e estamos programando aulas de dança para a terceira idade. Estamos fazendo mudança no visual da logo já com o conceito desta nova administração, para refletir a nossa identidade, que é de Jacarepaguá e de todas as artes. Vocês se surpreenderão com o nosso trabalho.

Quer saber mais um pouco? É só acessar cddnatela.blogspot.com Telefone para contato: 2425-4579 E-mail: lonajacarepagua@gmail.com

Valéria Barbosa

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comunicação comunitária

Jornal ANPQV • Cidade de Deus • 2016

Comunicar é deixar o comum falar e ser escutado. Usar das palavras para registro, Contar no tempo ações ou falta das mesmas. Comunicação comunitária é o simples exercício de dar voz ao que é preciso ser dito, Se escrito, é mais bonito, é bem dito, mesmo se quem o diz as letras ainda não consegue juntar. A Notícia Por Quem Vive é apenas O exercício de deixar a Cidade de Deus falar. Uns poucos, que aos poucos se multiplicarão É preciso mais bocas e mãos. É preciso mais olhos nos becos, nas travessas e vielas para se tornarem avenidas. É preciso comunicar o que a comunidade quer e vive por direito diário, testemunho real. Linhas que ultrapassem um jornal. Neste exercício se reúnem alguns faladores, colaboradores, esperando que chegue na pauta novos comunicadores, e assim somente com a persistência e muita dedicação Abriremos a cada encontro uma fala ou um feito daquele representativo cidadão. Valéria Barbosa

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