Reviragita Literária 06 - Março/Abril 2022

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MARÇO/ABRIL 2022

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A Mensagem do Editor

A nossa edição da ReviraGita Literária traz uma homenagem a Páscoa, uma linda época do ano. E também em suas páginas além

de

participações

mais

do

que

especiais de nossos autores também traz artigos, crônicas e um caderno especial de Páscoa. Sejam bem vindos!


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ReviraGita Literária Edição 06 - Março/Abril 2022

Editor: Thiago Guimarães | Contato: poetaltcoletaneas@yahoo.com Diagramação: Cleson Cruz | Contato: cleson@live.com

Todos os textos são de inteira responsabilidade dos autores que os assinam. Contatos com o Poeta Alternativo Coletâneas:

Email: poetaltcoletaneas@yahoo.com Instagram: instagram.com/poeta2976/

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Nauza Luza Martins nasceu em Monção/ MA, reside em Brasília/DF desde 1982. Assistente Social, escritora, poeta e ativista cultural. Livros publicados: Jogo de Palavras/17, Interlúdio Poético/20, Chiado Books; Além dos seus Olhos/21, Ações Literárias. Coautora em 102 Antologias. Organizadora de sete Antologias Poéticas, entre elas: Fantasias de Amor e Poemas ao Pôr do Sol/21 e Amantes da Lua/2022. Membro de várias Academias Literárias e Entidades culturais. Detentora de Prêmios, Comendas, Medalhas e Títulos diversos.

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Ressignificando a Páscoa Nauza Luza Martins

A Páscoa é um momento ímpar para reflexão Contra a desigualdade, o preconceito As mazelas de um mundo adoecido e imperfeito Relembrar que todos somos iguais Ser feliz e respeitado de todos é direito. A celebração da Páscoa atual me inquieta Segue os apelos midiáticos, triste constatação Transforma produtos em objetos de desejo Mantendo as almas reclusas e acorrentadas No cativeiro do consumismo e da ostentação. Desperta sorrisos efusivos em crianças e adultos Com incríveis iguarias, manjares de chocolate Degustadas sem o mínimo entendimento Do milagre que é a verdadeira Páscoa: libertação Sem perspectiva de sua razão de ser, Total disparate. A verdadeira Páscoa deve ser um momento De comunhão com Deus e gratidão Pelo sacrifício de Jesus por nós na cruz Fora dessa perspectiva, Ledo arremedo de celebração Onde tudo se resume a uma passageira ilusão.

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Páscoa


Valeria Coimba, nascida em Santa Maria das Barreiras, Pará, e reside em Paraíso do Tocantins, Tocantins. A paixão pela leitura vem desde a infância, mas a arte escrita começou em 2012, quando ingressou no Instituto de Educação das Irmãs de Maria de Banneux (IEMAB) – Escola Vila das Crianças, onde para fugir da rotina diária e da saudade da família começou a escrever seus sentimentos. É escritora e poeta, com participação em 05 antologias: “Ruas Vazias” da Editora Veloso; “Poesia Agora” da Editora Trevo, “Mania de Doença”, “Fobias” e “Amor sem fronteiras”, ambas pela Poeta Alternativo Coletâneas. É graduada em Administração pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO) e, pós-graduando em Gestão de custos e planejamento estratégico na Unicesumar. Executa pesquisas para o desenvolvimento de artigos e projetos científicos na área de administração de empresas. E-mail: valerialelita16@gmail.com

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A verdadeira

Páscoa

Páscoa

Valeria Coimbra

Na minha época de menina Páscoa era ganhar chocolate O sonhado “ovo de páscoa” Deixava papai e mamãe loucos.

Páscoa é renascimento

Na televisão e nos mercados A data é representada Pelo coelhinho e seus ovos, Assim como na escola… E cresci nessa com essa ilusão.

É o amanhecer de um novo dia

Menina cresceu e a ilusão se foi Não passa de uma artimanha Do comércio lucrar E inovar dentre seus concorrentes.

Páscoa é amor

Páscoa é família

Páscoa é vida nova.

Com mais esperança. De um novo tempo

Com paz, fraternidade e liberdade. De mais oração e comunhão

Menos guerra e autodestruição. Feliz Páscoa!

Mas, páscoa é ressurreição O renascimento de Jesus Cristo Um momento para criar votos E renovar-se na fé. É o renascimento do amor Da paz, da bondade O renascimento de dias melhores E principalmente a mudança em nossos corações.

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Páscoa


Ademar Augusto Dos Santos, 46 anos, Natural de Miguelópolis - SP. Poeta, Escritor, Diretor Social da AIAP. Embaixador da Cultura do Brasil. Membro das Academias: AIAP, Academia Intercontinental de Artistas e Poetas e ABMLP. Academia Biblioteca Mundial de Letras Y Poesia. Com várias obras literárias, entre elas: “Amores e Segredos” (1998); “Quando dois poetas se unem” (2000); “Grandes Poemas Cristãos de Ademar Augusto dos Santos” (2001) e “O Amor Começa na Cruz” (2001), ambos religiosos e publicados simultaneamente. “Psicologia do Amor” A Arte de Viver em Sociedade (2003). “Riacho de Prata” – Conto – (2OO5). “Ao Encontro do Sol” – Conto- (2008); “Rastros de Amor” (2018). Com mais 4600 Mil e Seiscentas Poesias. 08 Livros Publicados Em Sollo e em Parceiras. Com Participações em Diversas Antologias; Premiado com Vários Títulos, dentre eles, Menções Honrosas e mais de 1060 Certificados por participações em Diversos Saraus Virtuais.

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Chocolate e

Camaquiano

Amor

Ademar Augusto dos Santos

Já virou uma Rotina e uma grande Tradição, Justos Comemorarmos, aos Feriados Nacionais. De Janeiro a Dezembro, em Todos estamos Ali, Festejando e Comemorando, pois o que Importa é ser Feliz.

Páscoa chocolate barras bombons

gostosuras guloseimas amamos comer

De todos Nós dois Gostamos, Outros Mais e Outros Menos, Pois Tudo é Festa e Tudo é Farra, Pois Tanto Faz como Tanto Fez, Pois Durante o Ano Inteiro, com Você Eu Festejarei. Um dos Nossos Preferidos, Sem Tirarmos e Nem Pormos, É a Esperada Páscoa, com Chocolate e Amor.

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Páscoa


Aline Bischoff é uma artista paulista independente, que atua em múltiplas linguagens artísticas, tais como: literatura, música, teatro, artes plásticas e visuais. Na literatura a sua preferência é pela poesia. Possui obras publicadas no Brasil e exterior, através de blogs, revistas, jornais, coletâneas, antologias, veiculadas por emissoras de rádio/TV e transformadas em letras de música. Participa ativamente de concursos e festivais, tendo recebido diversas premiações. É embaixadora da Rima Jotabé no Brasil, forma poética criada pelo espanhol Juan Benito Rodríguez Manzanares e colaboradora oficial do blog de produção textual Escrita Cafeína.

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Olhos do Mar

Ígneo

Aline Bischoff

A Páscoa é um momento ímpar para reflexão Contra a desigualdade, o preconceito As mazelas de um mundo adoecido e imperfeito Relembrar que todos somos iguais Ser feliz e respeitado de todos é direito. A celebração da Páscoa atual me inquieta Segue os apelos midiáticos, triste constatação Transforma produtos em objetos de desejo Mantendo as almas reclusas e acorrentadas No cativeiro do consumismo e da ostentação. Desperta sorrisos efusivos em crianças e adultos Com incríveis iguarias, manjares de chocolate Degustadas sem o mínimo entendimento Do milagre que é a verdadeira Páscoa: libertação Sem perspectiva de sua razão de ser, Total disparate. A verdadeira Páscoa deve ser um momento De comunhão com Deus e gratidão Pelo sacrifício de Jesus por nós na cruz Fora dessa perspectiva, Ledo arremedo de celebração Onde tudo se resume a uma passageira ilusão.

Seu olhar ígneo me enleia, Dele não consigo escapar, Em minha alma chama ateia, Inconcebível de explicar.

Seu riso constante a me iluminar, Faz todo meu íntimo se desfazer, Como ondas na praia a arrebentar Nas plenas alvoradas do meu ser. Seu toque firme e enérgico, Vem minha estrutura retesar. Saiba que tu és o único, Por quem me deixo dominar. Seu eu magnético me rege, Tal como o luar ao mar. Teu peito me protege, Seguro a me acalentar. Como areias do deserto Carregadas pelo vento, Tu me conduzes, decerto, Rumo ao firmamento. E nesse céu estrelado, De mãos dadas contigo, Somente ao seu lado Encontro maior abrigo. Ledo arremedo de celebração Onde tudo se resume a uma passageira ilusão.

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Daniela Picchiai é professora universitária, escritora e pesquisadora do campo das narrativas, ativismos e relações. Mestre e doutora em Semiótica. Possui algumas publicações algumas publicações e traduções em revistas de arte, comunicação e gênero. (Art|iculation - Montreal; Primeira Página - Pelotas; TKV, Mallamargens- São Paulo; Revista Subversa- Portugal.)

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Encontro à brasileira Daniela Picchiai

Na rua sem saída Uma obra acontecia. Encurralados no beco, Moradores enlouqueciam. O barulho audacioso Caminhava livremente pelo quarteirão. Enquanto o humano esgotado, Pela rua buscava saída. Foi então, que avistou a polícia. Sorridente e confiante Pensou ter esbarrado na solução. No encontro à brasileira. Se prendeu em seu apartamento enquanto, O barulho corria livre pelo quarteirão.

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Páscoa


Leonardo C. de Campos - Formado em Pedagogia, amante da literatura e do cinema, em especial das obras que englobam mundos fantásticos e aterrorizantes. Iniciou seu caminho na escrita durante a pandemia global, buscando materializar todos os assuntos que ocupam sua mente. Tem contos publicados em diversas antologias literárias e lançou seu primeiro livro “Egrégoras em Conflito: Entidades e Maldições” no início do ano de 2022, pela Tribus Editorial.

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Na sala de aula Leonardo C. de Campos

Na sala de aula, As crianças não se preocupam. Na sala de aula, Os temores se concretizam. Na sala de aula, Os amores também têm vez. Na sala de aula, Bhaskara é o maior dos problemas. Na sala de aula, A vida adulta é um delírio. Na sala de aula, Adesivos valem mais que corretivos. Na sala de aula, O chiclete é iguaria. Na sala de aula, O sujeito da oração não é oculto. E, por mais tradicional que seja, Na sala de aula, O viver vale a pena.

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Páscoa


Kerley Santos Poetisa; Artista; Pós-Doutora em Democracia, Cidadania e Direito pelo Centro de Estudos Sociais de Coimbra, Portugal. Doutora em Psicologia pela PUC-Minas com estágio Sandwich pela Universitat Autônoma de Barcelona – Espanha. E-mail: kerleysantos@gmail.com

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Mais de veranear Kerley Santos

Uma velha expectativa Desejo ardente

Tirar o dia para vaguear

Não é mau, não está mal A distância que separa é

O mar de montanhas que não tem tamanho Um arco-íris no olhar

Passar uma tarde em Itapuã

Nem podia imaginar a surpresa do convite Um dia dez mais um em março Um em um

Olhar de través

Bem devagar e sentindo Desejo que arde

Doce, macio, curioso, arteiro...vivo

abrindo o outono e fechando o verão Sentir uma preguiça no corpo São coisas que apreendi

Valorar o mundo pelo sim e o não do meu paladar

Tempos outros de uma vida em segredo Não é amor, Itapuã É bom ...veranear

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Páscoa


Andréia Rosa Reside em Tracuateua (PA), graduada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa pela UFPA. Especialização em Psicopedagogia pela FPA. Escreve poesias e crônicas. Participou da 5ª edição do projeto poesia na escola, da editora palavra é arte e também participa do site Recanto das letras.

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Resquícios de uma noite de amor Andreia Rosa

De uma noite perfeita, digna de poesia

À meia-luz, o brilho do seu olhar reluzente

Iluminava nossos corpos em perfeita sintonia! Entrelaçados, desejando-se inteiramente.

Seu corpo, seu toque me envolveram com fervor Seus braços me acolhiam com intensa paixão! Sua boca sedenta me beijava com amor

Queimando em desejo, deixei-me guiar pela emoção. Como passe de mágica repousou sobre mim! Embalados ao som de uma linda canção

Envolvidos pela magia do prazer, ficamos assim;

Perdidos no tempo, ouvindo apenas, o ritmo do coração.

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Páscoa


Meu nome é Iran Maceno Dos Santos, também sou conhecido como Fenix Egipte ou Águia DE Saturno. Ocupo a função de Diretor de Coordenação Geral de Mídia na Academia INTERCONTINENTAL DE ARTISTA E POETAS e também sou Embaixador Artístico e Literário Intercontinental. Nasci em 12/12/1958. Sou Brasileiro, nascido no Estado do Rio de Janeiro. Sou poeta, escritor, roteirista e teatrólogo. Amo a Arte! A poesia, o Blues, o Cinema, o Teatro e a literatura são minhas paixões! Na adolescência, fui estudante da Escola de Teatro Federal Martins Pena. Tenho dois livros de poesias editados, “ Oceano de Ilusões” e “Simplesmente... Nós”! Também tenho várias Antologias Editadas. Participo de todos os Saraus de poesias! Não falto a nenhum evento poético, desde adolescente! Comecei escrever com treze anos de idade e nunca mais parei!

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Sou Livre Iran Maceno

A noite, olhando o brilho das estrelas, penso, o quanto minha vida foi negra e não conseguia por mais que quisesse, enxergar, o maravilhoso esplendor da luz. Foram momentos horríveis, inesquecíveis, vivenciados em inexplicável tormentos. Sofrendo calado, insultos e dores ocultas que esquartejavam minha sofrida alma. Hoje, mesmo com cicatrizes sobrevivo, tenho gana e uma forte sede de vida. Algo que eu, antes, nem sabia que existia! Porque eu vivenciava o meu inferno. Essas doridas memórias do Silêncio feito bailarinas góticas, ainda dançam em mim. Eu devia ter rasgado, o meu oprimido peito; e ter deixado a minha garganta vociferar.

Denunciar a sua crueldade e covardia revelando para o mundo inteiro a sua verdadeira e monstruosa face, que para todos cinicamente, você escondia. O nosso relacionamento era o meu calvário e com requinte de sadismo me torturava... Mas, foi numa bela noite bem estrelada que eu, em fuga, coloquei os pés na estrada. Deixei sua cruel pessoa e a dor no passado. Agora, vivo só, porém, com tranquilidade. Durmo em paz, sem receios de ameaças. Não sou mais prisioneiro, trago a liberdade. Não tenho Senhor que me acorrenta e muito menos, um feroz algoz.

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Elisio Faria, professor licenciado em Letras, doutor em Educação, especialista em Literaturas de língua Portuguesa é escritor com obras publicadas e também participa como coautor em coletâneas, revistas, antologias, podcasts, em cenários artístico-literários para divulgar a sua escrita. O compartilhamento de suas representações figuram nas páginas de Escritores Eleutherios, Revista Kapiiuara, Revista Inversos, Revista Fluxos, e ainda publicações compartilhadas constantes das obras: Sobregentes, Parem as máquinas, Cartas a Noel, Rio de Flores e, prazerosamente na Revista Reviragita em sua diversidade textual.

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Alvorecer

Volta à vida Elisio Faria

E surge o Sol, Estrela soberana, Sem pedido de licença, Apaga a escureza. Desponta o dia, Da alegria presente As primeiras horas, Trasladam a tristura d’alma. Ao escuro desalento, Um viço de probabilidade, Promessa de movimento, Um banzo à inorganização! A afoiteza do Sol No irromper matinal, Engendra o dia, Não obstante qualquer tirania!

De sonhos e desejos Nos anseios por melhores dias, Vida que segue! No turbilhão das veredas, Preocupações, desatinos, Sinais de desabamento! Caminhos cruzados, Na adversidades terrenas, Acasos e golpes Mudança de rumo! Com garra e luta, Decretar a Passagem Encontrar a saída. A cada batalha Sobreviver Celebrar a Primavera! Transformar, Renovar a esperança, Iluminar a vida Acender o Sol No ressurgir da fé!

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Angelica Bastarrica, Contadora, 47 anos, casada, 6 pets adotados. Atuo da Área Financeira. Sou do RS, mas moro em SP desde 2005. Cresci lendo poemas e sonetos. Sempre escrevi, mas nunca publiquei, mas recentemente tive um poema (“Sobreviver”) selecionado no concurso Poetize 2022.

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Poeminha do Abraço Apertado

Brisa

Angelica Bastarrica

eu sinto as saudades do mundo saudade quente, fumegante que só a gente sente e sinto tanto

sinto as minhas, as tuas, as nossas que falta eu sinto

por isso eu escrevo este poeminha o meu, o nosso poeminha singelo e belo

pois nele trago o desejo do mundo

e quero com ele te fazer um pedido quero um abraço apertado

o mais forte que conseguires me dar

e vamos chorar, rir e falar coisas sem sentido

de uma forma desmedida

como se fosse a nossa despedida e na ânsia do teu abraço sinto saudades

de tudo que não vivemos

por vezes, meu amor amo-te tanto

amo-te involuntariamente quando respiro

talvez quando durma

amo-te em meus sonhos e na minha realidade

amo-te porque existes amo-te pelo que és

amo a crua forma do teu ser e amo-te ainda mais

também pelo que não és amo-te displicentemente

e nesse amar involuntário meu hábito diário

sou tua voluntária amo-te delicadamente e nessa brisa do amar e mais amar

e amar de novo

amo-te simplesmente

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SINVAL FARIAS nasceu em Fortaleza (1977). Graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará. Cursa mestrado em Estudos da Linguagem na UNILAB. Professor de Língua Portuguesa do Instituto Federal do Ceará - IFCE. No curso da vida, deu corpo a poemas, contos e crônicas, alguns dos quais premiados em concursos literários locais, nacionais e internacionais. Possui textos publicados em diversas coletâneas espalhadas pelas piçarras do mundo. Consta como autor do livro Coisas de sala de aula e outras crônicas (crônica) e Depois de tudo a palavra (poesia).

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Poema de

Poema de amor

amor IV Sinval Farias

esta carta de benquerença preserva a caligrafia do olhar diligente

e do repique curativo dos dedos sobre as articulações

no absorvimento da solidão estavas lá

vestida de aragem

furiosa e cativadíssima à margem dos lábios aconteceu um rio e a vida eclodiu

a vida prometida a vida perene

a vida-crisálida da contrição nesse vernáculo à míngua os ponteiros

sem afetação

dissipei algo do tempo os olhos emergem das faces

e sorvem a memória a fome esquadrinha veios e fluxos

e tudo te reencontra comigo repousam

as ruínas de tua cidade natal em bruma puríssima desejo ter

vertical e afrontoso esse amor

que o espelho amordaça nas paredes lívidas do acaso

reconduzem a palavra ao colo dos orixás

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Beatriz Claus, 26 anos, nascida no interior de São Paulo, na cidade de Itatiba, é arquiteta, artista plástica e poeta. Sempre teve a alma sensível e melancólica de quem só consegue expressar os anseios em forma de poesia. “Se ontem eu fui, hoje não sou mais”.

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Olha Para

O Último

Mim

Adeus Beatris Claus

Enquanto eu vago sozinha Deserta Displicente Ouço uma voz Quase como o aconchego no peito Do abraço afetivo do outro Eu caminho na direção contrária Contracorrente Com meu eu ardente De cerne em seio Dicere ao meio O esquizo ao dente Do entre em entre Não entendi nada Nadei em direção contrária Com medo da verdade Incendiária De que não tenho controle de nada E eles de tudo O show de uivos correm De mim Só de mim Sozinha em centro amolecido Foi se espetar em aguardente E o coração adormecido Finalmente sente As dor de cordas rompendo Marionetes se desfazendo (fantoches) Mas o fim, de longe Nem se compara ao meio O divisor de tudo Sempre foi Você. Eu?

De nó em laço E laço em nó Se desloca de tudo que foi E de tudo que viria a ser De covardia de vida tirada De atraso de vida amarrada O ânsio lhe consome Da cabeça ao baço Do baço ao pé De vida tirada a vida amarrada Se agarra firme A barbantes Cruéis e elegantes Mentiras ditas De quem consegue fazer O fazer tirado De quem nunca chegou A ter Tanto a dizer Mas nada dito.... Só lhe resta O silêncio aflito De seu último adeus.

Lembre-se de refletir sobre os detalhes.

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Páscoa


Sou Bia Santos, uma escritora, fotógrafa e artista independente de vinte anos. Sou apaixonada por combinar as linguagens artísticas e ver o que posso criar com essas misturas. Acredito que isso pode tornar a experiência artística mais intensa para quem lê, ouve ou vê. Publico contos pelo Wattpad, bem como compartilho Fotemas (poemas e fotografias) no Intagram, você pode ver a foto deste poema por lá!

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As feridas que Tomé não viu Bia Santos

Queria te fazer acreditar que como em Cristo há chagas em mim por todo corpo e a maior delas reside bem aqui no meio do peito queria, quando chorasse, que você viesse acudir mesmo sem ferida aberta porque eu eu sangro por dentro é um amontoado de hemorragias internas de sentimentos ruins pesados não, não é sobre o fim do mundo, catástrofes ou traumas por que você só entende de extremos? Um bom dia errado ou a falta dele machucam também e não importa se você não vê a ferida eu ainda sinto ela Queria que quando eu gritasse e pedisse socorro, ajuda por mim ou por outros você parasse tudo as gentes, os carros, o tempo, o mundo – seu mundo e viesse mostrar que se importa que leva a sério mas você só acredita vendo Quisera eu também me despir dos meus sentimentos e te fazer sentir cada um, na contradição e loucura em que se

formam sendo isso impossível, porém, tudo o que tenho, tudo o que posso fazer pra comunicar reside na força das palavras não sou Cristo, não mostro nada aos incrédulos ao contrário, luto diariamente com minha própria incredulidade sobre meus sentimentos um amortecimento que aprendi como vício de um mundo que silencia, abafa finge que não vê eu poderia até me ressentir da sua indiferença mas ela não me é estranha, é o que recebo de tudo e de todos, inclusive de mim na luta interna de negar meus sentimentos e prosseguir toda torta - Felizes os que creram sem ter visto. Se eu te mostrar com essas palavras você promete acreditar?

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Gaúcha, de Restinga Seca/RS. Filha de Mario Cardoso dos Santos e Vilda Kilian dos Santos (im memoriam). É Professora Doutora em Letras, linha de Estudos literários (UFSM/2013), dedicando-se aos estudos da literatura produzida no Rio Grande do Sul, a História e a memória do povo gaúcho e o mito do monarca das coxilhas. Ministrou aulas no ensino médio e ensino superior, com ênfase na área de Literatura. Autora do livro Entre lágrimas e risos: as representações do melodrama no teatro itinerante (2019), adaptação de sua tese de doutorado, que enfoca o circo, o circo-teatro, o melodrama e a história do Teatro Serelepe. É membro da Alpas 21 Academia Literária de Cruz Alta/RS, Academia Internacional União Cultural de Taubaté/SP, da Academia Internacional Mulheres das Letras e da Academia Intercontinental Sênior de Literatura e Arte.

Venho de uma terra de centauros, forjada em batalhas fronteiriças Elaine dos Santos

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Nasci

numa terra de centauros, homens vagos, montados em seus cavalos, andarilhos, tinham a pele um tanto morena, cabelos negros. Com a chegada de castelhanos e portugueses, eles foram chamados índios. Suas tribos, em sua maioria, eram nômades. Conta-se que, em meados do século XVIII, explodiu uma grande luta que opôs castelhanos e portugueses contra os índios, secundados então pelos jesuítas que tinham vindo trazer a fé cristã para esses pagos. A luta era pelos Sete Povos das Missões, redutos em que padres recebiam índios, catequizavam-nos, ensinavam música, artesanato, religião. Do Rio Grande do Sul de hoje, havia o atual porto de Rio Grande, que era uma fortaleza militar, um entreposto entre Laguna e Montevidéu, um lugar para o descanso dos navegantes portugueses e, quiçá, ponto de assalto para navios castelhanos. Sobreviera, contudo, o Tratado de Madrid, celebrado na Europa, entre Espanha e Portugal, e os índios e os jesuítas deveriam abandonar os Sete Povos. Houve peleia, luta renhida. Muitos morreram. Conta-nos Erico Verissimo, no excepcional O tempo e o vento, que, anos antes, havia chegado uma índia, encontrada em trabalho de parto, abandonada à beira do caminho por algum tropeiro paulista que descia ao Rio Grande para a preia do gado. Ela pariu e morreu. O menino que nasceu foi chamado Pedro. Pedro Missioneiro. O primeiro parto que a Literatura – quase épica – gaúcha nos conta é fruto de adultério (os tropeiros eram casados em suas cidades de origem), de violência, de abandono, de solidão. No entanto, nasceu um varão. Anos mais tarde, fugido da destruição dos Sete Povos, Pedro Missioneiro encontrou guarida no pequeno sítio de Maneco Terra, um dos tantos sorocabanos que arriscaram a vida na povoação do Rio Grande. Viviam Maneco, sua mulher Henriqueta, dois filhos e Ana Terra, a filha mulher. Pedro e Ana desejaram-se, amaram-se naquele fim de mundo. Por ter gerado um filho, Pedro foi morto. Ana Terra ganhou o filho, cuidou dele, perdeu a mãe, viu o pequeno casebre ser assaltado por castelhanos, foi estuprada até desfalecer, encontrou o pai, o irmão e dois escravos mortos, enterrou-os. A vida no Rio Grande era feita de mortes e despedidas. As mulheres do Rio Grande, no entanto, precisavam progredir, criar os seus filhos. Pedro Terra foi chamado para a guerra, Ana Terra, a mãe tentou evitar a sua convocação. Não conseguiu e aprendeu, desde então, que o destino das mulheres do Rio Grande era esperar, aprendeu que os poderosos, os estancieiros, fazem guerra e os pobres, os peões, lutam, dão a vida. As mulheres tornam-se responsáveis pela manutenção da casa e esperam, rezam pela sorte/destino daqueles que amam. Resta-lhes o silêncio.

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Pedro Terra regressou das guerras, casou-se com Arminda, o casal teve dois filhos: Bibiana e Juvenal. Bibiana (duas vezes Ana) entregou-se ao amor de Rodrigo Cambará, que vinha da Guerra da Cisplatina, foi traída e, como avó, viveu noites de espera: por vezes, ele estava com amantes; por vezes, ele estava nas jogatinas, mas lhe ensinaram que mulheres “de bem” são fiéis aos seus maridos e ela foi até a noite em que ele veio despedir-se para morrer no ataque ao sobrado dos poderosos de Santa Fé, cidade em que ela nascera, eram os combates da Revolução Farroupilha. Nasci numa terra de lutas, porque, ao final do século XIX, no sobrado Terra Cambará, estava Maria Valéria, a Dinda, aquela que não casou, nem teve filhos, acudia os combatentes da Revolução Federalista: curava feridas, amputava membros necrosados, realizava partos, vinha crianças nascerem mortas. Entrincheirada no velho casarão, ela só queria a paz, seguir cuidando da rotina do casarão, dos sobrinhos, uma vida comum. Auguste Saint Hilaire, o viajante francês, ao passar pelo Rio Grande do Sul, entre 1820 e 1821, teria afirmado que as sulinas eram desprovidas de vaidade se comparadas as demais brasileiras. Mas também referiu que viver por aqui era quase impossível, uma região em que as quatro estações do ano eram sentidas no mesmo dia inviabilizava uma vida com algum requinte. As gaúchas (e os gaúchos) teimaram e enfrentam verão, trovoadas, ventania, quedas de energia elétrica, outono, mais ventania, inverno, quedas bruscas de temperatura, primavera, um clima ameno ao final da tarde para compensar a turbulência do dia. Vaidade? Com esforço! Maria Valéria, ademais, representa outro tempo, as transformações vindas da República que nascia e, no Rio Grande, Júlio de Castilhos, o governador da província, fez votar uma Constituição positivista, calcada no ideário de Augusto Comte: a mulher entendida como rainha do lar (aquela que cuida do marido) e anjo tutelar (aquela que cuida da casa e dos filhos). Ser mulher no Rio Grande do Sul estava fadado a ser um grande desafio – e é! Enfrentam-se cotidianamente inúmeras dificuldades, adversidades, mas se trata de um povo forjado na luta, que, ainda assim, manteve a candura, a fé, a coragem e contribui com o país na esperança de dias melhores.

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Cláudia Gomes Soteropolitana, radicada em Feira de Santana. Doutora em Educação, Mestra em Letras e Graduada em Letras, é escritora, professora e poeta. Publicou Catadora de Versos, Condado Poético, A Mulher e a Rosa e outros poemas de amor, Malu: a bailarina das águas, A Menina do Vestido Amarelo, Leve Bagagem e Enleituramento do texto afro-brasileiro. Organizou VIDAS PERFUMADAS e ESCREVIVÊNCIAS POÉTICAS ESTUDANTIS. Participa de inúmeras antologias. Finalista do Prêmio Ecos de Literatura e do Jabuti 2020. Participa de inúmeras antologias. Ocupa a Cadeira 2 da Academia Metropolitana de Letras e Artes de Feira de Santana.

Emilinho: o pequeno sonhador Cláudia Gomes

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Emílio

, ou Emilinho como chamava a sua avó Pietra, era filho de dona Cotinha e do senhor Almir. Era uma criança de oito anos de idade, o caçula dos cinco filhos do casal de trabalhadores rurais. Apesar de ser muito pequeno, era bem esperto para a sua idade. Já sabia ler e escrever. Já sentia o drama ser negro num país cheio de preconceito. Também conhecia bem de perto o peso da palavra coronavírus. A família do garoto, que sonhava em ser jogador de futebol, morava numa comunidade rural. Todos os filhos maiores do casal já ajudam na lavoura de mandioca, mas o jogador, ou melhor, o pequeno Emílio, tinha dois sonhos: estudar todos os dias e ser um grande craque da Seleção Brasileira. A escola onde Emilinho estudava não ficava muito longe de sua casa. Ele ia e voltava a pé com outros coleguinhas que moravam perto dele. Logo que o Sol nascia, lá estava o garoto tomando banho no quintal da casa. Com um copo de plástico azul, ele pegava a água que a mãe colocava numa grande bacia de alumínio e se banhava. Ali mesmo entre os pés de aroeira e de goiabeira, Emilinho sentia a água fria tocar seu corpo. E para aguentar o frio que o estremecia, dava vários pulinhos e cantava: “O sapo não lava o pé, não lava porque não quer. Ele mora lá na lagoa e não lava o pé porque não quer”. A mãe do garoto sorria e dizia que ele iria acordar os sapos de verdade que estavam dormindo nas lagoas que ficavam ali perto. Ele sorria também e entre um verso da música e outro, dizia que gostava da professora e que ela ensinava várias músicas para ele. Quando retornava da escola, Emilinho já encontrava a mesa posta para o almoço. Mas antes de se sentar com os irmãos e os seus pais para almoçar, o garoto sentava na beira da cama que dividia com dois irmãos e abria o caderno. Ficava ali por longos minutos tentando fazer a tarefa de casa enquanto sua mãe gritava para ele ir almoçar. Em um dia desses, após Emílio chegar da escola, encontrou as duas irmãs mais velhas sentadas no sofá, chorando muito. O garoto guardou sua mochila no quarto e ficou parado na porta, olhando a mesa do almoço, sem prato, sem copo, sem garfo. Não havia mais ninguém em casa. Só eles três. A irmã mais velha, Antonia, de dezessete anos, chamou o irmão para sentar perto delas. Ele foi. As irmãs começaram a conversar com ele. Disseram que a avó materna Pietra tinha passado a noite muito mal e tinha ido para o hospital.

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Emilio, com seus grandes olhos negros, ouvia as irmãs narrarem o drama que a avó estava passando: sem ar, morando muito longe da cidade grande, estava esperando por um leito de hospital. Emilio, com seus grandes olhos negros, ouvia as irmãs narrarem o drama que a avó estava passando: sem ar, morando muito longe da cidade grande, estava esperando por um leito de hospital. Durante as falas e lágrimas das irmãs, Emilinho ouviu também que todas as aulas iriam ser suspensas, pois o coronavírus havia chegado na comunidade deles. Um nó na garganta travou o choro do garoto. Ficou ali, por longos minutos, sem esboçar nenhuma reação. Depois de ouvir tudo sobre a avó, o garoto deixou as lágrimas banharem seu rosto. Não queria perder aquela narradora de sonhos, que contava histórias fantásticas sobre meninos e meninas, sobre a natureza e que, mesmo sem saber ler e escrever, tinha um monte de livros em sua memória. Muitas luas acompanharam os pedidos de Emilinho a Deus. Ele pedia para o coronavírus acabar e que a vacinação ali naquela região chegasse logo. Numa dessas noites, ele adormeceu embaixo de uma palmeira e teve um sonho lindo. Ao acordar com a mãe chamando-o para tomar café, o garoto, todo sujo de terra, sentou no banquinho de madeira perto da porta. E disse: __ Mamãe, eu vi vovó essa noite. Ela estava tão bonita! Disse que era para a gente continuar a se cuidar e que logo, logo tudo isso irá passar. Nesse momento, o senhor Almir entrou na cozinha e antes que ele falasse alguma coisa, dona Cotinha falou: __ Emílio quer falar! O garoto olhou para o pai e repetiu as mesmas palavras que havia dito para a mãe. E acrescentou: __ Vovó disse para a gente ter esperança e que tudo irá ficar bem. Os pais do garoto se abraçaram e repetiram por muito tempo as palavras do filho, pois foram elas que os motivaram a enfrentar a pandemia do coronavírus. Foram elas que deram força para continuarem a lutar para verem seus filhos crescerem e realizarem seus sonhos. Numa tarde fria de junho, lá estava o casal de idosos, dona Cotinha e senhor Almir, sentado à frente da TV para assistirem ao jogo da Seleção Brasileira. Foi uma tarde emocionante para os pais daquele grande jogador que enfrentou, quando pequeno, um inimigo perigoso, muito mais perigoso do que aquele time rival.

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Agnes Izumi Nagashima é paranaense e biotecnóloga com mestrado em Ciências de Alimentos. Já publicou em diversas coletâneas e revistas com algumas premiações e participou de comissão avaliadora de concursos literários. Faz parta da UBT (União Brasileira de Trovadores) Londrina, da Comissão de Autores Literários da WebTV, do grupo de escrita Contopeia e é acadêmica correspondente da Academia Internacional da União Cultural.

Caminhos Agnes Izumi Nagashima

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O tiquetaquear

dos

ponteiros ecoava em sua mente. Sabia que deveria correr contra o tempo. Não era favorável, não era seu amigo. Relógio descompassado. Não poderia corrigir o passado, no entanto, quem sabe alterar o futuro, nas ações de seu presente. Precisava fazer essa viagem o quanto antes. Saiu da cidade repleta de construções de concreto verticais para um bosque denso de árvores. Passos acelerados. O sol era encoberto, não por nuvens, mas pela copa retorcida. A trilha plena de folhas secas misturadas ao solo úmido de orvalho. Dois caminhos se abriram ao final da trilha. “Um vai levar para uma clareira, com um gramado e poderei ver o céu e o outro para um pequeno córrego com pedregulhos verde de limo”. Pensei e ao mesmo tempo me indaguei, como eu poderia saber sobre o que havia no final desses dois caminhos? Era primeira vez que me enveredava por essa parte do bosque. Entretanto, sabia que deveria acelerar para fazer o correto, não poderia ser incauta. O cheiro fresco da terra e as folhas desbotadas dançando em meus pés enquanto caminhava me era muito familiar. Como se já tivesse percorrido esse caminho muitas vezes. “Será que estou em um sonho? Será que realmente estive aqui?”. Pensei que poderia ser alguma pintura em uma exposição de arte ou alguma história de livro que havia lido há muito tempo. Não era possível, cada detalhe e cheiro era como se eu realmente conhecesse. Senti meu coração pulsar acelerado com essa confusão. Se já passei por aqui deve ser algum local seguro. Enquanto decidia em qual das opções seguir, observei um terceiro caminho com difícil acesso, como se apenas uma pessoa tivesse desvendado essa nova opção. As árvores pareciam sussurrar e a brisa parecia me levar para essa desconhecida viagem. Meu lado racional ordenou para que eu voltasse ou seguisse por um dos dois caminhos conhecidos, do córrego ou do campo. No entanto, meu lado aventureiro me fez seguir a brisa. Poderia descobrir alguma outra maravilhosa paisagem. Poderia sair desse sonho nostálgico com essa nova vereda. Enquanto seguia pelo trecho encoberto de névoas, um desejo desbravador me permeou. Também um sentimento de aflição e receio com o relógio ensurdecedor na cobrança. As copas das árvores deixavam o trecho mais escuro e tortuoso. Quanto mais adentrei nessa escuridão, mais barulho de água. “Será que no fim vai dar no cascalho também?” indaguei em voz alta. Segui em frente. Deslizei em um pedregulho limoso e a resposta veio no final da trilha: um penhasco vestido de catarata. Meus olhos se inundaram também. Era daquelas viagens que todos necessitamos de tempos em tempos, seja para essa natureza externa e também para dentro de mim. Os poucos passos nesta terceira trilha, eu sabia, o tempo todo, eram apenas os meus.

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Claíse Albuquerque é natural da cidade de Corumbá – Ms. Formada em designer gráfico e Marketing. Herdou do pai poeta a fascinação pelas palavras, artes e versos. Desde muito cedo conheceu o mundo da literatura através dos poemas e das cantigas de sua mãe. A escritora propõe em seus trabalhos a dicotomia entre a beleza e o horror, tal estilo provem de influências de autores como H.P. Lovecraft, Edgar Allan Poe e personalidades míticas como Michel Gondry, David Lynch e David Bowie.

Os franceses chamam de Reconnaissance Claíse Albuquerque

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Talvez

não seja uma sensação ímpar, uma espé-

cie de paz espiritual ao deixar o celular de lado e permitir-se ouvir somente a

musicalidade da chuva. Um sorriso é inevitável. O relógio marcava quase sete da noite, as luminárias ao longo da rua e a nobre chuvinha decidiam a aqua-

rela da noite. Para um bom observador a simplicidade daquela ocasião brindava um dia turbulento. Ouvir a noite chuvosa fez repousar o corpo exausto e a mente corriqueira.

Eu vigiava cada detalhe da janela de casa, o asfalto molhado, algumas pessoas andando depressa na tentativa de esquivarem da chuva ou até cami-

nhando lentamente sem se importarem em molhar-se. E eu na janela na com-

panhia da minha pequena felina Lucíola olhávamos atenta aos movimentos. Esses instantes de relaxamento e contemplação são terapêuticos, naturalidades assim passam despercebidas, vivemos sempre correndo, olhamos para tudo sem enxergar nada.

Quanto descanso para um breve instante, porém meu celular que esqueci em algum canto da casa começou a chamar, o toque era uma simples canção de

um cantor preferido, a música que estava tocando era “Le grand sommeil” de Etienne Daho, um toque personalizado da minha mãe. Ao invés de atender

rapidamente pensei, “música francesa, amo!”, cantarolei alguns versos, desempoerei meu francês. Depois atendi a chamada, minha mãe havia ligado

para me desejar bom descanso e dar beijinhos de boa noite. Finalizei a chamada e agradeci por mais esse dia que havia se encerrado. E cantando os trechi-

nhos de “Le grand sommeil” lembrei de um termo bonito, gratidão, o que costumeiramente os franceses chamam de reconhecimento, “Reconnaissance”.

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Fernando Manuel Bunga é um haicaísta angolano, nascido aos 04 de outubro de 1997 na Província de Uíge, em Angola onde reside. Dedica-se ao estudo e a prática do haicai tradicional. Seus haicais e haibuns são publicados em revistas e jornais brasileiros. fernandobunga8@gmail.com

Haibun Fernando Manuel Bunga

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O jovem

poeta caminha descontraído pela cidade, entre becos e curvas chega ao jardim

em frente do governo provincial, acomoda-se num dos assentos, liga o Wi-fi

para desfrutar da internet livre, francamente! desliga o wi-fi e devolve o tele-

fone no bolso. Abre os braços e estica os pés para tomar um banho de sol, com os olhos fechados, dá um ah! contínuo e busca na memória o melhor da vida

pensando só em coisas boas. Agora faz o caminho de volta, chega a casa e vai

ao banheiro tomar um banho de água fria. Longe dos holofotes: canta e dança enquanto banha-se. Já no quarto e sobre a cama, toma providência para a aula de hoje lendo com antecedência a matéria, passados alguns minutos

fecha os materiais, pega o comando do televisor e liga-o, no canal de desporto vai apresentando WWE...

Luta livre de inverno - Dois homens de calcinhas lutam por um cinto

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Eliana Hoenhe Pereira, natural de Cruzeiro-SP. Professora e psicóloga clínica. Pós graduada em Psicopedagogia e Terapia Familiar. Escritora e poetisa. Autora de livros e coautora de antologias. Acadêmica da ACLA (Academia de Letras e Artes de Cruzeiro) e FEBACLA( Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes. Colunista do Jornal Rol Cultural.

A década de 20 e as Conquistas Literárias Eliana Hoenhe

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A década de 1.920

é marcada por grandes mudanças no mundo ocidental provavelmente como resultado do fim da Primeira guerra mundial e da Gripe Espanhola. O desenvolvimento econômico, cultural e tecnológico despontou em países da Europa e Estados Unidos e o estilo de vida americano dominou o mundo. Foi a era das inovações tecnológicas, do rádio e do início do cinema falado e da liberdade de cultura, valores e costumes sociais. Assim começava a luta pelos direitos da mulher para se libertar das amarras de preconceitos com manifestos de luta e conquistas. Os espartilhos já não eram tão importantes e deram espaço para os cabelos curtos, vestidos decotados e lábios vermelhos. Brilhavam no cinema Greta Garbo, Rodolfo Valentino e Charles Chaplin com seu personagem Carlitos. Parte do Brasil, país extremamente fechado culturalmente, estava de mudança para as cidades por conta da industrialização crescente. O evento “Semana da Arte Moderna”, de 11 a 18 /02/1.922, é realizado no Teatro de São Paulo. Foi um marco do moderno momento definidor de um novo conceito de cultura brasileiro e novo estéticas das vanguardas que despontavam como o próprio modernismo e sua aproximação com a cultura popular que se revela no encontro de intelectuais, artistas plásticos, arquitetos, músicos, poetas e escritores contando com a participação de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Plínio Salgado, Manuel Bandeira e Tarsila do Amaral que, embora não tenha participado ativamente, tornou se o grande nome das artes plásticas do modernismo. Em 1921, Monteiro Lobato, escritor, publicou “Narizinho Arrebitado”. E, em “Cidades Mortas”, o escritor descreve a decadência do Vale do Paraíba com a queda do ciclo do café. Eles renovaram o ambiente em um país extremamente fechado culturalmente. É nesse cenário que, em 1920, em uma pequena cidade do Vale do Paraíba, cheia de belezas naturais e com manifestações do folclore regional e tradições de festas populares que nasceu Ruth Guimarães que é autora de “Água funda” e encontra-se no patamar de uma grande escritora que vem sendo aos poucos redescoberta.

Fonte de consulta: - taubateano Década de 1.920 - Wikipédia, a enciclopédia livre - https://www. infoescola.com>história - O que aconteceu em 1.920 no Brasil? – https://www.natgeo.pt>2020/01 - Década de 1.920 no Brasil - https: // g1.globo.com>vídeo

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Raquel Lopes Pernambucana, brasileira, poetisa, escritora, é estudante de Língua Portuguesa, pianista, amante das Artes e autodidata pela Escola da Vida. É membro da UBE e de várias academias literárias, com livros de poesia publicados pela editora artesanal Costelas Felinas, no site Amazon e Clude dos Autores.

Resenha sobre o livro O Ensaio sobre a Cegueira Raquel Lopes

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Nobel

de Literatura no ano de 1998, Ensaio sobre a cegueira do escritor português José Saramago, é um livro rico e distinto; apesar do próprio autor considerar a obra como “sendo difícil de ser escrita e realizada sob intenso sofrimento”. O texto flui com certa rapidez, é narrado em terceira pessoa e sem pontuação das frases, um recurso literário que é chamado “ fluxo de consciência”, em nada impede o entendimento do enredo. Interesses pessoais, conflitos internos e externos, o despreparo das autoridades em não saber lidar adequadamente com a epidemia, a luta pela sobrevivência num mundo cego e cruel, são alguns temas que nos fazem refletir ao longo das suas páginas. Uma crítica mordaz ao ser humano. O descortinar da sua própria alma. O ensaio sobre a cegueira é um espelho aos nossos olhos, que enxergando, vemos a luz refletida de nossas ações, onde conhecemos a natureza humana, e do que ela é capaz em momentos de extrema crise.

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Indy Sales é uma escritora da cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Tem 28 anos. É acadêmica de Letras, tem 9 livros publicados, além de participar em várias antologias e revistas literárias. Seus escritos são fortemente influenciados pelos autores ultrarromânticos, simbolistas e góticos.

O BARROCO na Literatura Indy Sales

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Uma escola

literária que propôs ao homem a redescoberta da fé. O Barroco surgiu num período em que a arte ganhava espaço e a filosofia se aprofundava em questionamentos sobre a existência e os conflitos existenciais. Com surgimento no final do século XVI, na Itália, o movimento foi marcado por forte religiosidade, extravagância e apelo aos prazeres sensoriais. Contexto Histórico: Dois fatos históricos marcaram o século XVI: a Reforma Protestante e a Contrarreforma. Conflitos entre católicos e protestantes fizeram com que o Barroco se caracterizasse pela grande religiosidade e o desejo de mundanidade. Basicamente, a aproximação dos opostos. Características do Barroco: - Angústia existencial - Aproximação de opostos (céu x terra; sagrado x profano; material x espiritual…) - Uso marcante de hipérboles e antíteses - Linguagem rebuscada, culta e extravagante - Feísmo: Fascinação pela miséria humana, crueldade, dor e morte. - Versos decassílabos Principais autores: Na Europa: Luis de Góngora, Francisco de Quevedo Em Portugal: Francisco Rodrigues Lobo, Antônio Barbosa Bacelar No Brasil: Bento Teixeira, Gregório de Matos, Pe. Antônio Vieira. Sobre Gregório de Matos, ele também é conhecido como Boca do Inferno, e é o representante máximo do Barroco no Brasil. Sua poesia é dividida em: Lírica, Sacra e Satírica. A seguir um soneto representante da poesia sacra/religiosa deste ilustre poeta:

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A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido;¹ Porque, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada ² Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

1. despido: despeço. 2. cobrada: recuperada.

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R E V I R A G I TA L

I

T

E

R

Á

R

I

VOLUME

06

PÁ S C O A

A



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