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Os Millennials e o carnaval

Marcadas por transformações que têm levado a redução de componentes em importantes segmentos, tais como velha-guarda, baianas e compositores, na busca por uma maior renovação, as escolas de samba, atentas a esta nova realidade, já estudam a mudança de seus estatutos, possibilitando assim, a entrada de sócios e componentes mais jovens. A chamada geração Millennials ou Y, nascidos a partir dos anos 80, e, portanto, a primeira criada com facilidades tecnológicas como computadores, internet, smartphones e redes sociais tem sido a energia mais do que necessária para a sobrevivência destas agremiações tão tradicionais da cultura brasileira.

É bem verdade que o papel dessa juventude não é novidade, uma vez que, aquela que é considerada a primeira das escolas de samba, a Deixa Falar, foi fundada por um grupo de

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de sAMBA

jovens sambistas, dentre os quais ismael silva, quando este tinha apenas 23 anos. Mas de lá pra cá os desfiles mudaram muito e a cada ano as escolas de samba se esforçam para mostrar algo surpreendente na Avenida, algo que esta geração moderna pode ajudar.

Exemplo dessa fluidez no mundo contemporâneo do carnaval é a criação de sambas de enredo criados por meio do aplicativo WhatsApp. A letra e a própria melodia são construídas com a interação a distância entre os participantes. No máximo um ou dois encontros presenciais são marcados para o refinamento do hino que será cantado por quase quatro mil componentes na Avenida. Outra grande mudança nas Escolas de samba está acontecendo nas posições de liderança e gestão. Como exemplos de Escolas de samba que concentram em suas posições estratégicas jovens da geração Millennials estão a Unidos do viradouro, a Mocidade independente de

Padre Miguel e a Beija-Flor de Nilópolis. Nos três casos os jovens Millennials são descendentes de fundadores e de familiares que frequentam as agremiações carnavalescas. E os resultados não demoraram a aparecer. Campeã em 1997 com um dos desfiles mais marcantes da história do carnaval, “trevas! Luz! A explosão do universo”, de autoria do revolucionário Joãosinho trinta, a Unidos do viradouro viveu nos últimos nove anos um sobe e desce constante, mas a vontade de acertar sempre foi um objetivo a ser atingido. Com inovação e ousadia, características típicas dos Millennials, a Unidos do viradouro conectou-se rapidamente as novas gerações, investindo em carnavalescos como João vitor, Jorge Silveira e Edson Pereira, profissionais contemporâneos da era digital que são considerados pela crítica especializada como a geração substituta de nomes como Rosa Magalhães, Renato Lage e Max Lopes. Marcelo Calil, atual presidente da agremiação, e a vice, susie Bessil, enfatizaram após assumirem a Escola que “é importante mostrar a beleza e a grandeza do carnaval, mas isso tem que ser fruto de uma estrutura interna, focando no fortalecimento do todo”. É a lógica do empreendedorismo na busca do crescimento a longo prazo, e que, pelo jeito vem dando certo.

Na Mocidade independente de Padre Miguel a história não foi diferente. Com um passado de títulos nos anos 80 e 90, a escola ficou um longo período sem figurar entre as campeãs, mas em 2017 foi alçada ao título de campeã, junto com a Portela. O seu “Aladim” sobrevoando a Marques de sapucaí, acoplado a um drone, mostrou que tradição, ousadia e tec- nologia podem caminhar juntas e atender as expectativas do público que também mudou, como apontou Rodrigo Pacheco, vice-presidente da Mocidade, logo após o desfile de 2017.

Na Beija-Flor, a entrada de Gabriel David, de 20 anos, causou um certo alvoroço no mundo do samba. Muitos se perguntavam como um jovem poderia comandar uma das Escolas de samba mais consagradas do carnaval. A resposta também veio em forma de título no ano de 2018 e o discurso adotado a partir de então dentro da agremiação é deixar a Beija-Flor mais “leve” e conectada com a atualidade na forma de apresentação, buscando assim uma comunicação mais assertiva com o público.

Claro que essa relação nem sempre é tranquila, mas já existe uma consciência de ambas as gerações sobre o resultado positivo e agregador para as Escolas de samba. Em levantamento realizado pelo Plumas & Paetês Cultural em 2018, verificou-se que a presença dos jovens Millennials já é uma realidade na chamada “periferia do samba” que reúne os desfiles de agremiações na Intendente Magalhães. Em menos de cinco anos surgiram cinco novas agremiações carnavalescas, a Unidos da Barra da tijuca, a imperadores Rubro Negros, a Coração Glorioso, a Guerreiros de Jacarepaguá e a Unidos de Queimados, além de uma associação cultural, a Amigos do samba. todas com jovens presidentes, diretores de carnaval e carnavalescos, ajudando-nos a crer que o samba agoniza, mas não morre.

JOsÉ MAuRiCiO TAvARes é historiador com especialização em arte, cultura, figurino e carnaval

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