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Um laboratório para os artistas da folia
from Homenagem a Wilson Moreira, compositor e sambista brasileiro, suas letras e melodias à arte negra.
ConheçA o CArnAvAl virtuAl
Quantos jovens pensam em ser carnavalescos, intérpretes, compositores e ingressar no mundo das escolas de samba, mas não sabem como? A dificuldade de realizar esse sonho afasta muitas pessoas de um evento ainda marcado pela informalidade. O caminho pra atingir esse objetivo é tortuoso, já que não existe uma graduação específica ou receita pronta. Com isso, surgem novos espaços que simulam a folia e suas dificuldades, funcionando como um verdadeiro laboratório para novos profissionais. Um desses exemplos é o chamado “Carnaval virtual”.
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entre agosto e setembro, a alegria carnavalesca ganha as telas dos computadores, aproveitando um período mais “morno” da folia da Sapucaí, reunindo apaixonados pelo samba e criando um lugar de experimentação. As escolas virtuais estão atualmente divididas em duas ligas: a mais antiga é a lieSv (liga das escolas de Sambas virtuais) fundada em 2003, que conta com 22 agremiações atualmente. A outra entidade é uma dissidência da liga original, chamada apenas de “Carnaval virtual”, que já reúne os principais nomes do mundo cibernético. Segundo o presidente Gustavo Wilman, a nova organização “surgiu do desejo de criar uma liga mais estruturada e organizada em um ambiente democrático”.
Para fundar uma agremiação, três funções básicas são exigidas: presidente, carnavalesco e intérprete, que podem ser exercidos pela mesma pessoa, caso você seja multitalentoso. Os desfiles são formados pelos “croquis” de alegorias e fantasias organizados num website, onde estão em julgamento enredo, samba, alegorias, fantasias e conjunto. No júri, profissionais e pesquisadores do carnaval “real”, firmando um diálogo entre as duas festas ao longo do ano.
Neste cenário, as entidades virtuais se tornaram um lugar de experimentação, um ambiente mais aberto à criatividade e menos engessado que as decisões pragmáticas da Avenida de concreto. É um ambiente para a criação de um repertório, explica o carnavalesco (dos mundos “virtual” e “real”), Jorge Silveira: “me apaixonei pela ideia e passei a usar isso como um portfólio, que eu recomendo para a garotada que quer testar os seus conhecimentos”.
O artista é hoje um dos mais bem-sucedidos exemplos de egressos da folia da web. Protagonizou, em 2018, um marco: o enredo da São Clemente em homenagem à escola de Belas Artes já havia sido apresentado, por ele mesmo, na GReSv mocidade, em 2012, marcando esse trânsito das duas folias.
Além do lado artístico, o virtual também permite a quebra das distâncias geográficas, reunindo apaixonados de todo Brasil que sonham chegar ao mundo dos barracões e quadras. um desses exemplos, é leonardo Bora, atual carnavalesco da Cubango. Natural do Paraná, ele ingressou na folia virtual há dez anos, quando ainda não tinha nenhum contato com o carnaval da Sapucaí. A experiência de oitos desfiles na GRESV Pura Soberba lhe deu a bagagem inicial necessária para tentar a sorte no Rio, em 2012. De lá pra cá, integrou comissões, trabalhou para outros profissionais e atualmente faz dupla com Gabriel Haddad, que também já criou para escolas virtuais, como a GReSv Apoteose.
Outro caso de sucesso mais recente é Guilherme estevão, o jovem formado em Arquitetura dá expediente na folia virtual há dez anos, oito deles na GReSv Ponte Aérea, onde já foi bicampeão. Atualmente, é assistente e desenhista não só dos principais grupos da folia carioca (como Porto da Pedra e Renascer), mas também em São Paulo e uruguaiana. O longo currículo foi conquistado através da bagagem na grande rede: “eu nunca ofereci meu trabalho, as pessoas me procuraram por conhecer meus desenhos e minha trajetória no carnaval virtual”, explica. Já Gustavo Wilman e Ailson Picanço formam uma parceria de compositores iniciada na web e que já disputa em escolas reais do Rio e São Paulo, provando que este processo não se restringe ao âmbito plástico-visual.
Consolidando o intercâmbio entre as duas folias, o carnaval virtual mostra que, além de uma brincadeira séria de apaixonados e um laboratório para os pretensos artistas, a distância entre as folias real e virtual pode ser menos uma diferença de suporte e mais uma questão de tempo.

Por: tiago ribeiro eu gostava muito de jogar bola, mas minha mãe reclamava muito. Saía de manhã, jogava minha pelada até meio dia”.