Plant | Edição 3

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Ag Economia

I

magine uma frota de três navios. À frente, segue uma nau de madeira, do tempo das caravelas, que, apesar do peso dos anos e da tripulação reduzida, navega veloz empurrada por ventos vindos da Ásia. O barco é antigo, sua liderança causa certo embaraço aos demais, mas, visto de perto, tem a bordo tecnologias surpreendentemente sofisticadas e navegadores altamente conectados com o que há de mais moderno. Atrás dele, com os motores superaquecidos, segue um navio novo, lotado de marinheiros pouco qualificados, que não parecem saber lidar com a calmaria. Fechando o cortejo, vai uma outrora vistosa embarcação de aço, precocemente envelhecida, soltando fumaça e praticamente à deriva. O que você faz diante desse quadro? Libera a caravela para abrir distância e lhe oferece apoio na chegada a portos estrangeiros? Ou trata de segurá-la até que os dois navios mais novos, porém mais lentos, consigam resolver seus problemas e deem um jeito de, talvez, alcançá-la? Batize esses barcos, respectivamente, de Agro, Serviços e Indústria e teremos uma descrição razoavelmente fiel do momento vivido pela economia brasileira, bem como do (falso) dilema estratégico apresentado ao País. Não é de hoje que o setor agropecuário lidera o crescimento econômico nacional. Porém, com a recessão prolongada do último triênio e a colheita ruim em 2016, o mar ficou tão revolto que a diferença de velocidade deixou de ser notada. Agora, com uma

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supersafra de mais de meio trilhão de reais a caminho, e a expectativa de que o PIB do agronegócio cresça até 4%, contra 0,7% da economia como um todo, o Brasil se reencontra com uma de suas características definidoras: a agrodependência. E precisa decidir o que fazer dela. Segundo levantamento feito pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e divulgado em fevereiro, a produção de grãos baterá novo recorde no Brasil, devendo chegar a 219,1 milhões de toneladas na safra 2016/17 – 17,4% a mais que os 186,6 milhões de toneladas da safra anterior. Com base nesse número, encorpado pelas demais lavouras e pela pecuária, o Ministério da Agricultura prevê que o setor vai injetar R$ 546 bilhões na economia neste ano – R$ 15 bilhões a mais do que em 2016, quando o clima não ajudou. Uma colheita dessas proporções certamente ajudará tanto na recuperação da economia quanto na queda da inflação. Com a oferta de alimento barato, crescem as chances de ter o IPCA abaixo da meta de 4,5% e o espaço para ampliar o processo de corte de taxas de juros. Há quem argumente que a produção rural (da porteira para dentro) representa apenas 5% do PIB brasileiro e, portanto, não é lá tão relevante para as contas nacionais. Contudo, da prancheta do cientista que desenvolve uma nova variedade de semente até a gôndola do supermercado, o setor representa cerca


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