Edição 48

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

O AGRO QUE ALIMENTA A INDÚSTRIA

Como o setor bioenergético impulsiona a reindustrialização do País

ESPECIAL COP30

Em Belém, o Brasil quer provar que floresta em pé também gera lucro

AS PICAPES ABREM CAMINHO POR QUE ELAS SE TORNARAM COMPANHEIRAS INSEPARÁVEIS DO PRODUTOR

O RISCO DA PIRATARIA

USO ILEGAL DE SEMENTES AFETA A PRODUTIVIDADE DA SOJA

COWBOY DO ASFALTO OS 35 ANOS DO ÁLBUM QUE REINVENTOU

A MÚSICA SERTANEJA

CALOR SOB CONTROLE

Aplicativo protege suínos contra o estresse térmico

Editorial

O AGRO

Em um cenário global marcado por crescentes tensões comerciais, o agronegócio brasileiro se destaca por sua notável capacidade de adaptação. A nova ofensiva tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, inquieta mercados globais – mas, ao contrário de setores mais vulneráveis, o agro nacional demonstra estar pronto para enfrentar os ventos do protecionismo econômico.

Há diversas razões para isso. Nos últimos anos, o Brasil fortaleceu laços com parceiros estratégicos como China, países do Oriente Médio e do Sudeste Asiático. Atualmente, a pauta exportadora agrícola não depende excessivamente dos Estados Unidos, o que reduz a exposição a sanções, cotas e sobretaxas que Trump quer instaurar.

Além disso, o campo brasileiro responde com produtividade entre as mais altas do mundo. Isso não ocorre por acaso. Inovação em biotecnologia, agricultura de precisão e práticas regenerativas têm elevado os padrões de produção, mantendo a competitividade mesmo diante de barreiras externas.

Outro fator de força é o crescimento da agenda verde. Enquanto Trump retoma o ceticismo climático e ameaça recuar nos compromissos ambientais, o Brasil se posiciona como potência sustentável. A adoção de práticas agrícolas de baixo carbono, o avanço do etanol e a expansão de bioinsumos são trunfos valiosos em um mercado global que busca alternativas verdes. Ao reforçar sua credencial sustentável, o agro brasileiro não apenas amplia sua competitividade como também conquista um diferencial estratégico diante de países que optam por retrocessos climáticos.

No novo capítulo do comércio internacional, o Brasil está pronto para transformar barreiras em oportunidades.

Boa leitura!

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Diretor Editorial

Amauri Segalla amauri.segalla@datagro.com

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Luiz Felipe Nastari

Comercial

Carlos Nunes carlos.nunes@plantproject.com.br

Sérgio Siqueira sergio.siqueira@plantproject.com.br

João Carlos Fernandes joao.fernandes@plantproject.com.br

Tida Cunha tida.cunha@plantproject.com.br

Arte

Thaís Rodrigues (Direção de Arte) Andrea Vianna (in memorian – Projeto Gráfico)

Colaboradores

Texto: André Sollitto, Evanildo da Silveira, Lucas Bresser, Marco Damiani, Mário Sérgio Venditti, Romualdo Venâncio e Ronaldo Luiz

Design: Bruno Tulini

Produção

Lau Borges

Revisão

Rosi Melo

Eventos

Luiz Felipe Nastari

Administração e Finanças

Cláudia Nastari

Sérgio Nunes

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Impressão e acabamento: Piffer Print

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Mudança polêmica

Comissão Europeia propõe flexibilizar normas para edição genética de plantas

G

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

GGLOBAL

O lado cosmopolita do agro

EUROPA

O FUTURO DAS SEMENTES

Comissão Europeia propõe flexibilizar regras para a edição genética de plantas, reacendendo o debate entre inovação agrícola, segurança alimentar e o risco de concentração de mercado

A Europa é historicamente conhecida por sua legislação rigorosa em relação a cultivares geneticamente modificados. O cultivo é proibido na maioria dos países do bloco, e os alimentos passam por exigentes protocolos de testes e rastreabilidade para garantir que sejam produzidos com técnicas convencionais. No entanto, com o avanço e a popularização de novas técnicas de edição genética – mais modernas, precisas e seguras, ressalve-se –, a Comissão Europeia estuda a criação de uma nova legislação, mais flexível, que equipare plantas desenvolvidas por esses métodos às cultivares tradicionais. A proposta tem encontrado respaldo entre os governos europeus, que veem nas mudanças uma oportunidade de modernizar a política agrícola do continente sem abrir mão da segurança alimentar.

Recentemente, a Polônia, que ocupa temporariamente a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, realizou uma votação informal para testar a receptividade da proposta de flexibilização das regras sobre edição genética. Pela primeira vez, a maioria dos países sinalizou apoio à desregulamentação. Um exemplo emblemático foi a Bélgica, que havia se posicionado contra a mudança em votações anteriores, mas alterou seu voto após a chegada de um novo governo ao poder.

Uma das principais questões ainda em aberto diz respeito à propriedade intelectual das cultivares desenvolvidas por meio de técnicas de edição genética. Enquanto alguns países defendem a concessão de patentes, o que garantiria aos criadores exclusividade na comercialização das sementes e incentivaria a inovação, outros se opõem, argumentando que isso poderia concentrar o mercado, dificultar o acesso por pequenos produtores e comprometer a diversidade agrícola. A definição desse ponto será crucial para o avanço da nova legislação europeia. Ativistas ambientais têm pressionado pela rejeição da proposta. Para

eles, a medida prioriza os interesses de grandes corporações em detrimento das necessidades da sociedade. Um dos principais pontos de crítica é a possibilidade de concessão de patentes, que, segundo os ativistas, poderia levar à formação de monopólios, elevar os preços das sementes e dificultar o acesso por parte de pequenos agricultores. Há também preocupações relacionadas à saúde.

Pela proposta, uma planta só poderá ser classificada como equivalente à variedade convencional se tiver no máximo 20 alterações pontuais no DNA. No entanto, especialistas argumentam que o número de modificações não é um critério confiável para determinar o risco, e que a segurança depende de outros fatores, como o tipo e a função das alterações realizadas. De qualquer forma, a discussão ainda está longe de um desfecho. O que já se sabe é que qualquer decisão tomada deverá equilibrar interesses conflitantes e dificilmente atenderá plenamente a todas as partes envolvidas.

ESTADOS UNIDOS

O PODER DA CARNE

O ano de 2024 marcou um momento decisivo para o mercado de carne nos Estados Unidos. Segundo o relatório Power of Meat, produzido pelo Fundo Monetário Internacional, o setor movimentou US$ 104,6 bilhões, o maior valor já registrado. O consumo aumentou, com mais famílias comprando carne ao menos uma vez por semana. Embora o preço ainda seja o principal fator de decisão na hora da compra, cresce o número de consumidores dispostos a pagar mais por proteínas de alta qualidade e por soluções que ofereçam praticidade no preparo. O relatório aponta que esse compor-

tamento abre espaço para inovações, especialmente para marcas que destaquem atributos como sabor caseiro, praticidade e qualidade superior. Esses produtos tendem a atrair públicos recorrentes, especialmente em faixas demográficas estratégicas: adultos com filhos, consumidores mais velhos e famílias de alta renda. Outro aspecto em ascensão é a valorização da carne com procedência garantida. A rastreabilidade e o respeito às normas de bem-estar animal estão se tornando fatores cada vez mais relevantes para a decisão de compra. Confira a seguir as principais conclusões do levantamento:

98%

das residências nos Estados Unidos compram carne e frango regularmente

Em média, cada família gasta US$ 870 por ano com esses produtos

27%

dos consumidores afirmam estar dispostos a pagar mais por proteínas de maior qualidade

A frequência de compra também aumentou: em 2024, os lares americanos adquiriram carne em média 54 vezes ao ano, um crescimento de 4% em relação a 2023

O mercado total de carne nos EUA movimentou US$ 104,6 bilhões em 2024, alta de 4,7% sobre o ano anterior

- Desse total, US$ 72,9 bilhões correspondem à carne fresca

- Outros US$ 31,6 bilhões vêm da carne processada

Plant +

IFF APOSTA EM BIOTECNOLOGIA PARA IMPULSIONAR O MERCADO BRASILEIRO DE BIOCOMBUSTÍVEIS

Com tecnologia avançada e soluções flexíveis, a IFF está transformando a produção de etanol no Brasil, maximizando a eficiência das plantas e promovendo sustentabilidade no setor de biocombustíveis

a corrida pela eficiência energética e pela redução de emissões de poluentes, a biociência tem se consolidado como uma aliada essencial na transformação sustentável de processos industriais. No setor de biocombustíveis, ela não apenas otimiza a produção, mas também viabiliza o desenvolvimento de soluções cada vez mais inteligentes. Isso permite que as plantas de etanol aumentem seus rendimentos, reduzam custos e minimizem o impacto ambiental – e tudo isso sem comprometer a eficiência ou a qualidade da produção.

Segundo Mário Cacho, diretor de Vendas América Latina de Grain Processing na IFF, o Brasil é um dos mercados estratégicos globais nesse campo devido ao seu potencial no segmento de biocombustíveis. “Atualmente, 20% do etanol produzido no Brasil vem de grãos, principalmente milho, e essa participação deve crescer nos próximos anos”, afirma.

O executivo lembra que a IFF investe desde 2011 no desenvolvimento de leveduras geneticamente modificadas (GMO, na sigla em inglês). Elas foram projetadas para otimizar a conversão de amido em etanol, aumentar a resistência a altas temperaturas e reduzir a produção de glicerol, um subproduto indesejado do processo fermentativo. “Quando comparamos nossas leveduras GMO com as convencionais, vemos um ganho de até 4,5% na produção de etanol”, diz Cacho.

Um dos grandes atributos da empresa é a plataforma SYNERXIA®, que permite aos seus clientes ter flexibilidade na produção de etanol. A plataforma foi desenvolvida para permitir a alternância entre diferentes tipos de leveduras ou suas

combinações, dependendo das necessidades momentâneas da operação. Isso garante aos produtores a liberdade de escolher a levedura certa para o propósito certo, promovendo um maior controle sobre o processo produtivo e possibilitando o ajuste imediato a variáveis como temperatura, tipo de matéria-prima e condições de fermentação.

A inovação está no centro da estratégia da IFF. A empresa possui cinco laboratórios de pesquisa – dois nos Estados Unidos e outros localizados na Holanda, Dinamarca e China. No caso do Brasil, as demandas energéticas são uma prioridade. Para o mercado nacional, a empresa busca leveduras e enzimas que reduzam os custos de produção e aumentem os rendimentos sem a necessidade de grandes investimentos em infraestrutura.

O futuro do mercado de biocombustíveis é promissor. O Brasil já é o segundo maior produtor de etanol de milho no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e possui uma capacidade crescente de produção, atualmente em 6 milhões de litros anuais. A expectativa é de que esse número ultrapasse 7,3 bilhões de litros em breve, impulsionado pela crescente demanda por combustíveis sustentáveis. Um dos diferenciais do Brasil é o blend de etanol na gasolina, atualmente em 27%, o maior índice do mundo. O programa Combustível do Futuro do governo federal prevê a elevação desse percentual para até 35%, o que abrirá ainda mais oportunidades para a IFF. “Continuaremos investindo para garantir que nossos clientes possam maximizar seus resultados de forma sustentável”, conclui Cacho.

PAQUISTÃO

IRRIGAÇÃO GERA ALERTA AMBIENTAL

Em 2023, o governo do Paquistão lançou a “Iniciativa Paquistanesa Verde”, um ambicioso programa de US$ 3,3 bilhões voltado à modernização da agricultura e ao fortalecimento da segurança alimentar em um país com 240 milhões de habitantes. Um dos pilares do projeto é a construção de uma rede de seis canais de irrigação, que promete levar água a propriedades agrícolas em diferentes regiões e, segundo o governo, transformar áreas desérticas em zonas produtivas. No entanto, o projeto vem gerando controvérsia. Especialistas alertam que os novos canais

podem agravar a escassez de água em cidades do sul do país, já afetadas pela redução dos volumes dos rios – fenômeno intensificado pelas mudanças climáticas. Outro ponto crítico é a falta de transparência em relação aos impactos ambientais da obra, o que tem gerado forte reação de ambientalistas e setores da sociedade civil. Mesmo entre ativistas, há consenso sobre a importância de modernizar a agricultura paquistanesa. No entanto, o apelo é por um processo mais equilibrado, que leve em conta os riscos hídricos e os efeitos sociais de longo prazo.

BURKINA FASO

AUTOSSUFICIÊNCIA EM FOCO

Cerca de 80% da população de Burkina Faso depende da agricultura. No entanto, o uso de técnicas rudimentares e a escassez de equipamentos modernos ainda obrigam o país a importar grande parte dos alimentos consumidos, uma dependência que pressiona as já limitadas reservas financeiras nacionais. Para reverter esse cenário, o governo lançou o programa “Ofensiva Agrícola”, com o

objetivo de alcançar a autossuficiência alimentar. A iniciativa inclui incentivos fiscais para a compra de maquinário, além de programas de capacitação para agricultores, que precisarão adotar práticas de manejo mais eficientes e sustentáveis. O caminho será longo. Para o governo local, garantir a independência agrícola é mais do que uma meta econômica – é uma prioridade estratégica.

MAIS EFICIÊNCIA, NÃO APENAS MOAGEM: MULTINACIONAL DE BIOTECNOLOGIA REFORÇA A IMPORTÂNCIA DO FOCO NA CONVERSÃO PARA COMPETITIVIDADE DO ETANOL BRASILEIRO

A

eficiência na conversão do amido em etanol, e não apenas o aumento da moagem de grãos, será o fator determinante para o cumprimento das metas de produção de biocombustíveis no Brasil. A avaliação é da LBDS (Lallemand Biofuels & Distilled Spirits), multinacional com mais de 100 anos de atuação e líder mundial no fornecimento de soluções inovadoras para o setor de etanol de cana e milho.

A empresa defende um foco maior na eficiência produtiva para diminuição dos custos com insumos e aumento da rentabilidade das biorrefinarias brasileiras.

Pioneira no desenvolvimento e fornecimento de leveduras de alta performance para a indústria de biocombustíveis, a LBDS também tem ampliado sua atuação no mercado de enzimas. A recente aquisição da divisão de enzimas da Basf fortalece essa frente e permite à empresa oferecer soluções integradas que aumentam a produtividade industrial e otimizam a conversão do amido em etanol.

Segundo a Lallemand Biofuels & Distilled Spirits, cerca de 80% do custo do etanol de cereais no País está na matéria-prima, o que torna essencial a adoção de tecnologias capazes de maximizar a conversão e reduzir perdas. “A prática de fermentações com altos sólidos visando aumento de moagem não é nenhum pecado, porém, só é válida quando a biorrefinaria tem a infraestrutura operacional adequada para um processo deste perfil e consegue, assim, associar aumento de produtividade com alto rendimento. Do contrário, a conta não fecha”, explica Fernanda Firmino, vice-presidente de Biocombustíveis da LBDS para a América do Sul.

Eder Bordin, gerente de Tecnologia e Inovação da LBDS South America, reforça algumas considerações de processos importantes em fermentações com altos sólidos: “Um desafio observado pelas biorrefinarias que trabalham com altos sólidos é incapacidade de finalizar as fermentações, que se arrastam para além de 60 horas. Isso resulta em perdas significativas de açúcar residual e, consequentemente, de etanol, reduzindo tanto a produtividade quanto o rendimento. Por outro lado, é possível aumentar a produtividade com fermentações com menos sólidos, e finalizando antes de 60 horas. Deste modo, converte-se o máximo do amido em etanol, e

ainda se ganha em número de bateladas no ano, o que pode levar ao aumento da moagem da mesma forma”, explica Eder.

O Brasil vive atualmente um momento de juros elevados, com a taxa Selic em 14,25% ao ano, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em março de 2025. Essa medida visa conter a inflação acumulada de 4,50% nos últimos 12 meses, ainda acima da meta de 3% estabelecida para o período. Esse contexto pressiona os custos operacionais de toda a cadeia produtiva, especialmente nos setores intensivos em capital, como o de biocombustíveis.

“Nesse cenário de juros altos, principalmente, precisamos espremer o milho, ou seja, extrair o máximo da matéria-prima para fazer mais com menos, e não mais com mais!”, ressalta Fernanda Firmino.

O diferencial das soluções da Lallemand está no foco na conversão otimizada dos cereais, realizada por leveduras biotecnológicas de alta performance, que garantem fermentações rápidas com total aproveitamento, alta produtividade e maior produção de etanol por tonelada de milho processado.

Com presença em mais de 50 países, a empresa reafirma seu compromisso em intensificar investimentos em pesquisa e desenvolvimento para alavancar a produção de etanol sustentável no Brasil. Seus produtos aumentam em até 6% a produtividade do biocombustível, com fermentações mais rápidas, e elevam as margens operacionais para 24,5%, ante 22,9% com leveduras convencionais, sem demanda de novos investimentos em Capex e Opex. É um cenário que favorece a produção de etanol com competitividade econômica e sustentabilidade.

“Nosso legado centenário de inovação, somado à expertise técnica e à produção local, nos permite oferecer soluções robustas e sob medida para impulsionar a eficiência da indústria brasileira”, conclui Fernanda.

A LBDS já é protagonista no setor: responde por quase metade de todo o mercado de biotecnologia aplicada ao etanol de milho no Brasil – e sua tecnologia já está presente em uma parcela significativa da produção nacional de etanol de cana. Com a modernização das biorrefinarias em curso, a empresa está posicionada para um crescimento exponencial nos próximos anos.

PAÍS DE GALES

SALVEM O GADO ANCESTRAL

O gado ancestral do País de Gales, uma raça milenar, de pelagem longa e orelhas proeminentes, típica da região, está em sério risco de extinção, segundo alerta da Rare Breeds Survival Trust (RBST), entidade que monitora espécies ameaçadas no Reino Unido. A redução dos rebanhos vem sendo observada há anos, impulsionada principalmente pela aposentadoria de criadores mais velhos, especializados na manutenção dessa linhagem tradicional. De acordo com a RBST, a raça possui diversas qualidades: é resistente, de fácil manejo, de baixo custo e fornece uma carne saborosa e de alta qualidade. A entidade pede medidas urgentes para preservar a espécie, que, segundo especialistas, pode ter um papel estratégico no futuro da pecuária britânica, especialmente diante da busca por sistemas de produção mais sustentáveis.

EUROPA

SANÇÕES

CONTRA A GUERRA

A União Europeia enfrenta um dilema delicado. De um lado, há pressão para aumentar as tarifas sobre fertilizantes importados da Rússia, como forma de enfraquecer a economia que sustenta o esforço de guerra de Vladimir Putin. De outro, cresce o receio de retaliação por parte do setor agrícola europeu, que depende fortemente desses insumos: cerca de 25% dos fertilizantes usados na região têm origem russa. Segundo os reguladores da UE, manter esse comércio ativo equivale a financiar, indiretamente, a máquina de guerra russa. A adoção de novas

sanções poderia beneficiar a indústria de fertilizantes europeia, estimulando a produção interna. No entanto, o cenário é de incerteza para os agricultores. Embora seja possível buscar fornecedores alternativos, os custos logísticos são mais altos, o que inevitavelmente encareceria a produção e pressionaria os preços ao consumidor final. Apesar da tendência favorável entre os legisladores europeus à imposição das tarifas, a ausência de um estudo de impacto detalhado sobre os efeitos da medida no setor agrícola é motivo de preocupação.

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O ÓLEO QUE AMEAÇA A BIODIVERSIDADE

Nos últimos anos, a demanda global por patchouli, óleo extraído de uma planta da família da menta, disparou, impulsionada por sua fragrância terrosa, muito valorizada na produção de perfumes e colônias. Originária do Sudeste Asiático, a planta tornou-se uma fonte lucrativa para agricultores da região. O preço elevado – US$ 147 por quilo – atrai cada vez mais produtores interessados no cultivo. No entanto, esse crescimento vem acompanhado de impactos ambientais severos. Para abrir espaço às lavouras de patchouli, áreas de

vegetação nativa estão sendo devastadas, comprometendo a biodiversidade local e aumentando o risco de deslizamentos de terra em regiões vulneráveis. Segundo grupos de preservação ambiental, uma das alternativas seria o plantio de espécies mais resistentes e permanentes após o ciclo do patchouli, evitando o abandono da terra e a migração contínua dos produtores para novas áreas. Atualmente, o padrão é extrair o máximo da plantação e, ao fim do ciclo, deixar o solo degradado para trás, uma prática insustentável a longo prazo.

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ATVOS SE CONSOLIDA COMO REFERÊNCIA

GLOBAL EM ENERGIA LIMPA

Com ciclo bilionário de investimentos, companhia aposta em etanol, biometano e SAF para ser protagonista da transição energética

Em um cenário global cada vez mais pressionado pela urgência climática, o Brasil consolida seu protagonismo como potência verde, apoiado em uma matriz energética diversificada e em sua reconhecida expertise no setor de biocombustíveis. O País aposta em múltiplas rotas para liderar a transição energética mundial, a partir do desenvolvimento de diferentes soluções de baixo carbono para se consolidar neste cenário.

No centro desse movimento está a Atvos, uma das maiores produtoras de etanol do Brasil. Atualmente, a companhia conta com oito unidades agroindustriais distribuídas entre os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Juntas, essas plantas têm capacidade para produzir cerca de 3,3 bilhões de litros de etanol, 700 mil toneladas de açúcar VHP e 4,2 mil de GWh de energia elétrica renovável, reafirmando o potencial da biomassa como uma alternativa competitiva e sustentável para a matriz energética nacional. Além disso, também podem emitir 4 milhões de Créditos de Descarbonização (CBIOs) dentro do RenovaBio – programa do governo federal. Em sintonia com as novas demandas da sociedade

e das agendas de mudanças climáticas, a companhia planeja investir R$ 10 bilhões nos próximos oito anos na diversificação de seu portfólio. O pacote prevê o desenvolvimento de projetos focados em novas soluções energéticas, como etanol de milho, SAF – o combustível sustentável de aviação – e biometano. O objetivo é sustentar o crescimento da produção de etanol e biocombustíveis, com ganhos de eficiência e inovação tecnológica.

A primeira planta de biometano da Atvos, em construção em Nova Alvorada do Sul (MS), recebeu investimentos superiores a R$ 300 milhões e terá capacidade para produzir 28 milhões de metros cúbicos por safra. Parte desse volume será utilizada para abastecer a própria frota da companhia e o volume excedente será direcionado para municípios do entorno.

O avanço do setor de biocombustíveis no Brasil ganhou impulso com a sanção da Lei do Combustível do Futuro, que amplia a mistura obrigatória de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel. A legislação também cria incentivos para novas rotas tecnológicas, fortalecendo o papel brasileiro na agenda climática internacional.

ÁFRICA DO SUL

LARANJAS EM RISCO

As tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump, a diversos países vêm provocando impactos significativos em várias economias – e um dos casos mais preocupantes é o da África do Sul. As taxas de 30% sobre a importação de cítricos podem colocar em risco até 35 mil empregos no setor e comprometer severamente a economia de cidades inteiras. Atualmente, a África do Sul é o segundo maior exportador de laranjas do mundo, com 6% de sua produção destinada ao mercado dos Estados Unidos. O problema

é que muitas dessas cidades são dependentes das exportações para o mercado americano, sem alternativas imediatas de diversificação. Segundo a Associação de Produtores de Citrus da África do Sul, a relação comercial com os Estados Unidos não representa concorrência com os produtores locais. Ao contrário, os sul-africanos abastecem o mercado durante o período em que a fruta não está em safra nos Estados Unidos. Embora as tarifas tenham sido suspensas temporariamente, a incerteza permanece.

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A indústria do campo

Etanol gera nova onda de investimento e inovação, colocando o Brasil em posição de destaque global

AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

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Empresas e líderes que fazem diferença

O COMBUSTÍVEL QUE IMPULSIONA A REINDUSTRIALIZAÇÃO

AVANÇOS NO ETANOL DE CANA E MILHO, MODERNIZAÇÃO DE PLANTAS E INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS COLOCAM O SETOR

BIOENERGÉTICO NO CENTRO DA RETOMADA INDUSTRIAL DO PAÍS –COM DESTAQUE PARA A REGIÃO CENTRO-OESTE

Reportagem de Capa

Um poderoso movimento de reindustrialização tem ganhado cada vez mais força graças ao setor de bioenergia brasileiro – com especial destaque para o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho. Na esteira de avanços tecnológicos que permitem inéditos níveis de produtividade e de uma demanda cada vez maior por energia limpa, os grandes players fazem investimentos bilionários em novas usinas e unidades de processamento, na modernização de plantas existentes e na criação de centros de pesquisa e desenvolvimento. Essa realidade é especialmente notável no Centro-Oeste, uma das áreas que mais avançam na produção do biocombustível. Segundo dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA-Empresa), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2012 e 2022 a região apresentou um crescimento de 73% no valor adicionado bruto (VAB, ou aquilo que cada setor agrega ao total da produção) da indústria de transformação, mais que o dobro da média nacional no período. No Sudeste, berço da indústria sucroenergética, o avanço foi de 27%, com destaque para São Paulo, estado que abriga as maiores companhias produtoras de etanol de cana.

O Centro-Oeste também viu na produção de etanol de milho um dos caminhos para consolidar a presença no mapa industrial brasileiro, chegando em 2022 a 6% de participação no valor de transformação industrial (VTI), indicador que reflete a força da atividade industrial e a capacidade das empresas de agregar valor aos seus produtos. Embora ainda distante do Sudeste, que concentra 61% do VTI, o Centro-Oeste se destaca como a região com o maior crescimento industrial neste início de século 21, acumulando expansão de 173% entre 1996 e 2022 (veja quadro). O crescimento do setor não se dá apenas nos indicadores econômicos, mas também na ampliação da base industrial. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que, a partir de 2010, o número de estabelecimentos industriais de fabricação de biocombustíveis cresceu 38%, refletindo o aumento da complexidade e da sofisticação da cadeia produtiva envolvida. “Temos visto volumosos investimentos em novas

Empresas aplicam bilhões na modernização de usinas tradicionais e na construção de novas plantas

tecnologias nas fábricas e nas áreas agrícolas visando não somente a automatização dos controles dos processos e dos equipamentos, mas também sistemas mais complexos de monitoramento e otimização”, afirma Paulo Ziccardi, diretor de Agronegócios da consultoria Accenture. “O resultado é o aumento da eficiência e produtividade tanto em nível industrial como agrícola.”

Empresas como Raízen, Atvos, São Martinho, Tereos e FS têm liderado o movimento de modernização industrial. A Raízen, maior produtora de etanol de cana do Brasil, investiu mais de R$ 2,5 bilhões entre 2020 e 2023 na expansão e modernização de suas unidades industriais. Além disso, a empresa tem apostado fortemente na produção de etanol de segunda geração (E2G), com sua planta em Piracicaba (SP) sendo considerada uma das mais modernas do mundo. O reaproveitamento do bagaço de cana para o E2G resulta em um incremento de até 50% na produção, sem a necessidade de expandir a área de plantio, além de apresentar redução de até 30% nas emissões de gases de efeito estufa em comparação com o etanol tradicional. A Raízen estima que terá 20 usinas de E2G em operação até 2030, fruto de investimentos de cerca de R$ 24 bilhões. Isso deverá elevar a produção de etanol celulósico da empresa para mais de 1 bilhão de litros por ano.

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), o Brasil tem potencial para produzir até 8 bilhões de litros de etanol de segunda geração até 2030, o que representa uma oportunidade única de liderança global em biocombustíveis avançados. Estudos da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) também indicam que o setor poderá gerar até 45 mil empregos diretos com a expansão do E2G, além de atrair investimentos da ordem de R$ 40 bilhões.

Esse potencial se soma aos já vultosos investimentos vistos no setor como um todo. Recentemente, a Atvos, sob a gestão do fundo soberano Mubadala Capital, realizou o maior aporte de sua história, totalizando R$ 4,6 bilhões

Everton Carpanezi, da Tereos: "Avanços tecnológicos permitem decisões mais rápidas e assertivas"

entre 2023 e 2025. O objetivo é aumentar a capacidade de moagem em 30%, passando de 30 milhões para cerca de 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra. Além disso, a empresa busca modernizar suas operações por meio da transformação digital, firmando parcerias com hubs de inovação como o PwC AgTech Innovation, em Piracicaba (SP), e o Área 51, em Ribeirão Preto (SP). A Atvos também investiu na agtech BemAgro, especializada em processamento de dados e relatórios agronômicos, participando de uma rodada de R$ 15 milhões de investimentos. Hoje, a Atvos tem oito unidades agroindustriais distribuídas nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Juntas, essas plantas produzem aproximadamente 2,5 bilhões de litros de etanol por ano, incluindo etanol hidratado, utilizado diretamente nos veículos flex, e etanol anidro, que é misturado à gasolina. Além da produção de biocombustível, a

Investimentos em pesquisa e desenvolvimento tornaram o biocombustível brasileiro referência mundial

empresa também gera cerca de 3,4 milhões de MWh de energia elétrica renovável por ano, a partir da biomassa da cana-de-açúcar. Nos últimos anos, a companhia ainda vem protagonizando importantes investimentos paralelos, como a construção de sua primeira unidade de biometano, em Nova Alvorada do Sul (MS), com aporte superior a R$ 300 milhões e capacidade para produzir 28 milhões de metros cúbicos de biometano por safra.

A Tereos, com forte presença no noroeste paulista, também investiu recentemente R$ 350 milhões na ampliação de sua capacidade de produção e na automação de processos. A empresa opera seis unidades industriais no estado de São Paulo, todas dedicadas à produção de açúcar, etanol e energia elétrica a partir da cana. Na safra 2023/24, essas unidades processaram um total de 21,1 milhões de toneladas de matéria-prima, resultando na produção de 580 milhões de litros de etanol. A companhia, a exemplo de outros grandes players do setor, desenvolve projetos de cogeração de energia elétrica a partir da biomassa, produzindo excedentes que são vendidos ao sistema elétrico nacional e contribuindo para a diversificação da matriz energética.

Segundo Everton Carpanezi, diretor de Operações Agroindustriais da Tereos, a transformação digital na empresa começou em 2016. Atualmente, a companhia utiliza tecnologias como inteligência artificial, big data, advanced analytics e internet das coisas (IoT) para otimizar suas operações. Entre os principais investimentos, destacam-se projetos de digitalização e automação industrial, com sistemas de monitoramento em tempo real, análises preditivas e controle automatizado. O grupo também vem utilizando robôs com inteligência artificial, capazes de detectar e combater plantas daninhas em estágios iniciais, para aplicar insumos de forma precisa e antecipada. A Tereos ainda investe em controle biológico por drones, usando aeronaves autônomas para aplicar agentes biológicos eficazes contra a broca, e no monitoraReportagem de

mento do canavial por aviões equipados com câmeras de alta resolução, que sobrevoam 240 mil hectares por ano. As imagens obtidas são processadas com inteligência artificial para identificar plantas daninhas.

“O avanço das novas tecnologias no setor sucroenergético permite que as empresas tomem decisões de forma mais rápida e assertiva, além de possibilitar o investimento em soluções para otimizar processos”, diz Carpanezi.

“Com a inteligência artificial é possível, por exemplo, monitorar o desenvolvimento da cana, analisar dados climáticos, detectar anomalias no canavial e aumentar a eficiência de equipamentos agrícolas.” O executivo também destaca os avanços em biotecnologia, que permitem investir em variedades de cana mais resistentes ou

desenvolver novos insumos biológicos visando aumentar a produtividade e sustentabilidade.

Ainda no interior de São Paulo, a São Martinho inaugurou um novo centro de pesquisa em tecnologia agrícola e industrial em Pradópolis (SP), com foco em tecnologias 4.0. O centro integra inovações como IoT, automação de campo, análise de dados e aplicação de robótica no processamento industrial da cana.

“Temos avançado significativamente com a adoção de soluções como instrumentação inteligente, sensoriamento físico e virtual, gêmeos digitais, sistemas de controle de processos e controle avançado, Real-Time Optimization (RTO) e ferramentas de analytics voltadas à autonomia operacional, além da eficiência energética e hídrica, pilares fundamentais da

DEMANDA DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS AJUDA

Reportagem de Capa

MUDANÇA NO MAPA ECONÔMICO

A CONTRIBUIÇÃO DE CADA REGIÃO PARA A PRODUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA

Sudeste

1996: 68,4%

2022: 61% - 11%

Sul

1996: 17,4%

2022: 18,1% + 4%

Nordeste

1996: 7,5%

2022: 9,1% + 21%

Centro-

Oeste

1996: 2,2%

2022: 6% + 173%

Norte

1996: 4,5%

2022: 5,8% + 29%

Fonte: IBGE

nossa estratégia de sustentabilidade”, afirma Alessandro Freitas Soares, gerente de Novos Negócios, Relações com Investidores e Comunicação Externa da São Martinho. “Em nossa fronteira de inovação, destacam-se o uso de bacteriófagos no manejo biológico e o desenvolvimento de leveduras cisgênicas, tecnologias promissoras que elevam a performance industrial e contribuem para uma produção mais limpa e eficiente.”

Apenas na safra 2022/23, a São Martinho investiu cerca de R$ 700 milhões em modernização e expansão, com destaque para a implantação de uma usina de etanol de milho em Goiás. O grupo também aplicou mais de R$ 200 milhões em projetos de melhoria operacional, o que representa aumento de 26,7% em relação ao período anterior. De acordo com a empresa, a incorporação de tecnologias emergentes tem sido determinante para o aumento da competitividade e o fortalecimento da sustentabilidade no setor sucroener-

Pesquisas avançam para popularizar biocombustíveis em setores como aviação e transporte marítimo

gético. “A aplicação de inteligência artificial, automação agrícola e biotecnologia tem gerado ganhos expressivos de eficiência operacional, maior controle de custos e uma significativa redução da intensidade de carbono dos nossos produtos”, diz Soares. “Esses avanços estão alinhados ao modelo de economia circular que adotamos, com praticamente 100% dos resíduos sendo reaproveitados no processo produtivo.”

A nova era da indústria do etanol coloca o Brasil em posição privilegiada para suprir a crescente demanda pelo produto em países desenvolvidos, que valorizam especialmente o aspecto sustentável do combustível. Recentemente, a Unica e o Instituto de Economia da Energia do Japão (IEEJ) assinaram um memorando para ampliar a colaboração técnica entre os países na área de biocombustíveis sustentáveis. A nação asiática pretende elevar a mistura

de etanol na gasolina para 10% até 2030. “O Japão quer descarbonizar e o etanol brasileiro é a melhor solução para isso”, disse o presidente da Unica, Evandro Gussi. O executivo também ressaltou que o etanol do Brasil pode ser utilizado além do setor automotivo, especialmente no transporte marítimo e aéreo, com destaque para a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF). Atualmente, o Japão consome 1,5 bilhão de litros de etanol e pode aumentar ainda mais a mistura na gasolina, para 20%, até 2040. No setor aéreo, há uma meta de uso de 10% de SAF em voos internacionais até 2030, o que demandará 1,7 bilhão de litros, majoritariamente derivados de etanol. “Para atender essa necessidade, seriam necessários aproximadamente 2,38 bilhões de litros de etanol por ano”, disse o presidente da Unica.

Atualmente, a maior parte da produção

Setor trabalha ao lado de universidades para desenvolver novas tecnologias e aumentar produtividade

nacional se concentra no Sudeste. O Centro-Oeste, no entanto, também está na vanguarda do setor. O etanol de milho tem se consolidado como um dos pilares da nova industrialização da região. A FS, maior produtora de etanol de milho do País, é o grande expoente desse movimento. Com quatro usinas em operação e planos de expansão para novas unidades, a companhia investiu mais de R$ 3 bilhões na última década. A planta da FS em Lucas do Rio Verde (MT) é uma das maiores e mais modernas da América Latina. Ela tem capacidade de produzir cerca de 530 milhões de litros de etanol por ano, além de gerar 135 GWh de energia elétrica a partir da biomassa de milho. As usinas da FS também produzem óleo de milho e DDG, insumo proteico utilizado na alimentação animal. Essa integração contribui para desenvolver a pecuária regional e diminuir a dependência de produtos importados. Recentemente, a companhia ainda firmou parcerias com universidades e centros de pesquisa para desenvolver novas tecnologias de fermentação e reaproveitamento de subprodutos. Em 2022, a FS também anunciou a criação de um centro de inovação em Sorriso (MT), com foco em pesquisa aplicada e formação de talentos para o setor bioenergético.

Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produção de etanol de milho no estado cresceu 483% entre 2018 e 2023, passando de 775 milhões de litros para mais de 4,5 bilhões de litros anuais. O avanço acelerado tem demandado mais infraestrutura, mão de obra qualificada e equipamentos, o que vem atraindo indústrias de máquinas, metalúrgicas e fornecedores de tecnologia para a região. Só no Mato Grosso, o número de estabelecimentos industriais voltados à transformação de produtos do milho cresceu 112% na

Reportagem de Capa Ag

última década, de acordo com o IBGE.

Além da FS, outras empresas vêm ampliando sua atuação. A Inpasa estabeleceu em 2023 uma nova unidade em Sinop (MT), com capacidade para produzir 540 milhões de litros de etanol por ano. Juntas, as usinas de etanol de milho do Centro-Oeste deverão ultrapassar a marca de 10 bilhões de litros produzidos por ano até 2026, consolidando a região como principal polo brasileiro do biocombustível. Do total de etanol produzido no Brasil em 2024, 7,7 bilhões de litros (21%) tiveram o milho como matéria-prima, um aumento de 32,8% em comparação com 2023. Para Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), a evolução na produtividade industrial posiciona o País como referência internacional. Dados da entidade mostram que, enquanto a produção média dos Estados Unidos varia entre 420 e 430 litros de etanol por tonelada de milho processada, no Brasil esse indicador está em 447,72 l/t, com as usinas do Mato Grosso do Sul produzindo com eficiência média de 455,88 l/t. “A diferença reflete os investimentos em tecnologia de ponta, enquanto parte do parque tecnológico americano trabalha com instalações que não passaram por um processo de atualização”, afirma Nolasco. “Mesmo um leigo, ao visitar hoje as usinas de etanol de milho, pode perceber que elas apresentam alto nível de automação. Basta ver a grande quantidade de telas nos centros de operações, que monitoram de maneira automática os processos e fluxos, usando inclusive sensores para monitoramento preditivo.”

Segundo os especialistas consultados por PLANT PROJECT, o processo de modernização industrial do setor segue forte – e ainda há espaço para muitos avanços. “Cada vez mais iremos ver equipamentos e processos sendo

REGIÃO CENTRO-OESTE ESTÁ NA VANGUARDA DA

operados por sistemas, com grande autonomia, e operadores muito bem treinados para lidar com as novas tecnologias”, afirma Paulo Ziccardi, da Accenture. “Caminhamos bastante em termos de ganhos de produtividade e eficiência, mas há muito espaço para atingirmos novos patamares em ambos, sobretudo pelo maior uso dos dados disponíveis e das correlações entre informações de diversas fontes.”

A incorporação de inteligência artificial é parte desses investimentos. Para extrair o máximo das tecnologias, no entanto, as indústrias ainda precisam superar alguns desafios. Um deles tem a ver com a disponibilidade de redes e infraestruturas de comunicação com capacidade adequada aos volumes de dados, sobretudo no campo e em locais distantes.

“Outro obstáculo ainda é a baixa capacidade de integrar as diversas fontes de dados, realizar análises para entendê-los e extrair insights

aplicáveis na indústria e no campo”, diz Ziccardi.

Além disso, o Brasil precisa superar o gargalo histórico da formação de mão de obra qualificada. Apesar de o setor já operar com profissionais de alto desempenho, há um déficit de “novos cérebros” disponíveis para acompanhar o ritmo de inovação e digitalização das usinas. “As tecnologias estão avançando rapidamente – IA, automação, biotecnologia –, mas o ritmo de formação de profissionais técnicos e engenheiros capazes de dominá-las e aplicá-las ainda não acompanha a demanda”, diz Nolasco, da Unem. “A superação desse desafio passa por parcerias com universidades, programas de capacitação continuada, formação prática e teórica e uma estratégia de longo prazo de retenção de talentos.”

As empresas vêm investindo para tentar reduzir o tamanho desses obstáculos. A Tereos, em parceria com Embratel, Claro e Sol, criou um projeto para ampliar a conectividade no campo

Com mais de R$ 20 bilhões investidos na última década, setor de etanol tornou-se crucial para a indústria nacional

por meio da instalação de múltiplas antenas. A companhia também realiza cursos de capacitação para moradores das regiões onde atua, visando desenvolver habilidades e ampliar mão de obra qualificada nesses locais. “Além disso, estamos sempre avaliando oportunidades para investir em tecnologias que possam otimizar nossas operações e manter eficiência e competitividade”, diz Everton Carpanezi.

aumente a competitividade de produtos renováveis frente às alternativas fósseis.”

Mesmo assim, a sinergia entre agronegócio e plantas de produção, simbolizada pela evolução do setor bioenergético, reforça uma tendência irreversível: a reindustrialização brasileira passa pela bioeconomia. As usinas de etanol, cada vez mais automatizadas e integradas a centros de pesquisa, funcionam como hubs industriais capazes de irradiar desenvolvimento regional. Dados da CNI apontam que, para cada R$ 1 milhão investido em biocombustíveis, são gerados cerca de 35 empregos diretos e indiretos. Com os investimentos acumulados apenas no setor de etanol ultrapassando os R$ 20 bilhões na última década, a contribuição para a indústria nacional é inquestionável. Mais do que combustível, o etanol se torna elemento-chave de uma política industrial que alia sustentabilidade, tecnologia e valor agregado. © Gerado

Outro desafio, segundo representantes do setor, tem a ver com as políticas públicas. “Para ampliar o impacto positivo dessas tecnologias e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, é fundamental fortalecer e expandir programas de fomento ao uso de fontes renováveis, como o RenovaBio e o Combustível do Futuro”, diz Soares, da São Martinho. “Tais iniciativas são essenciais para criar um ambiente regulatório estável e atrativo, que incentive investimentos em inovação e

COM PRESENÇA GLOBAL, CITI PROMOVE A EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Banco com presença em mais de 90 países e 110 anos de atuação ininterrupta no Brasil oferece portfólio completo para viabilizar o crescimento e a internacionalização das empresas, auxiliando o setor a prosperar diante das transformações do agro mundial

Oagronegócio brasileiro vive um cenário de perspectivas positivas. Alta demanda global por alimentos, fortalecimento da agenda energética sustentável e abertura de novos mercados – apesar das incertezas do comércio internacional – colocam os produtores em posição privilegiada. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que a produção de alimentos tenha de aumentar em 50% até 2050 para atender a uma população mundial que deverá chegar a 10 bilhões de pessoas (hoje, somos 8 bilhões). Já a Agência Internacional de Energia (IEA) projeta que a bioenergia – que inclui combustíveis líquidos, gasosos e sólidos – será responsável por 95% do crescimento dos combustíveis renováveis até 2030.

A abertura de 24 novos mercados internacionais no ano passado também ampliou as fronteiras do agro nacional, consolidando o Brasil como um dos principais fornecedores globais. E, após um 2024 marcado por desafios climáticos e oscilações de preços, o setor deve se fortalecer ainda

mais como protagonista da economia nacional e mantenedor da segurança alimentar em escala mundial. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do agronegócio deve crescer 5% em 2025, impulsionado por uma safra recorde de grãos estimada em 322,5 milhões de toneladas, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A concretização de todo o potencial do agro brasileiro só é possível por meio da parceria das empresas com instituições financeiras, que oferecem capital e apoio necessário para o crescimento sustentável e inovação voltada à produtividade. Nesse contexto, o Citi, maior banco americano no Brasil, vem se destacando como um dos principais agentes do setor. Com mais de 200 anos de história no mundo e 110 anos de presença ininterrupta no País, o banco vem atuando estrategicamente para impulsionar o agronegócio brasileiro.

Presente em mais de 90 países, sendo 19 deles na América Latina, o Citi é especialista em viabilizar o crescimen-

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to e a internacionalização de empresas. O Citi Commercial Bank atende a clientes corporativos com faturamento acima de R$ 250 milhões. Com equipe dedicada de profissionais especializados e com conhecimento sobre diversos mercados e corredores de negócios no mundo, o Commercial Bank tem sido aliado fundamental para companhias do agronegócio que buscam não apenas navegar pelas incertezas, mas prosperar com ou apesar delas.

“O Citi possui uma ampla rede global e mantém muita proximidade com o agro no Brasil, desde sua chegada há 110 anos. Sempre conectamos o agronegócio brasileiro com o mundo, iniciando pelo financiamento das exportações de café”, diz André Cury, Head do Commercial Bank do Citi no Brasil e na América Latina. “Estamos juntos não apenas pela relevância do setor na economia, mas também pelas características desse segmento – protagonismo mundial, inovação e sustentabilidade.”

Alinhado à natureza inovadora do agro brasileiro, o Citi Commercial Bank oferece aos seus clientes um portfólio diversificado de produtos e serviços financeiros. Hedge de commodities, soluções de câmbio, cash management, contas internacionais para recebimento de recursos em moeda estrangeira, financiamentos à exportação e importação, antecipação de recebíveis, que são particularmente importantes para o agronegócio, fazem parte das soluções do banco.

Além disso, o Citi é protagonista na oferta de linhas de financiamento à exportação, que permite maior liquidez para as empresas aproveitarem janelas de oportunidade no comércio exterior. Segundo o Ministério da Agricultura, as exportações brasileiras de produtos do agronegócio somaram US$ 164,37 bilhões no ano passado, o que representou 48,8% do total das vendas externas do Brasil em 2024.

O banco também oferece a seus clientes o CitiFX Pulse, plataforma eletrônica que permite a contratação de operações de câmbio de forma eletrônica. A ferramenta oferece acesso em tempo real a cotações de moedas, negociação de contratos, relatórios detalhados e integração com sistemas internos das companhias. Para clientes do agronegócio, que lidam frequentemente com exportações e exposição cambial, o FX Pulse pode facilitar estratégias de proteção contra volatilidade, reduzir custos operacionais e ampliar o acesso a mercados internacionais. Outro destaque é o apoio ao gerenciamento de riscos de mercado. Por meio de operações de hedge de commodities, produtores e exportadores podem mitigar os efeitos da volatilidade nos preços de commodities como soja, milho, açúcar e café. Essa proteção tem se tornado cada vez mais essencial diante de oscilações climáticas e tensões comerciais globais.

Além disso, o Citi é referência em operações estruturadas no mercado de capitais. É um dos principais bancos a coordenar emissões de bonds – incluindo green bonds e sustainability-linked bonds – para o agro, participando de transa-

André Cury: "Sempre conectamos o agronegócio brasileiro com o mundo"

ções como os US$ 300 milhões da Usina Coruripe. Essas operações permitem que empresas aliem captação de recursos com metas ambientais claras, reforçando o compromisso do setor com práticas sustentáveis.

Globalmente, o Citi tem um compromisso de investir em projetos ambientais que contribuam para a economia de baixo carbono e vem trabalhando com os clientes para garantir a segurança energética considerando toda a variedade de caminhos englobados nesses projetos.

No Brasil, o Citi mantém nove escritórios espalhados pelo País: em Ribeirão Preto, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e São Paulo. A partir do trabalho de equipes dedicadas exclusivamente ao agronegócio, o banco combina conhecimento técnico local com expertise internacional. “A capilaridade do Citi Brasil garante que as soluções oferecidas estejam em sintonia com a realidade e dinâmica de cada cliente.” afirma Cury. “Conhecemos as oportunidades e os desafios de cada um de seus negócios.”

Acompanhando de perto temas como a transição energética no campo, agricultura regenerativa e rastreabilidade, o Citi conecta seus clientes às oportunidades que surgem com essas novas demandas. O olhar global é essencial para antecipar movimentos do mercado e se posicionar de forma competitiva. “O Brasil tem a biomassa, o know-how e, cada vez mais, o capital para liderar a transição energética demandada por atores globais de diferentes setores em busca da descarbonização”, diz Cury.

Em um momento em que o Brasil reafirma sua importância como potência agroambiental, contar com o suporte de uma instituição financeira com visão estratégica e soluções completas faz toda a diferença. “O Citi segue ao lado do agronegócio brasileiro, contribuindo para que o setor aproveite suas vantagens competitivas e abra novos caminhos para um futuro mais sustentável e próspero”, afirma Cury.

DA AMAZÔNIA PARA O MUNDO

COM A COP30 EM BELÉM, O BRASIL TEM A CHANCE DE MOSTRAR AO MUNDO QUE É POSSÍVEL CONCILIAR

RETORNO FINANCEIRO COM PRESERVAÇÃO AMBIENTAL, DESTACANDO AS BOAS PRÁTICAS DO AGRONEGÓCIO E ATRAINDO ATENÇÃO INTERNACIONAL PARA SOLUÇÕES QUE MANTÊM A FLORESTA DE PÉ

Por André Sollitto
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Em novembro, os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil. Belém, no Pará, será palco da COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, reunindo chefes de Estado, empresários, empreendedores e lideranças ambientais de todos os continentes. Trata-se de um dos fóruns mais relevantes para a construção de compromissos globais no enfrentamento da crise climática, com o objetivo de viabilizar acordos efetivos, captar recursos internacionais e promover soluções que conciliem desenvolvimento econômico com preservação ambiental. Nas edições anteriores, a COP foi palco de marcos históricos. Na COP3, em 1997, foi assinado o Protocolo de Kyoto, primeiro tratado global com metas obrigatórias de redução de emissões. A COP21, realizada em Paris, em 2015, deu origem ao Acordo de Paris, em que os países se comprometeram a limitar o aquecimento global a menos de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais.

Na COP30, um dos principais desafios será avançar nas negociações sobre o financiamento climático, tema central da COP29 – que, apesar dos debates intensos, terminou sem consenso. O objetivo é estabelecer um acordo robusto para que os países desenvolvidos contribuam financeiramente com as nações em desenvolvimento, possibilitando que todas cumpram as metas definidas no Acordo de Paris. A realização da conferência em território brasileiro representa uma oportunidade estratégica para o País mostrar ao mundo que é possível preservar a floresta e, ao mesmo tempo, promover desenvolvimento econômico e inclusão social. Diversas iniciativas já implementadas por empresas brasileiras comprovam, na prática, que isso é viável. Sob diversos aspectos, o agronegócio nacional tem potencial para assumir um papel de liderança, mostrando exemplos concretos de que a produção sustentável não apenas é possível, mas essencial para o futuro do planeta.

Um dos principais exemplos de que é possível conciliar preservação ambiental, desenvolvimento econômico e inclusão social vem da Agropalma. Em 2001, após visitas técnicas a plantações de palma na Ásia, o governo do Pará retornou com uma proposta ambiciosa: fomentar o cultivo da palma de óleo no estado, com base em boas práticas agrícolas e em um modelo familiar sustentável. A iniciativa deu origem a uma associação de agricultores e envolveu uma pequena reforma agrária no município de Moju. Foram desapropriados 555 hectares, regularizados e doados a famílias da região, que passaram a contar com apoio técnico e estrutura para desenvolver uma nova atividade produtiva.

A Agropalma entrou como parceira estratégica, oferecendo conhecimento técnico e apoio direto na implantação dos cultivos,

A realização da conferência em território brasileiro representa uma oportunidade estratégica para o País

Na COP 30, um dos principais desafios será avançar nas negociações sobre o financiamento climático

incluindo o plantio das primeiras mudas. “No início foi difícil, porque aquela cultura era totalmente nova para a maioria dos agricultores”, diz Antônio Jorge Corrêa, coordenador de Área Agrícola da empresa. “Naquela época, eles viviam da agricultura de subsistência, como o cultivo da mandioca, e também do extrativismo. Derrubavam madeira para vender e praticavam pesca e caça predatórias. Nosso trabalho foi inseri-los em um novo cenário, baseado na produção sustentável.”

O sucesso do primeiro projeto, iniciado em 2002 com 50 famílias, levou à replicação do modelo: o Projeto 2 foi implantado em 2004, e o Projeto 3, em 2005, sempre com foco em geração de renda, uso racional da terra e conservação ambiental. Em

2025, o primeiro projeto da Agropalma completa 23 anos – e os resultados são notáveis. “Em 2002, realizamos um estudo que indicava uma renda média de apenas R$ 200 mensais por família. Em 2024, um novo levantamento mostrou que essas mesmas famílias estão ganhando cerca de R$ 6 mil por mês, já descontadas todas as despesas com amortizações, fertilizantes, insumos, ferramentas e EPIs”, afirma Corrêa.

As transformações vão muito além dos números. As famílias passaram a ter acesso a uma melhor qualidade de vida, com filhos frequentando escolas e universidades, e uma percepção concreta de mudança em seu cotidiano. A Agropalma segue presente no processo, oferecendo suporte técnico

© vladimircech / freepik

contínuo, garantindo a compra integral da produção e fornecendo mudas na época do replantio, que ocorre a cada 12 anos, conforme o ciclo natural da palma. A empresa também assegura que todos os produtores estejam em conformidade com o Código Florestal. Além do impacto social e econômico, os ganhos ambientais também são significativos. Um estudo realizado em 2024 revelou que os produtores familiares do programa conseguiram capturar mais de 2 toneladas de carbono em áreas que antes estavam completamente degradadas.

O projeto evoluiu ao longo dos anos e, atualmente, já soma cerca de 15 mil hectares cultivados dentro do modelo de agricultura familiar. A meta da Agropalma é ambiciosa: expandir essa área para 22 mil hectares nos próximos anos. O sucesso da iniciativa tem atraído a atenção de outras regiões do País instituições de estados como Roraima e Bahia já visitaram o projeto para conhecer de perto sua estrutura e resultados, com o objetivo de implementar programas semelhantes. Além disso, o modelo se mostra versátil e replicável, podendo ser adaptado para o cultivo de outras culturas com alto potencial sustentável, como a macaúba.

O exemplo da Agropalma não é isolado. Em 2023, o Rabobank, em parceria com Suzano, Marfrig e Vale, deu um passo significativo na agenda ambiental ao investir na criação da empresa Biomas, com um aporte conjunto de R$ 80 milhões, ou R$ 20 milhões por empresa. A iniciativa tem como meta preservar e restaurar 4 milhões de hectares de matas nativas nos principais biomas brasileiros – Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado – ao longo das próximas duas décadas.

Apresentado na COP27, no Egito, o projeto Biomas busca se tornar uma referência em restauração ambiental no Brasil. A estratégia prevê a preservação de 2 milhões de hectares de florestas nativas e a recuperação de outros 2 milhões de áreas degradadas, por meio do plantio de espécies vegetais típicas de cada bioma. A expectativa é capturar cerca de 900 milhões de toneladas de carbono, contribuindo de forma decisiva para o combate das mudanças climáticas. “Vimos a oportunidade de atuar como âncora em um

investimento voltado à restauração florestal e de liderar a agenda agroambiental brasileira”, afirma Taciano Custódio, head de Sustentabilidade do Rabobank para a América do Sul.

Com 35 anos de atuação no Brasil, o banco holandês Rabobank tem ampla experiência no agronegócio e se consolidou como um importante financiador de iniciativas voltadas à sustentabilidade no setor. A instituição vem ampliando seu apoio a projetos que promovem negócios verdes entre grandes empresas e produtores rurais. “Nossas iniciativas estão focadas em entender a ocupação do território e em como é possível dissociar o aumento da produção da expansão da área cultivada”, diz Custódio.

Segundo o executivo, os investimentos seguem uma estratégia voltada à resiliência climática e financeira dos produtores, com foco em práticas agrícolas sustentáveis. Atualmente, 100% da carteira do banco é composta por empresas e produtores que adotam técnicas como agricultura de precisão, plantio direto, rotação de culturas e uso de plantas de cobertura, práticas que reduzem impactos ambientais e favorecem a preservação. Para o Rabobank, proteger a natureza vai além da responsabilidade ambiental: trata-se de preservar um ativo biológico essencial para a sustentabilidade dos negócios no longo prazo. Custódio, contudo, lembra que um dos maiores entraves à atração de capital estrangeiro é a frágil implementação do Código Florestal. Um exemplo emblemático é o Cadastro Ambiental Rural (CAR), documento que reúne informações sobre as características ambientais das propriedades rurais, como áreas de preservação permanente e reservas legais.

Apesar de sua importância, os avanços são lentos: até o fim de 2024, apenas 3,3% das propriedades no País haviam tido seus cadastros efetivamente validados. “Com esse nível de insegurança jurídica e fundiária, fica muito difícil atrair investimentos internacionais”, alerta Custódio. Para ele, acelerar a validação do CAR e estabelecer mecanismos eficazes de monitoramento são passos essenciais para gerar confiança nos investidores e destravar o fluxo de recursos sustentáveis para o campo.

Outro grande desafio é expandir o acesso ao crédito e às tecnologias sustentáveis para pequenos e médios produtores, permitindo que também façam a transição para uma agricultura ambientalmente responsável. Com 6 milhões de propriedades rurais e cerca de 4,5 milhões de produtores, o Brasil precisa enfrentar uma missão complexa e de longo prazo: levar inovação a um universo diverso e pulverizado. Ou seja, tornar a sustentabilidade acessível a todos é fundamental para que a transformação do setor não se restrinja a uma elite agrícola, mas se consolide como uma agenda de desenvolvimento nacional.

A resposta para impulsionar o desenvolvimento sustentável da Amazônia pode estar também nos sabores da região. Um exemplo é o chef Saulo Jennings, fundador da Casa do Saulo, restaurante especializado na culinária “tapajônica”, com raízes fincadas às margens do rio Tapajós. O restaurante, que começou em Santarém, hoje tem filiais em Belém, Alter do Chão, Rio de Janeiro e São Paulo. Jennings ganhou projeção internacional ao ser escolhido para preparar o jantar presidencial da COP28, realizada em Dubai, em 2023, e também para cozinhar durante a coroação do rei Charles III. Em setembro do ano passado, o chef foi nomeado o primeiro Embaixador Gastronômico da ONU Turismo, com a missão de representar a culinária amazônica no cenário global. Conhecido por seu talento na cozinha, com pratos emblemáticos como a costela de tambaqui e o “Boto Cor de Rosa”, feito com pirarucu gratinado com queijo e banana-da-terra, Jennings também se destaca pelo trabalho fora do fogão. Ele enxerga a gastronomia como uma poderosa ferramenta de diplomacia cultural, capaz de fortalecer o soft power brasileiro ao projetar a diversidade, os ingredientes e a identidade da Amazônia para o mundo.

Além de cozinhar, Saulo Jennings também atua como articulador de políticas públicas e defensor de iniciativas que valorizem os insumos amazônicos, muitos deles presentes em seus pratos, outros ainda pouco conhecidos fora da região. “Temos alguns dos melhores produtos do mundo, mas que ainda são invisíveis para grande parte do mercado”, afirma. Para ele, é fundamental criar políticas que transformem esses ingredientes em produtos de prateleira,

com atenção a toda a cadeia produtiva, da floresta ao consumidor. Ingredientes como açaí, tucupi, cumaru e puxuri, altamente valorizados na gastronomia, podem ser explorados de forma sustentável, mantendo a floresta em pé.

O desafio, segundo Jennings, está em estruturar um ecossistema de apoio para que o pequeno produtor enxergue o valor dessas culturas e possa se inserir nesse mercado. Isso começa com o acesso ao conhecimento técnico, que pode vir por meio de instituições como a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), passa pela formalização, com apoio de entidades como o Sebrae para a abertura de microempresas, e exige também linhas de crédito acessíveis, que podem ser viabilizadas por bancos locais. “Se esse processo for bem articulado, o pequeno produtor deixa de desmatar em busca de retorno rápido com monoculturas como a soja e passa a preservar a biodiversidade sem abrir mão do lucro”, diz.

Jennings insiste na importância de uma abordagem pragmática: “Temos de usar uma linguagem econômica. Dizer apenas que preservar é melhor soa como discurso de sonhador”. Essa lógica também se reflete na gestão de seus restaurantes, que devem em breve receber um selo verde de emissão de carbono. O desafio, no entanto, é escalar esse tipo de iniciativa e fazer da Amazônia produtiva e sustentável uma realidade para milhares de famílias.

“Os agricultores não precisam de doações –precisam de oportunidades”, afirma Antônio Jorge Corrêa, da Agropalma. Para ele, o avanço da agricultura sustentável depende diretamente do compromisso real das empresas e lideranças com quem está na ponta da cadeia. “Não dá para tratar o agricultor como um experimento. Ele é o elo mais vulnerável do sistema produtivo. Precisamos chegar até ele com projetos concretos, estruturados e viáveis, se quisermos gerar resultados de verdade”, reforça. A COP30 será muito mais do que um encontro diplomático sobre o clima – será uma vitrine para mostrar que o Brasil tem soluções reais para proteger o planeta. Cabe agora demonstrar ao mundo que preservar a floresta e gerar desenvolvimento não são metas conflitantes, mas complementares.

Para os produtores agrícolas do Pará, levamos parceria. Para as comunidades da região,

TORNAR A PALMA SUSTENTÁVEL UMA REFERÊNCIA BRASILEIRA É O PROPÓSITO QUE NOS GUIA EM TUDO O QUE FAZEMOS

Como nosso Programa de Agricultura Familiar e Integrada, que completou 22 anos em 2024. Iniciado com apenas 50 famílias, ele foi pioneiro no mercado da palma de óleo e, de lá para cá, evoluiu junto com nossos parceiros: hoje, soma 374 produtores familiares e 63 integrados. Responsáveis por mais de 23% da nossa produção de frutos, esses agricultores tiveram um incremento de 528% em sua remuneração nos últimos 15 anos, o que garante mais qualidade de vida para suas famílias e desenvolvimento socioeconômico para as comunidades locais. Como acreditamos aqui na Agropalma, nosso Programa de Agricultura Familiar e Integrada é uma prova de que é possível conciliar a geração de renda com a preservação do meio ambiente.

sustentabilidade está em nossa origem

Saiba mais sobre nosso Programa de Agricultura Familiar e Integrada

PORTEIRAS ABERTAS PARA AS PICAPES

HÁ MAIS DE 50 ANOS, ELAS SE TORNARAM TÃO

IMPORTANTES NO AGRONEGÓCIO QUANTO AS MÁQUINAS QUE PREPARAM O SOLO E FAZEM

A COLHEITA NAS PLANTAÇÕES

Aprimeira picape usada no agronegócio brasileiro de que se tem notícia foi a Ford F-75, no início dos anos 1970. A partir dali, o setor nunca mais abriu mão dos veículos com caçamba. Robustos, com suspensão reforçada e a maioria dotada de tração 4x4, eles são úteis e práticos no dia a dia do campo, seja para transportar insumos e equipamentos em seu compartimento de carga, seja simplesmente para fazer a ronda das plantações nas estradas de terra. A relação de mais de cinco décadas é recíproca. O agro corteja o segmento de picapes médias e grandes e as fabricantes retribuem, com o desenvolvimento de versões especiais para as fazendas. As montadoras não escondem que o agronegócio representa a maior fatia de vendas desse tipo de veículo. Por isso, seguem investindo em estudos de novos projetos para que as picapes se tornem ainda mais eficazes em suas tarefas nas áreas rurais. Veja a seguir quais são os modelos de maior destaque no agronegócio e que são companheiros inseparáveis do produtor.

Ford Ranger

A nova geração da Ranger trouxe o maior torque da categoria e aprimoramentos em sistemas como suspensão, freios, recursos de segurança e conectividade

FORD RANGER E F-150

A marca que abriu as porteiras para as picapes no agronegócio jamais deixou de atender o setor. Oferecida a partir de R$ 239 mil, a Ranger é uma das picapes mais tradicionais no mercado brasileiro. A Nova Geração da Ranger trouxe design novo, motorização V6, o maior torque da categoria, e aprimoramentos em sistemas como suspensão, freios, recursos de segurança e conectividade – um verdadeiro divisor de águas no segmento de picapes médias, atraindo mais interesse dos consumidores. Tanto que a Ford aumentou a produção anual para 70 mil unidades por ano, número 15% superior ao do ano passado.

Além disso, a marca investiu US$ 80 milhões na planta de motores de Pacheco (Argentina), que fazem parte de um programa de US$ 660 milhões destinados à Ranger. Os resultados são mais desempenho e economia aos motores 2.0 e 3.0 turbodiesel que equipam as versões do modelo.

A irmã maior da Ranger é a F-150, a picape mais vendida do mundo. No Brasil, ela custa R$ 545 mil e igualmente recebeu melhorias em design, serviços de assistência ao motorista e equipamentos. O poderoso motor Coyote 5.0 V8 de 405 cv, a transmissão automática de dez marchas e a tração integral compõem o pacote de equipamentos feitos sob medida para o agro.

Ford F-150

A picape mais vendida do mundo recebeu melhorias no design, serviço de assistência ao motorista e equipamentos

Ram 3500

A marca exibe em seu portfólio quatro picapes voltadas ao agronegócio: os modelos 1500, 2500, 3500 e rampage

Recentemente, a Ford lançou o conceito

Tremor para suas picapes, que se diferencia pela maior capacidade off-road. “A linha Tremor dispõe de motores mais potentes, altura elevada do solo, suspensão e amortecedores especiais, ângulos de entrada e saída ampliados, pneus todo-terreno, diferencial blocante e protetores inferiores”, enumera Dennis Rossini, gerente de Produto da Ford.

RAM 3500

Se não bastasse uma, a Ram exibe em seu portfólio quatro picapes voltadas ao

agronegócio. A constelação é formada pelos modelos 1500, 2500, 3500 e Rampage. Mas a topo de linha 3500 é a queridinha do produtor rural, ao custo de R$ 550 mil. O motor 6.7 despeja 377 cv, potência que tira de letra o peso de 1.687 kg colocado na caçamba. Quem não abre mão do conforto certamente vai aprovar a cabine requintada, repleta de materiais de primeira, como madeiras nobres e couro natural. Na lista de equipamentos, destacam-se faróis full-led direcionais, estribos elétricos e amplo pacote de assistências à condução.

A combinação dos motores a combustão e híbrido totaliza 437 cv de potência

Chevrolet S10

Equipada com motor turbodiesel, a versão

High Torque carrega até 1.044 kg

BYD SHARK

O elenco de picapes usadas no agro já apresenta uma representante com propulsão híbrida plug-in desde outubro de 2024, a BYD Shark. O modelo importado da China custa R$ 380 mil e a combinação dos motores a combustão e híbrido totaliza 437 cv de potência. A capacidade de carga de 790 kg é inferior à média de 1.000 kg de outras picapes, mas, assim como outros automóveis da fabricante, a Shark prima pela sofisticação dos equipamentos tecnológicos, que ajudam na lida diária do fazendeiro. A lista inclui central multimídia com tela de 12,8 polegadas, câmera 360 graus, duas zonas de ar-condicionado,

aquecimento dos bancos de motorista e passageiro e o sofisticado pacote de assistência ao motorista.

CHEVROLET S10 E SILVERADO

A versão de entrada da Chevrolet S10 sai por R$ 264 mil. No entanto, a configuração High Torque (R$ 324 mil) é a mais valente para o agronegócio, devido ao nível elevado de recursos tecnológicos. Equipada com motor turbodiesel 2.8 de 207 cv de potência, a High Torque carrega até 1.044 kg na caçamba e leva os passageiros com muito conforto mesmo

Silverado

O motorzão 5.3 a gasolina desenvolve 360 cv e leva o veículo a 180 km/h

em caminhos off-road irregulares. Entre os itens de série, ela traz alerta de ponto cego, controle automático de velocidade e sistema de auxílio de emergência OnStar. Se preferir uma picape Chevrolet ainda mais vigorosa, o profissional do agronegócio pode optar pela Silverado, também na versão High Torque. O motorzão 5.3 a gasolina desenvolve 360 cv e leva o veículo a 180 km/h. A tampa da caçamba pode ser aberta por um botão na cabine e é possível acionar uma escada para subir no compartimento mais facilmente. Apesar dos dispositivos de segurança e conforto e das dimensões superlativas – 5,91 metros de comprimento, 2,06 m de largura, 1,94 m de

altura e 3,74 m de distância entre-eixos –, a Silverado não tem caçamba tão generosa, sendo capaz de levar 716 kg.

FIAT TITANO

Depois do sucesso da picape intermediária Toro no mercado nacional, a Fiat avançou no segmento das médias com o lançamento da Titano, que mede 5,33 metros de comprimento, 1,96 m de largura, 1,86 m de altura e 3,18 m de distância entre-eixos. E não para por aí: o ângulo de entrada é de 29° e o de saída é de 27°. O vão da caçamba é capaz de receber 1.020 kg de carga. O motor 2.2 entrega 180 cv e permite

Fiat Titano

Os itens de série reúnem central multimídia, alerta de posição do volante, câmera e assistência ao motorista

Jac Hunter

O porte imponente proporciona um verdadeiro latifúndio para os passageiros do agronegócio se acomodarem

que a Titano alcance 175 km/h. Não se trata de um desempenho primoroso, mas, seguramente, essa não é a prioridade de quem usa o carro nas propriedades. Por dentro, ela é bastante prática, com porta-objetos que somam 27 litros e divididos de forma inteligente para ajudar o motorista. Os itens de série reúnem central multimídia de 10 polegadas, alerta de posição do volante, câmera 360 graus e dispositivos de assistência ao motorista, como alerta de mudança involuntária de faixa.

JAC HUNTER

A estratégia atual da JAC Motors é oferecer

veículos elétricos no Brasil, mas abriu uma exceção com a Hunter, impulsionada pelo motor 2.0 turbodiesel. “Ao preço de R$ 250 mil, ela tem enorme potencial no agro, porque entrega o que o produtor rural precisa: força, resistência e confiabilidade”, diz Thais Grigaitis, gerente de Marketing da marca. A Hunter ostenta a maior capacidade de carga do segmento, com 1.400 kg. O porte imponente – 5,33 metros de comprimento, 1,97 m de largura, 1,92 m de altura e 3,11 m de distância entre-eixos – proporciona um verdadeiro latifúndio para os passageiros se acomodarem. A tração 4x4 assegura desempenho superior em terrenos irregulares, enquanto

Mitsubish Triton

Um de seus diferenciais são os sete modos de direção em pisos distintos: normal, eco, cascalho, neve, lama, areia e pedra

os seis airbags e a classificação máxima nas avaliações de segurança reforçam a integridade dos ocupantes.

MITSUBISHI TRITON

A sexta geração da Mitsubishi Triton é produzida em Catalão (GO), região estratégica do agronegócio brasileiro. Entretanto, ela é recheada de tecnologia japonesa. A carroceria da nova Triton passa a imagem de bravura, com grade frontal larga e para-choque com design agressivo. Com motor 2.4 diesel de 205 cv e compartimento de carga de 1.050 kg, a Triton é vendida nas concessionárias a partir

de R$ 247 mil e um de seus diferenciais são os sete modos de direção (nem todos usados pelo motorista) em pisos distintos: normal, eco, cascalho, neve, lama, areia e pedra.

NISSAN FRONTIER

Em 2026, a Nissan Frontier passará por reestilização com direito à incorporação de mais tecnologia. Enquanto isso não acontece, ela continua sendo uma ótima opção para o agronegócio. Com valor de entrada de R$ 249 mil, a Frontier possui motor 2.3 turbodiesel e tração 4x4, funcionalidade importante para terrenos acidentados. Com caçamba para 1.043

Toyota Hilux

A picape média mais vendida do País tem versões a partir de r$ 255 mil

kg, o modelo também agrega assistentes de controle em subidas e descidas, piloto automático e câmera de ré para estacionamento. Outra novidade anunciada pela fabricante é a Frontier Pro, variação híbrida que deverá estrear no mercado asiático no fim do ano. A Nissan ainda não confirmou se ela virá ao Brasil.

TOYOTA HILUX

A Toyota Hilux é a picape média mais vendida do País. Mesmo assim, a fabricante quer torná-la ainda mais atraente para o

agronegócio. A inovação mais recente foi apresentada no Agrishow deste ano: o protótipo movido a biometano, criado para ajudar na agenda de descarbonização da subsidiária da marca japonesa. Derivado do biogás, produzido a partir de materiais orgânicos como a cana-de-açúcar, o biometano pode ser gerado pelo trabalho de biodigestores – equipamento de tratamento de resíduos orgânicos – em áreas rurais ou nas usinas. Quando entrar em produção, ela vai se juntar às outras versões da Hilux, que partem de R$ 255 mil. O motor 2.8 mostra força e valentia para transportar até 1.000 kg de carga.

VOLKSWAGEN AMAROK

Parece estranho, mas a Volkswagen Amarok tem um pouco – ou muito – da concorrente Ranger. Afinal, ela adota a mesma plataforma da picape da Ford. Esse compartilhamento, porém, ainda não chegou ao Brasil. Apesar das atualizações recebidas no ano passado, o veículo da VW segue com a plataforma anterior. E, diga-se, é digna de o fazendeiro tirar seu chapéu de caubói. As três versões da Amarok – vendidas a partir de R$ 314 mil – são impulsionadas pelo forte motor 3.0 V6, de 258 cv, associado à

Frontier Nissan

Seu motor 2.3 turbodiesel e a tração 4x4 entregam bom desempenho para o campo

Volkswagen Amarok

As três versões da Amarok são impulsionadas pelo forte motor 3.0 V6, de 258 cv

transmissão automática de oito marchas. A carga útil de 1.104 kg comporta muitos utensílios empregados nas lavouras. O fazendeiro a bordo da Amarok tem à disposição piloto automático, sensor crepuscular, computador de bordo e central multimídia de 9 polegadas. Além das caçambas, é impossível falar das picapes do agronegócio sem mencionar o nível de tecnologia, atributo extra exigido pelos produtores. Muito diferente dos veículos mais rústicos de 50 anos atrás – uma trajetória que teve a Ford F-75 como pioneira.

© Divulgação

COMO A PIRATARIA SABOTA A SOJA

USO ILEGAL DE SEMENTES COMPROMETE PRODUTIVIDADE, REDUZ INVESTIMENTOS EM INOVAÇÃO E GERA PERDAS BILIONÁRIAS EM TODA A CADEIA DO AGRONEGÓCIO

Por Romualdo Venâncio

As sementes piratas já ocupam 11% de toda a área plantada de soja no Brasil – e o que mais se colhe com essa prática é prejuízo e insegurança. Os impactos são amplos: apenas para a cadeia da oleaginosa, as perdas somam R$ 10 bilhões por ano. Já os cofres públicos podem deixar de arrecadar R$ 1 bilhão em tributos ao longo da próxima década, caso nenhuma medida seja adotada. Os dados fazem parte de um estudo recente conduzido pela CropLife Brasil em parceria com a consultoria Céleres. A iniciativa busca lançar luz sobre o avanço da pirataria no campo e incentivar a adoção de práticas legais e sustentáveis antes que o problema se torne ainda mais difícil de ser contido.

Ao apresentarem os resultados do levantamento, representantes da CropLife Brasil e da Céleres demonstraram otimismo com as novas possibilidades que se abrem a partir dos dados, ainda que admitam os desafios de enfrentar a pirataria de sementes no setor da soja. “Conhecer bem o problema nos permite dialogar com

o poder público e com os produtores, discutir consequências e construir soluções”, afirmou Eduardo Leão, presidente da CropLife. Para Catharina Pires, diretora de Biotecnologia e Germoplasma da entidade, o momento marca um ponto de virada: “Acreditamos que agora pode ser diferente, graças ao investimento feito neste estudo, que nos dá base para informar e mobilizar o setor”.

Os dados do estudo servem como base para uma nova campanha de conscientização voltada ao setor. No centro da iniciativa está o produtor de soja. Afinal, é ele quem decide se vai utilizar sementes certificadas, recorrer à pirataria ou até mesmo produzir o insumo ilegal. Nesse cenário, é importante diferenciar como os agricultores se posicionam. A maior parte deles joga dentro das regras, utilizando exclusivamente sementes certificadas ou salvando parte da colheita para uso próprio na safra seguinte, seguindo as normas e notificando o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Os problemas começam a aparecer nos

POR QUE É PRECISO

VIRAR O JOGO

A receita potencial com o fim da pirataria de sementes de soja

R$ 4 bilhões para o setor de produção de sementes

R$ 2,5 bilhões para os agricultores

R$ 1,5 bilhão em exportações do agronegócio

R$ 1,2 bilhão para a agroindústria de farelo e óleo de soja

Reunião da CropLife para debater o tema: campanha de conscientização e de alerta para os produtores brasileiros

outros dois grupos. Um deles é formado por agricultores que salvam sementes da própria lavoura, mas ignoram os procedimentos legais exigidos para esse tipo de manejo. Ao seguir por esse caminho, correm o risco de enfrentar sanções legais – além de perdas na produtividade. De acordo com o estudo da CropLife Brasil e da Céleres, no Rio Grande do Sul, onde 28% das lavouras de soja utilizam sementes piratas, os grãos apresentam, em média, quatro vezes mais danos mecânicos e por umidade do que aqueles obtidos a partir de sementes certificadas.

“Há também o ‘pirateiro’, aquele produtor mal-intencionado que cultiva e colhe com o objetivo deliberado de vender sementes de forma ilegal”, explica Catharina Pires, diretora da CropLife, sobre o último grupo identificado no estudo. “Essas sementes não passam por nenhum processo de monitoramento ou certificação”, ressalta. É justamente essa concorrência desleal que impulsiona a indústria de sementes a reforçar o combate à pirataria. O desenvolvimento de uma nova cultivar pode levar até dez anos, do início das pesquisas até a chegada ao mercado com certificação. Mesmo

© Bruna Caetano

Cenários

É legítimo que a indústria seja remunerada pelos anos de pesquisa e investimentos dedicados ao desenvolvimento de soluções

OS CAMPEÕES DA ILEGALIDADE

O USO DE SEMENTES PIRATAS DE SOJA POR ESTADO

Rio Grande do Sul | 28%

Minas Gerais | 23%

São Paulo | 20%

Pará | 20%

Piauí | 20%

Maranhão | 19%

Tocantins | 14%

Mato Grosso do Sul | 11%

Paraná | 8%

Mato Grosso | 5%

Goiás | 5%

Bahia | 5%

Fonte: CropLife Brasil / Céleres

assim, sua vida útil comercial dificilmente ultrapassa metade desse tempo.

As empresas que desenvolvem novas cultivares de soja detêm a propriedade intelectual sobre esses materiais genéticos e, por isso, têm o direito de cobrar royalties dos produtores – seja pela biotecnologia empregada, seja pelo germoplasma. Mesmo quando o agricultor opta por salvar sementes legalmente, o pagamento de royalties continua obrigatório, embora limitado à biotecnologia. De um lado, é legítimo que a indústria seja remunerada pelos anos de pesquisa e investimento dedicados ao desenvolvimento de soluções mais produtivas e resistentes. De outro, é compreensível que o agricultor busque reduzir custos ao reutilizar parte da própria lavoura como semente, economizando no pagamento de royalties. No fim das contas, trata-se de uma escolha que envolve riscos e consequências.

O crescimento da pirataria de sementes é um obstáculo ao investimento em novas cultivares. Segundo o levantamento da CropLife e da Céleres, o combate a essa prática contribuiria para aumentar em R$ 900 milhões os recursos para o desenvolvimento de novas variedades de soja nas próximas décadas. E o fim da pirataria geraria aumento de receita para a cadeia como um todo. Os agricultores poderiam faturar R$ 2,5 bilhões a mais, enquanto o setor de produção de sementes acrescentaria R$ 4 bilhões ao negócio.

O argumento econômico-financeiro desponta como principal ferramenta para mudar o cenário da pirataria de sementes de soja. E dados não faltam no estudo desenvolvido pela CropLife Brasil em parceria com a Céleres. Mesmo diante das irregularidades, a produtividade das lavouras cresce a uma taxa anual de 2,4%, ou quase o dobro da expansão da área plantada. “Esse avanço poderia ser ainda maior se não fosse o entrave representado pelas sementes piratas”, afirma Anderson Galvão, CEO da Céleres.

Para o executivo, recorrer à semente pirata pode até representar uma economia imediata, mas é uma estratégia limitada, que sacrifica os ganhos oferecidos pelo produto certificado. No

campo do melhoramento genético, os avanços vão muito além da produtividade: envolvem qualidade nutricional dos alimentos, mudanças na arquitetura das plantas, maior precocidade, uniformidade e longevidade da lavoura, além de resistência a pragas, doenças e condições climáticas adversas.

Diante de um cenário agrícola cada vez mais desafiador, especialmente com os efeitos das mudanças climáticas, a adoção de soluções tecnológicas validadas torna-se não apenas desejável, mas essencial. “Quanto mais incertezas você enfrenta, mais precisa de tecnologia”, afirma Eduardo Leão, da CropLife. A avaliação é compartilhada por Anderson Galvão, da Céleres: “Nos últimos três anos, o Rio Grande do Sul conviveu com instabilidades climáticas e isso não vai mudar. Por isso, o papel da genética é cada vez mais estratégico”.

O avanço no combate à pirataria de sementes de soja depende de um conjunto de ações, muitas das quais já estão em curso pela indústria de insumos agrícolas. Entre elas estão campanhas

de boas práticas, canais de denúncia, articulação com stakeholders e o reforço na fiscalização. “A maior apreensão já registrada foi de 1,4 mil toneladas de sementes piratas no Rio Grande do Sul, com prejuízo estimado em R$ 20 milhões”, diz Eduardo Leão, da CropLife.

O próximo passo é ampliar ao máximo a disseminação dessas informações, fortalecer a comunicação e avançar no convencimento, para frear o avanço da pirataria. “Atualmente, 20% da área cultivada com soja no Piauí utiliza sementes piratas, algo que praticamente não existia há cinco anos”, alerta Anderson Galvão, da Céleres. Para reverter esse cenário, as ações baseadas no estudo da CropLife e da Céleres estão sendo ampliadas. “A campanha já está no ar e vem sendo reforçada. Este é um momento estratégico para firmar parcerias com associações e cooperativas, e chegar diretamente ao produtor”, afirma Catharina Pires. A mensagem está pronta. Agora, o desafio é construir uma linguagem comum, que una palavras, dados e cifras em favor do campo.

AS GALINHAS DO FUTURO

O avanço no melhoramento genético das aves garante ganhos significativos para a avicultura brasileira em produtividade, qualidade, sanidade, economia e até sustentabilidade

Com os recorrentes avanços em produção e exportação de carne de frango e ovos, a avicultura brasileira tem alçado voos cada vez mais altos. Por trás da conquista de mercados, tanto locais quanto internacionais, há um esforço comercial, político e diplomático. Boa parte dessa evolução, porém, se deve ao melhoramento genético das aves, um processo que desafia até o tempo, pois cada ciclo pode durar de cinco a dez anos e é preciso mirar lá na frente para definir os fatores prioritários de hoje em dia. É assim que as empresas públicas e privadas do setor trabalham para desenvolver as galinhas e os frangos do futuro.

Dados sobre as negociações de genética de aves para o mercado externo dão uma ideia de como essa área decolou. Entre 2014 e 2024, as exportações brasileiras de ovos férteis passaram de 11,8 mil toneladas para 26,1 mil toneladas (136% a mais). A receita evoluiu 72%, conforme o relatório anual da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Tais números dizem muito sobre a sintonia da condução da seleção de aves no Brasil com o desejo – ou a exigência – do mercado global.

Pelo lado da cadeia produtiva, desempenho, fertilidade, sistema imunológico e qualidade dos produtos (tanto carne quanto ovos) eram predominantes nos processos de melhoramento genético das aves. Mais recentemente, o clima se tornou um fator decisivo nessa lista, pois as mudanças climáticas também afetam a avicultura. Aí reside outro importante desafio na escalada da seleção das aves: não é possível desenvolver uma linhagem que seja melhor em tudo, pois sempre haverá pontos antagônicos. “Quando a seleção vai muito para tamanho e peso, acaba indo menos para fertilidade”, diz o pesquisador da Embrapa Aves e Suínos, Elsio Figueiredo. Segundo o especialista, que trabalha com genética de aves desde 1990, a nutrição representa o maior custo da produção avícola. “Depois, vêm outros pontos, como o bem-estar animal”, afirma.

No caso da produção de carne de frango, também se destacam a evolução do ganho de peso, a qualidade de carcaça (desejável que não tenha muita gordura), o sabor, a aparência, a textura, a

Na última década, as exportações brasileiras de ovos férteis passaram de 11,8 mil para 26,2 mil toneladas

Jane Grosso, da Aviagen: genética tem papel crucial na sustentabilidade do setor
© Divulgação

segurança (em relação a resíduos) e a facilidade de preparo. Com o tempo, foram ganhando força as demandas do consumidor final, que passou a se importar mais com nutrição mais saudável, origem e rastreabilidade da produção, sustentabilidade ambiental, bem-estar animal, segurança do alimento e impacto social.

Basta uma volta rápida em qualquer supermercado dos grandes centros urbanos para ver como tem aumentado a variedade de embalagens de ovos com a indicação de “alimento orgânico” ou de “galinhas criadas fora de gaiolas”, também chamadas de “cage-free”. Essas características estão diretamente ligadas com o manejo, com a maneira de tratar as aves, mas também se conectam, de alguma forma, com a genética, com as melhorias para que se tenha galinhas adequadas a esse sistema.

Na opinião de Figueiredo, em relação às aves do futuro, o frango caminha para melhorar sua conversão alimentar e a definição dos cortes. Já nas poedeiras, o destaque é a longevidade da vida produtiva, o ciclo de produção mais duradouro.

“Essa eficiência nas duas atividades reduz a necessidade de alimentação e de áreas para produzir o alimento dessas aves, além de diminuir os impactos ambientais”, diz o pesquisador.

A coordenadora de Produto da Aviagen América Latina, Jane Lara Grosso, reforça o discurso do pesquisador da Embrapa, ressaltando que a genética tem papel fundamental na sustentabilidade do setor avícola, “promovendo melhorias em aspectos fundamentais como a eficiência alimentar e o crescimento saudável das aves”. Segundo a executiva, os avanços nesses pontos têm gerado resultados significativos, como a redução do impacto ambiental e o uso mais racional dos recursos naturais. “Conforme dados que coletamos ao longo dos últimos 20 anos, o frango de corte atual necessita de 320 gramas a menos de ração por quilo vivo, apresenta 40 gramas a mais de rendimento de carcaça eviscerada e reduz em 19% o consumo de energia na produção de ração”, afirma Grosso, que continua: “Além disso, economiza 0,57 litro de água por quilo de frango, diminui em 28% a

excreção de resíduos como nitrato e fosfato e reduz em 19% as emissões de gases de efeito estufa”. E ainda demanda 42% menos terra para a produção de grãos utilizados na ração.

Em decorrência das transformações do setor, a indústria da genética de aves teve de ampliar sua base de fatores a serem considerados no processo produtivo. “Atualmente, mais de 50 características, que englobam todos os aspectos biológicos das aves, são consideradas nos objetivos de seleção”, afirma Grosso. Também entra nessa equação a evolução tecnológica e de infraestrutura para melhor avaliar e aproveitar tudo isso.

A gerente da Aviagen destaca as estações de alimentação em grupo, que otimizam o consumo de alimento; a tomografia computadorizada, utilizada para selecionar aves mais saudáveis; e a aplicação da seleção genômica, que aumenta a precisão na seleção de características desejadas. “São inovações que implantamos de forma pioneira em nosso programa

de melhoramento genético”, diz.

Outro ponto de evolução vem com a automação e a digitalização de processos. O presidente da Aviagen América Latina, Ivan Pupo Lauandos, explica que a empresa já vem investindo nessa inovação, “com a implementação de internet em seus aviários para dar suporte ao uso de câmeras e à transmissão mais ágil de dados”. A soma de velocidade e segurança na captação, transferência e processamento de informações proporciona mais eficiência em todo o processo de melhoramento genético.

Na trilha da inovação, a companhia prepara um grande salto de tecnologia para o abastecimento de matrizes no mercado brasileiro em 2026. Uma nova granja está em construção no município de Santo Antônio da Alegria, no interior de São Paulo, e a programação é que esteja pronta antes de julho, quando será alojado o primeiro lote de aves. A unidade vai trabalhar com 3,8 milhões de matrizes por ano.

A evolução genética pode contribuir ainda para a prevenção de doenças como a influenza aviária, que tem se espalhado pelo mundo e impactado potências globais da avicultura, como os Estados Unidos. No entanto, é preciso cautela com essa relação, pois não é direta nem imediata. A vacinação seria a melhor estratégia para proteger os criatórios da enfermidade. Diante da falta de um imunizante eficaz ou sob o risco de mascarar o real estado de saúde do plantel, o melhor a se fazer é evitar a contaminação dos lotes.

Do ponto de vista genético, conforme explica a gerente da Aviagen, é possível “realizar uma seleção buscando aumentar a resistência das aves à doença, fortalecendo a capacidade imunológica e melhorando sua resposta a infecções virais”. A companhia já tem adotado essa estratégia, priorizando aves com alta eficiência biológica e uma capacidade elevada de adaptação aos diferentes desafios do sistema produtivo. “Ao selecionar aves mais saudáveis e

Aves com alta eficiência biológica asseguram melhores resultados para produtores de todos os portes

Elsio Figueiredo, pesquisador da Embrapa: a nutrição representa o maior custo da produção avícola

robustas, você reduz a probabilidade de elas serem afetadas por um surto de doenças, o que pode ajudar a conter a disseminação de uma pandemia”, comenta Grosso.

A executiva lembra também que o melhor aproveitamento do potencial genético das aves não depende apenas da seleção, mas é um processo que envolve todas as áreas ligadas à avicultura. “À medida que o progresso genético avança, novas exigências surgem para as aves, e cabe a nutricionistas, sanitaristas e avicultores ajustarem-se a esse genótipo em constante evolução”, diz a especialista. Esse esforço coletivo é colocado à prova sempre que o consumidor vai ao ponto de venda em busca do alimento que melhor corresponda a suas expectativas de sabor, qualidade, aparência e preço, e quando os importadores fazem o check-in dos protocolos para fechar as negociações com as agroindústrias brasileiras. A genética avícola do futuro tem de funcionar diariamente – e desde já.

QUANDO A TRADIÇÃO SAI DO PRATO

Mudanças nos hábitos alimentares, avanço dos ultraprocessados e rotina acelerada ajudam a explicar a queda no consumo do feijão, um dos alimentos mais simbólicos do Brasil

hábitos alimentares. Para se ter ideia, entre 1996 e 2023, o consumo médio de feijão-comum por habitante/ano caiu cerca de 47%, passando de 18,8 para 12,8 quilos, segundo a Embrapa Arroz e Feijão.

A queda provocou impactos sobre toda a cadeia produtiva – e, claro, preocupa quem atua no setor. Com o sinal de alerta acionado, representantes de diferentes áreas ligadas direta ou indiretamente à cultura já se articulam para criar estratégias que ajudem a alterar o cenário, reconquistar o espaço do feijão no mercado nacional, sobretudo no prato da população, e ultrapassar fronteiras.

A área plantada com feijão deve passar dos 2,8 milhões de hectares na temporada 2024/25, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Embora o número represente uma leve queda de 0,2% em relação à safra anterior, o recuo se acentua quando se observa uma linha do tempo mais

apenas 490 quilos por hectare. Quatro décadas depois, a produtividade mais que dobrou: para a safra atual, a Conab estima 3,3 milhões de toneladas colhidas, com rendimento médio de 1,1 mil quilos por hectare. O desafio, agora, está em estimular o consumo interno – que há anos vem encolhendo – e expandir as exportações, ainda tímidas. “O Brasil exportou 340 mil toneladas de feijão em 2024, muito porque a pesquisa desenvolveu cultivares altamente produtivas e voltadas ao mercado externo, como o mungo-preto e o guandu”, afirma Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e dos Pulses (Ibrafe). Nesse esforço de internacionalização, o executivo destaca o estreitamento de laços com autoridades indianas. “O feijão não faz parte dos hábitos alimentares da população da Índia, mas eles demonstram curiosidade e abertura para

Brasil tem capacidade para exportar até 1 milhão de toneladas de feijão-carioca por ano, desde que o País seja tratado como parceiro preferencial, e não como fornecedor eventual. “Se a Índia precisa alimentar 1,4 bilhão de pessoas, o Brasil pode contribuir com segurança alimentar e qualidade. E isso inclui, com destaque, o nosso feijão-carioca”, escreveu em seu perfil no LinkedIn.

No mercado interno, a principal preocupação é compreender as causas da queda no consumo de feijão. Não há uma explicação única, mas o estilo de vida acelerado tem desempenhado um papel central. Em busca de praticidade e rapidez na cozinha, muitos brasileiros vêm abandonando o tradicional preparo do grão – que exige tempo e atenção, especialmente com o uso da panela de pressão – e optando por alimentos prontos, ultraprocessados ou de preparo instantâneo.

O setor aposta em versões enlatadas, congeladas e pré-cozidas, além de produtos como snacks, massas e alimentos plant-based

Marcelo Lüders, da I brafe : o Brasil tem capacidade para exportar até 1 milhão de toneladas de feijão-carioca por ano

Atenta a essa mudança de hábito, a indústria nacional do feijão já se movimenta para atender às novas demandas. O setor vem apostando em versões enlatadas, congeladas e pré-cozidas, além de desenvolver produtos como snacks, massas e alimentos plant-based. Em 2023, a Embrapa Agroindústria de Alimentos apresentou um concentrado proteico feito à base de feijão-carioca, a variedade mais consumida no País. Iniciado em 2019, o projeto responde ao avanço do mercado de proteínas vegetais, com o objetivo de criar uma alternativa nacional de alto valor nutricional, capaz inclusive de substituir a proteína de ervilha, majoritariamente importada.

A pesquisa científica é um grande impulso para que esse mercado, ainda em desenvolvimento, avance com um ritmo mais forte, como já se vê em países como os Estados Unidos, onde se encontra até nachos à base de feijão. E também para ajudar a reduzir a desvantagem do preço desses derivados no varejo, superior ao de outros alimentos e ainda mais alto em relação ao feijão cru.

A expansão do setor de produtos prontos contribuiria inclusive para que o feijão voltasse a ser mais relevante na alimentação nas escolas,

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outra área na qual o grão é fundamental. “Em mais da metade das escolas do Brasil, o arroz e o feijão entram só um dia da semana no cardápio”, diz o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Pedro Henrique Lopes Sarmento. “Acaba entrando mais macarrão ou alguma outra opção processada, por ser mais barato, mais prático, mas que tem impacto negativo na saúde dos alunos.”

O pesquisador comenta que a Embrapa está desenvolvendo um estudo nessa direção, com o intuito de fornecer subsídios ao governo federal para a elaboração de políticas públicas que incentivem a cultura de comer arroz e feijão nas escolas. Para muita gente que conta com essa dobradinha quase que diariamente, deve soar estranho “criar” ou “incentivar” o que já se considerava uma tradição.

O Programa Prato Brasil, uma parceria entre a Embrapa e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), nasceu em 2023 exatamente para valorizar e promover a produção no campo baseada no sistema agroalimentar sustentável, na geração de alimentos com qualidade e na manutenção da estabilidade da oferta de grãos, legumes e verduras para a população brasileira. “É importante o governo prestar atenção em como esses alimentos estão sendo tratados”, diz Sarmento.

O presidente do Ibrafe, Marcelo Lüders, observa que, entre as crianças, a redução do consumo de feijão é ainda mais preocupante. Além da menor presença do alimento nas merendas escolares, ele destaca a influência da rotina digital e do uso constante de dispositivos como celulares e tablets. “As crianças são bombardeadas por informações que moldam seus hábitos alimentares, especialmente por meio da publicidade de alimentos ultraprocessados e fast-food”, afirma. Para ele, falta uma atuação mais incisiva do setor para promover o feijão e seus benefícios nutricionais entre o público infantil.

Para que o eventual crescimento do consumo interno e das exportações de feijão seja sustentado ao longo do tempo, é fundamental que o abastecimento acompanhe a nova demanda. Nesse contexto, entra em cena uma combinação estratégica de fatores: o avanço da ciência genética, a adoção de boas práticas agrícolas e o uso de tecnologias de

manejo mais eficientes, capazes de ampliar a produtividade e garantir regularidade na oferta. No campo da pesquisa genética, a Embrapa Arroz e Feijão tem desempenhado papel central no desenvolvimento de cultivares mais avançadas, com grãos de melhor qualidade, maior produtividade, estabilidade no campo e até mesmo melhorias na digestibilidade. No fim de 2023, a instituição apresentou os resultados de um estudo inédito envolvendo a aplicação da técnica de edição genética CRISPR (sigla em inglês para Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), abrindo novas possibilidades para o aprimoramento do feijão brasileiro. Com essa ferramenta de engenharia genética, também conhecida por “tesoura molecular”, a equipe da Embrapa, coordenada pelos pesquisadores Josias Correa e Rosana Vianello, identificou e inativou dois genes relacionados à produção de oligossacarídeos (carboidratos) da família rafinose, responsáveis pelo desconforto em humanos. Essa nova variedade com menos fatores antinutricionais dá uma ideia do horizonte ainda a ser explorado.

Do ponto de vista agronômico, uma das apostas para elevar a produção nacional de feijão é a ampliação das áreas irrigadas. “Com irrigação, o produtor começa a pensar em três safras de grãos por ano: soja, seguida de milho e, na sequência, o feijão”, diz Bernardo Borges, gerente técnico da BRQ Brasilquímica. “Tudo isso no intervalo de apenas nove meses.” Segundo o executivo, a irrigação oferece previsibilidade e segurança ao produtor, facilitando decisões estratégicas tanto no manejo quanto na comercialização.

Para que os benefícios da produção irrigada se concretizem, é preciso superar obstáculos estruturais – entre eles, a limitação da eletrificação rural. “A falta de energia trifásica ainda é um grande entrave no Brasil. Em muitas regiões, a rede elétrica é apenas bifásica”, afirma. Além disso, há desafios relacionados à nutrição das plantas e ao controle sanitário das lavouras. Nesse contexto, os bioinsumos vêm ganhando protagonismo, impulsionados não apenas por sua eficiência agronômica, mas também pela pressão crescente dos consumidores por práticas sustentáveis no agronegócio. Tudo isso é fundamental para trazer o feijão de volta ao lugar que merece: o centro da mesa dos brasileiros.

A DOSREVOLUÇÃOBIOLÓGICOS

Especializada em bioinsumos, Valloura avança no setor sucroenergético com a expansão de novas tecnologias em fertilizantes verdes

Omercado de fertilizantes especiais registrou, em 2022 – dado mais recente disponível –, um novo período de expansão, segundo aponta a décima edição do anuário da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), entidade que reúne os principais fabricantes do setor. Conforme o levantamento, o segmento apresentou crescimento de 2% no período, atingindo um faturamento total de R$ 22,6 bilhões. Entre as categorias com maior destaque estão os biofertilizantes e os adubos minerais, reflexo do aumento na adoção de tecnologias que melhoram a fertilidade do solo e otimizam a nutrição das plantas. Na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, os insumos de matriz biológica representaram 7% do mercado em 2024, totalizando R$ 553 milhões, segundo levantamento da Kynetec. Nesse segmento, destacaram-se os bioinseticidas e bionematicidas, que responderam por 75% do valor comercializado.

Em sua mais recente visita ao Brasil, em março, o cientista paquistanês Rattan Lal – Prêmio Nobel da Paz e referência mundial em manejo do solo –reforçou que o essencial na agricultura não é a extensão da área cultivada, mas a qualidade das práticas adotadas no campo. Segundo ele, a agricultura pode desempenhar papel crucial no combate às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, garantir segurança alimentar em escala global. Durante sua passagem pelo País, Lal destacou alguns princípios fundamentais para a promoção da fertilidade do solo: evitar o uso do

arado, prática considerada prejudicial por degradar a estrutura do solo; manter a cobertura vegetal após a colheita, como forma de proteção natural; aplicar nutrientes de forma integrada e criteriosa, recorrendo à fertilização química apenas quando indispensável; adotar a rotação de culturas; e integrar, em um mesmo ambiente, lavoura, pecuária e florestas, promovendo um sistema agrícola mais equilibrado e sustentável.

Diante desse novo cenário agrícola, a Valloura AgroInovação vem ganhando destaque como uma das empresas mais promissoras do setor. Fundada em 2019, em Rondonópolis (MT), a companhia é especializada em soluções voltadas a nutrição e fisiologia vegetal, tecnologia de aplicação e insumos biológicos. Seu portfólio inclui formulações exclusivas de marcas globais, com origem em países como Estados Unidos, Espanha, Bélgica e China, voltadas à suplementação nutricional e fisiológica das plantas – são produtos que atuam de forma complementar aos adubos convencionais utilizados nas lavouras.

“Saímos do papel de distribuidores de tecnologia e demos um salto em 2022, quando iniciamos a fabricação de insumos verdes de alta performance”, afirma o engenheiro agrônomo Thiago Abreu, CEO da Valloura. Ele acrescenta que, em 2024, um novo avanço foi consolidado com a parceria firmada com o Grupo Botuverá: “Esse acordo ampliou nossa capacidade de atuação e nos deu estrutura para levar ao setor sucroenergético os mesmos resultados expressivos que já entregamos nas cadeias de grãos e fibras”.

Thiago Abreu, CEO da Valloura: "buscamos garantir que a aplicação de corretivos ocorra de forma racional e adequada"

Nesta nova fase, a Botuverá planeja investir entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões na conclusão de uma fábrica de fertilizantes especiais em Rondonópolis, cujas obras já foram iniciadas pela Valloura. Além disso, está prevista a construção de uma nova unidade para mistura de calcário na região médio-norte de Mato Grosso, reforçando a estratégia de expansão e verticalização da produção.

Abreu destaca que a proposta da Valloura vai muito além da simples comercialização de produtos. O executivo diz que o objetivo da empresa é atuar como parceira estratégica do produtor, oferecendo suporte técnico e consultivo que contribua para decisões mais assertivas no campo, sempre com foco na redução de custos, no aumento da produtividade e no aumento da rentabilidade. Segundo ele, esse acompanhamento abrange todas as etapas da operação, da análise de solo ao pós-colheita.

Como exemplo, o executivo destaca as orientações técnicas voltadas à construção e estabilização do perfil do solo, à manutenção de sua fertilidade e à utilização otimizada dos insumos. “Buscamos garantir que a aplicação de corretivos e fertilizantes ocorra de forma racional e adequada, considerando tanto a quantidade quanto o tipo mais eficiente para

cada situação”, diz. Ele acrescenta que o manejo preciso desses insumos, com planejamento de época e forma de aplicação, leva em conta as características da cultura, do solo e do clima, promovendo práticas sustentáveis em todas as etapas do processo produtivo.

Segundo Abreu, a combinação entre as tecnologias oferecidas pela Valloura e a aplicação de boas práticas agrícolas tem proporcionado ganhos expressivos de produtividade, entre 10 e 15%, em lavouras de grãos e fibras atendidas pela empresa. “Esses resultados positivos agora começam a ser replicados também na cultura da cana-de-açúcar, com foco em soluções cada vez mais verdes e avançadas, que reduzem significativamente a necessidade de moléculas químicas”, afirma.

O executivo ressalta ainda que a Valloura mantém parcerias estratégicas com instituições acadêmicas e centros de pesquisa para o desenvolvimento e a validação de novas tecnologias. Entre os parceiros estão a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e instituições de referência como a Fundação MT. “Nossa meta é ambiciosa: lançar ao menos duas novas soluções por ano até 2035”, conclui.

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"Ao contrário dos métodos tradicionais, a agricultura regenerativa restaura a saúde do solo, aumenta a biodiversidade e captura carbono"

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Ideias e debates com credibilidade

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AGRICULTURA REGENERATIVA: O FUTURO SUSTENTÁVEL DO AGRO

A agricultura regenerativa é o tema em alta na agricultura mundial em 2025, impulsionada pela necessidade de alimentar uma população crescente, projetada para atingir 9,8 bilhões até 2050, segundo estimativas da ONU, em um cenário de mudanças climáticas. Diferente dos métodos tradicionais, que dependem de lavouras intensivas, uso excessivo de químicos e monoculturas, essa abordagem restaura a saúde do solo, aumenta a biodiversidade e captura carbono.

A adoção de práticas agrícolas regenerativas vem ganhando força. Nos Estados Unidos, um estudo da Universidade Cornell aponta que a implementação de coberturas vegetais em 85% das terras agrícolas poderia sequestrar até 100 milhões de toneladas de CO₂ por ano, o que representaria uma redução de 18% nas emissões do setor. Na Europa, cerca de 30% dos produtores já experimentam o plantio direto, técnica capaz de aumentar a matéria orgânica do solo em até 0,5 tonelada por hectare anualmente. Já na Índia, o governo pretende converter 25 milhões de hectares para métodos sustentáveis até 2030, segundo o Ministério da Agricultura local.

A tecnologia está impulsionando essa mudança. Análises de solo baseadas em inteligência artificial melhoraram os rendimentos em 15% nas regiões de teste, e o uso de drones para o plantio de coberturas vegetais aumentou 40% desde 2022, de acordo com a Organização das Nações Unidas

para Alimentação e Agricultura (FAO). A urgência é evidente – a agricultura representa 24% das emissões globais de gases de efeito estufa, conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Com eventos climáticos extremos atingindo 80% das áreas agrícolas no ano passado, a resiliência tornou-se inegociável.

A boa notícia é que os governos estão reagindo. O Acordo Verde da União Europeia tem como meta 25% da agricultura orgânica até 2030, e os Estados Unidos oferecem US$ 20 bilhões em subsídios para práticas regenerativas até 2026. Os consumidores também impulsionam essa demanda: 62% dos compradores globais agora preferem alimentos produzidos de forma sustentável, segundo pesquisa da Nielsen. Isso não é apenas uma tendência, mas uma estratégia de sobrevivência para a segurança alimentar e um planeta habitável.

No mundo, a agricultura regenerativa está se consolidando como resposta à degradação ambiental. Um relatório da McKinsey estima que, globalmente, a adoção dessas práticas em 20% das terras agrícolas poderia zerar as emissões líquidas de carbono do setor até 2050, capturando até 3 gigatoneladas de CO₂ por ano. Nos Estados Unidos, a General Mills comprometeu-se a converter 1 milhão de acres (cerca de 405 mil hectares) para a agricultura regenerativa até 2030, enquanto a PepsiCo planeja atingir 2,83 milhões de hectares no mesmo período.

*Marco Ripoli é diretor da PH Advisory Group e Bioenergy Consultoria

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No Brasil, 66% dos agricultores já utilizam fertilizantes naturais e controle biológico de pragas

Na Austrália, fazendas de macadâmia regenerativas reduziram a necessidade de irrigação em 80%, dependendo quase exclusivamente de chuvas. Já na África, o Quênia lidera com iniciativas que integram agrofloresta, aumentando a produtividade em 20% em pequenas propriedades, conforme dados da FAO. A escala global impressiona: o mercado de agricultura regenerativa foi avaliado em US$ 8,1 bilhões em 2024 e deve crescer a uma taxa anual de 12%, alcançando US$ 18,3 bilhões até 2031, de acordo com a Kings Research. No Brasil, a agricultura regenerativa se encaixa perfeitamente, aproveitando uma base já sólida. O País produz 30% da soja mundial e 15% da carne bovina, alimentando mais de 800 milhões de pessoas globalmente, segundo a Embrapa. Mais de 66% dos agricultores brasileiros utilizam biossoluções – fertilizantes naturais e controle biológico de pragas –, impulsionados pelo aumento de 150% no custo dos fertilizantes desde 2020 e

por políticas como o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). O plantio direto cobre 35 milhões de hectares no Brasil, mais do que em qualquer outro lugar, evitando a emissão de 1,2 tonelada de CO₂ por hectare anualmente, conforme dados do Ministério da Agricultura.

O Cerrado, que abrange 2 milhões de quilômetros quadrados, é um exemplo de potência regenerativa – 40% de suas áreas agrícolas utilizam sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (ILPF), aumentando o carbono do solo em 0,8 tonelada por hectare ao ano, segundo a Embrapa. Um relatório recente da Um Só Planeta aponta que o Cerrado poderia gerar R$ 572 bilhões com agricultura regenerativa, impulsionando o PIB nacional. O Plano ABC+ do Brasil tem como meta restaurar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030, e o objetivo de 2025 é reduzir as emissões em 48%. Leis rigorosas, como o Código Florestal, protegem 25% das terras

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rurais privadas, promovendo a sustentabilidade sem impedir o crescimento. Os números brasileiros são ainda mais expressivos quando olhamos o impacto econômico e ambiental. Em 2023, o Brasil tinha 130 milhões de hectares de terras degradadas, mas a agricultura regenerativa já recuperou 5 milhões de hectares desde 2010, segundo a Embrapa. A adoção de bioinsumos cresceu 20% ao ano desde 2018, e 55% das propriedades familiares utilizam controle biológico, posicionando o País como líder mundial nesse quesito, conforme estudo da McKinsey.

A produção de soja em sistemas regenerativos no Mato Grosso aumentou os lucros em 12% por hectare, enquanto o uso de ILPF na pecuária elevou a produtividade de carne em 30%, de acordo com a CNA. Além disso, o Brasil exportou US$ 120 bilhões em produtos agrícolas em 2024, e 40% desse valor veio de práticas sustentáveis, atendendo à demanda de mercados como a União Europeia, onde 70% dos compradores preferem soja sustentável.

No entanto, desafios persistem. Apenas 6% dos US$ 12 bilhões em crédito rural concedidos em 2022 foram destinados a práticas de baixo carbono, e somente 20% dos pequenos produtores têm acesso a treinamentos, segundo o Banco Central. No mundo, a falta de uma definição universal de agricultura regenerativa dificulta políticas consistentes – a FAO reconhece a agricultura conservacionista, mas ainda não chancela o modelo regenerativo como padrão. No Brasil, a transição custa entre US$ 200 e US$ 300 por hectare, e pequenos produtores, que cultivam 30% das terras aráveis, recebem apenas 15% do crédito disponível.

Mesmo assim, os agricultores brasileiros são líderes globais e estão preparados para expandir. As implicações

para os produtores são imensas. Métodos regenerativos podem aumentar a produtividade de terras degradadas entre 10 e 20%, algo essencial quando 15 milhões de hectares de pastagens estão subutilizados, conforme o IBGE. Métricas de saúde do solo, que serão lançadas em 2025 – como testes de carbono atingindo 500 partes por milhão –, podem desbloquear US$ 2 bilhões anuais em créditos de carbono se 20% das propriedades se qualificarem, estima a ClimateWorks. Os mercados de exportação estão famintos por produtos sustentáveis: 70% dos compradores da União Europeia preferem soja sustentável, e a participação do Brasil pode subir de 40% para 50% até 2030. A resiliência também se paga – solos saudáveis reduzem a perda de água em 25%, essencial em um cenário em que 60% das fazendas enfrentaram secas no último ano, segundo o Inmet.

Os custos, porém, pesam. Além do investimento inicial, a capacitação é um entrave. Globalmente, apenas 10% dos agricultores têm acesso a treinamentos em práticas regenerativas, e no Brasil esse número sobe para 20%, ainda insuficiente. Riscos políticos também existem – restrições ao uso da terra podem se intensificar, e o investimento estrangeiro, que caiu 12% desde 2022, pode desacelerar ainda mais. Se o Brasil restaurar os 20 milhões de hectares planejados, o impacto global será enorme, com 50 milhões de toneladas extras de grãos por ano, 10% a menos de emissões e economias rurais mais fortes. No mundo, a agricultura regenerativa poderia alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050 sem aumentar as emissões, desde que 30% das terras agrícolas adotem essas práticas. Para os agricultores brasileiros, essa é a chance de liderar – alimentando o mundo enquanto o regenera.

Celeiro de oportunidades

Com a guerra tarifária imposta pelos Estados Unidos, exportadores brasileiros ampliam presença na China e na União Europeia

FFRONTEIRA

As regiões produtoras do mundo

As regiões produtoras do mundo

EFEITO CONTRÁRIO

GUERRA COMERCIAL DEFLAGRADA PELOS ESTADOS UNIDOS

IMPULSIONA EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS PARA CHINA E

UNIÃO EUROPEIA, ABRINDO NOVAS OPORTUNIDADES QUE

COMPENSAM PERDAS POTENCIAIS NO MERCADO AMERICANO

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Para a pauta exportadora do agronegócio brasileiro, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 10% sobre os produtos nacionais pode ter sido um verdadeiro tiro no pé. Na prática, a medida adotada por Trump acelerou negociações comerciais que já estavam em andamento entre o Brasil e outros importantes mercados compradores, especialmente China e União Europeia. Com isso, o que parecia uma penalização se transformou em uma oportunidade lucrativa para os produtores brasileiros. Um dos segmentos mais afetados pela onda protecionista americana é o da laranja, que também exemplifica claramente como os produtores brasileiros têm buscado alternativas aos portos dos Estados Unidos. “A tarifa de 10% imposta por Trump significa um aumento de custos de US$ 100 milhões para a cadeia produtiva do suco de laranja no Brasil apenas neste ano”, afirma o diretor técnico da CitrusBR, Ibiapaba Netto. “É um jogo em que todos saem perdendo, já que nosso produto ficará mais caro também para o consumidor americano.”

O executivo da CitrusBR afivela malas rumo ao gigante asiático para encontros decisivos com autoridades e empresários chineses. A missão é obter o corte da taxa extra de 20% em vigor sobre o suco brasileiro e nivelar a tarifa a 7,5%. A entrada de 1 tonelada de suco de laranja brasileiro no gigante asiático passaria a custar, com a redução, menos de US$ 300, enquanto o mesmo volume exportado para os Estados Unidos, com o adicional de 10% sobre a cobrança atual, já deixa US$ 750 nos cofres do Tesouro americano. Em abril, 1 tonelada do produto estava cotada em cerca de US$ 3,5 mil.

De janeiro a março deste ano, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) registrou exportações totais para a China no valor de US$ 19,8 bilhões, destacando-se vendas de minério de ferro, petróleo bruto, soja e carne bovina. Já as exportações brasileiras de suco de laranja para os Estados Unidos somaram US$ 1,2 bilhão no ano passado. Diante desse cenário, os citricultores brasileiros estão apostando na criação de um novo mercado consumidor na China, país com 1,4 bilhão de potenciais compradores. “Se conseguirmos abrir essa nova rota comercial com os chineses, algo que hoje é pouco significativo para o setor, certamente

alcançaremos os patamares históricos que tivemos no mercado americano”, afirma Ibiapaba Netto, diretor técnico da CitrusBR.

Representante do setor que lidera as exportações do agronegócio brasileiro, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) vê na tarifa de 10% aplicada pelos Estados Unidos um fator que ajuda a sustentar parcialmente os preços internacionais da soja. Em entrevista à PLANT PROJECT, o presidente nacional da entidade, Maurício Buffon, explicou esse ponto de vista: “As tarifas impostas pelos americanos a produtos de diversos países provocaram um desequilíbrio no mercado internacional, elevando os preços da soja. Isso acabou compensando parcialmente a queda mais intensa que seria provocada pela oferta abundante do grão disponível atualmente”. Buffon refere-se à projeção de uma colheita robusta no Brasil, estimada em 168,7 milhões de toneladas no ciclo 2024/25, além do bom desempenho das safras em outros países produtores.

De certa forma, as tarifas de 10% impostas aos

produtos brasileiros e as de até 104% aplicadas especialmente contra a China estão gerando resultados opostos aos que pretendiam Trump e seus estrategistas. Em vez de enfraquecer os países alvos, as medidas têm levado, em muitos casos, a um processo de fortalecimento e reorganização das rotas comerciais globais. Para o segundo semestre, por exemplo, a Aprosoja projeta que o preço da saca de soja deve subir para cerca de R$ 135, impulsionado pela redução dos estoques internacionais e pelos reflexos da guerra comercial. “Quem tiver condições de esperar mais tempo para vender certamente conseguirá fechar negócios melhores”, afirma Maurício Buffon.

Praticamente todo o mercado asiático, e não apenas a China, está abrindo as portas para a carne bovina industrializada brasileira em 2025. Essa abertura representa uma clara oportunidade para compensar eventuais perdas provocadas por reduções nas exportações para os Estados Unidos. “O Japão e a Coreia do Sul, assim como o Oriente Médio e a própria China, têm demonstrado um

aumento consistente no consumo per capita dessa proteína”, afirma Tiago Dahdah, diretor de Financiamento Rural do Ministério da Agricultura e Pecuária. “Para este ano, as perspectivas são bastante positivas, com expectativa de crescimento das vendas para essas regiões.”

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes manifestou que “o impacto direto das tarifas americanas sobre a carne bovina brasileira ainda está sendo avaliado com cautela”. A entidade sublinha que as exportações de carne para os Estados Unidos aumentaram nos primeiros meses de 2025, “devido à forte demanda causada pela maior baixa do ciclo pecuário americano em 75 anos”.

A projeção da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) é de que o setor alcance 400 mil toneladas exportadas para os Estados Unidos em 2025, ante 230 mil toneladas do ano anterior.

No circuito governamental, a diplomacia comercial brasileira intensificou sua atuação

As tarifas aplicadas aos produtos brasileiros geraram resultados opostos aos que pretendiam Trump e seus estrategistas

Maurício Buffon: "Quem esperar mais tempo para vender terá condições de fechar negócios melhores"

após a agitação causada pelas tarifas americanas anunciadas no início de abril. “O agro brasileiro está preparado para atender qualquer país que precise de alimentos, especialmente diante de dificuldades provocadas por essa conjuntura”, afirma Luís Rua, secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária. Ele conversou com a PLANT PROJECT durante uma série de reuniões oficiais realizadas em Bruxelas, na Bélgica, no fim do mês passado, com representantes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu. “Estamos derrubando barreiras comerciais e nos aproximando cada vez mais do acordo Mercosul-União Europeia, que abrirá novas perspectivas para o agro brasileiro”, adiantou. “A mudança da conjuntura internacional está favorecendo novos entendimentos.” O secretário contabiliza, nos últimos dois anos, a abertura de 356 novos mercados para produtos do campo brasileiro, e mais uma centena de ampliações de contratos já existentes.

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Beckhauser: inovação que transforma a pecuária

beckhauser.com.br

Mais que tronco, mais que brete: becksafe®

Na Beckhauser, somos mais que fabricantes. Somos a força motriz que, a partir da inovação, alia produtividade ao cuidado. Nossos equipamentos vão além de troncos e bretes; eles representam um compromisso com o bem-estar dos animais, dos profissionais e do nosso planeta. E por isso ganharam até um nome próprio: Becksafe.

Inovar é nossa essência. É a vontade de fazer melhor em tudo sempre, promovendo uma pecuária produtiva e sustentável - ou, melhor, regenerativa - que retorna ao mundo o que o mundo nos oferece. O futuro exige cuidado e inovação: por isso afirmamos que é essencial produzir consciente pra seguirmos produzindo.

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M arco caipira

Por que o álbum Cowboy do Asfalto significou uma revolução na música sertaneja

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Um campo para o melhor da cultura

Um campo para o melhor da cultura

A TRILHA SONORA DA REVOLUÇÃO SERTANEJA

Clássico da música caipira moderna, o álbum Cowboy do Asfalto, de Chitãozinho & Xororó, completa 35 anos como marco da fusão entre o som rural brasileiro e o country americano

Se a canção Evidências é, para muitos, o verdadeiro hino não oficial do Brasil, então há motivos de sobra para celebrar um marco da música nacional. Escrita por José Augusto e Paulo Sérgio Valle e eternizada na voz de Chitãozinho & Xororó, a canção integra o álbum Cowboy do Asfalto, lançado em 1990. O disco chegou às lojas em plena efervescência do sertanejo e em um momento decisivo de transição no País, com o Brasil se urbanizando rapidamente. A obra foi pioneira ao dar protagonismo à sonoridade do interior e, ao mesmo tempo, incorporar referências do country americano –uma fusão que, à época, causou estranhamento e atraiu críticas. Ainda assim, conquistou o público, vendeu milhões de cópias e, 35 anos depois, consolidou-se como um clássico incontestável da música sertaneja. Quando lançaram o LP Cowboy do Asfalto, Chitãozinho & Xororó já acumulavam uma longa trajetória na música. A dupla começou a cantar ainda na infância e gravou o primeiro disco em 1970, quando Xororó tinha apenas 13 anos e Chitãozinho, 16. O sucesso em grande escala viria na década de 1980, com a explosão de Fio de Cabelo, em 1982. A música se tornou um fenômeno nacional, dominando as rádios e ultrapassando 1,5 milhão de cópias vendidas. Com ela, a dupla não apenas consolidou sua carreira como também abriu as portas da televisão para o sertanejo, passando a frequentar

A obra foi pioneira ao dar protagonismo à sonoridade do interior e incorporar referências do country americano

Chitãozinho & Xororó chegaram a tocar com o americano Billy Cyrus, fenômeno mundial da música country

os principais programas da época e ajudando a popularizar o gênero em todo o País.

Cowboy do Asfalto, 15º LP da carreira de Chitãozinho & Xororó, marcou uma importante guinada na trajetória da dupla. Recém-saídos da gravadora Copacabana, com a qual trabalhavam desde o início, os irmãos assinaram com a multinacional Polygram, em busca de novos ares e maior visibilidade. O disco simboliza essa transição com um repertório cuidadoso, que vai de clássicos como Gente Humilde, de Chico Buarque, a composições populares como Meus Direitos, de Roberta Miranda, além dos hits Evidências e Nuvem de Lágrimas. A sonoridade

também ganhou reforço de músicos talentosos, como o guitarrista Faiska, responsável pelo marcante solo de Evidências.

O disco marcou um momento fundamental da conexão entre a música sertaneja e o country americano. Em meados dos anos 1980, a dupla viajou a Nashville e se encantou não apenas pela sonoridade dos artistas de lá, mas também pelo visual. Xororó trouxe na bagagem um banjo de segunda mão, que mais tarde seria usado na canção Ela Chora Chora, de 1985. “Ficamos muito interessados na maneira deles se vestirem ¬– as roupas franjadas, as calças rasgadas e apertadas, uma mistura de rock com country”,

disse Xororó em entrevista à Folha de S.Paulo.

Muitos arranjos são influenciados pela música country americana, principalmente pelas guitarras. Há bastante espaço para o sertanejo mais tradicional, com uso de instrumentos como a viola e a sanfona, mas é inegável que a sonoridade é moderna, de inspiração internacional, e com pegada urbana. Essa tendência ganharia ainda mais força em trabalhos posteriores da dupla. É o caso do disco Na Aba do Meu Chapéu, de 1998, gravado em Nashville, capital do country americano, no lendário estúdio Ocean Way. O trabalho está repleto de versões em português para Crying, de Roy

Orbison; Not That Different, de Collin Raye; e principalmente Achy Breaky Heart, de Billy Ray Cyrus, com quem tocariam mais tarde.

O visual de Cowboy do Asfalto também ajudou a consolidar a nova fase da dupla, totalmente inspirado no universo dos cowboys americanos. Botas de cano alto, grandes fivelas, chapéus e, sobretudo, jaquetas adornadas com franjas se tornaram elementos marcantes do figurino. Foi nessa época que Chitãozinho passou a usar o chapéu que se transformaria em sua marca registrada. O corte de cabelo também refletia a influência estrangeira: inspirado nos mullets de astros como Rod

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Stewart, o estilo seria adotado mais tarde por ícones do country como Billy Ray Cyrus, Alan Jackson e Tim McGraw – e, no Brasil, por diversas outras duplas da época. Fotos promocionais de artistas como Zezé Di Camargo, Gian & Giovani e até Daniel mostram a tendência. “Nos anos 1980 e 1990, Chitãozinho & Xororó foram a vanguarda da modernidade sertaneja, com roupas e cabelos entre obrega e o importado”, observa o historiador Gustavo Alonso no livro Cowboys do Asfalto – Música Sertaneja e Modernização Brasileira.

O LP teve papel importante também em retratar, assim como alguns outros trabalhos do mesmo período, a urbanização do país. A mescla de referências do sertanejo tradicional com elementos modernos, urbanos e internacionais é um reflexo de uma das mais profundas transformações na sociedade: o êxodo rural. Somente entre 1970 e 1980, 12 milhões de pessoas deixaram o campo rumo às cidades, o equivalente a 30% de toda a população rural brasileira em 1970. O sertanejo tornou-se a trilha sonora desse movimento.

O lançamento de Cowboy do Asfalto causou estranhamento entre os críticos da época. No Jornal do Brasil, o jornalista Tárik de Souza avaliou o disco com apenas uma estrela, classificando-o como um “sertanejo de aspirações urbanas recheado de pop e baladas românticas”. Para ele, Chitãozinho & Xororó simbolizavam o “joio” da música do interior, sobretudo quando comparados a nomes como Pena Branca & Xavantinho, que naquele mesmo ano lançaram Cantadô de Mundo

Afora, um LP de sonoridade mais tradicional e alinhada à raiz da música caipira.

O jornalista e folclorista José Hamilton Ribeiro, autor do livro Música Caipira – As 270 Maiores Modas, foi um dos mais severos críticos da influência country sobre o sertanejo. Para ele, a estética do “caubói de rodeio” representou um golpe profundo na autenticidade da música de raiz. “A influência americana, no contexto do ‘caubói de rodeio’, acabou sendo o dardo mais envenenado a atingir a música de origem rural”, escreveu. Segundo Ribeiro, as festas de peão –com figurinos temáticos, expressões importadas e trejeitos copiados dos shows e rodeios americanos – passaram a ditar tanto o marketing quanto as direções artísticas do que hoje se convencionou chamar de “jovens sertanejos”. “Tudo copiado, tudo de segunda mão, tudo colonizado. Mas é o que vende, o que faz sucesso”, disse o jornalista.

Apesar das críticas iniciais, Cowboy do Asfalto foi um sucesso de vendas. Logo após sair da prensagem, o disco já contabilizava mais de 1 milhão de cópias encomendadas. Com o lançamento em CD, conquistou disco de platina pelas mais de 250 mil unidades comercializadas. Ao longo do tempo, consolidou-se como um marco na trajetória de Chitãozinho & Xororó, ganhando reconhecimento até fora do universo sertanejo. João Gordo, vocalista da banda punk Ratos de Porão, já declarou publicamente ser fã do álbum. Muitas das faixas, como Evidências e Nuvem de Lágrimas, continuam presentes no repertório da dupla até hoje, atravessando gerações.

Rótulos de qualidade

A região da Campanha Gaúcha, no Rio Grande do Sul, já faz alguns dos melhores vinhos do País

WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

As regiões produtoras do mundo

UM BRINDE AOS PAMPAS

A região da Campanha Gaúcha, quase na fronteira com o Uruguai, foi conhecida pelo volume de sua produção vitivinícola, mas agora mostra que seus rótulos têm qualidade

na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai, em meio ao pampa gaúcho, que são produzidos alguns dos melhores vinhos do Brasil. A Campanha Gaúcha, imortalizada na música Céu, Sol, Sul, Terra e Cor, do cantor Leonardo, é uma região de tradições preservadas, paisagens amplas e vocação agrícola. Embora menos famosa que a Serra Gaúcha, principal polo de vinhos finos do País, a Campanha já ocupa o segundo lugar em volume de produção. Com quase 20 vinícolas em atividade, incluindo nomes de peso como Miolo e Salton, responde por 31% dos rótulos nacionais. Em 2020, a região conquistou a Indicação de Procedência (IP), selo que certifica a origem e qualidade de seus vinhos. A área demarcada abrange 44.365 quilômetros quadrados e 1.560 hectares de vinhedos. A localização é estratégica: situada entre os paralelos 29 e 32, a Campanha está dentro da faixa ideal para o cultivo de videiras, a mesma que abriga vinhedos renomados na França, Itália, Espanha, Argentina e no Chile. O clima quente e seco, aliado a solos com boa drenagem, favorece a produção de uvas de alta qualidade e reduz o risco de doenças nas plantas. Durante muito tempo, a Campanha Gaúcha foi reconhecida sobretudo pelo volume de sua produção. Mas, nos últimos anos, passou a ganhar prestígio também pela qualidade dos vinhos que produz, muitos deles premiados em concursos nacionais e internacionais. Um dos principais símbolos dessa virada é a vinícola Guatambu. Fundada em 2003 pela tradicional família Pötter, do agronegócio gaúcho, a iniciativa surgiu a partir de uma provocação de Gabriela Pötter, uma das quatro filhas do patriarca, Valter. Desde o início, a qualidade das uvas demonstrou que o projeto tinha futuro. Hoje, a Guatambu cultiva 20 hectares de vinhedos – uma pequena porçã o dentro da vasta propriedade de mais de 11 mil hectares –, mas que já representa uma fatia significativa do faturamento da fazenda, graças ao

A Campanha possui 20 vinícolas em atividade, incluindo nomes de peso no mercado brasileiro como Miolo e Salton

alto valor agregado de seus rótulos. Entre os destaques, está o espumante Nature Blanc de Blancs, eleito o melhor do Brasil pelo guia Descorchados no ano passado.

Na edição mais recente do guia Descorchados, assinado pelo jornalista chileno Patricio Tapia, o Potter Tannat 2024 foi eleito o melhor tinto brasileiro, dividindo o topo do ranking com dois rótulos de vinícolas concorrentes. Para Gabriela Pötter, o segredo do reconhecimento está no “microterroir muito especial” da propriedade, localizada no município de Dom Pedrito. Além da excelência na produção, a Guatambu também se destaca pelo enoturismo: oferece uma das experiências mais completas da região, com visitas guiadas, degustações e o Dia Épico, um festival que combina gastronomia harmonizada, música ao vivo e programação cultural em meio aos vinhedos.

É na Campanha Gaúcha que se concentram alguns dos maiores vinhedos do País. A gigante Miolo, por exemplo, mantém ali importantes propriedades, como a Quinta do Seival, berço de alguns de seus rótulos mais prestigiados; e a Almadén, a maior vinícola do Brasil em área contínua, com mais de 450 hectares de videiras em produção. Graças à topografia majoritariamente plana, a Campanha é a única região vitivinícola do País que permite a colheita 100% mecanizada. Cada colheitadeira cobre, em média, de 120 a 130 hectares e realiza em meio turno o que exigiria um dia inteiro de trabalho manual de uma equipe com 100 pessoas. O custo é alto: o valor de cada máquina, somado a frete e impostos, pode chegar a R$ 1 milhão. Mas, pelo volume colhido e pela precisão do processo, o investimento se paga. A urgência na colheita também é estratégica: o ideal é retirar as uvas da planta no ponto exato de maturação, antes que passem do ponto. Por isso, o trabalho geralmente começa ainda de madrugada, quando as temperaturas são mais amenas. “A diferença entre fazer um vinho mediano e um grande vinho está no momento da colheita”, resume Adriano Miolo, superintendente da vinícola.

Alguns dos vinhedos mais antigos do País ficam na região. Na Almadén, os primeiros parreirais foram plantados em 1982

Alguns dos vinhedos mais antigos do País também estão na Campanha Gaúcha. Na Almadén, os primeiros parreirais foram plantados em 1982. Restam hoje poucas fileiras dessas videiras originais, entre elas uma pequena e valiosa parcela da variedade Colombard, também conhecida como French Colombard, cada vez mais rara no cenário vitivinícola brasileiro. Cultivadas em formato de pequenos arbustos, essas uvas são utilizadas em alguns blends exclusivos da marca. Outra parcela histórica, quase tão antiga quanto, é dedicada à Tannat, uva que encontrou na Campanha um terroir ideal, especialmente pela proximidade geográfica e climática com o Uruguai. Essas vinhas antigas são destinadas à produção do Tannat Vinhas Velhas, um dos rótulos mais emblemáticos da Miolo, integrante da linha Sete Lendários, dedicada a vinhos de tiragens limitadas.

A Cooperativa Nova Aliança, uma das maiores do País, acaba de completar 95 anos. Embora concentre suas atividades com cooperados de outras regiões, como a Serra Gaúcha, foi na Campanha que encontrou uma oportunidade singular: a Fazenda Santa Colina, adquirida em 2005. A propriedade, com 500 hectares, pertenceu originalmente a empresários japoneses apaixonados pelos vinhos da Almadén. Em busca de um terroir semelhante, instalaram-se na região e chegaram a produzir rótulos para exportação ao Japão – até decidirem encerrar a operação. Hoje, a Nova Aliança cultiva 60 hectares de vinhedos na fazenda e planeja expandir: a meta é alcançar 150 hectares nos próximos cinco anos, justamente quando a cooperativa celebrará seu centenário. “A propriedade é a menina dos olhos da cooperativa. É daqui que vêm os nossos vinhos ícones”, afirma o CEO Heleno Facchin.

Terra de tradições centenárias, a Campanha Gaúcha abriga vinícolas que se dedicam não apenas à preservação das raízes familiares, mas também à proteção do bioma Pampa, um dos mais ameaçados do Brasil. É o caso da Estância Paraizo, comandada por Victoria Zara Mercio, representante da décima geração da família.

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A Campanha Gaúcha abriga vinícolas que se dedicam não apenas à preservação das raízes familiares, mas à proteção do bioma Pampa

“Somos uma vinícola do pampa profundo”, diz. “Uma companhia gaúcha verdadeira e original, que mantém vivos os princípios da colonização da fronteira com o Uruguai, quando essa fronteira ainda nem era definida.” Com forte compromisso ambiental, a propriedade de 1,6 mil hectares tem mais da metade da área dedicada à pecuária de baixo carbono, com gado criado em sistema grass fed (alimentado apenas com pasto). Segundo Victoria, trata-se da maior extensão de terras privadas em conservação ativa do bioma. “Nosso negócio é o pampa”, afirma. A produção de vinhos é pequena, quase artesanal: apenas 5,5 hectares com duas variedades, Cabernet Sauvignon e Syrah. Mas o enoturismo ganha força. Quem visita a Estância pode, além de degustar os vinhos, fazer um tour histórico, que inclui o mausoléu da família.

Nem todos os produtores agrícolas da região compartilham da mesma preocupação com o meio ambiente. Em diversas lavouras de soja, ainda é comum o uso do herbicida hormonal 2,4-D, um dos componentes do Agente Laranja, desfolhante tristemente célebre por seu uso durante a Guerra do Vietnã. Embora seja proibido em vários países devido aos riscos à saúde

quando mal aplicado, o produto continua autorizado no Brasil, desde que respeitadas normas rigorosas de manuseio. Na prática, porém, essas regras raramente são seguidas à risca – e o resultado é a chamada deriva, quando partículas do defensivo se espalham pelo ar e atingem áreas vizinhas, como os vinhedos. Variedades mais sensíveis, como a Chardonnay, podem sofrer sérios danos: mudas inteiras morrem e a produtividade despenca. Análises em amostras de vinhos produzidos com uvas contaminadas indicam que, no produto final, não há vestígios tóxicos, o que garante a segurança para o consumo. Mas o prejuízo nas videiras, e no bolso dos viticultores, é significativo. O tema chegou ao Judiciário. Em dezembro do ano passado, a Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi) e a Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha entraram com uma ação contra o Estado, alegando ausência de fiscalização eficaz. A disputa, por ora, continua em aberto.

Há ainda um obstáculo a ser superado. Apesar da qualidade dos vinhos e da força dos projetos locais, a Campanha Gaúcha enfrenta limitações significativas em infraestrutura voltada ao enoturismo. O acesso é uma das principais barreiras. De Porto Alegre até Bagé, são quase 400 quilômetros, uma viagem de cerca de cinco horas por trechos da BR-290, uma das principais rodovias do estado, mas em grande parte com pista simples e tráfego intenso de caminhões. A região ainda conta com poucos hotéis e longas distâncias entre os vinhedos. Muitos deles nem sequer oferecem estrutura adequada para receber turistas. “A questão dos aeroportos é a principal”, afirma Adriano Miolo. “Dizem que não colocam voos porque não há turistas. Mas eles não vão vir se não tiver como chegar”, completa. Ainda assim, quem decide enfrentar o trajeto costuma se surpreender. E, para os mais indecisos, vale começar pelo mais simples: abrir um rótulo da região e deixar que a taça mostre por que a Campanha merece ser descoberta.

Choque térmico

Aplicativo minimiza o impacto do calor na criação de suínos, aliando bemestar animal, ganho de produtividade e inovação

SSTARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

STARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

TECNOLOGIA CONTRA O CALOR

Aplicativo desenvolvido por pesquisadores da Esalq/ USP ajuda a reduzir os efeitos das altas temperaturas nos sistemas de criação, promovendo bem-estar animal, eficiência produtiva e inovação na suinocultura

Com um rebanho de 5,9 milhões de cabeças em 2024 e uma produção estimada em 5,5 milhões de toneladas de carne suína para 2025, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking global do setor, atrás apenas da China, União Europeia dos Estados Unidos. Mas esse desempenho enfrenta um obstáculo cada vez mais relevante: o calor. Em um país tropical e sujeito às mudanças climáticas, as altas temperaturas provocam estresse térmico nos animais, afetando produtividade, rentabilidade e qualidade da carne. Para ajudar os produtores a enfrentarem os efeitos do calor sobre os animais, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), desenvolveram o GRT Suínos, um aplicativo que avalia os riscos térmicos nas granjas e orienta as medidas necessárias para garantir o bem-estar dos suínos. O GRT Suínos surge como um novo aliado tecnológico para a suinocultura, com potencial para transformar o modo como os produtores enfrentam o estresse térmico nos rebanhos. “A ideia nasceu da constatação de que, embora haja um volume crescente de pesquisas sobre riscos na suinocultura, elas são fragmentadas e carecem de uma abordagem integrada de gestão, especialmente diante dos efeitos das mudanças climáticas”, afirma Fabiano Gregolin, coordenador do projeto e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Bem-Estar, Ambiência e Zootecnia de Precisão (GBAZP), da Esalq/USP. Segundo Gregolin, o objetivo do projeto foi criar uma solução tecnológica capaz de auxiliar os produtores na

identificação, avaliação e gestão de riscos relacionados ao conforto térmico dos suínos.

Foi assim que nasceu o GRT Suínos (sigla para Gestão de Riscos Térmicos), concebido como uma ferramenta de apoio à tomada de decisão nas granjas. “O calor provoca estresse térmico, compromete a homeostase e exige maior gasto de energia dos animais para manter a temperatura corporal”, afirma o pesquisador. Homeostase é o processo pelo qual os organismos mantêm um equilíbrio interno estável, regulando funções como temperatura, níveis de glicose e pH, mesmo diante de variações no ambiente externo. Quando esse mecanismo é comprometido, há redução da conversão alimentar, queda na eficiência produtiva e aumento dos custos, o que impacta a rentabilidade, o bem-estar dos

animais e a qualidade final da carne.

Desenvolvido para o sistema Android e baseado na metodologia Scrum, voltada à gestão colaborativa de projetos, o GRT Suínos já foi testado e validado por técnicos e estudantes da área. “O aplicativo propõe uma abordagem inovadora e integrada para a gestão de riscos térmicos nas granjas, com potencial de melhorar a produtividade, o bem-estar dos animais e a qualidade do produto final”, afirma Gregolin. Segundo o pesquisador, o grande diferencial do aplicativo está na capacidade de guiar o produtor na identificação, análise e avaliação dos riscos térmicos nas granjas. Ao final do processo, o sistema gera um relatório técnico com sugestões de ações corretivas. “Os testes indicaram alto nível de satisfação

dos usuários e boa usabilidade, confirmando a eficácia e a aceitação da ferramenta”, afirma o pesquisador.

Gregolin destaca que o GRT Suínos foi desenvolvido para aliar ciência, tecnologia e praticidade. O uso é simples: o produtor insere dados sobre o ambiente produtivo, como estrutura da granja, sombreamento, ventilação, manejo e até a resposta dos animais ao calor. A partir dessas informações, o aplicativo gera um relatório técnico com os riscos identificados, sugestões de ações corretivas e orientações para o monitoramento contínuo do conforto térmico. É fácil compreender as habilidades do app. O GRT Suínos funciona como um sistema de gestão de riscos térmicos, baseado em um mapa que identifica 172 riscos distribuídos em

O diferencial do app está na capacidade de guiar o produtor na identificação e análise dos riscos térmicos nas granjas

quatro grandes categorias – instalações, equipamentos, manejo e animal – e 27 subcategorias. O aplicativo permite ao usuário registrar dados, analisar ameaças ao bem-estar térmico e gerar, ao final, um relatório gerencial com orientações para a tomada de decisão. Segundo Gregolin, o desenvolvimento do aplicativo foi dividido em três etapas. “A primeira consistiu em uma revisão sistematizada da literatura, para mapear o estado da arte sobre gestão de riscos em suinocultura”, diz. “Na segunda, elaboramos um modelo inédito com base em ampla revisão bibliográfica e dados empíricos, resultando na construção de um mapa de riscos térmicos. A terceira etapa foi a criação, o desenvolvimento e a validação do GRT Suínos como ferramenta prática e funcional.”

Os testes confirmaram que o GRT Suínos é uma ferramenta inovadora, bem recebida pelos usuários. O aplicativo obteve alto índice de satisfação e foi considerado de fácil uso. “Trata-se de um avanço importante na introdução da gestão de riscos na suinocultura, com impacto positivo nas condições produtivas, tanto para os animais quanto para os profissionais do setor”, afirma Gregolin. “Além disso, abre caminho para novas pesquisas e inovações na área.”

Um dos diferenciais do app, segundo ele, é o alinhamento com padrões internacionais de gestão de riscos, como os definidos pela norma ISO 31000. A equipe da Esalq trabalha agora para tornar o aplicativo disponível nas principais lojas virtuais. “Estamos em busca de parceiros para viabilizar a disseminação da tecnologia. Acreditamos que essa ferramenta tem potencial para transformar a gestão da suinocultura no Brasil”, conclui o pesquisador.

FUTURO PROMISSOR

DATAGRO Abertura de Safra – Cana, Açúcar e Etanol destaca as novas oportunidades que a agenda da descarbonização traz para o setor sucroenergético

P or r onaldo l uiz

os dias 12 e 13 de abril, o Centro de Eventos Taiwan, em Ribeirão Preto (SP), recebeu mais uma edição do DATAGRO Abertura de Safra – Cana, Açúcar e Etanol. O evento, que há nove anos é o ponto de partida para a safra de cana-de-açúcar do Centro-Sul do Brasil, reuniu, em 2025, 2 mil pessoas e mais de 75 palestrantes.

Entre os presentes estiveram Plinio Nastari, presidente da DATAGRO; César Barros, presidente do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC); Gustavo Herrmann, diretor Comercial da Koppert; Hugo Cagno, presidente da União Nacional da Bioenergia (Udop); Gustavo Rattes, presidente da Organização de Associações de Produtores de Cana (Orplana); Caroline Perestrelo, líder da Rede Agro Corporate do Santander; Eduardo Macedo, head de Assuntos Públicos da Latam Airlines; e Renata Camargo, gerente de Sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Autoridades também marcaram presença, como o deputado federal Arnaldo Jardim, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA); o prefeito de Ribeirão Preto, Ricardo Silva; e o coordenador-geral de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Luiz Gustavo Wiechoreki. O secretário da Agricultura de São Paulo, Guilherme Piai, representou o governador do estado, Tarcísio de Freitas.

Além disso, representantes de grandes marcas do setor sucroenergético e do agro brasileiro discursaram. Entre elas: CerradinhoBio, Inpasa, Usina São Manoel, FS, BP Bioenergy, Usina Alta Mogiana, Usina Santa Adélia, Adecoagro, São Martinho, Jalles Machado e John Deere. As mais de 14 horas de conteúdo abordaram todas as etapas da cadeia produtiva – plantio da cana, comercialização de açúcar e etanol, bioenergia, biogás/ biometano, combustíveis sustentáveis marítimo e de aviação, hidrogênio verde, armazenamento de carbono, entre outras.

SETOR SUCROENERGÉTICO

DEMONSTRA OTIMISMO

As principais lideranças do setor sucroenergético brasileiro, entre autoridades, dirigentes,

produtores, empresários e especialistas do segmento, externaram otimismo com as perspectivas de aumento da mistura de etanol anidro na gasolina de 27% para 30% ainda em 2025. O Ministério de Minas e Energia (MME) aprovou um protocolo de testes para avaliar a viabilidade técnica da medida.

Representando o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o coordenador-geral de Cana-de-Açúcar e Agroenergia da pasta, Luiz Gustavo Wiechoreki, disse que a elevação está na pauta do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que delibera a questão, deste ano. “Contem com o Mapa para que este pleito seja aprovado”, disse.

Homenageado por sua trajetória de vida pública em defesa do agro, em particular do setor sucroenergético, o deputado federal Arnaldo Jardim, enfatizou que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), da qual é vice-presidente, trabalhará de forma ativa para que o aumento do percentual do etanol anidro na gasolina seja aprovado.

Em sua exposição, o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, mencionou que o agro tem se mostrado extremamente resiliente, mantendo a entrega de resultados socioeconômicos e ambientais, mesmo diante de um cenário global complexo, de reviravoltas geopolíticas, bem como diante dos impactos das mudanças climáticas, sobretudo de seca nas últimas safras. “O agro brasileiro tem sido reconhecido por sua competência e sustentabilidade por produzir com menor custo de produção, entregando mundialmente produtos a preços competitivos.”

Caroline Perestrelo, líder sênior da Rede Agro Corporate do Santander, pontuou a projeção de alta do PIB do País em 2025, com grande contribuição do agro – o que inclui, claro, o segmento sucroenergético. Por sua vez, Gustavo Herrmann, diretor Comercial da Koppert, exaltou o uso cada vez mais acentuado de bioinsumos no agro, citando, especialmente, o crescimento da adoção de ferramentas de controle biológico nas lavouras de cana.

Entre outras falas de destaque, o diretor da Feplana, Luís Henrique Scabello de Oliveira, lembrou a importância da aprovação de projeto de lei, que assegura o repasse de parte da receita gerada pelos CBios também aos produtores de cana, e o presidente da Unem, Guilherme Nolasco, uma vez mais registrou a expansão crescente do etanol de milho.

Na temática da mobilidade sustentável, o presidente da Unica, Evandro Gussi, chamou a atenção para o fato de que tecnologias de eletrificação não estão entregando ganhos relacionados à descarbonização, o que reforça a importância dos biocombustíveis.

O deputado Arnaldo Jardim salientou, ainda, que a FPA trabalhará também para que haja reciprocidade tarifária ou de mercados no que diz respeito a questões relacionadas a eventual redução de tarifas para ingresso do etanol dos Estados Unidos no Brasil. “Iremos buscar mais espaço para nosso açúcar no mercado americano”, disse.

Por fim, o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai, destacou o grande potencial agroambiental do estado, que tem como lastro um conjunto diverso de oportunidades vinculadas às energias renováveis. “O setor sucroenergético é um dos pilares da economia paulista e se destaca

cada vez mais pela inovação e um rigoroso padrão de sustentabilidade por iniciativas como o Protocolo Etanol Mais Verde, em parceria com todos os elos da cadeia produtiva do açúcar, álcool e bioenergia”, afirmou.

AGRO BRASILEIRO ESTÁ

BEM POSICIONADO

Nos setores de açúcar e etanol, os Estados Unidos dependem mais do Brasil do que nós deles, afirmou o líder de Açúcar para as Américas da ED&F Man, Rodrigo Ostanello. “Diante de um cenário de guerra comercial, o setor sucroenergético brasileiro está bem posicionado para negociar”, afirmou.

No que diz respeito ao açúcar, o head de Açúcar nas Américas da Hedgepoint Global Markets, Carlos Murilo Barros de Mello, destacou que o balanço global do adoçante – de oferta e demanda – está equilibrado, o que deixa o cenário, neste momento, menos construtivo para os preços: “Há um certo quadro de ciclo de baixa que deve perdurar por mais uns dois anos, mas no longo prazo a tendência é altista, porque as áreas de cultivo de cana mundialmente são restritas”.

De todo modo, para a temporada 2025/26 o mix de produção no Brasil deve ser mais açucareiro pelo fato de que os preços do etanol

estão defasados no mercado doméstico, opinião endossada pelo trader sênior da Sucden, Ulysses Carvalho.

DATAGRO DIVULGA NOVA PROJEÇÃO PARA A MOAGEM DE CANA NO CENTRO-SUL

Na safra 2025/26, o Centro-Sul do Brasil deverá processar 612 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e produzir 42,35 milhões de toneladas do adoçante, além de 12,76 bilhões de litros de etanol anidro e 21,95 bilhões de litros do biocombustível hidratado. O mix açucareiro deverá ficar em 51%.

A projeção foi apresentada pelo presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, com participação especial de Bruno Wanderley Freitas, líder de conteúdo da DATAGRO. Se confirmada as projeções, teremos uma queda de 1,4% no processamento de cana em relação à temporada 2024/25, quando foram esmagadas 621 milhões de toneladas. “Foi uma safra muito impactada por incêndios e seca, que consumiram 450 mil hectares”, pontuou Nastari.

A DATAGRO apontou ainda que a produção de açúcar no ciclo passado totalizou 39,81 milhões de toneladas, uma queda de 5,6% em relação a 2023/24. Por outro lado, a fabricação de etanol cresceu 3,7%, para 33,57 bilhões de litros,

sendo 12,2 bilhões de litros de etanol anidro (queda de 5,8%) e 21,4 bilhões de litros de etanol hidratado (avanço de 10%). Quanto à qualidade da cana, espera-se uma maior infestação de plantas daninhas, podendo elevar impurezas, mas menor infestação de pragas, como a broca-da-cana, e redução de inóculo de doenças devido ao aumento de incêndios em 2024.

MANEJO DOS CANAVIAIS PASSARÁ

POR SIGNIFICATIVAS MUDANÇAS

Na busca por maior produtividade, o manejo dos canaviais passará por significativas mudanças nos próximos anos, pontuou o presidente do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Cesar Barros. Do ponto de vista do material genético, que terá forte apelo da biotecnologia, o que vem por aí levará a ciclos mais curtos de produção, disponibilidade constante de mudas, ampliação de áreas de plantio – levando a cana a novas regiões – e fim da necessidade de planejamento de viveiros.

Na avaliação do diretor e pesquisador científico do IAC, Marcos Landell, os ganhos de rendimento não podem depender apenas do potencial biológico e do melhoramento genético de novas cultivares, mas também da combinação desses avanços com o cuidado, proteção, fertilidade e nutrição do solo. “É esta junção que vai

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destravar a produtividade dos canaviais”, disse.

O professor titular da UFSCar e coordenador-geral da Ridesa, Hermann Hoffmann, e o head Comercial de Cana-de-Açúcar da Koppert, Vinícius Lopes, também participaram do painel, no qual falaram, respectivamente, sobre a expansão da cana para áreas mais desafiadoras de produção e do elevado uso do controle biológico na cultura.

PRODUÇÃO DE ETANOL DE MILHO TEM

POTENCIAL PARA DOBRAR DE VOLUME

A produção brasileira de etanol de milho tem potencial para dobrar de volume até 2033/34, saltando dos atuais 8,25 bilhões de litros para cerca de 16,63 bilhões ao fim dos próximos nove anos, projetou o presidente executivo da Unem, Guilherme Nolasco. “Hoje, o etanol de milho responde por 22% da oferta nacional do biocombustível”, disse o dirigente.

De acordo com Nolasco, atualmente o segmento de etanol de milho tem 25 biorrefinarias em operação, com destaque para o estado do Mato Grosso com 11. Dez novos projetos já têm autorização para construção e outros 20 estão programados. Executivos de grandes grupos produtores de etanol de milho também participaram do painel: Gustavo Mariano, vice-presi-

dente de Trading da Inpasa Brasil; Paulo Trucco, diretor Comercial da FS; e Renato Pretti, diretor-presidente da CerradinhoBio.

Segundo eles, o etanol – seja de cana ou de milho – precisa abrir mercados em novos estados do País e não somente onde é produzido em larga escala. Além disso, o biocombustível também tem potencial para ser usado no segmento de veículos pesados, bem como em novas fronteiras, como na aviação e no transporte marítimo, que, apesar de ainda serem incipientes, apresentam grandes perspectivas no médio e no longo prazo.

DESAFIO É O BRASIL PRODUZIR SAF

O Brasil tem enorme potencial para ser um grande fornecedor de matérias-primas para produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês), mas precisa construir uma agenda de atração de investimentos caso almeje produzi-lo internamente. Foi o que destacou o presidente do Siamig e da Bioenergia Brasil, Mário Campos Filho.

Também participante do painel, o head de Assuntos Públicos em Relações Institucionais da Latam Airlines, Eduardo Macedo, pontuou que a companhia encomendou recente estudo ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachu-

setts), que apontou que a adoção do SAF é o principal caminho para a descarbonização do setor aéreo. “A Latam tem a meta de ser net zero até 2050, e em 2027 iniciam-se os mandatos”, disse. De acordo com o executivo, o custo é um enorme desafio para o SAF na comparação com o querosene de aviação. O CEO da Air & Parts, Piero Acco, encerrou o painel abordando as oportunidades para o setor sucroenergético com a captura e armazenamento de carbono.

EXPANSÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO BIOMETANO/BIOGÁS

Resíduos e sobras da produção de açúcar e etanol, entre os quais bagaço e palha da cana, vinhaça e torta de filtro, são as principais matérias-primas para a produção de biogás e, consequentemente, do biometano no Brasil, disse a presidente executiva da ABiogás, Renata Isfer. “O setor sucroenergético é destaque na cadeia produtiva do biometano/biogás”, disse.

O biometano é um biocombustível derivado do biogás, que é produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos. Ambos são gases renováveis que podem ser utilizados para gerar energia elétrica ou térmica.

Segundo Isfer, hoje a produção nacional diária de biometano se situa em torno de 850 mil

metros cúbicos, volume que corresponde a aproximadamente 1% da demanda por gás de origem fóssil. O setor, ressaltou a dirigente, tem como meta elevar a produção diária para 1,416 milhão de metros cúbicos até 2032. De acordo com a presidente executiva da ABiogás, atualmente 34 plantas de biogás/biometano estão em operação, e 11 novos projetos aguardam autorização da ANP.

Além de substituir o gás de origem fóssil em diversas atividades, o biometano pode ser usado no segmento de veículos pesados, como fonte de energia para operações de plantas industriais e também é rota elegível para fabricação de combustível sustentável de aviação.

MUDANÇAS NAS METAS DE AQUISIÇÃO DE CBIOS

Mudanças repentinas nas metas de aquisição de CBios (Créditos de Descarbonização) que as distribuidoras de combustíveis têm que obrigatoriamente cumprir anualmente comprometem o bom funcionamento, a credibilidade e até a própria existência da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), alertaram especialistas.

De acordo com a lei do RenovaBio, que tem como objetivo a descarbonização, anualmente

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as distribuidoras são obrigadas a adquirir determinado volume de CBios para compensar a venda de combustíveis fósseis. “A alteração nas metas gera incertezas, e o que o RenovaBio precisa é de previsibilidade”, afirmou o diretor Comercial da usina Jalles, Henrique Penna. Segundo o diretor Comercial da Usina Alta Mogiana, Luiz Gustavo Junqueira, nos últimos meses, aproximadamente 25% dos CBios ofertados não tiveram contrapartida das distribuidoras. Além disso, liminares solicitadas pelas distribuidoras impediram o correto funcionamento do mercado comprador. “A credibilidade do RenovaBio começou a ficar comprometida com o grande número de distribuidoras fora do mercado.”

Para a líder sênior da Rede Agro Corporate do Santander, Caroline Perestrelo, todo esse cenário prejudica a valoração justa dos CBios e inibe a participação de terceiros, que eventual-

mente teriam interesse em lucrar com a compra e venda dos certificados, em participar do mercado: “É um quadro que não favorece a liquidez das operações, que ficam restritas apenas às partes obrigadas”.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SE TORNA GRANDE ALIADA NO COMBATE ÀS PLANTAS DANINHAS

No cultivo de cana-de-açúcar, o manejo adequado das plantas daninhas é crucial para reduzir os custos de produção. Identificando corretamente essas plantas, o produtor pode adotar estratégias mais eficazes utilizando ferramentas apropriadas, como a inteligência artificial (IA). O diagnóstico foi feito pelo sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos, João Botão.

Segundo Botão, as plantas daninhas fazem parte do processo agrícola e precisam ser geren-

ciadas adequadamente, pois consomem os recursos destinados às culturas, afetando sua produtividade. “Na rotina do campo, é essencial que sejam utilizadas soluções específicas para cada variedade infestadora, o que exige um diagnóstico preciso da situação da lavoura”, afirmou. “O uso da inteligência artificial representa uma mudança na atitude do produtor, que deve se permitir testar novas tecnologias, como a oferecida pela Taranis.”

Para ele, a IA atua como um termômetro na medicina: “Ao tocar a testa de alguém, percebe-se uma possível febre, mas não a temperatura exata. Para isso, é necessário usar o termômetro. A inteligência artificial da Taranis fornece uma medição precisa, com maior cobertura e confiabilidade, oferecendo uma visão mais abrangente das condições da lavoura”.

Ao refletir sobre o comportamento do pro -

dutor brasileiro de cana-de-açúcar, o especialista apontou que, apesar das variações regionais no cultivo, o maior desafio, não apenas na produção de cana, mas também em outros setores, é o fator humano. “Isso envolve tanto a escassez de mão de obra, com muitas atividades ainda realizadas manualmente, como a necessidade de qualificar esses trabalhadores. É crucial investir no treinamento para o uso de tecnologias. Um time bem capacitado e adaptado à tecnologia é o maior desafio para todos”, salientou.

A Taranis utiliza tecnologia para identificar ameaças nas lavouras. Por meio de imagens de alta resolução, é possível apontar as áreas impactadas, o tipo de problema, a presença de ervas daninhas e o grau de cada problema. Além disso, a tecnologia consegue localizar cada planta daninha por talhão e identificar doenças ou deficiências nutricionais.

SEM FRONTEIRAS

Global Agribusiness Forum realiza no Uruguai sua primeira edição fora do Brasil e reafirma região do Cone Sul como protagonista global na agenda da produção de alimentos e energia limpa

aregião do Cone Sul – em especial Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai – se fortalece, dia após dia, como protagonista global na produção de alimentos e energia limpa e renovável. Por outro lado, países como China e Estados Unidos enfrentam desafios como a limitação de áreas agricultáveis e, sobretudo, gargalos relacionados ao fornecimento de água para o abastecimento das lavouras. O diagnóstico foi apresentado no dia 6 de fevereiro pelo presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, durante painel na primeira edição do Global Agribusiness Forum realizada fora do Brasil, em Punta del Este, no Uruguai.

Segundo Nastari, três temas concentram os principais desafios da agenda global: alimentos, energia e mudanças climáticas. Ainda que, à primeira vista, esses assuntos possam parecer independentes, um olhar mais atento revela que estão profundamente interligados, o que representa uma grande oportunidade para os países do Cone Sul, que estão bem posicionados para liderar essa transformação.

Nesse contexto, Nastari destacou o movimento virtuoso de integração das cadeias produtivas de alimentos e energia no Brasil. Um dos exemplos é a produção de etanol a partir do milho, que gera não apenas o biocombustível, mas também o DDG, resíduo aproveitado na alimentação animal. Esse processo contribui para o aumento da eficiência dos rebanhos, que são abatidos mais rapidamente e exigem menor uso de pastagens, o que, por

sua vez, libera novas áreas para a agricultura. “É a industrialização do grão”, resumiu.

Para consolidar esse modelo de integração entre cadeias produtivas, é necessário um ambiente regulatório que amplie a segurança jurídica, permitindo que os mercados deem sinais claros de preços, estimulem investimentos e garantam o retorno das atividades.

Segundo Nastari, essa equação também deve considerar um ponto essencial: garantir o acesso à alimentação, especialmente às populações mais vulneráveis.

PRODUTOS DE MAIOR VALOR AGREGADO

Alejandro Bonilla, chefe do Departamento de Acordos e Negociações da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), afirmou que os países do Cone Sul, historicamente especializados em commodities agrícolas, têm enorme potencial para avançar na oferta de produtos com maior valor agregado nos mercados globais. “Hoje, o comércio mundial está quase igualmente dividido entre produtos básicos e os de valor adicionado”, explicou.

Bonilla também ressaltou que, ao falar de comércio agrícola, é preciso incluir os serviços associados a esse ecossistema, e não apenas os produtos. O painel teve ainda a participação do presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, e foi moderado por Cesario Ramalho, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e uma das principais lideranças do agronegócio no País.

P or r onaldo l uiz
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COMPLEMENTARIDADE ENTRE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E ENERGIA

O ministro da Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos, afirmou que, no Cone Sul, não há competição por terra entre a agricultura destinada à produção de alimentos e a voltada para a geração de energia. Segundo ele, a região é um exemplo de que essas cadeias são complementares.

“Estamos na melhor região do mundo para enfrentar o desafio global da segurança alimentar e energética. Somos grandes produtores de alimentos, fibras e energia”, destacou. De acordo com Mattos, os países do Cone Sul vêm investindo fortemente em tecnologia para aumentar a produtividade e atender à crescente demanda mundial. “Sob a ótica do produtor, temos observado que os produtos energéticos de base agrícola vêm sendo mais rentáveis”, acrescentou.

EXPANSÃO NO MERCADO GLOBAL DE CARNES

Segundo João Otávio Figueiredo, líder de Pesquisa da DATAGRO Pecuária, o cenário global de carnes em 2025 aponta para uma escassez estrutural: o estoque mundial de gado será de apenas 607 milhões de cabeças, o menor volume desde o início da série histórica, em 1968.

Esse quadro é resultado, em grande parte, da

crise nos Estados Unidos, onde os rebanhos estão no menor nível em mais de 70 anos. Das 607 milhões de cabeças projetadas para os estoques globais neste ano, 260 milhões estarão na América do Sul – sendo 182 milhões no Brasil, 53 milhões na Argentina, 13 milhões no Paraguai e 12 milhões no Uruguai – e 114 milhões na América do Norte.

“Isso abre muitas oportunidades”, disse Figueiredo. “Não só para o Mercosul exportar mais para os Estados Unidos, mas também para México, Canadá e outros destinos que antes eram atendidos pelos americanos.” Para 2025, a projeção da DATAGRO Pecuária é de um déficit global de quase 400 mil toneladas de carne bovina, e um saldo negativo de 121 mil toneladas no fluxo comercial entre os países.

Hoje, o Brasil exporta cerca de 30% de toda a carne que produz, percentual bem abaixo dos 80% do Uruguai e dos 70% do Paraguai. A Argentina exporta 27% de sua produção, índice próximo ao do Brasil, mas com maior dependência da China: 75% das exportações argentinas têm como destino o país asiático, enquanto o Brasil envia 52%.

Diante desse cenário favorável, especialistas destacaram os caminhos para consolidar o Mercosul como protagonista no mercado global de carne bovina. Álvaro Pereira Ramela, gerente de Acesso a Mercados do Instituto Nacional de

Carnes do Uruguai, defendeu que os governos busquem novos acordos sanitários, promovam internacionalmente a pecuária local e invistam em rastreabilidade e sustentabilidade.

“Historicamente, a carne uruguaia e a argentina sempre tiveram qualidade superior à da brasileira, mas o Brasil vem ganhando eficiência e avançando muito em rastreabilidade e sustentabilidade”, observou João Figueiredo.

Um ponto crítico, segundo Ramela, são as elevadas tarifas cobradas para a entrada de carne do Mercosul em mercados estratégicos, superiores às aplicadas à Austrália, por exemplo. Marcelo Secco Arias, COO da Marfrig Conosur, ressaltou a importância de investir em certificações, que ampliam o acesso a novos mercados e agregam valor ao produto.

CIÊNCIA E SUSTENTABILIDADE

COMO PEÇAS-CHAVE

“Não dá para falar do Brasil sustentável sem lembrar do nosso passado de insegurança alimentar, quando éramos o maior importador global de alimentos”, destacou Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial.

Esse cenário começou a mudar nos anos 1970, quando líderes como Alysson Paolinelli e Eliseu Alves, então ministros da Agricultura, enviaram quase mil jovens brasileiros ao exterior para aprender com a agricultura mundial. “Ao

retornarem, muitos deles, ao lado dos produtores, desenvolveram soluções tecnológicas que mudaram os rumos da produção de alimentos, fibras e energia no Brasil”, afirmou.

A partir daí, o agronegócio brasileiro cresceu de forma exponencial, superando a insegurança alimentar sem abrir mão da sustentabilidade.

Segundo Spadotti, dados da Embrapa e da Nasa mostram que mais de 66% do território nacional continua coberto por vegetação nativa – trata-se de um dos maiores índices de preservação ambiental do planeta. Além disso, apenas 7,6% da área do País é usada para cultivo agrícola, o que representa um baixo nível de exploração em comparação com outras nações. “Infelizmente, ainda não conseguimos comunicar isso com clareza à sociedade brasileira e à comunidade internacional”, lamentou Spadotti.

Daniela Kallas, sócia e diretora de Relações Institucionais do Polvo Lab, também participou do painel e destacou o papel do cooperativismo. “A agricultura familiar aliada ao cooperativismo é um grande motor de transformação. Mais do que um modelo de gestão, é um modelo de vida”, afirmou. Segundo ela, cooperativas bem estruturadas fortalecem o poder de negociação, reduzem custos, estimulam a troca de conhecimento e criam um senso de pertencimento que ultrapassa o aspecto econômico, gerando assim um tecido social mais resiliente.

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DATAGRO Markets

POR QUE REALIZAR O GAFFFF?

A DATAGRO tem muito orgulho de ser a impulsionadora do Global Agribusiness Festival (GAFFFF), que inclui o Global Agribusiness Forum (GAF) organizado desde 2010, e acrescenta ainda as vertentes de feira (fair), gastronomia (food) e cultura agro (fun). O Forum tem como correalizadores as maiores entidades representativas do agro: a SRB, Sociedade Rural Brasileira; ABCZ, Associação Brasileira dos Criadores de Zebu; ABIEC, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes; ABPA, Associação Brasileira de Proteína Animal; Abrafrutas, Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados; Abramilho, Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo; Bioenergia Brasil (Associação dos Produtores de Cana, Açúcar e Etanol); MAIZALL (Aliança Internacional de Produtores e Exportadores

de Milho, que inclui o US Grains Council, MAIZAR, Associação de Produtores de Milho da Argentina, e Abramilho); e a UNEM, União Nacional do Etanol de Milho.

O GAF é o único evento global do agro que conta com o apoio simultâneo dos governos do Brasil, dos EUA, através do USDA, da Comissão Europeia e de mais 28 países apoiadores; de todas as organizações internacionais de commodities, de grãos, açúcar, cacau e café; da FAO, da ONU; da WOAH, Organização Mundial da Saúde Animal; e de mais de 130 associações de produtores rurais de todo o mundo. Além disso, o GAFFFF recebe o apoio de empresas globais como a XP e a Corteva, que apresentam o evento, e muitas outras empresas patrocinadoras e apoiadoras.

Na edição de 2024, o

GAFFFF reuniu mais de 23 mil participantes, durante dois dias, no Allianz Parque, em São Paulo, a mais moderna arena de eventos do País, e em 2025 será realizado no mesmo local, nos dias 5 e 6 de junho, o que abarca o Dia Mundial do Meio Ambiente, no dia 5.

É um esforço enorme, e uma grande responsabilidade. São mais de 3 mil contratos com diferentes fornecedores e empresas relacionadas, licenças e preocupações de várias naturezas. A curadoria do GAF é um elemento-chave para o sucesso de toda a iniciativa, que tem como objetivo reunir os maiores expoentes do agro mundial para discutir tendências, tecnologias, regulações, sustentabilidade, preservação de recursos naturais, ESG etc.

A razão de todo esse esforço e mobilização é

bem simples. Apesar de todo o sucesso e importância que o agro representa em vários países, inclusive no Brasil, esse continua sendo um setor pouco conhecido, reconhecido e valorizado pela sociedade como um todo. Há décadas, o agro tem realizado esforços intensos para aumentar produtividade e competitividade, melhorar a infraestrutura do campo até o consumidor final, garantir padrões sanitários e de sustentabilidade cada vez mais rigorosos, e preservar recursos naturais, solo, água e qualidade do ar. Mas muito pouco é conhecido pela sociedade, que consome os seus produtos como algo natural, sem muita informação sobre os investimentos, a tecnologia, o suor e a dedicação por trás de cada produto que é consumido pelo menos três vezes ao dia, por cada habitante.

O Brasil é um exemplo reconhecido internacionalmente. Com população de pouco mais de 210 milhões, supri alimentos a mais de 1,5 bilhão de pessoas, ocupando com lavouras uma área que equivale a 9,4% do seu território (cerca de 80 milhões de hectares), e uma área com pastagens que encolhe a cada ano (atualmente menos de 160 milhões de hectares), ao mesmo

tempo que aumenta significativamente a produção e, portanto, a exportação de proteína animal. O Brasil é o primeiro produtor mundial de soja, açúcar, café e suco de laranja; é o segundo maior produtor de milho e carne bovina; é o terceiro maior produtor de carne de frango, e o quarto maior de carne suína. Na exportação, o Brasil é o maior exportador mundial de soja, açúcar, café, suco de laranja, carne bovina e carne de frango; é o segundo exportador de milho; e o quarto exportador de carne suína.

Mais importante, o Brasil produz todo esse volume de alimentos com absoluta sustentabilidade, atendendo os padrões mais rigorosos de controle sanitário. Nenhum outro país possui legislação em vigor que exige a manutenção de reservas legais que variam de 20% a 80% da propriedade privada dependendo da região, sem nenhuma compensação. No Brasil, a agricultura energética alavanca a produção de alimentos, e não compete uma com a outra ao elevar o valor do produto primário.

No Brasil, a grande maioria do trabalho do agro tem carteira assinada e atende os exigentes padrões das NRs estabelecidas pelo governo federal. Para

comparar, nos EUA, é estimado que entre 33% e 50% de toda a mão de obra no agro é clandestina, sem documentação e nem proteção social.

Toda a tecnologia por trás dessa produção tem se traduzido em custos e preços cada vez mais baixos, além de atender os mais elevados padrões de qualidade. Mas os consumidores e a sociedade em geral não se dão conta disso, não conhecem essa realidade.

O objetivo do GAFFFF é exatamente o de preencher essa lacuna e trazer mais informação para a sociedade sobre o que está sendo feito e quais são as projeções e os avanços que ainda estão por vir.

É essa a razão que motiva todos os realizadores, patrocinadores e apoiadores desse grande evento, que se consolida cada vez mais como o maior evento do agro em todo o mundo.

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