The banker

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EDIÇÃO ESPECIAL

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Em Foco }

Bancos do Mundo by sob licença

Banca nos países da CPLP com crescimento sustentado Pág. 08

Internacional }

Bancos brasileiros espreitam internacionalização Pág. 28

Abril 2011 ~ G8 00




EDITORIAL UMA «ALDEIA (bancÁRia) GLOBAL»

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uarenta anos depois da divulgação da primeira classificação dos bancos no mundo, surge agora aos olhos da vasta comunidade de língua portuguesa, uma edição destinada a revelar quais são os maiores 1000 bancos neste momento. Quem o faz por norma, e desde 1970, é a revista «The Banker», cujos conteúdos divulgamos agora, à mistura com várias abordagens que fizemos à realidade que se vive na banca dos países da CPLP. Na edição de 1970, o Bank of America, o JPMorgan e o Barclays participaram nessa lista, e 40 anos depois continuam presentes. Mas muita coisa mudou entretanto. Mudou a tecnologia que permitiu celeridade na avaliação das performances, e quase instantaneidade na transmissão dessa mesma informação. Mudaram os clientes que, em vez dos reguladores bancários, foram quem exigiu as múltiplas transformações e adaptações da banca nos últimos anos. Mudaram os centros de decisão, de negócio e de gestão da atividade bancária, que passaram quase que exclusivamente dos EUA e da Europa ocidental, para outros continentes, numa pulverização que está longe de estar concluída. Permita-se-me que me debruce sobre os efeitos das novas tecnologias que alteraram por completo e de uma forma dramática, a maneira como nos comportávamos e nos relacionávamos com a banca e não só. Nisto está obviamente incluída a atividade bancária interna, a relação dos bancos entre si, e as relações entre os bancos e nós, os seus clientes. Nesta mudança radical cujo fim está longe de se poder prever, falta ainda cumprir-se a última etapa. Depois das ATM, e do internet-banking, o novo paradigma é o mobile-banking, que casa as atividades bancárias com o telemóvel, e alterará uma vez mais a maneira como nos relacionarmos com a banca. Nesta onda muito «high-tech», será bom pensarmos na banca social e no seu importantíssimo papel em muitos países, exatamente onde as tecnologias ainda não chegaram. Aí muitas das vezes apenas se pede um pequeno apoio que em muitos dos casos está diretamente ligado à própria sobrevivência. Umas últimas palavras para a crise (também bancária…) que se vive no mundo. O terramoto vindo dos EUA causou enormes estragos, e as réplicas são muitas e muito espalhadas por todos os continentes. O que vem provar que também no setor bancário cada vez mais vivemos numa «aldeia global», como afirmava Marshall MacLuhan, cujos 100 anos agora se comemoram. G8 Pedro Luiz de Castro

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Redacção G8 - O Mundo em Português R. Prof. Aires de Sousa, 4 E 1600-590 Lisboa Portugal Tel. (+351) 217 561 208 . Fax. (+351) 217 510 229 Tlm. (+351) 960 009 797 Email: redacao.g8@gmail.com

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a Saúde Bo

Top 10

Director Pedro Luiz de Castro

Sumário ed

Editor Didier Dachez Ared - Agência de Relações Exteriores e de Difusão Tel. (+351) 213 182 000 . Fax. (+351) 213 182 009 Tlm. (+351) 913 005 443 Email: ared@ared.eu.com

Vivo

Ficha Técnica

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Colaboradores José Varregoso, Geraldina Nunes, Pedro Silva, René Girard (FT business), Sherelle Jacobs (FT business), Dr. Francisco Vanderhoff Boersma, Stephen TImewell (FT business), Philip Alexander (FT business)

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Fotografia Getty Images e Dreamstime Publicidade Ared - Agência de Relações Exteriores e de Difusão Carina Barros Tel. (+351) 213 182 000 . Fax. (+351) 213 182 009 Tlm. (+351) 913 005 443 Email: ared@ared.eu.com Impressão Euroscanner R. Carvalhais 15-17 Vila Verde 2705-879 Terrugem Portugal Paginação Primeira Imagem R. Prof. Aires de Sousa, 4 E 1600-590 Lisboa Portugal Tel. (+351) 217 561 208 . Fax. (+351) 217 510 229 Email: primeiraimagem@gmail.com Tiragem 10.000 exemplares Número de Depósito Legal ERC Nº 125900 Apresentação 558 de 31/05/2010

16 Banco Fomento Angola Contribui para a dinamização de Angola ...

28 Banco Interatlântico Consolidou o seu posicionamento em Cabo Verde ...

40 Millennium bcp Gigante económico de Portugal e do Mundo ...

Os artigos com do Financial Times são de «The Financial Times Limited 2010». Todos os direitos reservados. A empresa Primeira Imagem apenas é responsável pelo fornecimento da tradução de conteúdo, e «The Financial Times Limited» é totalmente alheio e não aceita qualquer responsabilidade pela falta de precisão ou qualidade, da tradução.

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a cRisE E o MERcaDo

DEsaFios PARA UM NOVO coMÉRcio JUsTo Dr. Francisco Vanderhoff Boersma (*) Buena Vista | Oaxaca | México

«Quando o mundo é globalizado, você ateia fogo a tudo, apenas com um fósforo» René Girard

A

crise atual faz com que devamos reconsiderar os «caminhos» a seguir, também no que diz respeito ao Comércio Justo. Na «família» do Comércio Justo, há sérias tentativas para integrar o mercado dos pobres no mercado regular. Mas estamos conscientes da contradição: integrar o Comércio Justo na crise, enquanto nós, pequenos agricultores, ainda acreditamos num mercado diferente; porque tivemos a suspeita que o mercado regular tinha enormes falhas, sobretudo para os excluídos. Os pobres não foram - como espectadores e produtores - apenas deixados de fora do mercado, mas sabiam (inconscientemente, sobretudo no início) que as regras do jogo eram incorretas. As contradições mais básicas tornaram-se mais e mais visíveis. Pouco a pouco, os pequenos agricultores começaram a pensar e a agir nos termos de uma nova reedição da luta de classes. Será que estamos a aprender alguma coisa com as causas da crise? As supostas lições da crise não aparecem em lado nenhum. Antes pelo contrário, as ideias e os ideólogos que deram apoio ao sistema que agora entrou em colapso, estão novamente no centro de um processo de contra-ataque.

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A fim de parar a crise, os recursos públicos são usados para trocar a dívida privada pela dívida nacional. Desta forma, fica a ideia de que é normal privatizar benefícios e socializar as perdas - uma peculiar

«O COMÉRCIO JUSTO QUER AFIRMAR-SE DE MANEIRA DIFERENTE, O QUE NÃO É UMA UTOPIA, NEM UMA DISTOPIA, MAS UM ESFORÇO PARA SERMOS MAIS HUMANOS NAS NOSSAS RELAÇÕES COM OS OUTROS» forma de entender o mercado livre e o capitalismo enquanto sistema social - e para finalizar apresentar a «fatura» disto tudo à população que na sua maioria nada tem a ver com as causas da crise atual.

Contra esta perversidade, o Comércio Justo (Fair Trade) quer afirmar-se de maneira diferente, o que não é uma utopia, nem uma distopia, mas um esforço para sermos mais humanos nas nossas relações com os outros, conhecendo as armadilhas e «pecados» que ainda podem ser cometidos. Nada é perfeito neste mundo, mas temos que ter a audácia de chamar imperfeito ao imperfeito, com a finalidade de mudar as coisas para melhor. Nós, enquanto Comerciantes Justos, não estamos à procura de um mundo melhor, mas de um mundo bom, que é uma grande diferença. Se houver uma tonalidade «religiosa» nesta abordagem, que assim seja. Crise e pobreza interligadas. A pobreza é um sinal persistente da crise: expressa que a ordem do mundo atual não funciona. Uma e outra vez temos de perguntar a nós próprios: porque há pobreza e de onde provém a pobreza ? O mundo globalizado da internet traz-nos essa realidade para casa e não podemos ignorá-la. Há respostas fáceis, muita caridade (de todos os tipos: ajuda ao desenvolvimento, instituições de apoio social, declarações de responsabilidade social, etc.), mas «as coisas não funcionam». A caridade e o apoio social apenas são úteis se procurarem livrar-se de serem de-


«O SISTEMA, A VALORIZAÇÃO E O MERCADO DO PRODUTO ESTÃO PRIMEIRO NA SUA PRÓPRIA REGIÃO E SÓ DEPOIS NA EXPORTAÇÃO. NÃO PRECI-SAMOS DE EMBALAGENS CARAS, PODEMOS CORTAR OS CUSTOS.» pendentes da caridade e do apoio social. A pobreza é uma tragédia transcendental num mundo onde a tragédia só é vista em acidentes, prejuízos financeiros em Wall Street e nas formas mais irracionais de violência. A partir desta perspetiva, a pobreza é tratada como uma questão técnica: objetivos do Milénio, ajuda ao desenvolvimento, rondas negociais de Doha, etc. Contudo a crise atual desmistifica esta abordagem superficial e técnica dos agentes de resolução. Desde sempre fomos «apanhados» em ideias alienadas da realidade ou por pessoas que repudiavam a validade dessas ideias e viam a realidade apenas como cifrões. A pobreza é uma produção da pobreza das pessoas pobres, e não um acidente natural. Tanta conversa sobre o desenvolvimento é apenas uma forma desastrosa do subdesenvolvimento, um mito perigoso. O Comércio Justo é concebido para ser um dos muitos esforços para combater um sistema que não funciona, que não permite que as pessoas se «desenvolvam» normalmente. Mas temos de estar conscientes daquilo que estamos a combater. É um dos principais elementos do dia-a-dia, pois da mesma forma que estamos a trocar bens e serviços, estamos no mercado e estamos a fazer negócio. Os grandes pensadores tentaram resol-

v e r este problema.Veja-se John Locke, Francis Bacon, Adam Smith, Karl Marx e muitos outros pensadores contemporâneos, e alguns dos vencedores do Prémio Nobel. Mas atrevo-me a dizer que eles não chegaram ao ponto central da questão. O Comércio Justo foi concebido para ser um tipo de negócio social, uma economia social em conjunto com uma democracia social, pelo menos visto do lado dos produtores. Mas «esquecemo-nos» de controlar o lado da comercialização e distribuição. Um elemento fundamental para o novo Comércio Justo deve ser este: o negócio está nas mãos dos pobres; sendo estes proprietários da «empresa», o sistema, a valorização e o mercado do produto, estão primeiro na sua própria região e só depois na exportação. Não precisamos de embalagens caras, podemos cortar os custos, a especulação pode estar fora do nosso controlo, mas ser ao mesmo tempo eficientes e atrativos.

uma experiência a longo prazo. Assim, utilizamos um tipo de descrição que nos ajuda, por enquanto a seguir em frente. O Comércio Justo é uma forma específica de comercialização, diferente do sistema de comércio convencional e mais usual. É baseado na justiça social, na qualidade dos produtos e no cuidado com a natureza. Por conseguinte, questiona todo o conceito de desenvolvimento e redução da pobreza. Fomenta um envolvimento direto e uma relação de longo prazo entre os pequenos produtores e consumidores e contribui para a construção de um processo de viabilidade e de solidariedade no mercado e na economia. Para os parceiros envolvidos, os pequenos produtores do campo, retalhistas e consumidores, este é um estilo de vida que defende a vida (a resistência para a sobrevivência) e olha para a solidariedade com outros olhos mas com objetivos e metas semelhantes. G8

IDEAL DO COMÉRCIO JUSTO Isto é quase inútil para definir o que é realmente o Comércio Justo, sendo esta

(*) Vencedor em 2006 do Prémio Norte-Sul criado pelo Conselho da Europa. Abril 2011 ~ G8 07


ÁFRica

ViVo E DE boa saÚDE Sherelle Jacobs

O microcrédito parece estar de boa saúde em África, apesar do forte impato da crise financeira. As preocupações sobre a qualidade da gestão e das barreiras legislativas permanecem.

A

tempestade financeira acalmou e o sistema do microcrédito africano ainda está a fazer barulho. Apesar dos receios de que esta indústria, que ainda está numa fase embrionária em toda a região, entrasse em colapso sob a pressão da rutura financeira, ela parece ter escapado em grande parte à paralisia financeira que afetou o setor bancário internacional, há 18 meses. No entanto, é evidente que as instituições de microcrédito em África não saíram da tempestade financeira completamente ilesas. Num relatório recente, as MFI’s (Instituções de Microcrédito) africanas foram referenciadas como «Financiamento e refinanciamento de incertezas». De forma cada vez mais preocupante: os doadores, outrora generosos, mas agora numa fase de recuperação da crise nos créditos, reduziram ou deixaram de injetar generosas quantias de dinheiro para os projetos, deixando as MFI’s numa situação abrupta de diminuição de receitas. Em África, onde projetos de microcrédito ainda estão numa fase muito inicial e estão fortemente dependente de doações, a falta de capital disponível pode prejudicar gravemente o desenvolvimento deste setor e ser um desastre para projetos menores, afetando a confiança do setor no seu todo. De acordo com Scott Brown, presidente do World’s Vision Microfinance, «as taxas de juro do nosso programa na Etiópia caíram ligeiramente no ano passado. Foi aqui que mais sentimos que a crise financeira afetou muitos dos nossos doadores. E como a nossa capacidade de trabalho nas fases iniciais depende muito dos microcréditos e da generosidade dos nossos apoiantes, nós ressentimo-nos quando eles sofrem contratempos, como aconteceu ao longo do ano passado.» No entanto, Scott Brown está otimista e acredita que as MFI’s, se forem persistentes,

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irão conseguir obter algum financiamento junto dos doadores. «As pessoas estão preparadas - e querem - apoiar programas assentes em soluções fortes e eficazes. Mais do que nunca, as pessoas querem saber como o seu dinheiro está a ser efetivamente usado. O nosso trabalho é mostrar-lhes onde é feito o trabalho e como é que eles podem fazer parte disso. A crise financeira não mudou esta questão, mas tornou-a mais importante.» Com os apoios de 2 mil milhões de USD cedidos à África Subsariana em dezembro de 2008, que representam cerca de 13% dos fundos concedidos em todo o mundo para o microcrédito, é evidente que esta persistência está dando frutos, pelo menos para alguns. Mas isto não quer dizer que o microcrédito em África não enfrente enormes desafios, em parte relacionados com os efeitos da crise no mercado de crédito, nos próximos anos. Os problemas relativos à qualidade da gestão e dos recursos humanos existentes continuam a preocupar as organizações. «A gestão - especialmente nas instituições de menor dimensão - continua a ser uma área de grande preocupação, especialmente em África, uma vez que os recursos humanos qualificados a este nível são difíceis de encontrar, e os outros são vulneráveis à perseguição dos bancos comerciais» explica um analista de crédito: «A ausência destas qualidades aumenta os riscos e a capacidade de operacionalidade nesta atividade.» Os especialistas dizem que este é um problema particularmente grave nas zonas mais rurais de África. A regulamentação é fundamental também para o crescimento dos microcréditos, pois quando esta é má ou inadequada, as MFI’s ficam mais vulneráveis à interferência política e económica. De acordo com Darius Njenga, coordenador do programa Inafi African Trust Kenya:

«A menos que os reguladores tenham força de vontade para estabelecer uma regulamentação coesa, forte e estável, esta indústria entrará em guerra contra os bancos comerciais já estabelecidos.» Apesar de todos estes dilemas, as MFI’s de maior sucesso em África estão cada vez mais à procura da diversificação das suas atividades, principalmente através da criação de instalações de microcrédito destinadas aos clientes com menos recursos. Estas empresas têm claramente o seu trabalho limitado. Atualmente em África, o nível médio de depósitos em conta é claramente baixo, constituindo uma média de 202 contas bancárias comerciais por cada 1 000 adultos, em comparação com as 661 contas em outros países em desenvolvimento. Em alguns países, o número é extremamente baixo, como por exemplo, as 21 contas por 1 000 adultos no Burundi. No entanto, tem havido uma vaga recente de interesse no potencial do microcrédito em África. Em janeiro de 2010, a Fundação Bill e Melinda Gates prometeu doar 38 milhões de USD em apoios para permitir que algumas das MFI’s líderes mundiais desenvolvessem as suas instalações de microcrédito, incluindo-se aqui algumas instituições que atuam no Uganda, Congo, Etiópia e Quénia. Esses investimentos foram bem-vindos como forma de dar resposta à procura existente e que tem sido até agora amplamente negligenciada no continente africano. Uma pesquisa recente conduzida pela Women’s World Banking em seis países concluiu que os pobres economizam em média 10 a 15% do seu rendimento líquido mensal de outras formas (que não incluem operações bancárias), como forma de proteger o seu dinheiro e acumular montantes fixos. Além disso, muitas das MFI’s mais ativas, que atuam mais diretamente nesta área, su-


gerem que é de facto possível incutir uma cultura de poupança, junto das pessoas com baixos rendimentos em África. O Equity Bank no Quénia tem alcançado resultados notáveis através da aplicação de novas técnicas de poupança-investimento. Esta instituição passou de uma empresa em fase de insolvência em 1993 para o banco de maior capitalização no país, possuindo já, no terceiro trimestre de 2009, mais de 4,2 milhões de contas. Produtos como o Equity’s Ordinary Savings Account, destinado a empresários de médios e baixos recursos ou microempresas, constituem cerca de 80% das contas deste banco. Os especialistas referem também que a crise financeira ajudou, de certo modo, a demonstrar o importante papel, enquanto estabilizador de mercado, que os microcréditos podem ter para bancos em tempos de crise. Um relatório recente revelou que, quem optou pelos depósitos bancários teve, na generalidade, uma melhor «saída» da crise do que aqueles que optaram por não o fazer; muito devido ao facto dos depósitos terem um tipo de financiamento mais sólido e graças a ausência de riscos nos processos de câmbio. Além de que, estes depósitos enfrentam menos problemas de liquidez. Como Mary Ellen Iskenderian, presidente e CEO da Women’s World Banking afirma: «A crise tem ensinado a todos os bancos, aos maiores e aos mais pequenos, que a poupança de recursos é vital

para a sustentabilidade a longo prazo duma instituição, sendo também benéfica para os seus clientes.» Claramente, uma mensagem de que, na generalidade, as operações de crédito mais eficazes são cruciais para o sucesso e eficácia das atividades do microcrédito numa região; e certamente esta será uma ideia que futuramente ganhará cada vez mais força junto das MFI’s.

38 MILHÕES DE USD VALOR DOADO PELA FUNDAÇÃO BILL E MELINDA GATES ÀS MFI’S PARA DESENVOLVER AS INSTALAÇÕES DAS AGÊNCIAS DE MICROCRÉDITO No entanto, os desafios enfrentados pela indústria do microcrédito ainda são muitos, e a situação em África não é exceção. As MFI’s terão de ser firmes na sua auto-

crítica e na sua imposição de vontade, de modo a obter sucesso nos seus projetos e atitudes e assim realizar projetos viáveis de microcrédito. «Antigamente, as MFI’s orientadas essencialmente para um tipo de crédito, acabavam por não realizar os investimentos necessários - em tecnologia e marketing, por exemplo – que efetivamente mobilizassem a procura de depósitos e uma mudança na cultura organizacional, que promovesse a poupança», revela Mary Iskenderian. Também é evidente que, muitos dos projetos na área do microcrédito em África, que disponibilizam serviços e dispositivos de poupança, não estão adequadamente preparados para satisfazer os requisitos dos mais pobres. Além disso, se não forem tratadas, muitas das lacunas nas estratégias de segmentação das MFI’s podem sair caras. As regras relativas aos documentos necessários para abrir uma conta poupança junto de uma MFI’s em África, uma vez que são por vezes mais rigorosas do que em outras regiões, estão assim a excluir potenciais clientes. Além disso, muitas destas instituições estão focalizadas nos seus clientes atuais, usualmente microempresas e esquecem-se de outros potenciais clientes, como alguns assalariados de baixos rendimentos. Tal descuido, se não for corrigido, poderá revelar-se caro, uma vez que nestas zonas, muitos indivíduos de baixos rendimentos serão um importante target, pois eles podem Abril 2011 ~ G8 09


ÁFRica

Em cima: O pioneiro do Micro Crédito Muhammad Yunus

202

Em baixo à direita: A Presidente do Women’s World Banking, Mary Ellen Iskenderian e a CEO do Kenya Women’s Finance Jennifer Nkuene Riria Em baixo, à esquerda: Vikram Akula da SKS MicroFinance sentado com um cliente em Hyderabad

número de contas bancárias comerciais por cada 1 000 adultos em África

percentagem do montante médio mensal de rendimento poupado pelas famílias mais pobres, de acordo com pesquisa realizada pela Women’s World Banking em seis países

revelar-se mais rentáveis (devido à sua regularidade de rendimentos) do que os pequenos empresários. As MFI’s também terão de trabalhar mais do que nunca para superar obstáculos legais, criar infraestruturas resistentes para as suas instalações e angariar novos e potenciais doadores. Um problema óbvio, neste caso, é que, atualmente a legislação existente em muitos países proíbe as MFI’s em África de aceitar poupanças, considerando que esse tipo de oferta deve ser da exclusiva competência dos bancos estatais. Tais obstáculos regulamentares e legislativos devem ser superados se as MFI’s querem realmente impor-se neste mercado, na área das poupanças. Os projetos a este nível precisam de ser mais trabalhados para ganhar a confiança dos potenciais clientes, que, tendo testemunhado o colapso da banca nos seus países, têm agora receio de colocar o seu dinheiro nestas instituições. De acordo com Mary Iskenderian, as MFI’s precisam de se esforçar mais para conquistar corações e mentes: «Aprendemos que as pessoas, muitas vezes para «testar» a capacidade de um novo grupo financeiro, começam por fazer um depósito de uma semana com uma pequena quantia de dinheiro, retirando-o de seguida para reinvestir 10 G8 ~ Abril 2011

Fotos: D.R.

10-15%

«AS MFI’S DE MAIOR SUCESSO EM ÁFRICA ESTÃO CADA VEZ MAIS À PROCURA DA DIVERSIFICAÇÃO DAS SUAS ATIVIDADES, PRINCIPALMENTE ATRAVÉS DA CRIAÇÃO DE MICROCRÉDITO DESTINADO AOS CLIENTES COM MENOS RECURSOS.»

na semana seguinte, e assim por diante, até se convencerem que o seu dinheiro está seguro. Tudo isto significa que ainda existem custos de transação muito elevados a este nível, mas também significa que se uma instituição trabalhar ativamente com a comunidade, para construir uma base de confiança entre ambas, isso trará ainda benefícios maiores». Um processo de avaliação eficaz, pensamento criativo e muita paciência são fatores-chave para o sucesso, num continente onde o microcrédito ainda não está amplamente difundido. O facto é que, globalmente, o microcrédito em África, quer em termos de acesso ao crédito, quer na disponibilidade de contas de poupança, está ainda muito atrás do resto do mundo em termos de desenvolvimento. E ainda há um elevado nível de desigualdade no interior do continente. Além disso, no que diz respeito ao microcrédito, mesmo nos países africanos com infraestruturas mais desenvolvidas a este nível, muitas vezes os recursos ainda são excessivamente canalizados para os clientes de maiores rendimentos. Ainda há muito trabalho a fazer e não será nada fácil como é óbvio. «Isto não é caridade. Isto é um negócio», declarou Muhammad Yunus, um dos fundadores do Microcrédito. G8


RELATÓRIO DA CONSULTORA KPMG

bancos coMERciais DE MoÇaMbiQUE

cREscERaM 18% EM 2009

N

o seu mais recente estudo que pretende contribuir para uma maior transparência e confiança no seio dos agentes económicos, a consultora KPMG revelou que os bancos comerciais em Moçambique cresceram 17,9% em 2009, ao obter lucros estimados em 83,7 milhões de €uros, contra os 72 milhões do ano anterior. Segundo o estudo, «a aceleração da taxa de crescimento dos resultados líquidos esteve intrinsecamente ligada à contínua aceleração do crédito total do sistema, que subiu 63,8% em 2009, totalizando 1,6mil milhões de €uros». Consequentemente, os proveitos de juros de créditos cresceram 13,3%. O ProCredit, um micro-banco de capitais alemães, foi o banco mais rentável em 2009, em termos de fundos próprios médios, com 38,6%, suplantando o Standard Bank. Os quatro maiores bancos em Moçambique são o Millennium bim, o BCI, o Standard Bank e o Barclays, e detêm 89% do total dos ativos agregados do

OS BANCOS CRESCERAM 35,8%, ALCANÇANDO ATIVOS NO VALOR DE 3 MIL MILHÕES DE €UROS EM 2009. O ESTUDO DIZ QUE, EM 2009, A CARTEIRA DE CRÉDITO TAMBÉM CRESCEU 64% FACE A DEZEMBRO DE 2008, REPRESENTANDO 1,6 MIL MILHÕES DE €UROS.

setor (menos 1,8% que em 2008). Os restantes bancos comerciais têm 10,9%. Os bancos cresceram 35,8%, alcançando ativos no valor de 3 mil milhões de €uros em 2009. O estudo diz que, em 2009, a carteira de crédito também cresceu 64% face a dezembro de 2008, representando 1,6 mil milhões de €uros, influenciado pelo surgimento de grandes projetos de investimentos em Moçambique naquele ano. A KPMG refere que «a carteira de crédito passou a representar em 2009, 53% do ativo total». O estudo aponta ainda o Banco Internacional de Moçambique, detido pelo Millennium bcp, como líder entre as instituições bancárias moçambicanas, com um peso de 36,4% no total dos ativos do setor bancário, o equivalente a 1,1mil milhões de €uros. Na segunda posição está o BCI (com a maior subida em termos do peso do valor do ativo no setor), detido pela Caixa Geral de Depósitos, com 26,2% (807 milhões de €uros), e na terceira posição, o Standard Bank, um consórcio moçambicano e sul-africano com 19,4% (599 milhões de €uros). G8 Abril 2011 ~ G8 11


angoLa

bai É O BANCO MAIS INTERNACIONALIZADO DE ANGOLA «Assim como os bancos portugueses querem investir no mercado Angolano, já existem bancos angolanos com capacidade de investir em Portugal.» Com a expansão do setor bancário em Angola, decorrente da própria dinamização da economia do país, o Banco Africano de Investimentos (BAI) perspetiva o futuro visando uma expansão e consolidação além-fronteiras. A sua presença está alargada muito para além do território angolano. Por outro lado, esta instituição financeira procura incessantemente a qualidade dos seus profissionais e a excelência dos seus serviços.

O

Administrador Executivo do Banco BAI sob o comando das Direcções de Operações (DOP), Banca Electrónica (DBE) e Banca de Retalho (DBR), Dr. Hélder Aguiar, revela em entrevista que o setor bancário angolano atingiu, já hoje, um grau de maturidade que também é decorrente dos regulamentos impostos pelo Banco Nacional de Angola. O ativo líquido do BAI cresceu em 2009 mas muito menos do que havia crescido em 2008. De facto, a economia angolana não estará em contração mas a viver uma desaceleração do crescimento. Concorda que o desempenho do BAI segue o padrão da economia angolana? De uma forma geral o BAI segue o padrão de desaceleração verificado na economia, fruto do efeito multiplicador que é gerado pelas dificuldades do país. De acordo com o Governo houve um crescimento económico a uma taxa de 2.9% da economia Angolana em 2009, logo o sistema bancário também cresceu, mas a um ritmo muito mais lento. O ativo líquido do BAI cresceu em 2009 cerca de 9%, sendo um valor baixo relativamente ao crescimento de 2008 que foi de 109%, em resultado da desaceleração do crescimento dos recursos de terceiros. Esta redução está intimamente ligada à desaceleração do crescimento dos agregados monetários, principalmente o M3, cujo crescimento em 2009 foi de 21,49%, comparativamente com o crescimento de 104% registado em 2008. Houve constrangimentos no sistema bancário em resultado da crise financeira e económica global, nomeadamente pela redução

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das Reservas Internacionais Liquidas (RIL), com efeitos diretos nos agregados monetários. Os agregados monetários cresceram durante o ano de 2009, excetuando o ativo externo líquido que desceu com a queda das RIL, o que se traduziu na falta de liquidez em moeda estrangeira, dificultando os bancos no fornecimento alguns dos seus serviços, nomeadamente as operações sobre o estrangeiro e operações de venda de divisas. Contudo, e não obstante os constrangimentos vividos durante o ano registaram-se sinais de confiança na economia, sendo expectável que em 2010 o crescimento do PIB seja de 4%. O BAI é um banco angolano que tem apostado muito na internacionalização do seu espaço de ação. Irá continuar a trabalhar para uma expansão além-fronteiras? Sim. O BAI continua a ser o banco angolano mais internacionalizado do país mantendo presença em 3 continentes: África, Europa e América do Sul. Colocando-o na posição de Multicontinetal Player, o que significa que tem 10% do seu capital ativo investido noutros continentes. Foi igualmente distinguido como African Challenger. O BAI deverá continuar a reforçar a sua capacidade de se tornar um canal privilegiado de comércio internacional e investimento estrangeiro de e para Angola, adaptar a sua estratégia às especificidades de cada mercado. É neste contexto, que o BAI abriu em abril de 2010, o seu escritório de representação na África do Sul; que culminará na conquista da África Austral tornando-o num Regional Player e perspetiva novas aberturas para mercados como a China, Estados Unidos e Reino Unido.

A carência de quadros qualificados tem necessariamente sido um entrave para o desenvolvimento saudável da atividade bancária em Angola. O BAI criou um centro de formação onde ministra cursos de especialização na área. Ainda é cedo para se sentirem os efeitos desta medida? Outras instituições financeiras têm adotado soluções semelhantes? Tendo em conta o aumento do nível concorrencial, de sofisticação dos clientes e produtos, aliado a necessidade de uma gestão mais eficaz dos seus ativos e riscos, a qualidade dos recursos humanos torna-se decisiva para o sistema financeiro. Neste âmbito, o BAI tem-se esforçado em captar, reter e desenvolver os melhores profissionais utilizando predominantemente recursos internos. Foi neste sentido que o BAI se tornou em 2009, a primeira instituição financeira Angolana a criar um centro de formação que tem ministrado diversos cursos relativos a área bancária. O ano de 2010 ficou de facto marcado pela grande aposta na formação. O centro de formação BAI realizou diversas formações específicas e transversais, assim com seminários e workshops que abrangeram 840 participantes nas mais diversas categorias. Fora as múltiplas formações feitas em outras instituições, fora do país e training on Job com consultores especializados. Num momento em que o investimento público e o financiamento do Estado se estão a retrair, considera que os bancos deverão ter um papel preponderante no crédito ao setor privado? Apesar do contexto atual de crise, a banca angolana tem estado a cumprir com o seu


«O BAI abriu, em abril de 2010, o seu escritório de representação na África do Sul; que culminará na conquista da África Austral tornando-o num Regional Player; e perspetiva novas aberturas para mercados como a China, Estados Unidos e Reino Unido.»

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angoLa papel de dinamizador da economia nacional. Tanto assim, que mesmo com o potencial de degradação da qualidade da sua carteira de crédito, a banca continuou a atividade económica atingindo níveis recorde de transformação de depósitos em crédito. É assim, que o BAI aumentou a sua carteira de crédito em 2009 em 74%, atingindo um rácio de transformação de 46%, o que compara com os 35% registados em 2008.

ses querem investir no mercado Angolano, já existem bancos angolanos com capacidade de investir em Portugal. Esta capacidade de internacionalização é fruto do desenvolvimento do setor bancário em Angola, que tem sido pautado por um crescimento rápido, nomeadamente a nível de depósitos e de crédito concedido, traduzindo-se em bons resultados ao longo dos anos, dotando os bancos de poder económico e autonomia.

O BAI tem procurado soluções para avaliação de risco de certos empréstimos. O crescimento do volume de empréstimos em risco de incumprimento é uma preocupação para as instituições financeiras. Que medidas se podem tomar para conceder crédito exclusivamente a empresas e a particulares que com segurança pagarão nos prazos legais? O BNA está a implementar a central de informação de risco de crédito que deverá ajudar a melhorar a qualidade do crédito concedido pela banca. No entanto, é ainda prematuro determinar o impacto de implementação desse sistema no volume do crédito concedido. Com efeito, a identificação de clientes de risco elevado no sistema poderá ter um efeito de diminuição dos níveis de concessão de crédito a estes clientes. O BAI mantém-se firme em relação aos seus regulamentos, procedimentos e análise de risco prior a concessão de um crédito; o que não elimina os riscos associados a este negócio. Os benefícios provenientes da melhor clarificação dos níveis de risco associado aos clientes permitirão uma melhor segmentação dos mesmos com benefícios naturais para a inovação em termos de produto bancário.

«2010 FICOU (…) MARCADO PELA GRANDE APOSTA NA FORMAÇÃO, O CENTRO DE FORMAÇÃO BAI REALIZOU FORMAÇÕES ESPECÍFICAS E TRANSVERSAIS, ASSIM COMO SEMINÁRIOS E WORKSHOPS QUE ABRANGERAM 840 PARTICIPANTES NAS MAIS DIVERSAS CATEGORIAS.»

Como avalia as relações entre a banca portuguesa e a banca angolana? Poderão ser vistas como parceiras. Mas os bancos angolanos estão a crescer em independência e poder económico… Existem relações históricas entre Angola e Portugal que devem ser mantidas, principalmente pela ligação linguística. Há no mercado Angolano, instituições financeiras cujos parceiros estratégicos são bancos portugueses, que procuram tirar proveito do grande potencial que o mercado oferece pela conjuntura económica que atualmente se vive em Angola. Ainda hoje, os principais correspondentes bancários na Europa dos bancos angolanos são essencialmente bancos portugueses, no entanto, com a globalização não podemos deixar de considerá-los também como concorrentes. Assim como os bancos portugue14 G8 ~ Abril 2011

Que balanço geral retiraria do estudo da Deloitte apresentado em outubro passado sobre a banca angolana? Considera que o cenário que a Deloitte traça é encorajador? O cenário é positivo, mesmo com os efeitos da crise económica mundial na economia Angolana. No entanto, é importante fazer referência ao crescimento que se verificou no sistema bancário Angolano mesmo num ano de fraco crescimento económico. Para além do crescimento dos depósitos e créditos, registou-se um aumento do grau de maturidade no setor, resultante de bons indicadores de eficiência e dos novos regulamentos impostos pelo BNA. Estes fatores obrigarão a uma maior responsabilidade dos bancos na sua gestão e uma preocupação crescente com a satisfação do cliente. Com a manutenção do crescimento económico, e as oportunidades de negócio resultantes, proporcionará um aumento

de clientes nacionais e internacionais cada vez mais exigentes, procurando soluções cada vez mais adaptadas as suas necessidades e aos padrões internacionais. O que diria da necessidade de aumentar a bancarização em Angola? Ainda há muitas pessoas em Angola que vivem distanciadas do universo bancário e que não recorrem – de todo – a serviços bancários? A banca deverá aumentar a aproximação às comunidades, melhorando e adequando os produtos e serviços às características dos clientes bancarizados e não bancarizados. Sensibilizar a população para os benefícios dos serviços bancários e adaptar os modelos de distribuição da banca às especificidades da população, nomeadamente através de correspondentes bancários e da banca telefónica. A taxa de bancarização ronda apenas 11% da população, pelo que existe ainda um grande caminho a percorrer pelos bancos comerciais no sentido de aumentar o acesso da população aos serviços financeiros existentes. Como se tem expandido o BAI no território angolano e nomeadamente fora de Luanda? Considera que é relevante criar muitas agências para que mais angolanos possam ter um banco perto de si? Ou a estratégia de bancarização passa por outros mecanismos? A formalização da economia, o pagamento de salários por transferência bancária, a expansão dos ATM… O BAI desde 2009 que passou a cobrir 100% do território nacional em termos de balcões, fazendo chegar a todos os pontos do país os seus serviços, e passando a deter um total de 85 balcões incluindo postos de atendimento. É importante que o Banco esteja perto dos seus clientes e como tal, torna-se imperativo expandir a sua rede a nível nacional. No entanto, este não é o único vetor de expansão a ser utilizado, uma vez que o Banco tem a domiciliação de salários das empresas mais dinâmicas do país; e o BAI Micro – Finanças (BMF) tem como objetivo alcançar o segmento micro, estimular o empreendedorismo e sustentabilidade; e tem mantido a expansão dos seus ATMs e POSs. Recentemente, o BAI foi o primeiro banco Angolano a lançar o serviço de Mobile banking, aproveitando a grande capacidade de penetração no mercado dos telemóveis para poder chegar a mais clientes, o que reflete as diferentes formas de expansão no mercado nacional. G8



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bFa conTRibUi aTiVaMEnTE paRa

a DinaMiZaÇÃo DE angoLa «Vemo-nos como um banco angolano, ao serviço da economia, dos empresários e cidadãos angolanos.» A banca angolana está de boa saúde e em expansão. A economia do país beneficia dos recursos petrolíferos do seu território mas está agora em condições de perspetivar novos horizontes. Espera-se que setores como o da construção civil ou das pescas se possam tornar agentes catalisadores de sucesso, capazes de oferecer oportunidades aos cidadãos de criar muitos postos de trabalho e de contribuir para a solidez da economia angolana. É expectável também que se possa produzir mais internamente, para que se tenha de importar menos. 16 G8 ~ Abril 2011


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s bancos angolanos estão em ascensão e esse aspeto é reflexo do crescente vigor da economia angolana – cada vez mais atrativa para investidores estrangeiros. Os bancos são potencialmente uma força estratégica no processo de reconstrução do país. A sua ação tem sido já relevante neste domínio. Daí que a definição de parcerias público-privadas - em busca de uma mais extensa solidez do sistema económico – seja uma oportunidade a não menosprezar. Angola desenvolve também os seus níveis de bancarização. A banca angolana apresenta números encorajadores. Segundo um estudo da consultora Deloitte, apresentado em outubro, o valor dos depósitos na banca comercial tem vivido um acréscimo anual de cerca de 19% desde 2005. Por outro lado, a evolução dos créditos tem sido prudente. Os resultados do estudo evidenciam que o setor financeiro angolano soube encontrar formas de progredir, mesmo no contexto da crise financeira global. Outro estudo recente, empreendido pela Consultora KPMG, expressa que foram inauguradas 100 novas agências no país em 2009 e que o ativo médio do sistema terá crescido 30%. A banca angolana está em franca expansão apesar dos baixos índices de bancarização que ainda se registam (11% da população total). Emídio Pinheiro, Presidente da Comissão Executiva do BFA (Banco Fomento Angola), respondeu a algumas questões pertinentes que lhe apresentámos sobre a conjuntura atual da Economia e da banca angolana e também sobre o desempenho do banco que dirige. Que balanço geral retiraria do estudo da Deloitte apresentado em outubro passado sobre a Banca angolana? Considera que o cenário que a Deloitte traça é encorajador? Penso que é um estudo que sintetiza a evolução do sistema bancário angolano em 2009 e muito útil para quem acompanha de perto e necessita de informação sobre o sistema bancário. Apesar de 2009 ter sido caracterizado pela crise financeira e pela forte redução da atividade económica decorrente da forte quebra das receitas petrolíferas e pela crise financeira mundial, o setor bancário Angolano, no geral, comportou-se de uma forma positiva, sendo de realçar o aumento dos resultados. No entanto, houve também reflexos menos positivos: o volume de depósitos pratica-

mente não aumentou (o que contrasta com o crescimento de cerca de 80% em 2008) e os indicadores de qualidade da carteira de crédito degradaram-se. Se por um lado a análise é encorajadora, por outro, 2009 fica marcado pela entrada de novos players no mercado o que vai exigir mais dos bancos para se modernizarem e desenvolverem novas soluções financeiras num mercado mais competitivo. Considera de modo similar ao dos peritos da Deloitte, que o negócio da banca em Angola tem sofrido alterações estruturais? Sem dúvida que sim! A banca não é a mesma de há 5 anos atrás. Veja-se o caso do BFA: há 5 anos tínhamos um ativo de 2.500 MUSD e hoje já de 6.500 MUSD; há 5 anos tínhamos cerca de 300 mil clientes e hoje já supera os 750 mil. Um enorme crescimento em todas as dimensões e que teve também reflexos semelhantes no mercado. Para além disso, neste momento já operam 22 Bancos em Angola, o que torna o mercado muito mais competitivo.

«O BFA TEM FEITO UMA FORTE APOSTA NA FORMAÇÃO DAS SUAS EQUIPAS. (…) SÓ COM PROGRAMAS DE FORMAÇÃO ATUAIS E PRÁTICOS É QUE SE IRÁ CONSEGUIR RESPONDER ÀS NECESSIDADES CADA VEZ MAIS EXIGENTES DO MERCADO.»

AGÊNCIA DO BANCO FOMENTO ANGOLA EM LUANDA

O que diria da necessidade de aumentar a bancarização em Angola? Ainda há pessoas em Angola que vivem distanciadas do universo bancário e que não recorrem de, todo aos serviços bancários? A taxa de bancarização ainda é baixa como reflexo de só a partir de 2002, com o estabelecimento da paz, ter sido possível encarar o processo económico e a geração de emprego de maneira positiva. Contudo, tem vindo a crescer muito acentuadamente. O aumento da bancarização depende de vários fatores, nomeadamente Abril 2011 ~ G8 17


angoLa ações de formação centram-se na atualização das bases técnicas bancárias e nas práticas de atendimento ao cliente. Nos serviços centrais temos dado continuidade à ação de liderança e gestão de equipas. Adicionalmente o BFA manteve o programa de realização de estágios em Portugal para quadros seniores e mais especializados. Só com programas de formação atuais e práticos é que se irá conseguir responder as necessidades cada vez mais exigentes do mercado.

da criação de emprego e da disponibilidade de uma rede bancária com capacidade para acolher os novos clientes. O BFA é uma referência da banca em Angola: tem 143 balcões em todo país com mais de 750 mil clientes e foi pioneiro no lançamento de produtos como os cartões Multicaixa, os cartões VISA e o serviço de Internet banking. A nossa estratégia mantém-se: oferecer um conjunto de serviços diferenciados aos clientes com a melhor qualidade. Continuamos a alargar a nossa rede de balcões para que a população tenha o acesso aos serviços bancários cada vez mais próximo e facilitado. Temos esse compromisso com Angola e queremos acompanhar o desenvolvimento do país. Como se tem expandido o BFA no território angolano e nomeadamente fora de Luanda? Considera que é relevante criar muitas agências para que mais angolanos possam ter um banco perto de si? Ou a estratégia de bancarização passa por outros mecanismos? Como referi, o BFA tem 143 Balcões em todo o país. Em Luanda, temos 69 Agências, quatro Centros de Investimentos e nove Centros de Empresas, perfazendo 82 balcões nessa Província. Em 2005, tinhamos apenas 43; ou seja em seis anos multiplicamos por quatro a nossa rede e acrescentamos fatores diferenciadores ao nível do serviço prestado. A expansão da rede balcões a todo o país e o aumento dos canais de distribuição são efetivamente os principais eixos de atuação para o processo de bancarização. O que poderá afirmar acerca do incremento da formação profissional dos angolanos que trabalham na banca? O estudo da Deloitte manifesta preocupação com esta questão. Que recursos deverão ser desenvolvidos e 18 G8 ~ Abril 2011

de que forma se poderão criar trabalhadores à altura do mercado mundial do Séc. XXI? A formação de quadros é fator crucial para o sucesso de qualquer setor de atividade. A preocupação que o estudo da Deloitte manifesta é generalizada. A atividade bancária e financeira requer profissionais devidamente capacitados e habilitados a lidar com desafios cada vez mais exigentes. Por um lado, os clientes são cada vez mais exigentes e, por outro, a gama de produtos e serviços vai-se alargando

A BANCA [EM ANGOLA]NÃO É A MESMA DE HÁ 5 ANOS ATRÁS. VEJA-SE O CASO DO BFA: UM ENORME CRESCIMENTO EM TODAS AS DIMENSÕES e tornando-se cada vez mais complexa. Esta questão tem que ser lidada a vários níveis: desde logo com melhorias no ensino, onde os alunos e futuros profissionais adquirem as bases para as suas profissões. Depois, ao nível das empresas, há que manter programas de formação capazes de reforçar o que se aprendeu na escola e dotar os seus colaboradores com capacidade para lidarem com as tarefas que têm pela frente. O BFA tem feito uma forte aposta na formação das suas equipas. Na rede comercial, as

Como vê as relações entre a banca angolana e a banca portuguesa? Há quem afirme que são parceiras e aliadas. Mas os bancos angolanos têm crescido em poder e independência… A banca portuguesa tem tido tradicionalmente uma presença forte e dinâmica no mercado angolano. Do lado do BFA, vemo-nos como um banco angolano, ao serviço da economia, dos empresários e cidadãos angolanos. É uma parceria já estabelecida há muito que veio a ser reforçada com a entrada da Unitel no capital do banco. Angola começa a desenvolver substancialmente o setor não petrolífero. Mais e mais pessoas começam a trabalhar noutros domínios. A diversificação da economia angolana será um fator que contribuirá para a saúde do país. Como defenderia uma diversificação da produção industrial e agrícola em Angola? A diversificação da economia angolana para os setores não minerais, principalmente para setores de bens transacionáveis, é um aspeto essencial para a criação de sustentabilidade e a geração de emprego. O desafio é enorme porque as bases e a infraestrutura ainda são débeis e incipientes e os custos de produção são elevados, o que faz que os produtos angolanos tenham fraca capacidade competitiva face ao preço dos produtos importados. O processo de diversificação já começou a dar os seus primeiros passos e constitui um dos objetivos das autoridades angolanas acelerá-lo. Atualmente o BFA regista um volume de depósitos de cerca de 5.5 biliões de dólares. Quem são os clientes do BFA? Angolanos e não angolanos? Clientes empresariais ou industriais? Sendo o BFA um banco universal, a nossa carteira de clientes reflete o nosso posicionamento: temos clientes de todas as nacionalidades e de todos os setores de atividade. Somos um dos bancos angolanos a operar no mercado há mais tempo, o que é refletido na confiança dos nossos clientes. Crescemos com Angola. G8



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MiLLEnniUM angoLa

QUER LEVaR os sERViÇos bancÁRios a Mais ciDaDÃos «Temos uma operação em rápido crescimento, com cerca de 40 sucursais em todo o país e o objetivo de chegar às 100 sucursais.»

Angola continua a atrair investimento estrangeiro e prossegue no processo de diversificação da sua economia. A crise mundial condicionou negativamente todos os indicadores macroeconómicos do país mas há empreendedorismo e, neste âmbito, as instituições bancárias prometem aconselhamento financeiro, crédito e boa gestão dos fundos. A bancarização em Angola cresce e as populações vivem uma relação mais estreita com os bancos. Cada vez mais cidadãos angolanos têm conta bancária própria. 20 G8 ~ Abril 2011


Neste momento, o Millennium bcp está focalizado no crescimento orgânico das suas operações em Angola e Moçambique. Em Angola, temos uma operação em rápido crescimento, com cerca de 40 sucursais em todo o país e o objetivo de chegar às 100 sucursais. Para assegurar o desenvolvimento do setor financeiro, estamos ainda, em conjunto com os nossos parceiros locais, a apostar na formação de jovens angolanos, através da Academia Millennium Atlântico. Em Moçambique, somos a maior instituição financeira, com cerca de 40% do mercado de banca e seguros. Continuamos a abrir sucursais e estamos a inovar em produtos e serviços que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes, num país em que ainda existe uma parte importante da população por bancarizar. Quer em Angola quer em Moçambique, um dos objetivos principais é chegar a um leque mais alargado da população.

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Millennium Angola existe formalmente como banco angolano desde 2006. O Dr. Carlos Santos Ferreira, Presidente do Conselho de Administração do Millennium bcp, evidencia o crescente otimismo na economia angolana e no vigor do sistema bancário angolano. A BANCA PORTUGUESA E A BANCA DOS PALOPS Como vê as relações entre a banca portuguesa e a banca dos PALOPs, muito em particular a banca de Angola e de Moçambique onde o Millennium já existe e consolida a sua presença? Perspetiva a possibilidade de expansão do banco para outros países do mundo da lusofonia?

A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA Angola começa a desenvolver substancialmente o setor não petrolífero e a expandir novos mercados de trabalho. Como defenderia uma diversificação da produção industrial e agrícola em Angola? Em que áreas preferenciais e com que empenho? Acredita em Angola como um país capaz de expandir a sua produção (de produtos alimentares, por exemplo) e de não depender tanto das importações? Angola é um país que apresenta inúmeras oportunidades. Desde logo, este país foi uma das economias do mundo que registou um maior crescimento do PIB nos últimos anos. Não obstante o ritmo de crescimento muito elevado, o mesmo é potenciado sobretudo pelo aumento da produção e do preço do petróleo, que continua a ser a principal fonte de receitas. A economia angolana está já todavia a diversificar a sua estrutura económica, apostando e investindo noutros setores, que possam contribuir para o desenvolvimento do país. Desta forma, o país não só diversifica a sua fonte de receitas, como deixa de estar tão dependente de apenas um produto como é o petróleo. Prova disso mesmo, têm sido as iniciativas desenvolvidas pelas autoridades locais, com vista a um aumento do investimento privado, e que tem tido o respetivo suporte governamental. Para além da continuação da reabilitação

das infraestruturas, tais como estradas, pontes, caminhos de ferro, aeroportos, saneamento básico, etc., são importantes os investimentos que estão a ser ou virão a ser realizados nos setores da energia, da agricultura e da indústria. Há vontade política para que este desenvolvimento seja possível e tem vindo a ser desenvolvida uma dinâmica para a diversificação da estrutura económica do país, por isso, penso que estão criadas as condições de base para que Angola possa continuar a desenvolver a sua economia. Para além de novos projetos, este país tem vindo a apostar na formação de quadros, fator essencial para um crescimento sustentável e competitivo da economia. O Millennium Angola quer estar, e estará, presente neste esforço de desenvolvimento nacional. O BOM DESEMPENHO DA BANCA ANGOLANA Concorda que o setor financeiro angolano soube encontrar formas de resistir saudavelmente à crise financeira e até de progredir, apesar da regressão dos mercados mundiais? É uma realidade. O sistema financeiro angolano demonstra grande vitalidade, facto que decorre das oportunidades de desenvolvimento resultantes de parcerias e novos investimentos que, beneficiando da estabilidade e prosperidade do país, se refletem ao nível do crescimento. Onde residem as causas para este bom desempenho? O setor financeiro angolano é seguramente um dos setores mais desenvolvidos, a par das indústrias petrolíferas e das telecomunicações. É um setor em que, nos últimos cinco anos, foram realizados grandes investimentos em tecnologia, formação de quadros e expansão da rede de balcões. Isto fez com que o mercado financeiro angolano tenha apresentado um crescimento notável. Segundo o Economist, Angola foi o país do mundo com maior crescimento do PIB nos últimos 10 anos, com 11,1%, ultrapassando os 10,5% da China. Por outro lado, a taxa de bancarização da população angolana é ainda inferior a 10%. Deste modo, a dinâmica de crescimento instalada permitiu que o setor financeiro, que tem naturalmente um papel central no desenvolvimento da sociedade angolana, continuasse a crescer fortemente. Abril 2011 ~ G8 21


angoLa «O SETOR FINANCEIRO ANGOLANO É SEGURAMENTE UM DOS MAIS DESENVOLVIDOS, A PAR DAS INDÚSTRIAS PETROLÍFERAS E DAS TELECOMUNICAÇÕES.» os resultados líquidos e também o reconhecimento do mercado, materializado pela conquista de quatro prémios neste período, sendo de destacar o prémio de Banco do Ano 2010 atribuído pela revista The Banker.

A INTERNACIONALIZAÇÃO DA BANCA ANGOLANA Angola tem relações económicas muito diretas com o Brasil, EUA, Espanha e China. Também se pode dizer que a banca angolana se está a expandir para esses países? A expansão para os países que refere não passa, necessariamente, por uma presença física direta. No caso do Millennium bcp, temos já operações ou representação em alguns destes países, como o Brasil ou a China através de Macau. A presença em várias regiões do Globo faz com que o Millennium bcp possa apoiar as empresas e as famílias angolanas através de acordos específicos de cooperação. É, por exemplo, o caso de Macau, onde celebrámos um acordo com o ICBC – o maior banco chinês em termos de capitalização – na área do Trade Finance e das Remessas. A PROSPERIDADE DO MILLENNIUM ANGOLA O Millennium Angola procura uma crescente afirmação no mercado da banca angolana. O que é que tem sido feito em Angola no sentido de implementar o nome do banco e a eficiência dos seus serviços? 22 G8 ~ Abril 2011

O modelo de negócio do Banco Millennium é de banca universal, que tem sido a base da fórmula de sucesso que usamos nos vários mercados em que estamos presentes, com um claro enfoque sobre as necessidades dos clientes, apoiado pela inovação em serviços bancários e tecnologia. Paralelamente, a parceria com empresas locais fortes, tais como a Sonangol e o Banco Privado Atlântico, contribui para a obtenção de know-how local e acesso ao mercado duma forma mais eficiente, ajudando assim ao crescimento mais rápido da base de clientes. Nos últimos anos, o Banco Millennium Angola tem efetuado fortes investimentos na expansão da sua rede de balcões, tecnologia, formação de quadros, desenvolvimento de produtos (recebemos o prémio de banco mais inovador em Angola em 2009, atribuído pela revista Emea Finance) e comunicação, por exemplo, com a associação da marca à conhecida cantora angolana Yola Semedo. Em resultado da implementação do plano de negócios do Millennium Angola nos últimos dois anos, o banco conseguiu taxas de crescimento acima do mercado e uma melhoria significativa dos seus indicadores económico-financeiros. Este crescimento permitiu, em 2010, aumentar de forma significativa

O MILLENIUM ANGOLA FORA DAS CIDADES Abrir sucursais fora das cidades angolanas é particularmente difícil. Como analisa a expansão do Millennium Angola fora de Luanda? Já estamos em 12 das 18 províncias de Angola e temos previsto abrir mais cerca de 60 sucursais, por forma a cobrir todo o território nacional. É natural que os bancos comerciais se concentrem, numa fase inicial, no litoral e nos centros urbanos, uma vez que é aí que está o maior poder de compra. Mas é imperativo que contribuam para a bancarização de todo o País. Que desafios existem e dificultam o progresso do Banco? Dificuldade de comunicações, falta de preparação dos trabalhadores, redes de estradas ineficientes ou inexistentes? Os desafios são variados, mas cabe realçar que ao longo dos últimos anos assistimos a um importante conjunto de melhorias, nomeadamente na rede de estradas, onde Angola tem investido muito. Acresce que a banca angolana é um dos setores de maior vanguarda, que mais tem investido no país nos últimos anos, distinguindo-se pelo seu dinamismo e competitividade. Certamente que o investimento na formação dos nossos quadros continuará a ser uma prioridade. É disto exemplo a Academia Millennium Atlântico, um projeto que tem como promotores a Sonangol, o Banco Privado Atlântico e o Banco Millennium Angola, e que pretende formar na área Financeira, Banca e Seguros, cerca de 10 mil angolanos até 2015. G8



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inTERnacionaLiZaÇÃo? SIM, MAS COM CUIDADO… John Rumsey (Exclusivo Financial Times)

Os mais recentes rumores sobre a internacionalização dos bancos brasileiros sugerem que os principais players do mercado estão a pensar de forma arrojada. O Itaú Unibanco, em particular, tem sido associado a inúmeros negócios em todo o mundo, enquanto que se acredita que o Banco do Brasil considera expandir-se para a Argentina. No entanto, é provável que a realidade seja muito mais trivial.

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s grandes bancos brasileiros são em geral muito cautelosos. Os anos de hiper e alta inflação proporcionaram-lhes lucros muito apetecíveis oriundos dos investimentos em títulos do governo. Mais recentemente, o enorme crescimento do crédito ajudou a compensar a redução do rendimento nos títulos. Mas como os bancos brasileiros têm crescido rapidamente e se tornaram cada vez mais sofisticados e focados no cliente, a expansão para mercados externos está a tornar-se mais atrativa. Os maiores bancos brasileiros estão agora entre os maiores do mundo. De acordo com o ranking do Top 1000 Bancos do Mundo da revista «The Banker», o banco Itaú Unibanco ocupa o 33º lugar no ranking mundial e o Banco Bradesco vem na 40ª posição. Tanto a economia brasileira como os seus bancos estão a emergir da crise de forma bastante saudável. Um crescimento do Produto Interno Bruto estimado pelos economistas em mais de 5% para 2010, e uma valorização em alta do Real, dá aos bancos brasileiros uma imagem mais competitiva junto dos mercados financeiros. «A cotação em alta do Real proporciona também aos bancos brasileiros maior competitividade nos mercados para a contratação de talentos internacionais», explica Álvaro Taiar, parceiro principal da gestão de serviços financeiros nos países latino-americanos da PricewaterhouseCoopers. «A perceção sobre as oportunidades em trabalhar em bancos brasileiros mudou», acrescenta. Os resultados de 2009 mostram apenas alguns percalços, ao invés do mal-estar e contestação experimentada por muitos bancos internacionais. As ações dos bancos recuperaram, com o banco Itaú Unibanco a valorizar cerca de 34% em 12 meses (até 10 de fevereiro de 2010), apesar das perdas mais 24 G8 ~ Abril 2011

recentes. «A imagem dos bancos brasileiros é hoje mais eficaz, eficiente e capaz», revela Celina Vansetti-Hutchins, analista sénior da Moody’s, em Nova Iorque. NO CAMINHO PARA… O Brasil está a tornar-se numa peça fundamental da mecânica da economia internacional. «Nos próximos 20 anos ou mais, o Brasil será a quinta maior economia do mundo. Muitos dos bancos de outras grandes economias já atuam a nível global. Logicamente, o Brasil vai seguir o mesmo caminho», afirma Graham Nye, da PricewaterhouseCoopers, em São Paulo. «A América Latina terá um crescimento muito acentuado e dentro de cinco a dez anos, os bancos brasileiros terão um papel muito maior nesta região. A participação do Brasil na América Latina vai continuar a crescer», acrescenta Plínio Chapchap. Assim, muitas empresas brasileiras, conscientes do crescimento previsto nos mercados, já começaram a movimentar-se nesse sentido. Algumas já são verdadeiramente globais, incluindo as bebidas Ambev, o gigante do petróleo Petrobras e os minérios Vale. Outras estão a começar a emergir rapidamente, como a JBS Friboi, um dos maiores construtores de frigoríficos do mundo, e a siderúrgica Gerdau. Outras têm para já presenças pontuais na região e internacionalmente, como as empresas de construção Odebrecht e Camargo Corrêa. Os bancos brasileiros não querem perder o negócio dessas empresas sólidas e credíveis para os players internacionais e, nesse sentido, estão a internacionalizar os seus serviços. «Houve uma transferência da atividade internacional das empresas brasileiras para os bancos locais em áreas como a exportação e financiamento externo», afirma Milena Zaniboni, diretora geral

para a elaboração de classificações de empresas e governos na Standard & Poor’s, em São Paulo. Há ainda a crescente diáspora brasileira. Estima-se que poderá haver cerca de 1,1 milhões de brasileiros a viver nos Estados Unidos e mais de 1,5 milhões espalhados pelo Japão, Paraguai, Portugal e Reino Unido. Os fortes laços de ligação ao seu país, que se espelha no envio de remessas de dinheiro para o Brasil, pressionam os bancos a explorar novos mercados e, neste momento, o Banco do Brasil já tem delegações no Japão e nos Estados Unidos. Outra motivação para a internacionalização prende-se com a diversificação. Os elevados lucros anteriormente arrecadados pelos bancos brasileiros tiveram um retrocesso com a queda das taxas de juros, a crescente concorrência estrangeira e a intensificação da intervenção do governo. «O que temos visto nos últimos anos nos lucros é insustentável. O Brasil está agora num nível de investimento onde o lucro será conseguido de forma mais lenta. A longo prazo, os bancos brasileiros precisam de diversificar as suas fontes de receita» explica Celina Vansetti-Hutchins. «É o fim do dinheiro fácil», acrescenta outro analista. Todas estas opiniões estão a tentar convencer os bancos que é fundamental ter, pelo menos, uma estratégia definida para a expansão internacional. Só que os bancos estão reticentes face à expansão internacional, devido às oportunidades que o mercado interno continua a proporcionar. Embora os spreads dos empréstimos bancários estejam em queda, ainda são muito atrativos para o mercado. Segundo os dados do Banco Central do Brasil, a taxa média cobrada por todos os bancos para clientes do mercado retalhista e comercial foi de 27,79% em dezembro de 2009. Os


empréstimos concedidos a curto prazo subiram cerca de 159,08 %, graças a «cheques especiais», e no que diz respeito ao financiamento para empresas, a margem foi bem menor, situando-se nos 16,55%. Além disso, o crescimento é rápido, com uma previsão de crescimento para o Banco Bradesco de cerca de 25% para 2010. «A situação é tão boa que os bancos não estão particularmente interessados em concorrer internamente entre si», revela Celina Vansetti-Hutchins. Muitos bancos acreditam que têm um número satisfatório de clientes, que ainda não são suficientemente explorados. «A principal estratégia dos bancos brasileiros está focalizada no mercado interno. Eles precisam agora de focalizar a sua atenção na aquisição de mais capital para poderem acompanhar a procura e afastar a concorrência interna», acrescenta Milena Zaniboni. «A expansão para o exterior é cara, arriscada e sem provas de sucesso», diz. Se os lucros fora do Brasil não se podem comparar aos lucros obtidos internamente, no caso dos bancos brasileiros, a cautela neste assunto é acrescida devido ao ambiente instável em que atuaram durante anos e devido aos muitos receios sobre a saúde financeira do sistema bancário global. Tudo isto fê-los recuar.

O BANCO ITAÚ UNIBANCO JÁ ESTÁ A DESENVOLVER ATIVIDADES NAS REGIÕES PERIFÉRICAS DO BRASIL. O BANCO BRADESCO MANTEVE-SE O MAIS «PURAMENTE BRASILEIRO», ENTRE OS GRANDES BANCOS. «Os bancos brasileiros estão a ser muito cautelosos para não investir em bancos confrontados com problemas escondidos ou empréstimos pouco claros, derivados da crise», explica Álvaro Taiar. ESTRATÉGIAS INTERNACIONAIS «A discussão sobre qual será a melhor estratégia para a internacionalização dos

bancos subiu de tom e provocou alguma polémica» revela Gregory Gobetti, da área de serviços financeiros da Ernst & Young em São Paulo. «Vai ser um importante desafio para os bancos definir os seus planos para 2010», acrescenta. «Até à data, tem havido muita discussão, mas não muito movimento. Os bancos brasileiros têm pouca expressão no mercado externo em comparação com seus ativos totais internos.» «Os executivos de bancos brasileiros dizem que, para prosseguir com a internacionalização, precisam de ter uma estratégia clara e desenvolvida, boas oportunidades e serem capazes de manter o nível atual de lucro», acrescenta Gregory Gobetti. Essa é a dificuldade: os bancos brasileiros estão entre os mais rentáveis do mundo, devido aos spreads elevados, com retorno sobre o património líquido entre os 15 e os 20%. «Estes bancos pensam assim: se nos internacionalizarmos, seremos capazes de manter o mesmo nível de lucro? Este é um dos principais obstáculos», declara Gregory Gobetti. Os bancos brasileiros precisam também de melhorar as suas plataformas em áreas como a gestão e o controlo de riscos. «Bancos como o Santander e o Citigroup têm operações, políticas, procedimentos e instrumentos de gestão no exterior. Os bancos Abril 2011 ~ G8 25


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brasileiros ainda precisam de construir esta infraestrutura», afirma Gregory Gobetti. «Os bancos brasileiros não têm um histórico em áreas como a gestão de risco, e estão preocupados por causa disso, mas eles estão a resistir à crise financeira e a sua imagem foi reforçada graças ao seu desempenho recente», acrescenta Graham Nye. O equilíbrio ténue entre aproveitar as oportunidades externas ou permanecer apenas no mercado interno, fazem antever que os bancos brasileiros não farão aquisições de grande montante, mas irão aproveitar pequenas oportunidades, de um conjunto mais variado de ofertas. O maior foco será na América Latina, onde a cultura e a língua são semelhantes e onde os bancos brasileiros continuam a estar sub-representados. Só mais tarde, os bancos vão seguir a tendência das empresas brasileiras, passando a oferecer um número restrito de serviços bancários destinados apenas a comerciais e retalhistas. Um dos nichos de mercado a valorizar será o mercado de capitais. No ano passado, o índice Bovespa subiu 147% em USD. «O mundo está interessado no mercado de capitais brasileiro. Esta é uma boa oportunidade para os bancos brasileiros começarem a pensar em estabelecer parcerias e em ampliar a sua experiência no mercado de capitais», certifica Plínio Chapchap. 26 G8 ~ Abril 2011

BANCOS ESTATAIS Os Bancos Estatais estão em alta. Depois de dois anos de subida interna das taxas de juro, o Banco do Brasil consolidou novamente a sua posição como maior banco do Brasil, e agora é sua intenção conquistar a quota de mercado dos bancos privados no exterior. A política de internacionalização do Banco do Brasil pode ser resumida como «Seguir a bandeira». O banco está focado nas oportunidades em terras latinas e em alguns segmentos internacionais, especialmente nos Estados Unidos, que se tornou o «mercado de fuga» dos depósitos e investimentos bancários das empresas e cidadãos brasileiros durante a crise bancária global. Outro mercado prioritário é a Argentina, onde o Banco do Brasil está interessado em comprar o Banco da Patagónia, o quarto maior banco do país. Mas nem todos os analistas estão convencidos disso. «Não vejo sentido nisso: porque é que precisam da Argentina para se reforçarem?» questiona Celina Vansetti-Hutchins, acrescentando que a Patagónia não é um dos mercados mais atrativos e que haverá sempre restrições a nível da propriedade que poderão deixar os brasileiros com um controlo sobre o banco de apenas 49%.

Outro analista questiona se o Banco do Brasil estará mais interessado em manter-se ao nível dos seus concorrentes ou em desenvolver estratégias sensatas. O Banco Itaú tem uma grande presença na Argentina. «Para ser muito cínico, o pensamento do Banco do Brasil é algo do tipo: se o Banco Itaú tem operações na Argentina, nós precisamos de fazer melhor», afirma um analista que prefere manter o anonimato. O Banco do Brasil também pediu no final de 2008 uma licença bancária para operar nos Estados Unidos, embora agora se diga que pensa comprar cerca de 20% dos ativos do Citizens Bank, propriedade do Royal Bank of Scotland, o que lhe daria a licença bancária pretendida. Recentemente o Banco do Brasil também criou um serviço de remessas monetárias, o BB Money Transfers, que lhe permite explorar o crescente número de brasileiros que enviam dinheiro para casa. Allan Toledo, vice-presidente de operações internacionais do Banco do Brasil, disse aos jornalistas que o Banco pensa investir 40 milhões de dólares na internacionalização das suas operações nos Estados Unidos, com a abertura de 5 a 10 agências para servir os brasileiros residentes naquele país. A comunidade empresarial brasileira tem forte presença nos estados do nordeste


como em New Jersey, Nova Iorque, Connecticut e Massachusetts, bem como na Florida, que são vistos como mercados prioritários. A estratégia a seguir será uma mistura entre atividades focadas para o retalho e o comércio brasileiro, incluindo também a banca comercial. No entanto, existem duas grandes questões que se colocam sobre o posicionamento do Banco do Brasil na sua internacionalização. Em primeiro lugar, como é um banco estatal, cada passo é examinado com pormenor. O governo preferiu focar a política do banco na redução de spreads no mercado interno e na extensão dos serviços bancários para regiões mais carentes, e olha a expansão internacional de forma ambígua. «A batalha é feroz, com os políticos brasileiros a questionarem o porquê dos contribuintes deverem investir na Argentina, quando os spreads são tão altos, a taxa de acesso a serviços bancários tão baixa e o serviço de remessas de dinheiro para o Brasil tão fraco», afirma Gregory Gobetti. Em segundo lugar, as reservas estão a esgotar-se e já foi dito que o banco queria crescer cerca de 10 mil milhões de reais (5,36 mil milhões de USD) através de uma emissão de títulos que levem os níveis de capital Basileia II de 13 % para cerca de 15 %. «A questão que se coloca é: qual é a necessidade de internacionalização agora? Se tivéssemos enormes excedentes de capital faria sentido, mas isso não acontece. Estes planos parecem demasiado extravagantes», afirma Celina Vansetti-Hutchins. Resta agora saber se o Banco está prosseguindo este caminho para enfatizar a valorização e planeamento económico sustentável ou apenas para aumentar o seu prestígio. BANCOS PRIVADOS Os dois principais bancos privados do Brasil escolheram estratégias diferentes. Enquanto o Banco Itaú Unibanco já está a desenvolver atividades nas regiões periféricas do Brasil, o Banco Bradesco manteve-se o mais «puramente brasileiro», entre os grandes bancos. O Banco Itaú Unibanco já tem operações estratégicas na América Latina, tendo comprado em 1998 o Banco del Buen Ayre, na Argentina. De seguida expandiu as suas operações ao Chile, e em 2006 ao Uruguai, quando comprou os ativos do Bank Boston. O Unibanco alcançou o estatuto de segundo maior banco no Paraguai, quando o Interbanco se fundiu com o Itaú. Na época da fusão, o presidente do Unibanco, Pedro Salles, disse que uma das motivações para a fusão foi a construção de um

negócio internacional. No entanto, o Banco Itaú não tem atingido esse objetivo nos últimos anos, apesar de todas as expectativas. O Banco Itaú contratou um dos banqueiros mais conhecidos do Brasil, Pedro Malan, para redesenhar toda a estratégia internacional do Banco e, mais recentemente, formou uma comissão de especialistas para contribuir com ideias sobre a forma como o Banco deve ampliar e difundir o seu nome no exterior. Por enquanto, o crescimento do Banco Itaú desenvolve-se de forma mais ponderada em novos mercados, como o Peru e a Colômbia, países para onde o Banco acompanhou as empresas brasileiras. O Itaú Securities expandiu-se para zonas centrais como Nova

PLÍNIO CHAPCHAP : «O MUNDO ESTÁ INTERESSADO NO MERCADO BRASILEIRO DE CAPITAIS. ESTA É UMA BOA OPORTUNIDADE PARA OS BANCOS BRASILEIROS COMEÇAREM A PENSAR EM ESTABELECER PARCERIAS, E EM AMPLIAR A SUA EXPERIÊNCIA NO MERCADO DE CAPITAIS» Iorque e Tóquio, mas as suas atividades estão centradas principalmente no apoio às empresas brasileiras, mais do que na competição com os grandes bancos mundiais. Um dos gerentes locais em Nova Iorque disse que esta expansão permitiu passar de uma equipa de 68 para 80 funcionários, investir mais 10 milhões de USD em 2010 e aumentar a sua ação de cobertura noutros países latino-americanos.

Plinio Chapchap acredita que a ideia base é oferecer às multinacionais brasileiras mais produtos, estabelecer parcerias com bancos americanos negociando dívidas e ações, bem como facilitar o financiamento de empresas brasileiras no mercado americano. BRADESCO CAUTELOSO Quando o Banco Bradesco estava a sondar o mercado da banca para a internacionalização, fê-lo da forma mais cautelosa de todos os bancos na sua expansão para os mercados estrangeiros. Em 2010 comprou o Ibi México, especialista de financiamento ao consumo, à empresa suíça Cofra Holding, uma empresa especializada em cartões de crédito. O negócio é de pequena dimensão pois, o Ibi México tem apenas 1 milhão de cartões em circulação, em comparação com os 88 milhões do Banco Bradesco. O portfólio total da empresa mexicana de crédito é de apenas 99 milhões de USD, em comparação com o total de empréstimos do Banco Bradesco que ascende aos 131 mil milhões de USD. O Banco tem evitado a expansão internacional, com os executivos a afirmar que o Bradesco cresceu em 2010 mais rapidamente no mercado interno em serviços bancários corporativos, e que existe uma infraestrutura de oportunidades que vão surgir, especialmente com os próximos eventos previstos para o Brasil, o campeonato do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2018. «O Banco Bradesco teria uma difícil adaptação aos negócios no estrangeiro, uma vez que isso não faz parte da cultura do Banco», explica Plínio Chapchap. «Muitos dos diretores não têm uma exposição significativa aos mercados estrangeiros», acrescenta. Os bancos brasileiros estão numa fase em que perceberam que devem ter maior dimensão no exterior. Os recentes desempenhos positivos têm alimentado rumores sobre possíveis aquisições. Contudo, o conjunto de oportunidades para lucros imediatos no mercado interno parece ter enfraquecido a sua vontade de internacionalização. E agora são capazes de enfatizar o pragmático, oportunista e relativamente lento crescimento do exterior. Alguns temem que os bancos brasileiros já tenham perdido o «barco». Afinal, é pouco provável que se repita, nos próximos tempos, a tendência de preços baixos, de 2009, para compra de ativos de instituições financeiras. G8 Abril 2011 ~ G8 27


cabo-VERDE

BANCA CABO-VERDIANA

ESTÁ EM EXPANSÃO «O Banco Interatlântico consolidou o seu posicionamento»

O sistema bancário de Cabo Verde desenvolve-se segundo previsões otimistas. Há fatores que explicam a evolução positiva da economia cabo-verdiana e a sua boa resistência às condições adversas da crise global. O país cresce em credibilidade, goza de estabilidade política e da aposta do seu governo numa internacionalização da sua praça financeira.

A

economia de Cabo Verde é favorecida por um setor privilegiado: o Turismo. Mas há infraestruturas e projetos em desenvolvimento que denotam a vivacidade do país e a urgência de instituições financeiras de apoio. O Dr. Fernando Marques Pereira, Presidente do Conselho de Administração do Banco Interatlântico revela pormenores acerca da sua perceção de Cabo Verde e do desempenho do Banco que, pela segunda vez consecutiva, foi designado pela revista «World Finance» como o melhor Banco em Cabo Verde. Como descreveria a situação económica em Cabo Verde em 2009 e em 2010 e que desempenho tem tido o Banco Interatlântico numa época de abrandamento do crescimento económico e de desincentivo ao investimento? No ano de 2010 a economia cabo-verdiana, embora ainda estando a sofrer das consequências da crise económica e financeira global, viu vários setores a apresentar uma recuperação significativa face ao ano anterior, em especial o setor do turismo. Continuaram, no entanto, a sentir-se sinais de debilidade na construção e no investimento direto estrangeiro (IDE). O indicador de clima económico atingiu o seu pico no quarto trimestre de 2010, tendo registado uma subida praticamente constante ao longo de todo o ano, o que nos permite antecipar uma aceleração do crescimento económico. As remessas de emigrantes mantiveram a tendência de progressiva redução, acompanhando a deterioração das condições do mercado de trabalho nos principais países de acolhimento.

28 G8 ~ Abril 2011

A inflação foi moderada ao longo do ano, registando uma taxa média em 2,1% no final de 2010 (1,1% acima do verificado em 2009). O comportamento dos preços acompanhou assim a dinâmica da procura e beneficiou ainda do impacto de um bom ano agrícola. A evolução da economia levou o Banco de Cabo Verde a atualizar as suas projeções para 2010, fixando a projeção de taxa de crescimento do PIB para o intervalo de 4 a 5%, contra um crescimento de 3,9% verificado em 2009. Apesar dos constrangimentos que envolveram a atividade bancária durante o ano, o Banco Interatlântico consolidou durante a ano de 2010 o seu posicionamento como terceiro banco do sistema financeiro cabo-verdiano com um crescimento significativo na captação de recursos (15,7%), dos quais se destacam os depósitos com um crescimento de 22,1%. Também no crédito se registou um crescimento na mesma linha de grandeza (15,8%). Estes valores contribuíram certamente para um aumento das quotas de mercado do banco, em especial nas empresas, segmento que o banco elegeu como prioritário para o seu crescimento. Este reforço é confirmado pela quota do Banco Interatlântico no número de POS ativos em Cabo Verde, onde foi atingida a quota de mercado de 26%, colocando o BI como segundo banco do sistema nesta vertente. O aumento de capital realizado durante o ano permitiu ao banco encerrar o exercício de 2010 com um rácio de solvabilidade de 14,1%, muito superior ao mínimo legal. Em 2010 o Banco Interatlântico foi, pela segunda vez consecutiva, considerado pela revista “World Finance” como o melhor banco em Cabo Verde.

Como tem evoluído a postura do Banco Interatlântico face às concessões de crédito? A conjuntura económica exige tomadas de precaução. O Banco Interatlântico desenvolveu mais o crédito junto de empresas ou de particulares? Face à evolução da situação económica, houve uma redução da taxa de crescimento da concessão de crédito em 2010, quando comparada com 2009. Apesar do maior crescimento do crédito, em 2010, se ter verificado no crédito à habitação, o banco tem privilegiado ao longo dos anos o segmento das empresas, numa lógica de segmentação integrada na sua visão que se traduz em ser o banco de preferência e de referência para o segmento empresarial e institucional bem como dos particulares de rendimento médio-alto. No segmento empresarial assume um relevo especial na carteira do banco os setores que se constituem como os motores da economia em Cabo Verde, nomeadamente o setor hoteleiro. O crédito ao setor das empresas representa 70% do total, contra 30% para o crédito a particulares. Este posicionamento coloca a quota de mercado do Banco Interatlântico no setor das empresas muito acima da sua quota geral. Tem sentido na conjuntura económica atual que o setor do turismo em Cabo Verde – que é dominante – sofreu uma baixa desde 2009? Em que medida esse fator pode contribuir para uma estagnação do sistema económico? O setor turístico sofreu, de facto, uma recessão em 2009 mas recuperou em 2010 com as principais unidades hoteleiras a referirem uma substancial subida da taxa de ocupação face ao período homólogo.


«O indicador de clima económico atingiu o seu pico no quarto trimestre de 2010 (…) o que nos permite antecipar uma aceleração do crescimento económico.»

A construção de uma nova unidade Hoteleira do Grupo RIU (com abertura prevista para 6 de maio de 2011 na Ilha da Boa Vista) e o anúncio da entrada do Grupo SOL MELIÁ na Ilha do Sal com a exploração de três unidades veio trazer um novo sinal de dinamismo ao setor. As recentes perturbações sociais em países concorrentes na oferta de turismo de sol e praia, podem também contribuir para que 2011 seja um ano de elevado crescimento da atividade hoteleira em Cabo Verde. O setor mais deprimido continua a ser (como em muitos outros países) o turismo residencial, que veio trazer como consequência as taxas de crescimento negativas nos setores da construção e de distribuição de materiais de construção. Que tipos de medidas podem os bancos tomar para revitalizar a economia cabo-verdiana, ajudando a repor os índices de crescimento anteriores aos da crise internacional? Qual tem sido o percurso do Banco Interatlântico neste domínio? De forma a manter a sua capacidade de financiar a economia, o Banco Interatlântico assinou protocolos com a AFD - Agência Francesa de Desenvolvimento e com a SOFID - Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento, que estão em curso e que permitem alavancar a capacidade de financiamentos aos municípios e às pequenas e médias empresas, respetivamente.

De realçar que nestes protocolos existe adicionalmente um compromisso na promoção dos princípios da boa governação corporativa e no encorajamento da aplicação de elevados padrões de sustentabilidade social e ambiental nos projetos em que as entidades se irão envolver conjuntamente. Assim, constitui fator relevante de análise dos projetos as suas consequências ao nível do impacto no desenvolvimento local (criação de emprego, transferência de conhecimento, formação profissional, transferência de riqueza para as populações, impacto ambiental, etc.). Paralelamente, o Banco Interatlântico tem trabalhado com as instituições governamentais, nomeadamente a ADEI - Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação, para o lançamento da Garantia Mútua em Cabo Verde, no sentido de potenciar o aumento da oferta de crédito, em especial para a pequenas e médias empresas. Como tem percecionado o desempenho do Estado no sistema económico? Que aspetos da política estatal, nomeadamente no Orçamento de Estado de 2010, tiveram impacto no universo da banca? Houve mais investimento público? Como avalia a subida das taxas de juro em Cabo Verde? Durante os anos de 2009 e 2010 o governo de Cabo Verde encetou uma política orçamental anticíclica, com um forte aumento do investimento público e a natural conse-

quência na deterioração das contas públicas com um aumento do deficit orçamental, embora ainda dentro dos parâmetros negociados com o FMI. Tal permitiu que a taxa de crescimento económico de Cabo Verde se mantivesse em níveis elevados, embora inferiores aos registados em 2008. Sendo esse aumento do investimento público apoiado essencialmente em linhas de empréstimo concessionais e doações internacionais, não houve pressão no mercado de dívida interna, libertando fluxos para o setor privado e não exercendo pressões sobre as taxas de juro. Foi mesmo possível, também devido à manutenção da inflação num nível baixo, a redução da taxa de juro diretora do Banco Central (redução de 1% em todas as taxas de referência em 4 de janeiro de 2010), que procurou também, por essa via, estimular a recuperação da atividade económica. Tal motivou alguma estabilidade nas taxas ativas dos bancos tendo-se assistido, em especial no final de 2010, fruto do aumento da concorrência no setor, a uma subida nas taxas de juro passivas, com o natural reflexo na deterioração da margem financeira dos bancos. Concorda que os bancos cabo-verdianos receiam, por tradição, o risco imprevisível de certos produtos financeiros? Não residirá aí uma das razões para a boa resistência do Abril 2011 ~ G8 29


cabo-VERDE mercado financeiro em Cabo Verde face à crise internacional? Os bancos cabo-verdianos têm prosseguido políticas de investimento muito conservadoras. Efetivamente a composição das suas carteiras de valores mobiliários estão centradas na dívida pública cabo-verdiana e obrigações de empresas nacionais (parte delas públicas e cujas emissões beneficiam de aval do Estado). Assim, os bancos em Cabo Verde estão imunes aos investimentos em instrumentos emitidos por não residentes e que estiveram na origem da crise do sub-prime. Também em termos de política de financiamento, os bancos têm uma política muito ortodoxa, em que os recursos se baseiam na captação de depósitos havendo um recurso muito limitado ao financiamento externo. O ainda limitado desenvolvimento do mercado de capitais doméstico também limita a uma expressão muito reduzida o investimento no segmento acionista. Que avaliação faz do setor informal na economia cabo-verdiana? Como se poderia educar os empresários para formalizarem a sua atividade? Um empresário sem registos fiscais nem contas regularizadas está excluído do crédito bancário e de grande parte do fenómeno da bancarização… O peso do setor informal da economia vem registando um decréscimo ao longo dos últimos anos, com um número crescente de operadores a fazerem a sua conversão ao mercado formal. Para isso tem contribuído a redução do nível da fiscalidade que o governo encetou nos últimos anos, mas também a redução da burocracia necessária para a constituição de empresas. Hoje em Cabo Verde com o programa “empresa na hora” é possível constituir uma sociedade em menos de 50 minutos. Também se tem assistido a uma importante redução do número de empresas sem contabilidade organizada, embora as mesmas ainda representem uma parte substancial do número de sociedades em atividade. Maiores exigências por parte das entidades bancárias quanto aos seus modelos de análise e de adequação de preços face à perceção do risco têm também contribuído para aquela evolução favorável. Em 2009, os bancos cabo-verdianos reforçaram o seu capital social em cerca de 2,3 milhões de contos. A assembleia-geral do Banco Interatlântico aprovou um aumento do capital social de 600 mil para um milhão de escudos. Como perceciona esta medida? 30 G8 ~ Abril 2011

Durante os anos de 2009 e 2010 diversos bancos em Cabo Verde procederam a aumentos de capital, onde se inclui o Banco Interatlântico. Este movimento teve uma razão próxima que foi a adoção, no exercício de 2009, das Normas Internacionais de Contabilidade e de Relato Financeiro, que implicaram diversos ajustamentos nos fundos próprios. Os aumentos de capitais realizados procuraram assim, responder à necessidade dos bancos manterem robustos rácios de solvabilidade (no caso do Banco Interatlântico, bastante acima dos 10% exigidos por Lei) mas também permitir manter as taxas de crescimento anteriormente atingidas e estarem os bancos igualmente preparados para eventuais novas exigências do Banco Central em resultado das discussões sobre o tema que decorrem a nível internacional.

«OS BANCOS CABO-VERDIANOS TÊM PROSSEGUIDO POLÍTICAS DE INVESTIMENTO MUITO CONSERVADORAS.» Como observa o fenómeno de expansão da bancarização no território cabo-verdiano? Em 2009, por exemplo, abriram oito novas agências bancárias e surgiram novos bancos. É importante levar agências bancárias até onde possam existir clientes? No sistema bancário cabo-verdiano continuou a assistir-se a um forte aumento da concorrência, com a entrada no mercado de mais três instituições no ano transato, elevando para oito o número de bancos a operar (o dobro dos que existiam há apenas dois anos atrás). Paralelamente, continuou a assistir-se à inauguração de novas agências por parte dos bancos, de forma a cobrir as zonas de maior crescimento. O Banco Interatlântico tem acompanhado este movimento, tendo aberto quatro novas agências nos últimos três anos, permitindo cobrir as principais ilhas e as zonas de maior concentração empresarial, o segmento prioritário para o banco. Por outro lado tem havido um forte investimento na automatização dos serviços ban-

cários com crescimentos muito significativos no parque de ATM´s e POS. Também o serviço de Internet Banking e Mobile Bank tem apresentado taxas de crescimento importantes nos últimos anos. A emissão de títulos na Bolsa de Valores tem sofrido uma evolução positiva em Cabo Verde. Considera que este é um fator de dinamização da economia do país? Constitui uma ameaça à ação bancária tradicional – depósitos bancários – ou abre novos desafios? Como tem agido o Banco Interatlântico na Bolsa de Valores? Nos últimos anos algumas das empresas de maior dimensão em Cabo Verde têm financiado parte dos seus investimentos através da emissão pública de obrigações. Os próprios bancos, onde se inclui o Banco Interatlântico também recorreram ao mercado primário para a emissão de obrigações subordinadas de forma a aumentarem os seus fundos próprios complementares e, dessa forma, aumentarem a sua capacidade de intervenção no mercado. Considerando ainda o reduzido número de investidores institucionais no mercado de valores mobiliários a banca acaba por ter um papel importante quer na colocação das obrigações através da sua rede comercial quer, também, pela tomada de parte das emissões. Assim, mais de que uma ameaça ao sistema financeiro tradicional; o mercado primário de obrigações têm-se constituído como uma alternativa mais na oferta de produtos financeiros que, nos últimos anos, têm usufruído de importantes benefícios fiscais. O Banco Interatlântico tem participado em todos os sindicatos de colocação e pretende manter uma estratégica de intervenção crescente no mercado de valores mobiliários. Como é que vê o nível médio de formação das pessoas que trabalham nos bancos, em Cabo Verde? Sente que este é um pormenor a trabalhar? O que é que pode ser feito? Mais de metade dos trabalhadores do Banco Interatlântico tem formação de nível superior. A estes profissionais o banco tem assegurado uma formação complementar a nível especializado na área bancária. Cremos que no futuro se poderá justificar uma especialização na vertente bancária a nível de alguns estabelecimentos de ensino superior em Cabo Verde e, até, poder culminar na instalação de um Instituto de Formação Bancária, considerando que a prestação de serviços financeiros se constitui como um dos pilares do desenvolvimento de Cabo Verde. G8



MoÇaMbiQUE

MiLLEnniUM bim É LÍDER NUM MERCADO ONDE JÁ EXISTE MUITA CONCORRÊNCIA «Desde a sua criação que o Millennium bim tem uma preocupação social muito forte e amplamente reconhecida, que aliás define o seu “ADN”.»

A atividade do Millennium no mundo lusófono apresenta-se tripartida entre o bcp em Portugal, o Banco Millennium Angola que foi constituído banco de direito local em 2006, e o bim (Banco Internacional de Moçambique) inaugurado em 1995. O bim abriu recentemente mais cinco balcões em Moçambique, totalizando 126 no país.

E

m Moçambique, é a maior instituição financeira, tanto sob o volume de negócios como pelo grau de expansão geográfica. O Dr. Carlos Santos Ferreira, Presidente do Conselho de Administração do Millennium bcp, mostra em que medida o bim é o banco

32 G8 ~ Abril 2011

líder de Moçambique e enquadra o desempenho do banco na conjuntura atual. A ELEVADA LUCRATIVIDADE DA BANCA MOÇAMBICANA Em 2008, estima-se que os bancos moçambicanos tenham totalizado mais de 100

milhões de dólares americanos de lucros. Essa tendência persiste. Como vê a ação do Millennium bim, líder de mercado em Moçambique, na conquista destes valores? No caso do Millennium bim, os resultados alcançados são fruto de um investimento estratégico com 15 anos de história e refle-


tem um forte empenho no desenvolvimento da economia e do sistema financeiro em Moçambique. Enquanto banco universal, de todos e para todos, direcionado para clientes particulares e empresas, o Millennium bim continuará a procurar espelhar o sucesso da sua operação no desenvolvimento do tecido empresarial moçambicano e na melhoria das condições de vida das populações. Destaco ainda a vertente de banca de investimento do Millenium bim, que atua em diversos segmentos, desde mercado de capitais a Corporate Finance e é líder de mercado em colocação e emissão de obrigações e ações. A FALTA DE COMPETITIVIDADE NO SETOR BANCÁRIO Um relatório do FMI define que os bancos de Moçambique são dos mais lucrativos do mundo mas a atividade bancária naquele país é simultaneamente muito concentrada e com margens de lucros muito elevadas. O que está implícito nesta descrição será uma falta de competitividade no setor. Concorda com esta assunção? Dizer que existe falta de concorrência no setor bancário moçambicano é desconhecer a realidade local atual. Admito que, em 1995, ano de criação do Millennium bim, se pudesse classificar de fraca a concorrência. Porém, nos últimos anos, temos assistido à entrada de novos players, com base num misto de capitais locais e estrangeiros e todos eles com uma vontade muito vincada de conquistar quota de mercado. Não podemos esquecer que Moçambique tem, na sua vizinha África do Sul, um setor bancário desenvolvido, com grandes players já presentes no mercado moçambicano. Se houvesse maior concorrência, os juros sobre o crédito não seriam tão elevados e a economia moçambicana – as suas infraestruturas e elementos institucionais – sairiam reforçados? Face à situação atual da economia moçambicana, o preço do dinheiro varia muito mais em função das decisões de política monetária do que da competição entre os bancos na conquista de depósitos ou crédito. Se tomarmos como referência as taxas de juro praticadas na zona euro, obrigatoriamente concluiremos que são mais elevadas em Moçambique. Porém, numa análise relativa concluímos que as mesmas seguem as necessidades de controlo monetário, nomeadamente da inflação, sentidas no país.

BAIXO NÍVEL DE BANCARIZAÇÃO Estima-se que menos de 6% dos moçambicanos adultos tenham crédito bancário ou financeiro, e que apenas 10% tenham uma conta bancária. Não chegando os serviços bancários a grande parte da população, que estratégias poderá a banca – e em particular o Millennium bim – implementar para levar o cidadão comum a tomar consciência do valioso contributo que este setor pode trazer à sua vida quotidiana e também na preparação da sua segurança económica futura? Desde a sua criação que o Millennium bim tem uma preocupação social muito forte, que define o seu “ADN”, aliás amplamente reconhecida (exemplo do prémio de melhor programa de responsabilidade social, em 2010, atribuído pela Emea Finance).

O PAPEL DO BANCO CENTRAL DE MOÇAMBIQUE Concorda que o Banco Central de Moçambique tem agido como um bom regulador no sistema bancário moçambicano que é apelidado de restrito e pouco competitivo? O Banco de Moçambique, como entidade que tutela e regula o setor bancário, define as regras que os agentes económicos devem seguir, incluindo, naturalmente, os bancos. Por sua vez, aos bancos compete respeitar com rigor as regras estabelecidas, dando os seus contributos para o aperfeiçoamento do sistema, em fórum próprio com o Banco Central. Olhando a evolução do setor bancário moçambicano ao longo dos últimos 15 anos, é forçoso concluirmos que os progressos são imensos, só conseguidos pela efetiva contribuição de todos os intervenientes, nomeadamente do Banco Central de Moçambique.

«ADMITO QUE, EM 1995, SE PUDESSE CLASSIFICAR COMO FRACA A CONCORRÊNCIA. PORÉM, NOS ÚLTIMOS ANOS, TEMOS ASSISTIDO À ENTRADA DE NOVOS PLAYERS.»

Tem o Banco de Moçambique contribuído para a credibilidade da banca moçambicana e para a sua supervisão? Em qualquer geografia, os bancos centrais são a figura de proa do sistema financeiro. No que diz respeito à credibilidade da banca, num contexto de supervisão, a atuação do Banco de Moçambique incorpora conceitos de nível mundial e tem contribuído, de uma forma que me atrevo a qualificar de notável, para um salutar desenvolvimento do setor.

Seguindo uma estratégia de sustentabilidade consubstanciada num programa integrado de apoio à sociedade, o banco mantém o objetivo de cobertura do território moçambicano: temos 126 balcões espalhados pelo país (em zonas de maior densidade populacional ou de interesse económico nacional relevante), 10 dos quais abertos ao público em 2010. Quanto à preparação da segurança económica futura do cliente, o Millennium bim tem contribuído de forma expressiva para uma maior literacia e educação financeiras junto dos seus clientes e do público em geral, destacando-se ações de caráter pedagógico em cooperação com escolas, no âmbito do programa de responsabilidade social “Mais Moçambique pr’a mim”, e ainda a recente campanha de comunicação do banco que sublinha a importância da poupança no dia-a-dia do cliente.

A EXPANSÃO DO bim Por onde passa a estratégia de expansão do bim, em Moçambique e além-fronteiras? Face à dimensão geográfica de Moçambique e ao seu desenvolvimento sócio-económico, o Millennium bim continua a dar prioridade à expansão da sua rede de balcões, em duas direções: a primeira, de aprofundamento do envolvimento em praças já servidas pelo Banco; a segunda, de alargamento para praças ainda não cobertas, mas cuja importância crescente justifica a presença do banco. Quanto à expansão além-fronteiras, há que referir que, porque faz parte do Grupo Millennium bcp, o Millennium bim já é internacional. Os clientes do Banco em Moçambique, sejam empresas ou particulares, poderão beneficiar da presença que o Millennium bcp tem já hoje em vários países, como o Brasil, a China (através de Macau) e, obviamente, Portugal e a Europa. Para além disto, estamos preparados para contribuir para a internacionalização a nível regional. G8 Abril 2011 ~ G8 33


poRTUgaL

a banca poRTUgUEsa É cREDíVEL E TEM siDo pRUDEnTE «A forma de diminuir a dependência tão grande do mercado português é obviamente a internacionalização, que é algo que tem vindo a fazer-se já há alguns anos, mas agora com mais vigor.» Criada em 1984, a Associação Portuguesa de Bancos representa e congrega a quase totalidade (94%) dos bancos nacionais e dos bancos estrangeiros que exercem a sua atividade em Portugal. Além de defender os interesses dos seus associados, a APB elabora estudos e pareceres sobre a atividade bancária e recolhe informação estatística sobre o setor. Colabora com as autoridades responsáveis na definição do quadro regulamentar da atividade bancária, e na elaboração da política económica, contribuindo assim para o desenvolvimento de um setor bancário sólido. 34 G8 ~ Abril 2011


O

Antigo Governador do Banco de Portugal e ex-Presidente da Caixa Geral de Depósitos, o Prof. António de Sousa é o atual Presidente da Associação Portuguesa de Bancos. Fala-nos do estado atual da banca portuguesa, das suas fragilidades e das perspetivas futuras para a sua internacionalização, elegendo os países da CPLP como os mais propícios para esse desenvolvimento além-fronteiras. Quais são as fragilidades da banca portuguesa? Será que alguma dessas fragilidades pode ser considerada uma oportunidade? No caso concreto da banca, isso não se aplica muito bem, porque a banca é um dos setores tecnológicos mais evoluídos. Portugal é um dos países onde a banca é a mais evoluída, tanto a nível europeu e até mundial, em termos de tecnologia e de produtos. A banca portuguesa tem um bom nível de estabilidade. A fragilidade da banca portuguesa prende-se, neste momento, com a situação em que se encontra o país. Em todas as comparações internacionais e em todos os testes que têm sido feitos, acaba por se sair bastante bem. A banca vive uma situação em que a sua estrutura de crédito e o atravessar de toda esta crise foram uma demonstração de resiliência. Nenhum banco teve qualquer tipo de problemas. Os dois casos que aconteceram são casos que nada têm a ver com a crise económica, nem em Portugal, nem no exterior. Teve a ver com modelos de negócios e com negócios inadequados e, eventualmente, fraudulentos que esses bancos fizeram. E esses bancos representam menos de 1% da banca nacional. Portanto, a banca portuguesa foi das poucas, para não dizer praticamente a única – mesmo pensando em países grandes como a Espanha, França, Reino Unido e a Alemanha - que não teve um euro de apoio do Estado, porque não precisou e continua a não precisar. Note-se que o Estado apresentou atempadamente um programa de apoio para a banca que não chegou a ser utilizado a não ser em termos de garantias, que só foram usadas nos finais de 2008 e início de 2009, no período mais grave da crise, em pouco mais de 20% e com uma remuneração substancial ao Estado. A única fragilidade da banca portuguesa é estar inserida num mercado que

não está em crescimento, antes pelo contrário. Têm sido feitas várias tentativas de internacionalização, e algumas até muito bem sucedidas, nomeadamente para muitos países da CPLP. Isso significa que neste momento já podemos dizer que grosso modo cerca de um terço (30%) dos resultados e da atividade dos bancos portugueses são feitos no exterior. E isto é que tem despoletado alguma rentabilidade desses mesmos bancos, porque a atividade bancária em Portugal está a perder rentabilidade de forma substancial. A maior fragilidade que temos é na área da liquidez, que está associada à chamada crise da dívida soberana. Obviamente, enquanto esse aspeto não for ultrapassado, os bancos portugueses têm maiores dificuldades, para não dizer uma impossibilidade total, de se financiarem internacionalmente.

«A BANCA PORTUGUESA TEM UM BOM NÍVEL DE ESTABILIDADE. A FRAGILIDADE DA BANCA PORTUGUESA PRENDE-SE, NESTE MOMENTO, COM A SITUAÇÃO EM QUE SE ENCONTRA O PAÍS.» A banca portuguesa deveria proceder a mais concentrações para eventualmente ter mais força em todos os mercados internacionais? Não é por os bancos se associarem, terem maior ou menor dimensão, que conseguem efetivamente financiar-se. Vou dar-lhe um exemplo no país vizinho. O Santander é um dos maiores bancos do mundo e enquanto Espanha esteve com uma situação grave, semelhante à nossa, de crise de dívida soberana, também não se conseguia financiar nos mercados. Os nossos bancos têm 30% da sua atividade no exterior. No caso do Santander é precisamente o contrário: a Espanha representa apenas 30% da sua atividade; e

apesar disso, mesmo um banco desta dimensão, não se conseguia financiar. Neste caso, a dimensão é irrelevante. De qualquer das maneiras em termos de opinião pública há muito a ideia de que Portugal já não tem bancos. Que os estrangeiros vieram e compraram os nossos bancos, as nossas companhias de seguros… A percentagem das companhias de seguro estrangeiras é quase irrelevante. Só a CGD tem quase 50% do mercado. No sistema financeiro português, comparando com os sistemas financeiros dos outros países europeus, a parcela que é dominada por bancos com sede no estrangeiro é relativamente pequena, sendo inferior a 20%. O que é bastante menor do que noutros países. Podemos então dizer que Portugal ainda se afasta de uma média europeia? Eu diria que estamos abaixo da média. Depende de como esta média for feita, e que tipos de segmentos de mercado são tidos em conta. O mercado financeiro não é completamente homogéneo: há os bancos de investimento, há os bancos comerciais, etc. Mas eu diria que estamos numa situação que é perfeitamente média, ou abaixo da média em termos europeus. Neste quadro, quais são os verdadeiros desafios para a banca portuguesa? Devemos avançar para o estrangeiro? Sendo muito objetivo, o grande problema da banca portuguesa neste momento chama-se liquidez, isto é, o poder ir ao mercado internacional. Porque qualquer banca, nomeadamente num país de pequena dimensão como é o caso português, os bancos têm que ter as suas fontes de financiamento internacionais a funcionarem com regularidade. Esse é o problema essencial. A forma de diminuir a dependência tão grande do mercado português é obviamente a internacionalização, que é algo que tem vindo a fazer-se já há alguns anos, mas agora com mais vigor. Quando disse que tem aumentado muito a parcela do setor internacional no total dos bancos portugueses, o problema não é tanto esse setor internacional ter aumentado muito nos últimos anos, mas sim a parte portuguesa ter diminuído. Por exemplo, em termos de resultados, tem muito mais a ver com a diminuição dos lucros em Portugal do que com o aumento do lucro no estrangeiro. Abril 2011 ~ G8 35


poRTUgaL Acusam a banca em Portugal de pagar menos impostos e de ter lucros exorbitantes. Há alguma verdade nisso? O que é que ainda não foi dito que possa contrariar essa perceção pública? Um dos graves problemas em Portugal é que os media dizem as coisas mais inacreditáveis sem qualquer fundamento, sem se preocuparem com o que está a ser dito. Por exemplo, ainda há pouco estávamos a falar de que nos lucros da banca, a parte que vem do estrangeiro tem vindo a aumentar substancialmente. E esses, obviamente, não são tributados em Portugal. São tributados no país de origem (onde são obtidos), senão seriam tributados duas vezes, e se tal acontecesse, os bancos não estariam interessados em estar nesses mercados. Assim, é logo uma parte significativa dos lucros que não são abrangidos por impostos nacionais. Por outro lado, há uma enorme confusão entre o que é lucro fiscal e o que não é lucro fiscal. Aliás há comunicações comparativas do próprio Ministério das Finanças sobre os lucros fiscais da banca em que se pode ver que a banca é um dos setores que paga mais em termos da sua matéria coletada. No caso da atividade bancária, o problema que se põe, e que está muito ligado à questão dos lucros e dos impostos, tem a ver com uma série de fatores: rendimentos da banca que já foram tributados anteriormente, como é o caso do estrangeiro, é o caso dos dividendos que a banca recebe de outras sociedades que foram tributadas na origem, etc. Portanto se fossem também tributadas na banca o que iria acontecer é que a banca não ia querer ter ativos desses géneros porque iria estar a pagar duas vezes impostos sobre a mesma coisa. Se calhar há aqui um problema de comunicação, de não explicação ou de não clarificação… O problema é que este assunto é complexo. Sei que o nosso setor ainda não se pronuncia muito objetivamente quando fala de dividendos, da atividade internacional, etc. Porque quando se fala em ativos, passivos, impostos, é difícil de explicar, porque é uma questão técnica de gestão. Eu próprio que não sou fiscalista percebo este assunto de uma forma superficial. E esses aspetos são cruciais. Aliás eu gostaria de referir que se há setor onde não há qualquer fuga fiscal é a banca. E isso por uma razão: porque a Direção-Geral de Impostos tem permanentemente 36 G8 ~ Abril 2011


uma equipa nos principais bancos que faz a avaliação constante do sistema fiscal, ou da forma como os bancos utilizam o sistema fiscal, e portanto os impostos da banca. Praticamente todas as operações bancárias, hoje em dia, são reportadas ao Ministério das Finanças, portanto o sistema é totalmente transparente. Acontece que o sistema de contabilidade bancário tem muito pouco a ver com o nosso sistema fiscal. A banca, em termos fiscais, tem muito menos lucro do que aqueles que aparenta. Aliás esta é uma situação momentânea. Se a situação em Portugal melhorar e portanto os lucros da atividade comercial em Portugal aumentarem, os números dos impostos irão também eles aumentar muito mais do que proporcionalmente, assim como desceram muito mais do que proporcionalmente. Mas obviamente do que numa situação em que a atividade em Portugal é muito pouco rentável, o que acontece é que os impostos são muito pequenos. Às vezes, vemos algumas tentativas embora muito ligeiras e pouco audazes de investimento da banca portuguesa no estrangeiro. O que é que tem acontecido para a internacionalização da banca portuguesa ter aparentemente tão pouca representatividade? Permita-me discordar dessa afirmação. Estamos a falar de 30% do mercado, e eu diria que, neste momento, 30% de lucro no estrangeiro, já é um grau de internacionalização bastante grande. Temos que ter consciência de que somos um país muito pequeno, com bancos médios em termos internacionais. E convém que continuemos assim? Qualquer um dos grandes do nosso país vizinho ou de França, é maior do que o sistema bancário português em conjunto. Não é por juntarmos dois bancos portugueses que passamos a ter um banco grande. Continuaremos a ter um banco médio. Não há possibilidade de nenhum banco português ser um banco de grande dimensão. A não ser metendo-se em riscos desproporcionais como aconteceu na Irlanda. E digo-lhe, ainda bem que nenhum dos nossos bancos foi para aventuras desse género. Quais são os novos caminhos, que em termos de banca, a CPLP ou o mercado internacional pode no atual contexto oferecer? Para os bancos portugueses, os destinos da CPLP têm sido extremamente importantes, como o caso de Angola e de Moçambique, onde a presença dos bancos

portugueses é ampla. Todos os nossos bancos estão neste momento nestes dois países. Em Cabo Verde também se vê uma presença muito grande dos bancos portugueses. Estes são os três países mais significativos. Em Timor, encontramos a Caixa Geral de Depósitos. No Brasil, a situação é bastante diferente, porque estamos a falar da situação contrária. É um país muito maior, não apenas em dimensão (porque alguns dos outros até são maiores do que Portugal), mas em termos de PIB, e de capacidade de gerar poder económico. Aí a presença portuguesa foi pensada meramente nos anos 90. Não correu muito bem, também porque apanhou uma fase má da economia brasileira.

«SE HÁ SETOR ONDE NÃO HÁ QUALQUER FUGA FISCAL É A BANCA PORQUE A DIREÇÃO-GERAL DE IMPOSTOS TEM PERMANENTE-MENTE UMA EQUIPA NOS PRINCIPAIS BANCOS QUE FAZ A AVALIAÇÃO CONSTANTE DO SISTEMA FISCAL.» Assiste-se agora a uma segunda reaproximação ao Brasil, que por enquanto ainda não é muito significativa, embora para alguns casos o tipo de participação, nomeadamente participações cruzadas, possam já dar excelentes resultados. Mas é diferente do que acontece com países como Moçambique e Cabo Verde. No Brasil o mercado está a ficar muito concentrado. Os bancos brasileiros são de enormes dimensões, são dos maiores bancos do mundo, portanto não têm comparação, neste momento, com a dimensão dos bancos portugueses. É um mercado onde podemos estar presentes, mas sabemos que somos de uma dimensão completamente diferente.

Os bancos brasileiros crescem tanto internamente que não têm necessidade de se internacionalizar. A banca portuguesa, na sua dimensão e dentro dos seus níveis de atuação, poderia ter algo a oferecer à banca brasileira? Eu diria que seria possível, mas difícil, porque a banca brasileira é um setor altamente sofisticado. Não acontece em outros países da América Latina, mas no Brasil esta situação é antiga, vem desde dos tempos da chamada hiperinflação, onde se assistiu a uma enorme sofisticação dos produtos financeiros da banca brasileira. Esta é uma banca altamente sofisticada com excelentes quadros, com grande conhecimento técnico dos mercados financeiros. O Brasil não será dos países onde poderemos ser mais úteis, ao contrário do que aconteceu em países como Angola, Moçambique, Polónia, em que já nos anos 90, o bcp era um banco extremamente inovador no mercado muito pouco desenvolvido. Não é esse o caso do mercado brasileiro e temos que ter isso em atenção. Mais tarde ou mais cedo, os bancos brasileiros também se vão internacionalizar. Têm alguma presença em Portugal, direta e indireta, embora relativamente pequena, mas é natural que tenham que começar a internacionalizar-se. Agora com um mercado com tanto potencial e a crescer tanto como o mercado brasileiro, quase de certeza que a internacionalização, pelo menos nos próximos anos, vai ocorrer e muito no mercado brasileiro. Mas vários bancos têm neste momento projetos de internacionalização, e eu diria que, tendo em conta a dimensão dos bancos, seria quase um projeto-piloto. Falou-nos sobre a relação direta entre o crescimento da economia e o desenvolvimento da própria banca. Estes dois elementos estão sempre ligados, para o melhor e para o pior? Sim, estão sempre ligados. Em Portugal, quando falamos em banca, falamos fundamentalmente de banca comercial. A banca de retalho transforma depósitos em créditos. Ora numa situação em que a economia não está a crescer, a banca começa a ter cada vez mais dificuldade em conceder créditos. Muitas vezes diz-se que a banca não quer conceder créditos mas quando a economia não cresce, não há efetivamente procura de crédito ou a procura existente é uma procura que não é uma verdadeira procura. Ou seja, é uma procura cujo risco não é aceitável em termos de concessão de crédito, e do custo dos próprios depósitos. Abril 2011 ~ G8 37


poRTUgaL Aliás o FMI, no seu Relatório do Artigo IV, já nos dizia, em 2008, que o problema maior da banca portuguesa é a baixa rentabilidade, até mais do que os problemas de liquidez. Normalmente este não é um assunto muito querido da imprensa, porque esta faz grandes cabeçalhos sobre a rentabilidade da banca e, por isso, não gosta de falar dos relatórios que dizem exatamente o contrário. O problema é que quando se fala da banca, fala-se sempre de muito dinheiro. Mas afinal são os nossos depósitos e os nossos créditos. Quando se fala em milhares de milhões, os números são sempre tão espantosos que dá sempre origem à possibilidade de dizer que os lucros foram exorbitantes, mas, comparado com o total, são relativamente baixos. Obviamente é difícil à opinião pública compreender este fenómeno, mas a verdade é que dentro de um total de algumas centenas de milhares de milhões, quando estamos a falar de 200 ou 300 milhões, o lucro é relativamente pequeno.

Há outra coisa que em Portugal não é normalmente compreendida: os bancos emprestam fundamentalmente o dinheiro que foi depositado. Se os bancos, por alguma razão, começassem a emprestar a empresas e a famílias que não têm capacidade de pagar, mais tarde ou mais cedo, isso iria refletir-se na sua solvabilidade. É óbvio que isto está fora de questão. Os bancos não o fazem, não o fizeram, nem o farão. E os resultados mostram bem isso porque apesar de toda a crise económica em Portugal, o crédito malparado tem estado bastante contido. Tem subido, como era de esperar, mas mantém-se em níveis, que até em termos internacionais, são ainda baixos. O que significa que a banca portuguesa teve muito cuidado e também por isso é que não precisou de apoios estatais, com a concessão de créditos, apesar do crédito 38 G8 ~ Abril 2011

ter aumentado imenso em Portugal nestes últimos 20 anos. Apesar disso, foi feito com bastante critério de qualidade. Falando da ligação com a atividade económica, obviamente que se a banca não consegue continuar a transformar depósitos em créditos, que é o seu papel na economia e o seu objeto social, isso é mau para a banca. E ainda por cima, nessa mesma situação, o que acontece é que vai começar a aumentar o crédito malparado, vão começar a aumentar as provisões. Tudo isso vai refletindo-se nomeadamente numa situação em que os bancos são obrigados a aumentar o capital, não só por necessitarem de estar mais sólidos, mas também por imposições regulamentares. Por enquanto não se aplica a Portugal, porque os nossos níveis já eram suficientemente altos para não obrigarem a aumentos de capital.

Vieram a lume alguns casos de corrupção e de lavagem de dinheiro no domínio da banca portuguesa e nos PALOP’s. A banca pode fazer alguma coisa para mudar este estado de coisas ou a sua perceção? Eu acho que pode fazer, e faz. Em Portugal, encontrámos excelentes soluções, quer institucionais quer em termos de trabalho diário com as autoridades, a este nível. Estou a referir-me apenas a Portugal, pois conheço mal a realidade dos PALOP’s. A banca tem um papel importante nessa área, e no caso português, tem-no claramente desempenhado. Em todos os relatórios é claro que Portugal não é um país onde passe dinheiro facilmente, antes pelo contrário. Em relação aos PALOP’s não tenho essa informação. Mas duvido que a nível dos bancos portugueses isso aconteça porque realmente quer a regulação que está em vigor quer a cooperação institucional que existe entre bancos, a própria Associação e as entidades como o Ministério Público e a PJ, faz com que isso seja bastante difícil. Além do mais, Portugal tem uma regulação, supervisão e leis bastante claras sobre o assunto. E estas são cumpridas na prática. Por exemplo, isso vê-se em coisas tão simples como a dificuldade de levantar ou depositar dinheiro em notas. É uma coisa que noutros países é muito habitual, e que cá tem cada vez menos expressão. G8



poRTUgaL

MiLLEnniUM bcp

É UM GIGANTE ECONÓMICO DE PORTUGAL E DO MUNDO

«O reforço da nossa reputação e do valor da nossa marca, traduziu-se no nível de satisfação dos nossos clientes» O Millennium bcp lidera o grupo de bancos portugueses segundo o Top 1000, o que é revelador da sua dimensão e preponderância. Desde a sua fundação, em 1985, o banco incorporou várias instituições financeiras como o Banco Português do Atlântico, o Banco Pinto e Sotto Mayor e o Banco Mello. Tem expandido a sua atividade além-fronteiras, alcançando com vigor e sucesso mercados como o angolano e moçambicano, o grego e o polaco.

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tes económicos, governos, reguladores e empresas um pouco por todo o mundo a terem o efeito esperado. Não obstante os problemas de dívida e desequilíbrio das finanças públicas que ainda persistem, sobretudo nas economias ocidentais, a generalidade das organizações económicas internacionais, incluindo o FMI, preveem um cenário de retoma da «normalidade» em 2011, tendo o FMI apontado um crescimento de cerca de 4% para a economia mundial, ainda que esta média de crescimento seja alavancada pelas economias emergentes, esperando-se um ritmo de crescimento mais contido nos países desenvolvidos.

É

o maior grupo bancário privado português e apresenta estatísticas impressionantes: está presente em 20 países de quatro continentes; soma 5 milhões de clientes e aproximadamente dois milhares de sucursais, 21 800 colaboradores e 180 000 acionistas. O Presidente do Conselho de Administração do Millennium bcp, Dr. Carlos Santos Ferreira respondeu-nos a questões pertinentes relativas ao desempenho do banco que dirige. CENÁRIO ECONÓMICO MUNDIAL Como antevê a evolução da economia mundial em 2011? É expectável que a retoma da economia mundial se torne visível e sustentável ao longo destes próximos dois anos, com os esforços feitos pelos diversos agen-

CRISE ECONÓMICA E FINANCEIRA EM PORTUGAL Inserido num contexto internacional de histórica recessão, Portugal procura resistir à crise, ainda que avassalado pelo aumento da dívida pública, pela estagnação e desaparecimento de alguns setores produtivos e por elevados níveis de desemprego. Considera que Portugal adotou a postura correta para retificar as contas públicas e consolidar a economia? Como poderá vir a ser 2011 para Portugal? Estou relativamente otimista quanto às perspetivas nacionais. Considero que 2011 vai ser um ano desafiante, sobretudo ao nível da redução dos níveis atuais de endividamento e da taxa de desemprego (que é um problema que condiciona a vida das famílias e dos empresários) mas estou confiante que os portugueses têm a vontade e a determinação necessárias para ultrapassar esta realidade e penso que as empresas continuarão também a dar o seu contributo para a recuperação da economia portuguesa. Mas devemos começar a pensar já no crescimento da economia. Não basta reduzir a dívida, é necessário pagá-la e, nesta fase, a banca portuguesa terá um papel essencial devendo dirigir, de preferência, os seus financiamentos para as pequenas e médias empresas com capacidade para exportar. São essas empresas que criam emprego - não as grandes empresas, que hoje estão numa fase de se reestruturar e reduzir custos -, são essas empresas que podem ajudar a equilibrar a balança de pagamentos de Portugal. NOVOS DESAFIOS DA BANCA Surpreendido pela crise mundial de 2008, o mundo das finanças precisou de encontrar novas formas de defesa ou de autopro-

teção. Considera que existem hoje novas formas de «fazer banca»? O retorno a formas tradicionais de crédito e de depósito é um mecanismo de defesa contra projetos financeiros de alto risco ou ousadia? Sendo assim, a banca poderá ter recebido lições desta crise, ajudando os seus clientes a fomentar modelos de negócio equilibrados, transparentes e sustentáveis?

«O MILLENNIUM bcp TEM UMA ESTRATÉGIA CLARA DE ENFOQUE NO CRESCIMENTO EM RECURSOS, COM A OFERTA DE PRODUTOS FINANCEIROS SIMPLES E TRANSPARENTES, PROMOVENDO UMA MAIOR LITERACIA FINANCEIRA DA POPULAÇÃO.» Como sabemos, a banca assume um papel primordial como agente financiador da economia e nos últimos anos foi bem visível o esforço que os bancos portugueses fizeram para a dinamização da economia nacional através da concessão de crédito aos particulares e às empresas. Contudo, a economia e os mercados evidenciam cenários de incerteza e volatilidade que dificilmente são previsíveis e/ou antecipáveis. Estamos todos a aprender com a crise, assistindo-se a uma reformulação de paradigmas e modelos de negócio. A atual conjuntura económico-financeira impõe, para já, uma necessidade de desalavacangem e, consequentemente, uma utilização eficiente e seletiva dos recursos escassos, através de uma adequada análise e gestão de perfis de risco. Esta nova realidade teve consequências nos volumes de concessão de crédito, que se reduziram e não foi acompanhada por Abril 2011 ~ G8 41


poRTUgaL «NO DOMÍNIO INTERNACIONAL, O MILLENNIUM bcp PROSSEGUE A ESTRATÉGIA QUE DEFINIU, PASSA PELO ENFOQUE NOS MERCADOS EUROPEUS QUE ASSEGUREM UMA PRESENÇA COMPETITIVA, E PELO INVESTIMENTO EM MERCADOS COM AFINIDADE.»

um incremento na taxa de poupança das famílias. Tendo em conta este desequilíbrio, o crédito passou a ser um recurso cada vez mais escasso e, por isso mesmo, mais difícil de obter. Não obstante, gostaria de sublinhar o facto de o Millennium bcp ter mantido o volume de crédito às famílias – especialmente 42 G8 ~ Abril 2011

o crédito habitação – em níveis estáveis, contribuindo para o bem-estar social. Nas empresas, efetivamente assistimos a alguma redução no volume de crédito concedido, todavia continuámos a apoiar projetos empresariais de PMEs com valor acrescentado, especialmente projetos de investimento nacional e

com vocação exportadora. Desta forma estaremos a injetar fundos na economia e a contribuir para uma diminuição do défice comercial. Uma das prioridades do setor bancário prende-se com o estímulo à poupança nacional e, nesse sentido, o Millennium bcp tem uma estratégia clara de enfoque no crescimento em recursos, com a oferta de produtos financeiros simples e transparentes, promovendo uma maior literacia financeira da população. Quando falamos na necessidade de desalavancagem, isso significa apenas que teremos de encontrar um equilíbrio entre o volume de recursos que captamos junto dos nossos clientes e o volume de crédito que concedemos. Faz sentido, por exemplo, que em projetos de investimento – sejam de uma família ou de uma empresa – o titular entre com um nível de capitais próprios que, porventura, há uns anos atrás não seriam exigidos pelos bancos. CONTRIBUIÇÃO DA BANCA PARA O PROGRESSO DAS ECONOMIAS Constatou-se que os facilitismos na concessão de créditos podem acarretar riscos imprevisíveis. Apoios a pequenos e


médios empresários, parcerias com o Estado, linhas de apoio a desempregados, incentivos à formação de bons quadros qualificados… Como é que os bancos podem promover o crescimento das economias? Não deverão os bancos ter um papel mais ativo na educação financeira da população em geral? Os bancos desempenham um papel essencial nas economias, têm uma função importante e bem definida na captação de recursos e na concessão de financiamento. Ora isto não mudou. Para promover o crescimento da economia, o que é essencial é uma análise permanente e realista dos pedidos de financiamento, dos projetos, da capacidade financeira de cada pessoa, família, empresa. A educação financeira é claramente um campo em que os bancos já estão ativos, mas onde ainda há espaço a percorrer. Ainda assim, verificamos que os clientes estão hoje mais informados e quando vêm até ao banco já têm uma ideia clara sobre o que pretendem. Os clientes entendem, se lhes for explicado, as razões da atribuição ou não do crédito. Aquilo que se pretende é ajudar os clientes a fazerem uma gestão equilibrada das suas finanças. Por outro lado, não me parece que algum banco recuse uma operação de crédito a uma empresa saudável, cujo projeto seja gerador de riqueza e esteja bem estruturado. Para tudo é necessário encontrar um equilíbrio e esta crise está também a ajudar a economia a reposicionar-se e a controlar os seus desequilíbrios. O MILLENNIUM bcp E A ECONOMIA PORTUGUESA O Millennium bcp é o banco português mais bem posicionado na tabela Top 1000 Bancos do Mundo da revista «THE BANKER» em 2010. Esse dado é revelador da dimensão do banco e do seu decorrente poder de intervenção. Considera que o papel do Millennium bcp poderá ser determinante ou particularmente influente na revitalização da economia portuguesa? Em que domínios? O Millennium bcp é o maior banco privado em Portugal, com €100 mil milhões de ativos, 10 mil colaboradores, mais de 2,5 milhões de clientes e 892 sucursais. Em todas as nossas geografias perfazemos mais de 21.000 colaboradores, temos mais de 5 milhões de clientes e

cerca de 1.800 sucursais. Esta dimensão confere-nos uma grande responsabilidade no apoio à economia, responsabilidade que nos inspira todos os dias. O nosso desafio é apoiar os nossos clientes e os seus projetos. Do microcrédito aos apoios às PME, do crédito à habitação ao financiamento de projetos de maior escala, o Millennium bcp está presente em diversas geografias para encontrar soluções que sirvam os interesses dos clientes. Nos clientes empresariais, cabe fazer uma diferenciação entre as grandes empresas e aquelas de média dimensão. Isto porque as maiores empresas portu-

«PARA TUDO É NECESSÁRIO ENCONTRAR UM EQUILÍBRIO E ESTA CRISE ESTÁ TAMBÉM A AJUDAR A ECONOMIA A REPOSICIONAR-SE E A CONTROLAR OS SEUS DESEQUILÍBRIOS.» guesas podem recorrer também ao financiamento externo, o que faz com que o Millennium esteja particularmente ativo no financiamento das pequenas e médias empresas, especialmente aquelas com maior componente de exportação, como referi anteriormente. O Millennium bcp tem operações em países cujos interesses ajudam ao desenvolvimento das trocas comerciais entre os empresários portugueses e os empresários desses países o que, em conjunto, contribuem para o desenvolvimento destas economias. Não é por acaso, que o Millennium bcp escolheu, por exemplo, Angola para desenvolver uma operação. Desta forma podemos apoiar as empresas portuguesas que se instalam em Angola e ao mesmo tempo apoiar as empresas angolanas que veem Portugal como um mercado com valor e uma forma de entrar na Europa.

Poderíamos dar mais exemplos, como a nossa operação em Macau, Polónia ou Moçambique. PERSPETIVAS INTERNAS E EXTERNAS Que objetivos e projetos foram delineados para o Millennium bcp num horizonte próximo? Quais são as suas prioridades no território português? E no domínio das suas operações além-fronteiras? No âmbito das prioridades estratégicas definidas para Portugal, o Millennium bcp pretende manter a liderança no mercado de retalho, assegurando, por um lado, a rendibilidade e eficiência nos vários segmentos de clientes, e, por outro lado, continuar o esforço de contenção de custos. A inovação constante em produtos e serviços, com os níveis de qualidade e excelência a que já habituámos os nossos clientes, constitui também uma das nossas vantagens competitivas. O reforço da nossa reputação e do valor da nossa marca traduziu-se no nível de satisfação dos nossos clientes, que atingiu o seu ponto mais alto desde a criação da marca única Millennium, em 2004, facto esse que nos deixa muito orgulhosos e que nos servirá de benchmark a superar nos próximos anos. No domínio internacional, o Millennium bcp prossegue a estratégia que definiu e que passa pelo enfoque nos mercados europeus que assegurem uma presença competitiva, e pelo investimento em mercados com afinidade. Continuamos os nossos planos de expansão em Angola e Moçambique, expandindo a rede de sucursais e lançando produtos inovadores, desenhados especificamente para estes mercados. 2010 foi também um ano muito bom para a nossa operação polaca. Em Macau, o Millennium bcp obteve em 2010 a permissão das Autoridades Monetárias locais para converter a licença da sua sucursal offshore em onshore. Esta alteração permitiu, já numa primeira fase, que a operação de Macau passasse a prestar serviços financeiros aos residentes neste território, nomeadamente na captação de recursos e na concessão de crédito. Numa fase posterior, que estamos já a desenvolver, esta alteração vem abrir boas perspetivas para um maior envolvimento do grupo e dos seus clientes nas transações comerciais no triângulo estratégico: Europa – África Lusófona – China. G8 Abril 2011 ~ G8 43


Top 1000 bancos MUnDiais

0 4 Anos

Estabelecendo uma referência no setor bancário desde 1970

noVa oRDEM MUnDiaL Quarenta anos depois do Bank of America ter ocupado o primeiro lugar do ranking global do THE BANKER, em 1970, este banco com sede nos EUA voltou a tomar o lugar cimeiro em 2010. Por outro lado se o Bank of America, o JP Morgan e o Barclays, tanto estiverem nas listas de 1970 e de 2010, este 40º Aniversário das listagens mostra que muito mudou no setor. Stephen Timewell, conta-nos tudo.

O

consenso geral é que a recuperação está em curso, por muito frágil que essa recuperação seja. Este artigo procura apresentar uma perspetiva histórica de como o negócio bancário tem evoluído até ao que é hoje, perspetivando as tendências, a nova ordem mundial que está a emergir e aquilo que a banca provavelmente será em 2020 e depois em 2030.

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Tal como os quadros mostram, os últimos quarenta anos têm testemunhado alterações enormes no setor bancário e nas instituições financeiras em todo o mundo. A observação do ranking dos Top 1000 Bancos Mundiais do THE BANKER, ao longo deste período, disponibiliza não só uma perspetiva extraordinária dos gigantes financeiros mas também das economias que os produziram. Se alguma vez houve

dúvidas acerca da direta correlação entre a força da economia de um país e o seu sistema bancário, as listas dos 1000 maiores bancos evidenciam tanto a ascensão e queda de instituições individuais como a sua relação nuclear com as economias de onde surgiram. Ao longo do tempo, os bancos refletem o estado das suas economias e, do mesmo modo, as economias revelam a eficiência


«AO LONGO DO TEMPO, OS BANCOS REFLETEM O ESTADO DAS SUAS ECONOMIAS E, DO MESMO MODO, AS ECONOMIAS REVELAM OU NÃO A EFICIÊNCIA DOS SEUS SETORES BANCÁRIOS.»

Fonte: www.thebankerdatabase.com

ou não, dos seus setores bancários. Isto não é um argumento para soluções keynesianas mas uma tentativa de medir os desenvolvimentos dos bancos face às suas economias e avaliar como têm evoluído e provavelmente como se irão manifestar no futuro. UMA PERSPETIVA MAIS AMPLA Para estabelecer o cenário, vale a pena observar como a economia internacional e a indústria bancária trabalharam no passado: Em 1973, era dominante um mundo desenvolvido consistindo nos Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão - com algumas ramificações como a Austrália. Conhecido como «O Ocidente», este grupo de países respondia por 57,8% do PIB global mas só a 18,4% da população mundial. Em 2001, a parte do PIB global representada pelo Ocidente baixara para 52%; e a parcela da população do Ocidente baixara para 14% da população mundial. A parte do PIB mundial relativa à Ásia, excluindo o Japão, tinha aumentado de 16,4% em 1973 para 30,9% em 2001; e a parcela da população daquela área havia subido de 54,6% em 1973 para 57,4% da população mundial, em 2001. Estes simples números demonstram a discrepância central entre a riqueza do mundo e a sua população. Esta tem sido uma questão crucial ao longo da História mas, nesta nova era, desde a queda do Muro de Berlim em 1989, o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, têm ocorrido muitas alterações. Não só o mundo bipolar do Ocidente e da União Soviética se alterou mas também as centrais assunções acerca da superioridade do Ocidente.

Fonte: www.thebankerdatabase.com

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Top 1000 bancos MUnDiais

Fonte: www.thebankerdatabase.com

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DESAFIANDO CRENÇAS A crença da superioridade do Ocidente está agora a ser desafiada. Uma era em torno de múltiplas potências está a emergir e o domínio do Ocidente está a regredir à medida que a Ásia, e em particular a China, adotaram o desafio. Olhar para este grande cenário a partir de uma perspetiva bancária histórica mostra como o setor tem mudado durante estes últimos vinte anos e evidencia possíveis tendências para o futuro. Primeiro, é importante olhar para a lista dos 1000 Bancos Mundiais do THE BANKER em 1990; e ver como os intervenientes-chave e os países dominantes se alteraram em 46 G8 ~ Abril 2011

2000 e em 2010. Os rankings durante este período de vinte anos, para os três anos em causa, são baseados na mesma metodologia: o nível de capital Tier 1 dos 1000 bancos cimeiros de todo o mundo. Antes, o ranking era baseado em bens e ativos (assets), e deste modo as comparações eram difíceis de estabelecer. Em 1990, os 1000 bancos cimeiros eram dominados pelo Japão. Seis dos dez maiores bancos eram japoneses, com o Banco Sumitomo a liderar a lista, seguido pelo Banco Dai-Ichi Kangyo e pelo Banco Fuji. O aspeto interessante acerca dos 20 maiores bancos mundiais em 1990 era que, para além de três bancos franceses, dois da

Suíça e dois do Reino Unido, o Japão dominava com nove bancos. A economia da região estava em franca expansão na altura e as instituições japonesas encontravam-se no seu auge. Examinando a generalidade da lista de 1990, os bancos do Ocidente estavam omnipresentes, dizendo respeito a quase 80% do capital global e a 80% dos 1000 cimeiros. Comandado pela Europa, com 444 bancos, os EUA com 222 e o Japão com 112, o bloco ocidental era responsável por 778 bancos (800 bancos no ano anterior) na lista em que a Ásia (excluindo o Japão) somava só 93 instituições. Em 2000, como os números mostram, modelos diferentes estavam a emergir,


com os bancos americanos a afirmarem-se no top 20 e novas tendências a desenvolverem-se no top 1000. Os bancos com sede nos EUA, o Citigroup e o Bankamerica Corporation, encabeçaram a lista, e os bancos americanos no top 20 duplicaram para quatro. Simultaneamente, a influência japonesa baixou para 7 e a China, a França e a Suíça tinham dois bancos cada um.

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Fonte: www.thebankerdatabase.com

«ESTÁ A EMERGIR UMA NOVA ORDEM MUNDIAL NA BANCA, COM OS TRADICIONAIS PROTAGONISTAS NO PERÍODO PÓS II GUERRA MUNDIAL, OS BANCOS OCIDENTAIS, A NÃO DESEMPENHARAM MAIS O MESMO PAPEL.»

MUDANÇA GLOBAL O quadro geral em 2000 estava a mudar à medida que o papel dos bancos ocidentais baixou significativamente. Tal como o número de bancos americanos no top 1000 desceu de 222 (em 1990) para 199, o número de bancos europeus decaiu de modo acentuado de 444 para 388, com 288 bancos da União Europeia e 100 do resto da Europa. Os bancos japoneses, por sua vez, subiram ligeiramente para 116, levando o total dos bancos ocidentais para 703, comparativamente com 778 uma década antes – um declínio de 9%. Contudo, os bancos asiáticos (excluindo o Japão) estavam em expansão, subindo para 150 (de 104 em 1990). Entretanto, os bancos dos países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) estavam lentamente a crescer de 33 em 1990 para 43 em 2000. Os bancos asiáticos subiram para 193 em 2009, uma expansão de 32,2% a partir dos 146 registados uma década antes, muito disto explicado pela inclusão de 52 bancos chineses em 2009 face aos sete de uma década antes. No top 1000 de 2010 do THE BANKER, os bancos dos EUA e do Reino Unido encabeçam a lista com o Bank of America Corp no lugar cimeiro. Sucedem-lhe o JPMorgan Chase & Co e o Citigroup, seguidos de dois bancos do Reino Unido, o Royal Bank of Scotland e o HSBC Holdings. Dos 20 bancos do topo da lista, cinco são dos EUA, quatro do Reino Unido, quatro da França e três da China. Em 2010, o ranking dos 1000 bancos reflete tanto o declínio continuado dos bancos do Ocidente como a subida dos bancos da Ásia, particularmente os da China. De 703 bancos em 2000, o Ocidente (Europa, Japão e EUA) baixou para 588 na lista de 2010, enquanto os bancos asiáticos saltaram de 150 em 2000 para 221 em 2010, uma expansão de quase 50%, com o número de bancos chineses subindo de um modesto 9 em 2000 para um gigantesco 84 em 2010. Abril 2011 ~ G8 47


Top 1000 bancos MUnDiais «OS BANCOS OCIDENTAIS, TAL COMO OS CONHECEMOS, ESTÃO EM SÉRIO DECLÍNIO. ESTE SÉCULO PARECE SER O DA ÁSIA, E DA CHINA EM PARTICULAR.»

*Previsões

A figura composta traça um retrato muito claro no que diz respeito às tendências do negócio bancário no Ocidente, na Ásia e nas emergentes economias dos BRIC. As conclusões-chave são: Os bancos do bloco ocidental estão num declínio decisivo como sugere a tendência descendente de 778 bancos no top 1000 de 1990 para 703 em 2000; e 621 no top 1000 de 2009 para 588 em 2010. Os bancos asiáticos estão em expansão rápida no cenário mundial, subindo de 104 em 1990 para 150 em 2000; e de 193 em 2009 para 221 em 2010. Os bancos chineses, com 52 posições ocupadas no top 1000 de 2009 (8 em 1989) e 84 em 2010, são uma força bancária em crescimento do mesmo modo que a economia da China se tornou já a terceira maior do mundo. Os BRIC assumiram um padrão de crescimento sólido, com os seus bancos em conjunto subindo de 43 no top 1000 de 1989 para 130 na lista de 2009 e para 146 em 2010. Resumindo, uma nova ordem mundial na banca está a emergir, com os tradicionais protagonistas no período pós II Guerra Mundial, os bancos ocidentais, a não desempenharam mais o mesmo papel. Tal como os bancos na Ásia e nos outros estados BRIC estão a crescer, outras regiões também o estão, possibilitando a criação 48 G8 ~ Abril 2011

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de instituições bancárias importantes. O Médio Oriente, rico em petróleo, tinha 88 bancos na lista de 2009 e 90 na lista de 2010, tendo subido de 58 em 1990; e, com o rápido crescimento da finança islâmica, os bancos desta região seguem num percurso ascendente. Do mesmo modo, num mundo crescentemente mais globalizado, outras áreas estão a expandir a sua influência. Enquanto os bancos da América Latina baixaram de 50 em 2000 para 44 em 2010, bancos do resto do mundo, tal como do Cazaquistão, da Nigéria e da África do Sul têm um papel em crescimento a desempenhar com o resto do mundo, contabilizando 57 bancos em 2010 por comparação com os 20 de 2000. O equilíbrio financeiro no mundo está a mudar. PREVISÃO FINANCEIRA Quando consideramos como irá ser a lista dos 1000 Bancos do THE BANKER em 2020, vale a pena examinar algumas previsões de instituições multilaterais acerca da população e do seu crescimento. A estrutura do mundo será bastante diferente à medida que se espera que países em desenvolvimento no passado progridam e ultrapassem, em certos aspetos, o mundo desenvolvido de hoje. Previsões credíveis sugerem que: Em 2032, o PIB dos BRIC excederá o

dos G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e EUA). A população da Ásia continuará a ser cerca de 60% do total. A Índia e a China juntas tinham 37,3% da população mundial em 2001 e espera-se que estes valores baixem ligeiramente. Simultaneamente, a população do mundo desenvolvido continuará a baixar firmemente. À luz de algumas destas previsões e do impacto da recente crise financeira global, como poderá ser o mundo financeiro em 2020 e, mais adiante, em 2030? Em 2020, a crise corrente poderá não só ter tido um impacto significativo mas também se terá acelerado e acentuado à já existente tendência de deslocação para a Ásia. Antes de observar as estimativas para 2020, será útil proceder ao exame das possíveis consequências da corrente crise. O funcionamento do esquema de crédito tem claramente demonstrado as imperfeições dos sistemas correntes e as bolhas que têm emergido têm sido apontadas como culpa das leis reguladoras, dos governantes, da ganância, dos bónus e simplesmente de tudo o resto. E tal como demonstra o recente fiasco da resolução do problema da dívida do Dubai que permanece por resolver, ou a crise grega que tem sido descrita como uma completa desordem, a crise financeira


global é um problema gigantesco com poucas soluções fáceis. O Fundo Monetário Internacional salientou recentemente que a dívida bruta do setor público está prestes a explodir no seio das economias avançadas de 78% do PIB de cada país em 2007 para 118% em 2014. Os défices e dívidas, o impacto estrutural dos reduzidos níveis de arrecadação fiscal e o crescente desemprego não podem ser varridos para debaixo do tapete. Os países desenvolvidos irão viver um período difícil e doloroso. A crise causou danos às economias emergentes e aos BRIC também; mas porque estes não estavam tão expostos e as suas economias eram menos influentes que as do Ocidente, acabam por assumir menos dívidas e com as suas estratégias de grande crescimento, têm mais razões para o otimismo. A crise tem acelerado a nova ordem mundial num determinado número de formas e continuará a fazê-lo. O Ocidente continuará a declinar, provavelmente a um ritmo mais rápido. Auxiliadas, em certa medida, por danos menos graves, as economias emergentes ficarão mais fortes num mundo de múltiplas potências. O mundo financeiro global não será dominado pelos EUA e pela Europa Ocidental, como no passado, mas terá mais fontes de poder e um número

mais vasto de sérios protagonistas. O jogo global está a alterar-se significativamente e a nova ordem mundial representa uma mudança, em grande escala, na sua estrutura. Deste modo, que aspeto terá a lista do THE BANKER, em 2020? Não há previsões que possamos tomar por certas mas pode ser argumentado que a segunda década do século XXI irá oferecer mudanças mais expressivas que a primeira, com importantes alterações tanto no topo da tabela como em toda a estrutura em geral. Muitos dos bancos no top 20 em 2020 terão estado no top 20 em 2010; mas o domínio dos bancos ocidentais estará em declínio. O Ocidente teve 17 bancos no top 20 de 2009 e no top 20 de 2010 mas, segundo assunções moderadas, é provável que desça para 14 ou menos, com os EUA ainda a dominar a tabela. Embora o Japão tivesse sete bancos no top 20, em 2000, depois baixou para três em 2009; e para simplesmente um, em 2010. É provável que desça mais, uma vez que a economia e a força financeira do Japão continuam a diminuir. Alternativamente, bancos como o Banco Agrícola da China, o Itaú e o Bradesco do Brasil e o Sberbank da Rússia irão possivelmente concorrer para os 20 lugares cimeiros da lista.

OLHANDO PARA ESTE A previsão do top 1000 do ano 2020 representa uma alteração significativa do Ocidente para leste com forte crescimento esperado na Ásia (incluindo a China) e um declínio continuado dos bancos do bloco ocidental. Estas pressuposições fundamentais indicam que a parcela do Ocidente no top 1000 irá descer para cerca de 500, comparativamente com os quase 80% do top que foram registados em 1990. Os bancos asiáticos acelerarão a sua influência, estabelecendo uma previsão de 300 bancos para 2020, quase três vezes mais que em 1990. É expectável que os bancos da China possam chegar pelo menos aos 100 bancos no ranking com a previsão moderada de que o número total de bancos dos BRIC chegue aos 200. Olhando para o top 1000 de 2030, é difícil acrescentar muitas teorias novas; exceto que os bancos da Índia se podem expandir mais e que, de novo, a expansão asiática continuará. Em 2030, o número de bancos do Ocidente poderá descer para 450 enquanto a Ásia continuará a crescer, alcançando 350 bancos e possibilitando um maior equilíbrio entre as duas regiões. As conclusões-chave são que os bancos Ocidentais, tal como os conhecemos, estão em sério declínio e este século parece ser o da Ásia, e da China em particular. G8 Abril 2011 ~ G8 49


Top 1000 bancos MUnDiais

Top 1000 bancos MUnDiais 2010 Muitos bancos do Ocidente estão a recuperar das enormes perdas de 2008 e têm fortalecido a sua posição no topo dos rankings. Noutras áreas, a dor está simplesmente a começar. Philip Alexander.

A

tempestade passou mas o processo de recuperação continua – e, aparentemente, o clima permanecerá incerto por algum tempo. O processo de «desalavancagem» global por parte dos bancos tem-se manifestado muito claramente nos números do Top 1000 Bancos Mundiais. O total dos ativos do top 1000 caiu quase 1 bilião de dólares para 95 biliões e 532 mil milhões de dólares. Mas isto é talvez parte de um saudável processo de limpeza. Os valores da rentabilidade têm recuperado significativamente, nos rankings deste ano, quase quadruplicando para um total de mais de 400 mil milhões de dólares, com base nos resultados do fim de 2009, comparativamente com apenas 115 mil milhões de dólares nos rankings do ano passado. Os lucros sobre o capital não têm crescido à mesma velocidade, alcançando só 8,2% em 2010 a partir dos 2,69% nos rankings de 2009, e mesmo assim muito abaixo dos 20% registados em 2007. Este lento crescimento reflete o continuado processo de recapitalização, elevando a soma total do capital Tier 1 do ranking até 4 biliões e 915 mil milhões de dólares, uma subida

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de 15% sobre o ano de 2009. Embora isso possa diluir os lucros sobre o capital, é também um sinal reconfortante de fortalecimento do setor financeiro no Ocidente em particular. O rácio total do capital sobre os ativos (capital-to-assets ratio – CAR) para os 1000 bancos do Top alcançou 5,1% em 2010, depois dos 4,4% de 2009. A recapitalização entre os 25 bancos do topo é ainda mais impressionante. O rácio médio calculado usando as definições do Bank for International Settlements (BIS) – que inclui todas as formas de capital e ajusta os ativos pelo seu respetivo nível de risco – firmou-se nos 12,87% para os 25 bancos do topo da lista, em 2009. Agora, subiu para os 15,47%, uma vez que os bancos principais reagem a uma economia mundial mais volátil e à pressão das forças reguladoras para que se preserve uma maior (e melhor) almofada de capital. Em adição ao facto dos bancos estarem a reunir mais capital, a elevação do rácio BIS é também o resultado da redução dos ativos - uma descida de cerca de 800 mil milhões de dólares, no domínio dos 25 bancos do topo.


INDO PARA OESTE E quais são estes bancos revitalizados e recapitalizados? Como se está a revelar, a morte do setor bancário Ocidental tem sido muito exagerada. Algumas das principais vítimas da crise continuam a perder dinheiro mas há bancos, nos EUA e na Europa Ocidental, que recuperaram através de grandes subidas nos lucros. Wells Fargo conseguiu uns extraordinários 65,4 mil milhões de dólares, o Credit Suisse e o Deutsche Bank regressaram aos lucros de modo entusiasta. Dois bancos que entraram para o top 10, o Barclays e o BNP Paribas, estão entre os grandes ganhadores em termos de lucros. Mesmo aqueles que ainda estão a perder dinheiro, como o Citigroup, o Royal Bank of Scotland (RBS) e o UBS, têm reduzido as perdas significativamente. De facto, o top 25, que registou uns sem precedentes 32,4 mil milhões de dólares de perdas em 2009, voltou a fazer uma arrecadação positiva de 19,1 mil milhões de dólares, em 2010. Isto não resulta de alterações significativas na composição do grupo que forma o top 25: dois bancos americanos trocaram de lugares no topo da listagem e muitos outros praticamente não se moveram. Há duas novas entradas no top 25, ambas produtos das grandes fusões do Pós-Crise. O Lloyds Banking Group absorveu o HBOS e entrou diretamente para a posição 12 (O Lloyds estava em 48º lugar antes da fusão e o HBOS em 32º). E os franceses, Groupe Banques Populaires e Groupe Caisse d’Epargne, nas posições 35 e 63, respetivamente, no ranking de 2009, fundiram-se para formar o Grupo BPCE que entrou na lista para a posição 18. Enquanto o Lloyds tem conseguido contrariar os problemas no âmbito dos empréstimos e registar um lucro de 1,7 mil milhões de dólares, o Grupo BPCE está a demorar mais tempo a recuperar da crise. As perdas dos dois bancos que o compõem eram de 4,2 mil milhões de dólares, a maior parte do Caisse d’Epargne, e estas perdas foram minimizadas para 530 milhões de dólares, no ranking de 2010.

Pela primeira vez, o THE BANKER expandiu este ano os dados recolhidos a fim de permitir a inclusão de 30 novas variáveis. Nem tudo é mostrado no Top 1000 da edição impressa, mas todas as informações estão acessíveis online em www.thebankerdatabase.com. Um destes melhoramentos, foi a solicitação aos bancos das medidas de avaliação do risco dos ativos, medidas essas que são usadas para calcular o rácio BIS. Este pormenor permite-nos observar que bancos têm uma elevada proporção de ativos devidamente avaliados em termos de risco. Não é surpresa que o Goldman Sachs, o banco de investimento que recebeu uma licença bancária universal em 2008 para aceder à cobertura sobre riscos do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), esteja no topo da lista. Mas outros bancos com elevados rácios de riscos de mercado incluem o RBS, o Standard Chartered, o Deutsche Bank, o Grupo KBC da Bélgica e os dois gigantes da Suiça, Credit Suisse e UBS. Evidentemente que não podemos saber com

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EXPULSOS Os dois bancos que foram expulsos do top 25 são o Banco Agrícola da China que tinha um Tier 1 estável e deslizou da posição 24 para a 28; e o Mizuho, do Japão, que teve uma baixa do capital na ordem dos 12,5% e desceu 10 posições, indo situar-se agora na posição 26. O desempenho do banco japonês é mais exemplificativo. Excluindo o Banco Agrícola, os bancos chineses em geral foram alguns dos grandes ganhadores do ano; e o Industrial Comercial Bank of China (ICBC), pela primeira vez, destronou um banco japonês (o Mitsubishi) da posição de banco asiático mais bem posicionado no ranking. Contrariamente, o Sol japonês continua a baixar; e os bancos japoneses são especialmente proeminentes no que diz respeito a grandes perdas e a grandes baixas nos lucros. Em 2009, os bancos japoneses no Top 1000 registaram lucros antes de impostos de 16,5 mil milhões de dólares. Este valor sofreu uma baixa drástica, convertendo-se em perdas na ordem dos 11,1 mil milhões de dólares, no ranking mais recente, exatamente quando os bancos do Ocidente afirmam uma recuperação. O FATOR MERCADO Mas atenção: a melhoria nos lucros entre os bancos ocidentais pode estar diretamente relacionada com a recuperação acentuada dos mercados bolsistas mundiais e de outros ativos de mercado, durante a segunda metade de 2009.

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Top 1000 bancos MUnDiais rigor absoluto quão sensíveis aos movimentos de mercado poderão estes ativos ser, mas o facto de a lista incluir alguns dos bancos que gozaram a maior expansão da sua rentabilidade em 2009, faz sugerir que a baixa do mercado de valores em 2010 irá causar alguns efeitos nocivos. O que é também impressionante é o número de bancos russos – frequentemente suportados de perto por um pequeno grupo de proprietários privados - que estão bem alto na lista. EXPOSIÇÃO RUSSA Os bancos russos revelaram-se especialmente expostos na bolsa quando o mercado de valores no país caiu a pique em finais do ano de 2008 e princípios de 2009, tanto diretamente ou através de clientes usando ações como garantia de empréstimo. O banco Gazprombank, propriedade do Estado russo, recuperou de uma perda de 2,6 mil milhões de dólares no ranking do ano passado para uns 2,6 mil milhões de dólares de lucros; deste modo, o banco reconhece a exposição no mercado de valores como fator significativo para a delineação dos seus relatórios anuais. O National Reserve Bank, que tem uma maior proporção de ativos sensíveis ao mercado que a Goldman Sachs, esteve este ano entre os bancos do top 25 com melhor rentabilidade sobre ativos (return on assets). Mas, mais uma vez se salienta, restará ver se estes desempenhos se mantêm em condições menos favoráveis da Bolsa de Valores.

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UMA BANCA TRADICIONAL Com a pressão regulatória sobre os bancos dos EUA e da UE, para restringir os seus investimentos diretos (as operações de «Proprietary Trading»), reforçada por potenciais injeções de capital em situações de escassa gestão de risco, à exceção das grandes casas comerciais, todos os bancos deverão aplicar mais dos seus recursos em operações bancárias tradicionais. Pode ter terminado a era dos bancos pequenos a tentarem expandir o seu retorno sobre ativos com atividades comerciais de pequena escala, cujos riscos não se podem prever e gerir. Poderá ser assim, pelo menos enquanto durar a memória institucional.

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Então como é o mundo da banca sem a confiança num Mercado de Valores revigorado? Bancos provenientes de mercados em desenvolvimento tendem mais a adotar um modelo de negócio tradicional, baseado no crédito a retalho, ou corporativo, do que numa exposição sensível no mercado financeiro. Os lucros nestes bancos têm continuado a crescer, com a China elevando os seus valores quase 20% - com 102 mil milhões de dólares, a Ásia (excluindo o Japão) subindo 10% para 160 mil milhões de dólares, o Brasil e a América Latina mais do que duplicando os lucros – 28,7 mil milhões de dólares e 35 mil milhões de dólares, respectivamente. Mas estes melhoramentos empalidecem quando comparados com as recuperações vividas nos EUA, Reino Unido e UE, onde perdas de 91 mil milhões, 51 mil milhões e 16 mil milhões de dólares respetivamente, em 2009, se converteram em lucros de 37,5 mil milhões, 29,5 mil milhões e 103,8 mil milhões de dólares nos rankings de 2010. Como resultado, a parte dos lucros que provêm de mercados em desenvolvimento, no valor dos lucros totais, tem baixado substancialmente. A China isolada respondia por 73% dos lucros bancários totais nos rankings de 2009, mas agora só responde por 25%. A lição de que os lucros baseados em operações de mercado podem ser mais espetaculares mas mais voláteis do que os conceitos tradicionais de crédito bancário não é de todo nova, embora os últimos anos a tenham reintroduzido brutalmente. O que será

uma maior novidade é o ambiente económico que os bancos enfrentam, uma vez que a explosão financeira da década passada cede lugar a um crescimento mais lento, nesta década. APROVISIONAMENTO E IMPARIDADE Outro melhoramento nos nossos rankings é a incorporação de dados relativos a aprovisionamentos e a imparidades, juntamente com um índice para empréstimos em incumprimento (non-performing loans - NPL), para o qual foram cedidas informações por 80% dos bancos, no inquérito deste ano. O que estes dados sugerem é que muitos bancos podem não estar completamente preparados para o crescendo de empréstimos deficitários, uma vez que os seus clientes lutam com um crescimento económico mais lento. A América Latina e as Caraíbas salientam-se como uma notável exceção. Embora só cerca de um quarto dos bancos da região relate situações de empréstimos deficitários, muitos mais cederam os seus números relativos a aprovisionamento. Face aos 2,79% relativos a empréstimos em incumprimento, a região já criou aprovisionamentos relativos a 9,3% do seu volume de empréstimos; este desempenho revela que a região está bem preparada para uma reviravolta económica desagradável. BAIXA DOS LUCROS Este cenário contrasta com a Ásia (excluindo a China, de onde os bancos não fornecem dados relativos a aprovisionamento).

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Top 1000 bancos MUnDiais Os empréstimos deficitários relatados na zona asiática já estão nos 2,5% mas o aprovisionamento é menor do que 1%. Ou África, onde um aprovisionamento de 2,9% é apequenado por 7,2% de empréstimos improdutivos. Os bancos destas regiões podem ter exigido elevada «colaterização» sobre os empréstimos, talvez valorizando de modo conservador o âmbito colateral, ou talvez espera que um impulso nos valores colaterais e na recuperação económica permita bons desenvolvimentos na qualidade da carteira de empréstimos antes que as perdas efetivas nesta área sejam irreversíveis. Seja como for, se o crescimento económico não for robusto, um crescimento do aprovisionamento provavelmente vai afundar a rentabilidade dos bancos. Os casos de empréstimos deficitários relatados por bancos particulares derramam luz sobre os países em que eles operam. O banco privado argentino Macro relatou 3,3% de empréstimos em incumprimento. Por contraste, os bancos estatais argentinos não cederam dados a este respeito ou têm levado longe uma estratégia de baixos aprovisionamentos (menos de 1% no caso do Banco de la Nacion). Em Espanha, os bancos mútuos conhecidos por «Cajas» têm criado aprovisionamento para 0,7% dos empréstimos totais, com a honrosa exceção da Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Cordoba – mais conhecida como Cajasur. Este banco criou provisões no valor de 3,5%, o que foi o suficiente para despoletar perdas de 777 milhões de dólares em 2009 e reduzir o capital Tier 1 do banco em quase 70%. A Cajasur teve de ser salva pelo governo espanhol, em maio de 2010. Em junho de 2010, a agência de ratings Standard & Poor’s (S&P) reviu as suas assunções relativas a empréstimos em incumprimento, nos bancos espanhóis, para 5,3%, juntamente com

uns extremamente elevados 14,5% para bens imobiliários, uma especialidade das Cajas espanholas. Isto revela quão longe muitos destes bancos podem ter que ir na criação de aprovisionamentos; tendo eles muito pouco dinheiro e baixo nível de lucros para o fazer. Excluindo a Cajasur, o total de empréstimos das «Cajas» no Top 1000 é de 1 bilião e 656 mil milhões de dólares, face a um total de lucros de 6,8 mil milhões de dólares e um capital Tier 1 de 116 mil milhões de dólares. A assunção da S&P de perdas de 5,3% relativas a empréstimos improdutivos equivaleria a quase 88 mil milhões de dólares entre as «Cajas» do top 1000 e mais apoios governamentais não estariam excluídos. HISTÓRIA DA CHINA A nível teórico, pelo menos, os bancos chineses estão numa posição muito mais saudável. Das 115 novas entradas para os rankings deste ano, 37 vêm da China. Cinco delas são o resultado de uma maior transparência na transmissão de dados, uma vez que as suas estatísticas ficaram acessíveis, pela primeira vez. Mas os restantes 32 expandiram o seu percurso até aos rankings deste ano. Entre os estreantes, que mais alto se posicionam na tabela, estão bancos comerciais que resultaram de fusões de instituições de crédito rural. Dos 84 bancos chineses que agora constam nos rankings, o rácio relativo a empréstimos improdutivos é de apenas 1,54% e 65 dos bancos relata valores abaixo dos 2%. Contudo, como o THE BANKER anunciou na sua edição de junho de 2010, muitos observadores estão céticos de que estes valores baixos reflitam verdadeiramente a saúde do setor bancário. A analista do Fitch Ratings, Charlene Chu salienta o crescimento de empréstimos não

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relatados tais como as discounted merchant bills e as transações de crédito entre bancos. Ela preocupa-se com o facto de que os bullet repayment credits e as transferências de dívidas – fecho de umas dívidas, criando outras – possam tornar pouco percetível se os clientes terão ou não meios para pagar o que devem. POUCOS EMPRÉSTIMOS EM INCUMPRIMENTO Mas, acima de tudo, a velocidade do crescimento dos ativos na China tem inevitavelmente reduzido a parcela de empréstimos deficitários nos valores totais. No Top 1000, os ativos dos bancos chineses reportados subiram 27% este ano, no seu conjunto. Os rácios CAR e BIS médios para os bancos chineses podem ceder uma melhor medida de segurança que os simples registos dos empréstimos deficitários, uma vez que evidenciam a almofada de capital disponível se os números relativos a empréstimos em incumprimento se revelarem otimistas. Os rácios CAR e BIS para os bancos chineses mostraram-se estáveis nos rankings deste ano, fixando-se em 6,5% e 13,1%, respetivamente. Mas são notavelmente mais baixos que valores de outros grandes mercados em desenvolvimento onde os bancos enfrentam riscos similares, tais como a contabilidade obscura e imprecisa de certos clientes e a expansão de empréstimos no seio de clientes não testados. Os valores equivalentes CAR e BIS para o Brasil são 10,6% e 14,3% e para a Rússia, 16,1% e 23,3%. Só na Índia, estão os bancos menos bem capitalizados relativamente à sua base de ativos e, mesmo aí, o rácio BIS é fracionariamente mais elevado que na China, o que sugere que os bancos indianos têm uma proporção maior de ativos de baixo risco. CONCEDER EMPRÉSTIMOS Na prática, mesmo se alguns bancos chineses necessitam de injeções de capital, não precisam ir além dos 2 biliões e 400 mil milhões de dólares das reservas do governo chinês. No Top 1000 de 2009, salientámos o papel do dinheiro dos contribuintes na manutenção de bancos ocidentais em situação instável. Injeções diretas de capital, provenientes dos governos dos EUA e da Europa Ocidental, atingiram uma estabilização em 2009, e na verdade, alguns bancos proeminentes salvos da crise, tal como o UBS e o Bank of America, pagaram o que deviam aos seus Estados. Mas tal como a crise financeira de 2008 se transformou num

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abrandamento da economia em 2009 – com o crescimento do PIB total a estabelecer-se em 1,3%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional – os apoios estatais para setores bancários moveram-se dos mercados mais desenvolvidos para outros em desenvolvimento. Com a exceção da Rússia e do Cazaquistão, estas medidas de ação não tomaram a forma de salvamentos estatais de bancos em situação de perigo. Em vez disso, bancos estatais têm assumido um papel crescentemente mais importante como emprestadores ou credores da economia real, tomando conta das instituições em recessão e num contexto em que o setor privado da banca está em retrocesso. O governo russo tem continuado a elevar o capital Tier 1 dos 100% estatais, Banco Agrícola Russo e Gazprombank (o último parcialmente para compensação do valor das perdas ocorridas em 2008), enquanto participou, em setembro de 2009, na oferta de ações do VTB numa base prorrata a fim de manter 85% da participação. Na Ucrânia, onde há muitas incidências de bancos com capital estrangeiro que limitam a capacidade do governo influenciar a atividade bancária privada, dois anteriormente pequenos bancos estatais, o Oschadbank e o Ukreximbank, têm sido marcadamente capitalizados para terem capacidade de conceder empréstimos à economia real. O Oschadbank entra impressivamente para os nossos rankings, pela primeira vez, para a posição 335, sendo o maior banco ucraniano, enquanto que o Ukreximbank subiu 349 lugares, fixando-se na posição 455, depois de um aumento de capital de 187%. No Brasil, o capital Tier 1 do banco estatal de desenvolvimento urbano, a Caixa Económica Federal, subiu 65% e o capital do Banco do Nordeste 90% de propriedade federal mais do que duplicou. O argumento dos governos suportarem bancos estatais, desta forma, é que estes bancos não minimizam nem roubam os negócios do setor privado – fazem empréstimos que os bancos privados não estão preparados para considerar. Mas será interessante verificar o que acontecerá ao capital e aos ativos destes bancos estatais assim que a crise passe e os bancos privados se tornarem mais ativos novamente. FOCO NA QUALIDADE DO CAPITAL Os melhoramentos na profundidade e na extensão dos dados recolhidos para os rankings do Top 1000 coincidem com a tarefa do Committee on Banking Supervision, de Basileia, de redefinir os princípios do Basileia II para o capital bancário à luz das lições da crise financeira – agora geralmente conhecidas como Basileia III. O documento publicado em dezembro de 2009 tinha recolhido dados de mais de 270 entidades e instituições de todo o mundo, incluindo muitos dos maiores bancos mundiais, até à altura em que o debate fechou em abril de 2010. O resultado final das deliberações do Comité de Basileia é assim incerto, mas alguns temas claros podem ser salientados. Um deles é o desejo de regressar a definições mais puras de capital – excluindo do capital Tier 1 itens como ativos com impostos diferidos e colocando menor confiança no Tier 2 como capital loss-bearing. Outro dos temas é a criação de pressupostos mais exigentes no processo de medir o nível de risco dos ativos: já em junho de 2010, o Comité de Basileia anunciou ajustamentos para a estrutura de medição dos riscos de mercado. G8 Abril 2011 ~ G8 55


Top 1000 bancos MUnDiais

as gRanDEs poTÊncias EURopEias sEnTEM o iMpacTo Da cRisE

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m 2009, a crise financeira teve pouco impacto no top 25 dos bancos ocidentais europeus. Em 2010, deram-se os primeiros sinais de que os derradeiros vencedores e perdedores da crise conduzirão a alguma reconfiguração do cenário bancário na Europa, embora num ritmo contido. O Crédit Agricole, da França, sai do top 3 pela primeira vez, sendo substituído pelo BNP Paribas. O BNP Paribas não só aumentou o seu capital Tier 1 em 55,8%, (uma vez que absorve agora partes do grupo Fortis), mas uma subida pequena de 2,6% nos seus ativos faz dele o maior banco do mundo em termos de ativos. Aquela pequena alteração nos ativos leva-o à posição do topo porque muitos outros bancos maiores estão no domínio de um feroz processo de recuperação do equilíbrio das contas, repondo a boa adequação do capital e a contenção dos riscos. Do top dos 25 bancos da Europa ocidental, 11 revelaram baixas nos seus ativos, nos rankings deste ano, com o UBS e o Deutsche Bank apresentando os valores mais dramáticos – 31% e 29%, respetivamente. As alterações nos ativos contrastam com a relativa estabilidade dos rankings no que diz respeito ao capital. Não há verdadeiras saídas no Top 25 de 2010 nem verdadeiramente novas chegadas aos rankings: o HBOS do Reino Unido desaparece uma vez que é absorvido no Grupo Lloyds para criar o sexto maior banco europeu; enquanto a fusão entre o Groupe Banques Populaires e o Groupe Caisse d’Epargne conduz a entidade daí resultante, o Grupo BPCE, a atingir a posição 9, na Europa. O dissolvido Fortis é também removido da lista. O processo de libertar ativos e acumular capital tem inevitavelmente conduzido a um robusto fortalecimento nos rácios de adequação do capital, na região. O rácio capital-a-activos no Top 25

dos bancos da Europa ocidental aumentou quase um ponto percentual, de 2,92% para 3,87%. E a rentabilidade tem sido espetacularmente restaurada, com um lucro total de 97,96 mil milhões de dólares, o que faz eliminar as perdas de 2009 que se elevaram a um total de 62,04 mil milhões de dólares. Contudo, analisando o retorno sobre ativos, embora se tenha regressado a um território positivo, ainda é penosamente baixo, situando-se a 0,29% em média. Este aspeto não é meramente responsabilidade dos sete bancos ainda reportando perdas. Até os bancos com lucros estão a arrecadar valores muito pequenos: o Standard Chartered encabeça esta lista, com apenas 1,18%. E a aumentada capitalização tem inevitavelmente feito baixar a rentabilidade sobre os capitais próprios (originalmente designado por return on equity). O lucro sobre o capital médio está em 8% no Top 25, e excluindo os dois casos diferentes (o Commerzbank e o KBC registaram perdas de quase 20%), o rácio só sobe para 10,6%. Os bancos europeus estão mais fortes mas a recuperação ainda tem algum caminho a percorrer. G8

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o REgREsso Do EsTaDo

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lhando para o Top 25 dos bancos da Europa Central e de Leste, poderíamos ser perdoados se pensássemos que a transição para uma economia de mercado tinha entrado num processo de inversão. O maior banco privado na região, o OTP da Hungria, escorrega do terceiro para o quinto lugar. Numerosos bancos privados descem também nos rankings; e quase todas as novas entradas no Top 25 de bancos são estatais, incluindo os bancos da Hungria: o Oschadbank e o State Export-Import Bank. A somar a isto, a inclusão do Cazaquistão nesta lista, omitido no ano passado, leva o Kazkommertsbank (KKB) e o Halyk Bank a tomarem a posição 8 e 13, respetivamente. O governo daquele país fez enormes investimentos nos dois bancos, durante a crise financeira. Como resultado, o número de bancos no Top 25 que são total ou parcialmente estatais cresce para 12, (8 em 2009). Em muitos casos, os governos têm capitalizado solidamente os bancos estatais. Mas este não é um fenómeno uniforme. O KKB e o Halyk foram injetados com capital do Estado porque o crédito mal-parado estava a expandir-se. O KKB não revelou o seu nível de empréstimos deficitários mas o Halyk reportou valores de 16,7% neste domínio, o que o posiciona entre os 25 bancos - em todo o mundo - com piores rácios relativos a empréstimos improdutivos. O Fundo de Riqueza Nacional do Cazaquistão, Samruk-Kazyna, tem publicamente declarado que tenciona se possível vender a sua participação nos bancos, em 2012. Similarmente, a história complexa do PKO Bank Polski ilustra os potenciais conflitos de interesses quando se usam os bancos como instrumentos da política do governo. A Tesouraria Pública da Polónia, sendo diretamente detentora da maioria do banco e através de outro banco de desenvolvimento do Estado enfrenta um défice de orçamento e de mais de 6%, reclamando 40% dos dividendos. Os legisladores de regulação da banca no país intervieram, argumentando que os ganhos obtidos deveriam ser utilizados para reforçar o capital do banco. O compromisso resultante foi o pagamento do dividendo, assim como uma oferta pública que transferia 48% da propriedade para o mercado de ações – o que fazia crescer o capital Tier 1 do PKO quase 50%. Embora tenha sido um ano difícil para o setor privado na região, também há histórias positivas. A imersão do URSA Bank, da Rússia, na marca MDM levou o resultante MDM Bank da 14ª posição para a 10ª posição no top 25 da Europa Central e de Leste; e a subir 89 lugares para a posição 320 nos rankings globais – o que o torna o segundo maior banco privado da Rússia, depois do Alfa. Além disso, os tempos difíceis têm forçado os bancos privados, em particular, a afinar o controlo dos custos, o que conduziu a alguns valores impressionantemente baixos dos rácios Cost-To-Income. O KKB e o International Industrial Bank, da Rússia, estão ambos a reportar rácios Cost-To-Income dos mais baixos do Top 1000. Mas existe outra variável importante acerca da qual muitos bancos não estão a reportar dados para o Top 1000 – os rácios

de liquidez. Em junho de 2010, as agências de rating começaram a desclassificar o International Industrial Bank face a receios de que tivesse ativos líquidos insuficientes para pagar uma iminente Eurobond. Esperamos por um melhor conhecimento deste indicador vital em rankings futuros. G8

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Top 1000 bancos MUnDiais

cREsciMEnTo Da cHina nÃo DÁ sinais DE abRanDaR

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odos os anos, o ranking do Top 1000 apresenta novos e surpreendentes dados acerca do domínio crescente dos bancos chineses e este ano isso volta a suceder. Os rankings estabelecem dois aspetos centrais na banca chinesa: a China pode, em 2010, reclamar o ranking mais elevado no domínio dos bancos asiáticos, com o peso-pesado Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) finalmente a ultrapassar o Mitsubishi UFJ Financial Group, do Japão, na conquista da posição 7 da lista global. Em segundo, a contribuição Tier 1 da China para o total de capital dos bancos asiáticos no Top 1000 já ultrapassou a barreira dos 50%, elevando-se para 51,2% (48,77% em 2009). Resumindo, a China é responsável por mais de 50% de todo o setor bancário asiático. Em 2010, o país tem 84 bancos no ranking do Top 1000 bancos mundiais, que juntos representam 8,9% do capital Tier 1 total dos 1000 bancos – comparativamente aos 8,14% do ano 2009. Os bancos chineses têm também feito a sua parte no recrudescimento da rentabilidade do setor bancário mundial. Entre os bancos do Top 1000, o ICBC e o China Construction Bank registaram os maiores valores de lucros antes de impostos: 24,49 mil milhões de dólares e 20,32 mil milhões de dólares, respetivamente – comparativamente aos 21,26 mil milhões e 17,52 mil milhões de 2009. De modo notável, os bancos da China contribuem com um valor impressionante de 25,39% do total de lucros antes de impostos do Top 1000. Internamente, houve alguns movimentos significativos no top 25 dos bancos chineses, com quatro novas entradas, Ping An Bank, Guangzhou Rural Commercial Bank, Evergrowing Bank e Bank of Hangzhou. A China também apresenta 15 bancos entre os 25 que mais subiram no Top 1000, com o Bank of Inner Mongolia na 2ª posição. A China prossegue a consolidação do seu poder na região asiática e isto não é tão claro como no top 25 dos bancos asiáticos, com o ICBC, o Bank of China e China Construction Bank a manterem-se firmes nas três posições cimeiras pelo quarto ano consecutivo. O Agricultural Bank of China, entretanto, estabelece-se no quarto lugar pela segunda vez. A China conseguiu uma nova entrada no top 25 de bancos asiáticos: o Shanghai Pudong Development Bank, que subiu 29 posições no ranking global. Se a China continuar a registar entradas no top 25 de bancos asiáticos à velocidade verificada em anos recentes, a lista irá ser composta exclusivamente por bancos chineses em 2024 – se não antes. O total de capital Tier 1 do país no top 25 de bancos asiáticos, entretanto, cresceu novamente este ano, ainda que de modo pouco significativo. Do total de capital Tier 1 do Top 25 Asiático, os bancos chineses agora são responsáveis por 60,1% comparativamente aos 59,96% de 2009, e 53,44% no ano de 2008. Particularmente relevante é a liderança da China face ao seu rival mais próximo, a Austrália, que só pode clamar por 17,9% do capital Tier 1 do top 25 de bancos asiáticos.

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Na região, não só a China está à frente, como parece jogar noutra liga. A história do domínio global crescente da China é especialmente pronunciada quando é feita uma análise dos seus bancos por oposição aos das economias dos outros BRIC. Mas atenção: enquanto os bancos chineses estão à frente em muitas variáveis, quando comparados com os seus pares na Ásia e nas economias dos BRIC, o seu rácio Capital-a-Ativos – geralmente considerado uma forma de avaliação da saúde económica – não é tão forte. Quando se avalia a China em termos de Capital-a-Ativos face aos seus pares dos BRIC, por exemplo, a China revela ser a menos saudável com um Capital-a-Ativos médio de 4,86%. Os bancos do top 25 chinês, entretanto, têm uma média ligeiramente superior do rácio Capital-a-Ativos: 5%. Ainda assim, este rácio é pelo menos o dobro do de muitos bancos ocidentais que entraram em queda durante a crise, enquanto a média do rácio de empréstimos deficitários no grupo dos bancos do top 25 chinês é de apenas 1,01% segundo dados concedidos para o Top 1000. Enquanto se propagam os receios de que o setor bancário chinês possa estar a navegar na direção de mares tempestuosos, a lista do Top 1000 de 2010 delibera contra o pânico. Mas a lista do próximo ano pode ver estes indicadores deteriorarem-se. G8


bancos bRasiLEiRos E MEXicanos

ManTÊM LiDERanÇa na aMÉRica LaTina

C

om crise financeira ou não, ao longo desta década, os bancos brasileiros têm vindo a subir consistentemente nos rankings das mais sólidas instituições de crédito de todo o mundo. Sejam estatais ou privados, têm retirado proveito do enorme mercado em grande crescimento. As suas ambições também estão a crescer; os maiores planeiam expandir a sua área de ação, para países vizinhos como os EUA. Portanto, não representa surpresa ver o gigante brasileiro Itaú Unibanco liderar o top 25 da América Latina, e posição 33 da lista global do Top 1000. O seu capital Tier 1 representa uns confortáveis 9,5% do total de ativos, enquanto o seu retorno sobre ativos se situa nuns respeitáveis 3,3%, o segundo maior valor do país depois dos 7,93% do Citi. O Citi (do Brasil) não consta no Top 25 da América Latina devido ao facto de ser propriedade estrangeira – o ranking da região só inclui bancos que são propriedade local. Outro banco ausente é o credor de topo do México, o Banamex, também propriedade do Citi, que deixa assim o Banco Inbursa na mais elevada posição no México, situando-se no 5º lugar no Top 25 regional. Apesar do capital Tier 1 do Inbursa ter sido reduzido mais de 20% no ranking de 2009, cresceu quase 67,75% nas listas de 2010 – até 2892 milhões de dólares – o que faz dele o banco com a mais elevada posição (sexta) na lista dos que subiram mais.

Os bancos brasileiros e mexicanos tendem a dominar os rankings do top 10 da América Latina, mas em 2010 o venezuelano Mercantil Servicios Financieros sobe cinco lugares para a 10ª posição graças ao facto de o seu capital Tier 1 ter aumentado 74,35% - para 2207 milhões de dólares. Este crescimento levou o banco da posição 422, no ranking global de 2009, para a posição 291 – e fez dele o banco com a quarta maior subida no ranking da América Latina. Trabalhar num mercado mais pequeno não significa ser um ator menos relevante e o Banco de la República Oriental del Uruguay tem-no demonstrado. O seu capital Tier 1 de 843 milhões de dólares ($843m) leva o banco a tomar a 25ª posição, um lugar abaixo do Banco Macro, da Argentina. Deverá ser notado que, embora não presente no top 25 da América Latina, dois bancos guatemaltecos entraram para os rankings globais; o Banco Industrial em 802º lugar e o Banco de Desarrollo em 919º lugar. Com rácios de capital Tier 1 sobre ativos de cerca de 10% cada e bons níveis de lucros, será interessante verificar como eles se irão comportar nos rankings do próximo ano. G8

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Top 1000 bancos MUnDiais

cHina LiDERa o Ranking inaUgURaL Dos bRic

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ela primeira vez na História do Top 1000 Bancos Mundiais, a revista THE BANKER fornece um ranking para os 25 bancos cimeiros, das vibrantes economias dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), a fim de ser possível constatar como estes gigantes em crescimento se comportam quando medidos em termos do seu sistema bancário de capital Tier 1. Primeiro, contudo, como aparentam ser os esperançosos BRIC em termos do seu desempenho económico? Sem surpresa, a China é de longe a maior economia dos quatro, com um output de 4 biliões e 909 mil milhões de dólares em 2009, segundo o Fundo Monetário Internacional. A seguir, vem o Brasil com 1 bilião e 574 mil milhões de dólares; a Índia em terceiro com 1 bilião e 236 mil milhões de dólares; e, depois, a Rússia com 1 bilião e 229 mil milhões de dólares. Quando feito um ranking para o crescimento previsível do PIB em 2010, o Brasil e a Índia trocam de posições, com a China a manter a liderança com 10% de crescimento em 2010; e a Índia não muito longe, com 8,8%. Brasil e Rússia, entretanto, seguem mais atrás com 5,5% e 4,25%, respetivamente. Juntos, os bancos do top 25 dos BRIC são detentores de uns sólidos 11% do capital Tier 1 do Top 1000 mas, quando ordenados segundo a sua contribuição para o capital Tier 1 total do Top 25 dos BRIC, os BRIC imitam o ranking segundo o PIB e não segundo o crescimento previsto para o PIB. Embora a China esteja muito à frente com uns expressivos 72% do capital Tier 1, seguido pelo Brasil com 17%, a Índia toma o terceiro lugar com 6%, enquanto a Rússia está atrás com uns modestos 5%. O diferencial entre as duas maiores economias da Ásia é aqui enorme, mas ainda maior quando observado segundo os ativos. A China domina com uns impressionantes 79% dos ativos bancários do top 25, o Brasil detém 13%, a Índia 5% e a Rússia apenas 2%. A China é o único país BRIC cuja percentagem de ativos dos BRIC excede a percentagem de capital Tier 1 dos BRIC, embora com sete pontos percentuais, o diferencial não seja ainda causa para preocupação maior. Poucos ficarão surpreendidos por ver a China na liderança, mas a extensão do domínio do tigre asiático – com 72% do capital Tier 1, 79% dos ativos e 56% do ranking por número de instituições – é bastante notável e sublinha até que ponto o empréstimo bancário tem suportado o incrível crescimento económico do país. Contraste-se isto com a Índia: o surpreendentemente pobre desempenho do país no top 25 dos bancos dos BRIC – dada a sua posição como a segunda economia mais rápida a crescer no domínio dos BRIC – só encontra rivalidade no seu desempenho ainda mais fraco no top 25 dos bancos asiáticos. Como o ranking ajustado mostra, a Índia não pode esperar ser retirada do seu lugar pela preeminente China. O seu sistema bancário está simplesmente subdesenvolvido, relativamente ao seu tamanho e às suas perspetivas de crescimento. É também interessante verificar que o domínio da China no ranking dos BRIC é ainda mais pronunciado que o seu domínio

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no top 25 de bancos asiáticos, onde a China – contra o altamente consolidado mercado australiano – reclama 60% do capital Tier 1 total e 40% do ranking por número. Mas o que a sua «performance» em ambos os rankings parece confirmar é que os pesos pesados da China estão só agora a competir realmente com os bancos ocidentais desenvolvidos – e, numa escala menor, com os japoneses – por um domínio global. Há uma medida, contudo, pela qual a China não domina o top 25 dos BRIC: nos valores médios da rentabilidade sobre os ativos. De facto, quando feita a ordenação segundo esta variável, o Brasil toma a dianteira, com um valor médio de 2,55% (não contabilizando a Caixa Económica Federal para a qual não existem dados); segue-se-lhe a Índia com 1,38%; a China, de facto, surge em terceiro lugar com 1,09%; e a Rússia – arrastada negativamente pelo VTB-Bank que registou um valor de retorno sobre ativos de -1,89% para 2009 – surge em último com 0,92%. Apesar do seu domínio do ranking por número, a China não chega, quanto mais excede, o retorno sobre ativos médio para os bancos do top 25 dos BRIC – que é de 1,3% - o que sugere que o vasto património de ativos do país está a ser subutilizado, comparativamente com o dos seus outros pares dos BRIC. G8


bancos pEQUEnos DoMinaM Rankings DE soLiDEZ

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ma vez mais nos rankings do Top 1000, os bancos com os rácios CAR (capital-asset ratios) mais elevados, e assim os bancos na posição financeira mais sólida, tendem a ser bancos mais pequenos, tanto do mundo desenvolvido como em desenvolvimento. O Eletro Bank, da França, lidera nesta área, tal como em 2009, com um CAR de 87,47%; este valor contrasta com um CAR médio de cerca de 6% a 7% dos maiores bancos do mundo. No top 25 dos bancos mais sólidos, 18 são de mercados em desenvolvimento. Isto reflete a natureza mais conservadora da Banca nestas regiões, devido a uma maior perceção dos riscos. Em termos do retorno sobre os ativos, foram os bancos americanos, pequenos ou de tamanho médio, que ficaram no topo da lista. o Franklin Resources, o United National Corporation e o Central Bancorp, uma nova entrada no top 25, alcançaram as três posições cimeiras. Mais três bancos americanos fizeram parte do grupo do top 25 de 2010. Repare-se que no quadro de 2009, só constavam três bancos americanos. Os bancos que fizeram o melhor retorno sobre o seu capital, em 2009, tendem também a vir de mercados em desenvolvimento. À exceção do banco no topo da lista, o First Financial Bancorp, um banco americano que obteve um lucro sobre o capital médio de 77% em 2009. Curiosamente, o número de bancos russos, que fazem parte do top 25 em relação a esta variável, caíram de oito em 2008, para cinco em 2009, para apenas um no ranking de 2010. G8

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Top 1000 bancos MUnDiais

bancos pRoVinciais cHinEsEs sobEM

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m anos anteriores, a revista THE BANKER publicou uma lista dos 25 bancos que subiram mais, (estabelecendo um ranking segundo o número de lugares que ascenderam). Esta medida tem ilustrado historicamente o progresso de uma instituição em relação aos seus pares. Este ano, contudo, o top 25 dos que subiram mais foi concebido segundo o aumento percentual no seu capital Tier 1 a fim de revelar a que ponto a robustez de cada instituição tem melhorado numa base absoluta e não relativa. A seguir à aquisição do problemático grupo bancário com sede escocesa, o HBOS, em setembro de 2008 e a uma subsequente injeção de capital do estado, o Lloyds Bank Group estabelece-se no topo da lista com um aumento de capital Tier 1 na ordem dos 285,7%. Globalmente, o aumento de capital pôs o Lloyds Banking Group na 12ª posição, depois de ter estado na 48ª posição, em 2009. O Bank of Inner Mongolia toma a segunda posição, aumentando o capital Tier 1 em 220,18%. O Bank of Inner Mongolia assegura o segundo mais baixo valor de capital Tier 1 (no top 25 dos que mais sobem na tabela) depois do Liaoyang City Commercial Bank, da China. Contudo a sua posição no número 2 reflete o nível baixo de onde começou a sua notável subida: em 2009, o banco não constava sequer no Top 1000. Refletindo um tema familiar ao longo do Top 1000, os

bancos chineses dominam o resto da tabela dos que sobem mais, oferecendo 14 bancos à lista do top 25. Os bancos chineses na tabela (dos que mais sobem) desenvolvem o seu capital Tier 1 a uma média de 146%. Embora não seja mostrado na tabela aqui publicada, é interessante notar que a maioria dos bancos chineses que mais sobem não provém de grandes cidades como Xangai ou Pequim, mas das províncias do país; a maior parte provém das províncias orientais crescentemente ricas, Liaoning, Shandong e Zhejiang; e de Guangdong, notável força económica regional, da China. Como tal, a lista dos 25 que mais subiram confirma a perspetiva de que são os bancos provinciais da China, com acesso a uma vasta e sempre em expansão base de depósitos, que se deve ter sob mira. Este ano, a surpresa entre os bancos que mais subiram no ranking foi possivelmente o Banif-Sgps, de Portugal, na posição 3, com um aumento de capital Tier 1 expresso em 214,69% - o que o levou a subir 373 lugares no ranking global. Os EUA também providenciaram dois bancos no top 25 do que mais subiram: o Privatebancorp e o First Financial Bancorp, que desenvolveram o seu capital Tier 1 em 98,9% e 83,58%, respetivamente. Apesar das grandes desventuras que o país atravessou, os bancos da Grécia também mostraram um bom desempenho, com o Hellenic Post Bank e o Attica Bank SA a desenvolverem o seu capital Tier 1 104,9% e 81,48%, respetivamente. G8

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apEsaR Do ano TURbULEnTo pRoMEssa aFRicana É sÓLiDa

S

em surpresa, no fim de um período de elevado crescimento económico no continente africano este foi um ano mais moderado para os bancos de África. Apesar dos bancos sul-africanos serem os mais afetados, a África do Sul mantém a primeira posição entre os países africanos listados no Top 1000 Bancos Mundiais de 2010. O Standard Bank surge novamente como o banco nº 1 de África, reportando aumentos notáveis de capital Tier 1 e de ativos, apesar do aumento dos custos com créditos deficitários. O Nedbank, o terceiro melhor banco no ranking de África, outra instituição com sede em Joanesburgo, também revelou uma expansão do seu capital Tier 1 e de ativos, embora tivesse de lutar contra um abrandamento na procura de crédito. A par com o FirstRand Bank, o Investec e o Absa (propriedade do Barclays), estes bancos dominaram o mercado sul-africano, sendo detentores de quase 90% dos ativos bancários do país. Num severo contraste, o setor bancário nigeriano viveu um período dramático, em particular na segunda metade de 2009, sob a tutela do governador do seu Banco Central, Lamido Sanusi. Como resultado das reformas do governador, que originaram a remoção de vários cargos diretivos e a erosão de dois terços da capitalização do setor, vários bancos nigerianos caíram nos rankings de 2010. O United Bank for Africa, que reportou uma queda de 94,18% nos lucros, foi a vítima mais proeminente, escorregando 126 lugares. O Zenith Bank, cujo diretor executivo era um dos diretores bancários convidados a sair por Lamido Sanusi, foi outro banco nigeriano que sofreu uma queda violenta nos rankings. É interessante notar que outros bancos nigerianos, tal como o Access Bank e o Fidelity Bank, reportaram quebras no seu capital Tier 1 e nos seus ativos, ainda antes das reformas do governador do Banco Central terem sido implementadas. O setor bancário do Egito merece atenção pela forma como tem evitado com sucesso os piores efeitos da crise financeira global, em grande parte devido às regulamentações severas do seu Banco Central e à prudente cultura bancária que domina no país. O National Bank of Egypt e o Arab African International Bank fizeram movimentos significativos nos rankings em 2009, com base numa estrutura com elevada liquidez e numa forte qualidade dos ativos bancários. Acima de tudo, os bancos africanos não constituem uma parcela significativa entre os 1000 apresentados no relatório de 2010. Há 30 bancos africanos nos rankings – que representam 1,03% do capital Tier 1 total, assim como 0,73% dos ativos totais. Sendo África um continente rico em recursos, com uma população em crescimento e generalizadamente afastada dos

serviços bancários, não há dúvidas quanto ao potencial da banca africana, pelo que há boas perspetivas no que diz respeito a uma mudança das estatísticas num futuro próximo. G8

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Top 1000 bancos MUnDiais

Quase, quase no

Top 1000

Depois de reunirmos no rankings do Top 1000 os mil melhores bancos em todo o mundo, mergulhamos no patamar dos bancos que est達o a abeirar-se desse Top. Philip Alexander 64 G8 ~ Abril 2011


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estudo anual de referência em torno da banca mundial pode-se ficar pelos 1000, mas o número real de bancos evidentemente que é maior. Para se fazer uma ideia dos bancos e mercados que podem estar em franca subida, analisámos os 200 maiores bancos que forneceram dados ao nosso inquérito mas não chegaram ao Top 1000 – uma espécie de 200 Seguintes. Desta análise, foram excluídos bancos que não entregaram os dados, e portanto premeia aqueles que mais atempadamente reportaram os seus desempenhos. Uma recompensa justa, num mundo que se tem tornado muito mais consciente da necessidade de maior visibilidade no setor bancário. A subida da Ásia, tão notável no Top 1000 deste ano, está igualmente presente abaixo desse patamar. A Ásia é responsável por 30% do número de bancos neste ranking, e por 48% dos lucros dos 200 a seguir. Os ativos asiáticos constituem 52% dos ativos totais do ranking, o que sugere que o retorno sobre os ativos na Ásia pode estar sem grande brilho. Mas isto é meramente devido à presença de bancos japoneses que têm bases

«A SUBIDA DA ÁSIA, TÃO NOTÁVEL NO TOP 1000 DESTE ANO, ESTÁ IGUALMENTE PRESENTE ABAIXO DESSE PATAMAR. A ÁSIA É RESPONSÁVEL POR 30% DO NÚMERO DE BANCOS NOS 200 SEGUINTES, E POR 48% DOS LUCROS.»

patrimoniais muito extensas mas pouca rentabilidade. Metade do top 20 dos bancos segundo os ativos é constituída por bancos japoneses, mas só um banco japonês (Minami-Nippon) aparece entre o top 50 do retorno sobre ativos. Se os bancos japoneses forem excluídos, o retorno sobre ativos médio dos bancos asiáticos abaixo dos 1000 é de 1,72% comparativamente com os 0,73% da lista no total. O retorno sobre ativos para estes 200 bancos seguintes é também superior ao do Top 1000, que se estabeleceu nos 0,42% nos rankings de 2010. Curiosamente, os lucros sobre capital comum (aproximadamente semelhante ao retorno sobre capital próprio) para os 200 Seguintes estão nos 6,25%, abaixo dos 8,16% registados no Top 1000. Isto porque o rácio capital-a-activos encontrado nestes bancos é significativamente mais elevado que o do Top 1000: 6,8% contra 5,1%. A razão para uma tão elevada capitalização não é difícil de discernir. Muitos bancos neste ranking estão a operar em mercados de fronteira, onde as boas oportunidades de empréstimo são escassas e os riscos são elevados. De facto, são encontrados aqui bancos de 31 mercados ausentes no Top 1000; incluindo 11 países de África, oito da América Latina e das Caraíbas, seis da Ásia, cinco da Europa de Leste e um do Médio Oriente. Destes, o destaque é seguramente o Bangladesh – um país com 160 milhões de pessoas em que o maior banco, o Sonali, surge na modesta posição 1029 do mundo por capital Tier 1. OLHE-SE PARA LESTE Outro aspeto de destaque nos 200 Seguintes é a presença extrema de bancos da Europa de Leste e da Ásia Central. Abrangem só 4,8% do Top 1000, mas 28% dos bancos neste ranking. Contudo, os seus ativos representam só 6% dos ativos totais dos 200 Seguintes, revelando-se neste domínio o setor bancário muito fragmentado da anterior União Soviética.

«MUITOS BANCOS DOS 200 SEGUINTES ESTÃO A OPERAR EM MERCADOS DE FRONTEIRA, ONDE AS BOAS OPORTUNIDADES DE EMPRÉSTIMO SÃO ESCASSAS E OS RISCOS SÃO ELEVADOS.» Tem havido pouca consolidação transfronteiriça, e o maior mercado da região, a Rússia, tem mais de 1000 bancos, muitos com capital insignificante e uma mão-cheia de clientes relacionados com os próprios acionistas dos bancos. A crise financeira tem exposto a vulnerabilidade de financiamento e a concentração de crédito de muitos destes bancos. Alguns bancos russos neste ranking saíram do Top 1000 depois do estudo anterior, incluindo o Bank Severo-Vostochny Alliance, o BIN Bank e o Masterbank. Isto é uma chamada de atenção para o facto de que os 200 Seguintes incluem tanto «estrelas» descendentes como «estrelas» ascendentes. E os bancos americanos afetados com a crise do sub-prime estão entre as mais proeminentes descidas: o Ocean Bancshares, com sede em Miami, 18º neste ranking, era 856º no Top 1000 de 2009. Quem irá juntar-se ao Top 1000 na próxima edição? Os lucrativos bancos chineses que estão em posições elevadas neste ranking, tal como o Bank of Rizhao, são claros candidatos. E tome-se atenção ao Kaspi Bank, transformado por fundos de Private Equity e agora fazendo um em cada dois novos créditos a retalho no Cazaquistão. G8 Abril 2011 ~ G8 65


Top 1000 bancos MUnDiais

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coMo o FiZEMos

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Top 1000 Bancos Mundiais segue o encalço das maiores companhias do setor da banca, ordenadas pelo seu capital Tier 1. Sempre que possível, usamos números consolidados. Subsidiárias estrangeiras estão inclusas no plano detalhado, que cobre 104 países e 1224 bancos. Os rankings são baseados na definição de capital Tier 1 tal como é entendido pelo Bank for International Settlements (BIS), de Basileia. A definição é mais estrita do que a do património líquido total e cobre só o âmago da robustez dos bancos – a parte do património líquido que está disponível para cobrir reais ou potenciais perdas. O Goodwill é deduzido do Tier 1. O objetivo deste inquérito é mostrar o estado de saúde dos bancos por relação com o requerimento de Basileia de um rácio mínimo de capital Tier 1 para ativos com risco calculado de 4%; e um rácio mínimo de capital total para ativos com risco avaliado de 8%. As regras adotadas pelas autoridades regulatórias dos diferentes países variam e aceitámos definições regulatórias nacionais de capital Tier 1, nestes rankings. Sempre que possível, os números dos ativos totais excluem itens de terceiros como acor-

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dos, contratos, garantias e seguros mantidos por terceiras partes. Os lucros antes de impostos são usados para mostrar o desempenho dos bancos e os valores relativos ao crescimento real dos lucros têm em conta a inflação. Os rácios profit-on-capital são calculados usando a média dos valores do último ano e anteriores. A coluna relativa a empréstimos deficitários (ou em incumprimento) refere-se a empréstimos deficitários brutos como percentagem do caderno total de empréstimos. Excluímos bancos cujos últimos dados numéricos disponíveis são anteriores a 1 de janeiro de 2008, mesmo que eles ainda possam estar operacionais. Como prosseguem as fusões que excedem os limites fronteiriços dos países, um determinado número de bancos tem desaparecido das listagens do Top 1000 através da sua unificação no seio das contas dos seus novos bancos-mãe; mas eles continuam a ser uma presença relevante nos seus países de origem. Numa tentativa de mostrar isto, a listagem do Top 1000 por país continua a incluir bancos que são propriedade de entidades estrangeiras, desde que o seu capital Tier 1 esteja acima do limite mais baixo do Top 1000. Estes bancos estão indicados como «fo» («foreign») na coluna do ranking mundial. G8

Data - Este ranking só inclui os dados mais recentes disponíveis à nossa equipa de investigação (92% são dados de 2009) Capital Tier 1 - Capital Tier 1, tal como definido pelas linhas de orientação do BIS, incluem «loss absorbing capital» - capital disponível para cobrir perdas; stocks correntes; reservas a descoberto; «retained earning» - parte dos rendimentos que é retida e não é distribuída como dividendos (excluindo resultados do corrente ano); e interesses minoritários nos lucros de subsidiárias que não são possuídas na totalidade. Exclui ações de preferência cumulativa, (cumulative preference shares); reservas ocultas e reservas de reavaliação, dívidas subordinadas e dívidas de longo prazo; estas são definidas como fazendo parte do Capital Tier 2, que nós seguimos mas não incluímos no ranking do nosso Top 1000. Ativos - O total de ativos dos bancos, excluindo itens que se referem a terceiros tal como acordos, seguros e fianças mantidas com terceiros; e ativos que não constam na contabilidade. Rácio Capital/Ativos - O rácio capital/ativos é usualmente referido como o rácio de alavancagem (capital Tier 1/ativos totais), embora algumas jurisdições, em grande medida os EUA, tenham mais definições regulatórias para o capital e para os ativos no cálculo de rácios de alavancagem, que diferirão daquelas usadas no nosso ranking. Lucros - Todos os lucros são estabelecidos antes da taxação de impostos para que se torne possível que os números sejam comparáveis numa escala mundial; e são livres de provisões para cobrir prejuízos. Os números dos lucros também incluem operações descontinuadas. Crescimentos dos Lucros - Os valores do crescimento real de lucros são ajustados à inflação. Temos usado valores de inflação para os 12 meses que precedem o fim do período em causa, para calcular esses números. Lucro - O Lucro sobre o capital médio mede a proficuidade dos bancos em termos de capital Tier 1 (os lucros divididos pelo capital Tier 1 médio no final dos dois mais recentes períodos em causa). Retorno sobre Ativos - É uma medida de avaliação da proficuidade dos bancos tendo como base o total dos ativos (lucros/total de ativos). Rácio do capital BIS - O rácio de avaliação da adequação do capital é usado para apreciar o estado de saúde do capital dos bancos em relação com os ativos de risco avaliado. As guias de orientação do BIS pedem aos bancos para manter o seu capital Tier 1 equivalente a um mínimo de 4% dos ativos com risco avaliado e a totalidade do capital a um mínimo de 8% dos ativos com risco avaliado. Rácio EEI - Rácio que se refere à percentagem de EEI (empréstimos em incumprimento) no caderno total de empréstimos. (Na língua inglesa, NPL – que significa «Non Performing Loan») % Alteração - Cálculo numa base ano a ano, simplesmente. As alterações são registadas por comparação com o período correspondente do ano precedente.


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