Conversa no pier revista fev 2015 by Luis Peaze

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Conversa no Píer Nautos

Clínica Literária Editora Ano III - Fevereiro de 2015 www.conversanopier.com.br

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De ferragens náuticas a bases giratórias para metralhadoras. Após a Europa, conquista os EUA. Amilcar Rossi

Falta água não Conglomerados de alimentos, guloseimas e bebidas são donos das torneiras...

Os Pés Descalços

PocketShip

- uma visão romântica mas comicamente realista das pessoas que se entregam à paixão de morar em um veleiro.Por Maria Alice e Ricardo Descardeci

Construido com o sistema TecPox - epóxi e compósitos, para maior robustez, durabilidade, desempenho e o seu lazer com segurança: “porque a vida com um barco é melhor!”

Uma experiência que deve inspirar sua longa travessia.

BRCostal


Uma saga de viagem, com as minúcias do diaa-dia, quando Luís Peazê foi convidado para montar uma fábrica nos Estados Unidos, outra na Autrália, mais uma na fronteira Estados Unidos/México, associa-se com estrangeiros, ganha e perde e ganha e quatro anos depois resolve, com Helga, construir um barco, batizado com o nome de Alvidia, sem conhecerem as técnicas de fabricação de veleiros, sem domínio das artes de navegação, sem intimidade com os segredos e traições do mar, para atender ao sonho de navegar, numa ânsia de liberdade. Ressalta nas páginas deste livro os personagens com quem Luís e Helga conviverão nesses quatro anos, desde os que os ajudam ou apenas os usam e atraiçoam, em montagens e manutenção de fábricas, indústria e comércio, haveres e deveres, aos que encontrarão, durante a construção do Alvídia e depois ao se aventurarem por mares, numa solidariedade entre as gentes do mar, aventureiros e libertários como o casal.

Alvídia, Um Horizonte a Mais Resenha por Moacir C. Lopes, autor de A Ostra e O Vento

Surgiu em 2000 um escritor, Luís Peazê, com todo o potencial para ser considerado dentre os mais importantes que têm aparecido em nossa literatura contemporânea, com o livro Alvídia, um Horizonte a Mais, misto de estilo aventuresco, por ter como suporte as aventuras e desventuras do autor/personagem, e sua esposa e companheira de todas as horas, a também personagem Helga, em luta pela sobrevivência em alguns países fora de sua terra, e em temerária aventura pelos mares da Austrália, entre ilhas e baías, e de romance, porque seus relatos incluem vivências de inúmeros personagens com quem o autor e sua companheira conviveram nesses anos, desde a saída do Rio Grande do Sul, sua terra natal, e passagem pelo Rio de Janeiro.

Nessa galeria de personagens, encontramos um painel da humanidade, nos seus momentos limite de sobreviver ou morrer, física e psicologicamente, entre a coragem e o medo, mas primordialmente a coragem de despojar-se da sua passividade rotineira e sonhar em dominar os cabrestos do seu destino, ser um indivíduo além dos cordéis que os manietam. E sobressaem-se os que, ao se aventurarem ao mar, são possuídos de uma solidariedade comum aos aventureiros, numa admirável cadeia humana. Conquanto Luís Peazê, como personagem de si mesmo, domina a narrativa, as ações e os feitos dessas aventuras, nos mínimos detalhes, ressalta a personagem feminina Helga, com sua personalidade própria, mas amiga nos melhores e nos piores momentos, não apenas coadjuvante dessa aventura humana, mas parte integrante da própria aventura de sonhar, viver e vencer. Vê-se, neste livro, que Luis Peazê acumulou tal vivência por terras e mares estranhos, e tamanha galeria de tipos desgarrados mundo afora, em busca de identidades perdidas ou por encontrar, mistos de Ulisses, Robinson Crusoé, Guliver, Marco Pólo ou até de um Gilliatt, personagem da ficção de Victor Hugo em Os Trabalhadores do Mar, que poderá ser aproveitada em livros futuros, com a dimensão dos grandes romancistas que, desde a estréia, já domina o arcabouço de um narrador de primeira linha, e que muito enriquecerá a literatura brasileira. [Setembro de 2000, Rio de Janeiro.]


Editorial

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uando o menor pode ser o melhor, menos é mais, pouco é tudo, isto é, “quando se fala de qualidade”. Ésta é a pauta desta edição ©

da Conversa no Píer , começando pela qualidade das pessoas que se vai encontrando na travessia. Contatos selecionados, estimulantes, que prometem longevas amizades. Contatos de negócios e com leitores que ancoram na simpatia da gente logo de início, pela qualidade, pelo que dizem, como se comportam, pelo que são naturalmente. Esta edição traz alguns exemplos que

se opõem ao massivo exibicionismo fútil que graça na coletividade irreversivelmente online. Nem tudo está perdido - otimismo sempre! Em destaque a entrevista com o dono da TecPox - epóxi e compósitos, o engenheiro químico Marcelo D. Paes Leme, e o saudável relacionamento comercial com o seu staff, fonecedor de resina para a construção do PocketShip - aviso aos navegantes: à venda! Um barco de cruzeiro para guardar na garagem, sem custo de marina e... Bem, você saberá mais aqui. Amilcar Rossi, fundador da Nautos (1976), fabricante gaúcho de ferragens náuticas e outros segmentos off topic de arrepiar qualquer arrojado empresário, generosamente conversa por telefone e conta “com quantos paus se faz uma canoa, das melhores do mundo”. Um breve passeio pela questão da (falsa) falta d´água no Brasil e no mundo, das represas que não represam aos gigantes conglomerados que não medem a sua sede, de lucro.... De Tocantins, os professores universitários Maria Alice e Ricardo Descardeci levam este infantil editor às lágrimas [verdade!] ao enviarem uma crônica publicada aqui: A Tribo dos Pés-Descalços. Para fechar, como num texto de Luiz Borges, a utopia maior do ser humano, nascer adulto e ir aos poucos desaprendendo tudo, até se tornar criança, na história de Carlos Casanova, que, ao construir um belo barquinho de 2 metros no método stitch & glue, parece tender ao “desaprender tudo”, através de sua neta, Laura, que

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por sua vez deve ter tido uma experiência inspiradora para a suas futuras longas voltas em torno do sol. ©

Que a leitura desta Conversa no Píer seja tão inspiradora quanto foi colher o seu material e editá-la.

Luís Peazê


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A Conversa no Píer é uma publicação digital da Clínica Literária Editora, Agência de Notícias e Serviços Ltda. e do Instituto Brasil Costal - BRCostal Copyright © Todos os direitos reservados Editor Luís Peazê

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(MTB 24338)

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Sistemas Epóxi e Compósitos

Qualidade similar a West System, quem conhece, sabe o que estou falando. Relacionamento comercial profissional e amigável... Em 2013, pesquisando alternativas de fornecedores de resina epóxi no Brasil, descobri a Tecpox. Adquiri um frasco de resina com alguns gramas, para teste, e, satisfeito, aguardei uma oportunidade para comprar um lote generoso e aqui estamos, consumindo o final do terceiro contêiner de 20 litros em menos de três meses... De fato, as duas experiências comerciais ocorreram conforme as palavras do proprietário da empresa, o engenheiro químico Marcelo D. Paes Leme: “Temos um imenso prazer em atender todos os clientes da mesma forma, seja na compra de menos de 1 Kg, seja 1 tonelada, colocando à disposição toda a nossa bagagem, orientando no que for possível.” Marcelo está neste segmento há 28 anos. Nos primeiros 20, foi sócio de uma empresa que fabricava produtos de fibra de vidro, em 2007 desligou-se daquela sociedade e fundou a Tecpox. Em oito anos, a sua jovem empresa atingiu uma performance de vendas estáveis e franco desenvolvimento de novos produtos que já nascem atingindo metas; uma performance rara, para um setor de produção que depende de clientes que privilegiem a qualidade de matéria prima e métodos em detrimento, muitas vezes, do preço. Pois, se a resina e os compósitos podem substituir o cimento, a madeira ou o metal, no caso da construção civil, por exemplo, não são mais baratas que essas commodities. E a mão de obra deve ser especializada. Mais do que nunca, a agilidade e capacidade de atender tanto os pequenos, quantos os maiores consumidores, em um ambiente “business-to-business”, é fundamental para a construção de uma imagem e penetração de mercado. Segundo Marcelo, “atuamos em vários segmentos (não só o da construção naval), com os Sistemas epóxi e os Compósitos. A opção por nossos produtos cresce quando não se leva em consideração a questão preço, e sim o retorno que proporciona pelas características de durabilidade, proteção e resistência mecânica”.


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Competindo com a Tecpox, entretanto, um concorrente injusto: “- a maioria das matérias primas são importadas e, neste caso, a flutuação do dólar é um problema” reclama o empresário... Enquanto “conversamos”, Marcelo informa que o novo website da empresa acaba de entrar no ar, www.tecpox.com.br com novidades: “unificamos nossas divisões (epóxi e compósitos) e incluimos uma divisão de serviços. E, além da nossa linha principal, temos o setor de revestimentos antioxidantes de estacas portuárias submersas que está avançando com a criação de novas tecnologias patenteadas e genuinamente nacional.”

Minha experiência com resina epóxi é, eu presumo, bastante para recomendar ou não um produto. Quando a utilizei pela primeira vez (Austrália,1994), procurei a própria Gougeon Brothers / West Systems, nos EUA - referência mundial na construção de barcos com resina epóxi. Mais tarde, após ter utilizado a West System em várias oportunidades (construção, reparos e restaurações), fui supervisor da maior loja da rede West Marine, em Alameda, San Francisco Bay Area, e era responsável pela área de manutenção e construção de veleiros. Boas lembranças e aprendizagem, das rodinhas de conversas que se formavam de clientes que navegavam até a loja para pedir dicas, ajuda para solver problemas.


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Este lote que adquiri, de 60 litros, foi do tipo LNE 7000 e, por questões de budget e simplificação de logística, eu o utilizei para laminar, impregnar e mesmo para “boggy” (correção superficial), misturada ao talco industrial. Até que ganhei um quantidade de amostra - presente de Natal - da massa para acabamento, tipo MAC 2000, e meus braços agradeceram; lixar (mármore) a 45 C graus já estava se tornando tortura. Passou a ser tão suave e inclusive permitindo momentos interessantes de filosofia, pois o calor aumentou, como todos os que viveram o verão carioca de 2015 sabem.

Concluindo, a Tecpox, me parece, vem se tornando referência no mercado, não apenas por suas iniciativas ousadas, como as de criar antioxidantes para estacas portuárias submersas, resinas de autonivelamento, de assoalhos de grandes superfícies, e solos autodrenáveis; também não é só porque sua resina epóxi possui os atributos da referência mundial; tem muito a ver com a forma de atendimento de seu staff - profissionalismo e cortesia. Precisa dizer mais?


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Nas barrancas do Rio Camaquã (RS), para reforma de mastreação, uma das inumeráveis versões do clássico Sharpie. Este é “o barco do Amilcar”, um dos fundadores da Nautos, ferragens náuticas, que conversa com exclusividade, nas próximas páginas. O Sharpie é um “hard chine” e sua origem, incerta, é atribuída à New Haven, Connecticut, USA. Era utilizado para a extração de ostras. Há projetos de veleiros Sharpies adaptados por todo o mundo; os mais conhecidos são os de Bruce Kirby (Norwark Islands), John Harris (Chesapeake Light Craft), Ted Brewer (Mystic, o reduto de Herreshoff) e, o mais representativo, de Phil Bolger, cujo conceito de barco é:

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“O melhor barco é aquele menor o bastante para se levar para casa, e grande o suficiente para se viver nele.”


Nautos Conversa no Píer©

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No hemisfério sul, só há duas marcas, uma delas é a Nautos

Amilcar Rossi, fundador da Nautos nos conta “com quantos paus se faz uma canoa” entre as cinco melhores do mundo. Nascida há 40 anos, na serra gaúcha, a Nautos é um caso brasileiro sem precedentes.

A única marca nacional de ferragens e acessórios para veleiros e, abaixo da linha do Equador, seu único concorrente é a australiana Ronstan. Exporta para mais de 30 países e possui centros de distribuição na Europa e nos Estados Unidos. Em qualidade de seus itens de alta peformance para veleiros, designs modernos e robustez, a Nautos está entre as cinco maiores marcas do mundo. Amilcar Rossi, um dos fundadores da empresa, com o irmão Julio Rossi, atendeu a um chamado da Conversa no Píer às 21 horas, de uma segunda-feira, e, por pouco, não acabamos na terça... A história de sucesso e persistência da Nautos é conhecida no meio náutico, mas ouvila do próprio Amilcar é como comparar a leitura de uma aventura da saída da Lagoa dos Patos para o mar com a experiência de fato... Lendo, você deve parar um pouquinho e imaginar, tentar sentir na pele cada palavra. Tente as próximas três linhas: as ondas estouravam na proa lavando o convés e o vento de sudeste entrava duro de través, pra piorar o frio, muito frio, dar meia volta era impossível, seguir em frente ficava cada vez mais difícil... A longa e bem sucedida travessia da Nautos começou assim. Amilcar fazia a faculdade de engenharia, na UFRGS, e velejava no Rio Guaíba, corria regatas locais... Naquela época, no início dos anos 70, quando alguma ferragem quebrava, demorava para chegar a peça de reposição, do exterior. A família tinha uma empresa de metalurgia, então, inquietos, Amilcar e seu irmão Julio Rossi, ocuparam uma bancada (cedida pelo pai), começaram a fazer reparos, e se aventuraram nas primeiras fabricações de ferragens para veleiros, em alguns casos réplicas até com certas melhorias... De atender amigos a consolidar uma carteira de clientes com perfil empresarial, foram

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muitos altos e baixos, os riscos de quebrar um mastro, capotarem e ate motim a bordo, eram

sempre iminentes, enfrentaram de tudo o que uma empresa brasileira pode enfrentar, mesmo assim continuaram crescendo, e consolidando a marca... Até que veio o plano Collor, quando quase afundaram com perda total - era um elemento injusto demais, o mercado

simplesmente desapareceu, os estaleiros quebraram um por um, desde o sul, onde havia mais estaleiros por metro quadrado do que em qualquer outro lugar no Brasil, ao norte e

nordeste que naquela época já começavam a inserir veleiros e catamarãs entre os saveiros, escunas e aquela profusão de barcos tradicionais de madeira da região (um patrimônio

histórico a preservar!)... A saída foi como velejar para fora da Lagoa dos Patos, mar adentro

(dizem os vikings que esta expressão surgiu ali) e cruzar o Atlântico. Na França encontraram


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parceiros e logo logo iriam ancorar solidamente na Europa, onde a Holt Marine os representa em vários países e outros novos distribuidores vem surgindo com exclusividade... “Começar uma empresa dessas hoje, é impossível em qualquer parte do mundo. Temos uma prateleira com mais de 1000 itens, cada um em média com 10 componentes, misturando materiais diversos e de alta tecnologia; as catracas elétricas, por exemplo, possuem 15 componentes; alguns nós mesmos fabricamos, outros vem de diferentes subcontratados exclusivos, a linha de montagem é interna...” Palavras do Amilcar. Ouvi elogios à Nautos, nos Estados Unidos, recentemente, na região de Chesapeake Bay e em San Francisco, daí a vontade em destacá-la na Conversa no Píer, e saber como é a sua operação no agressivo mercado americano. Amilcar foi categórico: “- É muito difícil. Competir com os preços praticados lá, com fabricantes asiáticos.... Para entrar num distribuidor, ele só vai trocar a marca que já comercializa ou acrescentar uma nova ao seu catálogo, se o seu preço for competidor... não basta ter qualidade, tem que ter preço (...) Apesar disso, defendo uma produção de qualidade, desde o

na Flórida. Enviamos contêineres de produtos, para manter um estoque razoável. Vendemos via ecommerce, daí a entrega deve ser imediata, do contrário você não faz negócios...”

Qual a dimensão do mercado de produtos para veleiros no Brasil?

desenvolvimento dos projetos à montagem final. – Ah, sim, temos um escritório em Fort Laudardale,

Pulei de volta para o Brasil, e quando Amilcar ouviu a pergunta, me deu a impressão de que ele dera uma “baita” risada por dentro.


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Perguntei como a Nautos dimensiona o seu mercado, projeta suas vendas, se o número de embarcações a vela, as competições, os clubes de vela existentes, as Olímpiadas, etc, são parâmetros. Curiosamente, mesmo se tratando da fabricação de produtos complexos, seus materiais, suas funcionalidades, a questão da segurança patrimonial e humanas envolvidas, nosso mercado é imprevisível e o ambiente de negócios não é arrumado para o marketing científico, basicamente as vendas do exercício anterior norteiam as do próximo ano... Amilcar discorreu sobre o cenário atual, quanto aos veleiros, e um fato relatado é bem elucidativo. “-Aqui em Porto Alegre o pessoal veleja, vai pra água mesmo; não vejo isso em lugares com melhores condições, mar, geografia, clima. Veja o exemplo de Florianópolis, eles tem tudo para ser um dos hubs da vela, de todos os tamanhos, mas você vê lanchas cada vez mais infestando aquele litoral e águas abrigadas. Não há estaleiro de veleiros em Santa Catarina. As lanchas não são nossos clientes, a não ser que comecemos a fabricar peças para lanchas... Em São Paulo e Rio há alguma atividade produtiva, de competição e de lazer, mas já foi melhor, em décadas passadas; no Rio não há www.nautos.com.br

estaleiros, fecharam...”


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Na minha opinião, isso revela um potencial entorpecido, de nosso ambiente, inerte, atrofiado, tristemente subutilizado... “ - E em Salvador? - continuou Amilcar - com aquelas belezas estonteantes, aquelas águas, não sei o que eles fazem que não velejam por lá... Ao norte é a mesma coisa. Enfim, é um traço do Brasil, da vela no Brasil, que não se populariza. Depois, há outro problema: no passado, os iniciantes começavam com dinghies, lasers, snipes, iam gradualmente passando para barcos maiores; hoje os que começam já querem logo sair de 10 metros para cima...” Esta última colocação do Amilcar é uma realidade e desnuda um problema sério, subjacente, povoando nossas águas litorâneas. Isto denota (mais uma opinião pessoal) um comportamento do inconsciente coletivo imediatista, do desfrute instantâneo, um arremedo tacanho do carpe diem, negativo, portanto. Estamos falando do uso, manejo e usufruto do mar (rios e lagoas inclusos) onde como em nenhum outro lugar a segurança é um componente sob tensão a cada segundo, mesmo ancorado em águas calmas numa baía escondida de Angra dos Reis... Daí a aprendizagem gradual, o desenvolvimento particular (de cada “marujo”) de um jeito próprio de afeição com o ambiente, ser fundamental. Aberto a ilações. Outra revelação de Amilcar a refletir, se refere à entrada no Brasil de veleiros fabricados lá fora. “- Os veleiros que chegam no Brasil quase sempre vem inteiramente equipados. Isto não é bom para marcas nacionais, e, se você observar com atenção verá que algumas vezes os barcos chegam com ferragens e acessórios das melhores marcas, porém, com alguns produtos de segunda linha dessas marcas; mas o maior problema vem sendo concorrer com as marcas que produzem na China; por outro lado, somos orgulhosos por termos desenvolvido nesses 40 anos produtos ao nível do que há de melhor no mundo. Com os de top os produtos da Nautos não perdem em qualidade e performance, com a vantagem que estamos aqui, qualquer problema, ou mesmo reposição e melhoramentos compatíveis, estamos perto e temos agilidade para pronta entrega... Tanto ao consumidor final, quanto para distribuidores. Aliás, estamos mais perto tanto no Brasil quanto nos EUA.” Quis saber como é a operação da Nautos, quanto ao controle de qualidade, como são testados os produtos, com tantos materiais e aplicações envolvidas: “- Testamos tudo - respondeu Amilcar -, claro, não podemos testar cada pedaço de aço inox, temos que confiar no fornecedor, se ele vai nos fornecer o aço com a quantidade correta de carbono etc, mas acompanhamos de perto a indústria e, nos demais testes, qualquer problema aí aparecerá. Como os testes de tração, carga, ruptura, e uma centena de outros; para alguns nós utilizamos a Universidade de Caxias do Sul, outros nós fazemos internamente. No início, fazíamos testes nas oficianas do Colégio Parobé, isto é, este procedimento é um hábito em nosso DNA”.


Obviamente, numa conversa de conterrâneo para conterrâneo, comenta-se mutuamente sobre os problemas do meio náutico que gostaríamos de ver resolvidos. Um deles seria o parque de marinas no Brasil. Parece que a área vai se tornando um imenso latifúndio, com os problemas que um latifúndio oferece. Neste particular, Amilcar me respondeu de maneira simplória, sobre a situação da loja Nautos, na Marina da Glória: “- Fechamos a loja da Marina da Glória, sim, logo após tê-la reformado e inclusive anunciado em nosso site. Não vamos reabri-la depois dessas obras que estão fazendo lá. Acabáramos de reformar a loja e fomos surpreendidos; a obra vinha sendo planejada para começar sem que os lojistas fossem avisados com antecedência e possiblidade de interação; mas continuaremos tendo mais uma loja no Rio, além de nossa presença nos clubes.” Na tarde do mesmo dia em que conversamos, eu ligara para a marina da cidade mais representativa culturalmente do Brasil para o mundo, aquela que seria, ou deveria ser, marina pública, e perguntei quanto custa utilizar a rampa, para descer um veleiro pequeno, de 15 pés, do meu próprio carro, eu mesmo fazendo o serviço, e a voz conhecida do outro lado me respondeu: “- Custa R$300,00 para este tamanho de barco, acima e até 30 pés são R$600,00 mas estamos movendo apenas nossas embarcações, a marina está fechada até fevereiro de 2016.” Outra experiência, no mesmo dia, foi tentar comprar, no Rio de Janeiro, uma “sheave” de 2 polegadas de diâmetro externo, vá lá, roldana de nylon, delrin... Hilário, para não dizer outra coisa; liguei para todas as lojas náuticas locais, numa delas a primeira pergunta foi: “Roldana? Aquela que gira?” Acabei comprando a pecinha na Equinautic, em Porto Alegre. Mas conversar sobre o que dá certo é sempre melhor e este é o propósito da Conversa no Píer, sempre que for possível. Assim, retornamos ao sucesso da Nautos nos EUA, que, segundo Amilcar, mesmo com as dificuldades daquele mercado competitivo, e exigente, as vendas tem surpreendido e a penetração da marca vem crescendo. Amilcar cravou: “- Os moitões triplos da Nautos é um entre os mais prestigiados produtos de nossa extensa linha. O Hobie Cat, por exemplo, nos EUA, sai da fábrica com nossos produtos. E aí devo registrar que os estaleiros, de um modo geral, dificilmente vão utilizar somente uma marca de ferragens e acessórios de vela - provavelmente por razões estratégicas.” Já era tarde, quase meia-noite, então saciei minha curiosidade pessoal sobre os outros segmentos da Nautos e foi bom parar por ali mesmo, daria muito pano pra manga. A Nautos vem fazendo sucesso em dois segmentos completamente atípicos à sua vocação original; hidráulicos para equipamentos de segurança (cabines elevadiças de observação) e para irrigação de plantações, e bases giratórias para metralhadoras em embarcações militares navais. Bah!


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Falta água não Por Luís Peazê

...Um lugar indizível onde palavra alguma jamais haverá pisado, enquanto um sem-número de flores desabrocham, plantas germinam e apodrecem, bilhões e bilhões de organismos se agitam e um grito inaudível quer explodir no interior da Terra para ecoar no universo. Esta é a minha noção da essência da natureza, a partir daí nós interagimos com os seus elementos. Entre as atrocidades ocorridas em 2014, quando eclodiram protestos em torno da realização de um evento comercial da FIFA, que comprou do governo o direito de assaltar o Brasil antes, durante e depois de a bola rolar, Leonardo Morelli foi morto, disseram as manchetes, por uma doença que vinha lhe vitimando havia tempo. Quem conheceu de perto o ativista e criador do movimento Grito das Águas, pode imaginar como ele se tornara um dos líderes do tal grupo black block, no Brasil. Morelli dormiu uma vez em minha casa, era o ano de 2003, porque havia me convidado para registrar “ações diretas”. Ele faria uma exposição num programa de TV, no Rio, e meu apartamento teve o seu momento de “aparelho”, por uma noite. Estávamos exaustos, vindo de várias ações desenvolvidas em São Paulo, três delas dignas de contextualizar com esta atual falácia da falta d´água no Brasil. Leonardo Morelli, aos 11 anos de idade, teve o pai desaparecido em plena ditadura, fez parte do início do Comitê Brasileiro de Anistia e, já por volta de 1998, depois de ter sido preso por crime de segurança nacional, escondido numa vila de pescadores na Lagoa de Imaruí, SC, teve o primeiro contato com a questão dramática das águas. Ali nasceu o movimento Grito das Águas, quando Morelli ouviu de um xamã chileno o seguinte: “é um caminho perigoso quando não se conhece o poder desse elemento da natureza, diretamente ligado ao fluxo das emoções. Ao amar a natureza, o homem entra no caminho da evolução, mas ao mergulhar em uma de suas essências, como a água, entra em contato com a essência da própria evolução, aí é doloroso, porque trilha um caminho em que estará diante de si mesmo o tempo todo”. Um caminho de difícil retorno, eu acrescento. Comecei a entender aquele movimento, após fotografar, com uma caneta, um bloquinho e um gravador de voz na mão, um “exército de Canudos” descarregar um caminhão de lodo (tóxico), extraido do Rio Tieté, em frente à sede da SABESP, uma amostra de toxidade que estava sendo utilizada para aterrar entornos da lagoa de Carapicuiba, onde assentava-se comunidades carentes.... Dali o grupo se deslocou para uma reunião num sítio em Itu, onde acompanharíamos o Forum Social Mundial e Morelli faria um debate, via satélite, com líderes internacionais. Impus duas condições: a de ouvir e ver tudo. À noite teve uma canja do J Quest, amigo de Morelli, e eu até me empolguei, subi ao palco, peguei o microfone e bradei: “vamos gritar: parabéns ao Morelli. Água!” No dia seguinte fomos “passear” em plantações de cana de açúcar, próximas de Pindamonhangaba, para constatar fontes de água, olhos d´água, na superfície da terra, sendo desviados ou mortos. Era apenas uma distração, o objetivo era fazer uma grande reunião de plano estratégico, também num sítio emprestado, que por acaso havia sido o sítio onde Mario de Andrade escrevera a maior parte de Macunaíma. Caiu o meu queixo, quando o dono do sítio mostrou-me a banheira que o criador do movimento modernista das artes e literatura no Brasil deitava e, ali mesmo, escrevia anotações a mão. Não resisti e deitei na banheira, seca, sem água.


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O assunto é profundo, bem mais profundo do que esta introdução aparentemente digressiva, mas desemboca numa única verdade, que não é tratada nem pela imprensa, nem pelo estado, tampouco pela iniciativa privada, menos ainda pela população que é por natureza ignorante, desvinculada das essências da natureza. Não há falta água, aliás vem sobrando, com o aumento do degelo. Os vapores de água, ao redor do planeta, em relação a alguns séculos atrás, aumentaram, assim como o nível dos oceanos e, por conseguinte, os volumes pluviométricos. O que falta é ética, manutenção de direitos humanos e mitigação do caráter corrupto dos indivíduos que gravitam nas esferas do estado, e dos grandes conglomerados de alimentícios, guloseimas e bebidas. Aqueles não proveem sistemas íntegros de águas servidas e reaproveitamento de águas residuais descartadas; os últimos, aquelas empresas, que incluem a Nestlê, Monsanto, Coca-Cola e as cervejarias, simplesmente compraram os terrenos onde existem as fontes de água mais intrinsecamente conectadas com os nossos aquíferos. Vale lembrar que somente o aquífero Guarani é um oceano no subsolo de oito estados brasileiros (RS, SC, PR, SP, MG, GO, MT e MT do Sul ) e alcança o Uruguai, Argentina e Paraguai. O arcabouço de leis, que abarca as outorgas e as todas as leis ambientais brasileiras, é um dos mais atualizados do mundo, mas nada ali funciona na prática. Assim como a noção (jurídica e humanista) da “responsabilidade solidária” é uma piada, no Brasil . Me sinto como um cachorro velho que não tem mais forças para latir, permaneço deitado de língua de fora e apenas levanto uma pálpebra quando essas questões vem à tona. Afogado neste cenário desolador, o indivíduo comum idiotizado pelas coqueluches passageiras (que incluem os energéticos e o selfie), comete crimes hediondos contra a natureza, contra si mesmo. No meu prédio, por exemplo: quando a síndica avisa que poderá diminuir o fluxo de entrada de água no edifício, e que fará racionamento, em horários de menos demanda, a maioria dos moradores enche baldes, enche banheiras até, isto é, consome mais água, quer dizer, não consome, se protege da miséria da coletividade, para no dia seguinte, quando o alarme é desligado, simplesmente jogar fora a água retida em baldes e na banheira. Descarta na tubulação já entupida de lixo, outro resultado trágico do comportamento das pessoas do asfalto. Quanto maior o poder aquisitivo, maior a maldade, neste assunto. Pessoalmente coloco assim: os mais pobres consomem menos (lógico), bebem menos água (de fontes naturais, em bebidas, nos alimentos), lavam menos, poluem menos, embora vivam na sujeira, em grande parte de terceiros. Enquanto tudo isso acontece, perto da metade da água que sai das centrais de tratamento até as torneiras domésticas, se perde pelo caminho, nos encanamentos deteriorados e mal instalados; a outra metade, que chega às residências, transporta metais pesados, elementos em suspensão (sujeira) e até mesmo resíduos químicos, de anticoncepcionais, por exemplo, da urina dos usuários femininos, claro, e cloro, muito cloro, e que acabam se internalizando nos sistemas (não mais) autoimunes de todos nós, homens e animais incluidos, óbvio. Este texto nem sequer arranha a questão. A situação é muito mais grave. Assim como a sede da empresas (leia-se seus tomadores de decisão e a mediocridade de seus executivos de segundo escalão) que usam e manejam a água com a visão de lucro somente. Falta água?


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PocketShip O novo veleiro à venda, mini-cruzeiro construido por Peazê. Este pode ser guardado na garagem, rebocado por um carro econômico da cidade para uma lagoa ou baía mais próxima, ou de um estado para outro, nos fins de semana ou em longos feriados. Abriga um casal com o conforto de um acampamento de luxo, mais duas crianças, em épocas de tempo ameno, ou animado grupo de até cinco adultos. John Harris, designer americano, dono da Chesapeake Light Craft, Annapolis, USA, concebeu o PocketShip para exatamente este tipo de desfrute, sonhando ele mesmo com pequenos cruzeiros pelas Bahamas e costa leste dos Estados Unidos.

- 14,5 pés (4,5m) - Quilha retráctil - Construção em madeira, compensado marítimo e fibra de vidro - Com ou sem velas, motor de popa e carreta Informações pelo email contato@luispeaze.com e/ou celular (21) 99629 3334.


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PocketShip

www.clcboats.com


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A tribo dos pés-descalços Por Maria Alice e Ricardo Descardeci Futuros donos de uma oca flutuante

Um dia desses conheci um povo: a tribo dos pés-descalços. Logo me identifiquei com eles. Também gosto dos meus pés descalços, sentindo a rugosidade do solo, ou sua maciez; seu calor ou frio. Pessoas muito interessantes! São nômades e vivem em ocas esparramadas pelo mundo inteiro, cada qual com seu cacique, e uma bandeirinha a flamejar. Se a vizinhança não está boa, alinham a oca em outra direção e partem! Caso contrário, vivem por ali até que suas almas inquietas lhes indiquem a hora de ir, e para onde. Compõem grupos familiares pequenos, em sua maioria apenas o casal, não sendo raros os casos de caciques solitários. Conhecidos pela solidariedade, de tudo fazem um pouco, ajudam hoje e provavelmente serão ajudados amanhã. Trocam dicas, peças, cartas, juntam panelas. Eu diria que são minimalistas: pequenas ocas, espaços limitados, pouco pra juntar, mas muito a contar. Ah! Isso sim! Conversam bastante! Suas histórias parecem não ter fim, e uma puxa a outra, entre os goles de alguma bebida e um tira-gosto. Acho que por motivo do isolamento a que se colocam sempre que desejam, falam pelos cotovelos! Considero seriamente me juntar a essa tribo. Vida simples, natureza, emoção, adrenalina e paz. E, pra ajudar, também gosto de ficar descalço. Meus pés doem quando estão calçados. Apesar de superprotegidos pelo sapato, gostam de ar. De brisa mesmo! Talvez porque Deus me deu um joanete, ou talvez porque gosto de me arriscar a pisar em pedras, não canso de admirar estes “índios” de ocas flutuantes. Conhecer este povo me deixou intrigado: como é que conseguem se sustentar? Ocas flutuantes devem quebrar muito. A contar pelo capricho e amor que demonstram pelas suas, devem gastar um montão de dinheiro nelas... Não sei. Não parecem índios ricos. Afinal, têm os pés descalços! Outra coisa também me intriga: passam despercebidos e praticamente não são notados pela nossa sociedade. Nosso governo praticamente não investe em portos seguros para ocas desta tribo. Apesar de falarem pelos cotovelos e serem muito solidários, pouco reivindicam. É, que tribo interessante esta dos pés-descalços! Quero me juntar a eles! Mas não será fácil me desvencilhar de meu modo de vida. Conseguir resolver isto é para poucos... Posso começar tirando os sapatos. Mas o piso quente do asfalto vai me machucar. Posso doar, vender, emprestar... Por que juntei tantas coisas? Pelo que vejo, precisa ser tudo ao mesmo tempo: desnudar os pés e pisar logo no mar! O lado fácil é que não preciso ser rico. Basta vender meu sítio, ou minha casa, e comprar uma oca. Tenho que aprender a dirigi-la. Acho que isto eu consigo. Vou precisar afinar meu contato com os deuses: como vou dominar os ventos, caro deus Éolo? Como enfrentar os mares, meu já conhecido Netuno? Minha estratégia será me aproximar deles e com muito respeito. Pedir, de cara, suas permissões e bênçãos. E com elas, me lançar na aventura de um sonho que agora será o meu! Possam estes amigos honestos e destemidos de pés descalços continuar a me dar o exemplo de vida e liberdade que praticam. Tribo legal, esta dos pés-descalços! Os autores são professores universitários e vivem no Tocantins.


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A construção impecável do N Baby. Conheci Carlos Casanova através do Alvídia - Um Horizonte a Mais e, graças ao Facebook, tenho podido acompanhar seus cruzeiros em Paraty, a bordo de seu 23 pés, o Nautilus. Um belo dia Casanova me pediu recomendações de projetos de botinhos, queria construir um tender para explorar as praias do norte fluminense, a partir de seu veleiro que costuma deslocar da Marina do Engenho até onde seu fôlego de longos feriados permitir enfunar suas velas...

Nascia o N Baby que eu batizei, sem querer, desde o início, assim como foi prazeroso acompanhar o esmero com que Casanova ia dando vida a um sonho. Foi quando conheci também a netinha de Casanova e me encantei, eram dois encantos, o N Baby mostrando aos poucos seus avanços como personagem, e a Laura (da foto) com um olhar e um jeitinho meigos sui generis.


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A ocupação principal de Casanova é a instalação de sistemas de audio, vídeo e automação residencial, incluindo embarcações. Mas há alguns anos foi contaminado por um certo vírus, o de "trabalhar em veleiros", endemia que quase lhe custou o casamento, certa vez, conforme me contou, e no momento em que publico esta breve grande história ele sente-se à vontade para vender sob encomenda (ou talvez tenha exemplares na prateleira) similares desta graça de barquinho . Não vou me aventurar a gastar mil palavras, espero que as fotos aqui e seu endereço na internet sejam mais ilustrativos.

O que me inspirou de fato a destacar o resultado do trabalho de verdadeiro artista do método stitch & glue de Casanova, foi o fato de, em dado momento, a pequena Laura (5 anos) tomar para si o leme na construção do N Baby e me lembrar de que longe é um lugar que não existe, tamanho não quer dizer nada, ou que um pequeno barquinho pode inspirar uma vida inteira pela frente. Difícil acreditar que o avô teria o mesmo empenho, não fosse o toque de magia cintilante nas fotos que ele foi publicando no Facebook, ao longo de todo o processo de construção meticulosa do N Baby. Após retornar da escola para casa, segundo Casanova, Laura se entretinha acompanhando a construção, varrendo, mostrando pontinhos para serem lixados e retocados, sendo a supervisora e logo logo estaria em Paraty observando as mudanças de maré. É a velocidade de quem não tem medo de sonhar, que toda a criança em cada um de nós não deveria perder nunca...


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Casanova Home Theater, Sonorização e Automação Ltda.


Instituto Brasil Costal - BRCostal

Conversa no Píer Ano III - Fevereiro de 2015 www.conversanopier.com.br Clínica Literária Editora

Porque a vida com um barco é melhor


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