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OPINIÃO | PRAÇA PÚBLICA 5

O Ribatejo 15 | Janeiro | 2010

números

há vinte anos

Sua insolência, o senhor Buraco, tomou conta das estradas - era o título da reportagem de há 20 anos, antes da chegada das autoestradas. A universidade pública sem vagas, fechava a porta a mil jovens candidatos do distrito. Os deputados calçavam as botas para verem os estragos deixados pelas cheias do Tejo. Os correios de Santarém voltavam ao “palácio” remodelado, depois de 1,3 milhões gastos.

400

Os números divulgados pelo Observatório da Diabetes são assustadores: 400 mil portugueses têm a doença, mas não o diagnóstico. E, sem o saber, não podem tratar-se. A estes somamse mais dois milhões acima dos 20 anos em risco de virem a ter este problema. Temos ainda 60 mil novos casos de diabetes por ano, uma das mais altas incidências da Europa.

estrelas

Carlos Beato Autarca

O ribatejano Carlos Beato, que preside à Câmara de Grândola, foi agora eleito presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral, onde vai gerir 33 milhões de fundos comunitários para investimento naquela região. O mesmo autarca foi também eleito presidente do Pólo de Turismo do Litoral Alentejano. Mérito reconhecido a Carlos Beato, o militar de Abril que integrou a coluna de Salgueiro Maia.

A espuma dos dias

Armando Fernandes

A segurança dos passageiros por via aérea restringe movimentos e obriga a chegar aos aeroportos com grande antecedência. É o preço que pagamos por causa dos actos terroristas.

Numa disputa renhida entre três candidatos, foi Jorge Justino que venceu as eleições para a presidência do Instituto Politécnico de Santarém. Regressa assim ao cargo que já exerceu durante dez anos, mas agora com um novo enquadramento institucional que traz maior centralidade à gestão do Politécnico. Deixa ainda vaga a direcção da Escola Agrária que irá agora a votos. (Pág. 19)

Garcia Correia Provedor Misericórdia de Santarém

Na hora da despedida do cargo de provedor, Garcia Correia faz um balanço amargo dos 9 anos em que esteve à frente da Misericórdia de Santarém. Diz sair com o sentido do dever cumprido, mas não poupa críticas aos tribunais, à Segurança Social, à Câmara de Santarém, e até ao prof. Veríssimo Serrão, pelos inúmeros problemas e entraves que causaram à instituição que agora deixa a Mário Rebelo (Pág. 8).

Comunicação

Viajar na SATA A segurança dos passageiros por via aérea restringe movimentos e obriga a chegar aos aeroportos com grande antecedência. É o preço que pagamos por causa dos actos terroristas perpetrados contra ou nos aviões. Tais restrições, não se discutem, mas devemos questionar procedimentos das companhias de aviação as quais provocam aborrecimentos e desconforto aos passageiros. Assim me aconteceu em dois voos da SATA, de Lisboa para Boston e viceversa. Frequento os aviões desta companhia desde 1970, nos voos inter-ilhas e, porque não tenho escapatória quando o destino é S. Miguel, ou pretendo chegar à snobe bostoniana. No dia 27 de Dezembro, o avião saiu muito atrasado, tendo escalado Ponta Delgada. Aqui, à chegada todos merecemos minuciosa revista. Do avião à gare são escassos cinquenta metros. A lógica da revista seria no momento de embarcar de novo. Mas não. O imbecil nigeriano da tentativa contra o avião em Detroit foi o responsável. No regresso de Boston, nova e longa espera, desta feita a culpa seria dos computadores. Largos minutos a secar, enquanto nos balcões das outras companhias o serviço decorria dentro da normalidade. Durante o voo, tal como no antecedente ouvimos dizer que um decreto-lei racionava o consumo de bebi-

Jorge Justino Presidente eleito do IPS

“Artes” de fazer multidões das alcoólicas. Serviram, novamente, medíocre refeição, em voos longos não devia ser assim, e tornámos a escalar Ponta Delgada. A gare do aeroporto possui uma cafetaria mal apetrechada, nem água gaseificada tinha, enquanto as instalações sanitárias deviam tudo à higiene, o único mictório estava entupido. Uma vergonha não imputável à SATA. Mas já lhe imputo o talento antipático do pessoal, quando pedi um copo de leite a fim de acompanhar o simulacro de sanduíche. Um hospedeiro (?) meneou a cabeça em sinal negativo, o outro deu a nega. Ante o natural protesto acabou por entregar o dito copo de leite, acrescentando: só trazemos um pacote de leite destinado às crianças. Disse-lhe para passarem a trazer dois. Não deixa de ser curioso que uma companhia superabundantemente expansiva no auto-elogio não entenda o ridículo – um único pacote de leite –, além do nonsense na referência à lei no afã de conter o possível assédio dos transportados às bebidas detentoras de álcool. Fugir da SATA para outras companhias é difícil, pois implica transbordo noutros países, mas dado o custo dos bilhetes ser mais barato e não existirem restrições ao consumo de leite, e quanto aos vinhos prevalece o bom-senso, vou optar pelo sacrifício.

Carlos Chaparro

Apesar dos mecanismos e das doutrinas internacionais que consolidam no mundo político as experiências democráticas, ainda são numerosos os ditadores bem instalados que, de forma ostensiva ou dissimulada, usam artimanhas da manipulação para impor a sua vontade.

Por pelo menos duas décadas e meia, vivi e trabalhei sob a ditadura salazarista. E a estudei, em suas formas políticas, sociais e policiais de agir para afirmar e exercer poder absoluto sobre consciências e vontades. Com a violência (explícita e/ou possível) da repressão policial, da censura prévia, do partido único, da aliança quase indestrutível com os mais ricos e da disseminação do medo entre as multidões pobres e desinformadas, Salazar construiu uma ditadura que reinou e resistiu por 45 anos. Assente em um solidário tripé formado pelo poder policial, pelo poder económico e pelo poder político do partido único, a ditadura salazarista adquiriu vida própria, sobrevivendo ao próprio ditador. Como qualquer ditador competente de qualquer tendência ideológica, Salazar foi um fabricante de “verdades” incontestáveis, e as impunha como “verdades” da Pátria. (…) Sei lá por quê, me vêm à lembrança todos esses cenários do salazarismo sempre que vejo as impressionantes fotos das multidões chavistas, em Caracas. Milhares de pessoas uniformizadas, amalgamadas na unanimidade da cor vermelha e do gestual do punho erguido. E a multidão se entrega a slogans proclamados como “verdades”. “Verdades” em torno das quais se celebram os acordos da adesão sem questionamentos à vontade política de Chávez. Sei, porém, que a “realidade Chávez” pouco ou nada tem a ver com a “realidade Salazar”. Chávez foi democraticamente eleito, em

eleições acompanhadas de perto por observadores internacionais. Tem e exerce um poder recebido das urnas. E, quer se goste ou não do seu estilo dramaticamente populista, é um líder verdadeiramente forte no seu país. Onde a oposição continua a existir e a manifestar-se, não sei com que limitações e possibilidades. Mas que Hugo Chávez tem jeitos, trejeitos e impulsos de ditador, lá isso tem. Tão fortes, que nem ele faz questão de escondê-los. Como se trata de um político de razoável estofo intelectual, não custa a crer que tenha estudado muito bem as artes e malas-artes dos grandes ditadores retóricos do século XX – de Hitler a Fidel Castro. Pelas demonstrações que dá, não só estudou tais artes e malas-artes, mas as actualizou, adequando-as às suas ambições pessoais. Porém, como problema ou como solução, Chávez pertence aos venezuelanos. Razão mais do que suficiente para parar por aqui, propondo aos leitores a seguinte idéiachave: Criar um pensamento mágico que não passa pela razão é a lógica das manhas e artimanhas da manipulação, das quais fazem parte os slogans, o gestual e os símbolos, responsáveis pela mediação entre os instintos e as opiniões. Sempre com o apoio de mecanismos de repetição – como Salazar fazia e os ditadores e demagogos de hoje continuam a fazer. * Professor jubilado da Universidade de S. Paulo (texto integral em www.oxisdaquestao.blogspot.com.br)


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