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NOVA ECONOMIA / O CEARÁ QUE CRIA, CONECTA E ESCALA. NO CRUZAMENTO ENTRE CIÊNCIA, MAR, CULTURA E TECNOLOGIA, O ESTADO FIRMA SEU LUGAR NO MAPA DA INOVAÇÃO BRASILEIRA.

DIVULGAÇÃO/

MAR DEOPÇÕES

OCeará nunca precisou esperar pelo futuro — sempre preferiu construí-lo. Ao longo dos últimos anos, esse movimento ganhou forma, método e velocidade. Hoje, o estado vive um momento singular, no qual tradição, criatividade e tecnologia se cruzam para formar um ambiente fértil de inovação. Este caderno nasce justamente para revelar esse Ceará em modo startup: um território que cria, experimenta, pesquisa e empreende, conectando vocações históricas a oportunidades globais.

Nas próximas páginas, o leitor encontrará um panorama amplo e atualizado de um ecossistema que se consolidou com governança, investimento e visão estratégica. Começamos pelo mapa das startups, que mostra o avanço acelerado do estado — agora o segundo do Nordeste em número de empresas inovadoras — e seguimos com histórias que explicam esse salto. Da força da educação corporativa, representada por cases como a Eduvem, às políticas públicas que estruturam programas de fomento e aproximam universidades, setor privado e governo.

O caderno também percorre o litoral e mergulha na economia do mar, onde ciência e tradição transformam recursos naturais em emprego, impacto social e exportações recordes. Do cultivo comunitário de algas às pesquisas de biotecnologia marinha, o Ceará mostra como inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas.

E porque a criatividade também move a economia, destacamos ainda iniciativas culturais que se tornaram motores de renda, identidade e futuro. Moda autoral, gastronomia de território, audiovisual em expansão — um conjunto de expressões que reafirma o que somos: um estado que cria, que experimenta, que ousa.

Este caderno é um convite para enxergar o Ceará que está sendo desenhado agora. Um estado que não apenas acompanha as transformações do mundo, mas encontra, nelas, caminhos próprios para crescer. Bem-vindo ao Ceará que inventa o amanhã.

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RAIO X 2025

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CEARÁ, UM ESTADO EM MODO STARTUP

DA EDUCAÇÃO

CORPORATIVA À

ECONOMIA DO MAR: COMO O CEARÁ AVANÇOU

NO ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO E SE TORNOU

O SEGUNDO ESTADO DO NORDESTE EM NÚMEROS DE STARTUPS

Começar algo novo sempre foi parte da identidade cearense. Inovar, fazer diferente, encontrar saídas onde ninguém via. Essa vocação para o novo se reflete também na economia: o Ceará é hoje o segundo estado do Nordeste com o maior número de startups, empresas criadas para transformar ideias em soluções.

São 875 startups em atividade no Ceará, de acordo com levantamento do Observatório Sebrae Startups, plataforma do Sebrae que mapeia mais de 20 mil empresas do tipo em todo o país. Fortaleza concentra cerca de 63% desse total (551 empresas), seguida por Juazeiro do Norte, Sobral e Tauá, que possuem respectivamente 47, 36 e 31 startups. Entre os nove estados nordestinos, apenas Pernambuco aparece à frente, com 870 empresas inovadoras. Mas o estado vizinho abriga há mais de 24 anos o Porto Digital, principal distrito de inovação da América Latina, o que reforça o avanço cearense, considerando o ritmo acelerado de crescimento do setor. Em 2019, em plena pandemia da Covid-19, o Ceará já registrava aumento de 36,5% no mercado de startups. Uma força que consolidou Fortaleza no mapa da inovação do Nordeste.

Segundo Herbart Melo, articulador da Unidade de Inovação do Sebrae Ceará, a governança tem sido um dos diferenciais do ecossistema cearense, articulando cooperação entre atores e fortalecendo um ambiente urbano concentrado, mas sem perder o olhar para o interior. “Temos uma vocação energética e logística muito clara, com potencial competitivo em renováveis, hidrogênio verde e economia do mar. O desafio é escalar soluções locais com apoio técnico e acesso a mercados nacionais”, pontua.

Para Herbart, o estado entra em 2026 com um ecossistema “maduro, conectado e em expansão”, fruto da integração entre políticas públicas, universidades, setor privado e o próprio Sebrae. “A consolidação dependerá da continuidade dessa articulação intersetorial e da capacidade de transformar vocações regionais em cadeias globais de inovação”, analisa.

MAPEAMENTO DAS STARTUPS NO CEARÁ

15,92%

Tecnologia da informação

11,90%

Saúde e bem estar

10,86%

Educação

6,25%

Gestão e Consultoria

5,36%

Agronegócio

Total:

5,36%

Impacto Socioambiental

4,02%

Serviços profissionais

3,87%

Alimentos e bebidas

3,72%

Comunicação e Mídia

3,57%

Varejo e Atacado

875 startups

Fonte: Sebrae

Do Ceará para o mundo

A Eduvem, plataforma de aprendizagem corporativa que nasceu no Ceará, rapidamente se projetou no cenário nacional. Criada para transformar o aprendizado em performance, a startup desenvolveu uma solução que une tecnologia, inteligência artificial e experiência humana, permitindo que empresas criem suas próprias universidades corporativas e personalizem trilhas de aprendizagem. “Nosso propósito é fazer da tecnologia uma aliada do aprendizado humano. Acreditamos que a verdadeira inovação acontece quando ela potencializa as pessoas e o jeito como aprendem”, destaca o CEO da Eduvem, Vladimir Nunan Reconhecida como Top 1 no Prêmio Sebrae Startups de 2025, entre mais de duas mil concorrentes, a Eduvem integra dois dos maiores ecossistemas de inovação do país, o Cubo Itaú e o Inovabra Bradesco, ampliando conexões e consolidando parcerias estratégicas em todo o território nacional. Atualmente, a empresa é referência em educação e desenvolvimento corporativo, com mais de 1,8 milhão de profissionais capacitados e índice de satisfação superior a 98%.

Por trás dos números, está um modelo de aprendizagem inspirado na experiência dos streamings: cada colaborador aprende no próprio ritmo, com trilhas adaptadas ao seu perfil e às metas da empresa. “Programas de mentoria, iniciativas do Sebrae e hubs como a Casa Azul Ventures criaram condições para que a gente validasse nosso modelo de negócio e alcanças-

se visibilidade nacional. Esse ecossistema, ainda em consolidação, tem permitido que ideias locais ganhem escala e atraiam a atenção de grandes investidores. Para 2026,o foco é ampliar a presença no Brasil e consolidar a plataforma como a principal referência nacional em universidades corporativas e inteligência de aprendizagem”, projeta Vladimir. Esse tipo de conquista ajuda a projetar o Ceará como um território fértil para inovação. Um movimento que se fortalece também com políticas públicas e programas de incentivo, como os desenvolvidos pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), que atua na estruturação de ecossistemas de inovação, estímulo à pesquisa e apoio a startups em diferentes estágios de maturidade.

1,8 mi

DE PROFISSIONAIS CAPACITADOS E ÍNDICE DE SATISFAÇÃO SUPERIOR A 98%. POR TRÁS DESSES NÚMEROS ESTÁ UMA COMBINAÇÃO DE IA, DESIGN INSPIRADO EM PLATAFORMAS DE STREAMING UM SISTEMA DE GESTÃO DE APRENDIZAGEM

Políticas públicas de incentivo

No Ceará, a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece) também aposta em uma política de inovação articulada. Um dos avanços institucionais mais relevantes foi a reativação do Conselho Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, após 13 anos de inatividade. O colegiado reúne reitores, gestores públicos e representantes empresariais e da sociedade civil em torno de uma agenda comum. “Esse conselho consolida o diálogo entre os diferentes atores do sistema de inovação cearense, criando um ambiente favorável à formulação de políticas e à tomada de decisões estratégicas”, afirma Sarah Monteiro, coordenadora de Inovação e Empreendedorismo da Secitece.

Nos últimos anos, o Ceará consolidou uma rede de programas e iniciativas que estimulam a criação e o amadurecimento de startups em diferentes estágios. Entre eles estão os Corredores Digitais, o CriarCE e o programa Cientista Chefe, que conecta pesquisadores sêniores às secretarias e órgãos do governo para desenvolver soluções aplicadas à gestão pública. A atuação conjunta entre esses programas forma um sistema coeso, que incentiva o empreendedorismo inovador, amplia o acesso a investimentos e fortalece as cadeias produtivas do Estado.

A Secitece também tem apostado na interiorização da inovação, com iniciativas como a “Trilha da Inovação”, que percorre municípios do interior oferecendo capacitações e divulgando editais de fomento. A criação do Centro de Inovação Cadeia Criativa de Sobral, em parceria com a prefeitura e com recursos da Finep e da Secitece, reforça esse movimento. O espaço, inaugurado em 2024, investe mais de R$ 4,6 milhões para fortalecer o ecossistema criativo e tecnológico da região Norte. “O Ceará vem transformando a inovação em vetor de desenvolvimento regional. Nosso foco é gerar competitividade de forma sustentável, respeitando as vocações econômicas de cada território”, analisa Sarah.

POLÍTICAS PÚBLICAS QUE IMPULSIONAM A INOVAÇÃO NO CEARÁ

CORREDORES DIGITAIS

Maior programa de aceleração de startups do Norte e Nordeste, liderado pela Secitece. Em 2025, recebeu investimento de R$1,5 milhão.

CRIARCE

Programa voltado para startups de hardware. A parceria mais recente, com a Escola de Saúde Pública do Ceará, apoia projetos em dispositivos médicos e tecnologias para o SUS.

PROGRAMA CIENTISTA CHEFE

Iniciativa que aproxima universidades da gestão pública, levando pesquisadores sêniores para dentro das secretarias estaduais.

FUNDO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA (FIT) Criado em 2004, garante recursos permanentes para apoiar projetos de pesquisa e inovação em empresas cearenses, fortalecendo cadeias produtivas estratégicas.

TRILHA DA INOVAÇÃO

Ação itinerante que leva capacitações e editais de fomento ao interior do Estado, com palestras e workshops sobre criação de negócios regionais. Já capacitou mais de 5 mil pessoas.

REDE DE AMBIENTES DE INOVAÇÃo

Com 35 ambientes ativos, a rede conecta startups a espaços de experimentação e mentoria, priorizando a vocação regional de cada território.

CENTRO DE INOVAÇÃO CADEIA

CRIATIVA DE SOBRAL

Novo polo de inovação inaugurado em 2024. Investimento de R$ 4,6 milhões para fortalecer o ecossistema criativo e tecnológico da região Norte do Ceará

Fonte: Secitece

DA BEIRA DO MAR AO LABORATÓRIO:

O CEARÁ QUE

CRIA,

PESQUISA E EXPORTA INOVAÇÃO

COM AS PRÁTICAS COMUNITÁRIAS E OS AVANÇOS EM BIOTECNOLOGIA, O ESTADO CONSTRÓI UMA ECONOMIA AZUL FORTE QUE UNE SUSTENTABILIDADE, CIÊNCIA E MERCADO.

Na comunidade da Barrinha, em Icapuí, o sustento vem do mar e também das mãos das mulheres. Foi observando as avós e as marés que Aldeneide Silva aprendeu, ainda criança, a catar algas durante as férias escolares. O que era brincadeira virou ofício e depois um projeto pioneiro. Em 2001, com o apoio da Fundação Brasil Cidadão, Aldeneide e outras moradoras da região começaram uma capacitação em cultivo sustentável de algas marinhas e assim nasceu o projeto Mulheres de Corpo e Algas.

O grupo surgiu da preocupação com a devastação do banco natural, conhecido como banco dos cajuais, ameaçado pela extração descontrolada e pela exploração comercial sem retorno para a comunidade. O que começou como aprendizado se transformou em um modelo de negócio comunitário e sustentável. Hoje, o Mulheres de Corpo e Algas reúne dez famílias, com cinco mulheres à frente das operações e uma rede que envolve filhas, tias, mães, primas e vizinhos. “A gente não tinha nem ideia do tesouro que tinha em mãos. Antes, a gente vendia para o atravessador e era no máximo um real por quilo. Hoje, o valor pode chegar a trezentos e cinquenta”, con-

ta Aldeneide, que vê no projeto não só uma fonte de renda, mas um instrumento de preservação ambiental e empoderamento feminino. As mudas das algas são retiradas do banco natural e amarradas em cordas no mar, em um processo que dura cerca de 90 dias. “A cada 15 dias, a gente vai no mar ver se elas estão crescendo, se caíram, se perderam e depois faz a retirada, lava, seca no sol. Passa por todo um processo antes de virar alimento”, explica Aldeneide. A técnica alia ciência e tradição. Com a capacitação, as mulheres aprenderam a tratar a alga a extrair o ágar, matéria-prima usada em alimentos como gelatina, iogurte, biscoitos, panquecas, pizza, doces e saladas, além de sabonetes, cremes e xampus. Durante anos, parte dessa produção chegou às escolas públicas da região por meio de programas de merenda escolar, parceria que o grupo tenta retomar. “A gente não tira o sustento do projeto, temos outras atividades. Tudo que é arrecadado é para manter o nosso espaço, com água, luz, internet, reforma, compra de material novamente, uma emergência. O nosso ganho é quando nós vendemos almoço, cafés da manhã e merenda para as escolas. Nosso objetivo é fazer isso acontecer”, enfatiza.

Aldeneide Silva aprendeu a catar alga na infância, mas não imaginava o valor do produto que tinha nas mãos
O ágar é a matéria prima extraída das algas para a produção de alimentos e cosméticos

Economia que vem do mar

Na economia do mar, o caminho é unir tradição e inovação. Da pesca artesanal às pesquisas em biotecnologia marinha, o Estado vem transfor mando seus recursos naturais em conhecimento, emprego e desenvolvimento. A força dessa agen da se reflete em resultados concretos. O Ceará está entre os principais exportadores de pescado do país, registrando US$ 93,8 milhões em pesca dos em 2024. O maior valor entre todos os Esta dos do Brasil, conforme os dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) Entre os produtos mais exportados estão lagosta, atum, pargo, cioba, ariacó e guaiúba, cujo mercado externo é fortemente voltado para os Estados Unidos, principal destino do produto cea rense. Além do desempenho nas exportações, o setor vem ampliando o valor agregado da produ ção local, com investimentos em processamento, rastreabilidade e certificações. Segundo o Gover no do Ceará, a cadeia gera mais de 50 mil empre gos diretos e indiretos, sendo 10.800 vinculados à indústria formal de pesca e aquicultura e 31.448 relacionados à atividade pesqueira registrada. O estado é líder nacional na produção de camarão cultivado, cujas estimativas ultrapassaram as 110 mil toneladas em 2024, cerca de 55% da produção brasileira.

empregos vinculados à indústria formal de pesca e aquicultura

31.448

empregos vinculados à atividade pesqueira registrada

Edmar Maciel Junior é o coordenador geral da pesquisa sobre a pele de tilápia, há 10 anos. Foto Sociedade Brasileira de queimaduras

A pele da tilápia é, desde 2015, protagonista de pesquisas da medicina regenerativa brasileira, baseada em técnica inovadora criada na Universidade Federal do Ceará. Ao longo de dez anos, novas abordagens ampliaram suas aplicações, hoje presentes no tratamento de queimaduras e úlceras, em cirurgias de reconstrução vaginal, em procedimentos de redesignação sexual e também na veterinária. “Essa pesquisa reposicionou o estado do Ceará no cenário brasileiro e internacional como pesquisa científica de elevado padrão”, destaca o coordenador geral da pesquisa com pele de tilápia, Edmar Maciel Lima Júnior. O produto é uma solução inovadora que melhora de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo o limiar de dor, a necessidade de trocas de curativos, o risco de infecções,

o tempo de internação e o gasto com insumos médicos, além de diminuir a carga de trabalho das equipes de saúde.

O estudo, que revolucionou o uso de biomateriais no Brasil e inspirou pesquisas internacionais, já beneficiou mais de 700 pacientes e entrou em uma nova fase. A pele liofilizada de tilápia foi transferida para o setor privado por meio de oferta pública. A empresa vencedora, a Biotech, ficará responsável por registrar o produto na Anvisa, construir a fábrica e iniciar a produção em escala comercial. “Nesses dez anos de pesquisa, nós já temos dois produtos prontos para serem transferidos para a indústria. Transformamos o conhecimento científico quando o produto saiu da bancada para chegar ao consumidor final que é a população”, detalha Maciel.

A TRAJETÓRIA DA PELE DE TILÁPIA

A pesquisa que beneficiou mais de 700 pacientes vai iniciar a produção em escala comercial

2015

A pesquisa com a pele de tilápia tem início na Universidade Federal do Ceará, sob coordenação do cirurgião Edmar Maciel. O estudo revela o potencial terapêutico da pele do peixe no tratamento de queimaduras.

Fonte: UFC

2016–2023

O projeto se expande e ganha reconhecimento internacional. São 388 pesquisadores envolvidos em 10 estados brasileiros e 9 países, com 45 artigos publicados, 27 prêmios e quatro produtos patenteados no Brasil e no exterior.

2024 Uma das tecnologias, a pele liofilizada, é transferida para o setor privado por meio de edital público. A empresa vencedora passa a ser responsável por registrar o produto na Anvisa e iniciar a produção em escala comercial.

2025 É inaugurado o Laboratório de Pesquisa da Pele de Tilápia no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM/UFC), com 225 m² de estrutura moderna para desenvolver novos produtos e aperfeiçoar os já existentes.

FUTURO VERDE ENERGIA RENOVÁVEL,

HIDROGÊNIO E US$ 30 BILHÕES NO PECÉM

UM PANORAMA DA FORÇA RENOVÁVEL QUE REPOSICIONA O

CEARÁ COMO REFERÊNCIA EM INOVAÇÃO, SUSTENTABILIDADE E INFRAESTRUTURA PARA O FUTURO.

OCeará está consolidando uma estratégia ambiciosa de economia sustentável. Segundo a Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), o estado já conta com 55 usinas solares, somando 1,26 GW e 103 parques eólicos, com capacidade de 2,69 GW. Além disso, há 26 projetos eólicos offshore em licenciamento, com potencial estimado em 64,3 GW, o que reforça a vocação do estado para liderar a geração limpa e pavimentar caminhos para a exportação sustentável de energia. No centro dessa transição está o Hub de Hidrogênio Verde do Pecém, o primeiro do Brasil. De acordo com a SDE, sete empresas (Casa dos Ventos, Auren Energia, EDF Renewables, Fortescue, FRV, Fuella AS e Voltalia) assinaram pré-contratos que somam US$30 bilhões. As empresas já pagam pela reserva de área enquanto definem suas estratégias até 2026, com previsão de início da produção a partir de 2028. A meta é ambiciosa: alcançar 1 milhão de toneladas de hidrogênio verde por ano até 2030, consolidando o Ceará como polo internacional de exportação limpa.

“Uma frase que eu sempre costumo dizer é que o futuro do Ceará passa aqui pelo Pecém. Estamos nos consolidando como um dos maiores hubs industriais e logísticos da América Latina, com forte protagonismo na transição energética e com uma base industrial moderna, sustentável e integrada com os mercados internacionais. Queremos que o Complexo seja sinônimo de inovação, oportunidade e sustentabilidade”, reflete Max Quintino, presidente do Complexo do Pecém. A expansão da infraestrutura avança em diferentes frentes. O Complexo do Pecém desenvolve uma planta de amônia verde, novos corredores

COP30

ENERGIAS RENOVÁVEIS NO CEARÁ

55 usinas solares

103 parques eólicos

26 projetos eólicos offshore em licenciamento

Fonte: SDE

logísticos e um data center de escala continental. Para garantir abastecimento hídrico às novas operações, foi firmado um pré-contrato com a Utilitas, responsável por fornecer água de reúso pelo Projeto Hidrus, que trata efluentes da Região Metropolitana de Fortaleza e os direciona às indústrias da ZPE Ceará. Essa solução reduz a pressão sobre fontes naturais e reforça a segurança hídrica para operações industriais de grande porte.

Max Quintino explica que esse novo ciclo de investimentos vem acompanhado de iniciativas que ampliam o alcance da transição energética no estado. “Outro ponto relevante é o Projeto Data Center da Casa dos Ventos na ZPE Ceará, que prevê R$ 56 bilhões para a instalação de uma unidade industrial de processamento de dados e mais R$ 22 bilhões na construção de novas usinas de energia renovável espalhadas por todo o Estado, atendendo a demanda de energia do empreendimento”, afirma Max

Durante a 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) realizada em Belém, o governador Elmano de Freitas destacou o pioneirismo do Ceará na transição energética justa. Representando os estados do Nordeste no painel “Do Nordeste para o Mundo: o papel da Caatinga e do Hidrogênio Verde para a Transição Energética Justa”, Elmano ressaltou aos presentes que a pauta ambiental no Ceará se revela como uma oportunidade de desenvolvimento econômico aliado à inclusão social.

Entre as ações citadas, o governador destacou a implantação dos primeiros parques eólicos comerciais do país. Esse processo, iniciado ainda na década de 1980, teve como marcos importantes a implantação de uma planta de biodiesel e bioquerosene de aviação; a criação de um atlas interativo eólico e solar; o fato de o Ceará ter sido o primeiro estado do Brasil a injetar biogás em sua rede de gás natural; e a instalação da primeira usina solar interligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Todos esses projetos foram pioneiros no país, assim como o Hub de Hidrogênio Verde do Brasil, sediado no Ceará.

A

CRIATIVIDADE QUE MOVE

A ECONOMIA CULTURAL DO CEARÁ

INICIATIVAS TERRITORIAIS, MODA AUTORAL, AUDIOVISUAL EM EXPANSÃO E PROJETOS ESTRUTURANTES REVELAM A FORÇA DE UM

SETOR QUE TRANSFORMA RENDA, MEMÓRIA E FUTURO

Farinha de mandioca, manteiga da terra, côco e rapadura. Mistura tudo e você tem a tradicional farinhada, prato típico de comunidades tradicionais cearenses. Em Conceição dos Caetanos, comunidade quilombola em Tururu, cidade a 107 km de Fortaleza, a criatividade de um empreendedor transformou a mistura de todos esses ingredientes em um sorvete que já agradou milhares de cearenses nos últimos 5 anos e modificou a realidade de Joélho Caetano. “Eu sentia que não era valorizado e como uma pessoa apaixonada pela gastronomia pensei que poderia juntar as práticas da farinhada com o meu negócio e criar algo novo que contasse a história do meu quilombo,” relembra.

O Sorvete de Farinhada é a principal pedida da sorveteria Caetanos, que fica na comunidade. É também um case de sucesso do Laboratório de Criação da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, mantida pela Secretaria de Cultura do Ceará. Foi lá, que o jovem Joélho decidiu transformar sua ancestralidade em produto “ Eu entrei no laboratório sem saber ao certo do que se tratava. Eu só tinha a ideia de fazer um sorvete de mandioca, mas quando eu entro no laboratório e descubro a grandeza da escala, eu passo a entender que meu projeto poderia ser algo muito maior. A escola me proporcionou conhecer outros mundos para além do quilombo”, reconhece o empreendedor.

Iniciativas como a de Joélho revelam a força cultural e econômica que emerge dos territórios. Mas o Brasil ainda convive com um déficit histórico de dados sobre a chamada economia criativa. O levantamento mais recente é o da plataforma de mensuração do PIB da Cultura e das Indústrias Criativas, do Observatório Itaú Cultural. Segundo o estudo divulgado em 2023, o Ceará movimentou mais de R$11 bilhões em receitas vindas de atividades criativas, com lucros superiores a R$2 bilhões e 4.403 negócios formais ativos em 2021

A moda em destaque

De acordo com a pesquisa, iniciativas de base comunitária e territorial como a de Joélho, representavam 0,45% do PIB cearense. Uma prova de que, havendo capacitação e incentivo, projetos como o que vem de Conceição dos Caetanos, transformam a criatividade não só em produto, mas em memória e sustento.

Dentro do campo da Cultura, a moda responde por 57% das empresas criativas instaladas no Ceará, seguida por Publicidade e Serviços Empresariais, com 14%, e pelos serviços de Tecnologia da Informação, que somam 6%. Juntos, os setores representam 75% das empresas criativas do Ceará. A força da moda cearense também pode ser percebida no impacto social e na inovação de marcas que nasceram conectadas às comunidades e ao fazer manual. Entre os exemplos mais significativos está a Catarina Mina, criada pela designer Celina Hissa. Desde 2005, a marca investiga e atrela os saberes populares das artesãs do estado trabalhando diversas tipologias como renda de bilro, labirinto e crochê, a primeira técnica utilizada pela marca. Mas foi em 2019 que os produtos passaram a carregar um QRCode que revela a história, o rosto da artesã que o confeccionou e onde ela mora.

“A gente acredita que o fortalecimento do artesanato e das artesãs, que são um patrimônio cultural do Ceará, está ligado a uma mudança no consumo, mais consciente e atento à sustentabilidade. Quando as pessoas compreendem o que existe por trás de uma peça acabada, o processo, o tempo, o conhecimento e tudo o que envolve a cadeia da moda, essa comunicação e essa transparência fortalecem toda a rede de artesãs e garantem a continuidade desse fazer”, defende Celina.

A força do audiovisual cearense

Com uma cadeia que envolve cinema, TV, publicidade, animação, games e produções para plataformas digitais, o audiovisual cearense está retomando seu potencial. Dados de uma recente pesquisa encomendada pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que a cada real investido no setor, R$3,10 retorna para a economia estadual, resultado superior ao da agricultura e próximo ao desempenho de setores tradicionais como confecção e construção civil.

A pesquisa também evidencia o impacto das políticas públicas que, ao longo dos últimos anos, ampliaram editais, qualificaram equipes, estruturaram laboratórios e criaram condições para que a produção local alcançasse circuitos nacionais e internacionais, movimento reforçado pelo lançamento da Siará+, primeiro plataforma de streaming dedicado ao audiovisual cearense lançada em agosto. “É um grande palco para o cinema do Ceará e também uma Iniciativa Inovadora e que contribui para avançar. A gente financia muita produção e agora temos também esse espaço de difusão para que tudo aquilo que é produzido seja também consumido”, explica a secretária de cultura do Ceará, Luisa Cela.

DADOS DO AUDIOVISUAL CEARENSE

R$ 3,10 de retorno econômico para cada R$1 investido 12.796 ocupações mapeadas no estudo 64% dos empregos são formais 64% dos trabalhadores têm ensino superior completo

62% dos profissionais são pretos, pardos ou indígenas 74% dos postos são ocupados por homens

31,4 empregos gerados a cada R$1 milhão investido

Fonte: (Secult Ceará / Fipe) Kariri Criativo

Iniciativa estruturante que visa fortalecer a economia criativa no território do Cariri cearense, o Kariri Criativo une saberes tradicionais, inovação e articulação territorial para impulsionar políticas públicas, formação, produção de conhecimento e desenvolvimento sustentável nas culturas da região. O programa foi desenvolvido pelo Ministério da Cultura em parceria com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura, e com execução da Quitanda Soluções Criativas. A iniciativa estrutura ações formativas, laboratoriais e de governança voltadas para reconhecer, estimular e ampliar as vocações culturais do Cariri, uma região efervescente no Ceará. Um modelo pioneiro de desenvolvimento territorial sustentável. “Pra gente é uma alegria ter essa parceria com o Ministério da Cultura e com o Banco do Nordeste. Ele já está em campo com duas dimensões: a de formação para desenvolver competências de economia criativa e uma outra de fomento aos territórios criativos, transversalizado por uma iniciativa que é o observatório da economia Criativa que vai ser fundamental para dar conta das lacunas de produção de informação sobre esse setor no Ceará e no Brasil”, revela Luisa.

Catarina Mina foto Jamile Queiroz
O sorvete de farinhada foi desenvolvido por Joélho dentro do Laboratório de Criação da Escola de Gastronomia Social

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