CEARA-DE-VALORES_ARTES-VISUAIS (1)

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A Arte como política de vida

COMO A LINGUAGEM

CRIA PONTES E REDESENHA UM CENÁRIO PULSANTE E JOVEM NO CEARÁ

EDITORIAL

As artes visuais são, ao mesmo tempo, espelho e fresta: refletem realidades e abrem caminhos para enxergar o que muitas vezes é silenciado. No Ceará, elas surgem da tela de um celular trincado, ganham corpo em muros da cidade, atravessam oceanos e se impõem como linguagem política, estética e afetiva. Do óleo sobre tela às cores do grafite, nossos artistas constroem pontes entre passado e futuro, centro e periferia, tradição e contemporaneidade.

Esta 2º edição do caderno Ceará de Valores celebra essa potência. Aqui, a arte é memória, denúncia, mas também sonho – capaz de devolver sorrisos a figuras históricas apagadas, de transformar becos em galerias e de mostrar ao mundo que a criação que nasce nas margens também dita tendências globais. Porque, afinal, arte é resistência, mas é também liberdade. E no Ceará, ela pulsa viva, corajosa e plural.

EXPEDIENTE:

Este é um produto customizado pelo ESTÚDIO O POVO - ESTÚDIO DE BRANDED CONTENT do O POVO. Diretor de Negócios: Alexandre Medina Néri | Gerente de Operações: Michelle Walker Estratégia e Relacionamento: Adryana Joca; Dayvison Álvares Assistente de Projetos: Richard Marques Coordenadora de Conteúdo: Camilla Lima | Líder de Planejamento: Luana Saraiva | Coordenação de Criação: Jansen Lucas | Texto: Caio Castelo | Design: Alessandro Muratore CEARÁ DE VALORES - Concepção e Coordenação Geral: Valéria Xavier Gerente Executiva de Projetos: Lela Pinheiro | Análise de Projetos: Damaris Magalhães | Fale Conosco: www.opovo.com.br

APRESENTAÇÃO:

O acesso às artes visuais no mercado cearense é, por si só, algo que já rende um debate muito interessante. Ao mesmo tempo que é uma das linguagens artísticas mais democráticas e acessíveis, é também algo considerado elitista e para o consumo de poucos. O Ceará hoje dispõe de uma variedade de locais e expressões artísticas que compõe um vasto e plural repertório visual do nosso Estado. São equipamentos como Dragão do Mar, o Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, a Pinacoteca do Ceará, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, além de muitas galerias particulares. Mas a arte visual também está nas ruas, nos muros, nos shoppings, nos objetos, nos livros e em diversos suportes. É nesse mercado em constante expansão que o Ceará de Valores mergulha neste 2º caderno, colocando lado a lado nomes que fazem história com o que há de mais novo nas artes visuais. Não há confronto de idades ou épocas, mas complementaridade. Uma linha histórica que vem desde antes de Antônio Bandeira (1922-1967) e chega ao jovem Blecaute. Aproveitem a leitura.

Marcos Sampaio - Jornalista e curador do projeto

ÍNDICE

10 DA EXPRESSÃO PERIFÉRICA À GALERIA URBANA – A ARTE QUE REDESENHA CIDADES

PATROCÍNIO: REALIZAÇÃO:

12 A RELEVÂNCIA DA FORMAÇÃO PARA A ATUAÇÃO DO ARTISTA E OS DESAFIOS DO MERCADO

4

BLECAUTE: ARTE VISUAL COMO LUTA E RESISTÊNCIA

14 O PODER DA FOTOGRAFIA E DO OLHAR DO FOTÓGRAFO NA CONTEMPORANEIDADE

16

ONDE ESTUDAR ARTES VISUAIS? CONHEÇA FORMAÇÕES EM DIFERENTES NÍVEIS DE ENSINO

Camilla Lima - Coord. de Conteúdo Estúdio O POVO.

ARTE VISUAL

BLECAUTE:

COMO LUTA E RESISTÊNCIA

O ESTUDANTE DE FILOSOFIA E ARTISTA VISUAL FALA SOBRE A SUA OBRA, AS REFERÊNCIAS DE SEU TRABALHO E OS DESAFIOS DO MERCADO

Ele sabe muito bem quem é, de onde veio, o que quer fazer. De um celular com tela trincada à pintura a óleo, Helder Carlos Xavier de Araújo — o Blecaute —, de 24 anos, soma conquistas com as quais nunca tinha nem sonhado. Ele exalta as raízes no Conjunto Riacho Doce, no bairro Passaré, periferia de Fortaleza. Para Blecaute, a arte é uma ferramenta política e de mudança social. O artista quer “ser ponte” entre os mais velhos e os que virão, defendendo sempre o investimento nos que estão “nas margens, nas periferias”. O também estudante de Filosofia pesquisa a temática das liberdades e celebra a população negra no Ceará em suas ilustrações. Conversamos com ele sobre sua obra, referências e os desafios na atuação de um artista visual.

Como começou a sua relação com as artes visuais?

Blecaute - Sou um homem negro, periférico e curso Filosofia na Uece, estes fatos guiam de certa forma todo meu trabalho e arte, pois dizem respeito às lentes que uso para observar o mundo. Em 2019, baixei um aplicativo de ilustração digital em meu celular e comecei a pintar sobre minha realidade enquanto homem negro e favelado, falando sobre meu bairro e sobre o que eu estudava na academia de Filosofia. Uma de minhas primeiras obras feitas em meu celular de tela trincada foi um autorretrato meu enquanto Cristo, intitulada “A partir de meu sangue… Arte", esta obra foi selecionada pelo MASP em um projeto. Neste momento de felicidade, surgiu um comentário nas redes sociais do museu de que todos os trabalhos selecionados eram muito bonitos, menos o meu, pois eu era “muito mal encarado para ser Cristo", assim este se tornou o título de uma de minhas primeiras pesquisas. Sou um artista que nasce do digital e hoje trabalha com pintura a óleo e utilizo minha arte como ferramenta de política.

BLECAUTE TRANSFORMA A ARTE EM FERRAMENTA POLÍTICA, CELEBRANDO A POPULAÇÃO NEGRA E CONSTRUINDO NOVOS IMAGINÁRIOS CONTRA O APAGAMENTO COLONIAL.

Quais foram suas primeiras experiências?

Blecaute - Está sendo uma experiência única ver meu trabalho alcançando espaços que sequer sonhei, foram muitas noites produzindo e estudando para minhas pesquisas de arte. Isso não é garantia de que dará certo, mas temo que se não fosse assim não teria conseguido construir as oportunidades que hoje, felizmente, estão a mim sendo confiadas e eu faço questão de abrir essas oportunidades com quem acredito. Isso aprendi com minha mãe e meu pai, que saíram de suas casas na infância para trabalhar e que sempre dividiram o pouco que tinham. Voltei há pouco tempo de minha primeira viagem internacional, à França, onde fiz uma performance

durante a exposição que faço parte - “Baile Funk: Un cri de liberté”. Há pouco também encerrei minha primeira exposição individual “EU NÃO TENHO MEDO", além de fechar pela segunda vez trabalho com a Kenner, algo muito valioso, pois minha primeira memória de autoestima foi ganhando uma bermuda de veludo e um par de Kenner. Sei que quem é de favela vai entender. Falo isso no sentido de pensar que, para quem não sonhava com nada disso, até que cheguei longe. Fico muito feliz em conseguir citar e trazer meus semelhantes em cada um destes momentos, os eternizando em pinturas mas também no discurso, pois eu sei que eu só sou porque nós somos.

Quais as principais temáticas que você aborda?

Blecaute - Em meu trabalho, eu investigo a temática das liberdades, ora ontológica, ora antropologicamente e, através da potência de fabulação que a pintura permite, construo novos imaginários daqueles que tiveram suas feições e histórias apagadas pelo colonialismo. Neste sentido, penso e utilizo a arte como uma ferramenta de História-memória, rememorando e retomando com dignidade estas figuras. Também concretizo, celebro e afirmo a importância e existência da população negra no estado do Ceara, primeira província a abolir a escravização, mas que por muito tempo foi conhecida por não ter negros. Enquanto licenciando em Filosofia, fui por três anos auxiliar de uma das maiores especialistas e tradutoras de Jean-Paul Sartre no Brasil. Aprendi muito sobre a análise acerca da liberdade enquanto uma condição na qual nascemos condenados a ela. Analiso a liberdade alienada e uma espécie de liberdade antropológica ao analisar o impacto desta liberdade e do peso das ações de outrem na realidade concreta, utilizando arte como ferramenta para isto.

Minha atual pesquisa se chama LIVRE PRA CARALHO, onde proponho uma nova perspectiva para estas figuras que foram apagadas. Quando crio retrato de Preta Tia Simoa e Ana Souza — sendo o retrato uma das técnicas mais valorizadas e destinadas às elites, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo — lhes devolvendo um sorriso aberto, com joias em seus dentes, orelhas e pescoço, com cabelo loiro-pivete e sobrancelha com risquinhos, não apenas busco recuperar suas dignidades, mas aproximá-las de nós, pessoas negras que moram nas favelas de Fortaleza e do Ceará. Ouço constantemente que esse ou aquele retrato lembra uma amiga de alguém que vê estes retratos e isso, para mim, é muito caro, pois são somente 141 anos da abolição no Ceará. Então, estas pessoas tão importantes que tiveram suas feições apagadas estão diretamente ligadas a vida das pessoas negras aqui na nossa terra.

O que você diria para um jovem que quer começar a atuar com artes visuais? De onde começar?

Blecaute - Não acredito que tenha um primeiro passo padrão para iniciar, além de começar. Creio que quem vai levar o fazer artístico como ofício, compreende que este caminho é bem difícil, mas é muito compensador conseguir

explorar com suas subjetividades e poder trabalhar com pesquisa através da arte. A arte se expressa através de diversas linguagens e cada uma destas linguagens carregam suas próprias especificidades e formas de se comunicar, compreender isto é uma virada de chave, entender que determinadas particularidades que eu queira expressar através da palavra, seja pelo viés artístico ou filosófico, será expresso e principalmente compreendido de uma forma diferente, pela forma de compreensão e análise de quem vê a materialidade que saiu de seu trabalho. Conseguir conversar entre diversas linguagens é algo grandioso, pois nos ensina a pensar para além do nosso campo de visão, ganhando não apenas uma espécie de visão periférica, mas novas formas de expressar o que por nós é enxergado e que captura nosso pensamento.

Quais as dificuldades de trabalhar com artes visuais?

Blecaute - O Ceará é riquíssimo em arte e cultura, sendo visto como referência em diversos fatores, dentre eles, a forma como artistas do Ceará enxergam as intersecções em diferentes linguagens artísticas. É algo muito inspirador ver como corpos negros, periféricos, LGBTQIAP+, pessoas com deficiências — corpos que há muito tempo produzem e trabalham com arte, mas que somente recentemente vêm sendo valorizados — também conseguem pesquisar sobre a realidade a partir de sua perspectiva. O Ceará é fonte de muita arte, temos jovens artistas que estão lutando por sua sobrevivência, lutando para botar comida em suas casas, para melhorar a vida da mãe, do pai. Nesse sentido, eu sou só mais um que não tem medo de enfrentar as adversidades.

Quais as suas referências na arte?

DO CELULAR QUEBRADO ÀS

GALERIAS DO MUNDO, ELE PROVA QUE A ARTE PODE ABRIR CAMINHOS, DESAFIAR OPRESSÕES E ETERNIZAR HISTÓRIAS SILENCIADAS.

Blecaute - Assim como foi e como viveram nossos artistas mais velhos que abriram caminho, não podemos cometer o erro que muito é repetido de buscar exacerbadamente pelo pioneirismo, como se estivéssemos inventando a roda; muito pelo contrário, eu não quero ser fim, mas ponte. Porque sozinho é muito fácil ser engolido pelo mercado. (...) Quero ser como os nossos antigos que viram e veem na arte uma ferramenta de fazer política, de fuga da criminalidade tal qual o futebol. É possível, requer muito trabalho de base, mas é possível. Por isso, ouso citar alguns artistas que me dão coragem para seguir fazendo arte. É lindo ver como Pedra Silva fala sobre espiritualidade e como sua corpa enxerga e analisa as suas conexões com a natureza, construindo pontes entre como outras formas de vida que não a humana vive e conversa com o mundo. Também analisando conexões entre esta natureza e humanos que por muito tempo e, de certa forma, ainda hoje, não são vistas como humanas, como pessoas transgênero e travestis. Utilizando ora performance, ora instalações e em suas mais diversas linguagens, Pedra Preciosa expressa sua pesquisa.

Cito também a artista Alexia Ferreira, que analisa o impacto que há no fato de não ter tido um primeiro contato com a criatividade através da arte na infância, quando seu projeto leva o nome de “Fazendo Arte Como Eu Não Podia Fazer Quando Criança”, ela não apenas busca curar e conversar com seu ancestral mais próximo que é seu Eu criança, mas também pensar em como podemos pensar nestas crianças ao criar arte, ao criar exposições e ao pensar a vida, penso que é um pouco disso que ela afirma na obra “PODER PARA AS CRIANÇAS NEGRAS”. Por fim, gostaria de Citar Navegante Tremembé, artista sectagenária e moradora de Almofala, terra indígena localizada no município de Itarema, que faz um trabalho muito precioso enquanto uma guardiã dos saberes culturais do seu povo, utilizando o toá, argila que a artista retira dos mangues, uma técnica aprendida com outras pessoas de sua comunidade e realiza pinturas incríveis sobre a fauna e flora. Poderia citar outros grandes nomes da arte cearense que me permitem não ter medo. São artistas que me fazer crer que mesmo com as dificuldades, conseguiremos seguir produzindo e discutindo política de vida através da arte e da cultura.

Você observa avanço, mais incentivos nos últimos anos? O que falta?

Blecaute - Sem dúvidas. Mas compreendo que a arte é uma luta constante. É muito importante o investimento em artistas que estão nas margens, nas periferias, pois é onde está sendo criado o que há de mais único na contemporaneidade, em diversas linguagens. Nas periferias de Fortaleza, que é onde eu vejo e para onde eu olho, corpos negros e favelados estão fazendo com pouco e entregando excelência, porque tudo que precisamos é de uma oportunidade.

Todos nós estamos com “sangue nos olhos” construindo nossa trajetória, sempre com muita coragem. Espero ver nos próximos anos cada vez mais projetos de intercâmbios artísticos, porque é na troca que a arte ganha ainda mais peso e possibilidades para analisar. Que seja de fato uma política de Estado, que foquem nas periferias, pois historicamente artistas da classe média já acessam esse espaço e dominam as oportunidades. O que jovens artistas das periferias do Ceará estão criando é também em resposta a isso. Nos unindo em diferentes linguagens também porque é necessário. Sozinhos nós somos quebrados muito facilmente, já unidos por todos os meios necessários e entregando excelência, creio que sem dúvidas venceremos e que lutaremos sem medo pela cultura no Ceará.

DA EXPRESSÃO PERIFÉRICA À GALERIA URBANA – A ARTE QUE

REDESENHA CIDADES

Arte urbana e linguagem do movimento Hip Hop, o grafite é uma poderosa forma de expressão artística e cultural, conferindo voz e acesso à arte em comunidades periféricas e marginalizadas. São pinturas feitas no espaço urbano, marcadas por diversas estéticas e estilos, explica Narah Adjane, artista visual formada em Licenciatura em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

Nesse contexto, grafite e pixação fazem parte do mesmo universo, mas cada qual com suas particularidades. “É natural que as pessoas associem uma à outra, mesmo que esteticamente sejam distintas, pois os elementos se

cruzam, os materiais, o contexto da rua, dentre outras coisas. Apesar disso, percebo que existe uma aceitação e compreensão popular maior ao grafite”, analisa a artista, que trabalha com design gráfico, ilustração, graffiti e com pesquisas no campo da Arte Urbana.

Narah é criadora do Projeto Ruela (@projetoruela), que desde 2018 buscar oportunizar o acesso à arte e cultura nas periferias. “Muitos artistas iniciaram trajetória ou foram fortalecidos em mutirões e eventos como os nossos, e essa é a grande magia do grafite: gerar espaços onde a periferia possa ter a chance de se colocar no ‘mapa do mundo’ através da arte de rua. Assim nascem as grandes referências.”

DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO MERCADO DA ARTE

O grafite não necessariamente tem relação com trabalho, contudo, “existe uma grande rede de trabalhadores que movimenta essa cena e faz acontecer não somente em grandes eventos, mas também na cena underground”.

Existem também os que se dedicam ao trabalho através da venda de materiais estilizados, como prints, adesivos, telas, roupas personalizadas, dentre outros itens.

O muralismo é um dos principais formatos que os artistas aderem como meio de geração de renda, que são as “pinturas comerciais”. Desde fachadas de estabelecimentos e anúncios, até artes autorais para compor visualmente comércios, escolas ou residências de forma decorativa.

Ela destaca também os eventos e projetos que pagam cachês, geralmente vindos de equipamentos públicos e instituições que dialogam com arte e cultura, mas são trabalhos mais pontuais. Contudo, “são espaços importantes para construção de portfólio e experiência para quem quer se destacar na cena”.

Outra forma, segundo a artista, é através dos editais culturais que requerem outro tipo de conhecimento, já ligado à produção de eventos, escrita de projetos e outras necessidades logísticas.

“Existem muitos caminhos, e acredito que não somente no Ceará, mas no país, ‘viver de arte’ ainda é desafiador e requer muita estrutura para que o artista consiga se desenvolver comercialmente, especialmente percebendo recortes de gênero, classe e raça que incidem na trajetória de cada artista. Por isso, é importante estar perto de pessoas e referências que podem auxiliar nesse processo. Partilhar informações e estratégias é um desafio, mas é nesse tipo de fortalecimento que a cena artística se expande e se afirma”, compartilha.

ESTILOS E ESTÉTICAS DO GRAFITE

Narah Adjane detalha que o movimento do grafite tem um gradiente de estilos e estéticas muito diversificado.

Além das possibilidades de fusão entre esses e outros estilos. Materiais: também são diversos, mas os mais utilizados são tinta spray e látex.

Seja no rolinho, no pincel ou na lata, o grafite tem certa liberdade no uso de técnicas, dependendo essencialmente do estilo que o artista quer adotar.

Dica: o grafiteiro Tresum (instagram @_tresum) tem um trabalho interessante nas redes sociais que traz informações sobre esses estilos e como identificá-los esteticamente.

PARA CONHECER: NOMES DO GRAFITE

Por Narah Adjane

A nível local, existem diversos artistas em Fortaleza que se destacam, como Kel, Pirata Hemfil, Brooks, Márcio Careca, Dinha Ribeiro, Berin, Érica R., Zé Vitor, dentre tantos outros.

A nível nacional, inúmeros eventos são muito importantes e movimentam centenas de artistas pelo país, além de atrair artistas internacionais, como o Festival Concreto (CE), Além da Rua (CE), Pão e Tinta (PE), Bahia de Todas as Cores (BA), Ruaz (PI), grafite Queens (AM), Festival Delas (MG), dentre outros.

3D Wildstyle Grapixo

Apesar de desafios persistentes, como a descontinuidade de políticas públicas e a fragilidade das estruturas de apoio, ela destaca que é importante reconhecer os avanços, com a criação de novos espaços e o fortalecimento de iniciativas importantes.

“O ARTISTA, PRINCIPALMENTE O ARTISTA CONTEMPORÂNEO, ELE É SEMPRE UM PESQUISADOR”.

Raisa Christina, artista visual e coordenadora da Escola Pública de Artes Visuais da Vila das Artes, fala sobre a importância da formação para a atuação do artista.

A RELEVÂNCIA DA FORMAÇÃO PARA A ATUAÇÃO DO ARTISTA E OS DESAFIOS DO MERCADO

A Vila das Artes é um equipamento da Prefeitura de Fortaleza, vinculado à Secretaria Municipal da Cultura (Secultfor).

Ilustradora, escritora e doutoranda em Literatura Comparada na Universidade Federal do Ceará (UFC), ela destaca que um artista não precisa da legitimação de uma formação para desenvolver a própria arte, mas ter uma base, um repertório vai contribuir para a produção. “Estudar sobre arte, ter uma formação aprofundada, sem dúvidas, vai ajudar a amadurecer o processo criativo, que é tão subjetivo.” É importante entender que o artistas “não cria do nada”. Há sempre contexto e uma história da arte anterior. “Quando a gente vai se dando conta, estudando os diferentes períodos, os diferentes contextos, na verdade, eu acho que é mais inspirador. Quando a gente entende e

começa a se filiar a algumas correntes. ‘Puxa, eu me identifico isso aqui, eu acho que a minha arte tem a ver com isso. Ou então, eu acho que a minha arte vai totalmente contra essa ideia aqui desse momento’”, pormenoriza.

Ela cita o curso de Poéticas Contemporâneas, da Escola Pública de Artes Visuais, focado na profissionalização.

“A gente pensou que há muita gente produzindo há um tempo aqui no Ceará. Pessoas que têm uma pesquisa consolidada, uma produção muito interessante, mas que ainda não entraram num circuito mais comercial ou que não sabem fazer um portfólio, não sabem apresentar ou falar sobre o seu trabalho, não sabem escrever um edital...”, explica.

Para Louise Félix, artista e coordenadora do Laboratório de Artes Visuais da Porto Iracema das Artes, a formação ela é central para um artista. “Não estou falando só de técnica, né? Mas a formação também é ter um espaço para experimentar, para errar, trocar, criar redes com outros artistas. A formação pode ser uma roda de conversa, um grupo de estudo, pode ser um ateliê colaborativo”, analisa.

A Porto Iracema das Artes é a Escola de Formação e Criação Artística do Ceará, vinculada à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult).

Para Louise, que é editora de livros, mestre em Filme de Artista e Imagem em Movimento pela Goldsmiths University of London e licenciada em Artes Visuais pelo IFCE, o cenário das artes visuais no Ceará é dinâmico e em constante evolução. Ela avalia que o mercado de trabalho na área das artes visuais, ainda informal, exige que os artistas busquem diversas fontes de renda e inovem na criação de novos mercados.

“NÃO ESTOU FALANDO SÓ DE TÉCNICA, NÉ? MAS A FORMAÇÃO TAMBÉM É TER UM ESPAÇO PARA EXPERIMENTAR, PARA ERRAR, TROCAR, CRIAR REDES COM OUTROS ARTISTAS.”

“A gente ganhou novos espaços como a Pinacoteca, o MIS, surgiram novos ateliês e espaços independentes na Cidade. Temos também políticas públicas importantes. O Laboratório do Centro Cultural Bom Jardim, o Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, no Crato, com suas residências artísticas, formações em curadoria. A própria escola Porto Iracema das Artes, aqui em Fortaleza, que tem atuação no Ceará inteiro. Tá completando 12 anos de história e é um exemplo concreto de um equipamento que ajudou muito a estruturar o campo das artes visuais aqui no Ceará”, contextualiza.

Porto

Iracema das Artes

ARTISTAS VISUAIS PARA ACOMPANHAR

Por Raisa Christina Sérgio Gurgel, Camila Sombra, Jamille Queiroz, Juliana Siebra, Charles Lessa, Gi Monteiro, Ícaro Reis, Alice Dote, Thadeu Dias, Camila Albuquerque, Gustavo Diógenes, Ingra Rabelo, Haroldo Sabóia, Virgínia Pinho, Bianca Ziegler, Célio Celestino, Marina de Botas, Simone Barreto, Projeto Acidum (Robézio Marques e Tereza de Quinta), Rafael Limaverde, Narcélio Grud, Beatrice Arraes, Olavo Santos, Ramon Sales, Thais de Campos, Luana Diogo, Felipe Camilo e Marco Ribeiro

Exposição. Porto Iracema das Artes
Louise Félix

O PODER DA FOTOGRAFIA E DO OLHAR DO FOTÓGRAFO NA CONTEMPORANEIDADE

A fotografia é uma linguagem poderosa e acessível para documentar, denunciar, além de “expressar emoções e pensamentos de indivíduos e comunidades”. Tirar uma fotografia, hoje, é algo acessível a praticamente todos.

A perspectiva de Iana Soares, diretora executiva do Instituto Mirante de Cultura e Arte, é fruto de décadas de experiência e pesquisa nas relações entre a palavra e a imagem. Jornalista, fotógrafa e professora, ela acredita que “a relevância da fotografia na contemporaneidade é ser um instrumento muito forte de ação entre as comunidades e as pessoas”.

Embora seja uma ferramenta e uma linguagem muito acessível, a fotografia, ao mesmo tempo, é extremamente complexa. “A gente precisa entendê-la também como esse lugar de produção de pensamento, de construção de narrativa e não algo que seja neutro, que seja desprovido de sentido”, reflete. “A fotografia ela não é a realidade em si, ela é capaz de nos ajudar a acessar a realidade, a pensar a realidade”.

“A fotografia sempre foi uma promessa de guardar o tempo e a gente entende que, de alguma forma, ela guarda, sim, um instante. Ao mesmo tempo em que ela guarda isso a partir de um ponto de vista de quem fotografou, daquele grupo fotografado, daquela sociedade fotografada, ela também vai ser lida a partir de outras pessoas que têm repertórios, que tem entendimento de códigos diversos”, relaciona Iana.

“EU ACHO MUITO INTERESSANTE TER GRUPOS QUE SEMPRE FORAM FOTOGRAFADOS DE FORMA SUBALTERNIZADA, HOJE, ESTAREM SE FOTOGRAFANDO E PRODUZINDO SUAS PRÓPRIAS IMAGENS”.

A ORIGEM E A DEMOCRATIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA

Ela contextualiza que a fotografia nasceu em um ponto de virada, no século XIX, especificamente em 1839. Sua criação está fortemente ligada à ascensão da burguesia, classe social em crescimento na época. Dessa forma, a fotografia permitiu que essa classe se documentasse. Anteriormente, apenas reis e rainhas tinham seus retratos feitos por meio da pintura. Com a fotografia, pessoas ligadas à indústria, intelectuais e comerciantes também ganharam a possibilidade de acessar uma imagem própria.

Com o tempo e outros processos, como o acesso ao celular, houve maior democratização da fotografia.

“Eu acho muito interessante ter grupos que sempre foram fotografados de forma subalternizada, hoje, estarem se fotografando e produzindo suas próprias imagens”.

Esse processo também permitiu que grupos que historicamente eram representados pelo olhar de outrem tivessem a oportunidade de usar dessa linguagem para serem autores da própria representação fotográfica. A exemplo de populações indígenas, mulheres, assentados.

“Hoje, o que você tem também são muitas pessoas que até 20 anos atrás talvez não tivessem a possibilidade de ter uma fotografia familiar, de registrar sua infância e, hoje, tem por meio do celular essa possibilidade”, diz.

O QUE É SER FOTÓGRAFO?

Quase todo mundo pode tirar uma foto, mas todo mundo é fotógrafo? O cenário atual de excesso de imagens torna o profissional ainda mais necessário, defende Iana Soares. Da mesma forma que, nem todo mundo que escreve é escritor, nem todo mundo que consegue tirar uma foto é fotógrafo.

Ser fotógrafo é mais do que “apertar um botão”. Para Iana, a atuação de um fotógrafo demanda intencionalidade, conhecimento técnico, estético e ético.

“É muito importante, muito interessante que as pessoas que queiram se apropriar dessa linguagem para contar histórias, para produzir arte, para documentar situações, momentos, vidas, ou seu próprio cotidiano, que coloquem intenção nisso”, demarca.

“O que diferencia o olhar do fotógrafo é justamente essa intencionalidade e entender que não é só sobre a câmera em si, mas é sobre uma forma de estar no mundo, de se relacionar com as pessoas, de olhar para as paisagens, de entender o contexto político e histórico que vive, de entender os limites da sua atuação também como fotógrafo”.

Iana cita a filosofia da caixa preta do filósofo tcheco Vilém Flusser (192091): “Ele vai dizer que muita gente é um funcionário da câmera, um mero apertador de botão, né? E que o fotógrafo seria aquele que vai entender como dominar a câmera para aquilo que ele quer contar, para a intencionalidade da sua criação”, resume.

“Talvez, para mim, o que defina o fotógrafo seja a intencionalidade e o desejo de conhecer, experimentar e usar aquela linguagem para contar coisas, né? Contar histórias, dar suas opiniões, documentar o que acontece com várias pessoas, grupos, com a sua própria vida.”

FOTOS IANASOARES

ONDE ESTUDAR ARTES VISUAIS? CONHEÇA FORMAÇÕES EM DIFERENTES NÍVEIS DE ENSINO

 https://viladasartesfortaleza.com.br/ instagram @viladasartesfortaleza whatsapp (85) 98156-6472

Ú Rua Dragão do Mar, 160 – Praia de Iracema Cursos livres da Escola Pública de Artes Visuais da Vila das Artes (cursos de curta duração)

Voltado a ações formativas de curta duração (média de 3h a 40h) nos espaços físicos e virtuais tanto do Complexo Cultural Vila das Artes, como também, em diversos espaços da cidade, com o objetivo de oportunizar e descentralizar ações formativas em diversas áreas das artes visuais: história, técnicas, apreciação, crítica, cadeia produtiva, etc, compreendendo a diversidade artística e suas transversalidades com outras linguagens. Curso Poéticas Contemporâneas da Escola Pública de Artes Visuais da Vila das Artes (curso de longa duração)

A formação propõe um espaço de pesquisa, criação e profissionalização por meio de módulos organizados como laboratórios de experimentação prática. Atualmente, em fase de seleção para a primeira turma do curso, com duração de 12 meses e oferta de 20 vagas. Ao final do curso, novo edital deve ser lançado. Faixa etária: a partir de 18 anos.

 https://portoiracemadasartes.org.br/ instagram @portoiracemadasartes whatsapp (85) 8156-6472

Ú Vila das Artes (Rua 24 de Maio, 1221 – Centro)

Programa de Formação Básica da Porto Iracema das Artes (curso de longa duração) O Programa de Formação Básica é destinado, prioritariamente, a jovens entre 15 e 29 anos, que estejam cursando ou tenham cursado o ensino médio em escola da rede pública de ensino. Curso propõe percursos formativos em três linguagens: Artes Visuais, Audiovisual e Artes Cênicas.

Para participar, os interessados devem se inscrever em um processo seletivo, aberto no primeiro semestre do ano, seguindo as orientações dos editais de cada edição. A abertura das inscrições é divulgada no site e nas redes sociais da Porto Iracema das Artes. Cada percurso das diferentes áreas oferece, em média, 25 vagas. Processo seletivo pode incluir duas etapas.

O que é: tem como objetivo aprofundar conhecimentos e experiências teóricas e práticas na área das Artes Visuais, promovendo o debate estético e crítico na perspectiva da experimentação de linguagens. A formação, de caráter processual, e a tutoria realizada por profissionais de notório saber no campo das artes visuais, permite que as pessoas artistas participantes ampliem e aprofundem seus interesses, buscando referências e práticas que contribuam com a pesquisa em desenvolvimento.

Inscrições: para participar, os interessados devem se inscrever em um processo seletivo, aberto no primeiro semestre do ano, seguindo as orientações dos editais de cada edição. A abertura das inscrições é divulgada no site e nas redes sociais da Porto Iracema das Artes. Tem duração de sete meses, com bolsa de R$ 1 mil. Já teve 10 edições e 50 projetos desenvolvidos.

IFCE

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (graduação) Campus Fortaleza do IFCE conta com a Licenciatura em Artes Visuais que atende a demanda de formação de professores de Artes para atuar na educação básica. Curso de graduação tem duração de 4 anos e ingresso por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

Vila das Artes
Porto Iracema das Artes
Laboratórios de Artes Visuais da Porto Iracema das Artes (curso de longa duração)
Cursos livres na Vila das Artes
Oficina Porto Iracema das Artes

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