Jornal O Ponto (nº 93) - Maio 2014 - Ed. 2

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Diagramador da página: Eduardo Pensute

Belo Horizonte, 29 de Maio de 2014

O Ponto

Perigo Silencioso Especialistas falam sobre retinose pigmentar, os avanços tecnológicos, os possíveis tratamentos e afirmam: quanto mais cedo se souber o grau do problema visual, mais rápido pode-se tratá-lo. Foto: wendelteste.wordpress.com

Comparação de uma retina normal (esquerda) com a da retinose pigmentar (direita) Janaína Barcelos 7º Período

ção são constatados quando o portador começa a esbarrar em tudo, a tropeçar demais em degraus e a visão noturna fica cada vez mais baixa. Então, a pessoa não tem visão global, enxergando tudo como um quebra-cabeça e sua progressão vai até acometer a visão central. Foto: www.visaolaser.com.br

A oftalmologista Rosane Resende, especializada em retina, explica o que é a retinose pigmentar e os tipos de avanços tecnológicos que estão surgindo nos dias de hoje. Há mais de 30 anos envolvida no assunto, ela diz com convicção que existe esperança para o portador dessa doença degenerativa e pouco conhecida, mas tão presente em nossa sociedade, atingindo 1 a cada 5 mil pessoas no mundo. A retinose pigmentar é uma doença degenerativa e hereditária que acelera a morte das células fotorreceptoras (cones e bastonetes) da retina, lesando o epitélio pigmentar. Consequentemente, não há uma renovação nas células visuais, levando as mesmas a deterioração e com isso a perda progressiva da visão. Os bastonetes são células receptoras responsáveis pela visão do claro e do escuro, as que transmitem luz e sua localização está na visão periférica e na equatorial. Já as células chamadas “cones” são as responsáveis pela nitidez, pelo deta-

lhe, pela qualidade da visão e ficam localizadas na região central. No caso clássico da retinose pigmentar, primeiro são afetadas as células bastonetes, isto é, a periferia da visão fazendo com que o portador perca campo visual e os primeiros sintomas de sua manifesta-

Visão de um portador de retinose classica em progressão

Existe a retinose inversa, que ao contrário da clássica atinge primeiro a visão central e em seguida a periferial. Existem formas simples isoladas como estas e existem os casos associados às doenças sistêmicas, como por exemplo a retinose associada a baixa de audição. Ou seja, a surdez com a acuidade visual e em alguns casos associa-se ao retardo mental, a baixa de produção de hormônios, a diminuição de crescimento e a síndrome associada com alterações de mitocôndria. A médica oftalmologista especializada em Retina, Rosane Resende, formada pela UFRJ, definiu a grosso modo o aspecto do olho de um portador de retinose pigmentar. Ela fez uma analogia da retina com o espelho, sendo uma camada preta que seria o epitélio pigmentar e seis camadas transparentes que seria o vidro, porém o olho de uma pessoa deficiente se assemelharia a um espelho envelhecido que fica manchado representando o que seriam os pigmentos, enxergando assim como se fosse um mosaico.

Ainda sem cura, mas com tratamento Os prognósticos para os portadores de retinose pigmentar já foram muito mais pessimistas, já que não há como impedir a progressão da doença. Mas essa perspectiva está sendo alterada, segundo a oftalmologista Rosane Resende. Segunda a médica, se não há como deter o avanço, sabe-se que é possível torná-lo mais lento. “Há alguns anos, tínhamos uma projeção muito mais pessimista do que ela é. Hoje, sabemos que a progressão pode ser lenta e a manutenção da visão no final da vida ainda é maior do que se programava”, explica. Resende alerta que é necessário levar a sério o cuidado com a saúde, considerando os melhores hábitos de vida como a não ingestão de destilados, a prática de atividades físicas, alimentação saudável e alimentos que contenham a vitamina A. De acordo com ela, em alguns dos casos pode ser possível retardar a progressão da doença. As visitas periódicas aos oftalmologistas são de extrema importância, pois com o cuidado médico pode-se descobrir cedo a deficiência por meio dos exames de fundo de olho e o eletroreti-

nograma, e ficar atento a progressão porque em alguns dos casos pode haver uma inflamação discreta, mas com o diagnóstico precoce é possível regredir o quadro através de outros tratamentos. Avanços tecnológicos trazem esperança aos portadores de retinose pigmentar. Pesquisas A oftalmologista explica que existem 183 genes que são capazes de provocar esse tipo de doença promovendo uma manifestação no fundo de olho. Ainda segundo ela, estão em testes clínicos a colocação de uma cápsula dentro do olho denominada “Terapia de Células Encapsuladas”, que liberam uma substância capaz de estimular a produção de novas células cones e bastonetes melhorando a sobrevida. Esta já foi autorizada pelo FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos, mas ainda não está à venda. A “terapia gênica”, outra forma de tratamento, está em evolução acelerada. Temos uma grande gama de doenças sendo testadas como o Rpe65, Aumorose congênita de leber, Lca5, market que é

um gen responsável por afetar quase 30% de todos os tipos de retinose, ABCA4, que dá vários tipos de manifestações oculares e também já está em teste clínico e para a alegria dos portadores, estes testes estão avançando positivamente. Para se fazer a terapia gênica é necessário que o paciente faça o mapeamento genético, que é feito nos EUA e na Alemanha, para que sejam descobertos o tipo de gene e em seguida, sendo consciente do resultado, possa se tratar. Outro tratamento que está em voga e existe uma grande esperança são as conhecidas “células tronco”; a doutora Rosane explica que a “simples aplicação das células tronco nos olhos não funciona, pois elas podem se diferenciar potencialmente em qualquer tipo de célula, porém nas mais simples, e não é o caso das células da retina, então estão fazendo uma pré-diferenciação transformando anteriormente as células-tronco em célula de epitélio pigmentar e em seguida é aplicada no olho”. Para o caso de quem já perdeu totalmente a visão e que não seja mais possível recuperar alguma célula, o tratamento

que está se fazendo nos Estados Unidos é o implante de chip eletrônico, porque as células fotorreceptoras recebem a luz e transformam em estímulo elétrico dando a possibilidade de visão mesmo que pouca. O primeiro foi o Argus na Califórnia e hoje temos os Argus II (olho biônico), que tem uma quantidade muito grande de fotorreceptores, de pixels e já está sendo implantado em 24 pacientes nos EUA. Na Alemanha, a empresa Retinal Implant AG também começou a fazer o implante do chip com a recepção de 1500 pixels, o que já dá capacidade de leitura mesmo que seja em um campo restrito, mas já dá a possibilidade de se ver alguma coisa também. A oftalmologista Rosane se mostrou muito positiva e acredita que em cinco ou seis anos já existirão notícias bem definitivas para um possível tratamento para a retinose pigmentar. Acontecerá na capital da França, nos dias 28 e 29 de junho o 18º Congresso Internacional da Retina, que trará novidades dos avanços tecnológicos e possíveis tratamentos.


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