








BIOENERGÉTICA: cana, milho, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade, CBio, biohidrogênio e SAF
ano 22 • número 84 • Divisão C • Mai-Jul 2025
Para aproveitar os recursos da Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões, assista a este video.
Para aprovechar los recursos de la Plataforma Multimedia Digital de la Revista Opiniões, mire este video.
To take advantage of the resources of the Opiniões Magazine Digital Multimedia Platform, watch this video.
Pour profiter des ressources de la Plateforme Multimédia Numérique de Revista Opiniões, regardez cette vidéo.
Mais de 4 Bilhões de pessoas ao redor do Planeta falam uma das línguas nas quais a Revista Opiniões é escrita. Todos artigos publicados nos 22 anos estão disponíveis em 7 idiomas com acesso livre para todo o planeta.
Para receber nossas edições mande um e-mail:
Ref. : Cadastro vitalício gratuíto
Para : Jornalismo@RevistaOpinioes.com.br
Português
Espanhol
Inglês
Francês
Árabe
Chinês
Hindi
Aloisio Meloni Viterra
Alex Fogaça Da Pedra
Alexandre de Sene Moura Lacerda
Daniel Pedroso Netafim
Graciela Sobierajski e Gabriel Blain IAC
Inayê Almeida Atvos
Spadotti Embrapa
Evaristo de Miranda Especialista
Leila Dinardo IAC
Matt Loxton Bonsucro
Luiz Carlos Molion Meteorologista
Mariele Nascimento Alta Mogiana
Osvaldo Aguiar Jr CAAE
Rogério Bremm BP Bioenergy
Capa e Índice: Acervo Cerradinho
Walter Batista Jr AGERH-ES
Tirso Meirelles FAESP
Rene de Sordi Enercana
Clique sobre a foto e vá direto para página desejada
Clique sobre a foto e vá direto para página desejada
Click on the photo and go directly to the wished page
Click on the photo and go directly to the wished page
Watch the video
o desmatamento é legal, ilegal, irregular ou legítimo?
Simplismo, ignorância e criminalização dominam as análises do desmatamento na Amazônia. Jornalistas e tudólogos, até do agronegócio, são capazes de opinar sobre pecuária, Ucrânia, mercado de carbono, El Niño , COP30, eleições norte-americanas, florestas energéticas e, é claro, desmatamento. E só o veem num retrato em branco e preto: é legal ou ilegal. Reduzem o desafio da ocupação secular e do complexo uso das terras na Amazônia a uma questão policial. Ignoram a falta de regularização fundiária, o sistema de ilegalização de produtores e do desmatamento, e o eugenismo ambiental em curso na Amazônia.
O Brasil mapeia anualmente o desmatamento na Amazônia há quase 40 anos, com o Programa PRODES do INPE. Os números são analisados pela mídia, opinião pública e Governo como uma cotação na Bolsa de Valores: subiu, desceu, acelerou, diminuiu. Antes de condenar ou justificar, é preciso compreender, qualificar e dar resposta a perguntas, raramente formuladas.
Quantos desmatamentos ocorrem por ano na Amazônia? Se houve um desmatamento total de 12.000 km2, por exemplo, ele resultou da soma de 100 áreas desmatadas de 1.200 km2? Ou de 10.000 áreas desmatadas de 12 km 2? Quantos desmates por ano? A Embrapa Territorial, por geoprocessamento, quantificou. São cerca entre 30.000 e 32.000 desmates por ano. Deles, cerca de 10%, em terras indígenas, obras de infraestrutura, expansão urbana, mineração... Menos de 30.000 desmates por ano no mundo rural.
Quem os realiza? O produtor rural na Amazônia não se assemelha aos do Sul, Sudeste ou Nordeste. A complexidade do mundo rural amazônico combina: atividades sem base na terra, ligadas a territórios (apicultura, pesca, caça...); extrativismos vegetais; grupos humanos, etnias e comunidades em áreas consolidadas (indígenas, descendentes de japoneses, colonos, sulistas, nordestinos...); mais de meio milhão de famílias em assentamentos agrários; agricultores periurbanos e áreas entre as mais produtivas e modernas da agropecuária nacional. Nada comparável em outros biomas.
A Embrapa Territorial quantificou os produtores rurais no bioma Amazônia ao integrar o Censo Agropecuário do IBGE, o Cadastro Ambiental Rural e informações do INCRA. Existe mais de um milhão de produtores rurais lato sensu no bioma Amazônia. Pará e Rondônia, com 407.341 e 157.705 produtores, reúnem 56,1% do total. Deles, mais de 89% são pequenos, com áreas inferiores a quatro módulos fiscais.
Quantos agricultores desmatam? São menos de 30.000 desmates anuais e mais de um milhão de produtores. Se cada desmate fosse obra de um produtor diferente, menos de 3% dos produtores estariam anualmente envolvidos e 97% não participariam. E acusações ambientalistas são contra toda a agropecuária e todos os agricultores. Desmatamento não é a marca da agricultura na Amazônia e sim sua demanda por regularização fundiária, a mãe de todas as batalhas econômicas, sociais e ambientais.
Quantos desses desmatamentos seriam ilegais? Nos limites impostos pelo Código Florestal Brasileiro, um dos mais rigorosos do planeta, um máximo de 20% do imóvel pode ser aberto no bioma Amazônia. Os outros 80% devem ser preservados, como Reserva Legal. Desmatamento “legal” não é sinônimo de “autorizado”. Nos 2.406 projetos de reforma agrária no bioma Amazônia, as 509.907 famílias assentadas praticamente nunca puderam obter autorização para desmatar.
Como solicitar autorização de desmate sem o título da terra? Assentados há décadas, eles não receberam o título de propriedade, apesar da urgência e necessidade dessa regularização fundiária. Os produtores da Amazônia têm direito legal de desmatar, seguindo Código Florestal, e não podem exercê-lo, nos termos e regras da administração. Seus desmates, necessários para viver e sobreviver, são irregulares e não ilegais. E prosseguirão.
O acesso à regularidade administrativa, a autorização de desmatamento, é negado ao produtor. A área ambiental governamental, desde a Constituinte, parece trabalhar pela ilegalização do desmatamento e dos produtores rurais amazônicos. É uma forma de desantropizar a região, expulsar produtores das terras, realizar
a eugenia ambiental e congelar a economia da região, sonho de muitas Organizações Não Governamentais (ONGs) e governos estrangeiros. Mesmo com o título de propriedade, onde, como e a quem o produtor deve solicitar a autorização? Um pequeno agricultor de Machadinho d´Oeste deveria sair de seu lote e percorrer 400 km, até Porto Velho, para solicitar? Ou sair de Oriximiná (AM) e navegar centenas de quilômetros até Manaus? E lá, onde e a quem se dirigir? Com qual documentação?
Não há qualquer esforço para regularizar e municipalizar autorizações de desmatamentos legítimos. Não há desburocratização para desmatar. Não há uma ficha a ser preenchida, orientações ou procedimentos na Internet, como em outros direitos exercidos por um cidadão. Ninguém viu qualquer folheto ou cartilha orientar como obter uma autorização de desmate. Não é assunto da extensão rural. Não há qualquer facilidade para isso. Caso o produtor consiga a proeza da solicitação, como acompanhará e fará valer seu direito, ao retornar às suas terras onde não há sequer eletricidade?
Médios e grandes produtores, com devida documentação, conseguem solicitar a autorização de desmate. Ficam meses e anos sem resposta. Com o protocolo e sem autorização para exercer seu direito. Limbo. Sem sim, nem não. Pior. Às vezes, a área técnica aprova. A autoridade não assina, por medo do ataque da mídia e ONGs ambientalistas, como se crime hediondo fosse.
Há conhecimentos para promover a regularização fundiária, tecnificar os sistemas produtivos e reduzir a demanda por terras? Sim. E nada servem a quem deseja apenas criminalizar e ilegalizar o desmatamento. Toda ilegalidade deve ser combatida e não confundida com irregularidade ou negação de legitimidade. Assentamentos agrários são um exemplo do processo
Jornalistas e tudólogos, até do agronegócio, são capazes de opinar sobre pecuária, Ucrânia, mercado de carbono, El Niño, COP30, eleições norte-americanas, florestas energéticas e, é claro, desmatamento."
Evaristo de Miranda
Especialista em Agronegócio e Inteligência Territorial
Multilingual Edition
da ilegalização do desmatamento. Há outros. No exterior, o Parlamento Europeu foi além. Em nova legislação, a Europa estabeleceu restrições e sanções a produtos agrícolas importados, oriundos de áreas recentemente desmatadas. Pouco importa se legal ou ilegalmente. Para os interesses europeus, desmatamento legal ou ilegal é igual. Esse debate, acentuado por alguns no Brasil, objeto deste artigo, para eles é irrelevante.
Apesar das ações policiais, ditas de comando e controle ambiental, centenas de milhares de pequenos agricultores seguirão re-existindo na Amazônia, com sonhos familiares, trabalho e pequenos desmatamentos para estabelecer roças de mandioca, milho, arroz, feijão, café, frutas, pastos e agrofloresta.
No Amazonas, um produtor entristecido relatou uma conversa com seu filho. Para o jovem, existem duas atividades criminosas na Amazônia: narcotráfico e agricultura. Só contra a agropecuária, a repressão é enorme (polícias, viaturas, helicópteros, ministério público, ONGs, agentes ambientais, drones, satélites etc.). Ele optou pelo narcotráfico, cujos líderes gozam até de acesso livre às mais altas autoridades da ré-pública.
Legal, ilegal, irregular ou legítimo? n
Ensaio especial
El Niño-Oscilação Sul (ENOS) é um processo geofísico que ocorre no Oceano Pacífico Tropical, um exemplo admirável de interação oceano-atmosfera que interfere no clima global e regional. É constituído de dois componentes, o oceânico, denominado El Niño (EN) propriamente dito, e o atmosférico, a Oscilação Sul (OS). O EN é caracterizado por anomalias positivas da temperatura da superfície do mar (TSM), ou seja, águas mais quentes que as normais se estabelecem no Oceano Pacífico Tropical Centro-Oriental, próximo à costa oeste da América do Sul. Quando as anomalias de TSM são negativas, dá-se o nome de La Niña, considerada a fase fria do EN.
A OS é a variação Leste-Oeste da pressão atmosférica ao nível do mar (PNM) sobre o Pacífico Tropical, medida em dois centros, Tahiti (Polinésia, Pacífico Oriental) e Darwin (Austrália, Pacífico Ocidental), e é quantificada pela diferença padronizada da PNM entre esses dois centros que define o Índice da Oscilação Sul (IOS). Em geral, índices negativos, em que a PNM é mais baixa no Pacífico Centro-Oriental que no Pacífico Ocidental, coincidem com eventos El Niño, enquanto índices positivos, em que as diferenças de PNM são contrárias, correspondem a eventos La Niña. Essa coincidência ocorre em cerca de 65% dos eventos.
Eventos El Niño fortes aumentam a temperatura da baixa troposfera global, pois injetam grandes quantidades de calor sensível e calor latente na atmosfera tropical, como foi constatado em eventos recentes.
Por exemplo, no El Niño de 1997/98, conforme dados obtidos por sensores a bordo de satélites, a temperatura média global registrou um desvio positivo de +0.74°C em abril de 1998 e, no de 2015/16, a temperatura global de fevereiro de 2016 atingiu a marca de +0,83°C acima da média. No Brasil, é aceito que, de maneira geral, se têm secas nas Regiões Norte e Nordeste e excesso de chuva nas Regiões Sul e Sudeste em eventos El Niño, ao passo que ocorre o contrário em eventos La Niña. Acredita-se que os impactos do ENOS globalmente sejam conhecidos, porém sua origem ainda não está bem estabelecida. A hipótese mais aceita é que o Pacífico Tropical, dada sua extensão, tenha uma frequência natural de oscilação, resultante da interação entre os campos de PNM, ventos associados e as águas do oceano. Devido às PNM altas na costa oeste da América do Sul, os ventos Alísios sopram forte de Leste para Oeste, arrastam as águas que se aquecem nesse trajeto e se acumulam na região Norte da Austrália/ Indonésia, formando a chamada “piscina de água quente do Pacífico Ocidental”, associada a PNM mais baixas. Na costa oeste da América do Sul, essa retirada das águas superficiais provoca ressurgência de águas frias, ou seja, águas profundas sobem à superfície para repor as que estão sendo arrastadas, fazendo com que essa região apresente TSM cerca de
No Brasil, é aceito que, de maneira geral, se têm secas nas Regiões Norte e Nordeste e excesso de chuva nas Regiões Sul e Sudeste em eventos El Niño, ao passo que ocorre o contrário em eventos La Niña. "
Luiz Carlos Baldicero Molion
Professor e Pesquisador aposentado do INPE e da UF-AL
10°C mais frias que as do Pacífico Ocidental e PNM mais altas.
A diferença de PNM entre o Leste e o Oeste é responsável pela persistência dos ventos Alísios. As águas, ao se acumularem no Oeste, pressionam as camadas inferiores do oceano, um efeito semelhante a comprimir uma mola. Como água é um fluido incompressível, eventualmente as camadas inferiores do oceano (termoclina) reagem com um movimento brusco para cima e expulsam as águas superficiais mais quentes. Isso dá origem a uma onda interna subsuperficial no oceano, numa camada de cerca de 100 metros de espessura, denominada Onda de Kelvin, que se propaga da Austrália/Indonésia em direção à costa do Equador/Peru, levando cerca de três meses para cruzar o Oceano Pacífico. O calor transportado pela Onda de Kelvin aquece as águas da costa do Equador/Peru. As águas superficiais aquecidas abaixam as PNM, reduzem, ou até invertem, a diferença de PNM entre o Leste e o Oeste, enfraquecendo ou invertendo os Alísios, o que faz cessar a ressurgência e aumentar ainda mais as TSM. Tem-se, então, um El Niño instalado, que poderá persistir por 6 a 18 meses, com os impactos climáticos globais mencionados.
Na retaguarda da Onda de Kelvin, encontram-se águas mais frias. Esse déficit de calor é transportado para Leste e, quando chega, dissipa o El Niño, dando origem à sua fase fria, o La Niña . As águas frias, agora presentes, fazem a PNM aumentar no Leste do Pacífico, e novamente a diferença de PNM entre o Leste e o Oeste do Pacífico aumenta e intensifica os Alísios, restabelecendo a ressurgência e fazendo com que as águas fiquem mais frias na costa oeste da América do Sul e sejam empurradas novamente para Oeste. O processo geofísico, semelhante a uma imensa “gangorra oceânica/ atmosférica”, se repete de 4 a 5 anos até que a viscosidade restabeleça a neutralidade das TSM.
Como foi dito, não se tem conhecimento adequado sobre as causas físicas da gênese do processo ENOS. É realmente uma oscilação natural ou há necessidade de uma força externa para que o processo seja disparado? Se for uma força externa, uma forte candidata seria a força gravitacional lunar, sabidamente atuante nas marés.
O Ciclo Nodal Lunar define a variação da inclinação do plano da órbita da Lua em relação à linha do equador terrestre. A inclinação ou declinação do plano orbital não é “fixa” ao longo do tempo. Ela varia de sua posição máxima
Multilingual Edition
de 28,6°N-28,6°S de latitude para a mínima de 18,4°N-18,4°S de latitude num intervalo de 9,3 anos e retorna para a posição máxima em mais 9,3 anos, totalizando um ciclo de 18,6 anos. Em um intervalo de aproximadamente 10 anos, o plano da órbita lunar se situa fora dos trópicos, ou seja, sua declinação é maior que 23,5° (latitude dos Trópicos do Câncer e Capricórnio). Nessas circunstâncias (declinação entre 23,5° e 28,6° de latitude), o componente da força gravitacional lunar é maior na direção equador-polo e acelera as correntes marinhas, particularmente a do Golfo (Atlântico Norte) e a de Kuroshio (Pacífico Norte), transportando mais calor da região tropical para as latitudes mais elevadas. Isso faz com que as águas do Pacífico Norte e do Atlântico Norte fiquem mais aquecidas que o normal e torne o clima dos países banhados por elas, como a costa oriental da Ásia (China e Rússia), Europa Ocidental (Inglaterra e Escandinávia), mais ameno e úmido. A curto prazo, uma das consequências dessa configuração de TSM é o inverno norte americano atípico de 2025 em que, no Mapa da próxima página, se veem águas aquecidas no Pacífico Norte em decorrência de o plano da órbita ter estado em sua declinação máxima em 22/03/2025 (Veja a Coluna 3 da Tabela). Em cima das águas quentes, se estabelece um sistema de baixa pressão atmosférica e, entre esse e o Continente Norte-Americano, um sistema de alta pressão atmosférica que “bombeia” ar frio da Sibéria para América do Norte, produzindo um inverno mais frio e prolongado.
O plano da órbita lunar se situa dentro da região tropical (declinação entre 18,4° e 23,5°) durante cerca de 9 anos e o componente de sua força gravitacional é maior na direção Leste-Oeste. A exportação de calor para fora dos trópicos é reduzida, mais calor é retido e redistribuído zonalmente dentro dos trópicos.
Portanto, ao invés de ser uma oscilação natural, a força gravitacional da Lua, juntamente com os ventos Alísios, seria responsável inicialmente por empurrar e empilhar águas no Pacífico Ocidental (Austrália/Indonésia), criando as condições oceânicas propícias (“gatilho”) que antecedem um evento El Niño forte. Daí por diante, o desenvolvimento do evento El Niño seguiria a hipótese mais aceita, ou seja, as camadas mais profundas do Pacífico Ocidental, comprimidas, reagem bruscamente e disparam a Onda de Kelvin que transporta calor em direção à América do Sul, implantando o El Niño. A interação oceano-atmosfera intensifica e mantém o fenômeno por 6 a 18 meses. ;
Na tabela abaixo, mostra-se a estranha coincidência de eventos El Niño intensos, como os de 1941/42, 1957/58, 1977/79, 1997/98 e 2015/16, terem ocorrido quando a declinação do plano da órbita lunar se situou dentro dos trópicos, em torno do mínimo lunar (Coluna 1). Notem que os eventos são espaçados de 19 anos. Se isso não for coincidência, é possível prever a ocorrência de futuros eventos El Niño fortes e suas consequências climáticas, o próximo mínimo sendo em 2034/35. Os eventos fora desse intervalo, como os de 1982/83 e 1992/93, podem estar associados a grandes erupções vulcânicas tropicais, como as do El Chichón-México, em abril de 1982 e do Monte Pinatubo-Filipinas, em junho de 1991. A alta concentração de aerossóis vulcânicos presentes na Estratosfera Tropical reduz a entrada da radiação solar e os continentes
tropicais se resfriam, reduzindo a diferença de pressão atmosférica zonalmente [OS], enfraquecendo os ventos Alísios e gerando um El Niño. Portanto, a Lua interfere no clima global/regional indiretamente por meio de sua ação gravitacional ao aumentar, em primeiro lugar, a velocidade das correntes marinhas e o transporte de calor no sentido equador-polos e, na sequência, mudar a configuração das TSM, particularmente nos setores norte do Atlântico e do Pacífico que têm suas bacias fechadas. Como a atmosfera é aquecida por baixo, ar em contato com a superfície terrestre constituída por 71% de oceanos, a mudança na configuração de TSM, persistente por 4-5 anos, muda a atmosfera sobrejacente e o clima global. Infelizmente, a Meteorologia “moderna” não tem levado em consideração o impacto do Ciclo Nodal Lunar na variabilidade do clima global. n
24/03/1904
27/09/1922
24/09/1978 05/11/1982 29/09/1987 01/10/1992
16/03/1997 01/08/2001 22/03/2006 06/05/2011
21/09/2015 05/03/2020 22/03/2025 12/02/2030
26/03/2034 05/10/2038 25/09/2043 01/09/2048
13/03/2053 24/04/2057 18/03/2062 21/03/2067
/sumitomochemicalbrasil
@sumitomochemicalbrasil
/sumitomochemicallatinamerica
Melhor desenvolvimento da cana
Melhor manejo de florescimento
Solução sustentável
Altíssimo retorno do investimento
/sumitomochemicalbrasil
@sumitomochemicalbrasil
/sumitomochemicallatinamerica
PRODUTO PERIGOSO À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AO MEIO AMBIENTE; USO AGRÍCOLA; VENDA SOB RECEITUÁRIO AGRONÔMICO; CONSULTE SEMPRE UM AGRÔNOMO; INFORME-SE E REALIZE O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS; DESCARTE CORRETAMENTE AS EMBALAGENS E OS RESTOS DOS PRODUTOS; LEIA ATENTAMENTE E SIGA AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO RÓTULO, NA BULA E NA RECEITA; E UTILIZE OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.
Muito se tem discutido ultimamente sobre os impactos das mudanças climáticas em todo o globo. Os desafios vão desde riscos ambientais, como a elevação do nível do mar, o derretimento de geleiras, a perda de biodiversidade e até a degradação de ecossistemas naturais, como florestas tropicais, manguezais, recifes de corais e zonas úmidas.
A humanidade ainda se depara com ameaças que envolvem riscos climáticos extremos: secas prolongadas, enchentes, ondas de calor, ciclones e furacões mais intensos; riscos à saúde pública, com o aumento de doenças infecciosas; e até riscos à segurança alimentar, devido a alterações na produção agrícola.
Aliados a riscos econômicos, infraestruturais, sociais e políticos além de ameaças à estabilidade global, com impactos em cadeias produtivas internacionais temos hoje o que se convencionou chamar de “tempestade perfeita” para o caos.
No entanto, o propósito deste artigo não é esgotar ou discutir todos esses aspectos, mas sim avaliarmos com mais atenção os riscos e desafios agronômicos associados às mudanças climáticas.
A resiliente cana-de-açúcar, introduzida no Brasil com a chegada das caravelas portuguesas no século XVI, já enfrentou e superou inúmeras mudanças, mostrando-se forte e capaz de responder de forma rápida quando em condições edafoclimáticas propícias.
Atualmente, observamos impactos cada vez mais relevantes nos ambientes produtivos. Em um cenário mais extremo, há aumento da frequência e da intensidade de secas, chuvas irregulares e ondas de calor.
O deslocamento dos ciclos naturais de chuvas também tem afetado negativamente as áreas de produção, comprometendo o planejamento do plantio, da colheita e do manejo da cana.
Como consequências diretas, identificamos prejuízos significativos no desenvolvimento dos canaviais, causados pelo estresse hídrico e térmico, com reflexos desde a brotação até o acúmulo de sacarose este cada vez mais perseguido à exaustão.
Outro desafio presente em nosso setor é a alteração no comportamento de pragas: insetos como brocas, cigarrinhas e Sphenophorus levis vêm se adaptando rapidamente às condições adversas, exigindo ações de controle mais eficazes.
Essa transição dos químicos para os biológicos promove benefícios agronômicos importantes: maior especificidade, menor impacto ambiental, menor risco de resistência e viabilidade de produção on-farm, com mais autonomia e redução de custos. "
Hugo Cagno Filho Presidente da UDOP e Diretor Geral da Usina Vertente
Além disso, a maior pressão de doenças, como ferrugem alaranjada, podridões e escaldaduras, tende a se intensificar em ambientes mais quentes e úmidos, com raízes, folhas e colmos mais vulneráveis. Isso acelera o ciclo de vida das pragas e exige novas estratégias de monitoramento e controle.
Por outro lado, nem só de problemas se faz o cenário. As mudanças climáticas vêm forçando ações positivas em pontos estratégicos como o uso crescente de biodefensivos. Essa transição dos químicos para os biológicos impulsiona uma pressão regulatória e uma busca por sustentabilidade, promovendo o uso de bioinsumos, com benefícios agronômicos importantes: maior especificidade, menor impacto ambiental, menor risco de resistência e viabilidade de produção on-farm, que proporciona mais autonomia e redução de custos.
A tão sonhada cana dos “três dígitos” produtividade acima de 100 toneladas por hectare — ainda está distante da média em muitas regiões canavieiras e deve ser perseguida com investimentos em frentes essenciais, como irrigação e ferramentas de equilíbrio agronômico.
Tecnologias de irrigação de precisão, como pivôs centrais, gotejamento subterrâneo e fertirrigação, são exemplos promissores. O uso racional da água, aliado a ferramentas de monitoramento climático e de umidade do solo, permite decisões mais assertivas nesse campo.
O Brasil é hoje exemplo em produtividade com sustentabilidade, possuindo uma das cadeias mais eficientes em termos de emissão de carbono e uso de recursos naturais.
Ampliar essas externalidades positivas é nossa missão. Para isso, precisamos enfrentar e desmontar alguns mitos e narrativas negativas como a ideia de que a cana “rouba água do solo” ou que representa risco de “desmatamento”, argumentos que não se sustentam diante de dados técnicos e científicos.
Uma ferramenta eficaz nesse combate é a capacitação profissional, voltada à ampliação de boas práticas agronômicas e de gestão dos canaviais.
Nesse campo, nós, da UDOP União Nacional da Bioenergia, temos nos empenhado em manter a qualidade de nossos eventos, reunindo milhares de profissionais da cadeia bioenergética para disseminar boas práticas e novas tecnologias capazes de aumentar nossa produtividade na mesma área o chamado crescimento vertical , o que fortalece a competitividade de nossas agroindústrias.
Multilingual Edition
Ao longo do tempo, o setor, que já foi açucareiro, depois alcooleiro, sucroalcooleiro e hoje é bioenergético, viu seu conceito e importância se amplificarem, enquanto enfrentava sucessivos desafios agronômicos e industriais.
Historicamente voltado à produção de açúcar e etanol, o setor vem passando por transformações importantes para se tornar mais sustentável e diversificado. Nesse contexto, o conceito de biorrefinaria surge como modelo promissor, integrando diferentes processos produtivos para o aproveitamento total da biomassa da cana-de-açúcar, promovendo inovação, sustentabilidade e agregação de valor.
Com essa mudança de perfil, o setor passa a ser responsável pela conversão de biomassa em uma variedade de produtos biocombustíveis, bioeletricidade, energia, químicos e materiais de forma integrada e sustentável.
O conceito de biorrefinaria remete às refinarias convencionais de petróleo, com um diferencial crucial: a pegada sustentável, diretamente ligada à cana-de-açúcar.
Sendo esta uma das matérias-primas mais versáteis e completas para esse tipo de abordagem — por oferecer não apenas sacarose, mas também bagaço, palha e vinhaça, todos com alto potencial de aproveitamento o termo é especialmente bem-vindo ao nosso setor.
Voltemos agora ao eterno dilema: onde se produz o açúcar e o etanol? Para muitos, na indústria. No entanto, o conceito hoje amplamente reconhecido é o de que os principais produtos da cadeia bioenergética são produzidos no campo. Daí a urgência de enfrentarmos os desafios agronômicos advindos das mudanças climáticas com seriedade e um olhar estratégico.
Encerrando este artigo, defendo que possamos, com conhecimento e previsibilidade, minimizar os impactos das mudanças climáticas em nosso setor. Acredito que três ações são fundamentais:
1. Modelos climáticos e previsões sazonais que permitam ações antecipadas, evitando prejuízos maiores e antecipando novas tendências e práticas;
2. Gestão proativa dos riscos, integrando dados climáticos com sensores de campo, inteligência agronômica e o uso de IA – Inteligência Artificial – para melhores decisões de mitigação;
3. Transformação de desafios em oportunidades: conhecer o risco é essencial para mitigá-lo. Nossa experiência de 500 anos com a cana-de-açúcar nos coloca em posição privilegiada para enfrentá-lo com liderança. n
Com certa frequência nos deparamos com expressões que definem a agricultura como: "indústria a céu aberto". Claro que compreendemos isso dentro da ótica de que produzimos com alta vulnerabilidade em relação não apenas a fatores como mercado, política e crises, mas operando com variáveis imprevisíveis, como o clima, pragas e doenças.
Ao direcionar nossa atenção à produção de cana-de-açúcar, temos uma das culturas mais emblemáticas do Brasil, sendo uma das principais fontes de produção de energia renovável no mundo. No entanto, o setor bio energético, vital para a economia brasileira, enfrenta uma série de desafios agronômicos, especialmente em um cenário de mudanças climáticas intensificadas.
Obviamente, a irregularidade do re gime de chuvas, apresentando anos com períodos mais prolongados de seca e até mesmo sucedidos por chuvas intensas e concentradas, impacta de diversas formas as operações e fatalmente gera instabilidade e imprevisibilidade na produção ano a ano. O fato é que o ciclo El Niño , La Niña e neu tralidade se tornou assunto comum em nosso cotidiano, assim como o consenso de sua total “não linearidade”.
O efeito de emular uma chuva poucos dias após a colheita permite uma qualidade de rebrota muito proeminente, e, com isso, a planta desenvolve vigor, o que pode diminuir os efeitos de doenças e pragas. "
Alex Luiz Fogaça
Gerente Agrícola na Da Pedra Agroindustrial
Contextualizado o cenário, aqui cabem algumas reflexões importantes. É um fato que fenômenos climáticos sempre estiveram presentes em nossa realidade de produção. Muitos profissionais experientes do setor, assim como pequenos produtores, lembram-se facilmente de anos muito chuvosos e de anos em que a seca foi agudamente predominante, além de outros eventos como os de geada e fogo.
Os impactos são muito expressivos, por isso tornam essas ocorrências muito marcantes em nosso cotidiano. Entretanto, avaliando o momento e os últimos ciclos, o que nos parece dissonante é que a alternância entre a quantidade de safras de regimes climáticos regulares em detrimento de anos com climas extremos tem sido muito mais desproporcional do que no nosso passado conhecido. Temos vivenciado com mais frequência safras com regimes tendencialmente secos e muito quentes, impactando diretamente a produção de cana.
Uma segunda reflexão é que as mudanças climáticas anteriormente citadas nos levam a rememorar dois importantes movimentos de produção ocorridos nos últimos anos, muito bem pautados nas agendas de aumento de demanda: necessidade de expansão e redução de custos fixos, este último sendo vital para sobrevivência no mercado de commodities . Os dois movimentos que discutiremos mais adiante são o de expansão de produção para áreas com condições edafoclimáticas de menor aptidão para cultivo de cana e o de extensão do período de moagem das usinas.
Um primeiro fator sensível é o de que os períodos de moagem das safras são cada vez mais extensos. Quanto a isso, existem benefícios competitivos relevantes, porém, analisando pelo aspecto agronômico, temos nos meses extremos da safra atividades mecanizadas concomitantes a períodos chuvosos, o que intensifica o adensamento e compactação do solo, reduzindo a capacidade da planta em desenvolver raízes e, não menos importante, atrasando a “rebrota” da soqueira pós corte. Outro ponto de demasiado impacto para a produtividade agrícola é que safras mais longas expõem o canavial a praticamente todo o período de maior estresse hídrico, consequentemente reduzindo a produtividade para os ciclos seguintes, sobretudo dos canaviais de fim de safra.
A segunda pauta que temos que rememorar é que estamos muito mais suscetíveis à perda de produtividade em anos mais secos, pela mudança de perfil das áreas cultivadas no centro-sul do Brasil. Essa tendência ocorre devido à baixa disponibilidade de áreas, que concorrem com outras culturas agrícolas e com expansões urbanas.
Multilingual Edition
O fato é que o canavial passa a incorporar áreas de solos muito menos férteis, muitas vezes derivados de sedimentos arenoquartzosos, cuja principal característica é sua alta permeabilidade e consequente baixa capacidade de retenção de agua, fator pelo qual sua expectativa de produção é mais singela e seu desempenho é muito prejudicado em anos de irregularidade pluviométrica.
Mas o que deve ser feito?
Primeiramente, ações na raiz das mudanças climáticas são, sim, de responsabilidade de todos, entretanto, salvo o respeito, fóruns de discussões, legislações, ações ambientais e programas de compromisso, que já estão em curso e que devemos observar, cumprir e fomentar a cada dia, nada será totalmente efetivo. Portanto, neste momento, direciono minhas opiniões àquilo que está definitivamente materializado e realizado em campo, lançando mão de uma tônica de que precisamos continuamente rever e melhorar aquilo que está sob nosso controle.
O fato é que a constante busca por maior produtividade e longevidade dos canaviais exige experimentação, ciência, tecnologia e inovações incrementais para lidarmos com questões complexas relacionadas ao clima, fisiologia vegetal, pragas, doenças e técnicas de manejo. Se as mudanças climáticas vêm alterando o padrão de temperatura e precipitação, criando novos desafios, a resposta deve ser estratégica e em várias linhas de enfrentamento.
A irrigação como ferramenta de equilíbrio: Diante das oscilações climáticas, a irrigação, antes pouco difundida na cultura de cana no Brasil, porém relativamente comum em outras culturas, surge como uma ferramenta praticamente essencial para equilibrar a produção de cana-de-açúcar.
A prática, quando em modelo de irrigação “deficitária”, permite que os canaviais mantenham um nível adequado de água, reduzindo ou eliminando o déficit hídrico, onde se cria um ambiente estável para o desenvolvimento da planta. No entanto, sistemas de irrigação de alta eficiência ainda exigem altos investimentos em implementação, tecnologia e operacionalização.
Outro modelo de irrigação que vem se tornando muito popular no setor é o que chamamos de “irrigação de salvamento”, método no qual temos um consumo de água direcionado ;
à preservação de perfilhos da soqueira de cana recentemente cortada. O efeito de emular uma chuva poucos dias após a colheita permite uma qualidade de rebrota muito proeminente, e, com isso, a planta desenvolve vigor, o que pode diminuir os efeitos de doenças e pragas. Os resultados de irrigação de salvamento são obviamente variáveis de acordo com região, área, clima e manejo. Em linhas gerais é uma tecnologia de investimento relevante, porém com expressivos resultados.
Manejo varietal e usos biológicos e nutricionais para mitigação de impactos: Observar o comportamento da planta é um excelente caminho para compreensão dos impactos climáticos. Definir muito bem o perfil varietal mais adequado para cada particularidade, aspectos climatológicos da microrregião, regime atual de chuvas, solos e outros fatores internos e externos são pontos fundamentais para que se construa um canavial de menor suscetibilidade às adversidades climáticas.
A crescente escalada do uso de produtos biológicos na produção de cana-de-açúcar tem apresentado respostas eficazes para os desafios agronômicos impostos pelas mudanças climáticas, associados a pacotes de aminoácidos e de micronutrientes. Têm-se consolidado no setor as expressões “pré-seca” e “pós-seca”, em que basicamente temos, dentre os benefícios, ativação de enzimas antioxidantes, atuação na capacidade de hidratação foliar, estimulantes de fotossíntese, estímulo hormonal para crescimento vegetativo e sínteses de proteínas para estabilização metabólica. Em linhas gerais, disponibilizamos para a planta ferramentas para que ela adquira a capacidade de adiar os efeitos da seca, sem perder potencial de produção de sacarose, e, ao final do período de déficit hídrico, o canavial retorne ao ciclo vegetativo de forma mais breve e vigorosa possível.
Correção de perfil e regeneração de solos: Fundamental para produção agrícola, o solo necessita de equilíbrio físico-químico-biológico. Nesse ponto, existem infinitas linhas de pesquisa, entretanto, no tocante à mitigação de impactos climáticos, todo o manejo que potencializar a produção de raízes nas plantas impacta diretamente sua capacidade de busca e retenção de umidade. Nesse aspecto, práticas muito simples e cotidianas como calagem e gessagem voltam aos
ambientes acadêmicos, visando expandir sua eficiência. O clima tornou-se mais desafiador, consequentemente os manejos necessitam de inovação e tecnologia para avanço na busca por produtividade. Ainda nesse tema, a agricultura regenerativa surge também com diversas vertentes, a exemplo o uso de fertilizantes organominerais e a sucessão de culturas utilizando diferentes espécies de plantas de cobertura. Ambos os casos têm como fator preponderante a regeneração biológica do solo, com aumento de matéria orgânica, e sua atividade enzimática viabilizará um perfil muito mais fértil.
Monitoramento e big data: O uso de big data na agricultura possibilita a análise de grandes volumes de dados sobre clima, solo, produção e colheita. Atuamos em um setor centenário, em que o volume de informações estruturadas é gigantesco. Ainda somos um pouco carentes de ferramentas de análise que ajudam de forma plena nas tomadas de decisão, mas o fato é que muitas respostas para melhoria de produtividade e mitigação de riscos climáticos estão contidas em nossos bancos de dados, aguardando serem traduzidas para ações práticas.
Conclusões e capital humano: Como citamos, a produção de cana-de-açúcar no Brasil enfrenta um conjunto de desafios agronômicos que exige inovação constante e adaptação aos novos cenários climáticos.
As ações devem estar pautadas e combinadas em todas as áreas da agroindústria, sendo essenciais o planejamento, a gestão, a pesquisa, a experimentação e a contínua busca por novas tecnologias de manejo e de produção. Todos os itens devem visar a sustentabilidade e a produtividade.
Historicamente, neste setor, nenhum objetivo é alcançado sem que haja inovação e preparação técnica, acadêmica e comportamental. Em cenários desafiadores como o que temos vivenciado na produção de cana, definitivamente o que vai diferenciar o êxito das ações e a capacidade de atravessar momentos desfavoráveis são as pessoas e suas habilidades em atuar com equilíbrio, desempenho, qualidade e visão sistêmica e orientada à sustentabilidade do negócio. Definitivamente, nada será tão eficaz frente a qualquer tipo de adversidade do que um time de gestão com pessoas muito bem comprometidas e capacitadas.n
Os desafios do clima e a resiliência da agricultura
As mudanças climáticas configuram-se como um dos maiores desafios para produção agrícola ao longo do século XXI. Essas alterações nas condições de tempo e clima já estão apresentando severos impactos na segurança alimentar, nos desastres naturais e na sustentabilidade da agricultura. Nesse contexto, a comunidade científica mundial vem realizando contínuos esforços voltados à mitigação e ao combate desse fenômeno adverso. Um ponto fundamental dessas ações é a descrição histórica das condições (agro)meteorológicas observadas em uma região. Essa análise aprofunda o entendimento das mudanças que estão ocorrendo nos padrões atmosféricos, permitindo situar atuais eventos extremos em um contexto histórico mais abrangente.
Entre os resultados mais marcantes dessas descrições está a elevação nos valores de temperatura do ar observada em praticamente todas as regiões do planeta. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o aquecimento do sistema climático global em superfície é inequívoco, e essa afirmação é também verdadeira para diversas regiões do Brasil, tais como o Estado de São Paulo. A figura 1, elaborada a partir de dados do Physical Sciences Laboratory (PSL) do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), demonstra de forma também inequívoca que as médias anuais das tempe-
raturas mínimas e máximas de virtualmente todas as regiões do Estado de São Paulo, têm-se elevado sucessivamente desde a década de 1980. Nesse ponto, é importante ressaltar que temperatura máxima e temperatura mínima referem-se, respectivamente, ao maior e menor valor desse elemento meteorológico observado ao longo de um dia.
Em uma análise histórica ainda mais longa (figura 2), baseada em dados da estação meteorológica do Instituto Agronômico de Campinas (IAC/APTA/SAA-SP), nota-se que essa mudança para uma condição atmosférica de temperaturas mais elevadas parece estar presente desde a segunda década do século XX. Essa afirmação é particularmente verdadeira para os dados de temperatura mínima do ar, ao passo que a temperatura máxima mostra marcante elevação desde 2010.
Além da temperatura do ar, as mudanças climáticas estão afetando a frequência e a intensidade dos eventos de seca em praticamente todo planeta, incluindo o Brasil. Essa intensificação é, naturalmente, objeto de grande preocupação da comunidade científica mundial tendo em vista que essa adversidade ambiental pode resultar em importantes quebras de produtividades agrícolas, danos ecológicos severos e, naturalmente, dificuldades na manutenção das seguranças alimentares, energéticas e econômicas.
Além da temperatura do ar, as mudanças climáticas estão afetando a frequência e a intensidade dos eventos de seca em praticamente todo planeta, incluindo o Brasil. "
Pesquisadores do IACInstituto Agronômico de Campinas
EVOLUÇÃO TEMPORAL DAS TEMPERATURAS NO ESTADO DE SÃO PAULO MÁXIMAS (ESQUERDA) E MÍNIMAS (DIREITA)
DADOS ANUAIS DE TEMPERATURAS MÍNIMAS (LINHA AZUL) E MÁXIMAS (LINHA VERMELHA).
A figura 3 – exposta na página seguinte –, resultante de estudos do Instituto Agronômico de Campinas, demonstra que nas estações do verão, outono, inverno e primavera, aproximadamente 51, 46, 35 e 49% de todo território nacional foi submetido a elevações na frequência de secas severas a extremas, respectivamente. Esse fato é consistente com a ocorrência generalizada dessa adversidade ambiental no país desde 2000.
Destaca-se que, dentre todas as macrorregiões brasileiras, o Centro-Oeste apresenta-se como a mais afetada por essa mudança nos padrões climáticos. Essa afirmação é particularmente notável durante o verão, em que praticamente todo Centro-Oeste brasileiro esteve submetido a elevações na frequência de secas severas a extremas. Em conclusão, os resultados apresentados nas figuras 1 a 3 deste artigo, somados a diversos trabalhos ;
científicos realizados em todo o planeta, indicam que as mudanças climáticas são, de fato, um dos maiores desafios que a humanidade terá de enfrentar ao longo do século XXI. Em relação ao nosso país, devemos lembrar a posição de liderança ocupada pelo Brasil na produção mundial de commodities-chave como soja, café, carne, citros e cana-de-açúcar, entre outros. Consequentemente, quebras de safra em nossa produção ameaçam a segurança alimentar de todo o planeta, com especial preocupação para as populações mais pobres. Reduções em exportações de produtos agrícolas usualmente elevam o preço dos alimentos. Nesse contexto, instituições como o IAC já possuem resultados aplicados de pesquisa capazes de
minimizar o impacto agrícola das mudanças climáticas, promovendo o uso racional da água na agricultura, a segurança alimentar, a geração de emprego e renda com responsabilidade ambiental. Essa instituição demonstra que o investimento em pesquisa é a única estratégia existente capaz de gerar inovações que mitigam os efeitos de adversidades ambientais na produção agropecuária, mantendo assim o Brasil como um dos (ou talvez o mais) importantes países agrícolas do planeta. Na figura 3, as tonalidades em vermelho indicam que a frequência esperada de eventos severos a extremos em 2024 aumentou em relação à frequência que seria observada sem a presença de alterações nos padrões de chuva. n
Não é exagero dizer que o futuro dos negócios no campo está na agricultura regenerativa. Com o mundo enfrentando questões climáticas cada vez mais desafiadoras, a premissa de produzir tendo em vista apenas a preservação do meio ambiente já não é mais suficiente, e a regeneração emerge como um novo horizonte – tão promissor quanto necessário.
Com foco na restauração dos ecossistemas naturais, essa abordagem não só atende às exigências ambientais contemporâneas, como também oferece vantagens competitivas significativas para os negócios, promovendo uma verdadeira mudança de paradigma que alia produtividade e sustentabilidade em uma estratégia inteligente capaz de gerar valor econômico, reduzir riscos e abrir novas oportunidades de mercado.
Na BP Bioenergy, o tema já está incorporado ao modelo de negócios desde o início de nossas operações, em 2019, quando a empresa
consolidou um plano diretor focado em alavancas para aumento de produtividade baseadas em padronização de operação entre nossas 11 unidades instaladas em cinco estados.
Nesse sentido, foram adotadas as melhores práticas em nutrição, qualidade do plantio e a expansão do uso dos subprodutos do processamento da cana-de-açúcar nas plantações – como a vinhaça, a cinza e a torta de filtro, que são fontes de nutrientes com um teor de matéria orgânica muito significativo.
A partir daí, foi realizado um amplo trabalho focado em alcançar eficiência na distribuição e racionalização desses subprodutos em toda a estrutura agrícola da companhia.
Desde então, o assunto é tratado como uma prioridade dentro da empresa, um direcionamento que tem proporcionado inúmeros impactos positivos para os resultados dos negócios.
A partir de alguns pilares estratégicos, como a adubação organomineral e a utilização de bioinsumos, frentes nas quais os investimentos já ultrapassam R$ 300 milhões, a companhia já alcançou ganhos relacionados ao aumento de produtividade nos canaviais, redução de custos envolvendo diferentes recursos, além de menor dependência de importação de insumos agrícolas, o que diminui
a premissa de produzir tendo em vista apenas a preservação do meio ambiente já não é mais suficiente, e a regeneração emerge como um novo horizonte – tão promissor quanto necessário. "
Rogério Augusto Bremm Soares Diretor Agrícola da BP Bunge Bioenergia
nossa exposição à oscilação imprevisível do dólar, moeda a partir da qual esses produtos são precificados.
Para citar alguns exemplos, com a redução na compra de fertilizantes químicos, proporcionada a partir das iniciativas do manejo regenerativo, alcançamos uma economia entre as safras de 2021/22 e 2024/25 . Os indicadores também são positivos, quando avaliamos o cenário de redução de custos x aumento de produtividade no mesmo período. A redução do custo de insumos dos tratos de cana soca foi de aproximadamente 35% nas últimas três safras e um aumento de produtividade da cana planta de 17%.
Outra frente em que a empresa se debruça com grande empenho no universo da agricultura regenerativa, e que gera impactos positivos para sua posição no mercado, é a experimentação, contando inclusive com uma área corporativa para esta finalidade, criada há três anos devido a uma alta demanda de evolução técnica. A experimentação agrícola permite testar novas técnicas e métodos de manejo, promovendo a inovação e a melhoria contínua.
Além disso, é essencial para validar tecnologias e práticas agronômicas antes de sua aplicação em larga escala, garantindo eficácia e segurança. Experimentos bem conduzidos podem identificar práticas que aumentam a produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar, contribuindo para o desenvolvimento de métodos que minimizam impactos ambientais e promovem uma agricultura mais sustentável.
Hoje, inclusive, a experimentação é uma prática em que nos destacamos no setor, o que nos permite avançar rapidamente com embasamentos técnicos e científicos. Além disso, com esse movimento, temos a capacidade de implementar novas tecnologias de forma rápida e eficaz, o que sem dúvida é um diferencial de mercado que nos torna ainda mais competitivos, uma vez que essa abordagem não só fortalece a posição da empresa no setor, mas também contribui para o avanço da agricultura como um todo.
Sobre isso, inclusive, cabe mencionar outro aspecto importante da agricultura regenerativa, que é o círculo virtuoso gerado no mercado. Como empresa que saiu na frente em diversas iniciativas relacionadas ao tema no Brasil nos últimos anos, temos abraçado a
Multilingual Edition
missão de compartilhar aprendizados e tecnologias que têm gerado resultados significativos em toda a cadeia produtiva, tendo hoje diversos produtores e fornecedores de cana, parceiros da empresa, já bastante avançados nesse manejo, com produtividade alta, trabalhando com biológicos e matéria orgânica. É uma forma de contribuir para o desenvolvimento do nosso mercado, ao mesmo tempo em que geramos resultados para o nosso próprio negócio.
Por fim, é válido reforçar a relevância particular da agricultura regenerativa para os negócios de bioenergia, como é o nosso caso, já que a adoção de práticas regenerativas colabora para sequestrar o carbono no solo, contribuindo para reduzir as emissões de CO2 geradas na produção.
A pegada ambiental do etanol, por exemplo, que já é considerado um biocombustível de baixo carbono, depende diretamente da forma como a matéria-prima (no nosso caso, a cana-de-açúcar) é cultivada, o que significa que, quando a operação envolve práticas mais sustentáveis, assim também será o produto que chegará ao mercado.
Além disso, o manejo regenerativo melhora o perfil do etanol em programas de certificação de biocombustíveis, como o RenovaBio, no Brasil, ou o Low Carbon Fuel Standard (LCFS), na Califórnia, o que pode gerar créditos de carbono mais valiosos.
Ao refletir sobre a jornada da BP Bioenergy e a integração da agricultura regenerativa, fica evidente que essa abordagem não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica.
Ao adotar práticas que restauram ecossistemas e melhoram a qualidade do solo, a empresa não só fortalece sua posição no mercado de biocombustíveis, como também contribui para um futuro mais sustentável.
A capacidade de gerar valor econômico, reduzir emissões de carbono e fortalecer elos na cadeia produtiva destaca a agricultura regenerativa como um pilar fundamental para o crescimento e a competitividade no setor agroindustrial.
Ao inspirar e colaborar com parceiros e stakeholders, a BP Bioenergy não apenas garante sua prosperidade, mas também lidera um movimento transformador que poderá redefinir o futuro da agricultura no Brasil e no resto do mundo. n
Não é novidade para ninguém que o clima está mudando. Basta conversar com qualquer agricultor ou observar as últimas safras: chove quando não devia, falta água quando mais se precisa, o calor está mais intenso e, às vezes, até geadas aparecem fora de época. Tudo isso afeta o calendário do campo, prejudica o crescimento das plantas e complica a vida de quem vive da agricultura. Os efeitos das mudanças climáticas não são mais uma previsão de futuro – eles estão acontecendo agora e já impactam diretamente a forma como produzimos alimentos.
A maior preocupação de quem trabalha com produção agrícola hoje é como se adaptar a essas mudanças. As plantas têm seu próprio ritmo de desenvolvimento, e, quando o clima foge do padrão, esse ritmo é afetado. Algumas culturas não conseguem crescer corretamente com tanto calor, ou então sofrem com a falta ou o excesso de chuva. Com isso, fica mais difícil planejar o plantio, colher no tempo certo, na quantidade e qualidade previstas.
O agricultor precisa estar cada vez mais atento ao clima, avaliando permanentemente seus impactos potenciais, a fim de lançar mão de estratégias de mitigação de risco.
Uma das saídas está no desenvolvimento de novas variedades de plantas, que aguentem melhor essas condições. Os pesquisadores têm trabalhado para criar sementes mais resistentes à seca, ao calor e até a doenças que surgem com essas mudanças. Hoje em dia, com a ajuda da biotecnologia, é possível acelerar esse processo usando ferramentas modernas, como a edição genética.
Isso ajuda a criar cultivares mais fortes e adaptadas ao clima atual, o que é essencial para manter a produtividade no campo. Graças a todos os estudos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nos últimos 50 anos, o Brasil deixou de ser um importador de alimentos para tornar-se um dos principais exportadores mundiais. Outro ponto muito importante é o cuidado com o solo. Com as chuvas mais intensas e mal distribuídas, manter as áreas cobertas e com boa matéria orgânica é estratégico para a sustentabilidade da produção. Práticas como o plantio direto, a rotação de culturas, adubação verde e manter o solo sempre coberto com palhada ajudam a manter a fertilidade e evitar a degradação.
Os efeitos das mudanças climáticas não são mais uma previsão de futuro –eles estão acontecendo agora e já impactam diretamente a forma como produzimos alimentos. "
Tirso de Salles Meirelles
Presidente da FAESPFederação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo
Quanto mais matéria orgânica no solo, melhor a retenção da umidade, que pode ajudar a capturar carbono do ar – o que é ótimo para o clima também.
E por falar em água, ela está cada vez mais escassa em várias regiões. Isso exige que o agricultor use a água de forma muito mais eficiente. Sistemas de irrigação mais econômicos, como o gotejamento, ajudam bastante. Também dá para usar sensores no solo para saber exatamente quando irrigar, evitando desperdício. Outra estratégia importante é armazenar água da chuva, recuperar nascentes e cuidar bem das bacias hidrográficas. Afinal, sem água, não há agricultura que funcione. As mudanças no clima também estão influenciando o aparecimento de pragas e doenças. Com o aumento da temperatura e da umidade, insetos e fungos que antes não eram problema estão se espalhando com mais facilidade. Isso obriga o agricultor a repensar o controle dessas ameaças. Apostar em técnicas mais equilibradas, como o manejo integrado de pragas, o controle biológico e o monitoramento mais preciso das lavouras, é o melhor caminho.
É aí que entra a tecnologia. A agricultura de precisão, aliada à agricultura digital, tem ganhado espaço justamente por permitir um controle muito mais detalhado de tudo que acontece na lavoura. Com o uso de drones, sensores, imagens de satélite e até inteligência artificial, dá para saber exatamente onde está faltando água, onde há pragas, como está o solo, entre outras coisas. Isso tudo ajuda o agricultor a tomar decisões mais certeiras, gastar menos e produzir mais – mesmo com o clima cada vez mais imprevisível.
Mas nada disso adianta se quem está no campo não tiver acesso à informação e ao conhecimento necessário para usar essas tecnologias. Por isso, é fundamental investir na capacitação dos produtores, especialmente os pequenos. A assistência técnica e a extensão rural têm um papel essencial nisso. Também é importante que existam políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis, ofereçam crédito com boas condições e apoiem quem está tentando fazer a diferença.
Na área da capacitação, o trabalho que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) vem desempenhando é exemplar. Além de oferecer as ferramentas para aprimorar o plantio, o manejo e a colheita, a assistência técnica e gerencial (ATeG) faz o acompanhamento
Multilingual Edition
dos produtores para garantir o desenvolvimento da propriedade rural. Da mesma forma, os cursos técnicos e a faculdade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) levam ao campo a oportunidade de formação técnica e superior em cursos voltados ao setor.
Em São Paulo, além desse portfólio, estamos construindo seis centros de capacitação para preparar os trabalhadores e os produtores, em especial os pequenos e médios, para as novidades tecnológicas que se sucedem no campo. O Centro de Excelência da Cana-de-Açúcar, em Ribeirão Preto, e o Centro de Excelência em Tecnologia, em São Roque, já em construção, focam na capacitação de mão de obra para a área sucroenergética e na busca por soluções mais acessíveis a todos no campo. Em Mirante do Paranapanema, o Centro é voltado aos assentamentos e à agricultura familiar, enquanto Avaré deverá ganhar uma unidade voltada à agroindustrialização. Jaguariúna comportará um centro de irrigação, ao passo que na capital paulista a preocupação será com a agricultura urbana e capacitação de mão de obra para favorecer a migração para o interior.
A agricultura familiar e a agricultura periurbana desempenham papéis estratégicos na promoção da segurança alimentar, pois são responsáveis por grande parte da produção de alimentos frescos, diversificados e acessíveis. Além de abastecer mercados locais, essas formas de produção geram empregos diretos e indiretos, fortalecendo economias locais e promovendo inclusão social. Por estarem mais próximas dos centros de consumo, reduzem significativamente as perdas e o desperdício de alimentos causados por transporte inadequado ou manipulação incorreta, contribuindo para cadeias alimentares mais eficientes, sustentáveis e resilientes.
É importante lembrar que os desafios variam bastante de uma região para outra. Não dá para tratar todos os produtores como se estivessem na mesma situação.
É preciso considerar o tipo de solo, o clima local, a cultura plantada, o tamanho da propriedade e até as condições sociais da comunidade. A agricultura do futuro vai precisar ser cada vez mais adaptada, flexível e integrada. Vai ser preciso reunir conhecimento técnico, sensibilidade local e apoio das instituições para que o campo consiga continuar produzindo mesmo num mundo onde o clima já não é mais como era antes. n
Nos últimos anos, o aquecimento global tem sido amplamente discutido, tanto nos meios acadêmicos como na mídia em geral, sem que haja um acordo, nem mesmo entre a comunidade científica, sobre as razões para os aumentos constantes de temperatura registradas, com consequentes desastres climáticos por todo o planeta, representados por chuvas avassaladoras em determinadas regiões e secas arrasadoras em outras.
Se tais episódios são causados por ação do homem ou se são parte de um ciclo natural de aquecimento e resfriamento do planeta, não vem ao caso neste artigo; o fato é que são cada vez mais frequentes os anos com acentuadas irregularidades climáticas. Consideremos o estado de São Paulo como exemplo: 2020 teve chuvas abaixo da média já a partir de março, sem chuvas no inverno, que foi mais quente que o usual, e poucas chuvas também na primavera, com recordes de temperaturas para o período; em consequência, várias ondas de incêndios varreram o Estado durante toda a época seca; 2021 e 2022 foram anos de chuva mais ou menos dentro da média histórica, mas em 2023 e, novamente, em 2024, as chuvas foram mais
escassas, mal distribuídas, com temperaturas elevadas durante todo o ano e o Estado sofreu, mais uma vez, com incêndios acidentais e criminosos em todas as regiões. O mesmo ocorreu em outros estados do Centro-Sul do Brasil, com consequências nefastas para a agricultura.
Secas e temperaturas elevadas têm impacto a curto e a longo prazos nas populações de pragas e, obviamente, no desenvolvimento das plantas, inclusive da cana-de-açúcar.
Temperaturas elevadas fazem com que a perda de água pelo solo e pelas plantas se acentue; se além das altas temperaturas, há pequena disponibilidade de água, devido à falta de chuvas, a situação é ainda mais estressante para as plantas. A curto prazo, há redução na produtividade e, consequentemente, na longevidade do canavial; a longo prazo, pode ocorrer a inviabilidade da cultura ou, pelo menos, de certas variedades.
Em relação às pragas e doenças, se a curto prazo não são evidentes os efeitos da seca e das altas temperaturas nas populações de algumas delas, como Migdolus fryanus, e nas populações dos nematoides fitoparasitos, para outras, como cigarrinha das raízes, já se percebe populações mais baixas e um encurtamento do período de sua ocorrência.
Se tais episódios são causados por ação do homem ou se são parte de um ciclo natural, não vem ao caso neste artigo; o fato é que são cada vez mais frequentes os anos com acentuadas irregularidades climáticas. "
Leila Luci Dinardo-Miranda Pesquisadora do Centro de Cana do IAC
Até final da década de 2010, as cigarrinhas das raízes começavam a surgir no campo geralmente em meados de outubro, logo após as primeiras chuvas da primavera; as populações atingiam o pico entre dezembro e fevereiro, e começavam a se reduzir em abril, com o rareamento das chuvas, sumindo do campo em maio. Nos últimos anos, no entanto, ninfas e adultos têm surgido em campo mais tardiamente, em meados de novembro, e em março as populações já estão muito baixas em diversas regiões. É claro que, no caso específico das cigarrinhas das raízes, há outro importante fator envolvido nas reduções populacionais e no período de ocorrência da praga: o controle químico de Sphenophorus levis, feito em quase todas as áreas de soqueira do Centro-Sul. Por envolver produtos com ação também sobre a cigarrinha das raízes, o controle de S. levis contribuiu para manter as populações dela em níveis mais baixos, principalmente no início do período chuvoso, promovendo um atraso no surgimento dessa praga em campo. Mas é inegável a contribuição da escassez de chuvas dos últimos anos para os baixos níveis populacionais de cigarrinha, pois o solo com baixa umidade não favorece o crescimento populacional de cigarrinha, mesmo após cessado o período de controle dos inseticidas usados para manejo de S. levis.
Em relação a S. levis, o efeito da seca é fortemente percebido pela ineficácia do controle em soqueiras. É fato que a aplicação de inseticidas em soqueiras visando controle de S. levis é ferramenta de eficiência relativamente baixa, reduzindo os danos três meses depois do tratamento em 50 a 60%, seja nos casos em que a aplicação é feita por meio do cortador de soqueira, com a vinhaça localizada, seja em drench.
Entretanto, em anos muitos secos, a eficiência é ainda menor, chegando a ser nula em muitos locais. A menor eficiência do controle de S. levis em anos muito secos provavelmente se deva à baixa turgidez das soqueiras, condição que dificulta a absorção dos inseticidas e a sua translocação para outras partes dos rizomas, mesmo se aplicados em grande volume de calda, como é o caso da aplicação com vinhaça localizada, que algumas usinas chegam a aplicar à razão de 45 m³/ha.
Se a seca interfere nas condições da planta em absorver e redistribuir o inseticida em seus rizomas, ela também limita sua capacidade em se recuperar dos danos causados pelo S. levis.
Multilingual Edition
Sob estresse hídrico, a touceira não consegue emitir novos perfilhos, crescer e se desenvolver. Assim, para uma mesma população da praga, os danos tendem a ser maiores sob condições de seca, pois a planta apresenta menos perfilhos e, consequentemente, a proporção de rizomas danificados em relação ao total de rizomas aumenta (lembrando que o dano é expresso em % de rizomas danificados).
Devido aos dois fatores, menor eficiência de controle e menor capacidade de recuperação das plantas, é que os produtores percebem nitidamente que, quanto maior a seca, maiores os prejuízos causados por S. levis.
Outra praga de grande relevância é a broca comum, Diatraea saccharalis. Em anos mais quentes e secos, costuma haver um atraso nos picos populacionais do verão, porque altas temperaturas e baixa umidade do ar provocam diminuição na longevidade dos adultos, na viabilidade dos ovos e na mortalidade de larvas nos primeiros instares. Mas, devido à grande capacidade reprodutiva do inseto, tão logo as condições de alta umidade retornem, as populações tendem a aumentar rapidamente. Como o estresse hídrico também prejudica o desenvolvimento das plantas, no caso da relação planta-broca comum, tem-se também o jogo de perde-perde.
Tão ou mais importante que os efeitos a curto prazo apresentados acima, têm-se os efeitos a longo prazo, que são mais difíceis de mensurar. Mesmo as pragas e os nematoides pouco impactados a curto prazo pela seca poderão ser muito afetados pelas mudanças climáticas. Secas e temperaturas elevadas tendem a diminuir a sobrevivência e a capacidade reprodutiva dos insetos e dos nematoides fitoparasitos. Por outro lado, as plantas também serão afetadas pela seca e altas temperaturas e terão sua capacidade em tolerar tais agentes de dano seriamente comprometida.
É claro que os programas de melhoramento genético, tradicionais ou envolvendo biotecnologia, poderão desenvolver cultivares muito resistentes à seca, mas, como insetos e nematoides têm elevada capacidade de adaptação, populações adaptadas a ambientes secos e quentes poderão surgir rapidamente. Além disso, outras pragas adaptadas ao novo cenário poderão aparecer. De qualquer forma, as mudanças climáticas já estão trazendo e trarão ainda mais impactos profundos na agricultura em geral, incluindo a canavicultura.n
Maior vão livre do mercado para culturas altas: 1,52 m
Maior altura de trabalho das barras para pulverização em fim de ciclo: 0,50 a 2,50 m
Mo tor die s el co m t rabalh o em baix a rota ç ã o : m ais to rque e m e n o s co n s u m o d e co m bustív e l
jacto com
Clique aqui e conheça to da a versatilidade do Unip ort 3030 Canavieiro.
Não é novidade que o setor sucroenergético vivenciou diversas transformações que vão desde a colheita de cana crua até a atual imersão de tecnologia nos canaviais.
Houve evolução na qualidade das estratégias técnicas e operacionais adotadas, e o sistema de produção tornou-se mais sustentável, principalmente com a crescente utilização de bioinsumos. Mas, ainda assim, a produtividade insiste em permanecer no mesmo patamar, estagnada.
Dentre os diversos fatores que contribuem para isso, os insetos-pragas e nematoides continuam em posição de destaque. De maneira geral, nas principais regiões produtoras de cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis (broca da cana), Mahanarva spp. (cigarrinha-das-raízes) e Sphenophorus levis (bicudo da cana) têm maior importância, reduzindo drasticamente a produtividade dos colmos, os teores de sacarose e a longevidade do canavial.
Os produtores e usinas aprenderam a lidar com a broca da cana. Atualmente, é comum baixa infestação nos canaviais, reflexo de monitoramento e controle feitos na hora certa e com maior qualidade e que foram possíveis com a introdução de novas soluções.
O uso de armadilhas de feromônio proporcionou agilidade na coleta de dados do campo e por consequência nas decisões de controle. Novas formulações de produtos
sendo a temperatura o principal fator que rege o ciclo biológico dos insetos, atuando no desenvolvimento, sobrevivência e reprodução, é provável que as mudanças climáticas influenciem o comportamento e hábito dos mesmos. "
Mariele de Souza Penteado Nascimento Gerente de Qualidade Agronômica da Alta Mogiana
fitossanitários e equipamentos de aplicação com tecnologia garantiram maior acerto do alvo de controle, e, com o advento dos drones, os agentes macrobiológicos ( Cotesia flavipes e Trichogramma galloi ) conquistaram maior escala com liberações em condições climáticas favoráveis.
Embora não tenha ocorrido evolução nos métodos de amostragem e controle de cigarrinha-das-raízes, nota-se que houve supressão da praga, sendo problema em regiões específicas.
Isso pode ser explicado pelo uso de inseticidas com ação multipragas de forma mais ampla, visando controle de S. levis, aliado à operação de afastamento da palha, que reduz a umidade na base das touceiras desfavorecendo a população de cigarrinha.
Já para Sphenophorus levis, o cenário atual é de crescimento das infestações e baixa eficiência de controle, mesmo com a adoção de diversas ações desde a reforma do canavial e durante o manejo das soqueiras.
Multilingual Edition
Isto se deve à capacidade do inseto de viver no interior do rizoma da planta e abaixo do nível do solo, fatos que prejudicam em muito o controle, e pela dificuldade de definição do nível de dano econômico, de modo que as decisões sejam baseadas em danos que já ocorreram, o que pode gerar equívocos.
Estas lacunas no manejo evidenciam a necessidade de melhor compreensão da biologia e comportamento deste inseto, principalmente na condição de colheita crua da cana-de-açúcar. O ataque ao sistema radicular da planta pelos nematoides gera perdas significativas, mas a percepção é que muitas vezes não foi dada a devida atenção a isto e o controle, quando feito, era restrito ao momento do plantio da cana, muito provavelmente pelo alto custo de nematicidas químicos e demanda de mais uma operação na soqueira.
Com a realização do controle de S. levis em larga escala, aproveitando esta operação,
e aliado ao surgimento de nematicidas biológicos à base de bactérias e fungos, produtos seguros e de custo mais atrativo, tem-se investido no controle de nematoides também na soqueira.
Para tornar o desafio do manejo de pragas ainda maior, nos últimos anos tem predominado a ocorrência de altas temperaturas e irregularidade de chuvas, ora secas prolongadas, ora excesso de umidade, contrariando a normalidade climática à qual estávamos acostumados.
O resultado são safras e entressafras bastante distintas uma das outras, gerando um “efeito surpresa”, de não se saber ao certo o que se espera em cada uma, que dificulta o planejamento e a definição das estratégias de manejo a serem implementadas.
Do ponto de vista agronômico, o aumento da temperatura e do déficit hídrico afeta o desenvolvimento das plantas de cana-de-açúcar e estas ficam mais vulneráveis à presença de pragas e doenças, reduzindo a capacidade de defesa aos danos que são causados, o que pode acarretar maior redução de produtividade.
Além disto, sendo a temperatura o principal fator que rege o ciclo biológico dos insetos, atuando no desenvolvimento, sobrevivência e reprodução, é provável que as mudanças climáticas influenciem o comportamento e hábito dos mesmos.
Maior número de gerações ao longo do ano pode vir a ser uma realidade, afetando a distribuição geográfica e os níveis de infestações e resultando em mais danos à cultura. Nas intervenções para controle destas pragas, a eficiência pode ser aquém do que se espera, uma vez que temperatura mais elevada tem potencial para diminuir a penetração cuticular de produtos nos insetos e acelerar a degradação de moléculas químicas, prejudicando a ação residual dos produtos.
No caso de controle biológico, o aumento da temperatura poderá dificultar o crescimento e sobrevivência de fungos entomopatogênicos no solo e reduzir as relações e níveis de parasitismo oferecidos pelos macrobiológicos.
Neste contexto, é natural que novos modelos de sistemas produtivos surjam (e precisam surgir) na tentativa de garantir maior tolerância às plantas quanto às variações climáticas às quais estão expostas, o que também pode modificar as relações hospedeiro-praga.
Por isso, são fundamentais investimentos em pesquisas e inovações tecnológicas, bem como interação entre a comunidade científica e os representantes da cadeia produtiva, de modo a antecipar o conhecimento necessário para enfrentamento das adversidades climáticas e manutenção da segurança alimentar.
Como a obtenção destas respostas e soluções não é simples e demanda tempo, é crucial que as ferramentas atualmente disponíveis sejam utilizadas com critério técnico, assegurando a execução do manejo integrado de pragas e, claro, sempre com qualidade e capricho em todas as etapas, por meio de uma equipe comprometida e capacitada. n
Liberação de Cotesia com drone
BY
Nós nos consideramos agricultores, pois produzimos cana-de-açúcar e soja. No entanto, antes de sermos produtores, somos cultivadores de campos biológicos — verdadeiros ecossistemas vivos, compostos por milhões de espécies interdependentes, que garantem o equilíbrio necessário para uma colheita sustentável.
Nosso primeiro contato com a produção on-farm de biológicos ocorreu em um momento de dificuldades financeiras, quando buscávamos alternativas para conduzir nossas lavouras sem demandar altos investimentos. A necessidade impulsiona o progresso.
Montamos um laboratório para a produção de fungos e bactérias on-farm, com o objetivo de reduzir custos no controle da broca-da-cana (Diatraea saccharalis) e da cigarrinha-das-pastagens (Mahanarva fimbriolata). À medida que aprofundávamos nosso conhecimento, percebemos que essa prática fazia parte de um sistema agrícola mais amplo e sustentável: a agricultura regenerativa. Além da redução de custos com o controle dessas pragas, observamos inúmeros outros benefícios, como: melhoria da fertilidade do solo; redução do uso de fertilizantes químicos; diminuição das emissões de CO₂; plantas mais resistentes a pragas e doenças, e sequestro de carbono no solo.
Nosso primeiro objetivo foi atingido com êxito: a redução de custos, com a controle da broca-da-cana e da cigarrinha-das-pastagens,
tornando desnecessário o uso de defensivos químicos. A partir daí, expandimos o uso de biológicos para o controle de outras pragas, como percevejos, lagartas, nematoides, pulgões e cupins, além de doenças como mancha-alvo, oídio, mofo-branco, antracnose, crestamento foliar, podridão radicular, ferrugem-marrom, estria vermelha e septoriose, com excelentes resultados e sem necessidade de químicos.
Restauração da biologia do solo
A agricultura convencional reduz, ao longo do tempo, a diversidade biológica do solo, seja pelo uso intensivo de defensivos químicos, fertilizantes à base de cloro, seja pelo preparo excessivo da terra. Para restaurar essa biodiversidade, investimos na produção on-farm de biológicos de múltiplas espécies, conhecidos como Micro-organismos Eficientes (EM, do inglês Effective Microorganisms). Multiplicamos esses micro-organismos coletados na própria fazenda em áreas preservadas, como matas, matas ciliares e cerrado, além de fontes externas como Bokashi, EM-1 e compost tea. O objetivo é reestabelecer a vida no solo e fortalecer sua cadeia alimentar.
Com a restauração da biologia do solo, torna-se possível reduzir o uso de fertilizantes químicos solúveis. A microbiota do solo solubiliza minerais de fontes naturais, como pó de rocha fosfática, potássica e basáltica. Em nossa experiência na CAAE, adotamos uma técnica de pré-solubilização desses insumos, inoculando-os com micro-organismos em meio de cultura por 4 a 6 meses antes da aplicação. Algumas bactérias produzem metabólitos com pH próximo a 1, promovendo a decomposição ácida da rocha.
Grandes multinacionais do setor agrícola exercem forte lobby junto ao Congresso
Nacional para restringir a produção on-farm de biológicos. "
Osvaldo de Aguiar Junior CEO do Condomínio Agrícola Ana Elisa - CAAE
Essa prática tem impactos econômicos e ambientais significativos: ao substituir fertilizantes importados por insumos regionais, reduzimos custos, fortalecemos a segurança alimentar nacional e diminuímos a pegada de carbono associada à extração, industrialização e transporte desses produtos. Além disso, o intemperismo biológico dos pós de rocha representa uma ferramenta eficaz de sequestro de carbono no solo, possibilitando a comercialização de créditos de carbono provenientes dessa atividade.
A biologia como fonte de nutrição das plantas Recentemente, a ciência descobriu um benefício inovador no uso de biológicos: a capacidade das plantas de se nutrirem diretamente de micro-organismos vivos, em um processo denominado rizofagia. Pelo ápice radicular, as plantas absorvem esses micro-organismos, dissolvem suas membranas e utilizam seu conteúdo celular como fonte de nutrientes, minerais e polifenóis, fortalecendo, assim, seu sistema imunológico.
Multilingual Edition
Além disso, as plantas estimulam a atividade biológica no solo por meio da emissão de exsudatos pelas raízes. Esses exsudatos, compostos principalmente por açúcares ricos em carbono, representam a forma mais eficiente e econômica de adicionar carbono ao solo. Com a aplicação foliar de nutrientes e estimulantes específicos, é possível aumentar a eficiência da fotossíntese de 18% para até 60%, o que intensifica a liberação de exsudatos em até cinco vezes – passando de 3 para 15 t/ ha/ano. Esse processo potencializa exponencialmente o crescimento da biologia do solo e otimiza a captação e o uso da energia solar pelas plantas e, consequentemente, o resgate de carbono no solo.
A ciclagem biológica também desempenha um papel fundamental no sequestro de carbono no solo e no aumento da matéria orgânica.
Enquanto os métodos convencionais de compostagem apresentam uma conversão de aproximadamente 20% em húmus, a ciclagem biológica pode atingir até 80%. Esse efeito tem sido observado em nossos solos manejados com essa abordagem, evidenciando um aumento contínuo da matéria orgânica e melhorando a fertilidade do solo de forma sustentável.
Agricultura e Biologia: um debate necessário
Diante de tudo isso, a questão central permanece: somos apenas agricultores ou desenvolvedores de biologia em nossas fazendas? E, mais importante, seremos impedidos por leis e regulamentações de produzir nossos próprios insumos biológicos?
Atualmente, grandes multinacionais do setor agrícola exercem forte lobby junto ao Congresso Nacional para restringir a produção on-farm de biológicos. Caso essas barreiras sejam impostas, seremos forçados a adquirir biológicos embalados, industrializados, sob domínio de poucos players do mercado.
Isso representaria um entrave não apenas para nossa autonomia como produtores, mas para a própria evolução da agricultura regenerativa. A agricultura é um sistema biológico. Restringir a produção on-farm de biológicos é o mesmo que impedir o agricultor de exercer sua essência: cultivar a vida no solo.n
O manejo fitossanitário, assim como o desenvolvimento e a nutrição de plantas agrícolas, tem passado por profundas transformações nos últimos 15 anos. O uso de bioinsumos, em substituição a produtos obsoletos ou poluentes no controle de pragas e doenças, bem como na disponibilização de nutrientes e na estimulação do crescimento vegetal, tem crescido de forma assustadora atingindo níveis antes pouco conhecidos no setor agrário.
O crescimento do setor é exponencial. Enquanto o mercado mundial de bioinsumos avança em média 13 a 14% ao ano, no Brasil o ritmo é ainda mais acelerado, segundo a CropLife Brasil, uma associação civil sem fins lucrativos que representa empresas especializadas em pesquisa e desenvolvimento de soluções para a produção agrícola sustentável.
Na safra 2023/24, o mercado brasileiro de bioinsumos movimentou R$ 5 bilhões, com uma taxa média anual de crescimento de 21% nos últimos três anos, quatro vezes acima da média global. A área tratada com bioinsumos no País também cresceu significativamente, passando de 164 milhões de hectares na safra 2021/22 para 245 milhões na de 2023/24 .
Microrganismos como fungos, bactérias, vírus e protozoários, além de macrorganismos como vespas, moscas, ácaros e nematoides, fazem parte de um arsenal biológico cada vez mais sofisticado e eficiente. Esses agentes são a base dos bioinsumos, que também englobam extratos vegetais, óleos essenciais, compostos orgânicos e compostos atrativos ou repelentes de pragas, dentre outros.
Esse movimento só foi possível graças ao aprimoramento das formulações comerciais, que asseguram a viabilidade e eficácia dos microrganismos mesmo sob condições ambientais adversas.
A revolução biológica nos canaviais não é apenas uma resposta às limitações dos insumos tradicionais — é um novo paradigma para a agricultura tropical. "
Professor de Agronomia do Centro Universitário Moura Lacerda e Consultor em manejo de pragas na Occasio
Ainda que as biofábricas on-farm representem uma alternativa de baixo custo, poucas conseguem atingir os níveis de qualidade e estabilidade das formulações industriais – o que pode comprometer resultados e até representar riscos à saúde pública.
Na cultura da cana-de-açúcar, o uso de bioinsumos tem crescido de forma expressiva e consolidada. De acordo com a CropLife Brasil, os biodefensivos já são aplicados em mais de 5 milhões de hectares de canaviais
no País, com destaque para o controle de pragas de solo, doenças radiculares e melhorias no manejo do solo. A cana é hoje uma das culturas que mais avançaram na adoção de soluções biológicas, com tecnologias bem estabelecidas para o controle de pragas como a broca-da-cana ( Diatraea saccharalis ), Sphenophorus levis , cigarrinhas (Mahanarva spp.), além de nematoides e fungos e bactérias fitopatogênicos. Esse avanço se deve não apenas à eficácia agronômica dos bioinsumos, mas também ao desenvolvimento de formulações cada vez mais estáveis e adaptadas ao ambiente agrícola, permitindo um manejo biológico eficiente, escalável e ambientalmente sustentável.
Nos canaviais, o manejo biológico encontra um campo fértil para aplicação plena. Pragas e doenças de solo, como os nematoides, são combatidas com produtos à base de Trichoderma harzianum e Bacillus spp., que atuam diretamente sobre os patógenos e ainda promovem o fortalecimento do sistema radicular das plantas. A consequência é uma cana mais resistente ao estresse hídrico e ao ataque de pragas.
Os bionematicidas, por exemplo, já superaram os produtos químicos em área aplicada no Brasil, com vantagens que vão desde maior persistência no solo até efeitos benéficos colaterais, como a ativação da microbiota e a melhoria das condições físicas do solo. E os avanços não param por aí: esses microrganismos também têm sido usados para liberar nutrientes essenciais, como fósforo, potássio, zinco, ferro e nitrogênio – este último com destaque para a Azospirillum brasilense, que reduz ou até substitui fertilizantes nitrogenados sintéticos, minimizando o impacto ambiental.
Novas fronteiras estão sendo exploradas. Pesquisas já indicam que alguns microrganismos, como o Trichoderma harzianum, podem sequestrar CO₂ da atmosfera e fixá-lo no solo, transformando bioinsumos em aliados no combate às mudanças climáticas e abrindo caminho para geração de créditos de carbono. Entre os agentes biológicos mais utilizados nos canaviais estão os fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, eficazes contra pragas de solo como as cigarrinhas, a broca-da-cana, Sphenophorus levis e outros insetos de importância econômica. Desde os anos 2010, é comum a associação desses fungos com inseticidas químicos em doses reduzidas, potencializando os efeitos e prolongando a ação.
Mais recentemente, os nematoides entomopatogênicos ampliaram as possibilidades do controle biológico de pragas subterrâneas. Capazes de infectar e eliminar insetos como migdolus, cupins e a broca-peluda (Hyponeuma taltula), esses vermes liberam bactérias letais no hospedeiro e garantem sua eficácia por várias gerações. No controle aéreo, o uso de vespas parasitoides já é prática consolidada. A tradicional Cotesia flavipes , introduzida no Brasil nos anos 1970, foi complementada pela microvespa Trichogramma galloi, que ataca os ovos da broca-da-cana, impedindo o desenvolvimento da praga.
Ninfas das cigarrinhas mortas pela ação do fungo Metarhizium anisopliae
Atualmente, a liberação desses inimigos naturais é feita com drones, garantindo precisão, eficiência e escalabilidade. Com o aumento das áreas infectadas por fungos causadores da murcha-do-colmo, os canaviais do Centro-Oeste e Sul do País vêm sofrendo perdas significativas de produtividade. Embora diversos fungicidas químicos tenham sido recomendados para o controle dos agentes causais da doença, nenhum deles demonstrou eficácia consistente.
Com o lançamento de produtos à base de Bacillus pumilus e o desenvolvimento de cepas de Bacillus amyloliquefaciens com ação biofungicida, os impactos do complexo das murchas foram significativamente reduzidos. Além disso, esses bioinsumos têm contribuído para o controle do agente causal da estria-vermelha, da ferrugem-marrom e de várias manchas foliares secundárias. A revolução biológica nos canaviais não é apenas uma resposta às limitações dos insumos tradicionais — é um novo paradigma para a agricultura tropical. Mais do que ferramentas de controle, os bioinsumos representam um caminho de alta performance aliado à sustentabilidade, abrindo espaço para uma agricultura sustentável, resiliente e protagonista no enfrentamento das crises ambientais e climáticas do século XXI. O futuro do campo já começou — e ele é cada vez mais biológico.n
Resultados de aplicação de biológicos
A produtividade potencial da cana-de-açúcar pode atingir até 381 toneladas por hectare, segundo a literatura. No entanto, a média nacional ainda gira em torno de 80 t/ha. Essa lacuna é reflexo de restrições fisiológicas (relacionadas à fenologia, fisiologia e genética da planta), ambientais (como disponibilidade hídrica, temperatura, CO₂ e radiação solar) e agronômicas (pragas, doenças, plantas daninhas e deficiências nutricionais). Em um cenário cada vez mais desafiador, marcado pelas mudanças climáticas e pela crescente demanda por
sustentabilidade, o manejo adequado da cultura torna-se essencial para garantir a rentabilidade e a resiliência dos sistemas produtivos.
Entre as práticas mais promissoras nesse novo contexto, destaca-se o uso de bioinsumos. Seu emprego tem-se consolidado como um aliado estratégico na busca por sustentabilidade, redução de custos, segurança operacional, aumento da produtividade e apoio à descarbonização das operações. Entre os principais insumos biológicos, encontram-se os agentes microbiológicos (bactérias e fungos), macrobiológicos (insetos benéficos), além de biofertilizantes, bioestimulantes e extratos de algas. Seus efeitos benéficos vão além do controle do alvo, promovendo o equilíbrio ecológico, a regeneração do solo e ganhos indiretos na qualidade do ambiente agrícola.
Desde a safra 2022/23, o uso de biológicos tem ganhado destaque no manejo agrícola da Atvos. Inicialmente adotado de forma pontual, os bons resultados obtidos levaram à expansão do portfólio. Atualmente, os bioinsumos são aplicados em 100% das áreas de plantio e
Mais do que uma tendência, o uso de biológicos é uma transformação essencial para garantir a resiliência e competitividade do setor sucroenergético — com ganhos concretos em produtividade, sustentabilidade e segurança para o futuro. "
Inayê Leticia Parente de Almeida
Analista Agrícola na Atvos
corte de soqueira, além de integrarem estratégias de proteção de cultivo e práticas de agricultura regenerativa.
Durante o plantio, são utilizados Trichoderma, Bacillus e Azospirillum, com o objetivo de promover o crescimento radicular, suprimir patógenos e estimular a fixação biológica de nitrogênio. O uso de Azospirillum, por exemplo, tem permitido a redução de cerca de 17% na aplicação de fertilizantes nitrogenados, contribuindo diretamente para a diminuição da pegada de carbono das operações — um dos principais compromissos da empresa. Além do benefício ambiental, essa prática representa também economia financeira e ganhos de eficiência. Já no corte de soqueira, a combinação entre Bacillus, extrato de algas e Azospirillum busca acelerar a recuperação fisiológica da planta e reestruturar a microbiota do solo. Os resultados também se estendem ao controle biológico de pragas e doenças. Para a broca-da-cana são realizadas três liberações de Trichogramma associadas a uma liberação de Cotesia ou Tetrastichus.
Já para a cigarrinha-das-raízes, o controle é feito com os fungos entomopatogênicos Isaria e Metarhizium. O Sphenophorus, por sua vez, é controlado com o nematoide entomopatogênico Steinernema ou com o fungo Beauveria. Para doenças como ferrugem alaranjada e estria vermelha, Bacillus apresenta ação preventiva e curativa.
Paralelamente, a agricultura regenerativa também tem sido incorporada ao sistema produtivo da Atvos, com foco na restauração da saúde do solo e na promoção de uma produção mais equilibrada e resiliente.
O uso de biofertilizantes contribui para a recuperação da microbiota, aumenta a retenção de carbono e otimiza o uso de insumos, com impacto direto em práticas alinhadas ao RenovaBio. Esse modelo de manejo tem favorecido o aumento da nota de eficiência ambiental da empresa e a emissão de Créditos de Descarbonização (CBio), já que os biológicos apresentam impacto nulo ou muito reduzido ao meio ambiente.
Os resultados dessa abordagem integrada já são evidentes. Entre as safras de 2021 a 2024, mesmo diante de adversidades climáticas severas — como períodos de seca e queimadas — a Atvos alcançou um aumento de aproximadamente 42% em sua produtividade média. Isso comprova que, mesmo em cenários desafiadores, é possível manter altos níveis de desempenho produtivo com responsabilidade ambiental e inovação técnica.
Multilingual Edition
Dessa forma, a área de Experimentação Agrícola da Atvos tem papel central na validação e avanço dessas tecnologias. Por meio de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento, é possível testar novas soluções, adaptar práticas aos diferentes contextos das oito unidades operacionais do grupo e embasar tecnicamente as decisões agronômicas.
Considerando as variações de clima, solo e altitude entre as regiões, esse trabalho garante que os manejos recomendados sejam de fato eficazes, adaptáveis e sustentáveis.
Diante das exigências do mercado, dos impactos das mudanças climáticas e da necessidade urgente de práticas agrícolas mais sustentáveis, o uso de biológicos se consolida como uma alternativa viável, eficiente e responsável.
Mais do que uma tendência, trata-se de uma transformação essencial para garantir a resiliência e competitividade do setor sucroenergético brasileiro — com ganhos concretos em produtividade, sustentabilidade e segurança para o futuro. n
As mudanças climáticas sempre influenciaram as civilizações, impactando economia, sociedade e tecnologia. No passado, fenômenos naturais moldavam a agricultura, mas, com a Revolução Industrial, a queima de combustíveis fósseis intensificou desmatamento e emissões, acelerando o aquecimento global. Hoje, os efeitos são visíveis, especialmente na agricultura, com chuvas irregulares, extremos climáticos, furacões mais intensos, elevação do nível e temperatura dos oceanos, derretimento das calotas polares, desertificação e incêndios florestais frequentes.
A produção agrícola é diretamente prejudicada pela irregularidade das condições meteorológicas. Anomalias climáticas crescentes tornam os modelos matemáticos de previsão menos confiáveis, dificultando o planejamento e a sustentabilidade do setor. As mudanças climáticas afetam o desenvolvimento das culturas, reduzem a produtividade, comprometem a qualidade dos produtos e alteram os ciclos de vida de pragas e doenças. Isso resulta em um aumento do uso de produtos químicos para controle, trazendo impactos negativos ao meio ambiente e à sustentabilidade.
Essas transformações exigem adaptações no manejo agronômico, o que eleva os custos de produção e apresenta desafios cada vez maiores para garantir a viabilidade econômica e ambiental da agricultura no futuro.
Estratégias de manejo são essenciais para reduzir a vulnerabilidade às condições adversas.
O uso de insumos biológicos tende a se manter em expansão nos próximos anos com o avanço das novas tecnologias de produção e a introdução de novos microrganismos. "
Aloísio Bordignon Meloni Gerente Corporativo Agronômico da Viterra Bioenergia
• Manejo de rotação de cultura e época de plantio e colheita: eficaz na eliminação de ervas daninhas, na redução de pragas e doenças e na melhoria da microbiota do solo.
• Manejo varietal: uso de variedades mais resistentes a pragas e doenças incluindo até uso de variedades geneticamente modificadas.
• Manejo de irrigação: uma excelente solução aliando ganhos com bom retorno financeiro.
• Manejo químico: usando produtos mais modernos, reduz o impacto na natureza com menos agressão aos inimigos naturais.
• Manejo nutricional: a fertilização com organominerais preserva a microbiota do solo.
• Manejo biológico ou biotecnologia: pode ser complementado com hormônios que ajudam na atração e eliminação de pragas-alvo.
O manejo com produtos biológicos, como Cotesia flavipes, Metarhizium e Trichogramma, é um dos maiores programas de controle biológico em larga escala do mundo, cobrindo milhões de hectares com integração química. Na cultura da cana-de-açúcar, o uso de microrganismos biológicos representa uma inovação essencial para sustentabilidade e eficiência na produção agrícola, oferecendo controle eficaz e custos reduzidos, além de minimizar impactos ambientais.
Integrado ao manejo biológico, podemos utilizar manejo nutricional com a aplicação localizada e enriquecida de vinhaça, o que possibilita criar um ambiente ideal para agentes biológicos, favorecendo o desenvolvimento da
Multilingual Edition
planta e o controle de nematoides, pragas e doenças. O mercado de produtos biológicos tem crescido exponencialmente, impulsionado pela demanda por práticas sustentáveis e econômicas, abrangendo inseticidas, biofertilizantes, bioestimulantes e biofungicidas, compostos por microrganismos como fungos, bacillus, vírus e nematoides entomopatogênicos.
Um dos principais desafios para ampliar o uso desses produtos é a carência de conhecimento técnico entre os produtores, ainda habituados aos defensivos químicos. Para maximizar a eficiência, é essencial melhorar o armazenamento, transporte e equipamentos de aplicação, protegendo os produtos biológicos durante as operações.
As formulações mais recentes têm aumentado a estabilidade e eficácia dos insumos biológicos, com maior vida útil e novos microrganismos. Essa tecnologia demonstra alto retorno aos produtores e tende a expandir-se na agricultura, combinando alta produtividade, redução de custos e menor impacto ambiental.
Principais microrganismos utilizados na cultura canavieira:
• Bionematicidas: Atualmente, o uso de nematicidas químicos tem-se tornado cada vez mais raro, dando espaço a alternativas biológicas eficazes e sustentáveis. Diversos produtos à base de bactérias e fungos oferecem um excelente controle nematicida e fungicida diretamente no sulco de plantio. Entre os principais agentes biológicos utilizados, destacam-se os fungos Trichoderma sp. e Pochonia sp., além das bactérias Bacillus subtilis e Bacillus amyloliquefaciens, que atuam de maneira estratégica para reduzir populações de nematoides e proteger as culturas.
• Biofungicidas: A aplicação de nematicidas no sulco de plantio pode ser reforçada com microrganismos fungicidas, criando um manejo integrado. Para o controle da Estria Vermelha e do fungo Colletotrichum falcatum, Bacillus pumilus e Bacillus velezensis são usados em aplicações foliares, especialmente realizadas por via aérea, promovendo
maior eficiência no combate a essas doenças.
• Bioinseticidas: Os fungos, como Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Cordyceps, são fundamentais no controle de pragas da cana-de-açúcar, atuando em várias fases do cultivo e auxiliando na redução de infestação e custos. Junto a eles, os nematoides entomopatogênicos são eficazes contra pragas de solo, como Migdolus e Sphenophorus, fortalecendo o manejo integrado. Além disso, o bacteriano Bacillus thuringiensis (Bt) se destaca pelo controle de pragas, sendo amplamente reconhecido por sua eficácia e contribuição para práticas agrícolas sustentáveis.
• Biofertilizantes e Bioestimulantes: Produtos que atuam no sistema radicular das plantas melhoram a absorção de água e nutrientes, fixam nitrogênio, estimulam hormônios vegetais e fortalecem o metabolismo, aumentando a resistência a pragas, doenças e seca. Isso resulta em maior produtividade e redução no uso de ureia, potássio e fósforo. Os principais microrganismos envolvidos incluem Azospirillum brasilense, Pseudomonas fluorescens, Bacillus licheniformis, Bacillus aryabhattai, Bacillus circulans, Bacillus haynesii, além do extrato de algas marrons Ascophyllum nodosum.
O uso de insumos biológicos tende a se manter em expansão nos próximos anos com o avanço das novas tecnologias de produção e a introdução de novos microrganismos. Além de oferecer soluções inovadoras, essa tecnologia apresenta custos mais favoráveis em comparação com a cadeia de produção de insumos químicos, que pode sofrer variações influenciadas por fatores como localização geográfica, transporte marítimo, conflitos internacionais e aumento das taxas de importação.
Acompanhar esse desenvolvimento e utilizar essas ferramentas de maneira correta proporcionarão inúmeros benefícios, incluindo maior produtividade, redução de custos e melhoria da sustentabilidade. E não menos importante, a adoção de insumos biológicos contribuirá significativamente para a diminuição do impacto ambiental no setor sucroalcooleiro. n
Multilingual Edition
Um dos maiores desafios do setor sucroenergético hoje, sem dúvida, é a produtividade agrícola. E, quando dividimos a safra em três períodos (início, meio e fim), o desafio é ainda maior. A cana colhida nesse período é exposta a um estresse abiótico mais acentuado.
O estresse abiótico da cana-de-açúcar refere-se a qualquer fator não biológico do ambiente que afeta negativamente o crescimento, desenvolvimento ou produtividade da planta. Esses estresses comprometem processos fisiológicos e bioquímicos essenciais, como a fotossíntese, a absorção de nutrientes e o metabolismo energético.
Dentre eles, os mais relevantes são o déficit hídrico (seca), que é quatro, cinco vezes maior nas canas de final de safra, e as altas temperaturas e radiação solar excessiva. Todas elas combinadas geram estresse oxidativo, que é uma das principais consequências do estresse abiótico em plantas e está diretamente ligada à produção e acúmulo excessivo de espécies reativas de oxigênio, causando redução de crescimento, queda na taxa fotossintética, amarelamento e queima das folhas (perda de clorofila), enfraquecimento da planta e queda de produtividade.
Tudo isso implica em uma qualidade menor desta cana processada, com menor pureza, mais fibra e uma quantidade maior de açúcares redutores, onde temos relevantes impactos na indústria.
Adicionalmente a este desafio da qualidade, temos uma redução de produtividade média nesse período, em torno de 25% a 35%,
Atualmente, a empresa aplica aproximadamente nove vezes a área total com algum tipo de bioestimulante (55% aminoácidos, 20% precursores hormonais, 17% pré-seca e 8% hormônio). "
Mário Dias da Costa Filho
Gerente Corporativo de Desenvolvimento Agronômico da BP Bioenergy
impactando na manutenção de performance de colheita, havendo a necessidade de estrutura adicional e, por consequência, aumentando os custos de produção.
Diante desta realidade, a BP Bioenergy tem como umas das estratégias agrícolas implementar e desenvolver novas alternativas que reduzam este efeito, garantindo melhores condições para o nosso negócio, dentre elas a utilização de bioestimulantes.
A nossa jornada na utilização de bioestimulantes começou há 10 anos no plantio mecanizado, com uso de extratos de algas que estimulavam o enraizamento mais rápido, melhorando assim a brotação, mitigando parte do efeito dos danos mecânicos inerentes à operação. Em seguida, iniciamos as operações foliares com nutrição e extratos de algas. Inicialmente com uma única aplicação e depois conseguimos expandir para até três aplicações, dependendo das condições.
Há quatro anos começamos a utilização de complexos de aminoácidos, inicialmente junto com extratos de algas e foliares nutricionais e, atualmente, começamos a explorar mais a nossa experimentação, pois notamos que haveria oportunidades no estudo deste manejo.
Intensificamos nossa experimentação e, hoje, estamos utilizando um pacote de bioestimulantes à base de aminoácidos e extratos de algas com foco no arranque e/ou destravamento do canavial no início das chuvas, antes das aplicações com foliares nutricionais. ;
Comparativo entre áreas aplicadas com bioestimulantes pós-seca e testemunho com 20 dias após aplicação.
Embora ainda houvesse uma melhoria no canavial pós-estresse, havia o paradigma “do que mais faremos” para melhorar a cana de final de safra. Foi aí que iniciamos os estudos no manejo pré-seca, que consiste em proteger a lavoura antes do início da estiagem.
Para o nosso setor, de fato, é uma quebra de paradigma, pois, no manejo convencional, sempre se trabalhou para estimular o crescimento da planta e não no conceito de regulagem de fluxo de dreno, fortalecendo raízes e rizomas, antes da colheita.
Desta forma, na BP Bioenergy, aplicamos aminoácidos, extrato de algas e alguns nutrientes em três aplicações, realizadas na última janela de favorabilidade no final das chuvas. Os intervalos variam conforme a condição climática, podendo alternar entre 10 e 20 dias.
Embora haja variações entre anos, notamos que, além de reduzir a perda de produtividade, conseguimos um aumento de seis toneladas em média no final de safra, aumento de quase dois pontos de pureza e uma melhoria
E, por fim, sobre os últimos avanços das tecnologias em bioestimulações na BP Bioenergy, é válido mencionar que, no ano passado, validamos o uso de ácido giberélico em janeiro, com foco no crescimento. Olhando a dinâmica do Centro-Sul, mesmo sendo uma época de abundância de chuvas, é um período em que temos uma redução de radiação, e as aplicações de giberelina isolada ajudam a destravar nossa lavoura a alongar os colmos, dando excelentes resultados.
Atualmente, a empresa aplica aproximadamente nove vezes a área total com algum tipo de bioestimulante (55% aminoácidos, 20% precursores hormonais, 17% pré-seca e 8% hormônio). Contudo, mesmo com todo esse manejo, ainda se faz necessário continuar investindo em experimentações de alto nível para entender até onde poderemos chegar com o manejo de bioestimulações.
Ademais, a BP Bioenergy, além de investir fortemente em experimentação, também investe em outras técnicas para reduzir os impactos de clima, como manejo de água, correção de
O setor sucroenergético brasileiro é líder global na produção de açúcar e bioeletricidade, além de ser desempenhar papel de destaque na produção de etanol, amparado por políticas como o RenovaBio. Apesar de sua relevância para a economia e o clima, enfrenta narrativas que o associam ao desmatamento, ignorando a localização histórica e atual de seus cultivos e regulamentos como o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar (ZAE-Cana).
Até 2019, esse zoneamento orientava a expansão e produção da cana-de-açúcar no Brasil garantindo que a produção brasileira seguisse critérios ambientais considerando as características físicas, químicas e mineralógicas dos solos, o risco climático e a legislação ambiental vigente. Em 2024, queimadas em São Paulo impactaram canaviais, mostrando o setor como vítima de desafios climáticos, não sua causa.
Este artigo apresenta dados oficiais para contrapor a mitológica associação entre a produção de cana
É crucial distinguir: queimadas não equivalem a desmatamento. A cana não promove nem um nem outro, sendo vítima de eventos climáticos e ações criminosas, não sua causa. "
Gustavo Spadotti A. Castro
Chefe-Geral
da Embrapa Territorial
e a falta de sustentabilidade, destacando que este cultivo ocupa áreas historicamente antropizadas, não florestas. Mais que isso, o setor está pronto para atender às exigências globais, como a lei antidesmatamento da União Europeia, oficialmente chamada de EUDR (Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento),
e liderar a real – e não imaginária – transição energética com sustentabilidade e inovação, sendo benchmark para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém-PA, no coração da Amazônia.
Queimadas de 2024:
Um impacto sofrido, não causado
O estado de São Paulo registrou 7.296 focos de queimadas em 2024, que afetaram cerca de 59 mil hectares de canaviais e causaram prejuízos estimados em R$ 350 milhões ao setor sucroenergético. Causadas por calor extremo, baixa umidade, longa estiagem e ações humanas acidentais ou criminosas, as queimadas não tiveram origem nas práticas do setor, limitadas desde 2002 pela Lei Estadual 11.241/2002, que previu a eliminação gradativa desta prática. Pelo contrário, o setor sucroenergético investiu em brigadas de incêndio, drones e monitoramento por satélite e apoia fortemente a Operação São Paulo Sem Fogo. É crucial distinguir: queimadas não equivalem a desmatamento, definido como remoção permanente de vegetação nativa. A cana, cultivada em áreas antropizadas, não promove nem um nem outro, sendo vítima de eventos climáticos e ações criminosas, não sua causa.
A realidade com dados oficiais
Devemos sempre buscar a distinção entre desmatamento legal (licenciado), legítimo (sem licença, mas legal perante o Código Florestal) e ilegal (em áreas protegidas, em áreas de terceiros ou quando ultrapassam os termos da legislação). Atualmente, a cana ocupa 8,5 milhões de hectares (1% do território nacional), concentrada no Centro-Sul: São Paulo (55%, 5,6 milhões de hectares), Goiás (11%) e Minas Gerais (9%). Nestas áreas, se destacam polos como Ribeirão Preto e Uberaba, que abrigam 367 usinas, produzindo 63% do açúcar, 48% do etanol e 22,6 TWh de bioeletricidade (5% da energia nacional). Já a cana para pequenas destilarias (cachaça, rapadura) e alimentação animal (<5% da área) predomina em Pernambuco, Alagoas e pequenas propriedades do Sudeste/Centro-Oeste, sem expansão significativa. Todas essas áreas estão a mais de 2.000 km da Amazônia, em conformidade com o Zoneamento Agroe -
Multilingual Edition
cológico da Cana-de-Açúcar que limitava cultivo neste bioma e, também, no Pantanal. Estimativas preliminares apontam para um grande yield gap (ou folga de produtividade), ou seja, a diferença entre a produtividade dos produtores mais tecnificados e a média observada naquela região, podendo em muitos casos aumentar em cerca de 30 toneladas por hectare os valores de referência. Ademais, projeções contidas no Plano Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas do Ministério da Agricultura e Pecuária, que contou com contribuições substanciais da equipe da Embrapa Territorial, apontam para cerca de 40 milhões de hectares disponíveis, mostrando que a cana tem grande potencial para se expandir sobre áreas de pastagens de baixo vigor, e não visando a alteração do uso da terra de florestas para cultivos de cana-de-açúcar. Essa distribuição territorial reforça: a cana, industrial ou não, não avança sobre fronteiras agrícolas nem pressiona a Amazônia e demais áreas florestadas, respeitando o Código Florestal e a lei dos licenciamentos ambientais e, também, a Lei da Mata Atlântica, que tem por objetivo proibir o desmatamento de florestas primárias visando conservar, proteger e regenerar este bioma. Cana, desmatamento e alimentos
Dessa forma, associar a cana ao desmatamento é um equívoco, pois, além de distante dos grandes vetores de desmatamentos, existe um arcabouço jurídico regulamentado que historicamente garantiu seu cultivo em áreas antropizadas, com licenciamento ambiental rigoroso e condicionamento de financiamentos a este regimento legal. A cana não disputa espaço com alimentos: sua área é estável, e a rotação com soja, amendoim e adubos verdes eleva a produtividade agrícola. A cana é um modelo de economia circular, produzindo açúcar, etanol (1ª e 2ª geração) e bioeletricidade, enquanto resíduos como vinhaça e torta de filtro retornam como fertilizantes, reduzindo insumos minerais (P, K). Práticas como fixação biológica de nitrogênio, controle biológico de pragas e o fim da queima para a colheita, o alto componente tecnológico nas máquinas e equipamentos e a profissionalização e especialização da mão de obra envolvida em todas as etapas da produção minimizam impactos. ;
A rentabilidade da cana permite que os produtores rurais e fornecedores trabalhem com balaços financeiros e fluxo de caixa positivo, garantindo recursos para a preservação da vegetação nativa (Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal) dentro de suas propriedades, contribuindo para a sustentabilidade.
Estudos internacionais sobre Mudança Indireta no Uso da Terra (ILUC) são frequentemente mal aplicados à cana brasileira, superestimando impactos indiretos, ignorando os esforços do Brasil e seu equilíbrio no uso das terras (66% do território é dedicado à vegetação nativa, segundo a Embrapa Territorial). Modelos globais sugerem que o cultivo de cana deslocaria outras atividades para florestas, mas no Brasil isso não ocorre. Como anteriormente mencionado, o Brasil, mesmo com áreas de fronteiras agrícolas a serem exploradas, tem focado esforços no aumento da produtividade de cada uma das culturas e, também, na intensificação do uso do solo, buscando explorar a potencialidade das terras já antropizadas. Assim, o ILUC é uma especulação teórica que ignora a realidade regulada e sustentável do setor sucroenergético e da agropecuária brasileira. Longe de ser vilã, a cana alia produtividade e responsabilidade ambiental, gerando empregos e divisas sem comprometer a segurança alimentar ou o meio ambiente.
Preparada para a Lei Antidesmatamento da União Europeia
A Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR), que possivelmente entrará em vigor em dezembro de 2025, exige rastreabilidade de produtos livres de desmatamento pós-2020. A retroatividade a 2020 é questionável, mas o setor sucroenergético está pronto. O Código Florestal, o ZAE-Cana, o CAR – Cadastro Ambiental Rural, e a geração de dados oficiais de desmatamento asseguram conformidade. Unica e Orplana devem liderar as contraprovas da rastreabilidade que serão realizadas pela UE e terão a Embrapa
Multilingual Edition
Área de cana-de-açúcar em Pradópolis
Territorial como suporte de inteligência territorial estratégica para proceder a análises técnico-científicas sobre esta temática. Essa robustez legal e tecnológica garante que etanol e açúcar atenderão às exigências europeias, mantendo a produtividade, competitividade e sustentabilidade deste setor, que exportou 38,2 milhões de toneladas de açúcar (US$ 18,614 bilhões) em 2024. Isso reforça sua posição global, apoiada por um arcabouço ambiental que poucos países igualam, com suporte para eventuais contestações técnicas ou barreiras comerciais não convencionais.
Cana, a cultura verde do futuro Resumidamente, a cana-de-açúcar não desmata: concentra-se no Centro-Sul, a mais de 2.000 km da Amazônia, preservando Áreas de Preservação Permanente, Reservas Legais e excedentes de vegetação nativa. Os 28,9 bilhões de litros etanol de cana do Brasil reduzem as emissões em 90% frente à gasolina, e a bioeletricidade (22,6 TWh) substitui fontes sujas e não-renováveis.
Práticas como rotação de culturas, controle biológico e economia circular – com resíduos retornando à lavoura – consolidam sua sustentabilidade. A cana gera cerca de 700 mil empregos formais diretos, movimenta o interior, aporta divisas e adoça o mundo com sabor para os ricos e calorias baratas para populações vulneráveis.
Na COP30, em Belém, o Brasil poderá mostrar a cana como solução realista para a transição energética, longe de projetos mirabolantes, discursos disruptivos e utopias baseadas em soluções europeias, como a eletrificação das frotas. Distante de fronteiras agrícolas e regulada pelo Código Florestal, a cana é um motor de desenvolvimento sustentável.
O setor deve se unir para comunicar esses avanços, desmontando mitos e reforçando seu papel estratégico na economia e no clima, liderando o futuro verde do Brasil e do mundo. n
A busca por cadeias produtivas mais sustentáveis é tema central nas agendas públicas e privadas, especialmente diante das crescentes exigências globais por responsabilidade socioambiental. Na safra 2024/25, o Brasil cultivou quase 8,7 milhões de hectares de cana, com destaque para os estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
Líder mundial na produção de açúcar e um dos maiores produtores de etanol do planeta, o setor sucroenergético brasileiro tem sido vocal na agenda global pelas cadeias produtivas sustentáveis. No entanto, ainda é frequentemente apontado como possível vilão ambiental e associado a atividades de desmatamento. Será que essa percepção se sustenta com base em dados?
Antes de mais nada, é importante contextualizar o tema por meio de algumas definições importantes, pois o tema “desmatamento” é muitas vezes embutido dentro delas ao ser abordado. “Desmatamento” se refere à remoção de árvores e vegetação em uma área específica para poder abrir espaço para outra atividade. “Conversão de terra” se refere à transformação de um tipo de uso da terra para outro. O desmatamento, por exemplo, é um tipo de conversão de terra.
O termo “mudança do uso da terra” é mais amplo e pode ser entendido como as alterações no uso da terra ao longo do tempo e os fatores que motivam essas mudanças. É muito empregado na literatura na sua forma em inglês pela sigla LUC ( Land Use Change).
A expansão da cana se dá majoritariamente em áreas de pastagem degradadas que já foram abertas, sem competição direta com alimentos ou biomas preservados.
Livia Ignácio
Chefe para a América do Sul da Bonsucro
E o que dizem a história e os dados sobre desmatamento no Brasil?
A cultura da cana-de-açúcar é cultivada no Brasil desde o século XVI. O ciclo do açúcar, período em que a sua produção foi a atividade econômica predominante no país, se deu até o século XVIII. Isso significa que o processo original de mudança do uso da terra de vegetação nativa para canavial, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste, ocorreu durante esse período. A produção de cana-de-açúcar também foi expandida para as novas fronteiras agrícolas da região Centro-Oeste nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso – no entanto, estudos mostram que essa expansão se deu principalmente sobre áreas anteriormente cultivadas com pastagens.
Apesar da fama, os dados também mostram que o setor sucroenergético não é um dos principais vetores de desmatamento no Brasil atualmente. Um dos marcos importantes e que dão robustez a essa afirmação foi a criação, em 2009, do Zoneamento Agroecológico da Cana (ZAE Cana), desenvolvido pela Embrapa. Apesar de revogado em 2019, esse instrumento teve um papel importantíssimo em restringir a expansão da cultura canavieira para áreas com vegetação nativa e biomas sensíveis como Amazônia e Pantanal.
A maior parte da expansão da cana continuou em áreas de pastagem já abertas, especialmente no Cerrado e na região Centro-Sul. Dados do INPE indicam que a dinâmica atual do desmatamento no Brasil está mais fortemente ligada a outras cadeias produtivas, como a pecuária e a soja. Além disso, relatórios do Observatório da Agropecuária Brasileira e da Embrapa indicam que, nos últimos anos, o crescimento da área de cana tem sido limitado, com maior foco em ganhos de produtividade do que em expansão territorial.
É de extrema importância também o papel que teve o Protocolo Agroambiental no estado de São Paulo, desde 2007, na extinção das práticas de queima da cana e a consequente redução dos gases de efeito estufa associados aos canaviais paulistas.
Uma indicação forte de que a cana tampouco é um driver mundial de desmatamento é também o fato de não ter sido incluída na lista de commodities do escopo da regulamentação europeia antidesmatamento. O setor sucroenergético brasileiro, na verdade, vem cada vez mais adotando práticas sustentáveis e demonstrando-as ao mercado por meio de certificações e programas de sustentabilidade.
Atualmente, o Brasil possui 90 usinas certificadas pela Bonsucro, cerca de 2 milhões de hectares certificados (quase 23% da área de cana nacional), que totalizam um volume de cana certificada de cerca de 113 milhões de toneladas. A certificação Bonsucro exige o cumprimento de critérios ambientais rigorosos, incluindo rastreabilidade, proteção da vegetação nativa e respeito aos direitos trabalhistas.
O Padrão de Produção Bonsucro requer desmatamento zero em toda a área certificada. Na prática, isso significa que nenhuma área classificada como de alto valor de conservação ou ecossistema natural legalmente protegido foi convertido para canavial a partir de janeiro de 2008 e também que nenhuma área de ecossistema natural (protegido ou não) foi desmatada e convertida em agricultura a partir de janeiro de 2021.
Essas datas de corte estão em linha com as principais exigências internacionais sobre o tema. Para demonstrar conformidade, as empresas certificadas podem apresentar imagens comparativas de satélite, análises territoriais, relatórios de geoprocessamento, conhecimento local, dentre outras formas para evidenciar o
Multilingual Edition
uso da terra antes e depois das datas de corte. É de imensa relevância também o programa RenovaBio na demonstração da sustentabilidade e desconexão do setor sucroenergético com práticas de desmatamento. O RenovaBio certifica apenas o etanol de cana produzido a partir de áreas onde não tenha ocorrido supressão de vegetação nativa a partir de 2018 – atualmente o programa possui 289 usinas certificadas no Brasil.
Para resumir, alguns mitos comuns são:
Mito 1: “A cana está desmatando a Amazônia.”
Fato: A produção canavieira está concentrada no Centro-Sul e Nordeste do país. A expansão da cana-de-açúcar apresenta baixo risco de desmatamento.
Mito 2: “A produção de etanol compete com alimentos e com a preservação de florestas.”
Fato: A expansão da cana se dá majoritariamente em áreas de pastagem degradadas que já foram abertas, sem competição direta com alimentos ou biomas preservados.
Mito 3: “Biocombustíveis não são sustentáveis.”
Fato: O etanol brasileiro emite até 90% menos CO₂ do que a gasolina, considerando seu ciclo de vida. Mais de 88% do volume de etanol elegível nacional é certificado pelo RenovaBio com supressão vegetal zero a partir de 2018, e mais de 15% do etanol brasileiro já é certificado pela Bonsucro com desmatamento zero a partir de 2008 para áreas protegidas e de alto valor de conservação, e 2021 para todos os demais ecossistemas naturais.
Apesar de alvo de generalizações em relação ao desmatamento, a análise dos dados disponíveis mostra que a cana-de-açúcar, hoje, é uma das culturas agrícolas com maior controle territorial e com mecanismos robustos de sustentabilidade.
Combater mitos e desinformação é essencial para fortalecer políticas públicas e escolhas conscientes, baseadas em fatos e não em percepções.
O setor sucroenergético brasileiro, na verdade, tem um grande potencial de se tornar referência em agricultura regenerativa e de baixa emissão de carbono. Fortalecer a rastreabilidade, transparência de dados e engajamento com a sociedade são caminhos para consolidar essa imagem. n
Mitigação dos efeitos do clima
Multilingual Edition
A cultura da cana-de-açúcar tem uma importância cada vez maior para o Brasil, quer pela produção e exportação de açúcar, quer pela energia carburante do etanol e geração de energia elétrica pela queima do bagaço. Seus inúmeros coprodutos, como a levedura para ração animal, e subprodutos fertilizantes, como a vinhaça e torta de filtro, têm colocado a cana como exemplo ímpar de economia circular e de sustentabilidade. Projetam-se também uma utilização mais extensiva do etanol como fonte primária da produção de hidrogênio para a motorização elétrica e como combustível de aviação sustentável.
Porém, a produtividade agrícola tem sido muito afetada por diversos fatores, tanto na produção em colmos (TCH) quanto no teor de sacarose (ATR) por área, ocasionando-se uma variabilidade preocupante entre safras.
Além do clima, sem dúvida um dos mais impactantes, tivemos uma expansão para ambientes de produção de menor potencial, assim como a adaptação à mecanização do plantio e da colheita, com aumentos significativos de perdas, impurezas minerais e vegetais. Tivemos também uma extensão do período de moagem, antecipando-se para março, até dezembro, período esse de menores teores de sacarose. A idade do canavial também aumentou, assim como a ocorrência de pragas e doenças e a competição das plantas daninhas.
Por todos esses fatores, continuamos “reféns” dessa variabilidade da produção. Neste artigo, pretende-se discutir criticamente os principais riscos à nossa produtividade, assim como oferecer estratégias de mitigação dos relacionados ao clima.
a irrigação tem-se tornado a principal ferramenta para a sustentabilidade da produção, ou seja, diminuir a instabilidade da produção e garantir o suprimento da matéria-prima para a usina "
René de Assis Sordi
Consultor da Enercana e Presidente do GIFC – Grupo de Irrigação e Fertirrigação da Cana-de-açúcar
Risco climático:
Os riscos climáticos em cana-de-açúcar podem acontecer durante todo o seu ciclo, envolvendo as principais épocas de plantios (janeiro a abril) e as demais socas (março a dezembro), nas diversas fases de desenvolvimento das plantas como também na colheita.
Dependendo do ano e da região de cultivo, a cana pode sofrer também outros riscos como as geadas e o florescimento. As geadas são mais frequentes no PR e no sul do MS e ocasionam perdas diretas de peso dos colmos e deterioração dos mesmos. Os prejuízos também podem ser verificados no manejo da colheita, pois o canavial que sofreu geada tem de ser rapidamente colhido. A indução do florescimento ocorre no final do verão e início do outono, de meados de fevereiro a meados de março. Além da latitude (que se estende da latitude de 24° ao nordeste brasileiro), condições de altas temperaturas noturnas e boa disponibilidade hídrica a influenciam favoravelmente. Outro fator preponderante é a propenção da variedade. A partir de maio, os colmos florescidos podem isoporizar e entrar no processo de perda de peso e também dificultar a extração do suco na indústria. A aplicação de inibidores de florescimento e maturadores passou então a fazer parte obrigatória do manejo dos canaviais. ;
Tem-se verificado outra anomalia do clima, normalmente não muito estudada, que é o aumento significativo da temperatura na primavera e no verão, intensificando a evapotranspiração e extrapolando os limites fisiológicos ótimos de desenvolvimento, que estão na faixa em torno de 2830°C de temperatura máxima.
Mas o principal risco climático é a variação de precipitação que tem ocorrido nos últimos anos, tanto em quantidade quanto em distribuição.
A seca, com veranicos mais frequentes (momento-chave para o plantio e para o desenvolvimento vegetativo das plantas), quando ocorre de forma mais acentuada no período do outono e inverno, aumenta os riscos de incêndios, que produzem consequências danosas tanto em perda de produtividade quanto de manejo de colheita.
A distribuição e quantidade de precipitação pluviométrica tem variado e notadamente diminuído nos últimos anos, tanto nas diferentes fases do período de formação do canavial, quanto no período de colheita ou safra.
Mitigação dos efeitos climáticos:
Como destacado anteriormente, sem dúvida o clima, mais especificamente o estresse hídrico, é o principal e o mais difícil desafio a ser mitigado para diminuir a instabilidade da produção da cana-de-açúcar no Brasil. A irrigação torna-se então uma das ferramentas que podemos lançar mão para garantir a sustentabilidade da produção, assim como a longevidade dos canaviais.
Pouco tempo atrás associávamos a irrigação somente a regiões com déficit hídrico muito acentuado ou regime de chuvas muito concentrado, como o do Nordeste brasileiro ou norte de Goiás, e até mesmo condições de semiárido.
Esse paradigma tem sido quebrado. Em recentes pesquisas e áreas semicomerciais, pudemos constatar as respostas econômicas em produtividade da irrigação de salvamento, até mesmo em regiões “tradicionais” como a de Ribeirão Preto-SP, com menores déficits hídricos.
A cana de açúcar, apesar de sua relativa rusticidade, pela característica de ciclo longo, tem fisiologicamente uma necessidade de suprir os déficits hídricos acima de 300 mm anuais, conforme nos mostra a publicação de 2023 “Irrigação da cana-de-açúcar: Tecnologia, crescimento potencial no Brasil e sua legislação” do GIFC – Grupo de Irrigação e Fertirrigação da Cana-de-açúcar.
A irrigação plena ou com deficit hídrico controlado, por gotejamento ou pivôs centrais, também tem trazido resultados econômicos surpreendentes valorizando o uso racional da água, sem dúvida um dos nossos recursos mais preciosos.
Multilingual Edition
Uma modalidade de irrigação que tem crescido cada vez mais é feita logo após a colheita. Ela é chamada de “salvamento”, por aspersão de lâminas de água de 40 a 60mm, no lead time correto, que garante não somente a brotação de soqueira e produção do próximo corte, mas sobretudo uma maior longevidade do canavial e melhor manejo de colheita.
Aumento da produtividade com irrigação: O processo de irrigação tem muito boa resposta à produtividade. Existe, contudo, por parte de alguns produtores no Centro/Sul, um certo preconceito econômico de que a lavoura da cana do país conduzida no “sequeiro” tem melhor retorno do que a cultura irrigada, face ao elevado Capex necessário à irrigação. Nos últimos anos, esse preconceito tem sido reformulado pelos resultados que vêm sendo obtidos por aqueles que vêm investindo na irrigação em seus canaviais.
Sabe-se que, além da maior produtividade agrícola, tem-se com a irrigação um período muito mais longo para a renovação da cultura (ou seja, menor investimento do plantio), uma produtividade bem maior que carrega positivamente o critério da maior sustentabilidade (menores emissões por hectare) e, finalmente, da maior rentabilidade final.
Estudos de 10 anos em cerca de 80.000 ha em condições reais de uma usina na região tradicional produtora de Ribeirão Preto para diferentes ambientes de produção revelam que a usina tem 72% de cana própria irrigada no sistema de salvamento ou com déficit controlado, sendo 55% em ambientes de “A” a “C” e 45% de “D” a “G”. Os resultados de produtividade (TCH) indicam um aumento médio de 8%.
Como principais pontos de atenção para o crescimento e consolidação da prática de irrigação na cana-de-açucar no Brasil podemos citar: a) a disponibilidade de água e consequente outorga e a rigidez das leis ambientais; b) a implantação da cobrança pelo uso da água; c) o aumento do custo (capex e manutenção) dos sistemas de irrigação, principalmente os de déficit hídrico controlado.
Apesar dos pontos de atenção mencionados, a irrigação tem-se tornado a principal ferramenta para a sustentabilidade da produção, ou seja, diminuir a instabilidade da produção e garantir o suprimento da matéria-prima para a usina.
Muitos grandes grupos e até mesmo produtores independentes têm aumentado seu interesse pela irrigação. Essa forte estratégia, associada ao uso de novas variedades e aos corretos manejos nutricional e fisiológicos e controle de pragas e doenças, terá como consequência a superação da incômoda estagnação da nossa produtividade. n
Não há como negar que o clima está mudando, no entanto, dizer que essa mudança é causada pelo homem ou se trata de um ciclo natural da evolução do planeta Terra é uma pauta para outro momento de discussão.
Mas o fato é que as anomalias climáticas, que antes apareciam em menor frequência, com ciclos aproximados de 10 anos, hoje estão se tornando cada vez mais corriqueiras. E não estão mais caracterizadas apenas pela falta ou pela péssima distribuição das chuvas, mas também vêm acompanhadas por extremos na temperatura ou por baixas temperaturas, fato que ocorreu na safra 2021/2022, onde em várias regiões do estado de São Paulo ocorreram três fenômenos de geada seguidos ou por fortes ondas de calor, como ocorreu na safra 2024/2025. E persistem em acontecer no início do ano de 2025.
Infelizmente, o setor sucroenergético ainda é muito dependente da precipitação, o que leva a grandes variações na nossa produtividade. Ou seja, em anos em que temos alta pluviosidade e essa é mais bem distribuída, temos safras com alta produtividade; entretanto, quando temos anos com baixa pluviosidade ou com chuvas mal distribuídas, consequentemente apresentamos enormes quedas de produtividade, ou como dizemos, anos com “quebra na safra”.
lastrear 60% de todo o canavial, com a adoção de vários métodos de irrigação, em uma usina de médio porte, além de reduzir as oscilações de produtividade, pode-se aumentar a produtividade média em 11,9%, reduzir os custos de produção em 3,73% e reduzir o raio médio operacional em 25,1%. "
Daniel Botelho Pedroso Especialista Agronômico da Netafim
Apenas lembrando que tão ou até mais importante que a quantidade de chuva é a sua distribuição durante o ciclo da cana-de-açúcar.
As mudanças climáticas que nos levam a estas oscilações na produtividade estão nos desafiando cada vez mais a “fechar a conta”, pois a produtividade não é apenas um número a ser apresentado, mas sim é a base de todo o nosso planejamento industrial e agrícola.
Recentemente, apresentado no Irrigacana na cidade de Ribeirão Preto-SP, o Pecege mostrou um dado alarmante. O custo de produção da cana-de-açúcar na safra 2021/2022 aumentou aproximadamente de 49% em relação à safra
Multilingual Edition
2020/2021, tendo como o grande responsável por esse aumento, a quebra de produtividade dos canaviais causada pela severa estiagem.
Além da queda da produtividade afetar o custo de produção da cana-de-açúcar, também afeta toda a cadeia. Pois com menos matéria-prima e para evitar que a indústria fique ociosa, o setor agrícola se vê obrigado a tomar certas decisões como colher canaviais novos com menos de 12 meses, aumentar o raio médio de colheita, arrendar mais áreas e plantar em áreas mais distantes. Todos esses fatores reduzem os lucros das empresas.
Uma das grandes alternativas para se mitigar as mudanças climáticas é através do uso da irrigação, mas não somente com o objetivo de “molhar” o canavial quando não tiver chuvas suficientes, mas sim utilizar a água como um insumo de produção. E isso quer dizer planejar como, quando e onde será utilizada essa água.
Mesmo sendo muito necessária e antiga – há registros de utilização da irrigação desde 3.100 AC –o setor parece que acordou somente agora para o uso da irrigação, mas, apesar do grande número de adoções de equipamento nos últimos anos, a área irrigada de cana-de-açúcar no País ainda é muito pequena, representando apenas 17% de toda área plantada. Atualmente, temos vários sistemas de irrigação disponíveis no mercado, como o autopropelido, o pivô e o gotejamento, cada qual com sua característica, benefícios e limitações.
Inserir o uso da irrigação na matriz produtiva é, sem dúvida, a melhor opção para se reduzir os efeitos das mudanças climáticas e as oscilações na produtividade. Em dados apresentados em um plano diretor de irrigação, foi demonstrado que, ao se lastrear 60% de todo o canavial, com a adoção de vários métodos de ir-
rigação, em uma usina de médio porte, além de reduzir as oscilações de produtividade, pode-se aumentar a produtividade média em 11,9%, reduzir os custos de produção em 3,73% e reduzir o raio médio operacional em 25,1%.
Casos práticos já são observados no cotidiano, onde uma usina 100% irrigada localizada em Minas Gerais anunciou que nessa última safra aumentará a sua produtividade média, enquanto a grande maioria dos produtores da região terão redução.
Além de evitar as quebras, o irrigante pode diminuir as oscilações que ocorrem também dentro da mesma safra. É muito normal os canaviais colhidos no início de safra serem de maior produtividade, pois o déficit hídrico ainda é baixo, no entanto, à medida que a safra evolui, essa produtividade tende a cair devido ao aumento do déficit hídrico. É nessa hora em que se deve adotar o uso da irrigação. Além disso, sugerimos irrigar os canaviais mais próximos à indústria, verticalizando-se a produção. Havendo maior produção mais próximo da indústria, o raio médio de transporte cai e, junto a ele, os custos de CTT (Colheita, Transbordo e Transporte).
Devemos aceitar que o clima está mudando e que não podemos mais confiar nele para realizar as tomadas de decisões. A evolução da tecnologia da irrigação juntamente com todos seus benefícios estão disponíveis para serem utilizados.
A reflexão a fazer é: se hoje estão ocorrendo as oscilações climáticas, o que leva a grandes desafios agronômicos e a oscilações na nossa produtividade, e, se dependemos da produtividade para fazer todo o nosso planejamento e se a irrigação pode nos ajudar a estabilizar essas oscilações, por que não utilizar esta solução?n
O agronegócio é o mais impactado pelas mudanças climáticas e a adaptação é o caminho
Segundo estudo publicado em outubro de 2021, pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, em que foram analisados 88.125 artigos, mais de 99% da literatura científica publicada entre 2012 e 2020 reconhece a influência da ação humana na atual crise climática. Desse total, apenas 28 artigos questionavam a influência da ação humana nos fenômenos climáticos contemporâneos, atribuindo-os a “ciclos naturais”.
Embora a maioria dos brasileiros reconheça a existência das mudanças climáticas e sua origem antropogênica, há uma divisão significativa quanto à gravidade de seus efeitos. Um estudo da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV RI) revelou que 44% dos entrevistados expressam ceticismo em relação à severidade da crise climática. Para o estudo, essa descrença não está necessariamente ligada a fatores políticos ou ideológicos, mas sim ao grau de individualismo dos cidadãos, medido pela desconfiança na capacidade do Estado em oferecer soluções para problemas coletivos.
No Brasil, o setor econômico mais cético em relação às mudanças climáticas costuma ser o agronegócio, es-
Este não é o momento de negar o óbvio: as mudanças climáticas são uma realidade, e seus impactos já estão sendo bem sentidos. "
Walter Batista Junior Meteorologia agrícola e Assessor técnico da AGERH – Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo
pecialmente nos segmentos ligados à pecuária, ao cultivo de café, soja, milho e cana-de-açúcar. Algumas razões para esse ceticismo incluem:
1. Impactos econômicos das regulamentações ambientais: Muitos produtores veem políticas climáticas como um risco à competitividade e lucratividade, devido a possíveis restrições no uso da terra, taxação de carbono e exigências de desmatamento zero;
2. Pressão externa e conflitos comerciais: A pressão de mercados internacionais por sustentabilidade gera resistência em parte do setor, que vê essas exigências como barreiras protecionistas disfarçadas de preocupações ambientais;
3. Influência de setores conservadores: Algumas lideranças do agronegócio adotam discursos minimizando a relação entre mudanças climáticas e atividades humanas, priorizando a visão de que fatores naturais são os principais responsáveis pelas variações climáticas.
Apesar disso, há também empresários e organizações do agronegócio que reconhecem os impactos das mudanças climáticas na produção agrícola e investem em práticas mais sustentáveis, como agricultura regenerativa e redução do desmatamento.
Com participação de 22% do Produto Interno Bruto - PIB, em 2024, o agronegócio brasileiro é um dos pilares de nossa economia, empregando, de forma direta ou indireta, mais de 30 milhões de pessoas no país e respondendo por aproximadamente 50% das exportações brasileiras.
Por mais que algumas vozes digam o contrário, o agronegócio brasileiro é o setor mais intimamente ligado à temática das mudanças climáticas seja através de sua contribuição com o aumento das emissões de gases de efeito estufa, causadas principalmente pela mudança do uso de terra, desmatamentos, queimadas e pelo escoamento rodoviário de seus produtos, seja por sua profunda susceptibilidade aos impactos dos eventos extremos climáticos (tempestades, secas, ondas de calor) e∕ou pela crescente diminuição da disponibilidade de recursos hídricos.
Um recente estudo lançado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, coordenado pela Unifesp – Universidade Federal de São Paulo, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pela Unesco, com apoio da Fundação Grupo Boticário, revela que houve um aumento de 250% no número de desastres climáticos no Brasil no período de 2020 a 2023, em comparação com a década de 1990. Segundo dados deste estudo, se durante a década de 1990 foram registrados 725 eventos por ano, nos períodos de 2000 a 2009 foram 1.892 registros, e de 2010 a 2019 foram 2.254 registros. A partir de 2020, a média chegou ao patamar de 4.077 registros anuais. Nos 32 anos analisados pelos pesquisadores, foram registrados 64.280 desastres climáticos em 5.117 municípios brasileiros, representando 92% dos municípios do país. As principais ocorrências foram secas (50% dos registros), seguidas por inundações, enxurradas e enchentes (27%) e tempestades (19%).
Muito em função da ocorrência simultânea de eventos extremos climáticos, no ano de 2024 a participação do agronegócio no PIB teve uma queda de 3,2% em relação a 2023. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o agronegócio sofreu um prejuízo de R$ 6,67 bilhões, sendo que as principais perdas foram de R$ 5,41 bilhões no Rio Grande do Sul, em função das enchentes, e R$ 1,1 bilhão na região Norte, em função das secas.
Como observado anteriormente, há uma tendência de aumento no número e intensidade de desastres climáticos, os quais, se nada for feito, aumentarão os prejuízos estruturais e econômicos, para o agronegócio brasileiro. A seguir, são sugeridas algumas estratégias técnicas, que podem ajudar no processo de adaptação, entre elas:
Multilingual Edition
• Diversificar sistemas de produção: em vez de focar a produção apenas em um tipo (lavoura ou pecuária ou floresta), os sistemas integrados combinam esses tipos em uma de quatro possibilidades: lavoura e pecuária (iLP), lavoura e floresta (iLF), pecuária e floresta (iPF) ou as três opções juntas (iLPF);
• Cultivares mais resistentes: plantas mais tolerantes a secas e∕ou altas temperaturas e pragas;
• Criação de animais adaptados ao calor e à umidade: aumentar a população de animais com melhores índices de produtividade, quando submetidos a estresses hídricos e de temperatura;
• Práticas de conservação do solo: recuperação de pastagens degradadas, rotação de culturas, plantio direto, cobertura do solo;
• Práticas de conservação de água: práticas que favoreçam a infiltração das águas de chuva no solo, como as barraginhas e caixas secas;
• Gestão eficiente da água: irrigação por gotejamento, uso de sensores e drones para otimizar o uso de água e fertilizantes;
• Avaliações de risco e sistemas de alerta preventivo: analisar a vulnerabilidade de regiões e sistemas produtivos, antecipando as respostas aos eventos climáticos.
Em um mundo com rápido crescimento populacional, podendo chegar a mais de 9 bilhões de pessoas em 2050, a garantia de manutenção das cadeias produtivas e de logística é fundamental para manter essa população saudável. Mas, para que isso seja possível, o meio ambiente precisa ser preservado.
Essa não é uma visão romântica ou ideológica, e sim estratégica: sem a disponibilidade de água e solo, o agronegócio brasileiro deixa de ser competitivo e, caso não proteja florestas e mananciais hídricos, perderemos os serviços ambientais que esses ecossistemas nos fornecem de graça.
Este não é o momento de negar o óbvio: as mudanças climáticas são uma realidade, e seus impactos já estão sendo bem sentidos. A ação humana neste processo é clara e há urgência em recorrer mais uma vez ao trinômio “Pesquisa, Ensino e Extensão”, visto que foram a Embrapa, as Ematers e as Universidades públicas que ajudaram o agronegócio brasileiro a se tornar vanguarda mundial na produção de alimento, vestimentas e energia. n
Já começamos a testemunhar os efeitos adversos das mudanças climáticas globalmente, impactando nosso ambiente e as pessoas. O setor agrícola e aqueles que trabalham nele estão entre os mais afetados. O Brasil é uma das regiões com maiores riscos potenciais, parcialmente devido à sua geografia única e à sua dependência econômica dos recursos naturais. A cana-de-açúcar, especificamente, embora seja uma cultura relativamente resiliente, está altamente sujeita à diminuição da produtividade à medida que os efeitos contínuos das mudanças climáticas são sentidos. É inegável que, coletivamente, devemos adaptar nossas práticas para prosperar neste novo mundo.
À medida que nosso clima muda, ele afeta nosso ambiente e leva a alterações nos padrões de chuva, na temperatura e em eventos climáticos extremos.
Alguns dos principais parâmetros que impactam na produtividade agrícola incluem estresse térmico, risco de seca, risco de chuvas extremas, risco de geada e escassez de água. A biodiversidade e a natureza também estão em risco, potencialmente levando à extinção de espécies e à perda de habitat.
As mudanças climáticas já estão remodelando zonas agrícolas, à medida que o aumento das temperaturas e as chuvas irregulares forçam as culturas a migrarem para novas áreas. Culturas tropicais como a cana-de-açúcar enfrentam a ameaça de redução de produtividade, impactando a segurança alimentar global e a economia. Esses desafios enfatizam a importância de estratégias de resiliência para garantir sistemas agrícolas sustentáveis em meio a essas mudanças profundas.
Não é apenas o ambiente que é impactado por um clima em mudança. As pessoas também são diretamente afetadas, seja por riscos à saúde, seja por perda de segurança financeira, seja por vivenciar os impactos de condições climáticas extremas. A colheita da cana-de-açúcar exige grande esforço físico dos trabalhadores sob calor intenso, o que apresenta um risco significativo à saúde.
A solução está centrada na construção de resiliência e na adaptação às mudanças climáticas. Implementar a agricultura regenerativa é um dos melhores métodos para construir resiliência na agricultura. "
Matt Loxton Gerente de Ação Climática da Bonsucro Londres
O estresse térmico ocupacional é um problema crescente devido às mudanças climáticas, causando doenças renais e, em muitos casos, a morte.
Os principais riscos enfrentados pelos produtores de cana-de-açúcar no Brasil variam de região para região, mas focam na seca, no estresse térmico e nas chuvas irregulares. Por exemplo, um estudo recente na região Centro-Sul do Brasil mostrou uma redução projetada de 10% na produtividade da cana-de-açúcar devido às secas severas e incêndios.
Há uma variedade de ferramentas climáticas que podem ser utilizadas para avaliar riscos climáticos, aproveitando dados climáticos históricos e modelos climáticos projetados, analisando diferentes cenários, como os oferecidos pelas ferramentas do IPCC.
As ferramentas do IPCC utilizam modelos climáticos avançados, como as Trajetórias de Concentração Representativa (Representative Concentration Pathways – RCPs), para projetar vários cenários climáticos com diferentes níveis de precisão. Essas ferramentas são altamente eficazes na análise de riscos climáticos específicos para a produção de cana-de-açúcar no Brasil.
A solução está centrada na construção de resiliência e na adaptação às mudanças climáticas. Implementar a agricultura regenerativa é um dos melhores métodos para construir resiliência na agricultura. Agricultura regenerativa significa coisas diferentes para pessoas diferentes, mas todas as definições se concentram na construção da saúde e resiliência do solo.
Isso pode ajudar a aumentar o carbono orgânico do solo, melhorar a eficiência hídrica e minimizar os insumos no solo. Práticas como cobertura vegetal, minimização do preparo do solo e manejo integrado de pragas são comumente usadas. Essas práticas devem ser adaptadas ao cenário local e abordar os maiores riscos climáticos no contexto dado.
Os critérios do Padrão de Produção Bonsucro incluem a realização de uma avaliação de risco climático e a construção de um plano de resiliência climática para combater esses riscos.
Estamos atualmente desenvolvendo uma ferramenta de resiliência climática que permite aos usuários avaliarem riscos climá-
Multilingual Edition
ticos atuais e futuros com base em vários cenários, usando a produtividade como métrica. A ferramenta então desenvolve um "cenário resiliente" através da implementação de práticas – frequentemente focando na agricultura regenerativa. Em conjunto com essa ferramenta, estamos expandindo ainda mais nossa atuação em agricultura regenerativa. Está claro que práticas como cobertura vegetal e minimização do preparo do solo podem reduzir significativamente o risco climático ao melhorar a saúde do solo, aumentar a eficiência hídrica e minimizar os insumos.
Os impactos das mudanças climáticas se estendem além da cana-de-açúcar, ameaçando outras culturas críticas como soja e café, que são vitais para a economia do Brasil. Cada cultura enfrenta desafios únicos; por exemplo, a produção de café está cada vez mais vulnerável ao aumento das temperaturas e às chuvas irregulares, o que leva ao desenvolvimento de variedades resistentes ao calor.
Da mesma forma, a soja é suscetível à seca e ao estresse hídrico, o que pode afetar gravemente a produtividade. Essas vulnerabilidades sobrepostas destacam a importância de estratégias cruzadas de culturas, incluindo técnicas de agricultura resiliente ao clima, agricultura de precisão e colaboração global.
Abordar riscos compartilhados entre culturas não apenas garante a segurança alimentar e econômica, mas também fortalece a resiliência geral do setor agrícola a um clima que está mudando rapidamente.
Em conclusão, é inegável que as mudanças climáticas estão e continuarão a ter impactos negativos na produção de cana-de-açúcar no Brasil. Avaliar esse risco é um passo crucial, seguido por um plano para construir resiliência.
O uso de ferramentas pode ser particularmente útil, e um foco na agricultura regenerativa pode construir essa resiliência com custo mínimo.
Finalmente, é importante também observar que a mitigação climática é um componente essencial. Embora a adaptação climática possa ajudar a combater alguns dos problemas associados às mudanças climáticas, combater a causa raiz do problema não deve ser deixado de lado. n
BIOENERGÉTICA: Cana, Milho, Açúcar, Etanol, Bioeletricidade, Biogás,
Quais os rumos do sistema bioenergético
e as mudanças
A convergência entre tecnologia e a automação
Anuário de Sustentabilidade & Guia de Compras do setor bioenergético Como as empresas estão se preparando para conviver com os eventos climáticos
A manutenção ideal
A velocidade da implantação das inovações
FLORESTA: Celulose, Papel, Carvão, Siderurgia,
Desafios da produtividade florestal no Brasil
Anuário de Sustentabilidade & Guia de Compras do sistema Florestal - 2025
A sustentabilidade precisa trocar o abstrato pelo concreto
Os impactos econômicos e sociais das florestas plantadas
A busca da alta produtividade florestal
Ações diretas e indiretas de proteção da floresta plantada
A floresta plantada, as áreas degradadas e o desmatamento
Nota: Pautas e datas de fechamento sujeitas a alterações em função da pesquisa de mercado que será realizada 45 dias antes da publicação para verificar a atualidade do assunto.
Imagine se você descobrisse que o médico com o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na manhã seguinte se formou há 20 anos como o melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade de medicina do País. Muito bom, hein?!
Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu nenhum livro, nem participou de nenhum congresso, nem teve por costume ler regularmente revistas especializadas da sua área médica. Você faria a cirurgia em paz?
No que se refere a nossa área, quantas tecnologias foram desenvolvidas e implantadas nessas duas décadas como o estado da arte e, depois de algum tempo, substituídas por uma nova opção, muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar da anterior, até ser igualmente substituída por uma mais nova ainda.
Quantas pragas e doenças apareceram, desapareceram, e algumas até voltaram? Quantas técnicas foram substituídas nesses últimos 20 anos?
Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. A faculdade está sempre atualizada, mas tão somente até o dia da sua formatura. Os livros, igualmente, até o dia da sua publicação. As opções que são continuadamente atualizadas são os congressos e as publicações regulares das áreas.
Conhecendo esse cenário e o que passou a representar nesses 22 anos de operação para as universidades, centros de pesquisa e empresas do sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões decidiu abrir inscrições gratuitas para que todos os estudantes, professores e cientistas de todos os cursos de agroconhecimento de qualquer parte do mundo, passem a receber todas as nossas publicações.
Todos os artigos da Revista Opiniões têm textos publicados em 7 idiomas, quais sejam: português, espanhol, inglês, francês, chinês, árabe e hindi, cobrindo a língua falada pelo incrível numero de mais de 4 Bilhões de pessoas.
O objetivo é fazer com que o estudante, desde o primeiro dia de aula, passe a participar da vida empresarial na qual se integrará, em alguns anos, já com atualizado conhecimento do que está sendo discutido, avaliado e implantado nas empresas.
Muitos dos executivos e cientistas que hoje escrevem na Revista Opiniões declararam que liam nossas edições desde quando ainda eram estudantes nas universidades.
Ampliando o projeto de educação continuada, decidimos também abrir as inscrições gratuitas para todos os funcionários das áreas técnicas, agrícolas, industriais e administrativas das empresas produtoras e fornecedoras dos sistemas florestal e bioenergético de qualquer parte do Brasil e do mundo.
O acesso à informação dirigida é a mais eficiente forma de unificar e atualizar o conhecimento entre todos os funcionários em cargos de comando, bem como preparar os funcionários em ascensão para assumi-los. Esta é a mais agradável forma de gerar a educação continuada.
Para passar a receber regular e gratuitamente as edições de nossas revistas, basta enviar um e-mail com os dados abaixo:
• Para: Jornalismo@RevistaOpinioes.com.br
• Assunto: Educação continuada gratuita
• Informe:
- Apenas o primeiro Nome
- e-mail profissional
- e-mail pessoal
William Domingues de Souza Editor-chefe das Revistas Opiniões
WDS@RevistaOpinioes.com.br Celular e WhatsApp: +55 16 99777-7799
Áreas de interesse:
Edição Bioenergética:
• Cana
• Milho
• Agave
• Macaúba
• Açúcar
• Etanol
• Biodiesel
• Biogás
• Biometano
• Bioeletricidade
• Mercado de Carbono
• Ração animal
Edição Florestal:
• Celulose
• Papel
• Carvão
• Siderúrgia
• Painéis
• Madeira
• Produtos não-madeireiros
Celular-WhatsApp: +55 16 99777-7799 Opinioes@RevistaOpinioes.com.br www.RevistaOpinioes.com.br
Fonte: Google Analytics
São 3.700 artigos, sobre 184 diferentes temas, escritos com exclusividade pelas maiores autoridades dos assuntos no país.
Você tem 2 formas para ler as revistas:
1. Pela edição Digital, folheando as páginas como em uma antiga revista. Nesta opção você pode fazer o download da edição inteira, para ler quando estiver off-line, ou
2. Por texto corrido, lendo os artigos individualmente com livre acesso aos textos e imagens, nos 7 idiomas disponíveis.
a revista mundial do agronegócio brasileiro.
Biblioteca
Sucroenergética Biblioteca Florestal
Acesso ao Site
Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Dr. Benjamin Anderson Stauffer, 901 - Cj 41 - 14021-617Ribeirão Preto, SP, Brasil - +55 16 99777-7654 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br • Editor-chefe e Diretor de Operações: William Domingues de SouzaWDS@RevistaOpinioes.com.br - Whats App: +55 16 99777-7799
•Coordenadora de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza VRDS@RevistaOpinioes.com.br - Fone: 16 99773-220016 3207-0007 - •Vendas Operacionais: Priscila Boniceli de Souza Rolo - pboniceli@gmail.com - Fone: 16 99132-9231
•Jornalista Responsável: William Domingues de SouzaMTb35088 -jornalismo@RevistaOpinioes.com.br •Projetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br 16 2604-2006- • Projetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - LuisaBR@RevistaOpinioes.com.br -16 2304-2012• Banco de Dados: Lílian Restino - LR@RevistaOpinioes.com.br •Correspondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai - Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de •Copydesk Portugal: Katja Augusto: +351 913856862- katja.augusto@gmail.com - •Edição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - pboniceli@gmail.com •Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões pessoais sob a responsabilidade de seus próprios autores •Foto da Capa: Acervo Cerradinho •Foto da página do Índice: Acervo Cerradinho •Foto do Expediente: Acervo da ATVOS-Conquista •Fotos dos Articulistas:Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos •Foto da próxima edição sucroenergética: acervo Revista Opiniões •Foto da próxima edição Florestal: acervo Revista Opiniões •Fotos de Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 34222502 - 19 98111-8887- paulo@pauloaltafin.com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Mailson Pignata - mailson@aresproducoes.com.br - fone: 16 99213-2105 • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas •Expedição Revista Digital: 32.214 •Revista Digital: Cadastre-se no Site da Revista Opiniões através do serviço de Fale Conosco e receba as edições diretamente em seu computador ou celular •Portal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos, com livre possibilidade para donwload •Idiomas da Revista Opiniões: Original em Português e traduzido por Inteligência Artificial para Espanhol, Inglês, Francês, Árabe, Chines Simplificado e Hindi •Auditoria de Veiculação e de Sistemas de controle: Liberada aos anunciantes a qualquer hora ou dia, sem prévio aviso, através de visita virtual • Home-Page: www.RevistaOpinioes.com.br
Revista Opiniões Ásia-Índia: Marcelo Gonçalez, Business Researcher: +55 84 99192-4699 • Eliete Aparecida Alvez Gonçalez, Marketing Researcher: + 55 84 99168-6152 • Gabrielle Gonçalez, Chief Editor Assistant: +55 84 99168-9702
ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504
Conselho Editorial da Revista Opiniões: Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Augusto Praxedes Neto • Caio Eduardo Zanardo • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Eduardo Mello • Edimar de Melo Cardoso • Fernando Campos Passos • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • José Ricardo Paraiso Ferraz • Luiz Ernesto George Barrichelo • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Quirino • Mauro Valdir Schumacher • Moacyr Fantini • Moacir José Sales Medrado • Nelson Barboza Leite • Roosevelt de Paula Almado • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima
Divisão Sucroenergética: • Evaristo Eduardo de Miranda
• Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Julio Maria M. Borges • Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio • Marcos Guimarães Andrade Landell
• Marcos Silveira Bernardes • Martinho Seiiti Ono • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto
• Tadeu Luiz Colucci de Andrade
plataforma digital multimídia da Revista Opiniões