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Jozézio Esteves Gomes, Eldorado Brasil

Índice incêndios florestais incêndios zero !

O grande dilema, na maioria das empresas de base florestal no mundo, sempre foi evitar a perda e os danos a seus ativos florestais causados pelo fogo. A pergunta que sempre vem à mesa quando se trabalha com planos de prevenção e combate a incêndios é: como alcançar a meta de fogo zero sem danos nos ativos florestais? Sabemos o quão difícil é a previsibilidade dessa métrica, uma vez que as fontes e as causas de incêndios nos povoamentos florestais são diversas e, em alguns casos, até mesmo desconhecidas.

No entanto, nesses últimos anos, as preocupações globais, principalmente com o meio ambiente e as emissões de CO2, vêm pressionando cada vez mais governos e organizações a atuarem de forma mais eficaz, na tentativa de minimizar os impactos causados por incêndios indesejáveis, o que leva ao desenvolvimento de novos processos de proteção, novas tecnologias e artifícios capazes de praticamente garantir a previsibilidade e a assertividade do monitoramento e da detecção e melhorando a eficácia dos combates a focos de incêndios.

Porém, o custo de uma prevenção e de um combate que evite ao máximo os danos aos ativos florestais ainda é alto e significativo para governos, empresas e instituições. Por isso a necessidade de dedicar mais inteligência nas ações de prevenção, para que permitam um combate cada vez mais eficiente e contribuam para a implementação de tecnologias disruptivas, e até mesmo inovadoras, voltadas exclusivamente às atividades de proteção contra incêndios florestais.

Claro que essas tecnologias e inovações ainda não substituem as clássicas e consagradas práticas convencionais de proteção da floresta quando o assunto é fogo. Ter um plano de prevenção e combate a incêndios florestais estruturado de forma inteligente e que possa ser aplicável, de forma eficiente, é um grande diferencial competitivo para evitar os danos nos ativos florestais, diminuindo riscos do negócio e até mesmo agregando valor ambiental às iniciativas de sustentabilidade das empresas.

Geralmente, um plano de prevenção inteligente está ancorado em 4 pilares fundamentais: prevenção, monitoramento/detecção, combate a incêndios e indicadores de inteligência, conforme demostra o quadro Plano de Prevenção a Incêndios Florestais. A prevenção inteligente congrega todas as boas práticas que antecedem o período crítico para que todas as demais etapas do plano de prevenção tenham eficiência e sucesso em sua execução. Nessa etapa, os aceiros, as pistas de pouso e as estradas têm de ser revisitadas e mantidas, para que sejam plenamente utilizáveis durante os processos de combate a focos existentes.

Também é nessa etapa que os brigadistas devem ser treinados e requalificados anualmente, como garantia de que ninguém irá para o front do fogo sem a devida prática e conhecimento de combate, evitando riscos de acidentes e até mesmo a perda de vidas humanas. Outro ponto importante nessa etapa são as campanhas de difusão de informações úteis e conscientização sobre os riscos e danos cau-

O monitoramento inteligente abriga tecnologia e inovação. Com poderosos sistemas de detecção munidos de inteligência artificial, as centrais de monitoramentos atuais são capazes de detectar até 30 focos simultâneos de incêndios em tempo real. "

Jozébio Esteves Gomes

Coordenador de Competitividade e Projetos Florestais da Eldorado Brasil Celulose

PLANO DE PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS

PREVENÇÃO

1. Aceiros químicos; 2. Aceiros mecânicos; 3. Manutenção de pistas de pouso; 4. Treinamento de brigadistas; 5. Campanha com vizinhos – Telefone e contatos;

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MONITORAMENTO E DETECÇÃO

1. Central de Monitoramento de incêndios; 2. Monitoramento câmera, satélite, sensores, drone; 3. Comunicação e conectividade (rádio, satélite e 4G); 4. Monitoramento Climático – estações meteorológicas; 5. Mapas de risco de incêndio;

COMBATE A INCÊNDIO

1. Fluxograma de Atendimento a ocorrência; 2. Plantão Florestal; 3. Alocação de brigadas e estrutura; 4. Recurso de equipamentos e M.O.; 5. Combate aéreo – aviões e helicóptero

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INDICADORES

1. Relatório de sinistros; 2. Mapeamento das causas de incêndio; 3. Mapeamento de áreas críticas; 4. Histograma de frequência (período x ocorrência); 5. Acompanhamento de custos operacionais;

Sala de Monitoramento

Equipe de monitoramento, detecção e combate a incêndios sados pelo fogo, que vale para comunidades, vizinhos e parceiros, pois são eles que, em um momento de crise, estarão aptos a prestar quaisquer apoios ao monitoramento, à detecção e até mesmo à prática de combate aos focos existentes.

Já o monitoramento inteligente abriga a tecnologia e a inovação. Com poderosos sistemas de detecção munidos de inteligência artificial, as centrais de monitoramentos atuais são capazes de detectar até 30 focos simultâneos de incêndios em tempo real.

Isso é possível graças ao poderio tecnológico embarcado nas torres de monitoramento em campo, onde temos câmeras com alta capacidade de visão, equipadas com sensores de luz, termais e infravermelho, que conseguem capturar, de forma instantânea, quaisquer anomalias nos povoamentos florestais, conforme mostra a Central de Monitoramento e Detecção Inteligente da Eldorado Brasil.

Ainda dentro do monitoramento e detecção inteligente das ocorrências de incêndios, destacam-se os monitoramentos complementares, que contam com o uso de satélites, sensores e a mais recente novidade de mercado, aeronaves não tripuladas de longo alcance, com autonomia acima das 6 horas de voo, que permitem, além do monitoramento em tempo real, realizar o combate assistido, apoiando tomadas de decisões fundamentais para a eficácia da supressão do fogo.

Outro ponto importante considerado no monitoramento inteligente é a previsibilidade associada ao monitoramento climático, que permitem a antecipação e o conhecimento dos riscos aos ativos florestais em caso de incêndio. Para tanto, hoje, existem sistemas e algoritmos de alta performance especializados no processamento de informações climáticas, que liberam, de forma instantânea, informações de riscos de incêndios com precisão em uma determinada região, gerando também mapas de riscos futuros.

O combate eficiente é extremamente importante para o sucesso do plano de prevenção inteligente. É nessa etapa que toda ação irá provocar uma reação eficaz para supressão dos focos de incêndios fundamentais. É peça fundamental, nessa fase, a existência de um fluxograma que expresse, de forma simples, clara e eficiente, como se dará o atendimento às ocorrências, para que as equipes de combate possam ser despachadas de forma rápida.

Também nessa etapa, é importante a rotina do plantão florestal, para despacho de brigadistas, equipamentos e estruturas de apoio, bem como o despacho de aeronaves de combate (aviões e helicópteros). Para tanto, é importante ressaltar que todos os recursos destinados ao combate devem ser alocados de forma estratégica, reduzindo o tempo entre o despacho e o início do combate às ocorrências, otimizando estrutura, reduzindo custos e aumentando a eficiência do combate, evitando ao máximo quaisquer danos causados aos ativos florestais conforme demonstra o quadro o Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, em destaque. Por fim, temos o pilar dos Indicadores de Inteligência, que são extremamente importantes para que possamos contar com análises robustas das informações obtidas durante o ciclo de prevenção e combate às ocorrências de incêndios. A missão é subsidiar e avaliar as estratégias adotadas, bem como propor a inserção de novas ações frente a oportunidades de melhorias que promovam o alcance da meta de incêndios zero, além de mapear as causas de incêndios e suas respectivas áreas críticas. Essa iniciativa gera um histograma de frequência dos períodos de criticidades que requerem maior estado de atenção para uma prevenção inteligente com um combate eficaz dentro das organizações.

Apesar de tudo, a aplicação correta de uma prevenção inteligente (com combate eficiente) para obtenção de resultados que levem a incêndios zero nas organizações dependem, em sua totalidade, de pessoas qualificadas, comprometidas, com conhecimento e experiências voltadas à segurança dos colaboradores, à proteção dos ativos florestais e ao respeito ao meio ambiente, contribuindo para uma prática produtiva sustentável, minimizando riscos, reduzindo custos e maximizando resultados positivos para as empresas de base florestal.

AÇÕES DE PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS

Plano Prevenção Treinamento Brigadas Calibração Câmeras

Fim Período Crítico

Manut. Aceiros Campanhas Prevenção Início Período Crítico

Monitoramento pelo IRIS Detecção por Câmeras Combate com Brigadas Investigação e BO do Sinistro

Reunião Fechamento

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Índice incêndios florestais um sistema avançado de combate

A produção silvicultural de florestas plantadas tem o seu máximo potencial produtivo expresso mediante situações bióticas e abióticas ótimas. Há aspectos dessa cadeia não totalmente manejáveis, sobretudo as diversas características climáticas. Ao avaliarmos os fatores manejáveis, nos deparamos com condições que podem limitar o atingimento da chamada produtividade atingível do povoamento florestal.

Esses fatores envolvem o manejo tecnológico da floresta, ou seja, a adoção das mais adequadas recomendações técnicas de manejo e de alocação de material genético para cada situação edafoclimática, bem como a qualidade de execução dessas recomendações. Uma vez garantida a eficácia de tais fatores, o sucesso para florestas de alta performance ainda não está garantido. É preciso zelar pela proteção florestal, contra fatores que podem limitar, de forma significativa, a oferta de madeira futura, como a ocorrência de pragas e doenças e de incêndios florestais.

A prevenção, o monitoramento e o combate a incêndios florestais sempre tiveram um importante destaque na agenda dos gestores de ativos florestais. Além de um prejuízo financeiro imediato, a redução da oferta de madeira futura gera impactos financeiros que podem ser mensurados também em um horizonte maior, ao ser necessária a substituição dessa fonte de matéria-prima.

Podemos citar, adicionalmente, impactos mensuráveis, que também possuem relevante espaço na agenda dos gestores, relacionados às práticas de ESG.

É crescente a preocupação de consumidores, clientes e de diversos agentes da sociedade quanto aos impactos ambientais decorrentes dos incêndios florestais, o que pode trazer, inclusive, reações relacionadas à marca do empreendimento.

Contextualizada a relevância do tema e sua clara conexão com a estratégia do negócio, a gestão da prevenção de incêndios florestais merece adequado destaque no planejamento e na organização das atividades. E, na Suzano, não é diferente: tendo como direcionador a cultura de que só é bom para nós se for bom para o mundo, o processo de gestão do tema em toda a companhia busca garantir as melhores práticas de manejo com foco na preservação do meio ambiente e na proteção das comunidades no entorno de suas operações.

Para garantir o sucesso dessa pauta, a experiência da companhia baseia-se em três grandes pilares: a adoção de tecnologias para garantia dos melhores recursos para monitoramento e combate aos incêndios, a gestão do tema como um processo produtivo e o fortalecimento regional de parcerias com instituições públicas e privadas.

Para o primeiro pilar, a Suzano investe de forma significativa na adoção de tecnologias já consolidadas para o setor e continua aportando recursos no desenvolvimento de novas soluções.

detectada qualquer situação, dá-se sequência a um protocolo de resposta imediata para verificação, validação e dimensionamento da estrutura necessária, que pode variar de caminhões pipas até aeronaves. "

Renan Gilberto da Silva Carvalho e Jansen Barrozo Fernandes

Supervisor de Silvicultura e Gerente de Operações Florestais de Três Lagoas-MS da Suzano, respectivamente

Operamos em todos os nossos sites florestais com câmeras de monitoramento que nos auxiliam na detecção das ocorrências. Contamos com 129 torres equipadas com câmeras no Brasil, sendo que, no estado do MS, há atualmente 21 delas, com plano de expansão para 30 torres em 2023. Tais estruturas são equipadas com câmeras de alta resolução, que monitoram um raio médio de 15 km com cobertura de 360°; algumas também possuem repetidoras que auxiliam na comunicação via rádio em nossa base.

Toda essa estrutura está ligada a centrais CFTV’s, sigla dada aos circuitos fechados de TV, com um sistema de monitoramento interno, no qual é possível um acompanhamento da floresta 24 horas por dia, alertando para possíveis ocorrências, com máxima agilidade. Uma vez detectada qualquer situação, dá-se sequência a um protocolo já estabelecido de acionamento das equipes de resposta imediata para verificação, validação e dimensionamento da estrutura necessária, que pode variar de caminhões pipas contendo LGE (Líquido gerador de espuma), equipes manuais, máquinas de grande porte e, em última instância, o uso de aeronaves.

Temos testado, mais recentemente, tecnologias de identificação precoce de focos, por exemplo, com o uso de imagens de satélites. Tecnologias assim surgem como alternativa para médios e pequenos produtores e para bases florestais em expansão, situações nas quais existem certas limitações para organização de uma estrutura do porte de um CFTV. Entretanto é necessário, ainda, uma grande evolução dessas soluções para garantia de melhores assertividades de detecção e diminuição do tempo de resposta dos eventos, fator primordial para o sucesso de um efetivo combate.

Não podemos deixar de citar a importância de uma rede de alertas por meio de vizinhos, comunidades e funcionários, grandes parceiros do processo.

O segundo pilar baseia-se em gerir essas atividades como um processo produtivo qualquer, gerando-se indicadores, estabelecendo-se metas, medindo desempenho e avaliando sistematicamente melhorias contínuas.

A Suzano organiza esse processo com gestores operacionais em cada site, os quais administram toda a estrutura e o processo localmente, com reporte matricial para uma célula corporativa, ligado à área de inteligência patrimonial, a qual desenvolve uma sistemática para compartilhamento das melhores práticas entre as diferentes regiões, a padronização de tarefas e indicadores e o desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas para gestão. São gerenciados indicadores específicos, como mão de obra envolvida, tempo de resposta por município, tipo de área atingida, causa da ocorrência, tempo médio de deslocamento,

tempo em combate, tempo médio de resposta, desembolso realizado, dentre outros, que são compartilhados e geridos para melhoria contínua. Treinamentos e capacitações constantes de brigadistas também são disciplinas obrigatórias, a fim de preparar ao máximo as equipes para as situações reais de combate. Tais capacitações não se limitam somente ao time de silvicultura, mobilizando e engajando todo o time operacional dos demais processos para atuação, uma vez que seja necessária a intervenção, garantindo que ela aconteça com o máximo de eficiência e segurança.

O terceiro pilar, de perspectiva mais institucional, busca fortalecer regionalmente alianças entre diferentes agentes contra um inimigo em comum. Os benefícios são múltiplos, as possibilidades de sinergias são diversas: a composição de equipes multidisciplinares tende a construir planejamentos mais robustos, a possibilitar comunicações mais abrangentes e, portanto, eficazes e, até mesmo, na divisão de certas despesas que possam vir a ser necessárias para maiores investimentos em períodos mais críticos.

Na Suzano MS, nosso “ecossistema” de prevenção de incêndios é liderado pela Associação Sul-Matogrossense de produtores e consumidores de florestas plantadas (Reflore), que, por meio de sua direção, configura-se um importante agente mediador e facilitador nas interlocuções com o poder público, o que possibilita a criação de importantes parcerias e agendas. Atua também como um agente agregador entre os diferentes players regionais, agindo como um catalisador para a promoção de parcerias no compartilhamento de recursos e redes de monitoramento entre seus associados.

Tal qual as ameaças de pragas e doenças, os incêndios florestais também não respeitam “cercas” de divisas entre diferentes produtores. O apoio mútuo, o compartilhamento de informações e experiências e o fortalecimento de alianças regionais são aspectos de extrema importância para o sucesso desse tema.

Essa formação cooperativa com objetivo comum traz ainda, como benefícios, um importante posicionamento setorial à sociedade, externalizando toda a robustez e a profissionalização que temos na preservação dos recursos naturais.

Pontos-chave, como conectividade e novas tecnologias, precisam estar sempre no radar, para que possamos acompanhar o dinamismo das mudanças, sem perder a eficiência e a performance. Soluções como internet 5G, telefonia móvel, rádio digital e telefonia satelital precisam estar cada vez mais acessíveis e com baixo custo.