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Wilson Reis Filho, Embrapa

A implantação de uma floresta de eucalipto numa área de pastagem requer mais atenção com as formigas cortadeiras, pois, mesmo na ausência de saúvas, pode-se ter um ataque de quenquéns em até 70% das mudas nos primeiros 30 dias de plantio .

No entanto, os danos de quenquéns em eucalipto restringem-se aos primeiros meses após o plantio. A partir dos seis meses, não há mais a necessidade de realizar o combate às formigas nos locais de ocorrência só de quenquéns, ao contrário do que é recomendado nos plantios que há a ocorrência de saúvas, que precisam ser monitorados e controlados durante todo o ciclo florestal.

Em plantios de pínus, há uma situação que não há necessidade de realizar o controle sistemático no período pré-plantio: em áreas de reforma, cujo plantio anterior era pínus não desbastado, com pousio entre o corte raso e novo plantio de menos de seis meses, plantio ocorrendo no inverno, em locais distantes de áreas de matas nativas (APPs, Reserva Legal...) e quando a ocorrência for somente de quenquéns.

Além disso, observou-se a influência do manejo de plantas daninhas nos ataques das quenquéns, sendo que onde esse manejo é realizado por meio de roçadas há menos ataques de formigas nas plantas de interesse comercial, pois a roçada não elimina totalmente as plantas daninhas, que acabam servindo de recursos para o forrageamento das formigas, e, nesse caso, o combate pode ser realizado apenas no primeiro ano após o plantio.

Quando há uso de herbicidas, é necessário realizar o manejo de formigas, pelo menos enquanto houver o manejo de plantas daninhas (até o terceiro ou quarto ano após o plantio). As quenquéns não causam prejuízos em plantios adultos de pínus, assim não é necessário realizar o monitoramento e controle de quenquéns nessa fase.

Todos os fatores que influenciam no manejo de formigas cortadeiras em plantios de eucalipto e pínus constam numa planilha eletrônica (Ferramenta computacional - Manejo Formigas) disponível no site da Embrapa Florestas. Essa ferramenta contém 16 recomendações diferentes em função de cada situação, visando orientar a tomada de decisão sobre o manejo adequado de formigas cortadeiras em cada etapa do plantio.

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QÍndice formigas saúvas: do laboratório ao campo

Há cerca de 14 mil espécies de formigas catalogadas em todo o planeta. Estima-se que a abundância de formigas no ambiente terrestre é de 20x1015 indivíduos, dos quais 3x1015 são epigeicos (forrageiam sobre o solo). Assim, a biomassa de formigas equivale a 12 megatons (12x106 toneladas) de carbono, ou seja, 20% da biomassa humana.

Entre as importâncias das presenças de formigas na superfície terrestre, além do acúmulo de biomassa, destacam-se como principal predador do ambiente (animais vivos ou mortos), desfolhadoras de plantas, coletoras de pólen e néctar (principalmente dos nectários extraflorais) das plantas e na ciclagem de nutrientes. Nos padrões ecológicos, atuam na dispersão de sementes.

Todas as espécies de formigas são eussociais (altamente sociais) e pertencem a uma única família de Hymenoptera, Fomicidae. As saúvas estão incluídas na subfamília Myrmicinae, tribo Attini e subtribo Attina, com cerca de 140 espécies que cultivam fungo mutualista e ocorrem exclusivamente nas Américas. Três gêneros (Atta, Acromyrmex e Amoimyrmex) são conhecidos como cortadeiras de folhas, entre eles, estão as saúvas. No setor florestal, destacam-se duas espécies: Atta sexdens (saúva limão) e Atta laevigata (saúva-cabeça-de-vidro).

Os hábitos alimentares dos primeiros Hymenoptera são basicamente os mesmos dos demais insetos: fitófagos, ou seja, consumidores primários das plantas terrestres. O surgimento da holometabolia permitiu que jovens e adultos de uma mesma espécie utilizassem recursos alimentares diferentes, evitando a competição entre eles, e passaram a exercer a herbivoria larval e zoofagia larval. Nesses últimos, desenvolveu o ovipositor, que, com adaptações, deram origem ao ferrão. Parte desses insetos retornaram à condição fitófagos, como as abelhas, as vespas e as formigas, mas não utilizando diretamente as plantas na alimentação, e sim explorando, de várias maneiras, os produtos vegetais já elaborados como ampla forma de se alimentar. Depois, um grupo dessas formigas passaram a utilizar o material vegetal para o cultivo de seu próprio alimento, com o auxílio de um fungo, considerado a principal fonte alimentar da colônia. Entre elas, as mais derivadas são as formigas-cortadeiras.

Os custos de novas tecnologias e de formação de recursos humanos de alto nível são altos, e as agências financiadoras brasileiras (seus gestores e analistas) têm pouca sensibilidade em aprovar projetos audaciosos e de alto risco. "

Odair Correa Bueno

Professor de Biologia Geral e Aplicada da Unesp-Rio Claro

A CIÊNCIA NÃO TEM FRONTEIRAS

O que diz a história da saúvas. Bem antes do francês Saint-Hilaire (1779-1853) cunhar a frase “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”, o português Pêro de Magalhães Gândavo (1540-1580) chamou as saúvas de Rei do Brasil, da mesma forma que o alemão George Marcgrave (1610–1644) citou em latim: Formicae hic sunt tanto número, ut a Rey do Brasil apellant (São tantas formigas aqui, que as chamam de Rei do Brasil) *Adaptado de Lenko & Papavero, 1996, Os inseto no folclore, Plêiade, SP.

Operária

Esses insetos, originalmente com ferrão, têm em comum a vida em sociedade. Diferentes das abelhas, cujo comando está centrado na rainha, as formigas não apresentam um comando central, mas sim de toda a sociedade.

O fungo mutualista das formigas-cortadeiras é um Basideomycota (basidiomiceto), dentro da Ordem Agaricales, espécie Leucoagaricus gongylophorus, que raramente aparece na forma reprodutiva (cogumelo) e é encontrado só no interior dos ninhos; portanto ele é transferido pelas içás durante o voo nupcial ao estabelecer um novo sauveiro.

As primeiras operárias, quando emergem, organizam uma estrutura com os fragmentos vegetais, formando uma estrutura semelhante a uma esponja, o jardim de fungo. Ele é constituído basicamente de hifas longas e, no seu final, forma uma estrutura arredondada denominada gongilídeo, rica em nutrientes: açúcares, proteínas e lipídeos. Ao conjunto de gongilídeos dá-se o nome de estáfila, principal estrutura que é fornecida às larvas durante sua alimentação.

O aparelho digestório das formigas adultas apresenta, antes da boca propriamente dita, uma cavidade onde elas armazenam o alimento antes de ir para o estômago. Essa cavidade infrabucal funciona como um filtro, limitando a passagem de material. Nas saúvas, ele é responsável pela retenção de partículas sólidas, de forma que não passa para o estômago nada maior do que um micrômetro. Isso implica que as saúvas adultas só ingerem alimentos líquidos. Por outro lado, as larvas das formigas apresentam um aparelho bucal típico dos insetos mastigadores e, portanto, ingerem tanto líquidos como sólidos (os adultos chupam cana e as larvas comem cana).

Outro aspecto interessante está relacionado às estruturas exclusivas que ocorrem nas formigas adultas. Primeiro, no final do tórax, de cada lado, aparecem duas aberturas das glândulas metapleurais, responsáveis pela produção de compostos antimicrobianos, que evitam a contaminação do ninho por microorganismos. O segundo é a presença de um par de glândulas do sistema salivar que se abre no final da faringe, são as glândulas pós-faríngeas ou divertículo do intestino anterior. Eram consideradas exclusivas das formigas, mas, recentemente, foram observadas em algumas vespas. A função dessas glândulas sempre foi discutível, inicialmente relacionada à produção ou à mistura de compostos (hidrocarbonetos) responsáveis pelo odor da colônia, mas, recentemente, foi verificado que elas são responsáveis pelo metabolismo de lipídeos ingeridos durante sua alimentação.

Para compreender as dificuldades encontradas no controle dessas formigas, é necessário entender a complexidade de um sauveiro.

A alimentação principal se dá com o ataque aos vegetais, principalmente as folhas. Durante o corte das folhas nas plantas e depois o recorte dessas folhas no solo ou no interior do ninho, as operárias adultas realizam a ingestão de seivas e preparam os pequenos pedaços recortados para formar e manter um jardim de seu fungo mutualista. Ele é responsável pela degradação do material vegetal e por transformá-lo em compostos mais simples para a nutrição das formigas, especialmente para as larvas, que os recebem diretamente na boca pelas operárias. Também devido à digestão extracelular do fungo, o jardim fica repleto de açúcares, principalmente a glicose que pode ser ingerida na nutrição das operárias maiores. A rainha da colônia também recebe diretamente na boca pedaços de fungo fornecidos pelas operárias.

Sauveiro inicial, Jardim de fungo, Estáfila, Gongilídeos