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Leonardo Rodrigues Barbosa VESPAS:

Índice matocompetição manejo das plantas daninhas na proteção florestal

Dentre os diversos fatores que contribuem para a redução da produtividade das florestas plantadas, as plantas daninhas merecem destaque, pois elas são espécies que interferem negativamente nas diferentes fases da floresta. Espécies de plantas, consideradas daninhas, não somente provocam, pelo efeito de competição, redução no crescimento e no desenvolvimento de espécies arbóreas de interesse, mas também podem dificultar operações silviculturais, interferir na colheita florestal e, ainda, contribuir para a ocorrência de incêndios florestais, entre outras interferências negativas. Nesse sentido, para promover a total proteção das florestas plantadas, o manejo integrado das plantas daninhas (MIPD) assume papel de destaque.

O MIPD consiste na aplicação de técnicas de controle das espécies competidoras, nos povoamentos florestais, de forma racional, assegurando a sustentabilidade da produção a custos aceitáveis, e ambientalmente segura. Nos últimos anos, práticas de MIPD vêm passando por transformações, em função de desafios recentes, como posicionamento de produtos, comportamento de herbicidas no ambiente, tecnologia de aplicação de herbicidas que, por consequência, proporcionam oportunidades de melhoria em processos de controle dessas plantas. Essa evolução no processo de MIPD pode ser observada em maior escala em áreas agrícolas; entretanto, na silvicultura, apesar de serem mais lentas, é possível constatar mudanças conceituais no manejo da matocompetição, e, em função disso, muitas empresas do setor florestal têm apostado no uso de novas tecnologias para aumentar a eficiência e reduzir os custos no processo de manejo de plantas daninhas.

Nesse contexto de considerações, operações como identificação de plantas daninhas presentes nos talhões, recomendações de controle, uso de herbicidas aplicados em pré e pós-emergência, misturas de herbicidas em tanque, tecnologia de aplicação de herbicidas por meio de pulverizadores terrestres (mecanizados ou manuais) ou utilização de Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPA), conhecidas como drones, controle de brotações e elevados custos das operações de manejo se apresentam como os principais desafios do MIPD na silvicultura. Assim sendo, faz-se necessária a adoção de tecnologias disruptivas como forma de aumentar a eficiência no manejo e gerar valor para a atividade.

Nesse cenário de tecnologias disruptivas, dentro do que se define como Silvicultura 4.0, a adoção de tecnologias - como Internet das coisas, Big data, Machine to Machine (M2M),

é imprescindível entender a dinâmica das plantas daninhas e a melhor forma de manejá-las, agregando o uso de tecnologias que possibilitam o manejo, propiciam a eficácia nas operações e na redução de custos e provocam menores impactos ao meio ambiente. "

Aroldo Ferreira Lopes Machado

Professor de Manejo de Plantas Daninhas da UFRRJ - Universidade Federal Rural Rio Janeiro

Machine Learning, inteligência artificial, satélites e sensores - é cada vez mais estudada e utilizada na busca de melhoria de performance no manejo da matocompetição. No que se refere à silvicultura digital, a cada ano, novas empresas e startups surgem no mercado, oferecendo tecnologias que, aplicadas às condições de campo, asseguram a redução de custos da atividade e ganhos de eficiência na proteção das florestas.

O uso de tecnologias relacionadas à silvicultura digital favorece o mapeamento, que é uma técnica de identificação das plantas invasoras presentes na floresta.

A detecção é realizada por meio de sensores que possibilitam melhorias na estimativa da distribuição de plantas na área, uma vez que o levantamento fitossociológico, realizado pelo método convencional, demanda muita mão de obra e apresenta baixo rendimento operacional. Dessa forma, a silvicultura de precisão vem se tornando forte aliada ao MIPD, favorecendo as atividades de mapeamento de plantas daninhas, uma vez que as tecnologias de imageamento, por satélites, aviões ou drones, têm sido utilizadas no levantamento dessas plantas, em área total ou reboleiras, reduzindo custos operacionais e elevando acurácia das informações.

No que se refere às aplicações de herbicidas na silvicultura, as atividades podem ser realizadas com a utilização de equipamentos terrestres, costal ou mecanizado e/ou equipamentos aéreos (RPA). Em aplicações terrestres com equipamentos costais, é fundamental o treinamento da mão de obra, de modo a se evitarem problemas de deriva, de baixa uniformidade de aplicação, de intoxicação da cultura e da própria intoxicação do aplicador.

Nas aplicações terrestres mecanizadas, modalidade de aplicação mais utilizada em silvicultura, é possível a utilização de instrumentos que, em uma mesma operação, identificam a presença de plantas daninhas e realizam a aplicação do herbicida. O uso de drones favorece, por exemplo, a aplicação de herbicidas em áreas de difícil acesso, áreas com elevado índice de resíduos ou em aplicações mais específicas, como no controle da brotação, utilizando informações do mapeamento digital.

Outro desafio na silvicultura é a utilização de herbicidas pré-emergentes, produtos importantes na implantação e nos primeiros meses da floresta. O uso desses produtos, no entanto, requer tanto o conhecimento das características físico-químicas dos herbicidas quanto das características químicas e físicas do solo para o melhor posicionamento dessas moléculas, uma vez que o tipo de solo, o teor de argila e matéria orgânica, o pH do solo, o teor de água no solo e a quantidade de resíduo influenciam a ação dos pré-emergentes.

Atualmente, pesquisadores têm trabalhado com modelagem matemática para aumentar a eficiência no uso de herbicidas pré-emergentes, buscando a identificação de modelos para a escolha de doses adequadas, em função do banco de sementes, do tipo de solo, do teor de argila e da matéria orgânica.

Outro ponto importante que merece atenção é a utilização, na silvicultura, de misturas de herbicidas em tanque, uma prática bastante comum, em especial pelas vantagens de redução de custos.

Além disso, essa técnica proporciona agilidade nas operações, facilidade de manejo da cultura, aumento do espectro de controle, aumento no tempo de controle das plantas daninhas, quando se misturam pré e pós-emergentes, atraso na evolução da resistência dessas plantas a herbicidas e diminuição da compactação do solo. Embora utilizada há bastante tempo no Brasil, a regulamentação de misturas em tanque foi publicada em 2018, pela Instrução Normativa Nº 40.

Em se tratando de misturas em tanque, é preciso, sobretudo, conhecer a compatibilidade dos produtos misturados, pois, em algumas misturas, pode ocorrer interação antagônica entre as moléculas, com consequente perda de eficácia. Nesse caso, recomenda-se a busca de informações sobre a compatibilidade das misturas e a realização do teste da jarra antes do processamento delas. Pode ocorrer, também, o sinergismo entre os herbicidas na mistura, reação que, do ponto de vista de controle das plantas daninhas, é um fato positivo, entretanto, pode causar ou aumentar efeitos fitotóxicos dos herbicidas à cultura.

Como evidenciado, as plantas daninhas possuem potencial de redução de produtividade da floresta e, portanto, o MIPD configura-se uma atividade da silvicultura com a finalidade de proteção das florestas. Logo, é imprescindível entender a dinâmica das plantas daninhas e a melhor forma de manejá-las, agregando o uso de tecnologias que possibilitam o manejo, propiciam a eficácia nas operações e na redução de custos e provocam menores impactos ao meio ambiente. Por ser uma atividade complexa, faz-se necessário um bom programa de manejo de plantas daninhas na silvicultura, e isso deve ser feito no longo prazo.

QÍndice lagartas controle biológico de lagartas desfolhadoras

O setor florestal tem contribuído significativamente para o desenvolvimento econômico e social de Mato Grosso do Sul. A ampliação das áreas de florestas plantadas, com cerca de 1.124.637 hectares, e a chegada de indústrias da área geraram milhares de empregos e transformaram definitivamente a costa leste do estado. Dentre os entraves que podem comprometer a produtividade de essências florestais, destacam-se os insetos-praga, as doenças e as plantas daninhas. Lagartas desfolhadoras, principalmente Iridopsis panopla e Thyrinteira arnobia são pragas que, nos últimos anos, têm alcançado níveis populacionais elevados, especialmente na cultura do eucalipto, em áreas produtoras situadas na mesorregião leste de Mato Grosso do Sul. A ocorrência associada desses lepidópteros desfolhadores e seus danos, no ano de 2021, de acordo o monitoramento realizado por silvicultores, foi registrada em cerca de 681.886 hectares, cultivados com eucalipto, ocorrendo durante todo o ano, com maior predomínio entre janeiro e julho, devido a vários fatores, entre eles, as condições climáticas favoráveis e que são diferentes a cada ano. Em 2022, a ocorrência de lepidópteros desfolhadores nos plantios de eucalipto foi relatada em 233.816 hectares. A cada ano, existe uma variação na flutuação populacional de lepidópteros desfolhadores e, por isso, a implementação do plano de monitoramento e adoção de medidas emergenciais de controle são imprescindíveis para se evitarem os efeitos negativos decorrentes dos danos ocasionados pelas pragas mencionadas, que podem surpreender os silvicultores, com surtos populacionais e prejuízos econômicos e ambientais imensuráveis durante todo o ano. Percebe-se que o aumento da população de lepidópteros pode ocorrer a partir de janeiro, com picos populacionais em maio, no Mato Grosso do Sul. Existem produtos biológicos à base de Bacillus thuringiensis e químicos registrados no Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA) para Thyrinteira arnobia, mas, nos últimos anos, surtos populacionais de Iridopsis panopla e seus danos têm preocupado os silvicultores. Trata-se de uma praga nova, com elevado potencial biótico, grande capacidade de desfolha e, em adição, não há informações básicas e produtos registrados para seu controle.

Palmistichus elaesis, Trichospilus diatraeae, Tetrastichus howardi são parasitoides, principalmente de pupas de lepidópteros que ocorrem de cultivos agrícolas e florestais. Temos trabalhado com esses agentes de controle biológico há mais de 20 anos. Nos últimos 5 anos, o grupo de pesquisa Controle Biológico de Insetos, da Universidade Federal da Grande Dourados, em parceria com a Reflore-MS – Associação dos Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas, o MAPA e a Startup Sistêmica Kovê, empresa de controle biológico fundada por estudantes e incubada na UFGD, com apoio do CNPq, Fundect e Capes, por meio ações de pesquisa, gerou resultados para que as especificações de referências fossem publicadas.

Devido ao surto em 2021, estima-se que o setor do eucalipto no Mato Grosso do Sul deixou de colher 35.225.475 m³ de madeira. E isso representou uma perda de R$ 1.761.273.78,00. "

Fabricio Fagundes Pereira

Professor de Entomologia da UF-Grande Dourados-MS

Isso implicou novos bioinsumos, Palmistichus elaeisis, Trichospilus diatraeae, Tetrastichus howardi, para controle de lepidópteros desfolhadores em eucalipto. Em paralelo, descobrimos que, naturalmente, a microvespa Trichogramma pretiosum parasita ovos de I. panopla. Desde então, estamos trabalhando para validar a eficiência desse inimigo natural para que seja utilizado como novo bioinsumo no controle biológico dessa lagarta.

É importante destacar que reuniões mensais entre associados e técnicos de empresas do setor florestal têm sido realizadas para atualização das áreas monitoradas, infestadas e controladas, inclusive com outros produtores da região, para se adotarem ações uniformes e conjuntas com base nos princípios do manejo integrado de pragas e nas boas práticas agronômicas. As empresas associadas à Reflore-MS investem em uma equipe robusta de monitores para identificação precoce de pragas e doenças em sua base florestal. Os esforços para conter o avanço de lepidópteros desfolhadores vão desde a soltura de insetos parasitoides e predadores com produção on farm até o uso de microbiológicos, como fungos e bactérias entomopatogênicas.

Mas, além dos custos com os controles, existem perdas produtivas causadas pela desfolha, que variam de 10 a 40 % de redução no volume de madeira de eucalipto na idade de corte (entre 6 e 7 anos). O Prof. Carlos Frederico Wilcken da Unesp, profissional com expertise na área, enfatiza ainda que essa variação depende da intensidade do desfolhamento (parcial a total), número de desfolhas e do material genético (clones ou espécies) de eucalipto plantado. Devido ao surto em 2021, estima-se que o setor do eucalipto no Mato Grosso do Sul deixou de colher 35.225.475 m³ de madeira. E isso representou uma perda de R$ 1.761.273.78,00.

Nesse contexto, órgãos governamentais, silvicultores, técnicos e pesquisadores do setor florestal chegaram um consenso de que há necessidade de se elaborar um programa estadual de sanidade florestal, e chamam a atenção para várias diretrizes, entre elas, podem-se destacar: o estabelecimento de rede de informações para unificação da tomada de decisão no controle das pragas, doenças e plantas, especialmente coleópteros desfolhadores, cupins de solo, formigas cortadeiras, grilos, lepidópteros (lagartas desfolhadoras), percevejo-bronzeado, psilídeo-de-concha e vespa-da-galha, que estão entre os grupos de insetos que podem ser nocivos às plantações florestais, especialmente de eucalipto no Mato Grosso do Sul; a criação de um sistema de alerta fitossanitário para as “lagartas desfolhadoras” (Iridopsis panopla e Thyrinteina arnobia) no MS, como ferramenta auxiliar aos silvicultores, para monitoramento e divulgação das condições favoráveis à incidência das lagartas desfolhadoras do eucalipto, visando à tomada de decisão sobre a implementação de procedimentos de manejo, mitigando danos e prejuízos locais e promovendo, regionalmente, a manutenção do nível populacional da praga sob controle; o estabelecimento de critérios de manejo das populações de lagartas em áreas de eucalipto a 250 metros de mananciais de água; a determinação e a seleção de espécies/clones mais resistentes à I. panopla; o controle de pequenos focos (até 100 hectares) para evitar a disseminação das pragas para áreas maiores e vizinhas; a importância de se correlacionar ocorrência, danos, medidas de controle e custos ao longo de todo o ciclo da cultura, considerando talhões e área total da fazenda, bem como sua receita líquida; a prioridade a pesquisas e registros de produtos biológicos e sintéticos seletivos a inimigos naturais para controle de pragas, doenças e plantas daninhas; o fomento para instalação de biofábricas para a produção local de agentes de controle biológico de pragas; e, enfim, o incentivo à promoção de parcerias público-privada (prefeituras municipais, instituições de ensino e pesquisa, associações de produtores e empresas do setor), visando gerar e difundir informações e alternativas para monitoramento e manejo sustentável de lagartas desfolhadoras de eucalipto.