A proteção que as plantações florestais exigem - OpCP46

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br

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ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 14 • número 46 • Divisão F • dez-fev 2017

a proteção que as plantações florestais exigem




índice

a proteção que as plantações florestais exigem Pragas:

Ensaio especial:

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Eduardo José de Mello

Vice-presidente Operações da FuturaGene Brasil

Doenças:

6 8 11 14 16

Acelino Couto Alfenas

Professor de Patologia Florestal da UF-Viçosa

Edson Luiz Furtado

Professor de Proteção Vegetal da UNESP-Botucatu

Reginaldo Gonçalves Mafia

Coordenador de Pesquisa da Fibria Celulose

Rafael Ferreira Alfenas

Professor Patologia Florestal da UF-Mato Grosso

Edival Angelo Valverde Zauza

Gerente de Tecnologia Florestal da Suzano

19 21 24 26 28 31

Pedro Guilherme Lemes

Professor de Entomologia da UF-Minas Gerais

Ronald Zanetti Bonetti Filho

Professor de Manejo de Pragas da UF-Lavras

José Cola Zanuncio

Professor do Dpto de Entomologia da UF-Viçosa

Carlos Frederico Wilcken

Ervas daninhas:

34 36 39

Pesquisadora da Embrapa Floresta

Everton Pires Soliman

Consultor de Proteção Florestal da Suzano

Diretor de Inovação da Apoiotec

Caio Antonio Carbonari

Professor de Plantas Daninhas da UNESP-Botucatu

José Eduardo Petrilli Mendes Pesquisador da Fibria-MS

Incêndio florestal:

Professor e Diretor da Unesp-Botucatu

Susete do Rocio Chiarello Penteado

Rudolf Woch

42 44 48 50

Edmilson Bitti Loureiro

Coordenador de Proteção da Florestal da Fibria

Alberto Jorge Laranjeiro

Diretor da Equilíbrio Proteção Florestal

Marcos Giongo Alves

Professor da UF-Tocantis e Diretor do CeMAF

José Luiz da Silva Maia Diretor da Morada Consultoria

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br n Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - 16 3965-4660- WDS@RevistaOpinioes.com.br nCoordenadora Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza - Fone: 16 3965-4606 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br nVendas: Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com n Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.com.br nEdição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@ globo.com nProjetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com.br n Consultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha nCorrespondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai - Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de nDesenvolvimento de Mercados na Ásia: Marcelo Gonçalez - MG@RevistaOpinioes.com.br nExpedição: Donizete Souza Mendonça - DSM@RevistaOpinioes.com.br nCopydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@ RevistaOpinioes.com.br nTratamento das Imagens: João Carlos Leite nFinalização: Douglas José de Almeira nArtigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões pessoais de seus próprios autores n Foto da Capa: Banco de Fotos da Revista Opiniões nFotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 8111-8887 - paulo@pauloaltafin.com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas n Fotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos nVeiculação Comprovada: Através da apresentação dos documentos fiscais de pagamento dos serviços de Gráfica e de Postagem dos Correios nTiragem Revista Impressa: 5.000 exemplares nRevista eletrônica: Cadastre-se no Site da Revista Opiniões e receba diretamente em seu computador a edição eletrônica, imagemn fiel da revista impressa nPortal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos nHome-Page: www.RevistaOpinioes.com.br

Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano


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doenças

murchas vasculares

e seus impactos na produção florestal

Quais são as causas da murcha e da morte de árvores no campo? A translocação de água e nutrientes absorvidos pelas raízes é um processo fisiológico essencial para o desenvolvimento das plantas. Quando há falta de água no solo ou a sua translocação é interrompida, a planta murcha e pode morrer, dependendo de sua intensidade e duração. Sintomas de murcha e morte de plantas de eucalipto no campo podem ser resultantes de causas abióticas (não patogênicas) ou bióticas (patogênicas). As primeiras incluem déficit hídrico, malformação radicular (enovelamento e estrangulamento), alta concentração salina no solo e temperaturas excessivamente altas. Por exemplo, a murcha temporária das plantas que ocorre nas horas mais quentes do dia e a recuperação da turgescência nas horas de temperaturas mais baixas são típicas da falta de água no solo e não têm nenhuma relação patogênica, ou seja, são de origem abiótica. Nesse caso, a planta morre se não houver reposição de água em quantidade e em tempo hábil para satisfazer suas exigências hídricas e nutricionais. Entretanto patógenos que infectam o sistema radicular ou que colonizam e lesionam os tecidos vasculares do xilema induzem sintomas de murcha, o que quase sempre culmina na morte da planta, ou seja, são doenças letais, mesmo havendo disponibilidade de água no solo.

Quais são os agentes causais das murchas vasculares e quais são seus impactos na eucaliptocultura? Atualmente, na cultura do eucalipto, as doenças bióticas vasculares são causadas pelo fungo Ceratocystis fimbriata (murcha-de-ceratocystis) ou pelas bactérias fitopatogênicas Ralstonia solanacearum (murcha-bacteriana ou murcha-de-ralstonia) e Erwinia psidii (seca-de-ponteiros ou murcha-de-erwinia). Todos esses patógenos são habitantes naturais do solo, mas a presença e a quantidade de inóculo nos locais de plantio capazes de causar doença variam de região para região e de acordo com a cultura ou a vegetação preexistente. São, portanto, microrganismos fitopatogênicos que, na ausência da planta hospedeira, podem sobreviver como saprófitos no solo e/ou nos restos culturais e, eventualmente, infectar e causar doença, dependendo de sua capacidade patogênica e da suscetibilidade do hospedeiro. No entanto, em muitos casos, esses patógenos são disseminados por mudas contaminadas, aparentemente sadias, produzidas nos viveiros, ou seja, o patógeno em uma muda infectada aparentemente sadia, ao encontrar no campo condições de temperatura e de umidade favoráveis à sua multiplicação, pode causar doença e matar a planta ou reduzir significativamente seu crescimento. Além da diminuição de crescimento e de produção, a madeira

é fundamental buscar novas fontes de resistência e ampliar a base genética do material plantado nos programas de melhoramento genético "

Acelino Couto Alfenas Professor de Patologia Florestal da UF-Viçosa

de árvores infectadas apresenta maior teor de extrativos e de lignina, o que requer maior concentração de produtos químicos para o cozimento e o branqueamento da polpa celulósica, resultando em menor rendimento de celulose. Resultados de pesquisa publicados em revistas científicas de alto impacto indicaram ;


Opiniões que essas epidemias podem resultar em prejuízos de milhões de dólares, ou seja, a doença vascular pode ser comparada com uma “bomba-relógio de efeito retardado” e causar danos econômicos elevados na produção florestal. Como detectar e identificar os patógenos vasculares? A análise patológica, realizada por meio de cortes e observações macroscópicas e microscópicas dos tecidos da planta, constitui o primeiro passo para detectar esses patógenos em árvores, minicepas ou mudas. Todos esses patógenos causam lesões na planta, que podem ser evidenciadas pelo escurecimento dos tecidos internos do lenho. As murchas induzidas pelas bactérias (Ralstonia ou Erwinia) são diferenciadas das incitadas pelo fungo Ceratocystis fimbriata por meio da exsudação macroscópica ou microscópica de pus. Se não houver exsudação de pus, procede-se ao cultivo do fungo a partir de fragmentos de tecidos infectados, mantidos entre dois discos de cenoura (“sanduíche”) e incubados em laboratório. Cerca de 7 a 10 dias após, estruturas do fungo podem ser observadas ao microscópico. Entretanto, se houver exsudação de pus, a doença é de origem bacteriana, cuja identificação do agente etiológico pode ser feita por meio de análises de DNA ou de testes sorológicos (Elisa), empregando-se anticorpos específicos. Enquanto as análises de DNA por Polymerase Chain Reaction (PCR), ou sequenciamento de regiões gênicas específicas, requerem isolamento e cultivo da bactéria, a identificação sorológica é realizada diretamente no tecido infectado. Embora sejam relativamente caros, há no mercado kits diagnósticos sorológicos importados para detecção de patógenos de várias culturas agronômicas, incluindo R. solanacearum. Para diminuir os custos das análises e aumentar a precisão do diagnóstico (patologia de precisão), é fundamental desenvolver kits nacionais, o que requer investimentos em pesquisa e dedicação de profissionais qualificados e motivados. Origem das infecções e minimização de perdas pelas doenças vasculares: Para mitigar as perdas causadas por essas doenças, é fundamental plantar mudas sadias e, preferencialmente, resistentes (clones ou mudas seminais). Em viveiros, esses patógenos originam-se, principalmente, a partir do resgate de matrizes-elite no campo, ou seja, mudas contaminadas (macroestacas) de material suscetível, produzidas a partir de brotações e colhidas de árvores infectadas e assintomáticas, constituem a principal fonte de inóculo desses patógenos para as matrizes ou minicepas estabelecidas em minijardins clonais. As condições de temperatura elevada e a alta frequência de irrigação em canaletões em leitos de areia, requeridas para a produção de brotos para estaquia, são também altamente favoráveis à multiplicação de fungos e bactérias fitopatogênicas. Mudas contaminadas e assintomáticas, ao serem plantadas no

campo, geralmente começam a morrer a partir de três a cinco meses pós-plantio e, quando não morrem, em geral, não crescem como esperado, devido à infecção vascular. Como a variabilidade genética do eucalipto (Eucalyptus e Corymbia) é relativamente alta, é possível empregar genótipos resistentes às doenças que incidem atualmente na cultura, selecionados por meio de inoculação artificial em condições controladas. Entretanto a frequência de clones de eucalipto resistentes é relativamente baixa e varia com o patógeno e a origem do material genético. Por exemplo, a proporção de clones resistentes é de 60% para C. fimbriata, 30% para E. psidii e 37% para R. solanacearum. Essa baixa proporção de clones resistentes pode ser atribuída à estreita base genética dos clones comerciais, em que a maioria é de híbridos “urograndis”, originários do cruzamento de poucas matrizes, geneticamente pouco divergentes. Assim, é fundamental buscar novas fontes de resistência e ampliar a base genética do material plantado nos programas de melhoramento genético. Outras espécies como E. pelllita, E. brassiana, E. longirostrata, E. creba, E. benthamii, E. viminalis e E. dunnii não podem ser esquecidas. Adicionalmente, os híbridos interespecíficos de Corymbia constituem alternativa importante para se obterem clones com madeira de alta densidade e resistentes a doenças. No entanto, para algumas doenças, como a murcha-de-ralstonia, é possível plantar clones suscetíveis, desde que as mudas sejam livres da bactéria, e o solo não contenha ou contenha baixa quantidade de inóculo, insuficiente para causar doença (“escape pelo local”). Para assegurar a sanidade da muda, o ideal é estabelecer minicepas a partir de mudas produzidas em meios de cultura de tecidos, sem a adição de antibióticos. Outra opção consiste na colheita de brotações de árvores visualmente sadias, cuja ausência do patógeno é confirmada por meio de testes sorológicos (Elisa). Embora as chances de sucesso do plantio de material resistente às murchas bacterianas sejam relativamente mais baixas do que para doenças fúngicas, resultados de inoculação em condições controladas indicaram que há variabilidade quanto ao nível de resistência de clones de Eucalyptus spp., o que evidencia o potencial de seleção de material resistente para plantio comercial. Ademais, para a murcha-de-ralstonia, o controle biológico desponta-se como alternativa promissora para reduzir a população da bactéria em viveiros. Como exemplo, no Brasil, Streptomyces sp. foi efetivo no controle da murchadeira em batateira-doce, bananeira e tomateiro, enquanto, na China, a aplicação de Pseudomonas fluorescens, do tipo PGPR (rizobactérias), e o uso de bacteriófagos (vírus) apresentaram potencial para o controle de Ralstonia em mudas de eucalipto. n

Veja em nosso site uma rica ilustração deste artigo sobre o assunto. Acesse: www.RevistaOpinioes.com.br - Divisão Florestal.

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doenças

Opiniões

doenças foliares em

espécies arbóreas

Deve-se ter em vista a prática do manejo integrado, onde se pratica o uso de diversas formas de controle, de maneira harmônica, de forma econômica e sem causar desequilíbrio ao meio ambiente. "

Edson Luiz Furtado Professor de Proteção Vegetal da UNESP-Botucatu

As folhas são órgãos da planta, extremamente complexos; sua função básica é captar a luz solar, via cloroplastos, e gás carbônico, via estômatos. No interior dos cloroplastos, produzir carboidratos, fonte de energia essencial para a manutenção da vida da planta e dos seres vivos herbívoros, que dependem das plantas e dessas substâncias. Outras funções inerentes são regular as trocas gasosas, a evapotranspiração, manter a concentração de compostos ricos em energia, como os lipídios, armazenar compostos secundários de defesa ou mesmo absorver ou excretar nutrientes, quando for o caso de falta ou excesso dos mesmos. Devido à sua exposição e durabilidade, as folhas estão sujeitas à convivência com inúmeros microrganismos, que são depositados sobre elas, após disseminação pelo vento e pela chuva, principalmente. Esses organismos podem ser indiferentes ou de vida livre, denominados de epifíticos, que as usam como suportes ou anteparos, ou desenvolvem relações e interações com elas, que podem ser benéficas (mutualísticas) ou maléficas às plantas (antagônicos), esse último grupo é denominado de fitopatogênico, que constitui os patógenos foliares, ou seja, causam doenças.

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Dentre os microrganismos patogênicos, estão aqueles que causam as manchas, os crestamentos, as ferrugens e os oídios nas espécies arbóreas. As manchas caracterizam-se pela destruição localizada dos tecidos através da necrose localizada. O crestamento é a morte rápida dos tecidos, que atinge uma grande parte do limbo foliar. Ambos sintomas são ocasionados por parasitas facultativos (fungos e bactérias), com pouca ou nenhuma especificidade, ou seja, o mesmo gênero do patógeno pode atacar diferentes hospedeiros. Crescem bem em meios de cultivo artificiais, no laboratório. Dentre os agentes causadores, podem-se citar as bactérias: Pseudomonas, Xanthomonas e Erwinia; diferentes gêneros dos fungos: Colletotrichum, Cylindrocladium, Micosphaerella, Teratosphaeria, Microcyclus, Alternaria, Cercospora, Helminthosporium, Curvularia, Septoria, etc. e pseudofungos como Phytophthora, entre outros. Os oídios são causados por fungos pertencentes à família Erysyphaceae, da divisão Ascomycota (p.ex. o gênero: Erysiphe); e as ferrugens, causadas por fungos pertencentes à classe Teliomycetes, da divisão Basidiomycota (p.ex. os gêneros: Puccinia, Chaconia, Prospodium, etc.). Ambos têm a característica comum de serem parasitas obrigatórios, ou seja, só sobrevivem na presença do hospedeiro e não crescem em meios de cultivo convencionais de laboratório, possuem alta especificidade ao hospedeiro e exercem um parasitismo sofisticado, formando estruturas especializadas ; de absorção intracelular, denominadas haustórios.


ESPÍRITO PONSSE Quando mencionamos o Espírito Ponsse, estamos falando da alma e do coração que bate dentro de cada pessoa que pertence à família Ponsse. Não é difícil de compreender o amor e a dedicação que nasce no momento que começamos a viver nesta filosofia. É algo contagiante e que permanece vivo dentro daqueles que realmente nos conhecem. Ter o Espírito Ponsse dentro de nós significa nunca desistir, é estar sempre de bom humor, valorizar os amigos, manter o velho e bom senso esportivo vivo (pois afinal a vida é uma só). É assumir responsabilidades no momento certo, e ser capaz de decidir quando é preciso. É ter humildade em todos os momentos da vida, pois somos todos iguais. É ser empreendedor e saber sonhar alto, valorizando quem está trabalhando ao seu lado. Mas acima de tudo o Espírito Ponsse é saber reconhecer o valor de um verdadeiro companheiro, aquele que te ajuda a conquistar o que você sempre desejou, e juntos enfim buscar o sucesso.

Time da Ponsse Bra sil comemorando o sucesso do trabalho durante a Exp oforest 2014.

PONSSE BRAZIL - R: Joaquim Nabuco, 115 – Vila Nancy – Mogi das Cruzes/ SP – CEP: 08735-120 Tel: (11) 4795-4600 • www.ponsse.com/pt • www.facebook.com/ponssebrasil


doenças As plantas atacadas, ou hospedeiras, raramente morrem em decorrência do ataque desses patógenos. Porém os danos no crescimento e na produtividade são marcantes. Esse grupo de doenças é o mais comum entre as plantas cultivadas, possuem uma maior diversidade de sintomas e são responsáveis pelos maiores prejuízos ocasionados nas plantas agrícolas e florestais. Cada espécie cultivada apresenta sempre mais de uma doença importante dentro desse grupo. Cada tipo de mancha ou de necrose é característico de um microrganismo patogênico específico e das toxinas que podem produzir, específicas ou não ao hospedeiro.

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Os sintomas são característicos, variam de acordo com o agente causal e podem ser utilizados para a diagnose de campo. As doenças foliares são responsáveis pelas desfolhas precoces e pela redução do aparato fotossintético. As doenças foliares podem diferir quanto à idade da planta ou da folha para ocorrerem. Utilizando o eucalipto como modelo dentre as plantas arbóreas, alguns desses patógenos foliares podem atacar as plantas matrizes e mudas no viveiro (Pestalotiopsis, Quambalaria e Oidium), outros podem ocorrer em viveiro e campo, (Puccinia, Cylindrocladium e Teratosphaeria) e outros, apenas em campo (Cryptosporiopsis e Aulographina). Portanto os cuidados que se devem ter com as plantas são constantes e em todas as fases de desenvolvimento. Em alguns casos, a mesma planta pode ser atacada por mais de um agente principal, ou mesmo um agente secundário ou facultativo, que se pode associar às lesões de um patógeno forte, intensificando os sintomas e os danos foliares, produzindo sintomas facilmente perceptíveis. Apesar de as plantas possuírem e utilizarem os mecanismos de defesa pré e pós-formados, alguns dos patógenos foliares descritos conseguem sobrepor essas camadas de defesa e executam o ataque e causam os danos. Causando a redução da capacidade fotossintética do hospedeiro, na produção de energia e num menor desenvolvimento vegetativo, e, como consequência, levando à redução na produtividade e na qualidade dos produtos obtidos. Os programas de melhoramento normalmente são efetivos e se obtêm bons resultados quanto a clones melhorados para resistência às doenças foliares. Principalmente à ferrugem. Porém esses patógenos possuem mecanismos eficientes que possibilitam obter variabilidade e quebra da resistência clonal obtida. As plantas arbóreas também exigem cuidados constantes, necessitando a observação da ocorrência dos sintomas iniciais, via vistorias frequentes da plantação, pois o quanto antes se fizer a identificação do patógeno, mais rápido são disparadas as medidas de manejo. Pois essas doenças crescem exponencialmente com o tempo, quando os órgãos estão suscetíveis e as condições climáticas favoráveis. Como medidas de manejo principais, estão a escolha da espécie ou do clone mais adaptado à região de plantio, quanto ao clima e ao tipo de solo; o preparo do solo e a nutrição, o espaçamento adequado, o controle das plantas daninhas e a redução da matocompetição; a boa irrigação e a oferta de água em quantidade e em distribuição adequadas. No caso de ocorrerem doenças, mesmo com essas medidas anteriores, deve-se fazer uso de diferentes métodos de controle: biológico, quando houver inimigos naturais, ou químico, quando houver produtos fungicidas registrados para a cultura, que podem ser aplicados conforme a idade das plantas e do tamanho do plantio, via pulverizadores costais manuais ou motorizados, tratorizados ou mesmo aplicações aéreas, por aeronaves e equipes especializadas. Devendo-se ter em vista a prática do manejo integrado, onde se pratica o uso de diversas formas de controle, de maneira harmônica, de forma econômica e sem causar desequilíbrio ao meio ambiente. n


Opiniões

florestas resilientes para o manejo das doenças abióticas do eucalipto A proteção florestal, até pouco tempo, se restringia ao manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, incluindo as ações preventivas e de combate aos incêndios florestais. Mais recentemente, com o aumento das variações do padrão climático e consequente impacto sobre a produtividade florestal, torna-se necessário ampliar esse escopo de atuação. Na última década, foi possível observar eventos de queda de produtividade florestal em diferentes regiões do País, quase sempre associados aos eventos extremos e, ou, de alteração do padrão climático. Considerando essa nova realidade, a proteção dos plantios depende agora de uma visão mais abrangente, incluindo o estudo e o desenvolvimento de opções de manejo para as doenças abióticas.

Além das dificuldades de ferramentas e de metodologias, a falta de profissionais dedicados ao estudo das interações entre o eucalipto e o ambiente é uma forte limitação. "

Reginaldo Gonçalves Mafia Coordenador de Pesquisa da Fibria Celulose

Mas, antes de qualquer coisa, é importante esclarecer o que é uma doença e como podemos diferenciar as doenças bióticas daquelas abióticas. Em patologia florestal, doença é qualquer desvio das funções normais de uma planta, que, em última análise, podem afetar seu crescimento, produção e/ou sobrevivência. As doenças bióticas são causadas por agentes biológicos patogênicos, como fungos e bacté; rias, por exemplo.

Por outro lado, as doenças abióticas são causadas pela falta, excesso ou a combinação desses desvios para um ou vários fatores ambientais. O distúrbio fisiológico e o déficit hídrico, por exemplo, são doenças abióticas do eucalipto. As doenças abióticas não são transmissíveis, a incidência ocorre de forma uniforme, e os sintomas aparecem, muitas das vezes, de forma simétrica. Mas, apesar dessas características bem definidas, existe, normalmente, muita dificuldade para o estudo e o desenvolvimento de formas de manejo desse grupo de doenças. Em contrapartida, as doenças bióticas envolvem a participação de agentes patogênicos que podem ser facilmente visualizados, isolados e inoculados em plantas sadias para confirmação e estudos de causa e efeito. Para esse grupo de doença


doenças também é possível, mais facilmente, estabelecer as condições favoráveis, e que, por consequência, novos métodos de controle sejam estabelecidos, incluindo, por exemplo, a seleção de clones resistentes. Como as doenças abióticas são causadas por fatores ambientais, considerando a escala espaço temporal da cultura do eucalipto, existe muita dificuldade de simular ou induzir variações para estabelecer uma relação de causa e efeito. Essas dificuldades acabam por restringir o desenvolvimento de novas tecnologias. Por exemplo, a descoberta das causas que levam ao distúrbio fisiológico do eucalipto demandou o uso de ferramentas mais robustas de análise, incluindo modelagem big data. Como outro exemplo mais simples, embora se saiba que é possível selecionar clones de eucalipto mais eficientes quanto ao uso de água e demais recursos do ambiente, poucos métodos e ferramentas foram desenvolvidos até o momento. A falta de metodologias limita a seleção de clones mais tolerantes ao déficit hídrico, podendo restringir a produtividade da cultura do eucalipto em determinadas regiões. A produtividade florestal, de forma didática, pode ser determinada pelo efeito isolado e pela interação entre genótipo e o ambiente, sendo que este último fator considera as condições edafoclimáticas e de manejo adotado. A melhor interação entre esses fatores, desde que sob uma adequada proteção florestal, lhe permite aproximar a produtividade real daquela atingível. Se não existisse a limitação de recursos do ambiente seria possível aumentar a produtividade até o máximo potencial. Essas considerações são importantes para demonstrar o impacto das doenças abióticas, as quais são inerentes da limitação dos recursos do ambiente. Atualmente, com os primeiros impactos das mudanças climáticas observados sobre a produtividade florestal, torna-se não só importante buscar tecnologias para aumento como também para manutenção dos patamares de produtividade já alcançados. Considerando esse objetivo, ou seja, de redução dos riscos e a manutenção da produtividade, torna-se interessante discutir a estratégia de florestas resilientes às variações do padrão climático. Resiliência é um termo oriundo do latim resiliens, que significa voltar ao estado normal. No contexto da ecologia, a resiliência é a aptidão de um determinado sistema que lhe permite recuperar o equilíbrio depois de ter sofrido uma perturbação. Esse conceito parece bastante apropriado para lidar com as perturbações, agora mais frequentes, representadas pelas variações do ambiente. Talvez seja importante esclarecer que resiliência é mais abrangente e pode englobar o uso dos conceitos de resistência e tolerância. Em fitopatologia, resistência é uma característica de determinados genótipos que o tornam, seja pela expressão de um ou vários genes, menos afetados ou até mesmo imunes ao ataque de um patógeno.

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Opiniões Enquanto que tolerância é a capacidade de determinados genótipos, sob a mesma intensidade de uma doença, em produzir mais ou menos em relação ao outro genótipo. A resistência é medida em termos de intensidade da doença de forma absoluta, enquanto a tolerância sempre é aferida em termos de produtividade e de forma relativa, comparando-se os genótipos. Superadas as necessidades de definição dos conceitos, ainda cabe ressaltar as dificuldades encontradas até o momento para o desenvolvimento e a aplicação do conceito de florestas resilientes. Infelizmente, ainda são poucos os especialistas dedicados a essa área de estudo aplicada, especialmente com culturas florestais. Além das dificuldades de ferramentas e de metodologias, a falta de profissionais dedicados ao estudo das interações entre o eucalipto e o ambiente é uma forte limitação. Considerando as mudanças climáticas e a necessidade de expansão da base florestal para áreas marginais, em termos de qualidade edafoclimática para a cultura do eucalipto, acredita-se que as doenças abióticas deverão assumir destaque entre os principais fatores limitantes da produtividade florestal. Sendo assim, é necessário que o desenvolvimento de conhecimento e de tecnologias nessa área seja compatível com o que é normalmente observado, por exemplo, para o manejo de doenças bióticas. Tão logo uma nova doença biótica é detectada, rapidamente se faz o seu diagnóstico, o patógeno é identificado e opções de avaliação e seleção de clones resistentes são disponibilizadas. Nos casos de introdução de uma nova praga, por exemplo, rapidamente se é identificado um novo inimigo natural, o qual é prontamente utilizado para o controle biológico. Essas e demais alternativas são utilizadas, de forma complementar, para produzir os efeitos do manejo integrado de pragas e doenças. Para as doenças abióticas, é necessário seguir o mesmo caminho, mesmo que, para isso, seja necessário repensar o que hoje é praticado e o que se faz de investimento em pesquisas nas empresas florestais e nas instituições de pesquisa. Ou seja, é preciso desenvolver o manejo integrado de forma mais ampla, incluindo o desenvolvimento de tecnologias para o manejo das doenças abióticas, visando reduzir os riscos para a produtividade florestal. Para complementar, é preciso repensar a estrutura de conhecimento. O estudo das doenças abióticas e o desenvolvimento de florestas resilientes às variações do ambiente requerem atuação de conhecedores multidisciplinares. É preciso conhecer, mesmo que não profundamente, diferentes conceitos e ter total domínio de cada fase do processo produtivo florestal. Como alertado anteriormente, espera-se que os desafios para a manutenção da produtividade sejam ainda maiores daqui para frente, o que demanda repensar as tecnologias aplicadas na proteção florestal, especialmente para as doenças abióticas do eucalipto. n



doenças

principais doenças da Teca no Brasil Tectona grandis, popularmente conhecida como Teca, é uma espécie florestal de grande porte, nativa do sudoeste da Ásia. É conhecida por possuir uma das madeiras mais valiosas do mundo, devido às propriedades físicas e à beleza natural de sua madeira. Tem sido utilizada na construção de móveis luxuosos, na construção naval e como componente de objetos decorativos. Em função da valorização e da versatilidade de uso da madeira, o mercado madeireiro de teca é crescente, e seu o plantio é considerado uma excelente oportunidade de investimento a médio e longo prazos. Atualmente, já são mais de 6,8 milhões de hectares plantados com T. grandis, concentrados principalmente na Índia, Indonésia, Myanmar, Gana, Nigéria, Tailândia, Bangladesh, Brasil, Panamá, Costa Rica e Equador. No Brasil, a Teca foi introduzida no final dos anos 1960, na região de Cáceres-MT, e, em função de sua adaptabilidade às condições edafoclimáticas locais, ao bom crescimento num ciclo reduzido e à valorização de sua madeira, tem-se observado uma expansão da área plantada no Brasil. Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 34% da área plantada, e há, atualmente, cerca de 88 mil hectares, concentrados principalmente nos estados do Acre, Mato Grosso, Pará e Rondônia. Inicialmente, o corte final era esperado aos 25 anos, com produtividade média entre 10 a 15 m3 ha-1 ano-1 e os plantios eram seminais e com baixa tecnologia. Nos últimos anos, com o início dos plantios de clones e progênies selecionadas, a expectativa é de se realizar o corte raso em idade inferior a 20 anos, com produtividade superior a 20 m3 ha-1 ano-1. No entanto as doenças, sejam de origem biótica ou abiótica, afetam negativamente a produtividade e podem causar grandes perdas econômicas, comprometendo, consequentemente, o retorno esperado do investimento. Portanto é imprescindível adotar estratégias para minimizar os riscos de perdas causadas pelas doenças. E, para isso, o primeiro passo é identificar e conhecer as principais doenças e seus impactos na cultura.

A teca é conhecida por possuir uma das madeiras mais valiosas do mundo, devido às propriedades físicas e à beleza natural de sua madeira. "

Rafael Ferreira Alfenas

Professor de Patologia Florestal da Universidade Federal-MT

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As doenças abióticas, causadas por agentes não parasitários, que não são transmitidas de uma planta doente para uma planta sadia, em geral, decorrem de condições inadequadas de manejo da cultura ou de condições adversas de ambiente. Os principais problemas abióticos já relatados são: sítios inaptos para o plantio, uma vez que é uma espécie exigente em cálcio e apresenta baixa tolerância a alumínio e ao excesso de umidade no sistema radicular, manejo silvicultural inadequado e ação de fatores físicos e químicos extremos, tais como quebra pelo vento e descarga elétrica (raio). As doenças abióticas são controladas por meio do plantio de material genético adaptado às condições de clima e de solo da região de plantio, bem como pela adoção de práticas silviculturais executadas de forma correta e em tempo hábil. As doenças bióticas, causadas por agentes parasitários, são transmitidas de uma planta doente para uma planta sadia e, portanto, merecem atenção especial, uma vez que podem causar grandes prejuízos. Diversas doenças, tais como as manchas foliares, causadas por diferentes patógenos (Phomopsis tectonae, Calonectria cylindrospora, Rhizoctonia solani, Myrothecium roridum e Xanthomonas sp.), a antracnose, causada por Colletotrichum gloesporioides, o oídio, causado por Phyllactina guttata e Uncinula tectonae, a galha, causada por Meloidogyne javanica e a podridão de estacas, causada por Myrothecium roridum e Fusarium sp., já foram encontradas no Brasil sem causar grandes prejuízos, mas apresentam potencial de perdas no futuro com a expansão das plantações e dos ciclos sucessivos da cultura. Atualmente, a ferrugem causada por Olivae neotectonae, a murcha-de-ceratocystis, causada por Ceratocystis fimbriata, a murcha-de-ralstonia, causada por Ralstonia solanacearum, e a podridão radicular de causa complexa são consideradas as principais doenças da cultura da teca no Brasil, em função dos prejuízos econômicos que podem gerar.


Opiniões A ferrugem causada por Olivae neotectonae é uma doença de fácil detecção, que incide tanto em viveiro quanto em plantios no campo. Nas plantas infectadas, observam-se manchas de coloração marrom escuro (necróticas) na face adaxial da folha e a presença de pústulas amarelas na face abaxial. No campo, a doença pode ocorrer tanto em plantas jovens quanto em plantas adultas, e o principal prejuízo da doença é a desfolha prematura da planta, que pode reduzir em até 30% no crescimento. Recentes estudos e observações em campo indicam a existência de variabilidade para resistência, o que permite a seleção e o plantio de clones resistentes.

A murcha-de-ceratocystis, causada por Ceratocystis fimbriata, é uma doença que pode levar a planta à morte, e, quando não, reduz significativamente seu crescimento e o valor da madeira produzida. As infecções ocorrem a partir do solo, por meio das raízes ou pelas podas, e atingem o sistema vascular da planta. Inicialmente, ocorre a murcha de porções apicais da planta progredindo para uma murcha generalizada. Às vezes, observa-se depressão na casca e presença de exsudação de goma ao longo do tronco. Internamente, ao se fazer um corte longitudinal na árvore sintomática, observam-se lesões escuras e descontínuas no sentido do raio. Quando se faz o corte transversal, observa-se a presença do escurecimento radial da região central (xilema) para a região do floema. Os vasos das plantas infectadas ficam intensamente colonizados, impedindo a translocação

de água e sais minerais, provocando a murcha e, consequentemente, a morte da planta. A doença pode ser disseminada de várias maneiras, como o contato de raízes, ação de coleobrocas e outros insetos que podem carregar em seu corpo estruturas do patógeno, plantios de mudas infectadas e uso de ferramentas de poda. Como no manejo da cultura da teca são necessárias podas frequentes para condução do plantio para serraria, acredita-se que esta seja a forma de maior importância na disseminação da doença. Ao realizar podas em uma planta infectada assintomática, pode haver acúmulo de serragem contendo inóculo do patógeno no equipamento, e, ao realizar a mesma operação em uma planta sadia, poderá ocorrer a disseminação da doença. Os danos causados pela murcha-de-ceratocystis são irreversíveis, e, para o controle da doença, a única forma é o plantio de material genético resistente, selecionado por inoculação em condições de ambiente controlado. Recentes inspeções de campo indicam variabilidade para a resistência nos materiais genéticos já introduzidos no Brasil. A murcha-de-ralstonia causada por Ralstonia solanacearum ainda não foi relatada oficialmente em teca no Brasil, no entanto se trata de uma doença importante, com ocorrência já confirmada em outros países. Assim, como a murcha-de-ceratocystis, é uma doença vascular que pode levar a planta à morte. A principal forma de disseminação dessa bacteriose é através do plantio de mudas infectadas, portanto é fundamental fazer vistorias periódicas, tanto em viveiro quanto em campo, a fim de minimizar os impactos causados pela doença e evitar a disseminação por mudas infectadas. A podridão radicular é uma doença de causa complexa, que tem sido encontrada com frequência em plantios com mais de 2 anos no Brasil. Os principais sintomas são murcha e morte da planta, geralmente em reboleiras e, às vezes, em plantas isoladas, achatamento na base do tronco, trincamento e desprendimento da casca, e, ao cortar a madeira, observa-se a degradação da região do cambio vascular, provavelmente pela ação de enzimas hidrolíticas de fungos. Em alguns países, associa-se a podridão radicular à presença do fungo Phellinus noxius e/ou Kretzschmaria zonata, no entanto, no Brasil, ainda há necessidade de aprofundar os estudos para comprovar a etiologia da doença. Embora as áreas plantadas com teca estejam em ampla expansão, a experiência brasileira ainda é incipiente. Portanto é essencial e estratégico para o Brasil realizar investimentos privados, em parceria com as instituições de pesquisa, em programas de melhoramento genético, em silvicultura e manejo e, principalmente, em proteção florestal, para garantir a sustentabilidade econômica dos projetos de investimento e impedir que doenças bióticas e abióticas comprometam o n retorno esperado.

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doenças

Opiniões

seca de ponteiros laterais:

uma nova doença na cultura do eucalipto a seca de ponteiros laterais do eucalipto, ou seca por pseudoplagiostroma, é, definitivamente, uma nova doença emergente na eucaliptocultura nacional "

Edival Angelo Valverde Zauza

Gerente de Tecnologia e Proteção Florestal da Suzano Papel e Celulose

O grande desafio à introdução e à utilização comercial de essências exóticas é a adaptação da espécie às condições edafoclimáticas. Espécies mal adaptadas, quando sobrevivem, ficam continuamente sob estresse e não expressam seu potencial genético máximo. A incidência de pragas e doenças podem ser limitantes, uma vez que a espécie introduzida não coevoluiu com grande parte das pragas e dos fitopatógenos locais. São relativamente frequentes os problemas de doenças em plantios comerciais de eucalipto, e há várias doenças relatadas desde a expansão da eucaliptocultura para diferentes regiões do país. Existem doenças abióticas, causada por agentes não infeciosos e não transmissíveis de planta a planta que normalmente decorrem de intempéries ou manejo inadequado da cultura como, déficit hídrico, malformação radicular e toxicidade por herbicidas ou fertilizantes. As principais doenças de causa biótica, na cultura, são incitadas por fungos como a ferrugem-do-eucalipto (Puccinia psidii), murcha-de-ceratocystis (Ceratocystis fimbriata) e mancha-de-teratosphaeria (Teratosphaeria nubilosa) e por bactérias como a murcha-de-ralstonia (Ralstonia solanacearum), murcha-de-erwinia (Erwinia psidii) e mancha foliar de bactérias (Xanthomonas axonopodis e Pseudomonas cichorri). A sanidade e arquitetura dos ponteiros dos Eucalyptus, que possuem crescimento apical indeterminado e dominante, são aspectos que rapidamente atestam o vigor da planta e, sua deformação, seca ou morte envolve agentes causais

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abióticos e bióticos. Por isso, deparamos com muitos equívocos ao descreverem a causa primária de uma seca de ponteiros quando essa não é efetuada seguindo um processo rigoroso de diagnose fitossanitária e, muitas vezes, multidisciplinar. A identificação errônea do agente causal de uma doença pode desencadear uma série de medidas de controle inadequadas e ineficazes. Para tanto, é primordial que o etiologista tenha conhecimento técnico em fitopatologia e experiência com a cultura e suas diferentes espécies, pois alterações fenológicas próprias do material genético, como queda natural de folhas ou desrama, podem ser confundidas com doenças. Caso comum é a seca de ponteiros seguida da morte de plantas em decorrência da inadaptabilidade da espécie ou do clone a uma determinada condição edafoclimática. A doença, ainda abiótica, mais investigada na eucaliptocultura nas últimas quatro décadas é a Seca de Ponteiros do Eucalipto do Vale do Rio Doce (SPEVRD), descrita pelo professor Francisco Alves Ferreira, e com grande impacto econômico na região. Há outras doenças, também de causas abióticas e com as mesmas características sintomatológicas de SPEVRD, com incidência de lesões ou minicancros nas inserções dos ramos e folhas seguida por perda de dominância apical da planta, formação de brotações ao longo do tronco e morte no caso de materiais genéticos mais suscetíveis. Elas vêm sendo registradas em diferentes estados e com distintas denominações em decorrência de um ou mais sintomas adicionais, a depender das condições ambientais do local. Assim, em eventos florestais, estando ou não relacionados à sanidade florestal, é comum ouvirmos nomes das doenças: distúrbio fisiológico do eucalipto, distúrbio abiótico do eucalipto, inadaptabilidade clonal e declínio clonal do eucalipto. Em todas essas secas de ponteiros, tem sido relatada a presença e o isolamento de fungos das mais diversas ;


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doenças espécies, mas sem comprovar seu papel como agente causal primário da doença. Outros fitopatógenos, como bactérias, vírus e fitoplasma, vêm sendo investigados, mas todos descritos como associados aos sintomas, não como agentes etiológicos primários. Há pelo menos 4 anos, relatos e descrições de seca de ponteiros por causa biótica vêm aumentando em todos os estados brasileiros e em outros países, como Espanha, Portugal e Uruguai. Dentre aquelas comprovadas pelos métodos fitopatológicos e de importância epidemiológica, destacam-se a seca ou murcha por Erwinia psidii em várias espécies e clones de Eucalyptus, seca ou cancro por Pestalotiopsis sp. no estado de São Paulo, e, em Portugal, em clones híbridos da seção Maidenaria, seca ou cancro por Botryosphaeria spp. (= Dothiorella spp.) e a seca de ponteiros laterais no sul da Bahia e de São Paulo. A “seca de ponteiros laterais”, inicialmente assim denominada pelos sintomas marcantes de seca, principal e inicialmente nos ponteiros laterais de plantas de alguns clones de eucalipto (Figura 1), tem como agente causal o fungo Pseudoplagiostroma eucalypti (= Cryptosporiopsis eucalypti). Até 2013, tal patógeno sempre esteve associado à mancha foliar e à desfolha de alguns clones de eucalipto, porém, com baixa severidade e importância econômica. Em meados desse mesmo ano, no Sul da Bahia, observaram-se, em alguns clones híbridos de Eucalyptus urophylla x E. grandis, acentuada seca de ponteiros laterais em plantas com sete meses de idade. Sem aprofundar nas investigações, logo creditaram a enfermidade ao distúrbio fisiológico/abiótico do eucalipto e até mesmo a problemas nutricionais. Todavia a doença apresentava padrão epidemiológico de disseminação clássico de envolvimento com um agente biótico, pois havia gradiente de dispersão do patógeno da bordadura do plantio para o centro do talhão e gradiente de pressão de infecção em clones de talhões vizinhos, potencialmente resistentes ao distúrbio fisiológico. Posteriormente, em parceria com o Laboratório de Patologia Florestal da UF-Viçosa, inoculações em condições controladas confirmaram o postulado de Koch, comprovando P. eucalypti como agente causal da seca de ponteiros laterais do eucalipto no sul da Bahia. Entre julho e setembro de 2014, a área afetada pela doença aumentou, e verificou-se que, na idade

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fenológica de dois a quatro meses, surgem os primeiros sintomas da doença no tecido juvenil de ramos e galhos. Observam-se pontos de escurecimento e depressão da casca seguida por trincamento, descolamento e formação de minicancros ao longo da lesão (Figura 2). A morte de tecidos vasculares com a interrupção do fluxo de seiva e fotoassimilados pelo floema desencadeia o quadro sintomatológico de seca-de-ponteiros, que, inicialmente, são folhas murchas de coloração palha culminando na seca total dos ramos afetados e quebra no ponto de infecção. Em materiais genéticos altamente suscetíveis, ocorre também seca do ponteiro apical e morte de plantas (Figura 3), causando elevado impacto econômico, seja pela perda de dominância e consequente redução de crescimento ou necessidade de reforma do plantio. Assim, a seca de ponteiros laterais do eucalipto, ou seca por pseudoplagiostroma, é, definitivamente, uma nova doença emergente na eucaliptocultura nacional. Pesquisas conduzidas pela área de Proteção da Tecnologia Florestal da Suzano Papel e Celulose possibilitaram recomendar as medidas de controles via manejo integrado da doença: 1. controle genético mediante a seleção de clones resistentes (Figura 04/R); 2. plantio em microrregiões (escape pelo local) desfavoráveis ao patógeno; e 3. época do ano desfavoráveis ao crescimento do patógeno (assincronia fenológica). Existem muitas especulações se o surgimento ou ressurgimento de doenças e pragas na eucaliptocultura estejam relacionados às variações climáticas, expansão dos plantios para novas áreas, base genética restrita dos clones comercialmente plantados ou aumento na variabilidade genética da população dos patógenos e insetos-praga. Mas a certeza é que as plantações florestais são ecologicamente mais diversas e complexas que as culturas agrícolas, pois ocorrem mudanças nos estádios fenológicos da cultura e da composição da cobertura vegetal nativa ao longo do ciclo. Esse exemplo de rápida detecção (pela operação), focado estudo e proposição de manejo integrado (pela pesquisa) e qualidade da transferência de tecnologia (pela extensão) evidencia a necessidade da total integração entre as áreas de sanidade, melhoramento, manejo, extensão tecnológica e silvicultura para que, de fato e rapidamente, as produtividades dos eucaliptais brasileiros sejam mantidas num patamar elevado.n

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pragas

Opiniões

a certificação florestal e as

formigas-cortadeiras

A certificação florestal surgiu como uma tentativa de garantir que as florestas fossem manejadas de maneira sustentável, buscando o equilíbrio na parte econômica, ambiental e social. O Forest Stewardship Council – FSC, foi o primeiro sistema de certificação, criado em 1993, e conta com mais de 180 milhões de hectares de florestas e plantios certificados. O Brasil tem a maior área certificada pelo FSC na América Latina, com cerca de 7,3 milhões de hectares (60% de plantios florestais). Para se certificarem, as empresas devem seguir as regras dentro dos 10 princípios e 56 critérios do FSC, que abordam o relacionamento com comunidades vizinhas, leis trabalhistas e ambientais, preservação da biodiversidade, planejamento florestal e manejo dos plantios florestais. Dentro dos princípios e critérios, existe a “Política de Pesticidas”, onde é feita a identificação e a prevenção do uso de pesticidas considerados pelo FSC como “altamente perigosos” e, portanto, proibidos em empreendimentos certificados. Essa política também promove métodos “não químicos” e o uso adequado dos pesticidas para o manejo de pragas. O FSC publica, periodicamente, uma lista indicando quais são esses pesticidas, e sua última versão foi divulgada em 2015. Nessa lista, estavam inclusos deltametrina, fipronil e sulfluramida, os princípios ativos que compõem os inseticidas mais utilizados no manejo e no controle de formigas-cortadeiras e cupins pelas empresas florestais brasileiras.

Os produtores florestais brasileiros encontram dificuldade ao adaptar a essa proibição, devido à falta de alternativas viáveis para o controle dessas pragas, principalmente para as formigas-cortadeiras. As formigas-cortadeiras (Atta spp. e Acromyrmex spp.) são tidas, por unanimidade, como as principais pragas florestais brasileiras, pois desfolham intensamente (podendo matar), praticamente, qualquer espécie florestal plantada, nativa ou exótica. São insetos sociais com colônias funcionando como um superorganismo e, por isso, possuem uma série de adaptações que tornam seu manejo e controle mais complexos do que qualquer outra praga florestal. Entre essas adaptações, temos: ninhos com estrutura complexa, comportamento de forrageamento, cultivo do fungo simbionte fornecendo alimento a elas, alto nível de higiene da colônia e organização social. Logo, táticas de controle que matem apenas algumas formigas operárias não controlam ou comprometem a sustentabilidade da colônia. O controle químico, com iscas formicidas à base de sulfluramida e fipronil, é o único método com viabilidade técnica, econômica e operacional para controlar formigas-cortadeiras.

As formigas-cortadeiras são insetos sociais com colônias funcionando como um superorganismo e, por isso, possuem uma série de adaptações que tornam seu manejo e controle mais complexos do que qualquer outra praga florestal. "

Pedro Guilherme Lemes

Professor de Entomologia Florestal da UF-Minas Gerais Coautor: José Cola Zanuncio, Professor de Entomologia da UFV

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pragas A termonebulização representava um método complementar às iscas, para uso em situações bastante específicas, como em períodos chuvosos, mas, hoje, não há produtos sendo comercializados para esse método. Portanto pode-se dizer que o FSC proibiu o único método viável no controle de formigas-cortadeiras, já que todos os pesticidas registrados se encontram proibidos em sua política. O controle mal-feito ou não controlar as formigas-cortadeiras pode afetar drasticamente a produtividade e rentabilidade florestal e, até mesmo, inviabilizar um empreendimento. O produtor ou empreendimento florestal que precisar usar algum produto proibido pelo FSC, deverá pedir uma derrogação. No pedido, deve ser demonstrado que aquele princípio ativo é a única forma econômica, ambiental, social e tecnicamente viável para controlar uma praga que causa danos aos plantios florestais. O FSC, com a aprovação da derrogação, lança uma lista de condicionantes e alternativas que devem ser usadas e o comprometimento dos produtores em encontrar novas soluções. A sulfluramida, fipronil e deltametrina já estão em seu segundo pedido de derrogação nos plantios brasileiros (validade de cinco anos para cada pedido). Apesar disso, nenhuma alternativa proposta pelo FSC ou disponível no mercado é eficaz no controle das formigas como são as iscas formicidas (principalmente a base de sulfluramida). Essas alternativas visam ao controle de poucos indivíduos e não a toda a colônia e as densidades de formigas-cortadeiras remanescentes, continuando sendo prejudiciais. Encontrar novos inseticidas sintéticos menos tóxicos não é fácil. Um inseticida ideal para as iscas deve agir por ingestão, não ser repelente, ter ação tóxica lenta, ser letal em baixas concentrações e paralisar a atividade de corte pouco tempo após a aplicação. O setor florestal foi pioneiro na substituição das iscas à base de dodecacloro, consideradas altamente tóxicas, pelas de sulfluramida, menos tóxicas. A sulfluramida age lentamente e tem baixa persistência no meio ambiente. O próprio FSC se contradiz em seus indicadores de periculosidade, incluindo a sulfluramida na lista de químicos “altamente perigosos”, em 2007, pelo seu potencial de bioacumulação, já que a sulfluramida apresenta um coeficiente de partição octanol/água elevado. O coeficiente de partição octanol/água (Pow), também designado Kow, consiste no quociente entre a solubilidade de uma substância em n-octanol e em água, em condições de equilíbrio. O logaritmo de Pow é utilizado como indicador de potencial químico de bioconcentração pelo seu potencial de bioacumulação. Esse indicador não é adequado para avaliar o potencial de biocumulação em substâncias insolúveis em água, caso da sulfluramida. Por outro lado, na última lista, em 2015, a sulfluramida não é mais considerada uma substância com potencial de se bioacumular, mas sim tóxica a mamíferos e aves.

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Essa mudança ocorreu apesar de o critério para uma substância ser considerada bioacumuladora ter sido mantido. As razões para essa mudança não são claras, uma vez que a sulfluramida e as iscas formicidas à base dessa substância apresentam baixa toxicidade a mamíferos, aves e outros organismos (como peixes, algas, abelhas, organismos de solo, etc.). A DL50 oral para ratos da sulfluramida é 6.600 mg/kg e a DL50 dermal para coelhos > 2.000 mg/kg, sendo enquadrada pelos critérios de classificação toxicológica da ANVISA, como classe IV- pouco tóxica. Não é à toa que muitas empresas certificadas têm considerado essa proibição como uma barreira não tarifária a alta produtividade dos plantios florestais brasileiros. O processo de bioacumulação e a toxicidade a mamíferos e a aves têm poucas chances de ocorrer por iscas, que são insolúveis em água, e a sulfluramida ser, praticamente, imóvel no solo e com riscos de lixiviação e deriva muito baixos. Além disso, as iscas contêm baixas concentrações do ingrediente ativo e permanecem pouco tempo expostas a organismos não alvo, pois as formigas começam a carregá-las em um curto período de tempo. A amostragem feita em programas monitoramento, onde se determina a distribuição espacial e as injúrias causadas pelas formigas, reduz o impacto ambiental com o uso dessas iscas, previne danos e diminui a quantidade de isca utilizada, já que é utilizado somente o necessário. As técnicas alternativas que foram propostas ou que existem no mercado não apresentam eficácia em campo e em escala comercial para substituírem a utilização das iscas formicidas. A busca, no entanto, deve continuar, pois não poderemos considerar para sempre a sulfluramida (ou outros dos inseticidas em derrogação) como a única solução no controle das formigas-cortadeiras. Esse não é o pensamento das pessoas envolvidas na pesquisa e controle desses insetos. Mas existe sim a atual necessidade de seu uso e o FSC deve manter a autorização enquanto não houver alternativas eficientes. A certificação florestal do FSC tem feito mudanças positivas no manejo de pragas florestais, como a implementação de técnicas e decisões mais sustentáveis e melhoria na segurança de armazenamento e uso de químicos. Também aumentou o uso da amostragem, do monitoramento e da avaliação do nível de dano econômico de pragas florestais, além de ampliar a busca por alternativas. No entanto a proibição desses inseticidas aliada ao uso de alternativas ineficientes levarão a perdas na produção, aumento dos custos e por ao colapso do manejo integrado dessa praga, algo que o FSC promove como parte essencial do plano de manejo de um empreendimento certificado. As empresas florestais brasileiras têm realizado e financiado pesquisas na busca de alternativas. Cabe ao FSC ter bom senso em suas decisões e entender que a aplicação de regras globais para a certificação do manejo florestal sustentável deve considerar a realidade de cada país ou região. n


Opiniões

manejo de formigas-cortadeiras em

florestas cultivadas Ao longo de vários anos, estudando o manejo de formigas-cortadeiras, pude perceber que muito do que se sabe sobre elas ainda é insuficiente para entendê-las. Talvez as formigas-cortadeiras se encaixem perfeitamente na lógica desta edição da Revista Opiniões: nunca se pode deixar de cuidar delas em uma floresta cultivada. O manejo desse grupo de insetos inicia antes da implantação e se estende até a colheita, para então iniciar novamente.

O manejo integrado de pragas preconiza o uso integrado de diversas técnicas de controle selecionadas com base em parâmetros econômicos, ecológicos e sociais, objetivando manter a população da praga abaixo do nível de dano econômico. Para isso, um programa de manejo de pragas requer amplo conhecimento da praga; técnicas de estimação precisa da densidade populacional da praga; ferramentas ajustadas de tomada de decisão; e variedade de métodos de controle. O que podemos dizer sobre isso?

Ao longo de vários anos, estudando o manejo de formigas-cortadeiras, pude perceber que muito do que se sabe sobre elas ainda é insuficiente para entendê-las. "

Ronald Zanetti Bonetti Filho Professor de Manejo de Pragas Florestais da UF-Lavras

As formigas-cortadeiras são insetos dos gêneros Atta e Acromyrmex (Hymenoptera: Formicidae) e são consideradas as principais pragas de florestas cultivadas no Brasil e em diversos países sul-americanos, pois necessitam cortar grande quantidade de material vegetal fresco para fornecer ao fungo simbionte que cultivam no subsolo, para que ele disponibilize constantemente alimento a colônia. Possuem ciclo de vida longo, que pode ultrapassar o ciclo da própria floresta cultivada. Apresentam infestação anual e constante e podem gerar muitas colônias descendentes numa mesma área. Os primeiros programas de manejo integrado de formigas-cortadeiras no Brasil foram concebidos no início da década de 1990, com o objetivo de aumentar a eficácia do controle, reduzir seus custos e racionalizar a quantidade de inseticida utilizado nos plantios. Tais programas foram sendo aperfeiçoados com o tempo; no entanto ainda é preciso avançar muito para se alcançar um bom programa.

Amplo conhecimento da praga: Estudos sobre formigas-cortadeiras são abundantes e abordam diferentes temas sobre a biologia, ecologia, comportamento, fisiologia, taxonomia, amostragem, controle, entre outros. A minoria trata de questões básicas da sua bioecologia, das quais dependem as questões aplicadas, como o controle. Veja um exemplo: aplicam-se formicidas tendo como base o tamanho externo dos ninhos, porém ainda não se sabe ao certo qual a relação entre o tamanho do ninho e a quantidade de formigas que ele abriga. Ninhos aparentemente grandes podem conter poucos indivíduos, porém pode ocorrer o contrário, o que resultaria em inefetividade de controle. Pouco se sabe sobre o ciclo biológico ou longevidade das diferentes castas de uma colônia, a taxa de mortalidade natural, os efeitos das variáveis ambientais na atividade das formigas, os fatores que levam ao amuamento dos ninhos ou ; sobre o forrageamento de iscas formicidas.

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pragas Muito do que se divulga como verdade não foi adequadamente pesquisado, sendo fruto de observações e experiências práticas, sem muito embasamento científico. Um dos motivos dessa falta de conhecimento refere-se à dificuldade em se estudar organismos que vivem sob o solo, além da pequena quantidade de pesquisadores e de recursos envolvidos. Porém muito disso decorre da necessidade do imediatismo em se resolver um problema sem conhecê-lo profundamente. Técnicas de estimação precisa da densidade populacional: Diversas técnicas de amostragem são disponíveis para uso dos produtores na estimação da densidade populacional de formigas-cortadeiras, como pior foco, parcelas de tamanho fixo, transectos, quadrantes; sequencial e geoestatístico. A maioria dessas técnicas foi desenvolvida recentemente e são precisas e de grande utilidade. No entanto a assertividade depende de ajustamento local ou regional, que nem sempre é feito. Amostragens frequentes e continuadas (monitoramento) produzem informações importantes sobre as formigas-cortadeiras, como indicar a necessidade e o momento da aplicação de métodos de controle; analisar as interações entre as populações de formigas e a produção florestal, dinamizando os níveis de tomada de decisão; avaliar a eficácia de táticas de controle, como a substituição de espécies/clones vegetais suscetíveis, a manutenção de faixas de vegetação nativa ao redor do cultivo, a manutenção de sub-bosque diversificado e o manejo de paisagem; avaliar a qualidade das operações de controle curativo; selecionar os métodos de controle químico; estimar as perdas de produção; prognosticar os riscos para cada intensidade de controle; entre outros aspectos, consistindo de um importante instrumento de planejamento e gestão. Por tais razões, o monitoramento é item obrigatório do manejo de formigas-cortadeiras em florestas cultivadas certificadas. No entanto somente metade da área cultivada com florestas no Brasil é monitorada, o que mostra o quanto é preciso avançar. Estima-se que a densidade média de ninhos no Brasil seja de 45m2 de terra solta por hectare, no entanto os valores por região são muito variáveis e dependentes das condições ambientais, como a altitude e o clima, além da intensidade de manejo. Ferramentas ajustadas de tomada de decisão: O nível de dano econômico e o nível de controle são as principais ferramentas de tomada de decisão de controle. Tais ferramentas também são recentes e tomam como base a quantidade de área de ninhos por hectare e sua relação com a produtividade florestal. Estima-se que a perda da produtividade gira em torno de 1% para cada 3 m2 de terra solta do formigueiro por hectare ao longo do ciclo de produção.

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Opiniões Isso significa que a perda média causada pelas cortadeiras no Brasil seja de, aproximadamente, 15%, considerando a infestação média nacional. Isso é um valor considerável. Semelhante à amostragem, a assertividade e a confiabilidade dessas ferramentas dependem de ajustamento local ou regional. Existem valores de nível de controle para poucas regiões do cerrado e da mata atlântica, tendo variado entre 7 e 35 m2 de formigueiro por hectare. O desenvolvimento dessas ferramentas é muito difícil, pois é preciso coletar dados ao longo de todo o ciclo de produção florestal e, também, porque tais valores variam com o material genético e com o sítio onde são cultivados. Nesse caso, é fácil de entender por que existem poucos valores conhecidos. Variedade de métodos de controle: O controle de formigas-cortadeiras em florestas cultivadas é imprescindível para garantir uma produção economicamente sustentada. O controle químico com iscas formicidas é o método mais utilizado, porém o controle biológico, mecânico, cultural e plantas resistentes têm sido estudados para uso no manejo de formigas-cortadeiras em florestas plantadas. O controle biológico conservativo tem sido o mais efetivo dentre os alternativos, principalmente na fase inicial de desenvolvimento dos ninhos. No entanto é pouco conhecido e demorado para ser implantado. Sabe-se que paisagens com maior proporção de cobertura vegetal natural é menos propícia ao desenvolvimento de formigueiros, porém pouco se pensa nisso quando se decidem estratégias de manejo de formigas. O controle por plantas resistentes parece ser o mais promissor, devido ao aperfeiçoamento das ferramentas de biologia molecular. Porém o sucesso dessa estratégia passa pelo aprofundamento de estudos de biologia e fisiologia básicos sobre as formigas. O controle químico com iscas formicidas granuladas é o principal método de controle dessas formigas no Brasil. Porém os princípios ativos dessas iscas sofrem restrições de uso por diversos certificadores e governos. Os produtores florestais certificados só podem usar essas iscas desde que atendam a uma série de recomendações pautadas no bom manejo. Por isso a implantação de programas de manejo de formigas-cortadeiras é fundamental para garantir a sustentabilidade econômica, ambiental e social das florestas cultivadas certificadas ou não. Diante do exposto, parece que o manejo de formigas-cortadeiras em florestas cultivadas é inexistente ou insipiente e estaria longe do ideal. No entanto o conhecimento que se tem hoje é suficiente para atender a grande parte das expectativas dos produtores e dos certificadores florestais no convívio com esse importante grupo de pragas. n


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pragas

lagartas desfolhadoras

em plantios florestais

Florestas plantadas representam uma das culturas com melhor estabilidade ambiental no Brasil. Isso se deve ao fato de esse setor obedecer às leis de preservação da vegetação nativa em escala maior que muitos outros tipos de plantios. Áreas de Reserva Legal próximas a mananciais de água são preservadas de acordo com a legislação ambiental brasileira. Além disso, são interligadas por corredores de vegetação nativa que facilitam a movimentação da fauna. Esses corredores têm um maior número de plantas com flores nas suas bordas contribuindo para o aumento de populações de inimigos naturais e a redução de lagartas desfolhadoras e de ninhos de formigas-cortadeiras. A preservação de áreas nativas, muitas vezes acima de 30% em relação àquela com plantio, intercaladas aos plantios florestais, permite a manutenção de uma fauna diversificada, incluindo inimigos naturais de pragas. Dessa forma, lagartas desfolhadoras, mesmo com surtos esporádicos, não têm periodicidade como em plantas agrícolas. Lagartas desfolhadoras em cultivos florestais são de diferentes famílias, como Eupseudosoma aberrans e Eupseudosoma involuta (Lepidoptera: Arctiidae), Euselasia eucerus (Lepidoptera: Riodinidae), Psorocampa denticulata (Lepidoptera: Notodontidae), Sarsina violascens (Lepidoptera: Lymantriidae) e Thyrinteina arnobia (Lepidoptera: Geometridae). Essas espécies são nativas e relatadas em plantas brasileiras. Várias espécies desses Lepidoptera podem ser encontradas em um mesmo surto, mas o predomínio de uma delas representa o padrão mais comum. A maioria dos surtos de lagartas desfolhadoras tem sido registrada no período mais seco do ano, embora algumas, como Psorocampa denticulata, ocorram em épocas chuvosas devido ao fato de permanecer no solo, como pré-pupa, e seus adultos precisarem de umidade para a emergência.

Os primeiros surtos de lagartas desfolhadoras em plantios de eucalipto datam de 1949, quando lagartas de Sarsina violascens (Lepidoptera: Lymantriidae) desfolharam plantas de eucalipto. A partir desse ano, foram sendo relatados, em pequena escala, até esse problema atingir níveis insustentáveis, no início da década de 1980, quando desfolhas de eucalipto por lagartas foram relatados em mais de 400.000 hectares no cerrado de Minas Gerais. Thyrinteina arnobia (Lepidoptera: Geometridae) foi a principal praga nessa infestação e, mesmo hoje, é a espécie mais frequente desfolhando plantas de eucalipto. A área com danos por lagartas desfolhadoras atingiu um tamanho sem precedentes e um dos principais fatores que contribuíram para esse problema foram plantas mal adaptadas para a região. A falta de produtos para controlar um problema dessa magnitude levou a pesquisas com produtos químicos e biológicos aplicados com equipamentos terrestres e aéreos (aviões e helicópteros) para o controle de lagartas desfolhadoras de eucalipto. Isso permitiu a redução desses problemas a níveis muito baixos, mas a indústria florestal brasileira se conscientizou dos riscos de uma dependência nesses métodos de controle de pragas, levando ao aumento com pesquisas, e o desenvolvimento de estratégias visando à prevenção, ao invés de, apenas, controlá-los quando ocorressem. Além disso, pode-se observar que as desfolhas eram maiores em plantas de eucalipto com menor crescimento, isto é, aquelas com deficiência de adubação ou mal adaptadas aos locais. Outras observações têm mostrado menores infestações de lagartas em plantas de Eucalyptus grandis e de seus clones. Clones baseados em Eucalyptus urophylla têm maior produtividade, mas podem ser mais ; suscetíveis a lagartas desfolhadoras.

O alto investimento das empresas florestais no manejo integrado permitiu o desenvolvimento de um pacote tecnológico com redução das áreas infestadas e dos danos por lagartas desfolhadoras.

José Cola Zanuncio Professor do Departamento de Entomologia da UF-Viçosa

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Opiniões O manejo integrado de lagartas desfolhadoras visa à redução de problemas com esses insetos, sendo baseado em amostragens populacionais e no uso de métodos de controle com menor impacto ambiental, como o silvicultural e o biológico. Armadilhas luminosas são utilizadas para a captura de adultos de espécies desfolhadoras e, de acordo com seus números e a biologia de cada uma delas, podem-se tomar medidas mais eficientes e com menores custos e impactos ambientais. Além disso, a contagem de lagartas em galhos de eucalipto é utilizada para se avaliar a possibilidade de danos por esses insetos. Métodos silviculturais se baseiam em observações e pesquisas mostrando que lagartas desfolhadoras de eucalipto preferem se alimentar de folhas da parte inferior da copa de plantas com 2 a 3 anos. A remoção de 30% da copa do eucalipto, a partir da parte inferior da planta, reduz a oferta de alimento e, consequentemente, populações e danos por lagartas desfolhadoras. Além disso, o manejo do sub-bosque é importante para a manutenção de inimigos naturais desses insetos e pode explicar, pelo menos em parte, a menor incidência de problemas com desfolhadores em plantas mais velhas de eucalipto. A hipótese, com alguns estudos comprovando isso, é que, nessa idade, os plantios florestais têm maior densidade de plantas no sub-bosque com melhores condições de alimento e sobrevivência de inimigos naturais. O controle biológico aumentou em importância quando foi observado um número muito grande de insetos parasitoides e predadores, além de doenças controlando lagartas desfolhadoras. Com isso, o uso de inseticidas químicos, para o controle desses insetos, foi reduzido a níveis muito baixos e passou-se a priorizar e a usar a bactéria Bacillus thuringiensis e a se produzirem predadores como Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae) e parasitoides como Palmistichus elaeisis (Hymenoptera: Eulophidae), os quais são liberados em plantios de eucalipto. Podisus nigrispinus é o predador mais comumente relatado em plantios, mas esse inimigo natural, na maioria do casos, atinge altos níveis populacionais quando os danos por lagartas já são elevados. Esses inimigos naturais são produzidos pela própria empresa que os utiliza ou por outras que os comercializam. A liberação de inimigos naturais é feita, principalmente, em áreas onde a contagem do número de lagartas por galho de eucalipto ou de indivíduos adultos em armadilhas luminosas indiquem possibilidades de surtos de lagartas. O manejo integrado de lagartas desfolhadoras em plantios florestais deve incluir a manutenção da diversidade ambiental com preservação de, pelo menos, 20% da área com vegetação nativa, o monitoramento de pragas, a implantação de corredores de vegetação nativa, a remoção de 20% da copa das plantas de eucalipto com idade de 1,0 a 2,5 anos, a partir de sua parte inferior, dependendo do crescimento das mesmas, e a liberação de parasitoides e predadores e, em casos de extrema necessidade, o uso de inseticidas biológicos à base de Bacillus thuringiensis. O alto investimento das empresas florestais no manejo integrado permitiu o desenvolvimento de um pacote tecnológico com redução das áreas infestadas n e dos danos por lagartas desfolhadoras.

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as pragas exóticas

que estão chegando

A produção de madeira baseada em plantações florestais, utilizando principalmente espécies de eucalipto e pinus, tem viabilizado com sucesso da produção industrial de papel e celulose, painéis e chapas e da siderurgia, baseada em carvão vegetal. Para isso, a silvicultura intensiva aplica conhecimentos e tecnologias avançadas, como a melhoramento para seleção de híbridos mais produtivos e adaptados, clonagem, fertilizantes mais eficientes, mecanização de operações florestas, etc. Entretanto, os ganhos de produtividade são afetados pelo ataque de pragas e doenças florestais. As espécies e híbridos de Eucalyptus são as que mais têm sofrido, nas últimas décadas, com o problema de pragas. Além das pragas nativas, como formigas-cortadeiras, cupins e lagartas, as pragas exóticas, originárias da Austrália, são as que mais têm afetado a produção de madeira no Brasil. As principais pragas exóticas do eucalipto são psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis) e vespa-de-galha (Leptocybe invasa). Com exceção do gorgulho-do-eucalipto, que foi introduzido na década de 1950, as demais pragas exóticas foram constatadas a partir de 2003. A globalização e o aumento do comércio internacional têm sido considerados fatores-chave na introdução de pragas e doenças exóticas em nível mundial. Entretanto a maioria dos casos está relacionada a insetos broqueadores de árvores, como os casos do besouro A globalização e o aumento do comércio internacional têm sido considerados fatores-chave na introdução de pragas e doenças exóticas em nível mundial. "

Carlos Frederico Wilcken Professor de Entomologia Florestal, Diretor da Unesp-Botucatu e Coordenador do Protef/IPEF

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asiático Anoplophora glabripennis (Coleoptera: Cerambycidae) e besouro-verde do freixo Agrilus planiplennis (Coleoptera: Buprestidae), que já causaram mais de um bilhão de dólares em prejuízos na arborização urbana na América do Norte. Os insetos broqueadores têm mais risco de serem introduzidos por estarem associados à madeira, principalmente de pallets e caixotaria. No caso das pragas exóticas de eucalipto, insetos sugadores e formadores de galhas, que necessitam de tecido vegetal vivo, como folhas e ramos, os de maior ocorrência. Nesse caso, a introdução pode ser devida ao transporte clandestino de mudas e/ou estacas para propagação vegetativa, introduzindo as pragas de forma acidental ou mesmo intencional. O percevejo bronzeado, detectado no Brasil em 2008, causa redução no incremento médio anual (IMA) entre 15% a 20% em MG e SP. A estimativa de prejuízos econômicos no período de 2010 a 2015 chega a R$ 1,1 bilhão. Os danos causados pelo psilídeo-de-concha e vespa-de-galha ainda não foram completamente determinados. Porém essas três pragas inviabilizaram a continuidade dos plantios de Eucalyptus camaldulensis e de híbridos com essa espécie no Brasil, sendo esse o principal material genético utilizado nos programas de melhoramento, visando à resistência ao déficit hídrico e à produção de carvão vegetal.


Opiniões A principal estratégia de manejo dessas pragas é o controle biológico, com a introdução de inimigos naturais da Austrália (região de origem dessas pragas). Hoje, temos resultados que comprovam a efetividade do controle biológico para o percevejo bronzeado, após quatro anos das primeiras liberações. Para o psilídeo-de-concha, os resultados são de controle parcial, ou seja, há regiões ou estados onde há controle satisfatório, e, em outros, a praga continua a causar surtos, mesmo após 12 anos de introdução do parasitoide. Em suma, o controle biológico é o método recomendado para pragas exóticas ou invasoras e de aceitação pela certificação florestal, mas sua resposta é de médio a longo prazo, e nem sempre uma única espécie de inimigo natural é suficiente. A resistência de plantas às pragas é outra opção, porém é de longo prazo. A prevenção deve ser considerada método prioritário. Evitar a entrada de novas pragas no Brasil e na América do Sul é prioridade zero, pois, após a chegada de uma nova espécie de praga, dificilmente se conseguirá erradicá-la em seu novo ambiente. Há pragas exóticas em outros países que também plantam eucalipto em larga escala, com risco de serem introduzidas em nosso continente ou País, como a vespa-de-galha Ophelimus maskelli e O. eucalypti, presentes no Chile, e outra espécie de psilídeo-de-concha, Spondyliaspis plicatuloides na África do Sul.

Além disso, há pragas nativas em outros países que se adaptaram ao eucalipto e que também podem chegar por aqui. A prevenção envolve principalmente medidas de fiscalização em portos e aeroportos, de responsabilidade do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Para tanto, há necessidade de se terem estudos e documentos como análise de risco de pragas (ARP) e planos de contingência para cada praga ou doença exótica. O Comitê de Sanidade Vegetal – Cosave, órgão normativo do Mercosul, com apoio da Embrapa Florestas, tem elaborado listas de pragas quarentenárias para as plantações florestais (eucalipto e pinus). Entretanto essas listas têm que ser revisadas com maior frequência, devido ao aumento de ocorrência de novas pragas anualmente, e ainda faltam os planos de contingência. Novas parcerias entre as universidades e as Embrapas, com o MAPA, com o apoio da IBÁ, tentarão auxiliar a elaboração e a atualização desses documentos. A recomendação para a introdução de novos materiais genéticos de eucalipto e pinus é realizá-la oficialmente, passando pelas quarentenas vegetais brasileiras (Embrapa, Cenargen e IAC – Instituto Agronômico de Campinas. A quarentena assegura a introdução de novas espécies, procedências ou genótipos isentos de agentes daninhos, que já causaram prejuízos bilionários para o País. n


pragas

Opiniões

situação atual no Brasil da

vespa-da-madeira o Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira é considerado modelo de parceria entre a pesquisa e empresas privadas, pois possibilita estratégias de manejo da praga, além de avançar em áreas como o manejo florestal "

Susete do Rocio Chiarello Penteado Pesquisadora da Embrapa Floresta

Coautor: Edson Tadeu Iede, Chefe-geral da Embrapa Floresta

Os plantios de pinus no Brasil abrangem uma área de, aproximadamente, 1.600.000 hectares. Introduzido em função de seu rápido crescimento e alta produtividade, em relação à sua área de origem, teve essa condição ameaçada em função do ataque de pragas, como a constatação da vespa-da-madeira, espécie exótica, registrada pela primeira vez no Brasil em 1988. Ela é considerada uma das principais pragas dos plantios de pinus, uma vez que provocou, em alguns casos, até 60% de mortalidade. Devido às condições favoráveis de estresse dos plantios e por ter sido a primeira praga exótica de importância para o pinus, a sua introdução significou uma mudança de paradigma na silvicultura do pinus no Brasil. A criação, em 1989, do Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira (PNCVM), instituído pelo Ministério da Agricultura e do Funcema – atual Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais, foi o marco fundamental para o início das atividades para a implantação de um Programa de Manejo Integrado para a Vespa-da-Madeira no Brasil. ;


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pragas O PNCVM contemplou ações de prevenção e controle da praga, incluindo: a) controle silvicultural, pela adoção de técnicas adequadas de manejo dos plantios de pinus, principalmente pela realização e atualização dos desbastes; b) mapeamento das áreas de Pinus spp. na região Sul do Brasil; c) monitoramento, para detecção precoce da praga, pela utilização de árvores-armadilha, mediante o seu estressamento pela aplicação de herbicidas; d) estabelecimento de medidas quarentenárias para evitar a dispersão da praga para áreas indenes, através de portaria que restringiu a movimentação de madeira atacada e de seus produtos; e) controle biológico, pela utilização do nematoide, Deladenus siricidicola, e uso dos parasitoides, Ibalia leucospoides, Megarhyssa nortoni e Rhyssa persuasoria, e f) estabelecimento de um intensivo programa de transferência de tecnologia, principalmente, treinamentos para o monitoramento e controle da praga, elaboração de publicações, folder e vídeos e divulgação na mídia. Uma análise dos 27 anos de desenvolvimento do PNCVM permite concluir que, no início, houve uma grande mobilização de todo o setor florestal, incluindo as grandes empresas, pequenos produtores, sindicatos e associações de produtores e órgãos públicos. Essa mobilização, associada ao trabalho de pesquisa e transferência de tecnologia desenvolvido pela Embrapa Florestas, com o apoio de outras instituições, resultou no sucesso do controle da vespa-da-madeira em nosso país. Muitas empresas criaram equipes próprias ou contrataram empresas terceirizadas, que foram criadas com o objetivo de realizar as atividades de monitoramento e controle da vespa-da-madeira. Essas atividades passaram a fazer parte do calendário de atividades anual dos programas de manejo florestal das empresas florestais. A Embrapa Florestas, com o apoio do Funcema e das empresas associadas, desde então vem realizando pesquisas para otimizar o controle da praga. Um dos resultados com alto impacto foi a publicação, em 2014, de um comunicado técnico com os resultados sobre a substituição da gelatina pelo hidrogel na atividade de inoculação do nematoide nas árvores atacadas pela vespa-da-madeira. O uso do hidrogel, quando comparado à gelatina, permitiu uma redução de tempo e de custos da atividade de 66,7% e 46,5%, respectivamente, além de se considerar a questão da infraestrutura necessária para o preparo do inóculo com a gelatina, que requer o uso de batedeira elétrica, água gelada e água fervente, o que, para o uso do hidrogel, são dispensáveis. Também, em 2016, foi publicada uma nova metodologia para o monitoramento da vespa-da-madeira. Até então, essa atividade era realizada ou pela utilização da instalação de árvores-armadilha ou pela aplicação da amostragem sequencial. No Paraná, uma legislação estadual (Resolução 115/2009 - Adapar-PR) determina que todo produtor de pinus, com áreas superiores a 5 (cinco) hectares e idade superior a sete anos, deve, com a finalidade de detectar e controlar a praga vespa-da-madeira (Sirex noctilio), adotar, alternativamente, uma das seguintes ações:

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a) instalação de árvores-armadilha, anualmente, no período compreendido entre os meses de agosto e setembro; ou b) realização da amostragem sequencial, no período compreendido entre os meses de março a maio. Essa nova metodologia de amostragem, além de ser mais uma alternativa para as empresas e os produtores realizarem o monitoramento da praga, está sendo inclusa em uma nova versão da Resolução 115, a qual está sendo revisada e atualizada. Além disso, essa metodologia permite, já no momento em que é feito o monitoramento, realizar a seleção das árvores para a inoculação do nematoide e até mesmo realizar a inoculação, reduzindo os custos das operações, considerando também que o número de árvores inoculadas será em torno de 25%, acima até do mínimo recomendado pela pesquisa, que é de 20%. Porém o sucesso do programa de controle biológico da vespa-da-madeira está baseado na detecção precoce da presença da praga e na imediata utilização dos agentes de controle biológico, principalmente o nematoide, Deladenus siricidicola. Assim, a principal medida para evitar os danos dessa praga é a utilização do manejo florestal dos plantios. Porém isso nem sempre é possível ou o mais adequado para o produtor florestal, em função da finalidade do seu plantio. Atualmente, algumas empresas estão optando por fazer o plantio e realizar um corte raso entre 14 e 16 anos, sem desbastes. Outras estão optando por realizar o primeiro desbaste mais tardio, entre 10 e 12 anos. Entretanto, uma vez que a vespa-da-madeira é atraída para árvores estressadas e que, geralmente, a partir do 7º ano o plantio começa a ser tornar mais susceptível ao ataque da praga, as condições citadas podem levar à ocorrência de danos da praga se não houver, conjuntamente, uma preocupação com o monitoramento e o controle do inseto nessas áreas. Outro fator que poderia comprometer a eficiência do controle da vespa-da-madeira é a capacitação das equipes que realizam as atividades de monitoramento e controle. No passado, um grande esforço foi realizado por todas as instituições envolvidas no PNCVM para o treinamento de pessoal. Entretanto grande parte desses profissionais já não estão mais atuando na atividade, e muitos outros ingressaram sem treinamento. Assim, hoje, há uma preocupação de todo o setor em retomar esse trabalho de capacitação, o que tem sido realizado pela Embrapa Florestas em parceria com Secretarias de Agricultura, órgãos estaduais de fiscalização, instituições de pesquisa, associações e sindicatos de produtores de pinus. A vespa-da-madeira é um exemplo clássico do impacto que as pragas introduzidas podem causar. Porém, com a implantação do programa de manejo integrado de pragas adotado, foi possível criar mecanismos de resistência ambiental, e, dessa forma, a sua dispersão, no Brasil, tem sido controlada. Atualmente, o Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira é considerado modelo de parceria entre a pesquisa e empresas privadas, pois possibilita estratégias de manejo da praga, além de avançar em áreas como o manejo florestal. n


Opiniões

sistema de proteção contra as pragas florestais Insetos são invertebrados com a maior evolução, diversificação e dispersão pelo mundo, e muito deles se alimentam de plantas. Assim, como qualquer outra planta, o eucalipto está vulnerável ao ataque de insetos, que, dependendo do seu nível populacional, atingem o status de inseto-praga. Na eucaliptocultura, as pragas podem ocorrer em qualquer fase da cultura, indo desde as sementes e a produção das mudas no viveiro até a fase adulta, e mesmo pós colheita na nova rotação. O status de praga é atingido quando os custos de controle são inferiores aos efeitos diretos do inseto na perda de produtividade ou na qualidade da floresta. Os efeitos de insetos desfolhadores, como formigas, lagartas e besouros, na perda de produtividade, são mais conhecidos e quantificados do que os insetos sugadores, como psilídeos, percevejos e afídeos. A principal praga do eucalipto são as formigas-cortadeiras, principalmente as saúvas (cabeça de vidro Atta sexdens laevigata e limão Atta sexdens rubropilosa), que causam grandes desfolhas. Num estudo com simulação de desfolha em 12 clones de Eucalyptus no Brasil (Pizzi, 2016), junto ao projeto Techs-Ipef (www.ipef.br/techs), quantificou-se que, com a desfolha total ao final do primeiro ano, as árvores têm uma redução de mais de 40% a 60% no crescimento, variando para cada clone ao longo do ano subsequente, quando comparada à testemunha sem desfolha. Essa perda de produtividade, conclui o estudo, está ligada não só à perda de oportunidade de crescimento pela não captura de luz pós desfolha, como também ao consumo das reservas de carbono para emissão de novas folhas. Tanto insetos nativos da entomofauna brasileira como, cada vez mais, insetos exóticos são os causadores de surtos nos plantios de eucalipto por todo o Brasil. Dada sua grande área plantada, longevidade da cultura (anos a décadas), múltiplos nichos microclimáticos e suas dimensões em altura, as florestas, para seu controle de pragas, requerem a estratégia do Manejo Integrado de Pragas (MIP), pois não existe uma única forma de controle capaz de ser eficientemente aplicada na cultura. Além disso, os parasitas e parasitoides (inimigos naturais) dessas pragas passam a ser uma opção cada vez mais relevante quando eficientemente conhecida e utilizada. As ações de Manejo Integrado de Pragas são baseadas em três fases: detecção, monitoramento e controle. No setor florestal, via Protef-Ipef (www.ipef.br/protef), as empresas florestais trabalham cooperativamente sob orientação científica de pesquisadores, buscando soluções inovadoras para cada uma das fases do MIP.

Na detecção, por meio de avaliações da flutuação populacional da praga-alvo e seus inimigos naturais, é possível identificar épocas de ocorrência e sua interação com o ambiente; dessa forma, é possível prevenir para controlar-se rapidamente o foco ou surto. Uma estratégia para a detecção de pragas exóticas (psilídeo-de-concha, percevejo bronzeado e vespa-da-galha) consiste na utilização da armadilha adesiva amarela (Figura 1). Na detecção, é essencial conhecer o inseto-praga que se deseja encontrar, por isso a capacitação de equipes de campo é fundamental e deve fazer parte do MIP. Após a detecção, é preciso monitorar, momento no qual se quantifica a incidência da praga (população do inseto) e a severidade do seu ataque (dano na planta), e, para isso, adotam-se diferentes estratégias mediante peculiaridades de cada inseto (fases do ciclo, local ataque e forma de dispersão), avaliando também o controle biológico natural. É necessário um pacote de procedimentos técnicos descritos que permitam fazer uma avaliação de campo detalhada, e, devido ao tamanho da planta, essa atividade pode ser dificultada. Atualmente, pesquisadores estão aprimorando e buscando inovações tecnológicas que permitam maior eficiência de monitoramento, como uso de armadilhas atrativas, feromônios, uso de imagem de satélite, drones e coletores digitais de informações. A tomada de decisão para controle ocorre após se analisarem as informações do monitoramento e conhecendo previamente os danos potenciais que a praga pode ocasionar. Mediante incidência da praga e severidade do seu ataque, adota-se uma medida ou um conjunto de medidas, tais como o controle genético, cultural, biológico ou químico, que são as mais aplicadas à eucaliptocultura. Dentro da concepção de prevenir, é possível realizar a fenotipagem de clones contra algumas pragas, dessa forma, plantam-se materiais com resistência genética em locais onde a espécie da praga é endêmica. Tal estrat égia tem apresentado elevado sucesso para a vespa-da-galha, Leptocybe invasa, por exemplo. A prospecção de novos inimigos naturais ou avaliação daqueles conhecidos

Tanto insetos nativos da entomofauna brasileira como, cada vez mais, insetos exóticos são os causadores de surtos nos plantios de eucalipto por todo o Brasil. "

Everton Pires Soliman Consultor de Proteção Florestal da Suzano


pragas

Opiniões

na cultura para outros alvos é mais uma estratégia de prevenir incorporada ao Laboratório de Proteção Florestal da Suzano Papel e Celulose, onde, atualmente, está em fase de validação da eficiência de Podisus nigrispinus como predador das larvas de Gonipterus platensis. O controle cultural visa, por meio de atividades culturais, promover o controle direto ou indireto da praga, como a eliminação de criadouros (vespa-da-galha, Leptocybe invasa), plantios em mosaico de idades e genótipos e plantio numa época do ano em que a planta passe pelo estádio fenológico de suscetibilidade a determinada praga numa época diferente à ocorrência da praga, conhecido como assincronia fenológica (técnica passível de ser usada para o besouro amarelo, Costalimaita ferruginea). Os plantios de eucalipto possuem diversos insetos associados, alguns maléficos (pragas) e outros extremamente benéficos, como os inimigos naturais e os micro-organismos entomopatogênicos (fungos, bactérias e vírus). Os inimigos e micro-organismos atuam naturalmente, reduzindo a população da praga por meio do controle biológico natural. Esse controle pode ser ampliado através do controle biológico aplicado com a prospecção de novas espécies e criação de inimigos naturais com eficiência comprovada, como Psyllaephagus bliteus (parasitoide do psilídeo-de-concha, Glycaspis brimblecombeii, Figura 1), Anaphes nitens (parasitóide do gorgulho-do-eucalipto, Gonipterus platensis, Figura 2) e Podisus nigrispinus (predador da lagarta parda, Thyrinteina arnobia - Figura 3). Geralmente, os inimigos naturais são utilizados quando a incidência e a severidade da praga ainda são baixas, pois

requerem um tempo para estabelecerem e serem eficazes. O controle com micro-organimos entomopatogênicos no setor florestal é uma realidade, pois há produtos biológicos comercializados e amplamente utilizados para o controle da lagarta parda com Bacillus thuringiensis e do gorgulho-do-eucalipto utilizando Beauveria bassiana. O controle químico pode ser utilizado quando a incidência e a severidade indicam o nível de pré-surto. Trata-se de uma decisão técnica que deve garantir o uso racional de inseticidas no setor. Após inúmeras ações de pesquisa das empresas florestais em parceria com empresas químicas, suporte de institutos e de universidades, existem, atualmente, inseticidas registrados para controle de diversas pragas florestais, notadamente: formigas, cupins, vespa-da-galha, psilídeo-de-concha, lagarta parda, ácaro rajado (Tetranychus urticae) e percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus – Figura 4). No início do cultivo com eucalipto no Brasil, os insetos-pragas eram, majoritariamente, as formigas e os cupins. Com a expansão da área plantada, algumas espécies de insetos nativos, como a lagarta parda, passaram a se alimentar da cultura, tornando-se pragas. Ao mesmo tempo, espécies que ocorriam na Austrália, centro de origem do eucalipto, chegaram ao Brasil. Assim, um sistema robusto de proteção necessita estar sempre ativo, e a Suzano, com sucesso, o sistema de “manejo integrado”, buscando sempre inovações tecnológicas para as três fases (detecção, monitoramento e controle) que possibilitem manter nossa produtividade, ao mesmo tempo que respeita os aspectos socioambientais.

1. Armadilha adesiva amarela instalada no campo para monitoramento de pragas exóticas (psilídeo-de-concha, percevejo bronzeado e vespa-da-galha).

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2. Detalhes do adulto (a) e das larvas se alimentando do Gonipterus platensis (b) e do parasitoide de ovos Anaphes nitens (c). 3. Lagarta parda Thyrinteina arnobia (a), desfolha total do plantio provocado pela lagarta na Bahia (b) e detalhe do predador Podisus nigrispinus predando uma lagarta parda (c).

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3c 4. Percevejo bronzeado Thaumastocoris peregrinus (a), colônia do inseto na folha (b) e copa amarelada ao fundo, devido ao ataque da praga, detalhe no contraste da tonalidade de verde com o plantio da frente sem ataque (c).

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Os avanços em tecnologia têm sido rápidos em todas as áreas do conhecimento. A terceira era da computação chega ao Brasil com serviços acessados em nuvem ao supercomputador Watson da IBM. A Google associada à Nasa criaram o D.Wave 2x, um computador quântico que processa em 1 segundo o que um desktop convencional levaria 10.000 anos para processar. Algumas empresas de base florestal já estão incluindo plataformas de inteligência artificial para mensuração, otimização e tratamento de riscos nas operações florestais aliadas à silvicultura de precisão. como ferramentas de competitividade e de sustentabilidade. Diante de tanta tecnologia e de avanços tão expressivos do conhecimento, como anda a tecnologia de aplicação (TA) de agroquímicos nas áreas de silvicultura? Quando se associa silvicultura de precisão à TA, entram no escopo as ferramentas de georreferenciamento, com mapeamento de áreas que devem ser tratadas e com que quantidade de insumos ou defensivos. Computadores de bordo capazes de controlar taxas de aplicação nas máquinas operam segundo as

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recomendações e geram mapas, possibilitando aos gestores verificar a evolução dos trabalhos à distância. Em termos gerais, a tecnologia de aplicação trata de colocar os produtos químicos em seus alvos, de modo uniforme, contínuo e na quantidade necessária, levando em conta fatores ambientais, como temperatura, umidade relativa do ar, movimentações do ar no ambiente de operação e precipitação, além de aspectos ligados ao alvo, como capacidade de retenção de solução, posicionamento de pragas no dossel, características de relevo e várias outras. Em geral, os produtos químicos, sejam inseticidas, herbicidas, fungicidas ou nutrientes, são diluídos em veículos como água e óleo, compondo a calda para posterior aplicação. Essa calda pode chegar ao alvo através de imersão de raízes, no solo, nas folhas, nas pragas, etc. À exceção das iscas formicidas e da imersão de sistemas radiculares, o modo mais usado na aplicação de agroquímicos é a pulverização, que pode ser manual, aérea ou terrestre. A calda passa por circuitos hidráulicos e é projetada para o alvo em forma de gotas. Ao chegarem ao alvo, as gotas precisam se manter nos sítios desejados conforme cada produto; por exemplo, inseticidas que funcionam por ingestão precisam estar onde os insetos irão se alimentar, herbicidas pré-emergentes devem estar na solução do solo. Desse modo, o processo da aplicação se inicia antes da aplicação, na homogeneização das caldas de aplicação, ;


Opiniões passando pela geração e pelo comportamento de gotas e na deposição sobre os alvos. Assim, sistemas de silvicultura de precisão e controladores eletrônicos não asseguram os melhores resultados de eficiência e eficácia no campo, e, em contrapartida, operações bem efetuadas podem trazer grandes resultados, mesmo sem sistemas eletrônicos embarcados. O mercado de agroquímicos aplicados em silvicultura no Brasil gira em torno de US$ 150 milhões, sendo cerca de 70% herbicidas, e os demais 30%, inseticidas e fungicidas. Não é pouco comum encontrar perdas acima de 20% nos sistemas de tecnologia de aplicação adotados no campo. Pode-se dizer que são perdidos de US$ 15 a US$ 20 milhões por ano, com aplicações inadequadas de produtos químicos em áreas florestais no Brasil. Em trabalhos de campo desenvolvidos no Mato Grosso do Sul, no Paraná e em São Paulo, foi possível verificar problemas sérios de homogeneização de caldas na mistura dos herbicidas. Houve variação de tempo entre 1 e 2,5 horas após o início das aplicações paras as caldas ficarem homogêneas dentro dos depósitos dos pulverizadores; em algumas máquinas, mais da metade do tanque já havia sido aplicada quando a calda ficou uniforme. Todo produto que sai da máquina e não chega ao alvo pode ser definido por deriva. Desse modo, dependendo de como as gotas são geradas e das condições ambientais e do veículo utilizado nas aplicações, é possível que até 89,1% do produto não cheguem ao alvo em aplicações aéreas. Aplicações de doses abaixo do recomendado por ineficácia dos sistemas de aplicação e manejo apoiado sempre nos mesmos ingredientes ativos ou modo de ação podem induzir resistência em plantas daninhas, pragas e patógenos, aumentando os problemas de controle no médio e no longo prazo. A seleção e o dimensionamento dos sistemas de aplicação são, então, fundamentais para assegurar os melhores resultados, mas não são suficientes. As operações no campo são realizadas por pessoas em milhares de ações diárias ao longo do tempo. Um conjunto de normas e procedimentos adequados aos objetivos de cada usuário é necessário, aliado a sistemas de controle de qualidade eficazes. Outro fator relevante para que as empresas sigam abaixo das possibilidades em TA é a necessidade de quebra de paradigmas. Até poucos anos atrás, o mercado desejava mais moléculas para enfrentar os desafios que vinham surgindo com plantas daninhas, pragas e doenças. Parte dessas demandas começa a ser atendida: até outubro de 2016, existiam cerca de 91 marcas comerciais registradas para a cultura do eucalipto, segundo a Aenda. Não é possível manter as mesmas ferramentas de aplicação para uma variedade grande de produtos. A evolução precisa ser contínua.

Passos para desenvolvimento da Tecnologia de Aplicação 1. Diagnóstico: Identificar o status dos sistemas adotados, próprios ou de terceiros, com uma avaliação criteriosa de pessoas, máquinas, procedimentos e matriz decisória. Priorizar as demandas em função de: • Produtos utilizados; • Alvos; • Colaboradores; • Comunidade; • Meio ambiente, e • Governo. 2. Adequação de processos: Estabelecer um plano de avanço estratégico e definir os objetivos da TA para a fase do processo, incluindo atividades inesperadas, como ataques de pragas não previstos. Avaliar o nível tecnológico necessário para atender às necessidades identificadas, levando em conta eficiência e simplicidade. De acordo com a escala, as exigências e os riscos, definir os melhores modelos tecnológicos, que podem ser um pulverizador costal ou sistemas de silvicultura de precisão e de inteligência artificial. 3. Adequação de pessoas: Transformar a força de trabalho, buscando a produtividade pela educação em todos os níveis do processo, de acordo com a tecnologia definida para cada etapa do processo produtivo. 4. Inovação incremental: Transformar o esforço inovador em rotina. O modelo mental deve estar orientado a confrontar o que está estabelecido. Só assim será possível adotar novas tecnologias, produtos e ferramentas que surgirem no mercado. Com a velocidade da inovação e do volume de informações disponíveis em tempos de conectividade, é praticamente impossível que o gestor de silvicultura consiga acompanhar, estudar ou simplesmente ler tudo que surge em todas as áreas de conhecimento de suas aplicações. Diante disso, Adner, professor de estratégia da Tuck College of Business, do Darmouth College, entende que os mercados precisam de colaboração entre participantes para tomar forma. As empresas precisam construir redes de cooperação entre investidores, fornecedores, clientes e negócios complementares, formando, assim, ecossistemas inovadores. As melhores experiências dependem, então, de iniciativas em quatro áreas: nos colaboradores, na tecnologia que os apoia, na inovação e nas parcerias com a cadeia de fornecimento. Desse modo, será possível reduzir perdas milionárias, produzindo mais florestas, em ambientes mais saudáveis e socialmente n mais justos.

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plantas daninhas

Opiniões

métodos de controle de plantas daninhas em

eucalipto O manejo de plantas daninhas na cultura do eucalipto é uma das atividades mais caras e com grande impacto na produtividade florestal. "

Caio Antonio Carbonari Professor de Plantas Daninhas da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP-Botucatu

O manejo de plantas daninhas na cultura do eucalipto assume um papel de destaque dentre os tratos culturais, sendo uma das atividades mais caras e com grande impacto na produtividade florestal. Essa análise do custo do manejo de plantas daninhas é bastante complexa e envolve planejamento de curto, médio e longo prazo, e a ausência desse planejamento certamente implica maiores dificuldades e, consequentemente, o aumento do custo para evitar a interferência das plantas daninhas. A competitividade da cultura do eucalipto é baixa, devido ao seu desenvolvimento inicial ser bastante lento quando comparado ao desenvolvimento das plantas daninhas, o que aumenta a suscetibilidade da cultura à interferência das mesmas. A complexidade do sistema de produção do eucalipto torna o manejo de plantas daninhas também bastante complexo, com necessidades específicas para cada fase da cultura. Existem várias possibilidades quanto ao emprego de diferentes métodos de controle e às modalidades de aplicação de herbicidas para o eucalipto nas fases de dessecação da área para plantio, implantação e manutenção da cultura. Devido à grande dificuldade e aos custos envolvidos, o manejo integrado de plantas daninhas, visando combinar diferentes técnicas de controle, ganha ainda mais relevância.

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Manejo Integrado de plantas daninhas: Para que um programa de controle de plantas daninhas seja eficiente e economicamente viável, devem ser considerados todos os requisitos do manejo integrado, a começar por um bom planejamento das ações, com antecedência, e levando em consideração o histórico de ocorrência de plantas daninhas da área. Deve fazer uso de todos os métodos de controle que podem ser integrados, o que traz benefícios do ponto de vista de eficácia de controle (maior espectro) e reduz a dependência de apenas um deles e o risco de adaptação das plantas daninhas. Além de um bom planejamento, é fundamental também a avaliação e o relato dos resultados obtidos, o que permite que as tomadas de decisões para os novos ciclos de plantio sejam sempre fundamentadas em informações e conhecimento. O manejo integrado consiste em adotar e integrar os vários métodos de controle, de maneira segura para a cultura e para o ambiente, com o objetivo de manter as populações-alvo abaixo do nível de dano econômico. No caso de plantas daninhas, o nível de dano econômico normalmente está associado à quantidade de biomassa acumulada por unidade de área e não ao número de indivíduos. Primeiramente, deve ser pensada a combinação de diferentes práticas de controle, com níveis de eficácia individualmente maximizados, reduzindo a dependência em relação a cada uma delas e evitando (ou retardando), inclusive, a seleção de biótipos resistentes. Vale destacar que, dentre as principais características das plantas daninhas, uma das mais marcantes é a capacidade de se adaptar e de se resistir aos ;



plantas daninhas métodos de controle, não apenas aos herbicidas, mas a qualquer prática de controle que seja desenvolvida e utilizada, o que acaba sendo dificultado com a alternância de práticas no manejo dessas plantas. Práticas preventivas: Eliminar completamente a ocorrência das plantas daninhas é praticamente impossível, no entanto existem medidas que permitem minimizar a ocorrência das mesmas. Dessa forma, dentro do plano de manejo das plantas daninhas em áreas florestais, é imprescindível a adoção de práticas preventivas, as quais consistem em métodos que impedem ou minimizam a introdução, o estabelecimento e a disseminação das diferentes plantas daninhas, principalmente das espécies mais difíceis de serem controladas, como aquelas com propagação vegetativa (rizomas, estolões ou tubérculos) e/ou biótipos resistentes a herbicidas. Práticas como a limpeza de máquinas e implementos, manejo de plantas daninhas em carreadores e entrelinhas e durante o período entre o corte das árvores e o novo plantio, a fim de evitar a produção e a disseminação dos propágulos, são relativamente simples, tem baixo custo e apresentam grande eficácia em minimizar o banco de sementes no solo e, consequentemente, reduzir a ocorrência das plantas daninhas e, assim, reduzir o custo de manejo a médio e a longo prazo em uma determinada área. Controle cultural e cobertura morta: Outro fator que não pode ser negligenciado é que o principal método de controle em áreas agrícolas ou florestais é sempre a própria cultura e, dessa forma, todas as medidas que favoreçam o crescimento e desenvolvimento da floresta, como a escolha adequada do material genético em função das características edafoclimáticas do local de plantio, qualidade das mudas, preparo de solo, disponibilidade hídrica, adubação, controle de pragas, entre outros, irá favorecer também o controle das plantas daninhas, permitindo um sombreamento mais rápido e efetivo do solo e reduzindo drasticamente a ocorrência de quase todas as espécies de plantas daninhas. A cobertura morta também assume papel de destaque no controle de plantas daninhas em áreas de eucalipto pela grande quantidade desse recurso disponível, principalmente em áreas de reforma. A cobertura morta tem grande eficácia de controle de determinadas espécies de plantas daninhas, no entanto, para ser efetiva, é fundamental ela ter uniformidade de distribuição na área. Controle químico: Os herbicidas apresentam elevada importância dentro do plano de manejo de plantas daninhas, sendo estes indispensáveis na grande maioria das áreas (principalmente em grandes extensões de áreas plantadas). A escolha do herbicida e a sua correta

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recomendação devem ser realizadas levando em consideração as plantas daninhas presentes na área, o nível de seletividade para a espécie florestal plantada e a dinâmica do herbicida no ambiente. Como as culturas florestais apresentam longo período de interferência das plantas daninhas, é desejável que os herbicidas apresentem também um longo período de residual no solo, o que minimiza o número de aplicações e, em geral, o custo de controle. Especialmente para herbicidas aplicados em pré-emergência, a dinâmica deles no solo e a compreensão de todos os processos que determinam a sua movimentação (principalmente sorção e lixiviação) e degradação são fundamentais para a correta recomendação, nas doses e época mais apropriadas para cada um. São poucos os herbicidas com efeito residual registrados para a cultura do eucalipto, e eles apresentam características bastante diversificadas quanto ao espectro de controle de plantas daninhas, à seletividade e ao comportamento no solo e na serrapilheira. A correta escolha do herbicida e da dose deve ser realizada levando-se em consideração as características de cada herbicida, o tipo de solo (e teor de matéria orgânica), a época de aplicação (disponibilidade hídrica e risco de lixiviação), a modalidade de aplicação (pré-plantio, pós-plantio, manutenção de entrelinha, aplicação conjunta com glyphosate, dentre outras). Todos os herbicidas têm características favoráveis e desfavoráveis, sendo, assim, fundamental explorarmos as melhores condições de uso de cada um deles. A seletividade de um herbicida para o eucalipto também é um fator muito importante a ser considerado no controle químico de plantas daninhas. Eliminar as plantas daninhas sem oferecer risco à cultura é sempre um desafio. Vários fatores têm impacto sobre a seletividade de herbicidas, como a dose aplicada, a dinâmica na serrapilheira e no solo, a sensibilidade dos diferentes clones de eucalipto a cada um dos herbicidas, dentre outros. O próprio manejo integrado das plantas daninhas é indispensável para minimizar a dependência e dar maior sustentabilidade ao controle químico das plantas daninhas em áreas florestais, principalmente pela baixa diversidade de herbicidas e pelos mecanismos de ação de herbicidas em eucalipto. O conhecimento mais aprofundado da dinâmica de herbicidas na planta e no solo, espectro de controle e aspectos relacionados à seletividade de herbicidas, contribui para uma recomendação mais correta, acertada e segura do ponto de vista silvicultural e ambiental. O conhecimento e os avanços nas técnicas de aplicação de herbicidas em áreas florestais também devem ser perfeitamente ajustado para o sucesso do controle químico das plantas daninhas. n


Opiniões

desafios do setor florestal no manejo de

plantas daninhas as perdas de produtividade causadas pelas plantas daninhas podem ser superiores a 50% do volume de madeira produzido por um plantio florestal sem a competição com essas plantas "

José Eduardo Petrilli Mendes Pesquisador da Fibria-MS

O manejo integrado de plantas daninhas é uma prática necessária para garantir a produtividade dos plantios florestais, uma vez que as perdas de produtividade causadas pelas plantas daninhas podem ser superiores a 50% do volume de madeira produzido por um plantio florestal sem a competição com estas plantas. Os métodos de controle químico e mecânico predominam atualmente nos plantios florestais. Nos dois casos, a maior escala de uso é de operações mecanizadas, em função da praticidade, minimização de riscos, rendimento, escassez de mão de obra e dos custos operacionais. A associação dos dois métodos também é uma prática que tem avançado nos últimos anos, bem como a associação de herbicidas, buscando a sinergia ou os efeitos aditivos de dois produtos numa única operação. Os métodos químicos são aplicados em larga escala, demandando e motivando a pesquisa e o registro de novas moléculas para uso em plantios florestais, bem como o avanço e o estímulo à adoção de novas tecnologias de

pulverização por esse setor. Até pouco tempo, o manejo químico das plantas daninhas em plantios florestais estava restrito a poucas opções de ativos herbicidas para o controle das plantas daninhas em pré-emergência (oxyfluorfen, sulfentrazone, isoxaflutole e flumioxazina), ou em pós-emergência (glifosato, glufosinato de amônia, carfentrazone ethil e 2,4-D), sendo este último mais focado em outras áreas dos empreendimentos florestais, fora dos talhões de plantios. Com o registro recente de novos ativos, principalmente para a cultura do eucalipto, o manejador florestal passou a ter mais opções de manejo nas duas fases das plantas infestantes, pré e pós-emergência. Esse novo cenário de disponibilidade de ativos diferentes, junto com as novas “fronteiras florestais”, trouxeram novos e grandes desafios e oportunidades para o avanço do manejo de plantas daninhas nos plantios florestais, que, por sua vez, demandam conhecimentos técnicos específicos sobre o tema, muitas vezes, ainda pouco explorados por esse setor. Os desafios dos diferentes cenários e situações de trabalho demandam, cada vez mais, equipamentos de pulverização desenvolvidos e fabricados para uso florestal e não mais adaptações de equipamentos desenvolvidos originalmente para ; outras áreas agrícolas.

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plantas daninhas Nesse novo cenário, a tendência de associação de operações mecanizadas também é marcante, seja com diferentes finalidades (preparo de solo/adubação/pulverização), ou seja, com a utilização de diferentes herbicidas na mesma aplicação, podendo ser associações entre pré-emergentes, entre pré e pós-emergente, ou entre pós-emergentes, sempre buscando otimizar o manejo em termos de espectro de ação, eficácia de controle ou efeito residual, ou ainda, uma conjugação entre esses objetivos visando obter o menor custo de controle do pacote de manejo, expresso em reais por dia limpo (R$/dia limpo), associado ao menor impacto ambiental e menores riscos para a saúde humana. Associações entre formas mecânicas e químicas de controle também são relativamente comuns frente aos desafios do manejo. Esses novos desafios e oportunidades precisam ser melhor estudados e explorados pelos manejadores. A necessidade de aprofundamento nesse aprendizado é urgente, pois a tendência de realização de menos operações, porém com maior valor agregado, será cada vez maior. Nesse cenário, não há espaço para o modelo de tentativa versus erro, as recomendações de manejo devem ser bem embasadas, precisas em termos de momento e execução e assertivos quanto aos resultados esperados. Para que esses objetivos sejam atingidos de forma consistente e sustentável, torna-se necessário um maior investimento não apenas em produtos e tecnologias de pulverização, mas também em pessoas, que precisam conhecer melhor a ecologia de comunidades de plantas daninhas, e o que é necessário para a realização de um bom manejo dessas invasoras. Essa necessidade remete à formação dos técnicos da área, tanto em nível médio como no nível superior, bem como na necessidade de atualização das informações dos profissionais que estão no mercado, visando explorar todo o potencial das novas tecnologias. Novas linhas de pesquisa devem ser estimuladas, como, por exemplo, o melhor conhecimento dos aspectos e dos riscos ambientais das tecnologias disponíveis ou das possibilidades de associações entre elas. No longo prazo, conhecer e manejar os bancos de sementes das diferentes áreas manejadas, entender as tendências de sucessão ecológica em função das alternativas de manejo aplicadas, conhecer o potencial de infestação de cada local, explorar as oportunidades relativas ao uso da transgenia aplicada ao manejo, buscar uma maior diversificação das formas de controle de invasoras (métodos biológicos, físicos, outras possibilidades), ter sempre em mente a necessidade de conservação dos solos e da água, dentre outras oportunidades de desenvolvimento. Para a melhor evolução do conhecimento e da agiLuiza formação Erne de lidade de resultados, deve-se estimular estal (em férias) grupos de pesquisa dedicados e do uso de associações e projetos cooperativos entre diferentes atores com

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Opiniões os mesmos objetivos, o que pode ser organizado via associações representativas, como a Ibá – Indústria Brasileira de Árvores, ou pelas associações estaduais representativas do setor florestal e, principalmente, realizado por grupos estruturados para a pesquisa, como o Protef – Programa Temático de Proteção Florestal, ou PTSM – Programa Temático de Silvicultura e Manejo Florestal, ambos do IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, envolvendo as expertises científicas necessárias para a boa evolução dos temas abordados. Atualmente, não há como se falar em plantios florestais sem associar às certificações do manejo e dos processos, que devem ter enfoque normativo, ambiental, social e econômico, ou seja, o manejo florestal e de plantios de árvores precisam ser ambientalmente corretos, socialmente justos e economicamente sustentáveis. Dentre as certificações amplamente utilizadas em nível mundial e no Brasil, está o FSC (Conselho de Manejo Florestal), que, por meio de suas normas, princípios e critérios, é bastante restritivo em relação ao uso de químicos nas áreas certificadas, baseando-se, principalmente, na periculosidade dos produtos, relacionado à toxicologia, e não ao contexto em que os produtos são usados. Essa maneira de interpretar o manejo torna-se restritiva para as principais formas de controle de plantas daninhas aplicadas atualmente. Entretanto as diretrizes desse sistema de certificação em relação ao uso de químicos estão em revisão, devendo tornar-se mais adequadas ao contexto de uso e necessidades locais, disponibilizando para os empreendimentos certificados uma forma de trabalho mais justa, com riscos conhecidos e minimizados, de forma a colaborar efetivamente para a evolução dos pilares ambiental, social e econômico. Para dar sustentação a esse turbilhão de oportunidades de forma sustentável, os princípios da Avaliação de Risco Ambiental – ARA, estão sendo aprimorados, adequados para as condições tropicais (em alguns ‑casos) e adotados, visando auxiliar na interpretação de diferenças entre opções de manejo, identificando os possíveis pontos de impacto na cadeia de operações de controle, de forma ainda mais assertiva, para que eles possam ser eliminados ou mitigados. Em resumo, o cenário do manejo de plantas daninhas em áreas de plantios florestais no Brasil passa por um momento de grandes desafios e enormes oportunidades, sendo assim, é necessário investir no desenvolvimento de inovações nas diversas frentes de pesquisa citadas, incluindo a capacitação de pessoas, para que possamos desenvolver ferramentas adequadas para o manejo, e fazer uso delas da melhor maneira possível, mantendo sempre o equilíbrio entre os aspectos ambientais, sociais e econômicos, gerando produtos de qualidade e nas quantidades demandadas pela sociedade, sempre de forma sustentável no longo prazo. n


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incêndio florestal

sistema integrado de monitoramento e

e proteção florestal

A capacidade de cada veículo com a nova tecnologia corresponde ao equivalente a cerca de 90 mil litros, ou seja, a nove caminhões-pipa por combate. "

Edmilson Bitti Loureiro Coordenador de Proteção Florestal Corporativa da Fibria

O clima mais quente e seco que atingiu o País nos últimos anos tem intensificado os registros de incêndios florestais e exigido das empresas ajustes na estratégia de monitoramento florestal para garantir a integridade e a produtividade dos plantios. Nesse contexto, duas estratégias podem ser adotadas. A primeira consiste na integração do sistema de monitoramento de pragas, doenças e de plantas daninhas com ações de primeiro combate aos incêndios florestais. Por outro lado, uma segunda opção é realizar a integração de determinadas equipes dedicadas às atividades de silvicultura para atuar no combate aos incêndios florestais de grandes proporções. Esse modelo permite a substituição de equipes dedicadas a uma única atividade, por equipes especialistas e multifuncionais capazes de realizar os monitoramentos e as principais atividades da silvicultura, de forma a racionalizar o uso dos recursos. Integração dos monitoramentos com o primeiro combate a incêndio: Com o desenvolvimento de equipamentos de combate aos incêndios florestais embarcados em veículos leves, tornou possível realizar o primeiro combate aos focos de incêndio, de forma mais rápida, eficiente e integrada. O modelo de integração das atividades possibilita que equipes de monitoramento realizem os levantamentos especializados, como é o caso das formigas-cortadeiras, plantas daninhas e vistorias periódicas, com o primeiro combate aos incêndios florestais, sempre que acionada pela Central de Monitoramento de Incêndios. Assim como nos incêndios, o sucesso da estratégia da proteção no manejo de pragas ocasionais é a detecção precoce dos agentes nocivos ao desenvolvimento dos plantios.

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Para isso, as equipes devem estar treinadas e aptas para realizarem adequadamente os registros dos eventos, como a quantificação da intensidade e severidade dos mesmos, facilitando a tomada de decisão. Para garantir o sucesso dessa estratégia, além do conhecimento, é fundamental o comprometimento das equipes, ou seja, todos precisam estar "de olho na floresta". Integração das equipes da silvicultura no combate aos incêndios florestais: O emprego de caminhões-pipa dedicados somente às atividades de prevenção aos incêndios florestais não permite a otimização dos recursos empregados na proteção, pois a ocorrência de incêndios é esporádica ou mais concentrada em determinadas regiões e épocas do ano. Com o desenvolvimento e operacionalização de novos equipamentos de combate embarcados em veículos capazes de transportar equipes menores, é possível a integração com outras necessidades operacionais. Sendo assim, a integração desses recursos e a utilização de equipes multifuncionais capazes de atuarem não somente na prevenção e no combate aos incêndios, mas também na realização das atividades da silvicultura, vêm se destacando como uma boa opção na estratégia da proteção florestal para garantir a integridade dos plantios e de redução de custos. Para a integração das atividades da silvicultura com o combate aos incêndios, os caminhões devem ser equipados com alta tecnologia de combate e também adaptados para transportar, com segurança, as equipes multifuncionais. As novas equipes devem ser distribuídas de forma regionalizada, com o objetivo de melhorar o tempo de resposta para o início do combate, garantindo, assim, uma maior eficiência nas ações de controle ao fogo. Uso de novas tecnologias no combate e na detecção de incêndios florestais: Atualmente, a maioria das empresas utiliza-se de modelos de caminhões-pipa convencionais, os quais são direcionados exclusivamente ao combate de incêndios. Os novos modelos de caminhões, além de adaptados para transportar a equipe multifuncional, no caso da integração com as atividades silviculturais, devem ser embarcados com alta tecnologia de combate ao fogo.


Opiniões Integração dos monitoramentos florestais e atuação no primeiro combate a incêndios

ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO DAS EQUIPES ESPECIALISTAS

Desenvolvimento Operacional ES e BA

Reunião de Projetos – Agosto/2016

CAMINHÃO ESPECIALMENTE DESENVOLVIDO PARA A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO DE USO MÚLTIPLO

CENTRAL DE MONITORAMENTO FLORESTAL

Por exemplo, os caminhões podem ser equi1 pados com sistema de formação de espuma, capazes de aumentar em até 20 vezes o volume disponível para combate. Por esses sistemas, ocorre a injeção e a mistura de água e LGE (líquido gerador de espuma, retardante e supressante de chama), além de ar comprimido. A capacidade de cada veículo com a nova tecnologia corresponde ao equivalente a cerca de 90 mil litros, ou seja, a nove caminhões-pipa por combate, garantindo a disponibilidade do recurso em cada foco, por mais tempo, sem a necessidade de novos deslocamentos para reabastecimento com água. Em determinadas regiões, por exemplo, com o uso da estratégia de integração dos monitoramentos florestais, associada à utilização de equipes multifuncionais embarcadas em veículos adaptados com a tecnologia desenvolvida, acredita-se que a redução da área queimada por foco possa ser superior a 40%. Essa alternativa também proporciona a otimização dos recursos empregados na proteção florestal; uma vez que se tenha menos ocorrências de incêndios, essas equipes poderão atuar nas atividades de rotina da silvicultura e nos demais monitoramentos. Na detecção dos alvos, até pouco tempo, o modelo mais utilizado pelas empresas florestais consistia no emprego das torres de observação para identificação dos focos de incêndios. Apesar dos bons resultados obtidos, esse modelo vem se modificando, e, algumas empresas passaram a avaliar, de forma piloto-operacional, o uso de câmeras de vídeo na detecção desses eventos. Essa tecnologia, empregada em larga escala no monitoramento dos centros urbanos e na vigilância patrimonial dos parques industriais, por exemplo, passou a ser uma realidade no setor florestal. As câmeras transmitem informações em tempo real para uma central de monitoramento, o que permite detectar mais rapidamente os focos de incêndio e de forma integral, ou seja, durante as 24 horas do dia. Essa tecnologia permite ainda a manutenção de um banco de imagens com histórico das ocorrências, o que facilita a análise de toda evolução e ações durante o combate aos incêndios e/ou, posterior a esses eventos sempre que necessário. Parcerias com instituições de pesquisa e empresas especializadas: Para que as empresas estejam sempre atualizadas em relação às estratégias de monitoramento e controle dos incêndios, é fundamental manter parcerias com instituições de pesquisa. Nessa parceria, podem ser desenvolvidas pesquisas contemplando o aperfeiçoamento das estratégias de monitoramento e combate, além da preparação de módulos de treinamentos específicos para os brigadistas florestais. Além disso, novas tecnologias, como uso de retardantes de fogo e apoio no desenvolvimento de maquinários e equipamentos de prevenção e combate aos incêndios são ações que devem ser constantemente incentivadas.

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incêndio florestal

Opiniões

estratégias

na montagem da estrutura de combate a incêndio Diversos fatores vêm deixando a questão dos incêndios florestais cada vez mais grave e complexa, relacionados especialmente à grande expansão das florestas plantadas e à sua interação com o ambiente e com as questões sociais. Para fazer frente a esse cenário, é fundamental adotar uma estratégia ampla para a proteção, passando por monitoramento, prevenção e combate aos incêndios. Um dos primeiros passos é conhecer o ambiente em cada local e determinar os graus de risco e os recursos possíveis, no espaço e no tempo, para atuar nos pilares monitoramento, prevenção e combate. Evidentemente, não esquecendo que existem períodos críticos para diversos aspectos, sejam ambientais – como períodos de seca atipicamente longos –, sociais – como conflitos pontuais por terra ou pela própria madeira –, e até econômicos – como crises, nas quais os recursos financeiros para a proteção podem ficar mais escassos. A partir desse ponto, deve-se traçar o plano contra incêndios, na medida do risco que a empresa está disposta a correr, procurando não subestimar as possíveis consequências dos incêndios e olhar o investimento considerando a sinergia com outras atividades e recursos disponíveis na empresa. Pensar estrategicamente para montar a estrutura de combate a incêndios passa também por integrar seus pilares com o ambiente, com outras atividades e com os demais recursos existentes na empresa.

Assim, por exemplo: t O monitoramento de incêndios pode ser integrado ao controle espacial dos recursos de combate, como também ao monitoramento patrimonial e colaboração da comunidade local. t A prevenção de incêndios pode andar junto: • Com a educação ambiental e outras interações com as comunidades; • Com o manejo de ervas daninhas (os incêndios são menos intensos, com consequências mais brandas para a floresta, quando existe menor quantidade de sub-bosque). t O combate aos incêndios pode ser baseado em veículos e equipes multifuncionais. Recursos exclusivamente voltados para o combate aos incêndios na empresa florestal implicam veículos e pessoal parados, sem atividade na maior parte do tempo, o que gera um custo muito alto e, normalmente, não proporciona ação tão eficiente quanto contar com uma estratégia, na qual o recurso de combate é integrado às outras atividades. Até os bombeiros militares, que têm como um dos focos principais o combate aos incêndios, contam com veículos multifuncionais (veículos ABS: autobomba e salvamento) na sua estratégia de combate a incêndios.

Recursos exclusivamente voltados para o combate aos incêndios na empresa florestal implicam veículos e pessoal parados, sem atividade na maior parte do tempo. "

Alberto Jorge Laranjeiro Diretor da Equilíbrio Proteção Florestal

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incêndio florestal A eficiência no combate a um foco de incêndio depende: • do tempo entre início do foco e detecção do mesmo; • do tempo entre a detecção e o acionamento da equipe de combate; • do tempo de deslocamento da equipe até o foco; • da capacidade da equipe de extinguir o foco (autonomia e poder de combate por unidade de tempo). Quanto menor o tempo entre início do incêndio e início do combate, mais fácil é a operação de combate e menor é a área queimada. Portanto minimizar esse tempo deve ser meta fundamental da estratégia de proteção, adotando medidas como: • sistemas eficientes de detecção dos focos; • sistemas eficientes de comunicação da ocorrência dos focos para as equipes de combate; • planejamento da alocação dos recursos de combate, priorizando as áreas críticas quanto à frequência e à intensidade dos incêndios; • ter um número maior de equipes de combate espalhados na floresta; • ter equipes com maior mobilidade. Os sistemas de detecção podem se basear desde na parceria com a comunidade e canal para esta comunicar a ocorrência, passando por torres com vigias, até nos sistemas com câmeras ou satélites. Para cada situação, deve-se estudar a viabilidade técnica, operacional e econômica para adoção de um desses métodos ou, de preferência, de um conjunto deles. A partir desse ponto, passa a ser fundamental a comunicação eficiente para acionamento de uma equipe de combate disponível, o que deve estar bem claro nos procedimentos operacionais. Foco detectado e equipe acionada, o ponto limitante passa a ser a agilidade da equipe para chegar ao local. Além de depender da rede de estradas e de sua conservação, o conjunto veículo mais equipamento pode fazer muita diferença. No entanto pensar em ganhar agilidade no deslocamento pode implicar prejudicar o desempenho da etapa seguinte, o combate. Ou seja, veículos mais leves são mais ágeis, mas têm menor capacidade de carregar água e equipamentos, implicando menor autonomia e/ou poder de ataque (poder de extinção do fogo por unidade de tempo, por exemplo, vazão de água). Para aumentar a mobilidade sem prejudicar a capacidade de extinguir um incêndio, só há um modo, que é compensar o menor poder de carga do veículo com uso de tecnologia. Um caminhão-pipa carregado de água é lento. A água é o melhor material, em termos de custo/ benefício, para o controle do incêndio, mas só em alguns casos, pois a água não é o material mais eficiente. Com tecnologia, é possível empregar, por exemplo, veículos leves, levando pouca água e equipamentos que multiplicam o volume de água em 10, 20 ou mais vezes na geração de espuma, economizando água e sendo 5 a 15 vezes mais eficiente do que o uso apenas de água. A maioria dos focos de incêndios em florestas plantadas é rasteira, pouco intensa, onde é mais importante a autonomia do que a vazão (água, espuma, etc.).

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Opiniões Em alguns desses casos, quando não existe sub-bosque, aquela equipe com veículo de alta mobilidade ainda pode utilizar, por exemplo, sopradores costais, com ou sem água (uns 0,3 litros/ minuto), misturada com um supressante de chama, sendo mais eficiente nesses focos do que uma mangueira jorrando muita água (100, 200, 300 ou mais litros/minuto), porque se consegue percorrer e extinguir a linha de fogo mais rapidamente com o soprador costal. Para aumentar o número de equipes de combate e diminuir o tempo entre detecção e início do combate a incêndios, também existe possibilidade de utilização de veículos e equipamentos especiais, em equipes multifuncionais, para diversas atividades na empresa florestal, como: • vigilância patrimonial; • monitoramento de pragas, doenças e qualidade das operações; • serviços de silvicultura, que são mais bem executados por equipes pequenas; • supervisão de atividades, etc. Nesse caso, empregar tecnologia no conjunto veículo mais equipamento também é fundamental para sobrar espaço e capacidade de carga para as outras funções da equipe, sem perder muito na mobilidade e na capacidade de combater os incêndios. Muitas configurações ainda podem ser desenvolvidas utilizando essa estratégia. Uma das experiências mais bem consolidadas de multifuncionalidade na área florestal, incluindo o combate a incêndios, são as equipes de monitoramento florestal. Existe o investimento no equipamento de combate e, às vezes, até na carroceria especial para realização do serviço diversificado. No entanto o que se observa é que a vida útil dos equipamentos, ou pelo menos de seus componentes principais, é bem maior do que o veículo, o que torna o investimento no equipamento muito compensador. Não se pode esquecer que a estratégia precisa considerar recursos de maior poder de combate, para incêndios de grandes proporções. Mas, mesmo nesse caso, é possível pensar em multifuncionalidade (caminhões-pipa e atividades de silvicultura) e emprego de tecnologia para maior desempenho do combate, nesse caso, caminhões-pipa com, por exemplo, equipamentos de tipo CAFS – Compressed Air Foam System –, que geram muito mais espuma com a mesma quantidade de água, valendo-se de ar comprimido a partir de compressores rotativos. Outros aspectos igualmente importantes englobam ações preventivas, especialmente em locais críticos, treinamento de todas as equipes envolvidas, com simulação de situações de incêndios e testes regulares nos equipamentos de combate. A estratégia mais eficiente para estabelecimento de um plano de prevenção, detecção e combate aos incêndios é considerar todos os aspectos, procurando aplicar tecnologia e integrar recursos.


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Em 14 anos de operação, a Revista Opiniões publicou 2.215 artigos exclusivos, escritos pelos mais respeitados especialistas do Brasil e do mundo, sobre exatamente 101 diferentes pautas, tornando-se uma das mais respeitadas mídias dos sistemas sucroenergética e florestal do País. Governo e países estrangeiros: 3 Presidentes da República, 2 Candidatos à Presidência, 29 Ministros de Estado, 20 Senadores e Deputados, 18 Governadores, 59 Secretários de Estado, 9 Promotores, 81 Diretores de Autarquias, e 21 Embaixadores estrangeiros

11% 18% 12%

Usinas, Destilarias e empresas florestais: 122 Presidentes, 163 Diretores, 122 Gerentes e 45 Técnicos

20%

Entidades: 210 Presidentes e 80 Diretores

13% 26%

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A Revista Opiniões é enviada nominal e gratuitamente para todos os níveis de comando de 100% das unidades produtoras – incluindo as em projeto ou em construção; universidades e centros de P&D; entidades e órgãos governamentais interessados nas áreas industrial, agrícola e silvicultural; empresas fornecedoras envolvidas na produção de Cana, Açúcar, Etanol e Bioeletricidade, Celulose, Papel, Carvão, Siderurgia, Painéis e Madeira Sólida. Sucroenergético:

Florestal:

Fornecedores: 16% Articulistas: 11% Entidades, Universidades, Centro de P&D e Governo: 5%

Fornecedores: 16%

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GARANTIA REAL DE IMPRESSÃO E VEICULAÇÃO:

Como prova efetiva da tiragem e distribuição realizada, disponibilizamos ao anunciante, cópias das notas fiscais e dos documentos de cobrança e de pagamento da impressão da Gráfica e do despacho dos Correios, além de relatórios quantitativo e percentual da distribuição por tipo de empresa, estados e regiões geográficas do país. Também disponibilizamos aos Anunciantes visitas de auditoria, sem prévio aviso ou agendamento, para comprovação física dos sistemas operacionais e de distribuição das Revistas Opiniões. Sucroenergético: 63%: Sudeste 8%: Sul 1%: Norte 12%: Nordeste 13%: Centro-Oeste 3%: DF

Florestal:

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Opiniões

Sul Norte Nordeste Centro-Oeste DF


incêndio florestal

manejo integrado do

fogo Os resultados das ações de MIF têm demonstrado que as práticas do fogo zero não têm alcançado a mitigação dos problemas advindos dos incêndios florestais e queimadas irregulares. "

Marcos Giongo Alves Professor de Engenharia Florestal da UF-Tocantis e Diretor do CeMAF - Centro de Monitoramento Ambiental e Manejo do Fogo Coautor: Jader Nunes Cachoeira, Coordenador do CeMAF

As contribuições das florestas, naturais ou plantadas, para o bem-estar da humanidade são extraordinariamente vastas. As florestas desempenham um papel fundamental no combate à pobreza rural, oferecem oportunidades de crescimento a médio prazo e serviços vitais a longo prazo para os ecossistemas. A silvicultura ocupa um lugar fundamental na promoção de uma abordagem integrada para abordar os principais problemas relacionados com a produção da floresta, o desenvolvimento rural, a utilização dos solos e a gestão sustentável dos recursos naturais. As práticas de manejo florestal adotadas pelos empreendimentos de base florestal mudaram consideravelmente nos últimos 25 anos. De um modo geral, esse período registrou uma série de desenvolvimentos positivos. A atenção prestada ao manejo florestal sustentável (MFS) nunca foi maior: mais terras são designadas como florestas permanentes, mais avaliação, monitoramento, proteção, planejamento e envolvimento das partes interessadas, e os marcos legais sendo revisados e adotados.

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No entanto, em que pese os avanços nos MFS, os riscos do empreendimento florestal perpassam questões como a definição da melhor área para os plantios, a correção e a adubação do solo, o déficit hídrico, as variações do mercado e a rentabilidade, devendo alcançar a sustentabilidade do recurso florestal, com a integração da produção e da proteção com os fatores sociais e ambientais. Nesse sentido, no cenário florestal mundial, com foco nos empreendimentos florestais brasileiros, os incêndios florestais destacam-se por possuírem grande potencial de destruição. Na atualidade, a comunidade científica florestal já comprovou que as culturas homogêneas são mais suscetíveis aos incêndios florestais, por, naturalmente, apresentarem condições favoráveis para a ignição e a propagação do fogo. No Brasil, tanto a gestão pública quanto a privada têm sido alvos periódicos de críticas de


Opiniões organizações conservacionistas, e mesmo instituições governamentais de outros países, com relação à falta de proteção de suas florestas contra o fogo. Sabe-se que o fogo é um problema sério para florestas nativas e plantadas em várias regiões brasileiras, e as consequências ultrapassam a seara econômica. O fogo tem sido o responsável direto por prejuízos de ordem econômica, social e ambiental, em que prejuízos causados pelos incêndios envolvem morte ou redução da capacidade produtiva dos cultivos, impactos nos rios, solos e, ainda, emissões de gases nocivos ao ambiente que impactam diretamente nas variações climáticas com o agravamento do efeito estufa. Em plena era pós-constituição de 1988 e com o advento do Novo Código Florestal, os assuntos ambientais estão crescendo em importância para a comunidade empresarial em termos de responsabilidade social, e as empresas de base florestal têm se visto empenhadas na proteção de seu patrimônio florestal e na manutenção do equilíbrio ambiental de suas áreas, com a viabilização de projetos de prevenção e de controle de incêndios florestais. A inclusão da proteção do ambiente quanto aos incêndios florestais entre os objetivos da administração amplia substancialmente os valores inerentes à atividade, agregando rentabilidade, com promoção da imagem e da participação da empresa na implementação de ações integradas quanto ao manejo do fogo, rompendo paradigmas sobre as plantações florestais. Recentemente, o desenvolvimento das ciências florestais no Brasil tem demonstrado seu importante papel, servindo como ferramenta de gestão para empresas privadas, apontando para a necessidade de mudança de comportamento sobre como responder aos incêndios florestais nas áreas de florestas, reconhecendo que nem todo fogo é ruim, trazendo metodologias que visam utilizar o fogo como ferramenta na consolidação da responsabilidade socioambiental. Apesar de sua implementação se encontrar em processo de validação, mas que já vem demonstrando resultados plausíveis, as técnicas que perfazem o manejo integrado do fogo (MIF) contribuem para a redução das áreas queimadas, dos riscos de ignição e de propagação, uma vez que pode se reduzir a quantidade de material combustível, a diminuição dos gases causadores do efeito estufa e os problemas de saúde humana e, principalmente, o envolvimento e a aproximação da gestão empresarial com a sociedade do seu entorno. O MIF, portanto, atua de forma holística, visto que considera o fogo mais um elemento de manejo e que incorpora as dimensões ecológica, socioeconômica e o manejo propriamente dito (prevenção, supressão e uso do fogo). Não é, portanto, sinônimo de queima prescrita e tampouco prescinde das ações de supressão e controle de incêndios. Os resultados das ações de MIF em áreas de vegetação natural têm demonstrado que as práticas do fogo

zero não têm alcançado com eficiência e efetividade a mitigação dos problemas advindos dos incêndios florestais e queimadas irregulares. Transcendendo os objetivos do MIF para a gestão e manejo de florestas plantadas, sua implementação tende a dar nova perspectiva sobre o papel que os empreendimentos florestais devem ter nessa era de revolução ambiental. A proteção das florestas, bem como a de povoamentos florestais, torna-se eficiente quando existe um planejamento prévio das atitudes e das atividades a serem tomadas ou implementadas nas diferentes situações que podem apresentar. Quanto ao controle de incêndios florestais, os investimentos voltados com foco nos processos preventivos não têm se mostrado como o de maior eficiência. Aceiros manuais e/ou mecânicos, gradagens internas ao povoamento e um bom sistema de vigilância – este, muito praticado entre empresas florestais vizinhas –, não garantem, por si só, a mitigação e os riscos do fogo. A abordagem que deve nortear os planos de proteção deve observar os vários fatores existentes quando o tema são os incêndios florestais. A gestão de incêndios florestais pelas empresas florestais, além de um foco singular na supressão, deve procurar avaliar os processos que causam efeitos diretos e indiretos do fogo e, consequentemente, pautar suas ações integrando o meio social onde estão inseridas, garantindo retorno na forma de promover sua imagem e por serviços ecossistêmicos prestados. O manejo integrado do fogo, que pode ser entendido como o conjunto de técnicas, princípios e metodologias que permitem o uso do fogo para se alcançarem benefícios econômicos, sociais e ambientais, encontra respaldo legal no Novo Código Florestal ou permite (em grau de exceção) o uso do fogo em locais ou regiões cujas particularidades justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestal. Porém seu uso dependerá de autorização do órgão estadual ambiental que exigirá estudos para o licenciamento da atividade rural no planejamento específico sobre o emprego do fogo. Os retornos almejados pelo setor florestal serão consequência das atividades de proteção, até porque é primordial tratar a questão dos incêndios florestais de maneira sistêmica, passando a manter um relacionamento mais próximo às comunidades, a interagir mais com a população do entorno, melhorando sobremaneira a sua imagem. E, nesse aspecto, tanto os gestores de florestas plantadas como os de áreas naturais prescindirão de suporte da comunidade técnico-científica, a exemplo do Centro de Monitoramento Ambiental e Manejo do Fogo – CeMAF (www.cemaf.org), que tem como objetivo a geração de informações e de desenvolvimento de processos e metodologias que subsidiarão as ações das instituições públicas e privadas.

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incêndio florestal

a prevenção e combate a incêndios e as

certificações florestais -

Atualmente as plantações florestais, sujeitas a incêndios, passaram a ser vizinhas de núcleos com elevada ocupação humana, o que amplia os riscos e as consequências de um desastre com o fogo. "

José Luiz da Silva Maia Diretor da Morada Consultoria

O honroso convite para apresentar este artigo chegou-me quando eu retornava de uma reunião do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, na qual representantes de organizações governamentais, privadas e não governamentais participaram da oficina para elaboração do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Canídeos Silvestres. A reunião foi em Atibaia/SP, na segunda semana de novembro de 2016, com pessoas de vários estados do Brasil. O convite para estar nesse grupo decorreu dos trabalhos que implementei em conservação e manejo de fauna silvestre em plantações florestais. Nas discussões, observei que as certificações socioambientais das plantações florestais estão contribuindo para a conservação da biodiversidade e para a proteção de espécies ameaçadas, por um conjunto de aspectos, entre eles o da prevenção e do combate aos incêndios florestais. Essa situação de emergência, pelos riscos ao meio ambiente, às pessoas e ao patrimônio, recebe grande atenção das empresas certificadas e das certificadoras.

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Assim, os temas preservação, incêndios e certificações estavam vivos em minha mente, após mais um evento que reforçou a convicção sobre a importância das plantações florestais para o almejado desenvolvimento sustentável. Os padrões de certificação socioambiental no agronegócio são vários, e é crescente o aumento do número de plantações e produtos certificados no mercado. Nessa matéria, o setor de plantações florestais encontra-se em estágio adiantado, se considerados os níveis de exigência dos padrões para a certificação, a amplitude das boas práticas nas operações e as áreas certificadas. Segundo relatório de 2016 da Indústria Brasileira de Árvores – IBÁ, para 7,6 milhões de hectares de plantações, existem 5,6 milhões de hectares de áreas de conservação na forma de APP – Áreas de Preservação Permanente, RL – Reserva Legal e outras áreas de conservação que excedem o que é requisitado pela Lei Florestal. Nessa extensão, 5,5 milhões de hectares dos plantios e 3,2 milhões de hectares de áreas de conservação estão certificados. As certificações das plantações florestais do Brasil atendem a padrões internacionais, podendo ser os do FSC – Forest Stewardship Council, e/ou do PEFC – Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes, representado no País pelo Cerflor – Programa Nacional de Certificação Florestal.


Opiniões Além dessas certificações do manejo florestal, empresas florestais têm buscado a certificação pela norma ISO 14001, para o sistema de gestão ambiental, e pela OHSAS 18001:2007 (Occupational Health and Safety Assessment Series), para o sistema de gestão da Segurança e Saúde no Trabalho. A certificação do bom manejo florestal, assim considerado quando economicamente viável, ambientalmente adequado e socialmente benéfico, não pode ocorrer sem que a organização demonstre, além de outros aspectos, manter um sistema de prevenção e de combate aos incêndios florestais, assegurando a proteção das pessoas, dos recursos naturais e da biodiversidade. Nas auditorias para certificação e manutenção da certificação, as organizações certificadoras devem avaliar criteriosamente, em campo, nos registros e documentos, o quanto a organização está zelando para prevenir, detectar, combater e avaliar as ocorrências de incêndios. Visando à certificação, uma organização pode empenhar-se para dispor de áreas de conservação, atendendo, no mínimo, aos limites legais estabelecidos; realizar refinados levantamentos e monitoramentos de fauna, flora e água; identificar áreas de alto valor de conservação; adotar o cultivo mínimo para proteção do solo; usar os químicos atendendo a premissas técnicas e legais; ter os funcionários próprios e terceiros treinados e preparados para as operações de silvicultura e colheita; e realizar apurados levantamentos de partes interessadas. No entanto todas essas iniciativas, que demandam investimentos financeiros expressivos e grande engajamento dos recursos humanos, mesmo conjugadas com bons resultados econômicos, podem não ser suficientes para demonstrar aderência aos padrões e às normas da certificação. Sem eficiência na prevenção e no combate ao fogo, não se garantem a saúde e a vida das pessoas e a conservação ambiental, ficando comprometidos o retorno financeiro e a imagem do empreendimento. Fragilidades de um sistema de gestão socioambiental podem revelar-se durante a auditoria do sistema de prevenção e combate aos incêndios florestais. Na gestão da organização, que inclui avaliações de aspectos e impactos ambientais e dos perigos e riscos para a saúde e segurança do trabalho, os incêndios florestais devem estar inseridos e ser tratados com propriedade e criticamente analisados, com o devido destaque para a grave situação de emergência que eles representam. Nesse contexto, é preciso levar em consideração as consequências legais de eventual desastre em que o fogo venha a causar danos ao ambiente e às pessoas, pois, mesmo nas condições culposas, é prevista a responsabilização de profissionais e da pessoa jurídica. A importância desses cuidados amplia-se pela urgência na adaptação do manejo das plantações às mudanças climáticas que já evidenciam ampliação dos períodos de seca e concentração do período de chuvas para as regiões do Brasil onde se concentram as plantações florestais. Mudanças na paisagem não podem ser ignoradas. Se há poucas décadas, a fazenda florestal ficava “lá longe” da cidade, no presente, faz divisa com a zona urbana, rodovias de intenso movimento e – como cada vez mais comum - com hospitais, fábricas, depósitos, penitenciárias e hotéis afastados das cidades ou na zona rural.

Assim, as plantações florestais, sujeitas a incêndios, passam a ser vizinhas de núcleos com elevada ocupação humana, o que amplia os riscos e as consequências de um desastre com o fogo. Para a certificação, é de muita importância a verificação dos relatórios de incêndios, incidentes de “quase incêndios” e simulados, o que possibilita identificar as ações da organização para aumentar a segurança dos brigadistas, corrigir e prevenir falhas na operação e/ou defeitos de equipamentos e veículos do combate ao fogo e as melhorias no engajamento da comunidade nos eventos. Uma auditoria pode, por exemplo, identificar na lista de funcionários que atuaram no combate ao fogo alguns com falta de treinamento e reciclagens para essa atividade, ou que os riscos e providências correlatas dessa atividade do funcionário não constam do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PPRA, e do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PCMSO, podendo, disso, decorrerem problemas respiratórios, queimaduras, traumas e óbitos. Em relação à conservação ambiental, relatórios de incêndios que se limitam a reportar danos às plantações, deixando de registrar – ou registrando com limitadas informações – danos à flora e à fauna, denotam percepção equivocada da organização em relação aos seus compromissos com a proteção da biodiversidade e o atendimento da legislação ambiental. Para as empresas de base florestal, registrar, analisar e manter estatísticas de incêndios florestais transcende o escopo da certificação, é medida estratégica para demonstrar, objetivamente, responsabilidade com a imagem e a perenidade dos negócios. Convergindo com o requerido na certificação socioambiental, em normas e padrões de diferentes sistemas, cabem considerações sobre o olhar das organizações para a inovação, a pesquisa e o desenvolvimento em prevenção e combate aos incêndios florestais. As iniciativas, nesse sentido, podem acontecer em cooperação com a academia e os órgãos de governo envolvidos com as questões dos incêndios florestais e rurais. Além da atenção às consequências das mudanças climáticas, é urgente encontrar alternativas para a redução do número de funcionários disponíveis para o combate aos incêndios, devido à mecanização crescente das operações, que está associada ao desinteresse das pessoas pelo trabalho no campo. As alternativas a serem investigadas abrangem: ampliar a eficiência de planos de auxílio mútuo; aperfeiçoar a comunicação para alcançar melhor engajamento da comunidade nas medidas de prevenção; disponibilizar equipamentos de proteção individual – EPIs, específicos para o combate do fogo na vegetação; ampliar a disponibilidade de veículos de combate mais ágeis e equipados com retardantes de fogo para material florestal; disponibilizar mais aeronaves para o monitoramento e o combate ao fogo; e desenvolver tecnologias de vigilância por sensoriamento remoto eficientes e de custo compatível. Assim, fica evidente que a devida atenção à prevenção e ao combate aos incêndios florestais pode ser decisiva para que as organizações certificadoras recomendem ou mantenham a certificação do bom manejo florestal, especialmente dentro da visão de que a certificação não deveria ser um fim em si, mas o resultado de uma gestão implantada com autêntica responsabilidade socioambiental.

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ensaio especial

Opiniões

contribuição da

biotecnologia

no controle de doenças e pragas

A biotecnologia não resolverá todos os problemas do setor florestal no Brasil, mas certamente ajudará o Paísa continuar sendo uma potência global na produção de madeira através de florestas plantadas. "

Eduardo José de Mello Vice-presidente de Operações Brasil da FuturaGene Brasil

Thaumastocoris peregrinus, Leptocybe invasa, Glycaspis brinblecombey, Gonipterus scutellatus. Quem não é do meio florestal certamente considera esses nomes estranhos e difíceis de pronunciar. Representam um grupo de insetos australianos introduzidos acidentalmente no Brasil e que causam sérios problemas ao produtor de eucalipto. Para facilitar a vida dos que não têm proximidade com a entomologia, logo ganharam apelidos. Seus nomes comuns são, respectivamente, percevejo bronzeado, vespa da galha, psilídeo de concha e gorgulho. Os 3 primeiros chegaram aqui há menos de 15 anos, e o último da lista, há mais de 40 anos. Hoje, essas 4 pragas fazem parte das preocupações que o produtor florestal deve ter ao conduzir suas atividades. Somam-se a outras já tradicionais, como formigas, lagartas desfolhadoras e o besouro amarelo. No futuro, é bem provável que tenhamos preocupações adicionais com outros insetos, que já ocorrem de forma endêmica ou que ain; da não existam em solo brasileiro.

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ensaio especial O grande fluxo de pessoas e mercadorias, comum em uma economia globalizada, favorece a entrada de novos insetos e micro-organismos em locais onde, anteriormente, eles não existiam. Dessa forma, é bem provável que outros insetos exóticos ainda apareçam por aqui trazendo prejuízos ao produtor florestal. A maneira mais adequada para enfrentar esses desafios é o manejo integrado de pragas. O silvicultor deve procurar formas de monitorar a população do inseto causador dos prejuízos e tentar manter essa população em níveis adequados, sem que ocorram danos econômicos ao plantio. Simples de propor, mas, muitas vezes, difícil de fazer, o monitoramento requer conhecimento da biologia da praga e o uso de armadilhas eficientes para a captura do inseto. Uma vez detectado o inseto e reconhecido que o dano econômico está presente, o silvicultor também terá dificuldades para controlar a praga. Entre as alternativas disponíveis ao produtor, estão o uso de inseticidas químicos ou biológicos, a distribuição de insetos parasitoides que se alimentam dos insetos praga e, no longo prazo, o plantio de espécies ou clones menos suscetíveis. Para a maioria desses insetos, não existem produtos químicos aprovados para uso florestal pela legislação brasileira. Os produtos químicos reconhecidamente eficientes podem ser fatais aos parasitoides e a outros insetos que não trazem danos à floresta. Não há, no mercado, parasitoides que possam ser adquiridos e usados de imediato. Finalmente, a troca de espécies ou clones pode ser extremamente onerosa, sendo viável apenas ao final da rotação. Ainda com o agravante de alguns clones poderem ser mais tolerantes a um determinado inseto e suscetíveis a outro. O agricultor enfrenta desafios semelhantes aos do silvicultor: doenças e insetos-praga são parte do dia a dia. A diferença é que o agricultor conta com uma variedade maior de recursos para enfrentar o problema. A quantidade de insumos químicos disponíveis para o agricultor é maior e ele dispõe de uma tecnologia poderosa, as sementes transgênicas. Por meio do uso de cultivares geneticamente modificadas, o agricultor controla as ervas daninhas e as lagartas com mais facilidade e a um custo menor. Os cultivares tolerantes ao herbicida e às lagartas fazem sucesso com os agricultores brasileiros há mais de uma década. Soja, milho e algodão são as culturas onde essa tecnologia é mais utilizada. Alguns cultivares oferecem ao agricultor um grupo de características genéticas positivas agregadas à mesma semente. Como exemplo, há um cultivar de soja que é mais tolerante à ferrugem e, ao mesmo tempo, tolerante a um herbicida e a uma ampla gama de lagartas. Nessa soja, a primeira característica foi obtida por melhoramento convencional, e as duas últimas, por transgenia. Essa associação de melhoramento convencional e biotecnológico é uma realidade na agricultura atual.

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Opiniões Para o silvicultor, a realidade é mais dura. Não existem cultivares de espécies florestais tolerantes ao herbicida e às lagartas. Portanto o controle do mato e o combate às lagartas devem ser feitos de forma convencional. A aplicação de herbicidas requer cuidados extremos para evitar o contato do produto com a espécie florestal, e o controle de lagartas, quando necessário, é realizado principalmente com o uso de produtos biológicos, à base de Bacillus thuringiensis. Ou seja, o agricultor pode utilizar a tecnologia em sua plenitude. Já o setor florestal não. As grandes empresas que desenvolvem cultivares agrícolas geneticamente modificados parecem ignorar o mercado florestal no que diz respeito à aplicação dessa tecnologia em espécies florestais. O argumento mais usado é o de que o mercado florestal é ainda pequeno, insuficiente para justificar o investimento. Essas mesmas empresas têm se limitado a oferecer ao silvicultor soluções químicas, promovendo a regulação para uso florestal, de produtos já existentes na agricultura. A superação de tal situação dependerá do esforço das próprias empresas brasileiras, por meio do desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas para uso em nosso território. Já existem algumas iniciativas nessa direção. A CTNBio, órgão brasileiro que regula os trabalhos com biotecnologia, vem analisando e aprovando pesquisas e desenvolvimento nessa direção. Será um longo caminho. Mesmo com plantas agrícolas, a obtenção de um cultivar geneticamente modificado pode levar mais de 10 anos. Com o eucalipto, deve-se superar esse tempo e exigir-se muitos recursos financeiros, humanos e científicos. Mas o caminho já está sendo trilhado, e, em breve, o eucalipto geneticamente modificado deverá chegar ao mercado, contribuindo para gerar mais recursos para o País, mais empregos e benefícios sociais. Pesquisas recentes com cultivares agrícolas mostram que o uso dessas plantas trouxe 37% de redução no uso de pesticidas, 22% de aumento de produtividade e 68% de aumento de lucro para os agricultores. Os questionamentos sobre a biossegurança dessa tecnologia também começam a ser respondidos de forma mais consistente. Recentemente, um grupo de 110 cientistas agraciados com o Prêmio Nobel assinaram um documento onde ratificam a importância dessa tecnologia, apoiando a pesquisa, o desenvolvimento e o consumo de plantas transgênicas. A informação pode ser acessada através do link:

https://www.washingtonpost.com/news/speaking-of-science/wp/2016/06/29/more-than-100-nobel-laureates-take-on-greenpeace-over-gmo-stance/.

Essa tecnologia é eficiente e segura para uso agrícola e também o será para nossas florestas cultivadas. A biotecnologia não resolverá todos os problemas do setor florestal no Brasil, mas certamente ajudará o País a continuar sendo uma potência global na produção de madeira através de florestas plantadas. n


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