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Índice: Acervo Cerradinho

í lndice

EDITORIAL DE ABERTURA:

10. Carlos Daniel Berro Filho - Raizen

SAF: visão avançada do mercado:

12. Evandro Gussi - UNICA

14. Martinho Seiiti Ono - SCA

18. Caio César Ferreira Dafico - ATVOS

20. Antonio Cesar Salibe - UDOP

24. Daniel Costa Lopes - FS

28. Ricardo Busato Carvalho - BP Bunge

O hidrogênio da bioenergia:

34. Luiz Augusto Horta Nogueira - UNIFEI e UNICAMP

O gás, a levedura e o pellet da bioenergia:

38. Haroldo José Torres da Silva - PECEGE

O milho da bioenergia:

40. Renato Pretti - Cerradinho

O mercado de carbono da bioenergia:

44. Luciano Rodrigues - UNICA e FGV/EESP

A eletricidade e o gás da bioenergia:

48. Adriano José Pires Rodrigues - CBIE

50. Zilmar José de Souza - UNICA

54. Sílvia Belém Gonçalves - Embrapa Agroenergia

O metano da bioenergia

56. Bruna Jardim e Renata Beckert Isfer - ABiogás

O diesel da bioenergia

60. Sérgio de Souza Araujo - Abicom

64. Bruno Galvêas Laviola - Embrapa Agroenergia

66. Donizete Tokarski - Ubrabio

O plástico da bioenergia

68. Manoel Carnaúba Cortez - Impacto Fertilizantes e agroquímicos

72. Alexandre Menezio - SCA e AgriForce

Especial:

Ampliando o portfólio de produtos da cadeia

74. Hugo Cagno Filho - UDOP

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Áudios: Acervo Cerradinho

Haroldo Silva Carlos Daniel Martinho Ono Evandro Gussi Caio Dafico Salibe Daniel Costa Luiz Horta RicardoCarvalho Luciano Rodrigues Renato Pretti Zilmar Adriano Pires Silvia Belém Bruna Jardim e Renata Beckert Bruno Laviola Sérgio Araujo Donizete Tokarski Manoel Cortez Alexandre Menezio Hugo Cagno

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É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto. O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa. Boa leitura ou boa audição, como preferir.

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o futuro verde

Nos últimos anos, testemunhamos uma evolução notável na indústria bioenergética, impulsionada por avanços tecnológicos e uma crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade ambiental. Em um futuro próximo, como será a produção do sistema bioenergético? Quero aqui explorar as principais tendências e inovações que moldarão o futuro dessa agroindústria.

Uma das mudanças mais significativas é a ascensão da agricultura regenerativa. Este modelo agrícola inovador prioriza a saúde do solo, a diversidade biológica e a resiliência dos ecossistemas. A crescente adoção de biológicos será fundamental, permitindo que os agricultores reduzam sua dependência de fertilizantes químicos e defensivos que podem ser prejudiciais. No entanto, um estudo recente do CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, destaca a falta de métricas e de definições abrangentes para a agricultura regenerativa no Brasil, dificultando sua promoção. A publicação sugere a criação de definições que considerem a diversidade de práticas agrícolas sustentáveis e conservacionistas, adaptadas à realidade nacional.

Conforme indicado no estudo, a promoção da agricultura regenerativa no Brasil pode ser impulsionada por uma variedade de meios, tanto pelo setor público quanto pelo privado. Foram identificadas potenciais ferramentas para estimular a produção agrícola regenerativa, como as pesquisas em práticas agrícolas, o incentivo a tecnologias voltadas à agricultura de baixo carbono, a criação de instrumentos de comunicação com produtores rurais para capacitação em técnicas mais sustentáveis e produtivas, o uso de instrumentos financeiros, como o crédito rural subsidiado, as políticas de preços e as políticas de comando e de controle.

Além da agricultura regenerativa, a economia circular emergirá como um princípio orientador na produção bioenergética. Os próprios resíduos da produção de biomassa serão reaproveitados como fonte de nutrição para o solo, fechando o ciclo de nutrientes e reduzindo a dependência de fertilizantes externos.

Essa abordagem não apenas promove a sustentabilidade ambiental, mas também pode gerar economias significativas para os agricultores, reduzindo os custos de insumos. A automação e a tecnologia desempenharão papéis cada vez mais cruciais na produção bioenergética. Sistemas de inteligência artificial (IA) e computação em nuvem serão ferramentas essenciais, permitindo a análise de grandes conjuntos de dados e a otimização do manejo do canavial. Essa abordagem oferece aos agricultores a capacidade de tomar decisões mais informadas e precisas, resultando em operações mais eficientes e sustentáveis. Além disso, a manutenção da utilização de drones e imagens de satélite continuará possibilitando uma monitorização detalhada das plantações, permitindo a identificação de áreas de estresse e de intervenções precisas.

No contexto específico da Raízen, diversas inovações tecnológicas são implementadas para maximizar a eficiência. A parceria com a startup brasileira Space Time Analytics permite prever, com até um ano de antecedência, a capacidade de produção da safra de cana em todas as unidades da empresa. Além disso, a companhia foi pioneira na utilização de VANTs no setor, utilizando esses equipamentos para mapeamento topográfico detalhado e para identificação de falhas na brotação do canavial. Essas iniciativas resultam em uma ampliação significativa da capacidade de monitoramento do canavial, proporcionando uma melhor antecipação de problemas.

A mecanização continua sendo um importante tema, evoluindo em tecnologias, sensores, rendimentos, automação e reduzindo assim o impacto ambiental pelo ganho de suas eficiências dos processos agrícolas. Na Raízen, os processos são mecanizados do plantio à colheita, e a operação é integrada através da Central de Inteligência Agrícola, que acompanha em tempo real toda a logística. O uso de tecnologia de controle de tráfego permite que a colhedora seja guiada automaticamente na linha da cultura, evitando perdas e aumentando a qualidade da matéria-prima. No plantio, o piloto automático integrado com

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Q Índice editorial de abertura

os VANTs permite o melhor traçado para a mecanização e a conservação do solo. A empresa implementou técnicas de agricultura de precisão, como a instalação de GPS e controles de vazão nos implementos agrícolas. Isso possibilita o controle e a automação na aplicação de fertilizantes e defensivos durante a operação, contribuindo para uma gestão mais eficiente dos recursos e uma produção mais sustentável.

Para acompanhar essas mudanças, o perfil do profissional agrícola também evoluirá. Os agricultores do futuro serão diversos em suas habilidades, com afinidade para o uso de ferramentas tecnológicas avançadas. Eles entenderão a importância da agricultura regenerativa e serão capazes de aplicar práticas sustentáveis em seus campos. Habilidades como análise de dados e gestão de sistemas automatizados serão essenciais para o sucesso na indústria bioenergética do futuro.

Por fim, a diversidade de variedades cultivadas será fundamental para a adaptação às mudanças climáticas e à maximização da produção de biomassa. Variedades que respondem bem a sistemas irrigados serão especialmente valorizadas, pois a irrigação se tornará um agente importante na produção bioenergética. A mecanização também desempenhará um papel crucial, aumentando a eficiência e reduzindo os custos de produção.

Em suma, o futuro da produção bioenergética será marcado pela inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e uma abordagem holística para a agricultura. Com a combinação certa de práticas agrícolas regenerativas, como a economia circular e a tecnologia de ponta, podemos construir um sistema bioenergético resiliente e eficaz, capaz de enfrentar os desafios do século XXI. n

Com a combinação certa de práticas agrícolas regenerativas, como a economia circular e a tecnologia de ponta, podemos construir um sistema bio energético resiliente e eficaz.

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SAF:

oportunidade para o Brasil voar cada vez mais alto

Quando esteve em Brasília, em janeiro de 2024, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), Fatih Birol, disse que o Brasil entrará em um período sem precedentes em sua história econômica e política. Visão essa que se evidenciou em suas palavras: “O tempo do Brasil chegou. A transmissão de energia limpa no mundo não está acontecendo, mas o Brasil tem músculos e lideranças para conduzir um desenvolvimento justo e inclusivo”.

A aposta da IEA no Brasil é extremamente relevante e reforça a vocação do País para liderar a transição para baixo carbono. Já temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 49% da energia proveniente de fontes renováveis.

O etanol, um biocombustível limpo e renovável, já é utilizado no transporte rodoviário há quatro décadas, numa bem-sucedida experiência de diversificação da matriz energética, ao mesmo tempo que reduz emissões de gases de efeito estufa. E podemos ir além, com respostas efetivas para outros setores com metas desafiadoras de descarbonização, como o transporte aéreo.

A aviação responde por 2% das emissões globais de gases de efeito estufa, podendo chegar a 5%, dependendo da métrica utilizada e dos gases considerados. Faz parte do grupo dos setores mais difíceis de descarbonizar. A boa notícia é que temos aqui no Brasil enorme potencial para entrar no mercado de Combustível Sustentável para Aviação (SAF).

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Q Índice SAF: visão avançada do mercado
Os testes de voo do jato Embraer 195 com combustível 100% SAF foram totalmente aprovados

O SAF é considerado a alternativa mais viável para descarbonizar o setor aéreo porque pode ser misturado ao querosene de aviação fóssil na proporção de até 50%. Além disso, é a solução drop-in, ou seja, pode ser utilizada com a infraestrutura de combustível existente hoje nos aeroportos, totalmente compatíveis com as aeronaves modernas.

De acordo com a IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo, o SAF poderia contribuir com cerca de 65% das reduções de emissões necessárias para a aviação atingir o zero líquido até 2050, meta negociada em 2022 no âmbito da ICAO – Organização Internacional da Aviação Civil, das Nações Unidas.

Até o momento, 11 tecnologias estão certificadas pelo American Society for Testing and Materials – ASTM, para produzi-lo. Uma das rotas mais promissoras é o ATJ –Alcohol-to-Jet , que usa o etanol como base. E é nesse ponto que a experiência brasileira na produção e no uso do etanol como combustível pode desempenhar um papel ainda mais relevante, acelerando a implementação do uso de biocombustíveis na aviação.

Brasil-Japão:

No final de 2023, tivemos a oportunidade de promover discussões sobre essa questão em workshop realizado em Tóquio, no Japão. O governo japonês estabeleceu mandato para uso de 10% de SAF em 2030, para voos internacionais em aeroportos japoneses. E estima que a demanda pode chegar a 1,7 bilhão de litros de SAF por ano.

Com matérias-primas disponíveis e a possibilidade de crescimento sustentável da produtividade de etanol, o Brasil tem grande

O tempo do Brasil chegou. A transmissão de energia limpa no mundo não está acontecendo, mas o Brasil tem músculos e lideranças para conduzir um desenvolvimento justo e inclusivo. " Fatih Birol, IEA

potencial para contribuir nos próximos anos com a diversificação das fontes de energia no transporte aéreo do Japão e nas diversas geografias do mundo, incluindo o mercado doméstico.

Temos capacidade técnica e operacional para entrar nesse mercado por dois caminhos: seja fornecendo insumos, como o etanol de cana-de-açúcar e de milho, seja desenvolvendo o combustível sustentável para aeronaves.

Nesse sentido, os esforços brasileiros convergem para que esse potencial seja efetivado. De um lado, encontramos políticas públicas desenhadas para alavancar a agenda de SAF, como o Combustível do Futuro, que cria o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV).

Se há políticas públicas robustas e bem estruturadas, os investidores seguem o movimento natural de mercado, respondendo à altura da demanda. E o setor produtivo brasileiro já tem empresas bem-posicionadas no cenário internacional, com certificações para a produção de SAF.

Como se pode inferir desse movimento, os desafios da agenda ambiental trazem oportunidades incríveis para descarbonizar, ampliando os negócios. Seja na terra ou nos ares, vislumbramos um futuro brilhante para o etanol. n

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do mercado

biocombustíveis

O setor aéreo mundial, emitindo aproximadamente 900 milhões de toneladas de CO2 anuais, ou 2% de todas as emissões geradas pela atividade humana, assumiu o compromisso de zerar as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) até 2050. Para alcançar essa meta ambiciosa, o segmento aposta na substituição do querosene de aviação, o QAV, hoje responsável por cerca de 40% do custo das operações das companhias aéreas, por combustíveis sustentáveis, os SAFs (Sustainable Aviation Fuels). Mundialmente, as empresas do segmento buscam reduzir custos de produção e aumentar a disponibilidade de matérias-primas para a fabricação dos SAFs. Nessa corrida global, o Brasil pode largar com vantagem considerável em função de dois fatores primordiais: a abundância de insumos agrícolas e a expertise tecnológica consolidada há quase meio século com a produção e uso de biocombustíveis para a indústria automotiva. Assim como no passado, esses diferenciais poderão novamente representar uma vantagem competitiva no médio e longo prazo. Dessa forma, o país pode promover uma nova revolução verde nos transportes, agora, no setor aéreo.

Tendo em vista a liderança brasileira na utilização de etanol, cabe uma indagação: o Brasil será um mero fornecedor de matéria-prima ou um produtor de SAFs? Aqui, considera-se que o país reúne todas as condições para se tornar

O país dispõe de farta matéria-prima, competência acadêmica, agroindústria estruturada e competitiva. Todos os fatores, portanto, para mudar o futuro. "

no plano de voo

um grande protagonista desse mercado, entregando o produto final com o devido valor agregado. É uma oportunidade que não pode ser desperdiçada, ainda mais considerando as potencialidades brasileiras na produção agrícola, especialmente na cana-de-açúcar, soja, milho e sebo bovino.

O setor produtivo nacional está preparado para atender à demanda e ofertar SAFs de forma competitiva. Isso, sem prejuízos à produção alimentar e, simultaneamente, agregando valor ao produto nacional. O setor sucroenergético brasileiro já demonstra isso desde a década de 1970, quando foi lançado o Proálcool e, alguns anos depois, ao produzir os primeiros carros movidos a etanol em escala comercial.

A partir de 2003, com o início da produção de veículos flex, o Brasil novamente surpreendeu, atingindo, hoje, o mundialmente inédito percentual de 80% da frota de veículos leves em circulação equipados com motor flex. Além disso, a mistura de etanol anidro na gasolina avançou gradativamente.

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14 Q Índice
Martinho Seiiti Ono
SAF: visão avançada
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CEO da SCA Etanol do Brasil

SAF: visão avançada do mercado

Hoje atinge 27% e tem boas perspectivas de aumentar ainda mais. O etanol, agora incrementado também pelo produto a partir do milho, dispõe de extensa infraestrutura de distribuição, consolidada em mais de 42 mil postos de combustíveis. Essa base logística impulsionou o desenvolvimento no Brasil do primeiro carro híbrido flex do mundo, o Toyota Corolla, lançado em 2019. A mesma tecnologia já está nos planos de outras montadoras como Renault, Volkswagen e Stellantis, que reúnem marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën.

Acrescente-se a esse cenário o uso do bagaço da cana para produzir o etanol de segunda geração (2G), que não exige expansão de fronteiras agrícolas, e a bioeletricidade. Nesse último caso, os dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) indicam que, em 2023, o volume produzido pelas usinas canavieiras foi equivalente a 22% da geração de energia pela Usina de Itaipu.

Para o Brasil repetir essa exitosa experiência e decolar rumo aos SAFs, deve-se acrescentar à prática três medidas fundamentais: regulamentação, padronização dos SAFs e atração de investimentos.

O primeiro passo está em curso com o Projeto Combustível do Futuro, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados. A regulamentação dessa iniciativa, que trata essencialmente da transição energética, será de fundamental importância para haver investimentos na produção de etanol, biodiesel, biogás, biometano e, evidentemente, de SAFs.

Com uma política de longo prazo definida, será preciso garantir que as condições de uso dos SAFs atendam às normas técnicas internacionais, sem prejuízo para as companhias aéreas e seus usuários. Assim, um avião abastecido no Brasil poderá operar em outras partes do mundo sem qualquer impedimento.

Por último, fazem-se necessários, mesmo inicialmente, o incentivo e as linhas de financiamentos para alavancar investimentos em plantas industriais voltadas à fabricação dos SAFs. Nos Estados Unidos, já existem subsídios para estimular a produção desses novos biocombustíveis. Essa é uma forma de se reduzir o custo de produção, que para os SAFs hoje pode ser até quatro vezes maior quando comparado ao querosene de aviação de origem fóssil. Com maior escala, naturalmente os custos de produção dos SAFs serão reduzidos.

16 Q Índice
Embraer e Pratt & Whitney completaram teste de voo 100%

Conforme levantamento da SCA Etanol do Brasil, há 15 plantas comerciais de SAFs em operação no mundo, localizadas na Espanha (quatro), Estados Unidos (duas), Itália (duas), Finlândia, Singapura, Áustria, China, Alemanha, França e Reino Unido. Esse levantamento aponta 43 companhias aéreas já comprometidas a utilizar em torno de 16 bilhões de litros de SAF em suas operações até 2030. De uma produção global de 390 bilhões de litros de querosene para aviação, apenas 14 milhões de litros são SAFs, conforme o estudo “Disponibilidade de Matéria-Prima para Combustível de Aviação no Brasil”, publicado pelo Agroícone.

No imenso potencial brasileiro para a produção de SAFs, graças à ampla disponibilidade de matérias-primas agrícolas, o destaque é a cana-de-açúcar, até o momento o maior trunfo do Brasil para alavancar a fabricação do biocombustível com menor pegada de carbono. Do ponto de vista ambiental, o etanol de cana é a fonte mais eficiente em termos de redução de emissões de CO2. Nos EUA, maior produtor de etanol do mundo, cuja fonte é o milho, a fabricação de SAFs obtidos dos milharais apresenta um nível de emissão maior se comparado ao produto que vem da cana.

Para fazer um resgate histórico do uso pioneiro de biocombustíveis na aviação no Brasil: há 20 anos o avião agrícola Ipanema, fabricado pela Embraer, voa com etanol hidratado. Na aviação comercial, a Azul realizou, em 2012, um voo com 50% de combustível produzido de cana. Em 2013, um jato da Gol partiu de São Paulo para Brasília com uma mistura de 25% de óleo de milho e de gorduras residuais. Em 2014, novamente, a Gol estabeleceu a primeira rota fixa usando até 10% de bioquerosene de cana no QAV, entre Recife e Fernando de Noronha. Houve redução de 30% das emissões de CO2 em cada viagem.

Pelo mundo, desde 2008 empresas como United Airlines, Japan Airlines, KLM, Atlantic Airways, Air New Zealand e Continental Airlines igualmente usaram BioQAV e outros combustíveis de origem renovável. Tais experiências não se limitaram aos bons resultados na aviação comercial e agrícola. Em 2010, um jato supersônico da Força Aérea dos EUA voou com uma mistura de 50% de biocombustível.

O Brasil está suficientemente maduro para inovar e avançar na produção dos SAFs, podendo incluir os biocombustíveis para a aviação no plano de voo. O país dispõe de farta matéria-prima, competência acadêmica, agroindústria estruturada e competitiva. Todos os fatores, portanto, para mudar o futuro.n

17 Opiniões Multilingual Edition
100% SAF com
motor GTF em um jato E195-E2

SAF: visão avançada do mercado

SAF: o Brasil será produtor ou fornecedor de MP?

A descarbonização da matriz energética global é um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade neste século. Com mais de 80% da matriz energética global ainda baseada em fontes não renováveis, conforme dados do Energy Institute, e os altos custos associados à mudança de tal matriz, a redução dos efeitos das mudanças climáticas precisa de soluções inovadoras e de custo reduzido para que a substituição dos combustíveis fósseis não implique, em conjunto, uma redução do desenvolvimento econômico e social global.

O setor de aviação possui um dos maiores desafios para descarbonização e o SAF (do inglês Sustainable Aviation Fuel, combustível sustentável de aviação) é a melhor alternativa. Segundo a IEA – Agência Internacional de Energia, o setor de aviação é responsável por 2% das emissões globais de GEE – Gases de Efeito Estufa, e sua descarbonização depende de uma alternativa ao querosene fóssil que (1) tenha alta densidade energética, (2) seja segura para as diversas situações de voo, e (3), preferencialmente, requeira pouco ou nenhum investimento nas aeronaves existentes. Dentre as alternativas existentes, o SAF é o combustível que melhor atende a essas condições, por ter uma formulação química semelhante à do querosene fóssil, podendo ser utilizado, atualmente, numa mistura de até 50% com querosene fóssil, por qualquer aeronave atualmente em serviço.

Assim, a ICAO projeta que o SAF será responsável por 70% da redução das emissões do setor da aviação para chegar à aspiração de emissões net-zero em 2050.

O SAF, produzido a partir da biomassa, é o mais promissor e o Brasil, como maior produtor de grãos e 2º maior produtor de etanol do mundo, tem grande oportunidade de desenvolvimento da produção no país. Dentre as diversas rotas de produção de SAF, as baseadas em óleos vegetais e etanol se destacam por serem as de menor custo e maior capacidade produtiva a médio prazo, uma vez que já possuem cadeia produtiva robusta e bem estabelecida, capacidade de crescimento de produção no médio prazo. Estimativas da ICAO, apontam que, no cenário de ampla adoção do SAF e tecnologia como a atual, 55-65% do SAF produzido no mundo virá de fontes derivadas de biomassa, em que óleos vegetais e etanol se demonstrem como os principais insumos para esses combustíveis.

O Brasil pode se tornar o principal produtor de SAF, aumentando seu protagonismo na descarbonização da economia global e gerando milhares de empregos na economia verde, se oferecer condições atrativas para o investimento em combustíveis avançados de baixo carbono no país e estimular ativamente a adoção de tais combustíveis no mercado local e global.

O Brasil tem condições de produzir SAF com um dos menores custos e maior eficiência de redução das emissões de carbono do mundo. Para isso, o país precisa desenvolver 3 ações estruturantes para o mercado local e global:

(1) desoneração dos investimentos e da operação das plantas nos primeiros anos de operação,

(2) definição de metas de descarbonização que

Como as emissões de carbono são um problema global, e do ponto de vista de impacto ao clima, não existe diferença se a redução das emissões ocorra em uma parte do planeta ou em outra. "

Caio

Q Índice
César Ferreira Dafico Diretor de Investimento e Desenvolvimento de Negócios da ATVOS

garantam um volume mínimo de consumo no país, (3) fomento do mercado global de carbono para aviação, em que companhias aéreas brasileiras possam vender seus créditos excedentes para companhias internacionais.

Ação 1: desoneração dos investimentos e da operação das biorrefinarias nos primeiros anos de operação. Uma biorrefinaria de SAF em escala comercial requer investimentos da ordem de 3 a 5 bilhões de Reais, investidos em 2 a 3 anos de construção, que serão amortizados em 10 a 15 anos de operação para retornar o capital empregado pelos acionistas. São infraestruturas de altíssima intensidade de capital e alta complexidade operacional, que utilizam a vanguarda da tecnologia e que trazem grandes riscos aos investidores. Por isso, países como os Estados Unidos estão oferecendo programas de desoneração fiscal como os do IRA (Inflation Reduction Act), eliminando a obrigação fiscal dos produtores nos primeiros anos, garantindo produtos mais baratos e com menor risco de falência da operação nos seus anos mais sensíveis. A eliminação da cobrança de impostos durante o período de amortização dos investimentos e/ou a criação de zonas francas para combustíveis avançados garantiriam a atratividade do Brasil para os investidores da economia verde frente a países vizinhos e países desenvolvidos, que já oferecem programas semelhantes e estão à frente no anúncio de projetos.

Ação 2: definição de metas de descarbonização que garantam um volume mínimo de consumo no país. Para que os investimentos em biorrefinarias de SAF seja efetivamente executado no Brasil, a demanda local precisa ser suficientemente grande para haver escala de produção local. O projeto de lei do Combustível do Futuro (PL 4196/2023), atualmente, em discussão no Congresso Nacional, traz avanços para adoção do SAF nos voos domésticos do país, com definição de redução das emissões de carbono de 10% em 2037.

Porém, para o Brasil conseguir destravar os investimentos necessários, é necessário haver, ao menos, um consumo esperado de SAF da ordem de 10% do querosene total consumido no país em 2030, em linha com os patamares que a regulação europeia define atualmente.

Ação 3: fomento do mercado global de carbono para aviação, em que companhias aéreas brasileiras possam vender seus créditos excedentes para companhias internacionais. O SAF brasileiro, sobretudo a partir do etanol, tem valores competitivos de redução das emissões de carbono frente aos combustíveis fósseis. Porém, o trânsito do SAF ou de sua matéria-prima do Brasil para outros países, aumenta consideravelmente o preço do combustível e as emissões relacionadas, contribuindo duplamente para o aumento do custo por emissão evitada.

Como as emissões de carbono são um problema global, e do ponto de vista de impacto ao clima, não existe diferença se a redução das emissões ocorre em uma parte do planeta ou em outra, o mais eficiente para a descarbonização global é a maximização do consumo de SAF no próprio país produtor dos insumos e dos combustíveis. Para isso, é preciso haver um mercado global de créditos sobre o combustível consumido, em que as companhias aéreas com operação no Brasil comercializem os créditos excedentes com companhias aéreas de outras geografias, minimizando o deslocamento do combustível renovável e capturando o diferencial de preços sobre o carbono evitado. Nesse desenho, (1) garante-se o menor custo por carbono evitado para o setor da aviação global, (2) aumenta-se a produção de SAF no país, aumentando a escala produtiva e os ganhos para a economia nacional, e (3) gera-se uma linha de receita adicional para as companhias aéreas nacionais, aumentando a saúde financeira do setor.

O Brasil tem capacidade de se tornar líder global na produção de combustíveis avançados de baixo carbono, se oferecer condições tão atrativas quanto as oferecidas pelos Estados Unidos e outros países vizinhos. Cabe ao país se organizar para garantir as condições, para que não se torne, uma vez mais, mero fornecedor de matéria-prima de baixo valor agregado. n

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Multilingual Edition EMISSÕES DE DIOXIDO DE CARBONO EQUIVALENTE POR COMBUSTÍVEL DE AVIAÇÃO (ICAO-2022) 67 65 66 31 33 78 86 40 40 40 24 24 56 56 27 25 26 7 9 22 30 24,3% 27,1% 25,6% 64,8% 62,8% 12,5% 3,9% SAF: ÓLEO DE SOJA SAF: ALCOHOL-TO-JET QUEROSENE FÓSSIL BRASIL ÓLEO DE SOJA EUA ÓLEO DE SOJA GLOBAL ÓLEO DE SOJA BRASIL ETANOL CANA-DEAÇÚCAR GLOBAL ETANOL CANA-DEAÇÚCAR EUA ETANOL MILHO GLOBAL ETANOL MILHO QUEROSENE FÓSSIL PRODUÇÃO USO DO SOLO % REDUÇÃO DE EMISSÕES x FÓSSIL
Opiniões

etanol: sobreviver para avançar SAF: visão avançada do mercado

Protagonista, hoje, como uma das soluções mais sustentáveis e de fácil acesso para o processo de descarbonização mundial, decorrente das metas cada vez mais audaciosas de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEEs), em substituição aos combustíveis fósseis, o futuro do etanol, pelo menos da forma como o conhecemos hoje, vai do otimismo às preocupações resultantes, ou não, de sua sobrevivência. Explico.

Que o etanol é, de longe, a melhor solução para a mitigação das emissões de GEE em várias partes do globo, não temos mais dúvidas. Prova disso é sua ampla produção em vários países do globo, como os Estados Unidos, que passaram há anos a ser os maiores produtores mundiais de etanol, ultrapassando a Índia e outros tantos países da América do Sul e Europa.

No Brasil, país que detém o título de “inventor” do etanol, ou, pelo menos, do uso carburante em boa parte de sua frota de veículos, o etanol já evitou a emissão de nada menos que 600 milhões de toneladas de CO2, nos últimos 20 anos, desde o lançamento dos veículos flex, em 2003. Hoje, a participação dos biocombustíveis, majoritariamente do etanol na matriz energética brasileira, é de cerca de 38%.

Porém, nem mesmo esses predicados nos capacitam a afirmar, com certeza, como será o futuro de nosso setor. Isso porque para se tornar o combustível do futuro faz-se necessário sobreviver ao presente.

não podemos afirmar, com certeza, como será o futuro de nosso setor. Isso porque para se tornar o combustível do futuro faz-se necessário sobreviver ao presente "

Na safra 2023/24, o etanol representou, no mix total da cadeia sucroenergética, mesmo considerando seu custo de produção hoje acima do preço de venda, pouco mais de 51% da produção de cana-de-açúcar, com potencial para chegar muito além. Mas isso dependerá de uma série de fatores.

Entre os mais relevantes, se não o mais, é até que ponto a sociedade brasileira está disposta a contribuir para o processo de descarbonização via etanol de nossa matriz energética. Temos, portanto, que valorizar nosso esforço, que não é pouco, a fim de proporcionar um futuro mais sustentável para nosso planeta.

As externalidades do etanol ainda não são reconhecidas sequer em nosso País, como dito acima, berço de sua experiência exitosa. Hoje, o consumidor continua disciplinado, apenas na conta cabalística dos 70%, ou seja, se o etanol custar na bomba até 70% do preço da gasolina, está vantajoso. Mas e as outras externalidades? ;

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Q Índice
Índice
Opiniões Multilingual Edition
Jato executivo Embraer sendo abastecido com combustível 100% SAF

SAF: visão avançada do mercado

Cito aqui apenas algumas: a fixação do homem no campo, uma vez que as mais de 3 centenas de usinas estão localizadas nas zonas rurais, gerando empregos e divisas para milhares de municípios; a diminuição da importação de combustíveis fósseis, ajudando a balança comercial do País; a captura de CO2 pelo processo da fotossíntese dessa planta mágica chamada cana-de-açúcar (o etanol emite até 90% menos GEE do que a gasolina); entre tantas outras. Estima-se que a busca mundial pela transição energética via etanol possa, ao menos, triplicar nossa produção anual de etanol. E, para tanto, temos que ver essas externalidades reconhecidas, não apenas pelos consumidores, como, também pelos poderes constituídos através de políticas públicas que fortaleçam nosso setor.

A grande pergunta é: o uso do etanol no futuro será carburante e/ou para usos mais nobres, como aviação e navegação? Ou tudo isso e mais um pouco?

Só para atender à demanda de SAF, combustível sustentável de aviação, para citar um exemplo, teríamos que saltar de 300 milhões de litros produzidos em 2023 para 5 bilhões de litros anuais em 2025. Segundo especialistas no setor de aviação, o SAF é a única solução para a descarbonização dessa área.

O CEO do Grupo Atvos, Bruno Serapião, anunciou, no início de março, que uma equipe técnica está elaborando um projeto que determinará investimentos da Atvos, uma das maiores produtoras de biocombustíveis do Brasil. Isso acontecerá numa fábrica dedicada à produção de SAF, uma das primeiras com escala industrial do produto no mundo.

Como fonte de produção de hidrogênio, para a transição energética veicular, seriam demandados outros bilhões de litros anuais, o que pode despontar o etanol como um insumo mais vantajoso para o Brasil.

Investimentos vultuosos estão sendo realizados principalmente pelos gigantes do setor para atender a essas demandas crescentes. A Raízen, por exemplo, soma mais de R$ 10 bilhões em investimentos para a construção, até 2027, de mais 8 usinas de etanol de 2ª geração, fabricado a partir de celulose encontrada na palha da cana ou em outras plantas. Cada unidade demanda investimentos de R$ 1,2 bilhão e tem suas produções quase que totalmente comercializadas para atender às regulações europeia, japonesa e americana.

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Q Índice Índice
100%
Tanque com combustível
SAF para abastecimento de

aeronaves Embraer em teste.

Outro leque aberto no futuro do etanol seria sua utilização no processo de descarbonização da navegação em todo o mundo. Potencial ainda sequer estimado, em termos de quantidade, mas que poderia, por vezes, multiplicar e muito a demanda mundial pelo biocombustível. O potencial do etanol como combustível para a navegação, especialmente em embarcações que buscam reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e depender de fontes de energia mais sustentáveis, requer, no entanto, algumas observações pertinentes e já em estudo, como:

• sua fonte renovável;

• redução significativa de emissões de GEE;

• tecnologia para motores compatíveis;

• menor impacto ambiental em caso de derramamentos;

• desenvolvimento de infraestrutura necessária para o armazenamento de etanol e sua distribuição em portos e marinas;

• diversificação da matriz energética na navegação;

• estímulo a inovações tecnológicas.

Durante o 6º Seminário UDOP de Inovações, em novembro passado, discutimos o tema do etanol na navegação. Na oportunidade, inclusive, tivemos uma palestra de Mário Barbosa, Gerente Geral de Vendas para a América Latina da Wärtisila Marine, anunciando para este início de 2024 os testes com motores a etanol na navegação de grande porte.

Vale destacar, também, outros esforços contumazes para garantir um futuro mais promissor ao nosso etanol, como do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; Pietro Mendes, Secretário Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis; Marlon Arraes, Coordenador Geral de Etanol; e demais técnicos do MME que não medem esforços em apresentar as externalidades de nosso etanol no Brasil e no mundo. Além do incansável esforço do Deputado Federal Arnaldo Jardim, um dos maiores defensores de nosso etanol na atualidade, à frente da relatoria do Projeto de Lei do Combustível do Futuro, que representará um grande divisor de águas para nosso setor.

Por isso, ao imaginarmos o futuro de nosso etanol, volto a refletir qual, ou quais, serão as rotas desse desenvolvimento. Se todos os caminhos levam a Roma, como diz o ditado popular, todas as rotas nos levarão ao futuro? E, sem nos esquecermos do presente?n

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Multilingual Edition
Opiniões

SAF: visão avançada do mercado

Etanol:

o agente protagonista para a

descarbonização no setor de aviação

O Brasil é um dos principais produtores mundiais de etanol, propiciando muitas oportunidades para contribuir com a descarbonização de diversos setores e para a transição energética dos combustíveis fósseis para alternativas mais limpas e renováveis. Hoje, além de ser muito utilizado na mobilidade urbana, outros segmentos da economia já utilizam o biocombustível para diversas aplicações, como, por exemplo, para produtos antissépticos e cosméticos. Em âmbito mundial, também vão surgindo novas demandas e oportunidades, como o mercado de aviação, navegação, hidrogênio, etc.

Uma das mais maduras é a alternativa sustentável para o setor de aviação, com o SAF ( Sustainable Aviation Fuel , Combustível Sustentável de Aviação). A partir de compromisso firmado pela ICAO ( International Civil Aviation Organization, Organização da Aviação Civil Internacional), ficou determinada a mistura obrigatória de combustível sustentável para as companhias aéreas, a partir de 2027, abrindo grandes oportunidades ao etanol.

Quando falamos em SAF, os governos de mais de 100 países reunidos com a indústria e a sociedade civil estabeleceram o objetivo de que o combustível de aviação em 2030 deveria ser 5% menos intensivo em carbono do que o querosene de aviação, utilizado por quase toda a indústria aérea atual. Nesse contexto, cada governo membro do conselho estipulou uma meta interna. No Japão, por exemplo, a meta é alcançar 10% de uso de SAF até 2030.

O Brasil, como grande produtor global de etanol, com aproximadamente 35% da produção global, tem uma grande oportunidade de ser protagonista no mercado do SAF "

Q Índice

Já os Estados Unidos estabeleceram 5 bilhões de litros de SAF até 2030. Sendo assim, teremos uma alta demanda do setor de aviação para os próximos anos.

O Brasil, como grande produtor global de etanol, com aproximadamente 35% da produção global, tem uma grande oportunidade de ser protagonista nesse mercado. O potencial do mercado de SAF chega a ser quatro vezes maior do que o mercado global de etanol, alcançando algo em torno de 400 bilhões de litros.

Hoje, existem três principais tecnologias para a produção de SAF, o ATJ ( alcohol-to-jet ), o HEFA ( Hydroprocessed Esters and Fat Acids ) e o FT ( Fischer-Tropsch ). No ATJ, a molécula de etanol é desidratada, hidrogenada e oligomerizada.

Trata-se de um processo de ligação das moléculas através de suas cadeias de carbono e hidrogênio para tornar o combustível mais complexo. Assim, é preciso em torno de 1,6 litro de etanol para produzir 1 litro de SAF.

O HEFA é uma tecnologia diferente, na qual se produz o SAF com óleos vegetais, como o de milho ou óleo de soja, para originar bioquerosene de aviação. Já o FT é produzido a partir de biomassa. Todas essas tecnologias são importantes e complementares, possibilitando ao mundo ter uma matriz diversificada, com alto volume e escala de competitividade para atender a diversos mercados.

No ATJ, a tecnologia que gerará uma maior demanda por etanol, aproximadamente dois terços da pegada de carbono do SAF está na matéria-prima (no etanol) e um terço está no processo de upgrading (transformação do etanol em combustível de aviação).

Os mandatos globais exigem que o combustível sustentável emita 50% menos do que o querosene de aviação, que emite 90 gCO2/MJ. Portanto, é preciso que se faça um produto que tenha até 45 gCO2/MJ.

Fomento à Inovação e Tecnologia:

No entanto, não basta apenas o potencial do mercado e as tecnologias disponíveis. É preciso também apoio dos setores público, privado e sociedade civil em todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o gover -

no tem diversas iniciativas para estimular a produção de SAF.

O IRA ( Inflation Reduction Act, em português, Ato de Redução de Inflação), criado pelo presidente Biden, em agosto de 2022, cujo objetivo é investir em toda a economia americana, na segurança energética e clima, é benéfico para os fabricantes.

No programa, há o crédito fiscal 40B (Crédito SAF), no qual o governo fornece US$ 1,25 por galão para os fabricantes que produzirem um combustível, seja qual for, com pelo menos 50% de redução de GHG versus o querosene de aviação.

Já o crédito fiscal 45Z custeia para o produtor até US$ 1,75, conforme a pegada de carbono. O 40B é válido neste ano de 2024, e o 45Z vai de janeiro de 2025 a dezembro de 2027.

Adicionalmente, o Environmental Protection Agency (Ministério do Meio Ambiente dos Estados Unidos) tem um benefício atrelado à área ambiental, designado RINs, permitindo fornecer ao produtor de SAF valor que pode chegar a mais de US$ 2,00 por galão.

Esses dois incentivos do governo americano são um importante exemplo de como estimular a produção do SAF. No mercado americano, os incentivos podem chegar a 50% da receita do produtor de SAF.

Requisitos ambientais:

Para o Brasil exportar o etanol e ser fornecedor da matéria-prima para produção de SAF nos Estados Unidos, terá que garantir que o milho e a cana-de-açúcar utilizados para produção cumpram requisitos ambientais mais rigorosos do que os que já estão vigentes na legislação brasileira.

Será necessário, dentre outros, obedecer a uma data de corte de desmatamento de 2008, ou seja, mais rigorosa do que a do Código Florestal Brasileiro. Para acessar o mercado americano, também teremos que cumprir requisitos de segregação de molécula de cada planta até a chegada desse produto aos Estados Unidos, encarecendo o produto e complexificando sua expedição.

No caso da FS, para participar desse mercado, precisamos comprar o milho de forma um pouco mais seletiva. ;

25 Opiniões Multilingual Edition

SAF: visão avançada do mercado

O milho que compramos no Mato Grosso, felizmente, já cumpre boa parte dos requisitos ambientais exigidos. Precisaremos observar a data de corte do desmatamento legal, o que é factível.

A política socioambiental da FS e os 75% de elegibilidade no RenovaBio já nos colocam em um cenário bastante favorável de partida. Além disso, temos hoje, pelo RenovaBio, uma pegada de 17 gCO2/MJ (80% menor do que a gasolina).

Soma-se a isso que a FS acabou de receber a certificação ISCC Corsia, que atesta o nosso etanol para produção de SAF e como um produto de baixo carbono. Para atingir essa certificação, já precisamos cumprir, por exemplo, a data de corte de 2008 para desmatamento zero.

Somos também a primeira empresa de biocombustível da história a receber o requisito de Low LUC Risk, atestando que o nosso etanol é rastreado nessa certificação em colaboração com um de nossos fornecedores de milho de segunda safra, o Grupo GGF, que também se adequa aos requisitos ambientais mais elevados internacionalmente.

Além disso, garante que compramos um milho de áreas que não têm emissões de carbono atreladas à mudança do uso da terra. Ou seja, conseguimos demonstrar que já existe milho de segunda safra no Mato Grosso, com ganhos de produtividade atrelados ao baixo carbono e que cumpre requisitos ambientais dos mais rigorosos internacionalmente.

O etanol brasileiro terá uma grande oportunidade imposta pela nova demanda do modal aéreo. A partir do próximo ano, os programas internacionais de fomento à tecnologia, por exemplo, dos Estados Unidos e Japão, estimularão mais as exportações de etanol para a produção de SAF.

No Brasil, esse mercado começará a ter estímulos por meio do marco legal do Combustível do Futuro, num momento crucial para todo o mundo, em que precisamos avançar para um futuro mais sustentável. O uso do combustível sustentável de aviação não é apenas uma tendência, mas uma necessidade essencial para a descarbonização no setor aéreo. O etanol, mais uma vez, deverá ter um papel de protagonismo nesta indústria. n

26
Q Índice
Phenom 300E e Praetor 600 da Embraer completam testes

utilizando combustível de aviação 100% sustentável

27 Opiniões Multilingual Edition testes de
voo

SAF: visão avançada do mercado

Brasil e o SAF: nosso potencial vai além da matéria-prima

As políticas relacionadas à descarbonização do transporte aéreo estão no centro dos debates mundiais sobre a questão da transição energética. Afinal, estamos falando de uma atividade responsável por cerca de 3% das emissões globais dos Gases de Efeito Estufa - GEE, na atmosfera, segundo dados da Organização da Aviação Civil Internacional – ICAO (International Civil Aviation Organization, do inglês).

Em novembro passado, governos de mais de 100 países membros da ICAO definiram como meta a redução de 5% da intensidade de carbono do combustível utilizado nas aeronaves até 2030.

Um compromisso que só poderá ser viabilizado a partir do avanço significativo na agenda de desenvolvimento de novas fontes de energia limpa.

São essas fontes que poderão substituir os combustíveis fósseis na operação desse modal, como o Combustível Sustentável de Aviação, na sigla em inglês SAF (Sustainable Aviation Fuels).

Historicamente, o Brasil tem sido um exportador de commodities e, embora isso represente uma parte significativa de nossa economia, é imperativo explorar alternativas que nos levem a outros patamares. "

Diretor Comercial e de Originação de Cana-de-açúcar na BP Bunge Bioenergia

Q Índice
;

O insumo pode ser produzido a partir de várias matérias-primas, dentre as quais se destaca o etanol ― o que faz com que sua pegada de carbono seja até 80% menor em relação ao similar de querosene, de acordo com a IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo.

Nesse cenário, o Brasil, que ocupa o posto de segundo maior produtor e exportador mundial de etanol, e cuja matriz energética se destaca pelas fontes prioritariamente renováveis e limpas, está diante de uma oportunidade única de figurar entre os protagonistas do processo que guiará o mundo rumo à transição para uma aviação mais sustentável.

O setor brasileiro já está, inclusive, se estruturando para atuar no fornecimento do etanol como matéria-prima para a produção de SAF em plantas construídas no exterior para esse tipo de operação (por enquanto, apenas nos Estados Unidos).

Na BP Bunge Bioenergia, por exemplo, recebemos em 2023 a certificação ISCC CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), que confirma que o etanol produzido pela empresa está, segundo os padrões internacionais, determinados para a produção desse biocombustível.

Temos potencial no país para ir muito além da matéria-prima. Enxergo o Brasil como um produtor local desse novo combustível sustentável de aviação, uma vez que não há justificativa para exportar o nosso etanol e importar o SAF produzido a partir dele.

Para isso, entretanto, assim como acontece nos Estados Unidos e no Japão ― dois países que atualmente despontam no desenvolvimento dessa indústria ― faz-se fundamental a implementação de políticas e incentivos que respaldem esse processo.

Alguns passos iniciais já foram dados nesse sentido. No projeto de lei “Combustível para o Futuro” (PL 4.516/2023) foi instituído o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV), visando incentivar a pesquisa, a produção, a comercialização e o uso energético do SAF no Brasil.

O programa determina que os operadores aéreos ficarão obrigados a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em suas operações domésticas por meio da utilização de SAF em, no mínimo, 1% entre 2027 e 2028.

30
Q Índice SAF: visão avançada deo E195-E2, Phenom 300E e Praetor 600 da Embraer já voam

de aviação 100% sustentável

A partir de então, esse percentual sobe 1 ponto a cada ano, até chegar a um compromisso de corte das emissões de 10% em 2037.

Entendo que tais determinações foram importantes para o Brasil marcar uma posição referente ao tema. Apesar de ainda não estarmos tão avançados quanto outros países na perspectiva de produção de SAF, penso que podemos surpreender na velocidade com que as coisas devem evoluir, caso a legislação e as metas amadureçam, haja vista nossa matriz de distribuição de etanol gigantesca. Temos aqui o maior programa de mistura de biocombustíveis do planeta. Etanol não é uma novidade para nós!

No entanto, para nos posicionarmos para além da condição de exportadores de matéria-prima, em um cenário relacionado ao SAF, precisamos de investimentos, políticas públicas e incentivos que ajudem a alcançar uma posição de maior destaque como produtores. Como setor e indústria, precisamos investir em tecnologias avançadas e na otimização dos processos, a fim de garantir eficiência e competitividade. Com isso, também aumentamos o volume de produção, colaborando para suscitar uma priorização desse assunto junto às esferas públicas. Ainda, a colaboração entre governo, indústria e sociedade civil é crucial para garantir que esse caminho seja desbravado com aproveitamento de todo o seu potencial.

Historicamente, o Brasil tem sido um exportador de commodities e, embora isso represente uma parte significativa de nossa economia, é imperativo explorar alternativas que nos levem a outros patamares. A aviação sustentável oferece uma via promissora nesse sentido, permitindo-nos não apenas fornecer insumos, mas, também, produtos acabados que impulsionam a transição global para um planeta mais verde.

Ao investir em SAF e outras alternativas de combustíveis renováveis, podemos não apenas nos destacar como produtores, mas, também, como pioneiros em inovação ambiental. Políticas estratégicas e parcerias colaborativas são essenciais para alcançar esse objetivo ambicioso. Na medida em que nos lançamos em direção a um futuro mais verde, o Brasil tem a oportunidade de deixar uma marca duradoura na aviação global. Que essa visão audaciosa seja a alavanca para um futuro mais sustentável e próspero para todos. n

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Opiniões Multilingual Edition voam com combustível

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o hidrogênio da bioenergia

o jovem hidrogênio da eletricidade e o

maduro hidrogênio da bioenergia

A energia, definida como a capacidade de produzir transformações, seja elevando um objeto ou aquecendo uma peça, pode ser transportada de um local a outro utilizando combustíveis (portadores de energia química) ou eletricidade (portador de energia elétrica). Considerando as aplicações de interesse em nosso dia a dia, a eletricidade e o hidrogênio não são recursos ou fontes energéticas primárias, tomadas da natureza, mas podem ser produzidas por diversas tecnologias, transportadas, armazenadas e convertidas em outras formas de energia, como movimento de um veículo ou a iluminação. Dessa forma, a eletricidade e o hidrogênio são parecidos.

Uma das semelhanças tem a ver com seu surgimento e as expectativas de utilização. Na fascinante história da energia elétrica, a partir das contribuições geniais de estudiosos como Benjamin Franklin, Alessandro Volta, Humphry Davy, Hans Christian Oersted e Michael Faraday, a eletricidade deixou, progressivamente, de ser uma curiosidade temida e passou a ser algo útil, atualmente, essencial. Nesse sentido, é interessante recordar que, ao demonstrar em 1831 o funcionamento de um gerador elétrico e questionado sobre a serventia de sua invenção, Faraday replicou: “Mas que utilidade tem um recém-nascido?”. Embora o hidrogênio tenha sido descoberto por Henry Cavendish, em 1766, reagindo ácidos com metais e batizado em 1783 por Antoine Lavoisier,

é imperativo ter claro que a fotossíntese, a reação fundamental da vida, é a precursora da moderna economia do hidrogênio "

Luiz Augusto Horta Nogueira

Centro

ao observar que a combustão desse gás produzia água, sua efetiva aplicação em escala comercial aconteceu apenas no século 20, inicialmente na produção de amônia, mediante o processo desenvolvido por Fritz Haber e Carl Bosch em 1908 e posteriormente no refino de petróleo, melhorando a especificação de produtos e valorizando correntes pesadas de menor valor.

Entretanto, essas aplicações de hidrogênio, que respondem por grande parte dos mais de 90 milhões de toneladas de hidrogênio consumidos, anualmente, em nosso planeta, utilizam hidrogênio produzido a partir de gás natural, petróleo e até carvão mineral, com expressivas emissões de carbono para a atmosfera. O novo hidrogênio, que tem mobilizado recursos vultuosos e redesenhado estratégias e planos energéticos, especialmente em países desenvolvidos e dependentes energeticamente, é o hidrogênio produzido a partir de energia renovável, com baixa pegada de carbono e alinhado com a presente transição energética, capaz de substituir combustíveis fósseis.

34
Q Índice
de Excelência em Eficiência Energética da UNIFEI e Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da UNICAMP

É esse o hidrogênio que devemos ver como um menino ainda, depositário de tantas esperanças, capaz de promover um futuro mais sustentável. As projeções de mercado para o hidrogênio renovável são desafiadoras, indicando que até 2050 o consumo anual desse energético poderá ser da ordem de 500 milhões de toneladas, necessitando de investimentos superiores a 30 trilhões de dólares americanos, segundo o Banco Mundial. A oferta tem sido essencialmente considerada a partir de eletricidade, e a demanda orientada para a mobilidade, de pessoas e carga, e processos industriais, especialmente a amônia (nesse caso amônia verde, de baixa pegada de carbono) e produtos energointensivos, como aço e cimento. Tais perspectivas implicam superar desafios tecnológicos relevantes, devido às características físicas do hidrogênio, as quais impõem pressões muito elevadas e/ou baixas temperaturas de operação, materiais especiais, etc., que por sua vez acarretam altos custos de capital e operação. Cabe lembrar que a civilização moderna superou desafios similares na implantação dos atuais sistemas elétricos e poderá, ao longo do tempo, também tornar a economia do hidrogênio eficiente e competitiva, deixando sua atual infância e alcançando a maturidade.

No atual contexto incipiente da indústria global do hidrogênio, reconhecendo os relevantes logros da moderna biotecnologia energética no Brasil, é oportuno explorar novas possibilidades, sem desprezar esse gás como vetor energético, mas abrindo outros caminhos para sua oferta e demanda, eventualmente, mais consistentes e racionais do que os atuais protagonistas têm promovido para o jovem hidrogênio. Com efeito, se o objetivo é perseverar na transição energética, com economicidade e efetividade, a bioenergia moderna pode e deve ser considerada com atenção, como sumarizamos a seguir.

Pelo lado da produção, é importante observar que a eletrólise é apenas uma das maneiras de produzir hidrogênio, utilizando eletricidade para separar os componentes da água, a razão de aproximadamente 60 kWh/kg de hidrogênio. Existem outras formas, especialmente, empregando vetores de bioenergia, com destaque para a reforma do biometano (CH4), principal componente do biogás, com uma produtividade ao redor de 8 m3 de biogás/kg de hidrogênio, a reforma do etanol (C2H6O), com uma produtividade ao redor de 9 litros de etanol/kg de hidrogênio.

Ambos esses processos endotérmicos são similares e tecnologicamente maduros, nos

quais com auxílio de catalisadores adequados e água, a energia desses biocombustíveis permite manter reatores (reformadores) com a temperatura entre 600 e 900 ºC, e produzir correntes com hidrogênio, que pode ser purificado até teores elevados. Não é difícil estimar a competitividade do biogás e do etanol frente à eletricidade, especialmente, se são empregados valores reais de fatores de capacidade e custos de investimento e operação, que reduzem em muito a atratividade dos sistemas de eletrólise.

Uma terceira alternativa são os processos de gaseificação de biomassa sólida de baixo custo, como resíduos agrícolas e florestais, produzindo gases com teores de hidrogênio mais baixos, mas que também podem ser purificados. Esses últimos processos se encontram em desenvolvimento, com resultados promissores, entretanto, sem ainda terem demonstrado sua viabilidade econômica.

O consumo do hidrogênio, desde uma perspectiva econômica e sustentável, ainda precisa desenvolver curvas de aprendizagem e se estabelecer por seus próprios méritos; como se sabe, trata-se de um mercado em fase inicial de desenvolvimento. Não obstante, parece que as aplicações industriais, são as mais promissoras, considerando a demanda potencial de produtos de baixa pegada de carbono, como fertilizantes (amônia verde) e metais ferrosos. Em ambos os casos, novamente, a bioenergia sustentável tem se mostrado bem-posicionada para oferecer rotas eficientes e competitivas.

Em aplicações de mobilidade, mesmo considerando a possibilidade de produzir hidrogênio com etanol, se os pressupostos de ordem econômica e ambiental devem prevalecer, o uso direto do etanol deve ser avaliado como a alternativa mais eficiente e competitiva.

Enfim, é imperativo ter claro que a fotossíntese, a reação fundamental da vida, é a precursora da moderna economia do hidrogênio. Nas folhas, a luz solar decompõe a água, liberando o oxigênio (O2) e combinando o hidrogênio (H2) com o CO2 absorvido da atmosfera e formando os açúcares, base de toda a diversidade de biomassa e suas consequências, como os combustíveis. O hidrogênio do etanol, do biogás e de toda biomassa, veio da água, produzido com a energia solar. Assim, o hidrogênio presente na bioenergia não é uma criança, é tão antigo quanto a vida em nosso belo planeta. Nota: Como complemento a esse artigo, veja Horta Nogueira, L.H., Hidrogênio renovável a partir da biomassa: perspectivas no Brasil, Revista Opiniões, Ano 19, Nº 74. n

35 Opiniões Multilingual Edition

UNIPORT 3030 CANAVIEIRO

Tecnologia, inovação e robustez

Um pulverizador especialmente desenvolvido para a cultura da cana-de-açúcar

jacto.com

Reservatório de 3000 L e barras de 24 m: maior autonomia e área de ação

Pingentes de aplicação para uma melhor infiltração no solo e rendimento de insumos

Soluções em Agricultura de Precisão integradas

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o gás, a levedura e o pellet da bioenergia

a economia circular no setor sucroenergético

Na data em que redigimos este texto, estamos prestes a encerrar a safra 2023/2024 do Centro-Sul canavieiro e, atualmente, muitas análises são realizadas sobre os resultados do ciclo que se encerra em termos de produtividade agrícola, preços, custos, etc. Um aspecto de fundo, porém, tem sido pouco discutido: o quanto a estratégia do setor – ao menos no curto prazo – pode ser moldada por eventos fortuitos e ir, aparentemente, na contramão do zeitgeist que o envolve. Falamos, em particular, da rápida resposta do setor à valorização do preço do açúcar registrada até o fim de novembro de 2023: grandes volumes de açúcar tiveram seus preços de exportação travados pelas usinas e anúncios de expansão da capacidade produtiva do adoçante foram celebrados com razão.

Não fossem as inesperadas cotações do açúcar, o setor teria passado por dificuldades severas, derivadas da situação do mercado de etanol. Dado o abandono da política do PPI (preço de paridade de importação) pela Petrobras, é compreensível e esperado o movimento em direção ao açúcar nas próximas safras.

Essa priorização do açúcar, porém, contrasta com o reconhecimento de que o futuro do setor sucroenergético passa por seu papel na transição energética, a iniciar pelo crescimento da relevância do etanol na matriz de transportes.

Além do seu papel tradicional de alternativa à gasolina em motores flex fuel convencionais, começam a ganhar popularidade no Brasil os modelos híbridos flex, sendo, assim, o próximo passo do uso do biocombustível no país. Também associada à eletrificação, discute-se o potencial do etanol como matéria-prima para a produção de hidrogênio a ser utilizado em células de combustível. A busca por uma maior produção de açúcar nos próximos ciclos, porém, parece ir em sentido contrário e seus motivos devem ser bem compreendidos. Em resumo, o adoçante tem apresentado preços muito remuneradores e, mais relevante à presente discussão – não está sujeito a mudanças repentinas oriundas da política doméstica de plantão.

Dessa forma, a solução para a aparente contradição entre necessidade de diversificação de receitas, visando diminuição de riscos e participação ativa no processo de transição energética, passa pela incorporação de uma nova gama de produtos energéticos sustentáveis, alguns dos quais derivam diretamente da aplicação de preceitos da economia circular.

Por estar vinculado a um mercado global, o SAF estará muito menos sujeito a riscos de ordem não econômica. Conceito similar se aplicaria a eventual produção de hidrogênio verde a partir do etanol. "

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Índice
Haroldo José Torres da Silva Gestor de Projetos do PECEGE Consultoria e Projetos Coautores: Peterson Felipe Arias Santos e Beatriz Ferreira, Analistas Econômicos do PECEGE Consultoria e Projetos

Esse processo mostra-se a única maneira pela qual o setor poderá exercer seu papel na economia de baixo carbono sem, contudo, ficar exposto a mudanças na precificação da gasolina que influenciam o etanol vendido no mercado doméstico.

Em relação aos novos produtos, por exemplo, espera-se que o setor sucroenergético, na próxima década, tenha papel fundamental na produção do combustível sustentável de aviação (SAF). Por estar vinculado a um mercado global, tal produto estaria muito menos sujeito a riscos de ordem não econômica. Conceito similar se aplicaria a eventual produção de hidrogênio verde a partir do etanol.

Os referidos produtos (SAF e hidrogênio verde), ao derivarem do etanol, tendem a configurar uma destinação adicional da matéria-prima tradicional do setor (açúcar total recuperável, ATR). Todavia, outras fontes de receita podem ser estabelecidas a partir de resíduos da indústria que, em alguma medida, já são reaproveitados.

Atualmente, o mais disseminado desses produtos é o biometano produzido a partir da vinhaça derivada da produção do etanol. Assim como a torta de filtro, atualmente, a vinhaça é utilizada predominantemente para a fertirrigação. Contudo, sua destinação à produção de biometano não implica na eliminação desse uso já consolidado. O digestato (efluente do reator anaeróbico) pode ser utilizado como biofertilizante, tanto na forma líquida quanto sólida a depender dos processos a ele aplicado.

Deve-se notar que o biometano, ao se apresentar como substituto direto do gás natural no mercado regulado, se encontra em situação semelhante ao etanol quanto à influência de fatores externos sobre seu preço, isto é, seu papel, enquanto mitigador de risco, é limitado. Porém, caso se consolide um mercado livre, o biometano pode ser utilizado especialmente em situações que se deseje mitigar emissões oriundas da queima de gás natural (como na produção de eletricidade), bem como em substituição ao diesel. De qualquer modo, por se tratar de otimização do uso de matéria orgânica já disponível, o mesmo favorece a maximização de receita do setor.

Associado ao biometano, deve-se mencionar, ainda, a possibilidade de captura do CO2 biogênico resultante de sua separação do biogás. É possível purificá-lo para ser comercializado para fins industriais. Tal processo também pode ser realizado na fermentação

do etanol, contribuindo para o biocombustível poder apresentar emissões líquidas negativas, viabilizando receitas adicionais oriundas de mercados de carbono.

Ainda emergente no setor, porém de grande impacto em termos de imagem, tem-se o etanol de origem lignocelulósica (E2G) e pellets. Ambos são derivados do processamento do bagaço que, tradicionalmente, já é utilizado para a geração de força motriz para unidades fabris e geradores de energia elétrica a ser comercializada nos mercados livre e regulado pelas usinas.

No caso do E2G, embora represente fração mínima da produção total, esse possui grande aceitação no mercado internacional dado seu baixíssimo nível de emissões ao se fazer uma análise de seu ciclo de vida. Os pellets, por seu turno, possuem potencial de substituírem o carvão mineral em termelétricas. Ambos os derivados do bagaço estariam fortemente associados ao mercado externo, contribuindo também para redução dos riscos políticos aos quais o setor atualmente se expõe.

O futuro que se vislumbra para o setor, portanto, é de múltiplos produtos – com grande ênfase na bioenergia – e menor risco associado às políticas econômicas domésticas. A transição para o conceito de biorrefinaria implícita na presente discussão, porém, deve se mostrar um processo complexo e demorado. Além de tecnologias ainda em desenvolvimento como, por exemplo, a da produção do SAF e do hidrogênio verde, outras já dominadas sinalizam desafios associados à curva de aprendizado, como se observa no biometano e E2G.

Dado o grande investimento requerido e um esperado longo processo de maturação, o setor deve procurar acelerar – o quanto possível – o início de iniciativas no sentido de diversificação de seus produtos no contexto da economia verde e da transição energética. Tais projetos, contudo, devem ser tocados de maneira gradativa pelos grupos sucroenergéticos, sob pena de não conseguirem gerir os desafios operacionais inéditos que se apresentarão.

De qualquer maneira, a liquidez gerada nas últimas safras, em função de bons preços do açúcar e (até certo momento do passado) do etanol, tem papel fundamental e pode determinar o sucesso no longo prazo dos grupos sucroenergéticos, tanto pelo investimento requerido quanto pela capacidade de suportar as dores naturais do crescimento pela diversificação. n

39
Opiniões Multilingual Edition

o etanol de milho e seus desafios o milho da bioenergia

Estruturar uma expectativa para os próximos 10 anos de um segmento que praticamente não existia no Brasil há 10 anos é, no mínimo, um exercício de sensibilidade, ainda mais, na conhecida conjuntura de incertezas do principal produto, o etanol.

Desde 2017, a produção de etanol de milho no Brasil vem crescendo na média de 60% ao ano, alavancada por grandes protagonistas que absorveram rapidamente as competências de execução de projetos, da tecnologia de produção e dos mercados e, assim, ditaram o ritmo do desenvolvimento do segmento. São grandes projetos, até quando comparados à madura indústria norte-americana.

O desenvolvimento célere registrado, somado às oportunidades de mercado que surgiram e, provavelmente, surgirão, denotam que ainda há energia para impulsos que podem resultar em um crescimento médio acima de 10% ao ano, pelo menos até 2032.

Nesse contexto, este artigo elencará variáveis importantes que determinarão o compasso de desenvolvimento dessa indústria. É um sumário dos principais desafios, ou melhor, das dores de crescimento setorial que exigem e exigirão atenção especial para o próximo ciclo. São eles:

A expansão da oferta de etanol precisa ser sincronizada com o desenvolvimento da demanda. A produção de etanol de milho já é representativa e equivale entre 20 e 25% da produção de etanol do Centro-Sul do Brasil. Isso reforça que entender o tamanho da demanda para absorver o crescimento do segmento é fundamental.

Especialmente, nesse momento de preços de etanol pressionados — com níveis de paridade com a gasolina em patamares bem baixos — a grande questão estrutural é a capacidade do mercado doméstico absorver os volumes adicionais de etanol oriundos do segmento de etanol de milho. Não há como negar que a decisão de um investimento leva, sim, em consideração a condição do mercado no curto prazo e isso é no mínimo razoável. E a safra vigente (23/24) nos mostra como volumes incrementais de etanol (incluindo na entressafra da cana) impactam um mercado tão sensível, mesmo com ótimo preço do açúcar e um razoável preço do petróleo.

Estruturar uma expectativa para os próximos 10 anos de um segmento que praticamente não existia no Brasil há 10 anos é, no mínimo, um exercício de sensibilidade "

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Opiniões Multilingual Edition
Renato Pretti Diretor-executivo do Negócio Milho da Cerradinho Bioenergia ;

o milho da bioenergia

Olhando um pouco mais para frente com otimismo, em um teste de hipóteses em que consideramos uma maior participação do etanol no ciclo Otto em estados onde atualmente a gasolina é bem predominante, chegamos a um potencial de aumento da demanda do Brasil na ordem de 20%. Logicamente, a dinâmica de mercado não é tão linear assim, mas são equações que ilustram oportunidades no país.

A visão otimista ainda desenharia muitos novos mercados a serem explorados, como a exportação para países que estão adotando políticas pró-etanol e/ou a adoção de SAF ( Sustainable Aviation Fuel ), que podem gerar choques de demanda que impactarão significativamente na conjuntura de preços e, consequentemente, no incentivo para novos projetos.

Nesse ambiente, cabe a nós, juntamente com as entidades representativas do nosso setor, trabalhar junto aos legisladores e reguladores para o devido enquadramento do etanol nos programas de descarbonização e nas políticas energéticas.

Novos mercados para farelo de milho, o DDG (Dried Distillers Grains ) são realmente fundamentais.

Em outro exercício prático, quando cruzadas as evoluções potenciais, ao longo do tempo, da oferta e da demanda de DDG no mercado interno — baseando-se no crescimento dos segmentos de etanol de milho e nutrição animal — é possível concluir que não dá para ancorar toda a oferta do farelo na expectativa de que o consumo interno conseguirá comprar tudo durante todos os meses e anos. Logo, é muito importante uma agenda positiva de aberturas de novos mercados, incluindo rotas de exportação.

Soma-se ao desafio da comercialização do coproduto, a eficiência logística, uma vez que a demanda interna é mais dispersa que a produção; além da padronização da qualidade entre as indústrias por uso de níveis tecnológicos diferentes, adequando-se às necessidades dos clientes.

Sem biomassa não tem energia e vapor. Sem energia e vapor não tem etanol de milho.

Algumas regiões com pujança de milho, que em uma primeira análise são adequadas para a indústria de etanol de milho, demandam uma atenção especial para o plano de suprimento de biomassa, inclusive, a ponto de ser um fator determinante na inviabilidade de projetos e, consequentemente, criando barreiras para o crescimento setorial.

42 Q Índice
O etanol de milho já representa entre 20 e 25% da produção

Trazendo para exemplos numéricos aproximados, a cada 1 milhão de toneladas de milho processados para etanol de milho, são necessárias 450 mil toneladas de cavaco de eucalipto (40% de umidade), equivalente a uma base florestal de 13 mil hectares para suportar a ciclicidade da silvicultura. Colocando ainda mais “cor” no exemplo, é praticamente 1 kg de cavaco de eucalipto para cada 1 litro de etanol produzido.

São cifras grandes e representativas que, quando combinadas com o ciclo de seis anos do eucalipto, traz um componente crítico para tomada de decisão de projetos e apetite a riscos. Milho para etanol de milho tem, mas não tem atenção às regionalidades.

Alguns estados e/ou regiões com volumes de produção de milho também podem ser grandes consumidores e, no bottom line, possuem um saldo tímido para a acomodação de novas indústrias.

Como exemplo, temos determinadas regiões dos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul que demandam milho para nutrição animal, etanol de milho e, ainda, são historicamente supridoras de estados deficitários, como São Paulo e a região Sul. Nessas localidades, o balanço de milho é justo, trazendo barreiras competitivas e riscos adicionais para novos entrantes.

Somando às restrições de disponibilidade de milho a oferta de biomassa, reforça-se a importância da atenção à regionalidade na implementação de um projeto de etanol de milho.

O fim dos programas de desenvolvimento e incentivo às indústrias, especialmente nos estados do Centro-Oeste.

Cada estado possui sua política de atração de empreendimentos que, usualmente, são alavancas importantes para a competitividade de projetos, ainda mais com investimentos relevantes.

Considerando que a Lei Complementar n.º 186/2021 estabelece que a concessão dos incentivos fiscais pelos estados será permitida até 2032, é natural que a ausência desse fomento impacte no decremento do ritmo do crescimento setorial.

Concluindo, o etanol de milho, usando toda a força do campo, já é uma vocação brasileira para agregar valor na cadeia produtiva e espalhar desenvolvimento. Os desafios são grandes e não exclusivos apenas à competência das indústrias em executar projetos com eficiência, mas, sim, de debates importantes que passam pelo futuro do etanol, que, certamente, é a melhor opção. n

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Opiniões
produção de etanol do Centro-Sul do Brasil.

mercado de carbono e redução de emissões: o mercado de carbono da bioenergia

custo ou oportunidade?

Há anos, a necessidade de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) tem ganhado notoriedade, direcionando políticas públicas e ações empresariais ao redor do globo. Por um lado, o Acordo de Paris e os compromissos de redução apresentados pelos Países têm demandado uma nova estrutura de governança climática. Por outro lado, as metas corporativas impostas voluntariamente por várias companhias também indicam a necessidade de mecanismos confiáveis de mitigação e compensação de emissões.

É nesse contexto que avançam no Congresso brasileiro iniciativas para a implementação de um sistema nacional de comércio de emissões. Especificamente, a aprovação do PL nº 2148/2015 na Câmara dos Deputados, em dezembro de 2023, trouxe maior notoriedade ao tema, com a proposta de criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE).

Em linhas gerais, o mencionado sistema estabelece teto de emissões de GEE para os setores regulados e um mecanismo para o comércio de créditos de carbono.

A tradicional curva MACC precisa dar lugar a uma curva marginal de lucro associada à menor emissão de GEE. "

Ao estipular esse limite de emissões, cria-se uma dinâmica em que setores mais poluidores precisam buscar tecnologias e processos menos intensivos em carbono, ou compensar suas emissões com a compra de títulos. O modelo é regido pelo princípio do “poluidor pagador”, visando incentivar e orientar os agentes econômicos e o poder público.

A regra prevista exige que as empresas, com emissões acima de 10 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq.) por ano, deverão implementar sistemática para monitoramento e relato anual da sua condição. Para as companhias dos setores regulados com emissão acima de 25 mil toneladas de CO2eq por ano, adicionalmente à necessidade de

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Luciano Rodrigues
FGV/EESP
Diretor
de Economia e Inteligência Estratégica da UNICA e Pesquisador do Observatório de Bioeconomia da

monitoramento e relato, haverá a exigência de conciliação periódica das obrigações no mercado regulado de carbono.

Esse mercado será composto por dois títulos: (1) as cotas brasileiras de emissão (CBE), título adquirido por meio de venda ou cessão realizada pelo Estado e (2) os certificados de redução ou remoção verificada de emissões (CRVE). Cada cota ou CRVE representa uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2eq).

O projeto prevê, ainda, a possibilidade de fungibilidade de créditos de carbono emitidos por outras atividades ou programas, em formato similar àquele já implementado em vários mercados mundiais (ETS europeu, sistema de cap-and-trade da Califórnia, entre outros).

Apesar de, nesse momento, a proposta excluir a atividade de produção primária da agropecuária, a política sugerida impõe a participação no SBCE das agroindústrias que ultrapassarem o limite de emissão previsto. Assim, para a indústria sucroenergética, essa iniciativa se coloca como mais um movimento para reforçar a necessidade de ampliar a produção com menor intensidade de carbono.

A oportunidade trazida pela valoração do carbono já é um fato conhecido desde 2020 pelo setor, que participa ativamente da venda de créditos de descarbonização (CBios).

Trata-se de um mercado que movimentou mais de R$ 7 bilhões até o final do último ano e prevê maior emissão de créditos pelas usinas que comercializam biocombustível com pegada de carbono reduzida.

Na mesma linha, o reconhecimento ambiental do biocombustível, também, já é observado como requisito obrigatório para as empresas que exportam etanol para a Califórnia. Esse vínculo entre a menor intensidade de carbono do etanol e o prêmio de preço obtido, também, está presente no programa japonês de uso de ETBE e na regulamentação em curso para a fabricação de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF).

Para as indústrias em geral, a necessidade de redução de emissões é vista como um custo adicional que deve ser minimizado. Essa lógica inclusive deu origem a uma ferramenta conhecida como Curva Marginal de Abatimento de Carbono (MACC na sigla em inglês) no meio empresarial.

Como pode ser visto na figura em destaque, essa curva representa graficamente a relação entre o custo de implementar medidas adicionais para reduzir as emissões de carbono e a quantidade de emissões evitadas como resultado dessas medidas. Em outras palavras, a curva indica quanto uma empresa teria que gastar para reduzir uma unidade adicional de emissão de carbono diante dos vários projetos possíveis.

Na indústria produtora de bioenergia, entretanto, esse conceito parece ser incompleto e deve ser revisitado pelos administradores das companhias. Para quem vende energia renovável, qualquer valoração do carbono deve ser encarada como uma oportunidade de rentabilizar o negócio e não como um esforço de minimização de custos.

Essa mudança aparentemente simples possui implicações transformadoras na dinâmica das empresas. O que era um tema tratado pelas áreas de sustentabilidade, finanças e controladoria diante do custo a ser minimizado na visão tradicional da curva MACC passa a ser direcionado pelas áreas de sustentabilidade e novos negócios como um investimento para obter maior resultado e acessar novos mercados no futuro.

Em outras palavras, para uma indústria que oferta serviço de descarbonização, a precificação do carbono traz novas possibilidades de resultado. A tradicional curva MACC precisa dar lugar a uma curva marginal de lucro associada à menor emissão de GEE. Essa mudança de perspectiva será fundamental para a consolidação da bioenergia tropical no desafio global imposto pela mudança climática. n

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Projeto 2 Projeto 3 Projeto 4 Projeto 5 Projeto 6 CUSTO DE ABATIMENTO US$/tCO2eq POTENCIAL DE ABATIMENTO tCO2eq
CONCEITUAL DA MACC CURVA MARGINAL DE ABATIMENTO DE CARBONO
REPRESENTAÇÃO
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Projeto 1
Opiniões

a busca pela sustentabilidade no transporte a eletricidade e o gás da bioenergia

A partir da assinatura do Protocolo de Kyoto em 1997, intensificado com a assinatura do Acordo de Paris em 2015, o mundo tem buscado alternativas mais sustentáveis visando à redução das emissões de gases poluentes. No setor de transportes, a eletrificação entrou na moda e essa tese tem sido, cada vez mais, apontada como uma solução viável e promissora por parte da indústria interessada em vender e desenvolver veículos elétricos. No entanto, é importante reconhecer as alternativas já existentes, consolidadas, viáveis e igualmente propícias no quesito ambiental, como o etanol.

Enquanto os movimentos internacionais pela eletrificação avançam e ganham forma, no mercado doméstico o desenvolvimento se dá em ritmo bem menor. A explicação está em desafios como o preço de aquisição e a falta de infraestrutura adequada.

Os veículos elétricos são mais caros e, dada a pouca popularidade, não contam com a diversidade de modelos verifica da naqueles a combustão. A alteração do perfil de consumo da matriz de combustí veis nacional com vistas à descarboniza ção deve considerar as vantagens compa rativas do país, um dos maiores produto res mundiais de biocombustíveis.

Um estudo recente da Stellantis, um conglomerado automobilístico con trolador de marcas, como Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot e outras, demonstrou

“Do poço à roda” um veículo abastecido com etanol no Brasil emite 25,79 kg de CO2 após percorrer 240,49 km, enquanto um 100% elétrico baseado na Europa despeja

que, em termos de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), a descarbonização através do etanol no Brasil é mais limpa do que a eletrificação da frota europeia.

“Do poço à roda” um veículo abastecido com etanol no Brasil emite 25,79 kg de CO2 após percorrer 240,49 km, enquanto um 100% elétrico baseado na Europa despeja 30,41 kg. Nesse sentido, a Stellantis já anunciou que lançará três híbridos nacionais entre etanol e eletricidade, assim como um motor exclusivamente a etanol, a partir de 2024.

O trabalho da Stellantis evidencia a importância de se olhar para além do combustível final utilizado no transporte, considerando também sua origem. O volume de emissões associados a um determinado consumo de energia elétrica é diretamente dependente da matriz elétrica do país onde o veículo será utilizado, podendo ser mais ou menos poluente a depender da principal fonte utilizada na geração.

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Adriano José Pires Rodrigues Diretor-geral do CBIECentro Brasileiro de Infraestrutura

Em regiões como a Europa e a Ásia, onde a energia elétrica ainda é predominantemente produzida por fontes fósseis, como o carvão, o uso de veículos elétricos ainda fica dependente da queima de fósseis, ainda que esse processo ocorra em outra etapa da cadeia.

Outra questão a se considerar, na comparação entre as duas alternativas, é a necessidade de adaptação da infraestrutura existente. Os veículos a combustão, que dominam a indústria de transporte há cerca de 150 anos, hoje, podem ser abastecidos de forma rápida e simples em qualquer posto, ou seja, a logística existente é perfeita. Em uma eventual transição por meio de biocombustíveis, a infraestrutura de abastecimento existente pode ser utilizada em conjunto, sem sequer necessitar de adaptações significativas. Os modelos elétricos, por sua vez, além de demandarem períodos de carregamentos consideravelmente mais longos, dependem de uma infraestrutura de abastecimento que ainda não existe, sendo necessários investimentos expressivos para que se crie uma estrutura de rede funcional.

O valor estratégico dos biocombustíveis fica em evidência quando se fala de economias agroexportadoras, em que culturas de alto potencial energético, como a da cana-de-açúcar ou do milho, são prevalecentes. Em nações como o Brasil, Estados Unidos e Índia, o etanol tem se destacado como uma das melhores alternativas no setor de transporte em termos de redução de emissões de GEE e independência energética.

Vale notar que existem críticas antigas a correlação entre a produção de biocombustíveis e a saúde da agricultura nacional. É inegável a relação intrínseca dos dois segmentos, contudo, a inovação tecnológica tem distanciado gradualmente a competitividade desses setores por área cultivável. Os biocombustíveis de “segunda geração”, como o diesel verde e o etanol 2G, são produzidos por meio de métodos alternativos que reutilizam substratos de diversas atividades econômicas com maior versatilidade e eficiência. O etanol 2G possui a mesma composição química e usos que o etanol de primeira geração, mas a tecnologia implantada na sua produção possibilita aumentar sua produtividade em até 50%, sem aumentar o tamanho da área plantada.

No Brasil, o etanol tem um papel de vanguarda como alternativa aos combustíveis fósseis. O primeiro automóvel movido a etanol do país foi lançado no fim dos anos 1970. Hoje, segundo informações do Ministério de Minas e

Energia (MME), cerca de 80% da frota de veículos leves brasileira é composta por modelos flex fuel. Em cerca de quatro décadas, o uso do etanol proporcionou uma economia de mais de 2,5 bilhões de barris equivalentes de petróleo, equivalendo a mais de dois anos da produção atual de petróleo no país. Calculado nos preços atuais, esse volume representa uma economia de mais de 200 bilhões de dólares e a redução de mais de 1,5 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.

Com décadas de experiências bem-sucedidas, países como Brasil, EUA e Índia têm demonstrado que o etanol não é apenas uma alternativa sustentável eficiente, mas também uma maneira eficaz de impulsionar a economia. Segundo nota conceitual do Sustainable Mobility: Ethanol Talks, hoje, cerca de 70 países ao redor do mundo possuem leis estabelecendo um percentual obrigatório de mistura do etanol com a gasolina, ressaltando o potencial do biocombustível na promoção da mobilidade sustentável. Mesmo com o rápido crescimento no número de vendas de carros elétricos ao redor do mundo, o mercado tem se comportado de forma mais cética. Até mesmo em cidades com infraestruturas mais desenvolvidas, como as da Europa e dos EUA, o uso de um carro 100% elétrico ainda pode ter contratempos.

Diante da força da eletrificação como alternativa de transição, a melhor alternativa para o Brasil é a aposta nos modelos híbridos — movidos a etanol e a eletricidade. Apesar de ser um combustível de baixo carbono, o etanol também tem emissões de CO₂ e outros gases poluentes associados à sua produção, desde o cultivo até a utilização final. Essa realidade segue um padrão no Brasil, onde a maioria das emissões de carbono são oriundas das mudanças do uso da terra pela atividade agrícola. Por isso, o avanço dos modelos híbridos representa uma chance para a redução da pegada de carbono e estímulo aos dois segmentos.

A transição energética, como o próprio nome sugere, é um período em que as estratégias devem ser combinadas para a redução das emissões e não concentradas na eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Nesse contexto, a adoção do etanol como parte integrante da estratégia de transporte sustentável, certamente, desempenhará um papel fundamental na construção de um futuro mais verde e resiliente. Com políticas públicas efetivas e um arcabouço regulatório consolidado, o Brasil pode alcançar a vanguarda e as oportunidades da economia de baixo carbono. n

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a expansão da bioeletricidade e do biogás a eletricidade e o gás da bioenergia

na matriz elétrica brasileira

No início de março de 2024, a fotografia da matriz elétrica brasileira mostra uma capacidade instalada outorgada e em operação no país de 201.880 MW, sem considerar a micro e mini geração distribuída. As fontes renováveis (hidreletricidade, eólica, solar e biomassa) totalizavam 169.559 MW da matriz elétrica, equivalente a 84% do total.

A fonte biomassa em geral (que inclui as diversas biomassas) representa 8,6% da potência outorgada na matriz elétrica do Brasil em março deste ano, com 17.385 MW instalados, ocupando a 4ª posição na matriz, atrás das fontes hídrica, eólica e gás natural.

Já a fonte biomassa da cana-de-açúcar (bagaço/ palha) representava a principal fonte de geração na biomassa, com 12.411 MW instalados em março (71,4% da biomassa em geral), seguida pelo combustível licor negro, com 3.335 MW, e pelos resíduos florestais, com 820 MW.

Ainda, em março de 2024, um total de 23.642 usinas geradoras estava em operação comercial no Brasil, com a biomassa sendo responsável por 637 unidades geradoras (2,7% da matriz elétrica em termos de unidades geradoras).

Das 637 usinas geradoras operando em março deste ano, 422 operavam com bagaço/palha da cana-de-açúcar como combustível principal. Em segundo lugar, 76 unidades geradoras operavam com resíduos florestais e 26 unidades geradoras produzem biogás com resíduos urbanos.

Em 2023, a biomassa instalou 10 unidades geradoras novas totalizando 223 MW, representando 2,2% do total de acréscimo de potência instalada na matriz elétrica por todas as fontes de geração (10.324 MW), bem abaixo da média dos últimos 10 anos anteriores (2013-2022), quando a biomassa teve um acréscimo médio de 691 MW novos a cada ano, conforme levantamento realizado pela Unica, União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, com base em dados da Aneel, Agência Nacional de Energia Elétrica.

As fontes renováveis (hidreletricidade, eólica, solar e biomassa) totalizam hoje, 169.559 MW, equivalente a 84% do total da matriz elétrica brasileira."

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Opiniões Multilingual Edition
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Índice a eletricidade e o gás da bioenergia

A boa notícia é que, para o ano de 2024, a previsão da Aneel é que a fonte biomassa atinja um acréscimo de 1.155 MW, o maior valor desde 2013, com a instalação de 24 usinas geradoras, sendo que uma já entrou em operação em fevereiro (31 MW) e as 23 usinas restantes têm viabilidade alta de entrada em operação comercial neste ano.

Em 2024, prevê-se que a biomassa represente 11% do acréscimo de capacidade instalada no país. Em volume, o recorde de acréscimo anual pela biomassa foi em 2010 (1.750 MW), seguido do ano de 2013 (1.431 MW) e 2009 que acaba empatando com o ano de 2024 (1.155 MW).

Em 2024, a maioria das 23 usinas que entrarão em operação comercial neste ano, totalizando 1.124 MW, terão resíduos agroindustriais como combustíveis principais (categorizados como bagaço/palha de cana, biogás, capim-elefante e casca de arroz).

Serão 16 usinas usando resíduos agroindustriais (seis em São Paulo, quatro em Goiás, duas em Minas Gerais e uma unidade nos estados da Bahia, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Roraima). As demais unidades geradoras terão como combustível principal biomassa florestal (cinco usinas), biocombustíveis líquidos (uma usina) e resíduos sólidos urbanos – RSU (uma usina).

Em termos de MW, as 16 usinas com resíduos agroindustriais instalarão 559 MW novos em 2024 (49,7% do total de 1.124 MW). Em segundo lugar,

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Ano Biomassa Eólica Fóssil Hídrica Solar Total % Biomassa no Total 2025* 240 2.184 2.469 195 5.803 10.891 2,2% 2024* 1.155 4.139 301 160 4.999 10.755 10,7% 2023 223 4.919 992 169 4.021 10.324 2,2% 2022 905 2.912 1.360 375 2.529 8.080 11,2% 2021 754 3.694 1.695 119 1.299 7.562 10,0% 2020 304 1.726 1.931 178 793 4.932 6,2% 2019 219 982 531 4.573 658 6.962 3,1% 2018 141 2.004 449 3.800 768 7.161 2,0% 2017 508 2.156 513 3.290 783 7.250 7,0% 2016 817 2.558 943 5.196 9.514 8,6% 2015 922 2.664 549 2.417 6.552 14,1% 2014 907 2.786 379 3.319 7.390 12,3% 2013 1.431 313 2.612 1.533 5.889 24,3% 2012 917 456 753 1.857 3.983 23,0% 2011 919 498 1.206 1.575 4.199 21,9% 2010 1.750 326 2.013 2.061 6.149 28,5% 2009 1.155 267 1.069 1.065 3.556 32,5% 2008 633 89 611 823 2.156 29,3% 2007 201 10 643 2.468 3.322 6,0% Total 14.100 34.683 21.019 35.173 21.653 126.627 11,1% ACRÉSCIMO ANUAL DE CAPACIDADE INSTALADA NO BRASIL - DE 2007 A 2025 (MW) Q

temos as cinco usinas com biomassa florestal, com 499 MW (44,4% do total), seguidas pela usina com biocombustíveis líquidos, com 57 MW (5% do total), e a usina com RSU fecha a série, com quase 9 MW (0,8% do total).

Contudo, para o ano de 2025, a previsão da Aneel é que a biomassa acrescente apenas 240 MW novos dos 10.890 MW previstos para serem instalados no país (2,2% do total), ficando à frente apenas das hídricas, que instalarão 195 MW (1,8% do total).

Em 2025, a geração solar centralizada será a principal em termos de novos MW, com a previsão de instalação de 5.803 MW (53,3% do total), seguida pela fonte fóssil (2.469 MW, com 22,7% do total). As eólicas ocuparão o terceiro lugar, com 2.184 MW novos (20% do total a instalar pelo país em 2025).

A bioeletricidade e o biogás representam fontes renováveis, não intermitentes e fortemente complementares às hidrelétricas, ajudando na continuidade da expansão das coirmãs intermitentes eólicas e fotovoltaica, na manutenção dos reservatórios das hidrelétricas e na gestão e segurança do sistema interligado.

É importante estabelecermos uma política setorial estimulante e de longo prazo para a bioeletricidade e o biogás. Tal política setorial deve primar por diretrizes básicas, envolvendo o esforço conjunto de agentes públicos e privados, dentre elas avançar com a instituição de mecanismos, nos mercados regulado e livre de energia, que valorizem os atributos locacionais, elétricos, confiáveis, ambientais, econômicos e sociais advindos do uso da bioeletricidade e do biogás.

Além disso, precisamos cada vez mais estabelecer nos instrumentos de planejamento setorial uma visão estruturante e integrada da bioeletricidade e do biogás com os demais produtos da bioenergia na matriz de energia do país (etanol, biometano, hidrogênio, etc.), associada à segurança energética e aos compromissos referentes às mudanças climáticas assumidos pelos diversos níveis de governo no país. n

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Opiniões

biogás:

o eletricidade e o gás da bioenergia energia do futuro?

Os resíduos orgânicos, de forma geral, são um problema ambiental e econômico. Muitas vezes, grandes empresas dos mais diversos setores despendem quantias significativas de recursos para fazerem o descarte correto dos resíduos gerados em suas produções. O biogás é uma fonte de energia sustentável e renovável, obtido através da biodigestão, sendo um processo antigo e bem conhecido. Contudo, ainda é pouco aplicado para fins de tratamento dos resíduos orgânicos e da produção de energia.

A tecnologia pode ser aplicada nos mais diversos segmentos, podendo ser utilizada desde pequenas propriedades rurais a grandes agroindústrias. O processo em si é uma digestão aeróbica da matéria orgânica, resultando em biogás, digestato e lodo, os principais produtos da fermentação. O biogás é formado majoritariamente pelo metano, gás combustível, que pode ser aplicado de forma mais direta, em substituição ao gás de cozinha (GLP).

A biodigestão não é só uma tecnologia limpa, mas, sim, uma tecnologia que limpa. "

Para esse uso, o biogás pode ser empregado diretamente da saída do biodigestor, precisando apenas passar por um processo de limpeza de gases indesejados, como o gás sulfídrico. O biogás purificado resulta no biometano que pode ser utilizado em substituição ao gás natural (GN), uma vez que a sua composição será muito semelhante ao gás provindo do petróleo. Ainda se pode utilizar o biogás para a produção de energia elétrica, sendo essa a principal aplicação atualmente. O digestato e o lodo são excelentes fontes minerais, sendo que sua composição vai depender de qual matéria-prima/resíduo foi utilizado para a geração do biogás, e eles podem ser empregados em substituição aos fertilizantes.

Pesquisadora da Embrapa Agroenergia
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Sílvia Belém Gonçalves

A tecnologia de biodigestão já está bem madura para as grandes plantas que empregam resíduos, para pequenas propriedades, por se tratarem de plantas que não podem dispor de muita tecnologia, já que precisam ser de baixo custo. Ainda há necessidade de estudos que viabilizem um processo mais eficiente na produção do biogás. Também, há a necessidade de pesquisa para consolidação de plantas que utilizem matérias-primas dedicadas. É importante lembrar que, apesar do grande potencial do Brasil para o tratamento de resíduos e produção do biogás, a tecnologia nunca ganhou visibilidade e foi, por muitos anos, negligenciada. Até bem pouco tempo, falava-se de biogás como sendo a tecnologia do futuro. Eu me questionava: por que uma tecnologia secular é apontada como sendo a tecnologia do futuro? E as respostas eram coisas do tipo: não há interesse, ou não se conhecia o verdadeiro potencial dessa tecnologia. Sim, porque não faz sentido um processo que, além de tratar os resíduos, ainda gera renda com a produção de energia e biofertilizante, o que propicia o fechamento completo do ciclo de produção, não ser empregada massivamente em todos os setores.

No Brasil, o emprego da biodigestão está concentrado no setor de saneamento e tratamento de dejetos suínos. O motivo se dá principalmente por razões ambientais. Até bem pouco tempo, não se enxergavam os benefícios de investir em plantas mais eficientes que maximizassem a produção do biogás. Contudo, com o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes, uma demanda crescente por energia limpa e sustentável, o Brasil se voltou para resgatar a digestão anaeróbica. Recentemente, vi uma entrevista de Tamar Roitman, gerente executiva da Abiogás, em que ela afirma que o biogás não é mais uma tecnologia do futuro, mas que já é uma realidade.

Acredito que essa realidade só tem sido possível porque as grandes empresas conseguiram ver o verdadeiro potencial da biodigestão, sobretudo no contexto atual do ponto de vista ambiental, em que buscamos tecnologias mais limpas e mais sustentáveis. A biodigestão, para mim, não é só uma tecnologia limpa, mas, sim, uma tecnologia que limpa. Como mencionado no início do artigo, a quantidade de resíduos orgânicos gerada, seja na indústria ou nas grandes cidades, é gigantesca. Só os resíduos urbanos no Brasil estão na casa de 80 milhões de tonelada/ano.

Se, ao invés de lixões, ou até mesmo de aterros sanitários, esse resíduo fosse tratado por meio do processo de biodigestão, teríamos cidades mais limpas, acabaríamos com os problemas dos lixões e, ainda, seria uma fonte de renda, uma vez que a energia gerada poderia ser usada em prol da população.

Ainda sob o olhar da afirmação da Tamar, e, assim, partindo para os fatos, se hoje o biogás é uma realidade no Brasil, isso se dá principalmente porque a indústria sucroalcooleira tem investido cada vez mais nessa tecnologia para tratar a vinhaça e torta de filtro, gerando mais energia sem perder os nutrientes que já eram incorporados ao solo por meio da irrigação de vinhaça no campo. O interesse desse importante segmento industrial fortalece a biodigestão. É importante lembrar que essa tecnologia foi resgatada, uma vez que já havia se tentado isso no passado. Na década de 80, porém, como já mencionado, o momento era outro. As condições atuais são muito mais favoráveis e as probabilidades de dar errado já nem existem mais. Tornou-se um caminho sem volta.

O investimento do setor sucroalcooleiro no tratamento dos resíduos por meio da digestão anaeróbica ainda tende a se expandir muito nos próximos anos, pois poucas plantas de biodigestão (no setor) estão em construção, menos ainda, já estão em operação, comparadas ao número de usinas de etanol que temos. Ou seja, dentro da própria indústria sucroalcooleira há um potencial enorme para expansão, mas eu vejo além. Imagino que, diante do sucesso que já está acontecendo e com a tendência de ser ainda maior, outros segmentos, como a indústria de láticos, as empresas de produção de sucos, as cervejarias, entre outras, que, comparadas ao setor sucroalcooleiro, são menores, mas juntas geram uma quantidade muito grande de resíduos orgânicos, eles irão reproduzir essa iniciativa, pois os ganhos ambientais são notórios e os ganhos econômicos tendem ser, cada vez mais, mais significativos, uma vez que os produtos, como a energia e o biofertilizante já são tradicionais, mas a tendência de ganhos financeiros com o mercado de carbono tendem a se expandir.

Com certeza, o biogás veio para ficar, ele é uma fonte de energia limpa e sustentável, que não é competitiva com as demais fontes renováveis, visto que a sua principal fonte são os resíduos, sem dúvida, vai agregar mais sustentabilidade à matriz energética brasileira, que já é a mais renovável do planeta. n

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Opiniões

o metano da bioenergia

regulamentação do mercado de biometano

A busca por fontes de energia renováveis e sustentáveis tem sido uma prioridade global, impulsionada pela necessidade de mitigar os efeitos das mudanças climáticas e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. No contexto da indústria sucroenergética, o biometano emerge como uma alternativa promissora que, no entanto, necessita de uma política pública estruturante e uma regulamentação eficaz, garantindo o reconhecimento de seus atributos e a necessidade de descarbonização dos setores chaves do país, como indústria, agricultura e transporte.

O biometano oferece várias vantagens, sendo uma fonte de energia renovável produzida nacionalmente e com preços vinculados à moeda local. Sua tecnologia é madura para aumentar a produção em busca do seu potencial econômico, que atualmente alcança 120 MM³/dia, quase o dobro do consumo nacional de gás natural em 2023. Especificamente no setor sucroenergético, o país possui o potencial de produzir 57,6 MM³/dia, tornando-se o setor com maior potencial de produção de biometano a partir da palha, bagaço, torta de filtro e vinhaça. Apesar de seu potencial ambiental e econômico, o mercado de biometano

Para alcançar seu potencial, é necessária a criação de uma política pública estruturante e uma regulamentação eficaz do mercado. Sem isso, continuaremos a viver como o país do futuro, que não aproveita todas as oportunidades e riquezas de nosso território. "

ainda enfrenta desafios significativos na regulação, na infraestrutura e no reconhecimento de seu atributo ambiental.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) regulamenta o uso do biometano no Brasil desde 2015, reconhecendo-o como combustível intercambiável e equivalente ao gás natural. Tal postura foi ratificada pela Lei nº 14.134/2021, a chamada Nova Lei do Gás. Assim reconhecido, o biometano pode utilizar a mesma infraestrutura de movimentação de gás natural, as mesmas turbinas de geração elétrica e abastecer os mesmos veículos a GNV e GNL.

As especificações para o biometano proveniente de produtos e resíduos orgânicos agrossilvopastoris e comerciais, destinado tanto ao uso veicular quanto às instalações residenciais e comerciais em todo o território nacional, foram reguladas ainda em 2015 e constam hoje na Resolução ANP nº 906, de 18 de novembro de 2022.

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ABiogás, respectivamente
Bruna Jardim e Renata Beckert Isfer Analista
de Regulação e Presidente da
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na pratica. sustentavel,

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o metano da bioenergia

Ao estabelecer especificações claras e rigorosas, assim como procedimentos para a aprovação do controle de qualidade, essas medidas asseguram a confiabilidade e a segurança do biometano produzido a partir de diferentes fontes.

Além das resoluções específicas da ANP, o avanço na regulamentação e promoção do biometano no Brasil também é impulsionado por leis e decretos de âmbito federal. Destaca-se a Lei n.º 13.576/2017, que institui a Política Nacional de Biocombustíveis, conhecida como RenovaBio. Essa legislação estabelece metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para o setor de combustíveis, incentivando a produção e o uso de biocombustíveis, incluindo o biometano, por meio de Créditos de Descarbonização (CBIOs).

A nível estadual, os estados que têm legislações de biometano ou que o biometano é mencionado em suas regulamentações que tratam da injeção do gás na rede de distribuição estadual são Amazonas (Resolução nº 003/2022-Cercon/Arsepam), Amapá (Lei nº 2.656/2022), Ceará (Resolução Arce nº 16/2022), Espírito Santo (Resolução ARSP nº 65/2023), Goiás (Lei nº 20.710/2020), Mato Grosso do Sul (Portaria Agems nº 256, de 07 de dezembro de 2023), Minas Gerais (Resolução nº 34/2023), Paraná (Lei Nº 205/2017 e Lei nº 19.500/2018), Pernambuco (Lei nº 17.641/2022), Rio de Janeiro (Lei nº 6.361/2012), Rio Grande do Norte (Lei nº 11.190/2022), Rio Grande do Sul (Lei nº 15.648/2021), São Paulo (Deliberação Arsesp Nº 1.342/2022).

Todavia, todas essas legislações trazem apenas questões pontuais sobre a regulação do biometano, que até hoje carece de uma política pública estruturante. Nesse sentido, é importantíssima a proposta constante do relatório apresentado pelo Deputado Arnaldo Jardim, relator do Projeto de Lei do Combustível do Futuro, atualmente, em trâmite no Congresso Nacional.

Ele endereça duas questões essenciais ao mercado de biometano: a necessidade de separação do atributo ambiental do seu atributo energético e o incentivo à oferta e demanda, para o setor sair de seu atual impasse no qual produtores, investidores em infraestrutura e consumidores têm interesse no biometano, mas não se articulam o suficiente para o alcance de todo o seu potencial de produção. Por um lado, cria o Certificado de Garantia

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Planta da Geo Elétrica Tamboara, localizada no norte do Primeira planta de produção comercial de biogás em larga

de Origem de Biometano – CGOB, que pode ser comercializado junto ou separado da molécula de metano, endereçando o custo do atributo ambiental àquele que adquirir o certificado. Por outro lado, cria uma demanda obrigatória para o biometano, que deve ser adquirido pelos produtores e importadores de gás natural.

Esse estímulo ao biometano é o que o mercado de gás natural necessita para alcançar sua finalidade de se tornar um mercado líquido e eficaz. Atualmente, a oferta de gás natural ainda é dominada por apenas um agente e a inclusão dos grandes volumes que podem ser produzidos por diversos agentes do setor de biometano trará preços competitivos para o setor.

Além disso, atualmente estudam-se, no âmbito federal, políticas para estimular a neoindustrialização verde, a redução das emissões do setor de transporte pesado e a produção nacional de fertilizantes. É imprescindível que todas essas políticas, ao trazer estímulos para o setor, também contemplem o biogás e o biometano como fonte de energia e matéria-prima.

No que toca à regulação estadual, é importante a criação de um Contrato de Fornecimento Verde, no qual a distribuidora oferece ao mercado cativo a opção de adquirir o biometano, com o valor de seu atributo ambiental embutido, em percentual de sua escolha. Outros temas importantes são a criação de mecanismos para contratos de longo prazo de aquisição de biometano, a viabilização de swap operacional e comercial entre os agentes do setor, a flexibilidade no Ciclo Tarifário para incentivo aos investimentos em biometano e o incentivo ao mercado livre de gás e a padronização e a clareza nas normas que regulamentam a injeção na malha de gasodutos de distribuição.

Hoje, o Brasil aproveita apenas 2% de todo o seu potencial, visto que o país conta com 20 plantas de biometano, sendo 6 plantas autorizadas pela ANP e 14 plantas de autoprodução, com uma capacidade instalada de 985 mil m³/dia. Para alcançar todo o seu potencial, é necessária a criação de uma política pública estruturante e uma regulamentação eficaz do mercado, que trarão diversos benefícios para o setor sucroalcooleiro, para o país e toda a sua população. Sem isso, continuaremos a viver como o país do futuro, que não aproveita todas as oportunidades e riquezas de nosso território. n

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Paraná. larga escala no Brasil, com uma expansão recente.

a porta estreita do refino brasileiro o diesel da bioenergia

Todos aqueles que têm menos de 30 anos devem se lembrar, mesmo que vagamente, das vultosas propagandas governamentais de que em 2006 atingimos a autossuficiência na produção de petróleo, ou seja, de que o volume da produção de petróleo nacional já era igual ou superior ao volume necessário para a produção dos derivados de petróleo demandados pelo mercado brasileiro. Tomando-se como base essa informação, surge a dúvida: por que o Brasil ainda importa alguns derivados de petróleo? Por que somos extremamente dependentes da importação do óleo diesel?

A principal resposta a essas questões encontra-se no conjunto das refinarias brasileiras, do número de plantas, da distribuição geográfica, da capacidade de processamento de petróleo e da complexidade de processo, ou seja, da sua capacidade de transformar o petróleo bruto nos derivados consumidos pela sociedade.

Nas últimas duas décadas, analisando os componentes: produção de petróleo, capacidade de refino e o consumo interno de derivados, percebemos que houve um foco muito grande em ampliar nossa produção de petróleo. Segundo dados da ANP, passamos dos 0,28 para 0,55 milhões de m³ por dia, entre os anos de 2007 e 2023, um aumento de 275%, que consolidou o Brasil como um dos 10 maiores produtores mundiais desta importante commodity.

Por outro lado, a última grande refinaria totalmente concluída e entregue foi em 1980, a Refinaria Henrique Lage (Revap), em S. José dos Campos-SP e, após isso, tivemos 30 anos sem a construção de novas refinarias. Somente em 2010, tivemos a entrada em operação da atual 3R Petroleum, antiga Refinaria Clara Camarão (RPCC) e, em 2014, o primeiro trem da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), ambas com capacidades de processamento muito aquém do adicional necessário para suprir a demanda interna. No painel dinâmico da ANP, constam 19 refinarias, sendo 10 de grande porte. A capacidade de refino nacional é de aproximadamente 0,38 milhões de m³ por dia e está concentrada na região Sudeste (62%), seguida das regiões Nordeste e Sul (18%). Além da maior capacidade de refino, a região Sudeste também possui vasta infraestrutura para movimentação de derivados, criando assim um cluster regional que complementa parte do déficit de outras regiões, realizando movimentações pelos modais rodoviário, ferroviário e de cabotagem.

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Se em 2006 tornamo-nos autossuficientes em petróleo, por que somos extremamente dependentes da importação do óleo diesel? "

Presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis - Abicom

Sérgio de Souza Araujo
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ANOS

Olhando a demanda interna, observamos que, de 2007 até 2023, as vendas de óleo diesel A (puro) subiram de 28 para 55 milhões de m³ por ano (crescimento de 96%) e as de gasolina A (pura) passaram de 13 para 31 milhões de m³ por ano (aumento de 138%), refletindo aspectos macroeconômicos do Brasil, como expansão da fronteira agrícola, recordes em diversas safras, aumento das exportações, vendas de automóveis e outros.

Até aqui temos um retrato do Brasil que investiu na expansão da produção de petróleo e a conjuntura econômica que elevou o consumo interno de derivados de petróleo. Entretanto, os investimentos na atividade de refino ficaram limitados ao atendimento das exigências das novas especificações dos derivados, notadamente àquelas ligadas ao controle de emissões atmosféricas, não havendo lugar para o aumento dos volumes produzidos de derivados.

Grandes e promissores projetos como o COMPERJ (RJ) e as Refinarias Premium I (CE) e II (MA), e a atração de parceiros privados para investirem na expansão da capacidade de refino nacional não avançaram, contribuindo para o Brasil ficar dependente da importação dos principais combustíveis. Desde 2014, na média mensal, são importados cerca de 1 milhão de m³ de óleo diesel A, o que equivale a aproximadamente 20 navios do tipo MR (Medium Range, utilizados para transporte de produtos refinados) aportando no Brasil todos os meses.

Ao olharmos para frente, pelas projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vemos que a necessidade de importação de óleo diesel A irá dobrar no horizonte de 10 anos; passando de aproximadamente 35 mil m³ por dia em 2022 para 52 mil m³ por dia em 2032, ou seja, será necessário que todos os dias um navio do tipo MR aporte no Brasil. Fato decorrente da projeção do crescimento médio do PIB brasileiro em 2,7% ao ano. A produção nacional, no mesmo período, terá um crescimento de apenas 1,2% ao ano, considerando que os investimentos atualmente previstos, como o 2º trem da RNEST, o Polo Gaslub e novas unidades de hidrotratamento, estejam conclusos até 2032.

Ao abastecerem seus veículos movidos a motores diesel, os consumidores colocam nos seus tanques uma mistura do óleo diesel A de origem fóssil e do biodiesel, um biocombustível. Assim, o aumento no consumo do biodiesel decorrerá de dois fatores: o aumento da demanda de óleo diesel B e o incremento do seu teor na

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Q Índice o diesel da bioenergia

mistura obrigatória que será de 14% a partir de março de 2024, com previsão de aumento gradual nos anos seguintes, dependendo de aprovações de qualidade em testes que precisam ser realizados.

Com um reduzido número de usinas produtoras, o Brasil possui uma posição de exportador líquido de biodiesel. Passados quase 19 anos após a inauguração da primeira unidade produtora de biodiesel, esse é o único combustível, fóssil ou renovável, que tem a sua importação vedada. Esse fato é prejudicial aos consumidores, pois o biodiesel é um produto com mandato, ou seja, com consumo obrigatório, oriundo de um reduzido número de produtores nacionais e cujo preço praticado não sofre nenhum tipo de contestação.

Nos próximos 10 anos, o Brasil terá que enfrentar grandes e diversos desafios para garantir o abastecimento de óleo diesel, como a melhoria da infraestrutura dos portos para aumentar as suas capacidades e reduzir o tempo de espera para atracação e descarga de navios, o aumento da disponibilidade de terminais para movimentação de produtos e a infraestrutura para garantir a internação dos volumes importados, haja vista que temos uma grande demanda de óleo diesel no interior do Brasil. Estudo contratado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) aponta que, no cenário base, serão necessários 9 bilhões de reais em investimentos em infraestrutura no setor de combustíveis para atender à demanda do país até 2035. Os desafios no mercado de biodiesel para os veículos do ciclo diesel passam pelo fim da reserva de mercado, permitindo a importação e a inserção de novos biocombustíveis (Diesel Verde e HVO), utilizando novas rotas tecnológicas. Ações que induziriam a realização de investimentos na busca contínua pela melhoria da qualidade e da eficiência na produção e logística pelos produtores e comercializadores de biodiesel.

É preciso compreender que importadores e produtores não estão em lados opostos, como que “disputando um cabo de guerra”. São agentes que possuem características e modos de atuação diferentes. Os produtores atuam transformando matérias-primas em combustíveis de forma perene no território nacional e os importadores atuam identificando os déficits no suprimento e/ou as janelas de oportunidades, sempre visando complementar os volumes dos produtores para atender à demanda. Assim, produtores e importadores atuam juntos para garantir o abastecimento nacional. n

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Opiniões Multilingual Edition

o diesel da bioenergia

biodiesel no Brasil:

desafios e oportunidades

O biodiesel, um biocombustível derivado de fontes vegetais e animais, representa uma alternativa renovável ao diesel de petróleo, contribuindo para a diversificação da matriz energética brasileira. A implementação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) marcou o início da adoção desse combustível no Brasil, estabelecendo diretrizes para uma produção sustentável, inclusiva e competitiva. O programa incentivou a participação de pequenos produtores por meio do selo "biocombustível social" e definiu misturas obrigatórias de biodiesel no diesel, iniciando com 2% (B2) em 2005 e alcançando 14% (B14) atualmente. Há expectativas de aumento para 15% (B15) e, possivelmente, além de 20% nos próximos anos. No ano de 2023, o país obteve recorde de produção do biocombustível, produzindo cerca de 7,5 milhões de m³. Esse progresso reflete melhorias constantes na qualidade do biodiesel, alinhando-se às normas internacionais e garantindo a confiabilidade para os agentes econômicos.

O Brasil se posiciona entre o terceiro e segundo maior produtor mundial de biodiesel, com a capacidade de ascender ao primeiro lugar devido ao seu robusto setor industrial e ao vasto potencial agrícola sustentável. "

O Brasil se posiciona entre o terceiro e segundo maior produtor mundial de biodiesel, com a capacidade de ascender ao primeiro lugar devido ao seu robusto setor industrial e ao vasto potencial agrícola sustentável. O país se beneficia de sua localização tropical, disponibilidade de terras cultiváveis e clima favorável, possibilitando a produção de alimentos e energia sem competição por recursos. A diversidade de espécies oleaginosas nativas e exóticas do Brasil, adequadas a diferentes condições climáticas e de solo, oferece amplas oportunidades para a exploração de matérias-primas alternativas ao óleo de soja, que atualmente domina o mercado de biodiesel, com cerca de 70% da produção.

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Q Índice
Bruno Galvêas Laviola Chefe-Adjunto de P&D da Embrapa Agroenergia

A dependência do óleo de soja apresenta riscos estratégicos, levantando a necessidade de diversificar as fontes de matéria-prima para biodiesel. A diversificação da oferta de matérias-primas em escala é essencial para a expansão do setor, exigindo avanços tecnológicos para aumentar a viabilidade econômica e produtiva. Além disso, há de se considerar a demanda que virá por óleo vegetal e gorduras para a produção dos novos biocombustíveis, como os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) e o diesel renovável.

As perspectivas para o biodiesel nos próximos anos são amplamente positivas, refletindo a conjuntura global de transição energética para fontes mais sustentáveis e renováveis. Com base no contexto apresentado, podemos destacar os seguintes aspectos que moldarão o futuro do biodiesel:

Aumento da mistura obrigatória: Com a previsão de elevação da mistura de biodiesel no diesel para 15% (B15) e discussões para aumentar ainda mais essa porcentagem para além de 20%, espera-se um aumento significativo na demanda por biodiesel. Isso incentivará a expansão da capacidade produtiva e da inovação tecnológica no setor.

Desenvolvimento tecnológico e diversificação de matérias-primas: Sendo um país com grande potencial agrícola, o Brasil possui a oportunidade de desenvolver tecnologias para o cultivo e processamento de oleaginosas além da soja, como a palma-de-óleo, a canola, o algodão, o girassol, o cártamo, a macaúba, entre outras. Isso não apenas aumentará a oferta de matéria-prima para o biodiesel, mas também reduzirá a dependência de uma única fonte, promovendo a sustentabilidade e a resiliência da cadeia produtiva.

Integração com a agricultura sustentável: A produção de biodiesel no Brasil tem o potencial de ser integrada com práticas agrícolas sustentáveis, aproveitando a localização estratégica do país, seu clima e a disponibilidade de terras agricultáveis sem comprometer os grandes biomas nacionais. Isso pode incluir o cultivo de oleaginosas em sistemas de produção que favoreçam a biodiversidade e o uso eficiente dos recursos naturais. Por exemplo, a rotação de culturas pode ser utilizada para alternar entre cultivos alimentares e oleaginosas destinadas à produção de biocombustíveis, enriquecendo o solo e aumentando sua produtividade.

A integração de cultivos com a pecuária em sistemas de iLPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) não só otimiza o uso da terra, mas também contribui para a recuperação de pastagens degradadas.

Políticas Públicas e Incentivos: Para o Brasil atingir seu potencial máximo como produtor de biodiesel, políticas públicas e incentivos serão cruciais. Isso inclui o apoio à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias, à criação de mecanismos de financiamento para produtores e indústrias, e às políticas que promovam a inclusão social e o desenvolvimento regional.

Mercado global e exportação: Com a crescente demanda global por energias renováveis, o Brasil está bem posicionado para se tornar um líder mundial na produção e exportação de biodiesel. Isso exigirá investimentos em logística e capacidade produtiva, bem como esforços para garantir a qualidade e a sustentabilidade do biodiesel brasileiro nos mercados internacionais.

Desafios técnico-científicos e políticos: O desenvolvimento do setor de biodiesel no Brasil continuará a enfrentar desafios, incluindo a necessidade de superar gargalos técnico-científicos, como melhorias no rendimento e na eficiência de processos produtivos e desafios políticos, como a estabilidade de políticas de incentivo e a harmonização de interesses entre os diferentes stakeholders.

Conscientização e aceitação social: A aceitação e a demanda social por biodiesel, como uma alternativa sustentável ao diesel de petróleo, são fundamentais para o seu sucesso. Iniciativas de educação e conscientização podem desempenhar um papel crucial na promoção do biodiesel e na construção de um mercado robusto.

Em resumo, o futuro do biodiesel no Brasil é promissor, com potencial para liderança global, diversificação econômica e contribuição significativa para a sustentabilidade ambiental. Contudo, para que essas perspectivas se concretizem, será necessária uma abordagem coordenada que envolva inovação, investimento e colaboração entre os setores público e privado, além do compromisso contínuo com a sustentabilidade e a inclusão social. Para o Brasil, sem dúvida alguma, o biodiesel é um bicombustível que veio para ficar. n

65 Opiniões Multilingual Edition

o efeito transformador do biodiesel o diesel da bioenergia

Nos últimos meses, o governo federal elencou uma série de ações para avançar na agenda da descarbonização a partir do setor dos biocombustíveis. A sequência de anúncios positivos, de maneira efetiva, pode consolidar o papel do Brasil como líder da transição energética.

Prestes a sediar um evento de proporções globais, a COP 30, o Brasil tem todas as condições de viabilizar até o próximo ano um portfólio invejável no que diz respeito aos esforços para ampliar ainda mais a participação das energias renováveis na matriz energética.

A construção desse cenário já é realidade e só foi possível graças ao esforço conjunto do governo federal, sob a liderança do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do Congresso Nacional e das entidades do setor produtivo, para tirar do papel as medidas

necessárias para viabilizar essa agenda, bem como, para aprovar um marco regulatório sólido para os biocombustíveis, o projeto de lei Combustível do Futuro.

Conforme fala comum no meio político, o uso da expressão “tempestade perfeita” para momentos de grande instabilidade, é possível dizer que o país cria uma tempestade virtuosa para a transição energética, tamanhos serão os ganhos econômicos, sociais, ambientais e de saúde pública para o Brasil e para o mundo.

Pode parecer uma valorização exagerada das potencialidades do país, mas trata-se de uma condição já atestada, inclusive, por organismos internacionais. Em encontro com o ministro Silveira em janeiro, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, reforçou a avaliação da entidade de que o Brasil será líder nesse processo, correspondendo, entre os países emergentes, a 40% do crescimento previsto da demanda global de biocombustíveis. “A razão pela qual estou visitando Brasília é muito simples: acredito que o Brasil, em geral, está entrando em um período sem precedentes da história econômica e política nos próximos dois anos”, disse o executivo.

O biodiesel, como já tem sido provado, será protagonista nesse processo por ser muito mais do que um combustível, dado

Para se ter a dimensão do alcance do Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB), em 2021 mais de 70 mil agricultores familiares foram beneficiados, somando R$ 8,8 bilhões em transações. "

Diretor-superintendente da UbrabioUnião Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene

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seus amplos efeitos sociais e econômicos positivos. O aumento da mistura do biodiesel no diesel, cujo percentual passou em março a ser de 14%, será responsável não só por ampliar nossa segurança energética, mas também por ampliar a quantidade de farelo de soja, agregando valor e competitividade à agroindústria.

Efeitos positivos na saúde, com redução das internações pela diminuição de doenças associadas à poluição, bem como, a diminuição das emissões de gases estufa, também ajudam a entender a motivação desse esforço amplo do governo federal, que captou a premissa de que o biodiesel não é apenas um combustível, mas um indutor de transformações sociais, econômicas e ambientais para o país.

O que nos leva a uma das principais transformações promovidas pela indústria do biodiesel: a social. Grande parte das usinas brasileiras estão distantes dos grandes centros de consumo, o que contribui sobremaneira para levar desenvolvimento econômico e social para pequenas e médias cidades.

E não fica por aí. O biodiesel representa atualmente o maior programa de transferência de renda com recursos privados para a agricultura familiar. Para se ter a dimensão do alcance do Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB), em 2021, mais de 70 mil agricultores familiares foram beneficiados, somando R$ 8,8 bilhões em transações.

Não é por acaso que, no fim do ano passado, o Ministério de Minas e Energia, o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar anunciaram mudanças no Selo Biocombustível Social, ampliando seu alcance para as famílias de agricultores nas regiões Norte, Nordeste e Semiárido. Ou seja, o Executivo está nacionalizando o programa, o que certamente fará a diferença na vida de milhares de pequenos agricultores. Por isso, a evolução desta agenda representa uma janela de oportunidades não apenas para o setor, como para o país. O biodiesel, portanto, se coloca como um instrumento poderoso para o Brasil em termos de política pública.n

Opiniões Multilingual Edition

o plástico da bioenergia

utilização do etanol como

insumo da indústria de plásticos

Os últimos dois séculos trouxeram grandes transformações para a humanidade. A maior, em minha opinião foi, sem dúvida, o fato de o homem passar a viver em grandes cidades, trazendo mudanças significativas no seu estilo de vida e modificando suas demandas. Mas foram as grandes descobertas tecnológicas que possibilitaram a vida nessas grandes metrópoles. A transição da utilização em larga escala do carvão para o petróleo, ao longo do século XX, talvez tenha sido a maior das contribuições para essa mudança no estilo de vida da humanidade. Não podemos esquecer a grande contribuição da energia elétrica, em suas diversas formas de geração.

O processo de industrialização acelerou a urbanização das sociedades, trazendo a necessidade da construção de novas formas de fornecimento de água, transporte, alimentos, energia, saneamento, etc.

No final do século XIX, o carvão e a biomassa eram as grandes fontes de energia para as grandes cidades da Europa, EUA e da Ásia. É nesse período que o petróleo começa a sua trajetória no sentido de tornar-se a maior fonte de energia e importante matéria-prima para aquela nova sociedade. O século XX se inicia com importantes avanços tecnológicos, como a consolidação da geração de energia elétrica em grande escala, o desenvolvimento do fracionamento do petróleo em várias correntes, o desenvolvimento dos motores a explosão e a diesel, entre tantas outras invenções. Destaco a primeira produção de plástico, o “Bakelite”, por Leo Baekeland, em 1909.

O século XX avança e a descoberta de novos produtos sintetizados a partir de derivados de petróleo segue crescendo. Entre 1914 e 1918 ocorreu a primeira grande guerra, acelerando ainda mais a demanda por petróleo e seus derivados. Em 1927 é produzida a primeira borracha sintética: “Buna-N”. Em 1933, a Imperial Chemical Industries, inicia a produção do “polietileno”, dando início ao novo universo dos termoplásticos!

Entre 1939 e 1945 temos a Segunda Guerra Mundial, período triste da humanidade, pelo elevado número de mortos, feridos e incapacitados, entre outros danos, mas que, por suas demandas tecnológicas, no seu fim, trouxe um novo conjunto de produtos para a sociedade. A segunda metade do século XX acelera a transformação da humanidade. O “homem urbano” das grandes metrópoles passa a ter um novo estilo de vida com a demanda exponencial por ;

Várias iniciativas encontram-se em desenvolvimento para a produção de propeno, também a partir do etanol e espera-se a viabilidade econômica dessas rotas para o futuro. "

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Manoel Carnaúba Cortez
Opiniões Multilingual Edition
Membro do Conselho da Impacto Bioenergia
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da bioenergia

transporte, energia, em várias formas, alimentos, saúde, água, etc., isto tudo demandou novos materiais.

Além disso, o “homem rural” passa por grande transformação para poder atender às demandas da nova sociedade urbana. A utilização de novas formas de materiais e energias são incorporadas ao seu novo estilo de vida.

Os combustíveis fósseis, os fertilizantes sintéticos e os novos materiais, principalmente os termoplásticos derivados de petróleo, passam a ter papel fundamental.

O século XX termina com a humanidade tornando-se predominantemente urbana e consumidora de quantidades de materiais fósseis inimagináveis. Os efeitos colaterais dessas demandas aparecem e o aquecimento global, e suas consequências, torna-se o principal deles.

A sociedade do século XXI, por suas destacadas características, tem hoje uma grande necessidade por termoplásticos, que atendam a uma gama imensa de aplicações, desde embalagens para alimentos e bebidas, água e saneamento, transporte, energia, produtos médicos, vestuário, agricultura, etc.

A produção desses termoplásticos, em sua grande maioria, demanda derivados de petróleo ou gás natural, com destaque para os polietilenos, polipropileno e PVC, que juntos representam o maior consumo global e a maior emissão de gases de efeito estufa desse setor, durante a sua fabricação.

A busca por rotas alternativas de produção para esses termoplásticos são pesquisadas há bastante tempo e soluções já têm sido aplicadas em larga escala.

Para a produção do polietileno e do policloreto de vinila (PVC), a matéria-prima básica é o etileno, hoje obtido da Nafta petroquímica ou da fração de etano do gás natural. No entanto, desde a metade do século passado, conhece-se a rota de desidratação catalítica do etanol, que proporciona a fabricação de eteno.

O Brasil já utilizou essa rota, em escala industrial, em duas unidades fabris, localizadas no Nordeste. Na Cia. Alcoolquímica Nacional, em Cabo de Santo Agostinho-PE e na Salgema Indústrias Químicas, em Maceió-AL.

A Salgema, utilizando tecnologia desenvolvida pela Petroquisa, empresa subsidiária da Petrobras, construiu e operou durante cerca de 10 anos uma unidade com capacidade de produção de 120.000 t/ano de eteno, totalmente direcionada para a produção de dicloroetano/PVC.

No início dos anos 90, a rota petroquímica para a produção de etileno tornou-se mais competitiva e essas unidades foram descontinuadas.

Em 2005, já com a população mundial consciente da necessidade de substituição dos produtos fósseis, emissores de gases de efeito estufa, estive numa visita, como integrante da Braskem, a Toyota Motor Company, em sua unidade de desmantelamento do carro Corolla, o veículo de maior produção global naquela época, localizada na cidade de Nagoya, Japão, onde uma unidade foi totalmente desmantelada e seus componentes separados por tipo de material, visando reaproveitamento. Na visita, tomei conhecimento de que o maior desafio, naquele momento, era a substituição de produtos produzidos a partir de matérias-primas fósseis. Foi, então, que lembrei da unidade e do eteno a partir de etanol em Maceió. Voltei com a ideia fixa de produzir eteno a partir de etanol, produto que o Brasil se tornaria o maior produtor mundial.

Junto com colegas, concebemos uma unidade piloto para o desenvolvimento de eteno de alta qualidade, que pudesse ser utilizado nas unidades de produção dos diversos tipos de polietileno (linear, alta densidade, etc.). Um ano após minha visita, tínhamos protótipos de pequenos carros plásticos, feitos com eteno a partir de etanol de cana-de-açúcar!

A Toyota vibrou com o desenvolvimento e apoiou a Braskem no desenvolvimento do projeto em escala industrial. Em 2010, no Polo Industrial de Triunfo, no Rio Grande do Sul, iniciava a produção numa unidade industrial, com capacidade para 200.000 t/ano de eteno, que passaram a ser utilizados nas unidades produtoras de Polietilenos, ali já existentes, tornando a Braskem a maior produtora de Biopolímeros do mundo.

O produto, hoje comercializado globalmente, é um grande sucesso, levando a Braskem a expandir em cerca de 50.000 t/ano a capacidade original da unidade. Assim, a demanda de etanol para a produção de termoplásticos nessa unidade já é superior a 600 mil m³/ano.

Novas fábricas devem ser construídas usando essa tecnologia, como o projeto em andamento na Tailândia. Várias iniciativas encontram-se em desenvolvimento para a produção de propeno, também a partir do etanol e espera-se a viabilidade econômica dessas rotas para o futuro. É o etanol brasileiro na vanguarda ecológica mundial. Daqui a dez anos teremos muito mais plásticos verdes. n

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plástico

Granulados e produtos acabados de materiais plásticos oriundos do etanol de cana-de-açúcar

custos de insumos e fertilizantes e agroquímicos

dependência das importações

O Brasil é um país que dá certo, apesar dos desafios. Conquistamos a posição de um dos países mais importantes na produção mundial de alimentos e de energia renovável, e ainda há potencial para mais. Nós, que somos do agronegócio, nos postamos orgulhosos.

Por outro lado, mantemos em segredo a impressão de que as coisas dão certo "quase sem querer", pois não há um planejamento integrado de longo prazo, envolvendo governo e iniciativa privada, com investimentos definidos para ambos e metas claras a serem perseguidas. Há pouco, reinauguramos o Plano Nacional de Fertilizantes – então, temos um plano? – que foi resgatado principalmente para fazer frente ao iminente desafio apresentado pela guerra na Ucrânia. Políticos, pensadores e empreendedores concluíram rapidamente que, se faltarem os fertilizantes (e o diesel...), não haverá supersafras, nem tampouco super PIB.

A guerra na Ucrânia representou risco forte de produzir caos na economia brasileira. Mas, o risco passou e, agora, temos um plano para executar, sem o estímulo que a guerra traria sobre os preços altos dos fertilizantes e que acabariam por justificar mais facilmente os investimentos necessários para desenvolvermos a produção doméstica.

Haverá esforço governamental e privado sem estímulo sobre os preços? A resposta deve ser positiva quanto aos nitrogenados. Retomaremos os investimentos de maneira robusta, pelo mesmo fator que abandonamos nossas fábricas no passado: o suprimento de gás natural, antes importado e caro, agora parece abundante, com o início da exploração do pré-sal. Ureia e nitrato de amônio resolvem boa parte do desafio de nutrir nossos solos e culturas, e a cana-de-açúcar agradece – a cana, que representa menos de 15% do mercado doméstico de fertilizantes.

Agora, não deveremos ser bons em tudo. Não há reservas conhecidas de fósforo e potássio no país que consigam prover independência, considerando soja, milho, cana e as demais culturas. E, por outro lado, há abundantes reservas de fosfatados no norte da África e de potássio no leste europeu e no Canadá que nos atenderiam por gerações – mais tempo que um plano de longo prazo costuma durar no Brasil.

Teremos que enfrentar riscos. Mas, não faremos sem participação governamental honesta. Não faremos sem participação privada responsável. Poderemos acabar dando certo, apesar dos desafios, quase sem querer. "

Alexandre Menezio Diretor e Fundador da Aliança SCA e da AgriForce

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Entretanto, especificamente para a cana-de-açúcar, o cenário não é ruim. Já há indústrias de biometano em operação – anexadas às indústrias de açúcar e etanol, contribuindo para arrefecer os custos com combustíveis, em substituição ao uso do diesel e para dar robustez à receita, na forma de energia térmica e elétrica.

Além disso, o processo de biodigestão gera resíduos ricos em fósforo e potássio, que podem ser incorporados ao solo, resolvendo boa parte da demanda desses nutrientes. Não resolve o problema do país, mas ajudará a reduzir a demanda brasileira por fertilizantes, colaborando indiretamente numa esperada, mas não certa, redução de preços. Para reforçar o otimismo, nossa indústria já reduziu a demanda por potássio, nas últimas décadas, com o reaproveitamento eficiente da vinhaça na operação de fertirrigação. E quanto aos agroquímicos? Eis outro campo vasto em esperança e soluções eficientes, mas também em burocracia, atraso e riscos. Enquanto, por um lado, nos fertilizantes somos clientes preferenciais de um portfólio "interessante" de países, o que, pela diversidade, ajuda a diluir o risco geopolítico – os principais são Rússia, Bielorrússia, China, Marrocos, países do Oriente Médio, Canadá, Bolívia e outros. Nos agroquímicos, dependemos de forma muito sensível da China, que concentra boa parte dos recursos minerais e matérias-primas necessárias à produção e síntese da maioria dos ativos genéricos (ou pós-patente) consumidos pelo Brasil, EUA, Austrália, União Europeia, Índia e outros clientes relevantes. A Índia está entrando rapidamente no jogo, do lado fornecedor, mas o risco geopolítico ainda é relevante.

De forma geral, as empresas que fornecem agroquímicos, sejam domésticas ou multinacionais, fabricam apenas uma parte do portfólio de produtos que oferecem. Uma parte relevante – cerca de 50% em valor, no caso da cana-de-açúcar – é comprada de fabricantes chineses e indianos e entregue às cadeias locais de distribuição dos países clientes.

Aqui, diferentemente dos fertilizantes nitrogenados, não há plano brasileiro, nem estímulo governamental ou privado. Investir na produção doméstica de ativos genéricos, mas continuar dependente de matérias-primas chinesas não é viável. A relação piora quando se considera as barreiras locais relacionadas à competição desleal de produtos contrabandeados e falsificados, à exigente legislação ambiental e, obviamente, ao custo dos recursos financeiros

necessários para a construção de novas fábricas ou modernização das já existentes.

De certa forma, China e Índia já correram os riscos relacionados à exposição ambiental e à segurança do trabalhador que não suportaríamos correr por aqui. Nossa legislação ambiental e trabalhista é mais exigente e desenvolvida há mais tempo. Assim, esses países conquistaram um nível de competitividade difícil de ser alcançado.

No caso dos ativos patenteados – os outros 50% da história – se repete boa parte dos riscos mencionados, que desestimulam os fabricantes a investirem no aumento da capacidade de fabricação local, mas se somam outros, como a baixa velocidade e a falta de vontade política na aprovação de novas moléculas, mais eficientes e seguras em relação ao meio ambiente, à segurança alimentar e à segurança do usuário.

O cenário, entretanto, carrega alguns vieses otimistas. Há menos de cinco safras, fabricantes renomados de defensivos químicos nos presentearam com uma linha de produtos com externalidades muito positivas, desde o rendimento agrícola proposto até a interação natural com o meio ambiente, a segurança do trabalhador e a segurança alimentar: os defensivos biológicos. Recebidos com ceticismo no início, atualmente os "bioinsumos" vêm conquistando o portfólio dos consumidores, com entrega real de resultados e custo equivalente competitivo – o básico necessário para integrar a estratégia de manejo agrícola dos compradores mais exigentes.

Ainda há desafios a serem superados: os fabricantes se multiplicaram, há incertezas quanto à robustez dos processos de fabricação e a qualidade do produto final e das matérias-primas utilizadas, e há a crença de que é possível produzir bioinsumos "em casa", com eficiência e sem riscos biológicos inesperados. Ainda assim, é um segmento que cresce muito rapidamente e já representa cerca de 7% do mercado da cana-de-açúcar, com chances reais de contribuir para a redução de nossa dependência em relação a outros países.

Em conclusão, para continuarmos no importante time de países supridores alimentares e energéticos globais, teremos que enfrentar essa série de riscos de forma prudente, planejada, organizada e colaborativa. Não faremos sem participação governamental honesta. Não faremos sem participação privada responsável. Poderemos acabar dando certo, apesar dos desafios, quase sem querer. n

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rumo a um futuro sustentável

Prontos para iniciarmos um novo ciclo de colheita e de produção para a safra 2024/25, vivemos, uma vez mais, o dilema da sazonalidade, alternando anos bons com safras excelentes, como foi a de 2023/24, com anos desafiadores, como os que estamos prestes a adentrar. Na maioria das vezes, essa sazonalidade considera fatores climáticos que se alternam ano a ano e cuja previsibilidade está cada vez mais difícil de se acertar. Sendo assim, torcemos para que São Pedro e Deus, brasileiro como é, possam intervir a nosso favor. Anos excepcionais nos trazem recursos para reformas de canaviais, de tratos culturais mais adequados, de ampliação de áreas, de busca por novas tecnologias e financiamento de pesquisas para ampliação de nosso portfólio, entre outras. Entretanto, períodos de vacas magras exigem otimização de gastos, com redução, especialmente, de renovações de canaviais, práticas culturais e, consequentemente, das expectativas para as próximas safras. Um ciclo constante de altos e baixos se estabelece.

Uma estratégia usada por outros elos do mercado é a de agregar valor ao produto final. Ela é fundamental para empresas que desejam se destacar no mercado, atender às expectativas dos consumidores e melhorar sua rentabilidade. Envolve, assim, uma abordagem holística que considera diversos aspectos da produção, qualidade e relação com o consumidor.

Entendemos por agregar valor o processo de transformar um recurso ou insumo inicial em um produto final mais valioso, seja via melhorias na qualidade, na utilidade, ou na percepção do consumidor. O conceito é aplicado em diversas indústrias e setores, incluindo agrícola, manufatureiro e de serviços.

Em mais de 500 anos de história, nossa indústria açucareira, desde o Brasil Colônia, se reinventou e agregou valor. Passamos para a indústria sucroalcooleira, quando introduzimos a produção de álcool em nossas usinas; para a bioenergética, quando nos utilizamos do bagaço e depois da palha da cana-de-açúcar para a produção de energia pela biomassa; para a produção de etanol de segunda geração, de resíduos até então desprezados ou mal utilizados; para a biogás mediante biodigestores; para o plástico verde, entre outras.

Essa agregação de valor envolve inúmeras frentes, como a melhoria da qualidade, os investimentos em inovação tecnológica, a diversificação de produtos, a sustentabilidade ambiental, a personalização e customização, a eficiência na produção, as certificações e as qualificações, a sustentabilidade, entre outras.

Hoje, muito se fala do uso do etanol para outras frentes, como fonte do hidrogênio para mover os carros, como combustível de aviação e de navegação. Todas estas operações abririam um mercado maior que nossa atual capacidade de produção. "

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ampliando o portfólio de produtos da cadeia

É imperativo que nosso setor se reinvente constantemente, focando em novas abordagens para garantir segurança contra as incertezas climáticas e ambientais. Somos especialistas no processo de transformação de energia, e o foco em novas frentes nos trará a segurança necessária para um ciclo virtuoso.

Às vezes, tenho defendido que devemos quebrar o estigma dos 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra. Parece incrível como sempre estamos em volta desse número. Quando o ultrapassamos, como ocorreu na safra 2023/24, que, no ano seguinte, retornamos para algumas casas decimais abaixo desse teto. Romper esse ciclo requer agregarmos valor à nossa cadeia e furarmos essa bolha com investimentos sólidos e permanentes.

Hoje, muito se fala do uso do etanol para outras frentes, que não, apenas, carburante. Podemos agregar valor como fonte do hidrogênio necessário para mover os carros elétricos do futuro (e porque não dizer do presente), ou mesmo para usos mais nobres, como no SAF (combustível de aviação) e até mesmo na navegação, operações que abririam um mercado infinitamente maior, inclusive, que nossa atual capacidade de produção.

Acreditar que essa ampliação do portfólio da cadeia cana-de-açúcar seja o futuro de nosso setor é de crucial importância, mas isso requer uma visão de longo alcance com os pés fincados no presente e na sobrevivência de nossas usinas.

Analisando a história da captura de imagens, por exemplo, percebemos que a evolução partiu de mecanismos primitivos até alcançar câmeras de alta qualidade nos smartphones de hoje. Da mesma forma, antecipar-se ao futuro é essencial para o sucesso. Precisamos visualizar como podemos agregar ainda mais valor à nossa cadeia e expandir nosso portfólio, adaptando-nos às crescentes demandas mundiais e buscando a excelência em nossas práticas.

Se formos pensar no futuro apenas quando ele chegar, estamos fadados ao fracasso. Precisamos antever, imaginar quais as possibilidades de agregar ainda mais valor a nossa cadeia e ampliar nosso portfólio, mantendo em nossas prateleiras uma gama de produtos e subprodutos que possam atender às crescentes demandas mundiais e nos tornar excelentes no que fazemos. Quiçá, assim, conseguiremos romper finalmente o ciclo constante de sazonalidade, ampliando nossos horizontes em direção a um futuro mais sustentável e humano. n

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inserções
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Fechamento: 17 de Abril de 2024

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Educação continuada

Imagine que você descobrisse que o médico com o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na manhã seguinte se formou há 20 anos como o melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade de medicina do País. Muito bom, hein?!

Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu nenhum livro, nem participou de nenhum congresso, nem teve por costume ler regularmente revistas especializadas da sua área médica.

Você faria a cirurgia em paz?

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gratuita

No que se refere a nossa área, quantas tecnologias foram desenvolvidas e implantadas nessas duas décadas como o estado da arte e, depois de algum tempo, substituídas por uma nova opção, muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar da anterior, até ser igualmente substituída por uma mais nova ainda.

Quantas pragas e doenças apareceram, desapareceram, e algumas até voltaram? Quantas técnicas foram substituídas nesses últimos 20 anos?

Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. A faculdade está sempre atualizada, mas tão somente até o dia da sua formatura. Os livros, igualmente, até o dia da sua publicação. As opções que são continuadamente atualizadas são os congressos e as publicações regulares das áreas.

Conhecendo esse cenário e o que passou a representar nesses 20 anos de operação para as universidades, centros de pesquisa e empresas do sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões decidiu abrir inscrições gratuitas para que todos os estudantes de todos os cursos de agroconhecimento, de qualquer parte do Brasil e do mundo, para que passem a receber gratuitamente todas as suas publicações.

O objetivo é fazer com que o estudante, desde o primeiro dia de aula, passe a participar da vida empresarial na qual se integrará, em alguns anos, já com atualizado conhecimento do que está sendo discutido, avaliado e implantado nas empresas. Muitos dos executivos e cientistas que hoje escrevem na Revista Opiniões declararam que liam nossas edições desde quando ainda eram estudantes nas universidades.

Ampliando o projeto de educação continuada, decidimos também abrir as inscrições gratuitas para todos os funcionários das áreas técnicas, agrícolas, industriais e administrativas das empresas produtoras e fornecedoras dos sistemas florestal e bioenergético de qualquer parte do Brasil e do mundo.

Todos os artigos da Revista Opiniões têm áudios e textos traduzidos para 4 idiomas, quais sejam: português, espanhol, inglês e francês.

O acesso à informação dirigida é a mais eficiente forma de unificar e atualizar o conhecimento entre todos os funcionários em cargos de comando, bem como preparar os funcionários em ascensão para assumi-los. Esta é a mais eficaz e natural forma de gerar a educação de forma continuada.

Para se cadastrar na plataforma do programa de "Educação Continuada da Revista Opiniões" e passar a receber regular e gratuitamente as edições de nossas revistas, basta enviar um e-mail conforme especificado abaixo:

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