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Opiniões
entre los Niños e las Niñas
A produção de cana-de-açúcar nos últimos anos vem sofrendo com inúmeras intempéries climáticas. Ora é excesso de chuvas, ora falta, e até mesmo geadas severas, que acabam ocasionando perdas realmente significativas não só ao produtor, mas a toda a cadeia sucroalcooleira. Desde o início da década passada, vemos notando uma maior incidência de La Niña, visto que, de 2010 até 2022, foram registradas 6 ocorrências –10/11; 11/12; 16/17; 17/18; 20/21 e 21/22. Já pra El Niño, foram apenas 3 ocorrências –14/15; 15/16 e 18/19, sendo a La Niña de 10/11 a de maior intensidade do período e o El Niño 15/16, o maior da história. E, em todos os anos quando ocorre La Niña, a região do Centro-Sul tem chuvas abaixo da média, quando se analisa todo o período de safra – agosto a julho. Motivo pela qual o Brasil vinha passando por uma forte crise hídrica, melhorando agora, nas últimas semanas, em boa parte da região Sudeste, devido às chuvas extremamente volumosas que estão ocorrendo. Principalmente nas cabeceiras dos principais rios que abastecem os mananciais da região. E essa maior incidência de La Niña tem um motivo. A ODP (Oscilação Decadal do Pacífico) numa fase negativa.
Essa ODP é um fenômeno de larga escala que ocorre no Oceano Pacífico, que, em média, dura de 25 a 30 anos. E tem fases positivas e negativas, sendo que, em fases positivas – entre as décadas de 1980 e 2000 –, observam-se mais ocorrências de El Niño, e, em fases negativas – entre as décadas de 1950 a 1970 e agora –, tem-se mais La Niña. Assim, mesmo com um avanço da tecnologia e de variedades mais produtivas, as condições climáticas ainda continuam sendo um grande entrave ao aumento de produtividade. Apesar de que, ano após ano, observa-se esse aumento, poderia ser bem maior se não fossem essas intempéries. Além da La Niña este ano, que “tira” um pouco a pressão de chuvas sobre o Centro-Sul, o fato de as águas do Oceano Atlântico estarem também com anomalias negativas desde a primavera de 2021 colaborou para que os corredores de umidade vindos da Amazônia, e, consequentemente, as frentes frias, não ocasionassem chuvas regulares sobre essa localidade do Brasil, vindo a chover bem, principalmente em São Paulo, berço do setor no País, somente no final de janeiro, quando essas águas voltaram a se aquecer, possibilitando, assim, que os corredores de umidade ficassem mais posicionados sobre São Paulo, norte do Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. No entanto, em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, as chuvas estão muito mais intermitentes, vindo a atrapalhar os tratos culturais e, até mesmo, o pleno desenvolvimento dos canaviais, visto que os vários dias seguidos com
as chuvas deverão se estender até meados de abril, mantendo, assim, uma condição bastante favorável ao desenvolvimento dos canaviais e permitindo que a colheita se inicie já no final de março, ganhando forças ao longo do mês de abril. "
Marco Antonio dos Santos Agrometeorologista e sócio-fundador da Rural Clima
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