O novo desenho da produção da cana e do milho - OpAA71

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um ano realmente desafiador Quando começo a escrever este artigo, vejo notícias incessantes sobre grandes chuvas, com enchentes, rios subindo 9-10 metros do seu leito, milhares de pessoas e negócios, plantações e animais de criação diretamente afetados, com a necessidade de deslocamento. Muitos perderam tudo, literalmente tiveram suas raízes arrancadas, inclusive as suas vidas... A maioria das pessoas, vendo essas notícias, ficam surpresas, como se a natureza (do clima, do regime dos rios) tivesse de ter limites, como se nós, humanos, parecêssemos ter falhado no controle dos rios, do clima. Como se nós não fôssemos parte da natureza e, ainda, sem entendermos direito como a vida (a nossa e de toda a biosfera) funciona, não tivéssemos nenhuma responsabilidade nesses eventos, ou que a natureza fosse como nós, controláveis. E o que isso tem a ver com o tema do nosso artigo? Tudo a ver. Tivemos, na região de produção agrícola, uma seca maior do que nos últimos 90 anos. Ninguém duvida, agora, que os eventos extremos do clima, mesmo por aqui, onde temos tantas vantagens, estão cada vez mais frequentes e intensos. Na nossa tendência humana de controle e simplificação, ficamos cada vez menos robustos, reduzimos nossas redundâncias, e isso na busca do ótimo, ou seja, do menor custo, no

atendimento imediato da demanda, no atendimento dos requisitos dos clientes em qualidade e estabilidade do fornecimento, em qualquer lugar do mundo. Nada errado nisso. No entanto, eliminar redundâncias, por exemplo, ter vários tipos de variedades aptas num determinado ambiente de produção ao invés de só uma, a “melhor”, ou controlar as pragas e doenças só com o melhor produto químico, ou, ainda, usar muito do mesmo adubo para “equalizar” os ambientes de produção, de forma a ter mais ou menos a mesma produtividade em regiões diversas, tudo isso reduz a nossa robustez, principalmente num ano desafiador como o de 2021. Redundância e robustez significam, por exemplo, ao invés de usar o solo só como suporte para as nossas plantas (especialistas e não generalistas) obterem a água e nutrientes, construir o solo, ou, se quiserem, regenerar o solo (como um ambiente ativo, vivo, em evolução), pois todas as nossas terras agricultáveis foram originalmente florestas, com grande produtividade e abundância de água (armazenada no solo), que se mantêm, apesar de ter havido grandes secas e enchentes. Observe que, ao longo dos rios, cheios de meandros e sujeitos a inundações e secas, há centenas ou milhares de espécies de árvores e gramíneas, que, de uma forma integrada com toda a biodiversidade (bactérias, fungos, insetos, minhocas, répteis, pássaros, mamíferos), estão ativamente se adaptando a esse ambiente, naturalmente variável.

... temos a cana-energia, que tem maior produção de biomassa (mais palha e mais matéria orgânica no solo), e até algumas variedades têm rizomas, que aumentam drasticamente o carbono (matéria orgânica) no solo e permitem mais de dez cortes, com produtividades crescentes. "

Jaime Finguerut Consultor do ITC - Instituto de Tecnologia Canavieira

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