O novo desenho da produção da cana e do milho - OpAA71

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efeitos do estresse hídrico na cana-de-açúcar Nos últimos anos, o setor sucroenergético tem exibido uma competente expansão territorial por todo o País, o que tem propiciado o cultivo da cana-de-açúcar em ambientes mais restritivos, que, além de apresentarem baixa fertilidade natural, exibem chuvas irregulares, muitas vezes inferiores à necessidade mínima da cultura, que gravita em torno de 1200 milímetros anuais bem distribuídos. A água é considerada um solvente universal, que atua como veículo para as constantes trocas de solutos que ocorrem de maneira contínua nos organismos vivos. Também participa ativamente das reações de fotossíntese, respiração, divisão celular, dentre muitos outros processos metabólicos vitais. Porém, quando as plantas, principalmente as mais jovens, são expostas ao estresse hídrico, inúmeras reações são desencadeadas, provocando diferentes respostas fisiológicas nos tecidos e órgãos vegetais, conforme demonstrado na figura em destaque. A espessura das setas ilustra a magnitude dos processos. À medida que o potencial hídrico diminui, a planta se desidrata ainda mais, levando ao acúmulo de ácido abscísico e a demais solutos na planta, o que prejudica a abertura dos estômatos, poros que funcionam como local de entrada de gás carbônico, diminuindo a fotossíntese. A condutância, que representa a passagem de gás carbônico pelas fendas estomáticas, também diminui, impactando a formação de carboidratos pela planta. Enfim, sob déficit hídrico, principalmente acentuado, fenômenos como fotossíntese e expansão celular são duramente prejudicados.

Na cana-de-açúcar, é importante destacar que, após o plantio das mudas ou o corte dos colmos por ocasião da colheita, é iniciado o crescimento e o desenvolvimento das raízes e da parte aérea das plantas, a partir do intumescimento das gemas presentes nos segmentos do caule. Essas brotações são alimentadas pelas reservas nutritivas encontradas no material de origem, até que ocorra a autossuficiência nutricional do complexo vegetativo. Dessa maneira, é fundamental que a planta emita uma quantidade de folhas capaz de garantir um adequado suporte fotossintético para a produção de fotoassimilados, fundamentais no decorrer do ciclo de vida vegetal. Sendo assim, havendo umidade, mais gemas presentes abaixo do solo, e que estão contidas no rizoma, também brotarão. Por outro lado, havendo falta de umidade, essas touceiras passam a exibir um menor perfilhamento, quando comparadas com aquelas plantadas no período de maior disponibilidade de água no sistema solo-planta. Ainda, sob restrição hídrica, as raízes têm menores condições de formação e expansão, o que vai ser refletido na absorção de nutrientes, peças fundamentais para o cumprimento das incontáveis atividades funcionais. Nesse sentido, por muitas vezes, as unidades sucroenergéticas e os fornecedores da matéria-prima são obrigados a irrigar as lavouras; caso contrário, correm o risco de ter que renovar precocemente os canaviais.

quando as plantas, principalmente as mais jovens, são expostas ao estresse hídrico, inúmeras reações são desencadeadas, provocando diferentes respostas fisiológicas "

Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo Professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas da Unesp de Dracena

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