O mercado mundial do açúcar e do etanol

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Opiniões

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www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

SUCROENERGÉTICO: cana, milho, sisal, açúcar, etanol, biogás e bioeletricidade

ano 18 • número 68 • Divisão C • Mai-Jul 2021

o mercado mundial do açúcar e do etanol


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Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões



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índice EDITORIAL DE ABERTURA: 08. Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias Ministra do Ministério da Agricultura

PRODUTORES: 14. Alexandre Zebulun Ades, Raízen 18. Helder Luiz Gosling, São Martinho 22. Ricardo Busato Carvalho, BP Bunge Bioenergia 28. Henrique Penna de Siqueira, Jalles Machado

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ENTIDADES: 30. Eduardo Leão de Sousa, Unica 34. Pedro Robério de Melo Nogueira, Novabio 36. Guilherme Linares Nolasco, Unem 40. Antonio de Padua Rodrigues, Unica ESPECIALISTAS: 42. Plinio Mário Nastari, Datagro e do Ibio 46. Arnaldo Luiz Corrêa, Archer 48. Luiz Silvestre Gomes Coelho, Sucden 50. Nicolle Alves Monteiro de Castro, S&P Global Platts 53. Lígia Heise, StoneX 56. Thiago Callegari Leme Duarte, BTG Pactual 60. Aurélio Cesar Nogueira Amaral, RSA 62. Leandro Alves Almeida, Logum 65. Helvio Rebeschini, DO & UP 68. Haroldo José Torres da Silva, Pecege da Esalq-USP 71. Alexandre Landgraf Fernandes Alves, Explante

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Sua próxima viagem de carro Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada, folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente terá ouvido toda a revista. Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, lido com voz nativa, localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir. Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês, em espanhol, em francês e em alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições.

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É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto. O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa. Boa leitura ou boa audição, como preferir. ARTICULISTAS DESTA EDIÇÃO: 01. Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, MAPA 02. Alexandre Zebulun Ades, Raízen 03. Helder Luiz Gosling, São Martinho 04. Ricardo Busato Carvalho, BP Bunge Bioenergia 05. Henrique Penna de Siqueira, Jalles Machado 06. Eduardo Leão de Sousa, Unica 07. Pedro Robério de Melo Nogueira, Novabio 08. Guilherme Linares Nolasco, Unem 09. Antonio de Padua Rodrigues, Unica 10. Plinio Mário Nastari, Datagro e do Ibio 11. Arnaldo Luiz Corrêa, Archer 12. Luiz Silvestre Gomes Coelho, Sucden 13. Nicolle Alves Monteiro de Castro, S&P Global Platts 14. Lígia Heise, StoneX 15. Thiago Callegari Leme Duarte, BTG Pactual 16. Aurélio Cesar Nogueira Amaral, RSA 17. Leandro Alves Almeida, Logum 18. Helvio Rebeschini, DO & UP 19. Haroldo José Torres da Silva, Pecege da Esalq-USP 20. Alexandre Landgraf Fernandes Alves, Explante

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editorial de abertura

doce cana, etanol limpo

Recentemente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, lançou a coletânea dos fatores de emissão e remoção de gases de efeito estufa (GEE) na agricultura e na pecuária brasileira, com estudos de cerca de 400 pesquisadores. São informações e indicadores sobre a redução das emissões provenientes da produção. Dados que irão auxiliar na definição de novas políticas públicas, mas que deixam clara a preocupação do setor – e não é de hoje – pela sustentabilidade. Muitas mudanças ocorreram nos últimos anos nos sistemas de produção agrícola para a redução das emissões de gases de efeito estufa. E um dos exemplos dessas alterações está no setor da cana-de-açúcar, uma gramínea que, devido à necessidade de condições climáticas adequadas, tem nos trópicos sua melhor condição de desenvolvimento. São vários os estudos que apontam os avanços do setor na produção sustentável. Entre eles, por exemplo, o impacto da alteração do sistema de colheita da cana queimada para a cana crua. Verificou-se, nesse caso, que, sem considerar o sequestro de carbono do solo, a conversão da colheita manual queimada para a mecanizada crua consegue reduzir cerca de 310,7 kg CO2 eq ha-1 ano-1. Além disso, considerando-se um potencial sequestro de carbono no solo de 320 kg CO2 eq ha-1 ano-1 em áreas cruas, a conversão do sistema de colheita sob queima para

colheita crua evita uma emissão equivalente de 1.484 kg CO2 eq ha-1 ano-1. Esses estudos detalham resultados para diversas realidades e biomas e mostram a importância de continuar investindo recursos para a pesquisa relacionada às estratégias de mitigação de GEE. A inovação também tem contribuído em outros fatores que estão sendo observados de perto pelo MAPA, como a adoção crescente de ações sustentáveis no setor pelo uso de bioinsumos; práticas de controle biológico; mensuração da mitigação de GEE; superávit de carbono nos processos produtivos de cana; aumento dos créditos de carbono e rentabilização do produtor com o RenovaBio. Além disso, verifica-se a ampliação de ferramentas e tecnologias de agricultura digital, com uso de sensores, drones, robôs e aplicações suportadas na inteligência artificial, o aumento de ativos derivados da cultura da cana (enzimas, açúcares especiais, biomassa, plásticos biodegradados, novos alimentos, biofilmes) e o movimento crescente de AgTechs (startups) atuando antes, dentro e fora da porteira. A lei do agro trouxe também importantes modernizações no mercado de crédito do agronegócio e, dentre os setores impactados favoravelmente, o dos biocombustíveis se destaca. Isso porque as Cédulas do Produtor Rural - CPR, que somente podia ser emitida pelos agricultores, se viabilizou também para a agroindústria.

Outra questão bastante importante é a definição da mobilidade do transporte. O Brasil deve buscar sua própria identidade nesse quesito. A proposta de eletrificação da frota de veículos, sem considerar a forma como essa energia é gerada, não tem qualquer lógica. Não faz sentido considerar sustentável um carro elétrico em um país onde a geração de energia é baseada em fontes não renováveis (carvão, derivados de petróleo, gás natural, entre outras).

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Opiniões Assim, todo o setor sucroalcooleiro passou a contar com esse instrumento para captar recursos para giro e investimento. Além da CPR, que também passou a poder ser emitida em moeda estrangeira, os títulos do agro, como o CRA, foram aperfeiçoados. O certificado, que ganhou também a emissão em moeda estrangeira, poderá ser registrado no exterior, solucionando a questão da tributação da variação cambial sobre o principal, algo que dificultava a captação de recursos externos para o setor. Como resultado dessas modernizações, usinas de biocombustíveis já começam a operar esses novos títulos, principalmente nos mercados de capitais, abrindo novas alternativas de funding para o setor. São novos caminhos para o setor, atenuando os problemas que ainda afetam a produção e o comércio, como as restrições de alguns países à importação de produtos (especialmente o açúcar) de modo a preservar sua indústria de transformação. As restrições ao livre comércio são vistas com mais intensidade na União Europeia e Estados Unidos, que impõem cotas para importação do produto, além de outros países que estabelecem pesadas alíquotas de importação. A questão é tão séria que o açúcar é o único produto que não está integrado no Mercosul.

Em outra frente, há países que subsidiam sua produção e exportação. Há bem pouco tempo, o Brasil abriu um painel para investigar subsídios às exportações da Tailândia concedidos por aquele governo. Recentemente, acionou os mecanismos de averiguação da OMC visando estudar se os subsídios concedidos aos produtores de açúcar da Índia estavam amparados nas regras do comércio mundial. Resta, então, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em articulação com o Ministério das Relações Exteriores, buscar a derrubada de barreiras, tarifárias ou não, ao livre comércio do açúcar. Quanto ao etanol, o Brasil é líder mundial, primeiramente, como aditivo à gasolina automotiva. Data dos anos 1930 a experiência brasileira quando se determinou uma mescla entre zero e ; 5,0% de adição do etanol ao combustível fóssil.

Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias Ministra do Ministério da Agricultura

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editorial de abertura Essa política foi tão exitosa que, atualmente, adicionam-se 27% de etanol à gasolina. Na outra ponta, tem-se também o uso do etanol como combustível a ser utilizado diretamente nos motores, política implementada em resposta ao 1º choque do petróleo no início dos anos de 1970. O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) não teve, no seu decorrer, caminho fácil. Nos inícios dos anos 1990, em decorrência da falta localizada do etanol nos postos de revenda, o programa passou por grande descrédito. A produção de veículos exclusivamente a etanol sofreu um baque. Dos quase 95% de produção de veículos a etanol, viu-se despencar para quase nada nos anos seguintes. Naquele momento, a previsão era de que o uso do etanol como combustível estava fadado ao desaparecimento. Somente com o advento da tecnologia dos veículos flex (que utilizam qualquer percentual de mistura de etanol e gasolina, ou mesmo etanol puro) é que se voltou a acreditar no uso do etanol diretamente nos motores. Transferiu-se a decisão de utilizar o combustível renovável, saindo das mãos dos produtores para as mãos dos consumidores. Esta expertise brasileira (uso do etanol como oxigenante ou como combustível) vem há um bom tempo atraindo atenção de vários países. Podem ser citados os Estado Unidos, que, há pouco mais de 10 anos, buscaram incentivar a mistura de etanol (hoje na proporção de 10%) à gasolina e tornaram-se os maiores produtores e consumidores de etanol do mundo, utilizando cerca de 60 bilhões de litros do produto por ano. Diferentemente do Brasil, a produção americana de etanol tem como matéria-prima o milho. No caso da União Europeia, a cautela tem sido muito maior. Pela sua condição climática, os países que compõem aquele bloco econômico estão reticentes no incentivo a qualquer programa em maior escala de uso de renováveis à sua matriz fóssil. Além disso, diferente do Brasil, que detém área mais que suficiente para a expansão da produção de etanol, sem impacto na produção de alimentos, no caso dos europeus, a questão da produção de alimentos versus a produção de biocombustíveis é muito mais acentuada. Com a adesão do Brasil ao Acordo de Paris, há a necessidade de se reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. O setor de transporte é, com certeza, um dos grandes poluidores. Por isso, os programas de uso de biocombustíveis na matriz de transporte (o uso dos combustíveis renováveis no ciclo

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Opiniões Otto, e superior ao uso de combustível fóssil) são, certamente, a melhor resposta que o Brasil pode dar nesse sentido. O País precisa é manter seu programa de adição de etanol (renovável) à gasolina automotiva (fóssil), com o uso do combustível chamado de 1ª geração, e incentivar pesquisa e inovação na obtenção de processos mais eficientes e mesmo com o uso de outras matérias-primas ou subprodutos, como palha e bagaço da cana (o chamado etanol de 2ª geração). Como forma de incentivo (sem qualquer tipo de subsídio ou subvenção), foi lançado, em 2017, o programa brasileiro de uso de biocombustíveis, o chamado RenovaBio. A sustentabilidade é estimulada em todo o processo produtivo, do campo até o consumo final. As indústrias de biocombustível (aquelas que desejarem participar do programa) deverão certificar seu processo de produção, pontuando cada unidade de acordo com a sua eficiência. Com essa pontuação, os produtores poderão emitir Certificados de Descarbonização (chamados de CBios) a serem comercializados em bolsas e assim, obter ganhos maiores com seus produtos. Como o processo é dinâmico, a cada instante haverá competição entre as empresas produtoras, no sentido de, a cada passo, melhorarem seus processos produtivos. Outra questão bastante importante é a definição da mobilidade do transporte. O Brasil deve buscar sua própria identidade nesse quesito. A proposta de eletrificação da frota de veículos, sem considerar a forma como essa energia é gerada, não tem qualquer lógica. Não faz sentido considerar sustentável um carro elétrico em um país onde a geração de energia é baseada em fontes não renováveis (carvão, derivados de petróleo, gás natural, entre outras). O Brasil tem a opção de utilização de etanol como matriz geradora de energia por meio de uso das células de combustível (produz a energia no próprio veículo). Assim, o País utilizaria sua vasta rede de postos de abastecimento de combustíveis (mais de 40 mil) para utilizar o etanol e movimentar esses veículos. Na visão do Ministério da Agricultura, o Brasil não pode prescindir do uso dos biocombustíveis, principalmente o etanol e o biodiesel. Ambos são vetores de desenvolvimento tecnológico e social, de geração de emprego e renda. Não apenas para os produtores de matéria-prima, mas principalmente para a agroindústria nacional. n

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Aqui não tem Agora também para adensamento de 4 ruas em espaçamento alternado.

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milagre, tem tecnologia ! 3

O que pode ser mais agradável para um produtor do que ouvir a seguinte frase: " Você pode dobrar a sua produção e baixar seus custos pela metade " Essa é a solução ideal para áreas com produtividade abaixo de 60 toneladas por hectare. A lógica é muito simples. A operação é aplicada em ruas alternadas. O equipamento faz o corte da cana de ambas as ruas e empurra a cana cortada para as duas ruas laterais. O trabalho a ser feito pela colhedora passa a ser: cortar da rua que ainda está de pé e recolher, na mesma operação, a cana já cortada pelo equipamento CORT-I-CANA, que recebeu o apelido muito próprio de "engordador de rua".

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Esta operação reduz o trabalho da colhedora pela metade, colocando o dobro da cana no elevador. Outra vantagem: para fazer o posicionamento de retorno, a colhedora passa a ter um raio de curva 3 vezes maior, reduzindo o número de manobras, o tempo, a complexidade dos movimentos e o pisoteio. Em função da sua produtividade, um "engordador " atende a duas colheitaderas. Assim, seu uso dobra ou triplica a massa de cana colhida. O CORT-I-CANA, copia o relevo do solo – independente da ação do operador – permitindo corte bem rasos, e auxilia na abertura de aceiros de colheita evitando o esmagamento da cana. O TCH limite para adensamento passa a depender da capabilidade da colhedora, pois a mesma passará a enfrentar um canavial com TCH dobrado. O uso de tratores com piloto automático facilitará sobremaneira a operação em áreas georeferenciadas. Temos agora também uma opção para o adensamento de 4 ruas em espaço alternado. O que você acha da ideia de ligar agora para a FCN e pedir uma visita? Se desejar se adiantar, solicite o envio de uma Planilha de Pay-back pelo e-mail Felix@fcntecnologia.com.br. Agora, aperte o botão do Play da página ao lado e assista ao vídeo que mostra a CORT-I-CANA em ação. Aguardamos seu contato.


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produtores

Opiniões

o etanol como fonte de

descarbonização no mundo

A cana-de-açúcar e o Brasil têm um relacionamento de longa data. O sucesso e o desenvolvimento do mercado global da commodity estão entrelaçados com o crescimento da economia brasileira desde o início da colonização do País, no século XVI. Nativa do sul da Ásia, a cana-de-açúcar encontrou aqui no Brasil as condições perfeitas para seu cultivo: solo fértil, sol quente e chuvas abundantes. Mais do que isso, a cana é inovadora desde sempre: ela tem em sua essência a capacidade de absorção de carbono, funcionando como uma placa solar natural, que tem, no etanol, um biocombustível limpo e eficiente. Uma planta com inúmeras aplicações, mas, antes de tudo, renovável. Sempre tivemos na cana-de-açúcar uma fonte importante da nossa economia. A partir dela, produzimos e oferecemos produtos essenciais ao redor do globo: o açúcar para alimentar as pessoas; o etanol para movimentar os veículos; e, agora com a pandemia, o álcool como fator sanitário importantíssimo no combate à Covid-19.

Em média, considerando emissões totais, desde a produção da fonte energética; um veículo abastecido exclusivamente com etanol de cana emite 84g de CO2/km rodado, enquanto um veículo elétrico emite cerca de 126g de CO2/km. "

Alexandre Zebulun Ades Head Trader da Raízen

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Responsável por cerca de 40% da produção mundial de açúcar, com a valorização do dólar e uma demanda em alta, puxada principalmente por países como Indonésia, China e Estados Unidos, o Brasil praticamente se isola na liderança do mercado, oferecendo um produto de alto valor agregado e muito cobiçado. Se, por um lado, o mercado internacional demanda por mais açúcar brasileiro, ele também está sedento pelo etanol de cana-de-açúcar produzido aqui. Com a implementação do Proálcool na década de 1970, rapidamente o Brasil se firmou como um dos mais importantes fornecedores de etanol no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Mesmo assim, somos o maior produtor de etanol feito a partir da cana-de-açúcar, um produto mais sustentável devido ao nível de intensidade de carbono mais baixo do que o etanol americano, feito de milho. E é a partir da eficiência e do seu DNA sustentável que a cana brasileira atrai a atenção da Europa e de países como a Índia e o Reino Unido – e especialmente a Califórnia, nos EUA -, que já notaram o potencial do biocombustível desenvolvido por aqui. Somos um dos países que mais investem na criação e na adoção de melhores práticas de cultivo e temos a tecnologia de aperfeiçoamento do uso de subprodutos da cana para produção de etanol celulósico,


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produtores oferecendo a esses mercados um produto de alto valor agregado e que representa uma alternativa limpa e sustentável para mitigar os impactos provocados pelas mudanças climáticas. É apostando no etanol que o Brasil tem a chave para liderar a transição mundial para a economia de baixo carbono. Catalisador importante para apresentar o etanol como plataforma eficiente e limpa para o urgente processo de descarbonização da economia global, o RenovaBio foi formatado como política governamental que impulsiona o mercado do etanol e incentiva investimentos na produção de fontes energéticas mais sustentáveis. E, mesmo sendo iniciado em meio aos desafios da pandemia, o programa finalizou seu primeiro ano com 97,6% da meta cumprida. O excelente resultado reflete o engajamento da indústria na busca por energia limpa. Outros programas que incentivam a descarbonização estão em discussão em todo o mundo, e a implementação precisa ter caráter urgente por todos os países. O sucesso dessas iniciativas será conquistado a partir do apoio e da participação do setor produtivo e da sociedade, a exemplo do que foi feito com o RenovaBio, que impulsiona o consumo de etanol como combustível para o mundo que precisa se movimentar de forma mais sustentável. Com um consumo ascendente, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar já nasce competitivamente mais sustentável e é uma solução eficiente para a substituição de combustíveis fósseis, como a gasolina. Dependendo da matriz elétrica, os veículos movidos a etanol podem emitir menos CO2 do que veículos elétricos. Em média, considerando emissões totais, desde a produção da fonte energética, um veículo abastecido exclusivamente com etanol de cana emite 84g de CO2/km rodado, enquanto um veículo elétrico emite cerca de 126g de CO2/km. Isso se a fonte de energia utilizada for mais limpa, como a obtida a partir de usinas hidrelétricas, como é majoritariamente no Brasil. Em países com fontes elétricas menos renováveis, como o carvão, por exemplo, a emissão de um veículo elétrico pode chegar a 210 g de CO2/km. A baixa emissão de CO2 da cana começa desde seu cultivo, já que a planta captura CO2 durante seu crescimento. Quando o etanol é queimado no veículo, o CO2 já capturado retorna para a atmosfera. Mas o ciclo da cana não acaba aí. Nos parques de bioenergia da Raízen, os resíduos da cana, que antes eram descartados, se transformam em energia em grande escala gerada a partir de subprodutos como o bagaço e a linhaça.

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Opiniões Com base em uma economia circular, a companhia possui 23 parques de bioenergia em operação, todos autossuficientes no consumo de energia elétrica, gerada a partir da queima de biomassa da cana. Em 13 deles, a energia excedente é exportada para a rede. Temos 1 GW de capacidade instalada de geração de energia elétrica renovável, suficiente para abastecer uma grande metrópole brasileira. Além da cogeração, outra tecnologia que torna o ciclo de produção da cana mais sustentável é a produção de biogás a partir da conversão de vinhaça e torta de filtro. O biogás pode ser utilizado para a produção de energia elétrica ou purificado e convertido em biometano, um produto que pode substituir o gás natural e o diesel na frota pesada. Ele também pode ser utilizado para produção de hidrogênio e amônia verde, contribuindo para a descarbonização de outros setores, como o de fertilizantes. Com capacidade instalada de geração de energia elétrica de 21 MW, a planta de biogás da Raízen é uma das maiores do mundo e representa uma revolução no tratamento dos resíduos agroindustriais por meio do uso mais eficiente de subprodutos para a produção de novos produtos, contribuindo para a descarbonização e para a economia circular. Um dos melhores exemplos da sustentabilidade do etanol de cana brasileiro é a produção do etanol de segundo geração (E2G). A partir de tecnologias avançadas e utilizando o bagaço de cana como matéria-prima, conseguimos produzir até 50% mais etanol com a mesma área plantada e com uma pegada de carbono 30% inferior ao etanol convencional. E provando que a sustentabilidade não é só benéfica para o meio ambiente, mas que também é financeiramente saudável, a adoção do E2G vem crescendo em escala industrial, sendo utilizado na produção de perfumes e cosméticos, por exemplo. O etanol é um produto transcendental. Começou como bebida e passou a ser usado na produção de cosméticos. Hoje é a fonte energética do futuro, que descarboniza e impulsiona o mundo para a adoção de opções mais sustentáveis, com pegada de carbono cada vez menor. O Brasil tem um grande potencial para se consolidar como referência na sustentação global do etanol como alternativa limpa, exportando nossa experiência, nossos produtos e as tecnologias desenvolvidas por nós para o resto do mundo, incentivando os demais países a descarbonizar suas matrizes energéticas e atingir seus mandatos e compromissos de redução de emissões. n


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produtores

setor sucroenergético:

um mercado de futuro

Recentemente, li, de um renomado economista, que o “mercado de câmbio somente existe para acabar com a reputação de economistas, por se tratar da previsão mais difícil de ser elaborada”. Observo, no entanto, que vivenciar o mundo das commodities é navegar diariamente em um mercado que depende do clima, do petróleo, de medidas regulatórias e políticas, ou subsídios de competidores, fundos especuladores, algoritmos de “alta frequência” de trading, vendas antecipadas sob a ótica da expectativa da demanda e, também, do mercado de câmbio. Nesse ambiente de incertezas, do qual faz parte meu dia a dia, tentarei deixar, aqui, um pouco do que vivencio, contribuindo com minha visão sobre o futuro do nosso mercado de açúcar e etanol.

Começo minha análise em 2017, ano em que, após sucessivos períodos do descasamento do preço da gasolina nacional em relação aos preços internacionais – condição essencial para a competitividade do etanol –, a Petrobras deu início a uma política de transparência na paridade de preços, permitindo maior previsibilidade nas condições de mercado. Por meio da prática do livre mercado e da escolha dos consumidores, o etanol aumentou seu percentual de participação no ciclo Otto, atingindo 49% da nossa matriz de combustíveis no ano de 2019. Em consonância com a evolução do conceito de combustíveis renováveis, em 2017, também foi criado o RenovaBio, que reconheceu a importância do etanol como parte fundamental de nossa estratégia de segurança e independência da matriz energética. Um passo importante que posiciona o Brasil não só como “celeiro agrícola”, mas também como “celeiro da matriz energética renovável”, totalmente alinhado às melhores práticas mundiais em ESG (ASG), permitindo ao País se consolidar como um mercado de certificados de sustentabilidade “em bolsa” e que, acredito, poderão ser comercializados por diferentes indústrias e mercados num futuro próximo.

O etanol já foi diagnosticado como a fonte mais racional e sustentável para obtenção de gás hidrogênio (H2) para transformação em eletricidade, através da célula combustível "

Helder Luiz Gosling Diretor Comercial e de Logística da São Martinho

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Opiniões Essa pequena introdução serve para contextualizar a importância que o etanol ganhou na matriz de decisão de qualquer produtor e, paralelamente, em análise de mercado. Em uma análise fundamentalista e simplista, se o ciclo Otto voltar a crescer 2,7% a.a, a partir do 2º semestre deste ano, e se relembrarmos nosso pico de importação de combustíveis – que se deu em 2017 e 2019 (aproximadamente 6 milhões de m3 no total), demonstrando a limitação estrutural de importação de gasolina e etanol –, poderemos vivenciar um cenário de aumento da necessidade de suprimento de etanol, em atendimento à demanda interna por combustíveis. Isso é logo aí... E, quando compartilho essa informação, é bastante comum atrelar esse cenário ao futuro da eletrificação da frota de carros no Brasil – uma tendência real, por meio da qual acredito que cada região ou país, ou melhor, “geografia” definirá a reação química ideal para geração dos elétrons que abastecerão esses novos motores. Não será igual para todos os mercados, considerando as diversas peculiaridades existentes nessas regiões. Mais uma vez, o etanol será um importante aliado nessa equação. O etanol já foi diagnosticado como a fonte mais racional e sustentável para obtenção de gás hidrogênio (H2) para transformação em eletricidade, através da célula combustível, excluindo dessa conta a preocupação com descarte de baterias e toda a estrutura necessária para a geração de eletricidade (como usinas termoelétricas a carvão ou petróleo). Adicionalmente, ao analisarmos mais profundamente o quesito sustentabilidade, o mercado de lítio e cobalto – importantes matérias-primas das baterias mais utilizadas atualmente nos veículos elétricos – é limitado, e a oferta está concentrada em poucos países. De fato, os custos das baterias estão caindo, dado o aumento da escala de produção. Porém diversos estudos apontam para a elevação nos preços dos metais, além da necessidade de exploração de novas jazidas – um cenário que poderá neutralizar a queda nos custos das baterias. Segundo a Unica, a partir de estudo publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre o custo de implantação de um sistema de smart grid para abastecimento de veículos elétricos no Brasil, o montante envolvido seria da ordem de US$ 210 bilhões a US$ 300 bilhões, para uma total readequação dos pontos de reabastecimento e infraestrutura.

É só olharmos para o sistema de suprimento de energia elétrica para as ruas do nosso país. Enquanto isso, hoje já temos uma bomba de etanol em todos os postos de combustíveis do Brasil. Não tenho dúvidas de que o etanol continuará tendo espaço relevante na matriz energética brasileira. Inclusive a biomassa da cana-de-açúcar representa atualmente cerca de 4% do total de energia consumida no Brasil – equivalente ao consumo de energia elétrica por dois anos do Paraguai ou Uruguai –, mesmo com todo o incremento do parque eólico, solar e hídrico no País. Quanto ao mercado de açúcar, depois de alguns anos de pressão de preços por crescimento de produção, principalmente na Índia e Tailândia, em 2017 e 2018, estamos navegando em mares mais consistentes, pelo menos no curto prazo. Nossos principais competidores globais de açúcar cresceram, em parte pelo aumento de produtividade, mas principalmente por subsídios aos produtores locais – que, por sinal, parece ser um movimento cada vez mais limitado dos governos. Subsidiar commodities no longo prazo não é um meio sustentável e pode colocar em xeque importantes elos da cadeia. No Brasil, em meio aos desafios apresentados ao longo dos anos e por iniciativa de verdadeiros empreendedores e líderes do setor sucroalcooleiro, houve investimentos em terminais portuários dedicados, armazenagem e até mesmo na multimodalidade com o transporte ferroviário, reduzindo a emissão de CO2, como forma de diminuir nosso gap logístico-geográfico, visto que nossos consumidores se encontram do outro lado do mundo – como China e Oriente Médio. Como membro de uma das maiores empresas do setor sucroenergético do Brasil, vivencio em meu dia a dia toda essa dinâmica de mercado e presencio a conduta disciplinada de alocação de capital, com foco permanente em redução de custos de produção, investimentos constantes em tecnologia e inovação, além de uma forte gestão de risco, sempre pautados na sustentabilidade. Falando em sustentabilidade, é gratificante saber dos números e impactos econômicos, sociais e ambientais do nosso setor, segundo dados recentes da Unica. Nos últimos 20 anos, o uso do etanol pelo Brasil contribuiu para evitar a necessidade de um consumo adicional de gasolina em mais de 310 bilhões de litros, evitando a importação de combustível fóssil, o que teria custado US$ 170 bilhões (em termos ; reais).

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produtores Se compararmos à Índia que, segundo a Datagro, consome 4 milhões de barris diários de petróleo, imaginem o quanto poderá melhorar a balança comercial do País. Ou seja, a adoção de um programa de veículos flex em países como a Índia poderá ser disruptiva positivamente para o mercado de açúcar. Num mundo em que se fala muito em ESG, não existirá melhor subsídio ao produtor local que criar um mercado alternativo à sua matéria-prima, melhorando a qualidade de vida da população. Outros números relevantes do setor no Brasil: • Mais de 747 mil empregos formais gerados apenas pelo setor produtivo. Somados os empregos indiretos, são cerca de 2,3 milhões de pessoas empregadas na cadeia da cana-de-açúcar. • Hoje, apenas 1,2% do território brasileiro é utilizado para o cultivo de cana-de-açúcar, sendo que 0,8% destina-se para à produção de etanol (cana e milho) concentrado no Centro-Sul e Nordeste, longe do bioma amazônico. • O consumo de etanol hidratado pelos automóveis flex, combinado à mistura atual obrigatória de 27% de etanol anidro na gasolina, reduziu a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em mais de 515 milhões de toneladas de CO2eq, de março de 2003 (data do lançamento dos veículos flex no Brasil) até maio de 2020. • Para atingir a mesma economia de CO2, seria preciso plantar mais de 4 bilhões de árvores nativas nos próximos 20 anos. De modo geral, vemos fatores fundamentais positivos à nossa frente, embora cada safra seja única e diferente da outra. Mas segue imprescindível a manutenção da disciplina e o foco em custos e margem de contribuição, além de uma forte gestão de risco, em um mercado que flutua à mercê de computadores e programas que fogem, muitas vezes, da correlação natural dos fundamentos. Sabemos que resiliência não falta ao nosso setor e tivemos mais uma demonstração em 2020. Em meio a uma pandemia, todos os nossos colaboradores bravamente não pouparam esforços e comprometimento para manter o suprimento de alimento, combustível e energia elétrica à população brasileira. Para nós, é um imenso orgulho poder fazer parte da história do setor sucroenergético. E vamos seguir em frente. Boa sorte e muita saúde a todos nesta safra que se inicia. n

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produtores

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otimismo de um lado e seca do outro: o que esperar da safra 2021/2022? Iniciamos, em abril, uma nova safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil, região protagonista global no mercado de açúcar e chave para a matriz energética brasileira. Se, por um lado, temos sinais positivos, que acalentam os produtores brasileiros a seguirem investindo nesse setor desafiador – como é o caso de preços externos e internos atrativos para o açúcar, cotação do dólar em nível interessante para premiar de maneira mais equilibrada os exportadores, valor do etanol em patamares recordes para um período de fim de entressafra –, na outra mão, enfrentamos fatores desafiadores, que podem mexer significativamente com nosso mercado e desequilibrar as vantagens inicialmente descritas. Estamos falando das ameaças da Covid-19 e das adversidades climáticas enfrentadas pelo setor em 2020. Os graves efeitos da pandemia em nossa sociedade demandam uma solução de curto e médio prazos.

Para além do fator pandemia, sabemos que o etanol sofre influência de fatores de grande volatilidade sobre a composição de sua base de preços. "

Ricardo Busato Carvalho Diretor Comercial da BP Bunge Bioenergia

O temor de que o consumo de combustíveis seja afetado por uma redução abrupta da circulação de pessoas ainda pode ter efeitos consideráveis sobre os preços do etanol, por exemplo. Outro ponto que tem afetado nosso mercado vem dos reflexos do severo período de seca na região

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Centro-Sul do País em 2020, que afetou não só a cana-de-açúcar, que terá uma safra menor em 2021/2022, mas também outras importantes culturas, como a de soja, o que pode provocar disputas por ativos logísticos e consequente encarecimento no fluxo de exportação de açúcar. Açúcar Falando nas perspectivas do mercado de açúcar, os preços devem continuar sustentados em patamar relativamente alto, como no ano passado, considerando a conversão em reais, de forma a incentivar o Brasil a produzir o máximo do produto e cobrir os déficits produtivos existentes, especialmente ainda como reflexo de quebras de safra recentes, principalmente na Tailândia, mas também em países da América Central, Europa e outros. Após o encerramento da safra da Índia, outro grande player, no primeiro trimestre de 2021,


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produtores o açúcar tenderá a acompanhar mais diretamente os preços do petróleo, fator-chave para a determinação do mix de produção no Brasil. Outro fator muito importante para se observar no mercado global de açúcar é o crescimento do programa de etanol na Índia, país que, recentemente, tem produzido superavits relevantes de açúcar, que acabam escoando para o mercado internacional e pressionando os preços da commodity. Apesar de ainda ser um programa pequeno em relação à sua produção local de cana-de-açúcar, o incremento, ano a ano, chama a atenção, e é um caso exemplar de “ganha-ganha” para a sociedade e para os mercados: ganha a população indiana por ter acesso a um combustível mais limpo, ganha o mercado de açúcar global ao reduzir seu superavit e ganha o governo indiano por reduzir seu auxílio às exportações. Por outro lado, temos um fator de pressão sobre os custos do açúcar para exportação. Diante do atraso na colheita da soja devido à seca no Centro-Sul, pode haver disputa por ativos logísticos assim que a produção de açúcar brasileira começar a ser enviada para o exterior, agora em 2021, especialmente no principal porto de embarques da oleaginosa e do açúcar, que é o de Santos. Diante desse desafio, estarão mais bem posicionadas as empresas que tenham planejado e contratado, com antecedência e adequadamente, a logística de embarques de suas exportações, pois os custos mais altos ou com eventuais atrasos podem consumir os ganhos com remunerações em patamares mais elevados. Como costuma ser tradicional nesse mercado, quem estiver mais bem preparado para este momento vai acabar obtendo os melhores retornos. Há, ainda, o fato de que a safra 2021/2022, em razão da seca do ano passado, será menor do que a anterior no Centro-Sul, que chegou a 605 milhões de toneladas processadas de cana-de-açúcar, segundo a Unica – União da Indústria da Cana-de-Açúcar. De acordo com projeções de nossa área de inteligência de mercado, a produção na região na atual safra deve ser cerca de 6% menor na comparação com a de 2020/2021, ficando em torno de 570 milhões de toneladas no período, a depender do desenvolvimento do clima ao longo dos próximos meses. Etanol Para além do fator pandemia, sabemos que o etanol sofre influência de fatores de grande volatilidade sobre a composição de sua base de preços. Mesmo tomando como referência o valor recorde para um período de final de entres-

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Opiniões safra, como já pontuamos, projetar a trajetória do comportamento do mercado do biocombustível ao longo de um único ano é um exercício bastante desafiador. Um fator que tem sustentado os preços do etanol é a retração da produção no Centro-Sul. Após uma redução em 2020/2021, causada pela virada de mix em direção ao açúcar, em 2021/2022, a produção deve sofrer novo revés, desta vez causada pela menor disponibilidade de cana e a permanência de mix voltado ao açúcar. Some-se a isso uma recuperação na demanda por combustíveis no Brasil, após forte impacto negativo em 2020 pela pandemia, e podemos concluir que os preços de etanol devem permanecer sustentados nesta safra que se inicia – mantidas as paridades internacionais de gasolina, convertidas à nossa moeda local, e mantida a atual política de preços da Petrobras. Em suma, com menor produção e maior demanda, o etanol deve se precificar mais próximo à gasolina em relação a outras safras. O mercado internacional de etanol também deverá permanecer aquecido, após um ano de incremento de volumes em 2020/2021. Seja por adversidades climáticas na Europa, seja por redução na área plantada de milho nos Estados Unidos, o preço internacional de etanol também passou por forte recuperação ao longo dos últimos meses e deverá permanecer atrativo durante a safra. Apesar disso, a menor disponibilidade de etanol no Brasil pode impedir que o Centro-Sul capture essa oportunidade adicional de exportação. Temos, ainda, em 2021, boas perspectivas para a contínua evolução do RenovaBio, que teve um primeiro ano bem-sucedido. Nesse sentido, contando com metas crescentes para as distribuidoras de combustíveis, as produtoras de biocombustíveis são desafiadas a otimizar suas operações agroindustriais, investindo em tecnologias de gestão agrícola, logística, indústria e produção para reduzir cada vez mais suas emissões de gases de efeito estufa, tendo direito, assim, a um número maior de CBios, os papéis previstos no programa, cuja unidade negociada equivale à captura de uma tonelada de CO2 da atmosfera, estimulando a produção e uso dos combustíveis mais limpos e renováveis. Contribuindo para a transição energética rumo a um mundo com mais energia limpa e renovável, e mesmo diante de tantos desafios, o setor sucroenergético tende a ter um grande ano à frente e deve, mais uma vez, cooperar significativamente para o desenvolvimento sustentado do nosso País. n

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produtores

até quando vai o ciclo de alta do NY11? Essa é a pergunta de um US$ 1 milhão a que todos estão tentando responder. Avaliando todas as potenciais variáveis: posição dos fundos, fornecedor marginal, upside potencial, distribuição de histograma de cenários históricos, perspectivas de inflação, análise de sensibilidade, aspectos climatológicos, vacinação, efeito no petróleo da retomada. Uma coisa é certa, ninguém sabe a resposta! Se soubesse, estaria em casa faturando uma fortuna, operando o mercado. Tendo em vista as incertezas, cabe a famosa frase de Warren Buffet: “Acerto e erro, mais importante é acertar muito mais do que errar”! De fato, a posição net long dos fundos especulativos vinha sendo reduzida toda semana, mas, na última informação divulgada de 15/abril, voltaram a ampliar. Mas qual seria o potencial de upside existente ainda nesse cenário de altos preços para quem está ampliando posição long nesse momento?

O Brasil é o maior player do trade flow, mas deixou de ser o fornecedor marginal. Depois de um forte swing do mix de volta ao max-açúcar, o Brasil não tem mais capacidade ociosa para produção de açúcar, e o setor ainda um pouco combalido não tem focado investimentos para ampliação. A Índia já foi o fornecedor marginal, mas também deixou de ser. Hoje, mais provavelmente, está com a Tailândia a tarefa de ampliar oferta ao trade flow, apesar de estarem lá também apresentando sinais de quebra de produtividade. O petróleo, com a vacinação nos países desenvolvidos, especialmente os EUA, está mais fortalecido. A retomada da economia já dá sinais fortes, e os estoques de petróleo estão mais baixos. Ainda assim, as regiões mais distantes do porto continuam incentivadas a produzir açúcar, podendo o preço cair por volta de 10%, sem que o CS perca esse incentivo. Se isso ocorresse agora, com certeza o açúcar teria que subir para que essas regiões não virem o mix de produção para etanol. O que se traduz também em um forte suporte para o açúcar. Uma grande preocupação no Brasil, definitivamente, é a inflação, que, no atacado (IGPM), passou de 30% nos últimos 12 meses, mas, segundo o levantamento do CEPEA, deve levar a um aumento de custo final de 11% nas usinas, em 2021/2022. No longo prazo, pode se transformar em um grande problema para nós produtores, pois precisaremos de um novo patamar de preços para permanecermos competitivos. Em contrapartida, o câmbio alto muito

Ao levantar o histórico dos últimos 30 anos e inflacionando os valores até o presente, chegaremos à conclusão de que, em somente 5% de todo esse período, tivemos preços tão altos quanto os atuais. " Henrique Penna de Siqueira Diretor Técnico e Comercial da Jalles Machado

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Opiniões tem nos ajudado a manter a competitividade e, sem reformas fiscais estruturais no horizonte, somado a um governo hoje impopular, que entra em eleições em 2022, não existem sinais de fortalecimento do Real. Fatores climáticos também estão apimentando o cenário mundial. O Centro-Sul passou por uma das maiores secas dos últimos anos em 2020, e o que ainda não se recuperou está enfrentando também um abril com precipitação abaixo da média histórica. As chuvas de abril eram desejadas por muitas regiões como necessárias para restabelecer o canavial, ganhando mais 3 ou 4 semanas de desenvolvimento do canavial. Já temos casas respeitadas do mercado falando em quebra adicional de produção, uma delas dizendo que a produção de cana do CS pode chegar até a 530 milhões de toneladas de cana, cenário extremamente pessimista, com uma quebra de mais de 10% na produtividade, sem falar na quebra do ATR, que deve voltar aos 140 kg/t. A geada da França também adicionou perdas do lado da oferta. O total de hectares atingidos nas sucessivas ondas podem ter impactado 10% da beterraba na França. Pesando tantos aspectos positivos, fica claro por que estamos vivendo um período tão longo de preços altos. Ao levantar o histórico dos últimos 30 anos e inflacionando os valores até o presente, chegaremos à conclusão de que, em somente 5% de todo esse período, tivemos preços tão altos quanto os atuais. Aproveitando essa onda, o setor sucroalcooleiro nacional

aproveitou as linhas de crédito com bancos para fazer hedge e antecipar as vendas, aproveitando os bons preços e garantindo boas margens para a futura produção de açúcar. Mas não podemos deixar de lembrar que as margens serão menores no futuro, já que o preço final em R$/t está muito próximo ao valor de hoje; porém a inflação vai aumentar o custo de produção. Como consequência do forte movimento de hedge, temos um recorde de hedge futuro do setor. Importante destacar que, por já terem hedgeado grande parte da produção futura, os produtores também retiram pressão futura de vendas do mercado. Tudo parece realmente um céu de brigadeiro, e é justamente por isso que devemos nos preocupar! Quando temos tanto incentivo de produção por parte de várias regiões do mundo, é de se esperar um movimento muito forte de produção, com a conversão de muitas áreas para a produção de cana. Importante lembrar que a Tailândia já produziu, em anos passados, 15 milhões, e a Índia, 36 milhões de toneladas de açúcar, respectivamente, hoje estão com estimativas de 7,6 e 31 milhões de toneladas de açúcar na safra atual. Portanto podem adicionar mais 12 a 13 milhões de toneladas com a capacidade instalada, sem falar em novos investimentos que podem acontecer em qualquer região do planeta. Temos certeza de que, com tanto incentivo, o açúcar vai aparecer! Como toda commodity, o ciclo de baixa virá! Enquanto isso, aproveitem para fazer hedge! n

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entidades - barreiras comerciais do açúcar na OMC

o protecionismo nada doce do açúcar Na dinâmica do comércio internacional do açúcar, o nosso famoso adoçante pode ter um gosto bastante amargo. Alvo de barreiras tarifárias e técnicas, além de medidas distorcivas de comércio, o açúcar tem sido, tradicionalmente, um dos produtos mais protegidos do mundo, impondo constantes obstáculos aos agentes privados. Mercados se fecham não por uma relação inadequada de custo-benefício do produto, mas por ações unilaterais e arbitrárias de agentes públicos que, da noite para o dia, bloqueiam acesso a compradores. Observamos dois importantes grupos de países que se enquadram nessa categoria de protecionismo. O primeiro deles refere-se aos grandes países consu-

midores que, de um lado, oferecem fortes subsídios à sua produção local e, de outro, protegem os seus mercados por meio de elevadas tarifas de importação. De fato, se considerarmos três dos quatro maiores consumidores globais, os Estados Unidos, a Europa e a China, responsáveis por quase 25% da demanda mundial, todos oferecem elevados níveis de subsídios domésticos, associados a volumes de cotas de importação irrisórias, fora das quais cobram tarifas quase proibitivas. Com isso, chegam a produzir, de maneira artificial, até 80% de seu consumo e importam apenas 20% de suas necessidades. As tarifas de importação fora da cota para as três regiões vão de 50%, no caso da China, a mais de 100% do valor internacional do açúcar nos EUA e na Europa. Essas tarifas proibitivas criam uma forte – ou quase intransponível – barreira às nossas exportações de açúcar. Um segundo grupo de países corresponde àqueles grandes produtores e comercializadores que também oferecem subsídios domésticos e mecanismos de apoio às exportações. Tailândia e Índia são exemplos e, juntas, têm sido responsáveis por quase 25% do comércio

Todos ganham, com cadeias de valor sólidas e independentes, ditadas por regras de mercado, e deixamos para trás o sabor amargo do intervencionismo. "

Eduardo Leão de Sousa Diretor Executivo da Unica

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Opiniões mundial, gerando forte depressão nas cotações internacionais e penalizando os países que atuam dentro das regras de mercado. A figura 1 exemplifica relevantes casos de barreiras tarifárias e não tarifárias, assim como medidas distorcivas de comércio, em importantes países produtores e consumidores, distribuídos por todas as regiões do globo. Vale destacar que essas medidas não somente distorcem os fundamentos de mercado, deslocando a geografia de comércio e aumentando artificialmente a oferta do produto, como também geram influência decisiva sobre as expectativas dos agentes. A figura 2, na página seguinte, ilustra o impacto sobre as cotações do açúcar no mercado futuro a cada anúncio de mecanismos distorcivos pelos governos de países relevantes no mercado internacional. Ressalvados outros fatores externos, verifica-se uma reação negativa dos preços aos anúncios de subsídios e positiva no caso de sua extinção.

A situação tem gerado oportunas reações por parte do governo brasileiro que, como resposta às demandas do setor privado, tem acionado a Organização Mundial do Comércio (OMC), por meio do seu órgão de solução de controvérsia. A solicitação de abertura de painéis, uma espécie de tribunal internacional, é a mais contundente ação para questionamentos a políticas não consistentes com as regras definidas na OMC. Nos últimos cinco anos, foram abertos três painéis na Organização a pedido do governo brasileiro. Tailândia Iniciado em 2016, o painel questionou o regime de açúcar do governo da Tailândia, que, dentre outras medidas, instituía cotas de produção interna e de exportação. Também estabelecia elevados subsídios aos produtores de cana e preços domésticos muito acima do mercado externo que, em última análise, permitiam um “subsídio cruzado” às exportações.

1. BARREIRAS E DISTORÇÕES NO MERCADO DE AÇÚCAR

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entidades - barreiras comerciais do açúcar na OMC Apoiada nesse conjunto de políticas distorcivas, a Tailândia saiu de uma participação de cerca de 10% no comércio global de açúcar para quase 20% nos últimos anos, tornando-se o quarto produtor global e segundo maior exportador, logo atrás do Brasil. Segundo estimativas de economistas, essas políticas geravam um prejuízo anual de US$ 750 bilhões aos produtores brasileiros. Com o questionamento do Brasil, e para evitar um litígio na OMC, o governo tailandês concordou em reformar o seu regime açucareiro. A revisão, ainda em andamento, elimina boa parte das práticas questionáveis à luz das regras da OMC. China A China iniciou a aplicação de medida de salvaguarda às suas importações de açúcar em maio de 2017, elevando a tarifa de entrada de 50% para 95%. É importante ressaltar que, até então, a China era o principal destino das exportações brasileiras, suprindo com nosso açúcar 60% de sua demanda por importação. Com o início da salvaguarda, os embarques do Brasil caíram de 2,5 milhões de toneladas em 2016 para 300 mil toneladas de açúcar em 2017. Estudos conduzidos pela Unica identificaram que a salvaguarda não estava em conformidade com a OMC, visto que não preenchia os requisitos de existência de surto de importações, dano à indústria e relação causal. Com base nisso, em setembro de 2018, o governo brasileiro abriu um processo de consulta na OMC, ressaltando que esse seria o primeiro caso de painel entre os dois países e, portanto, havia forte sensibilidade política de ambas as partes. A boa notícia é que a competente diplomacia brasileira foi exitosa na construção de um acordo com a China por meio do qual, de um lado, o Brasil se absteria de solicitar a efetiva abertura do painel e, de outro, o governo chinês se comprometia a não renovar a salvaguarda. Isso efetivamente ocorreu a partir de maio de 2020, quando foi extinta a salvaguarda contra o açúcar, representando mais um importante resultado favorável para o setor sucroenergético brasileiro. 2. PREÇOS FUTUROS DO AÇÚCAR

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Índia O último imbróglio refere-se à Índia, país que tem sido responsável por uma forte distorção no mercado internacional de açúcar. O estabelecimento de preços administrados para os produtores de cana-de-açúcar em níveis altíssimos e de subsídios ilegais às exportações de açúcar possibilitou que a Índia despejasse quase 6 milhões de toneladas de açúcar, anualmente, no mercado global. A política gera um pernicioso círculo vicioso: os preços domésticos estimulam artificialmente o aumento da produção, gerando excedentes que são exportados por meio de subsídios. Estimativas indicam uma perda anual de mais de US$ 3 bilhões à produção mundial de açúcar e cerca de US$ 1,4 bilhão somente ao Brasil. Como resultado, o Brasil, juntamente com Austrália e Guatemala, solicitou consultas ao governo indiano na OMC em abril de 2019, e, em outubro daquele ano, os três países iniciaram um painel. No momento, o processo, que envolve envio de petições e audiências, está praticamente concluído, e a expectativa é a de um parecer dos painelistas, até o segundo semestre de 2021, condenando as práticas. O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar, posição conquistada graças à competitividade e à diversificação da cadeia sucroenergética. O setor privado brasileiro vem trabalhando uma agenda colaborativa com diversos países produtores de açúcar, apresentando o programa de etanol como alternativa. A Índia, por exemplo, já começa a enxergar essa oportunidade e determinou a obrigatoriedade da mistura de 10% de etanol na gasolina no próximo ano, devendo chegar a 20% antes de 2030. Mais recentemente, também autorizou a comercialização do etanol puro para utilização em carros e motos flex. O etanol oferece uma solução de mercado de longo prazo aos produtores indianos e de outros países, permite equilíbrio e previsibilidade ao mercado de açúcar, ao mesmo tempo que contribui para a proteção do meio ambiente e da saúde da população, com a redução de emissões de gases de efeito estufa e da poluição local nas grandes cidades. Todos ganham, com cadeias de valor sólidas e independentes, ditadas por regras de mercado, e deixamos para trás o sabor amargo do intervencionismo. n


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entidades - mercados gerais

farol aceso para a frente Procurando contextualizar uma visão macro sobre os mercados mundiais de açúcar e do etanol, abstraindo aspectos e tópicos passageiros ou pontuais de curto prazo, desenvolvidos muito recentemente por outros articulistas da Revista Opiniões, chamamos à reflexão uma visão de mais longo prazo e de possível tendência a partir de um racional desenvolvimento de fatos e circunstâncias atualmente em vigor. Antes de procurarmos explicitar os preços e suas tendências, a volatilidade de produção por razões climáticas e as oportunidades de margem pela precificação conjuntural do câmbio, nos fixamos em fundamentos que se delineiam no presente, mas que, por certo, determinarão o futuro e devem ser considerados na plataforma de projetos futuros nas empresas do setor. A despeito de possuirmos uma excelente e firme base agrícola da matéria-prima cana-de-açúcar que proporciona oferta significativa de açúcar e de etanol, faz-se necessário que todos os mercados para os produtos finais sejam preenchidos de forma rentável e crescente, num

ambiente de competitividade econômica estável regular. Isso nem sempre se verifica, ainda que o Brasil, há muito, vem defendendo um comércio sem barreiras, em função de sua larga e consolidada competividade. Mercado mundial de açúcar Participamos desse mercado, de forma direta e empresarial privada, desde 1989. Nesse período, evoluímos para uma participação relevante. Nos firmamos como grande produtor mundial e principal exportador. Um registro estimulador que destacamos, pouco lembrado, é que, nos anos de 1959/1960, o Brasil era o 4º produtor mundial, superado por Cuba, Estados Unidos e Rússia. Dez anos depois, continuávamos nessa posição com países acima se alternando nas primeiras posições. Foi em 1979/1980 que assumimos a 2ª posição mundial, com a Índia assumindo o quarto lugar. Em 1989/1990, impulsionada por estímulos governamentais domésticos, a Índia assumiu a liderança mundial, e o Brasil, pelo estímulo à produção de álcool decorrente do Proálcool, caiu para a 2ª posição. Já em 1990/2000, a Índia mantinha a liderança, e o Brasil, mantendo a 2ª posição, assegurava a sua trajetória de expansão sustentada para, em 2009/2010, assumir a 1ª posição, com folga, em relação à Índia, agora a 2ª colocada, situação que permanece até o presente. Nesse período, o Brasil manteve correlação de participação no mercado mundial alternando a sua presença como maior exportador com a Índia, em função, apenas, dos subsídios

A despeito de possuirmos uma excelente e firme base agrícola da matéria-prima cana-de-açúcar (...) faz-se necessário que todos os mercados para os produtos finais sejam preenchidos de forma rentável e crescente, num ambiente de competitividade econômica estável regular. "

Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente do Conselho de Administração da Novabio, Associação de Produtores de Açúcar Etanol e Bionenergia

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Opiniões governamentais internos concedidos pelos indianos. Assim, vamos nos firmando na régua econômica e de mercado livre como um regulador desse mercado, assim como os produtores mais competitivos do mundo. Nesse trajeto evolutivo, o mercado mundial de açúcar se apresenta como um dos fundamentos importantes para a sustentação econômica do setor sucroenergético nacional e da demonstração da relevância do agronegócio brasileiro no mundo. Ficam inequívocos o ambiente adequado e nossa evidente vocação para a natural elevação de nossa participação global. É fato que essa elevação carece de outros fatores que a influenciarão positiva ou negativamente. Entre os principais elementos, estão: a proteção e subsídios por parte de outros países concorrentes; as adversidades climáticas, comuns na produção agrícola primária, que poderão impactar a oferta de uns em detrimentos de outros países; a efetividade da busca pelo aumento da produtividade em todos os players, que se refletirá numa maior tolerância a preços relativamente menores; a dinâmica do preço do petróleo e seus derivados; o aumento de mandatos para mistura de etanol na gasolina na Índia, aumentando o seu uso de cana-de-açúcar para a produção de etanol; e a provável redução da destinação para produção de açúcar. Tudo isso sem deixar de considerar revisões, sempre esperadas, na legislação agrícola protetiva dos EUA e da União Europeia. Mercado mundial de etanol Esse mercado está intimamente relacionado à questão ambiental global, mais especificamente as metas de redução de gases estimuladores do efeito estufa na atmosfera. É sabido que, adicionalmente à discussão da necessidade de redução de desmate e da preservação de matas e florestas, incluem-se, de forma relevante, a emissão de CO2 pela produção de energia a partir de fontes fósseis e a importante participação das emissões veiculares, geradas pelo sistema de transporte. O mercado mundial de etanol hoje ocupado pela nossa produção ainda não guarda relação direta com esse mercado de energia e combustíveis limpos em acelerada formação. Logo, é racional assentar que, pela condição de segundo maior produtor mundial de etanol e com espaços disponíveis para a sua expansão, tanto pela ocupação de novas fronteiras agrícolas ainda disponíveis legal e corretamente, quanto pelo aumento da produtividade em franco processo de desenvolvimento, somos o natural candidato a se tornar, possivelmente, o maior player desse mercado, sinalização que deve estar no radar de nossas empresas produtoras. Objetivando esse promissor cenário mundial, sem excessos de entusiasmo verde-amarelo, consideremos os seguintes eventos de maior relevância: • O Brasil permanece como 2º produtor mundial de etanol e com grande possibilidades de expansão;

• O imposto sobre carbono frequenta, a cada momento, a aspiração dos países desenvolvidos, como forma de evitar a poluição ambiental advinda desses gases e de criar um funding para a implantação, desenvolvimento e expansão de fontes de energia alternativas e renováveis; • O Brasil, na vanguarda desse movimento, já implantou o revolucionário programa de biocombustíveis RenovaBio, que estabelece um rigoroso critério operacional de méritos na sua produção para torná-lo, sem dúvidas, modelo de ESG de produção e comercialização no conceito de ciclo de vida do combustível; • Após a pandemia da Covid-19, acentuou-se a percepção e urgência da necessidade de preservação do ambiente, tornando-o mais amigável à qualidade de vida e, sem menor significado, à purificação do ar que respiramos, como antídoto natural à proteção do sistema respiratório dos habitantes do planeta; • A manifestação de países como a Índia e o Reino Unido em aumentar o mandato de mistura de biocombustíveis na gasolina demonstra, claramente, que é mais rápida e eficaz a descarbonização dos combustíveis fósseis no sistema de transporte; • A possibilidade concreta de otimização do uso do hidrogênio, presente nos biocombustíveis, na geração de energia para a alternativa de motorização nos veículos, através do uso das células de combustíveis, harmonizará plenamente o uso dos biocombustíveis que, de forma primária na sua produção, reduzem a emissão de CO2 para a atmosfera com a inovação e tecnologia em curso na motorização veicular por eletricidade. Alimento e Energia Ademais, e não menos importante, cabe considerar que, no caso da produção brasileira de açúcar e etanol, onde a matéria-prima cana-de-açúcar tem predominância, a flexibilidade, numa escala industrial importante, possibilita uma administração de opção de produção e oferta para os diversos mercados de um ou outro produto, evitando movimentos de superofertas conjunturais ou escassez pontuais. Essa realidade permite uma administração segura, estável e confiável desses mercados. A demanda evolutiva que se apresenta no planeta não subtrai mais alimento e mais energia limpa. n

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entidades - milho

Opiniões

o futuro do

etanol de milho brasileiro

Momentos difíceis geram grandes oportunidades. Não iremos facilmente superar a dor de nossas famílias atingidas por esta pandemia, mas uma coisa é certa: o mundo não será mais o mesmo. Grandes mudanças de hábitos e costumes irão valorizar setores sustentáveis que possam trazer benefícios à saúde e ao meio ambiente. Quando foi criado o Proálcool na década de 1970, o objetivo era diminuir a dependência nacional do petróleo em razão da crise mundial ora instalada. O que ninguém poderia prever é que tal iniciativa, depois de 40 anos, teria o potencial de se tornar um grande programa mundial de energia renovável para os motores a combustão. A pandemia potencializou um processo de busca por investimentos “verdes”, sustentáveis, socialmente corretos e com requisitos de governança que vão ao encontro da palavra do momento: “ESG”, da sigla, em inglês, para Governança Ambiental, Social e Corporativa.

O Brasil terá papel fundamental para liderar essa agenda do uso do etanol como matriz energética renovável, seja pela tecnologia abarcada pelas multinacionais do setor automobilístico no carro flex, ou mesmo pela adição de etanol à gasolina em grandes proporções (27%), a exemplo do que já acontece no mercado nacional. A retomada da agenda global ambiental pela gestão do presidente norte-americano Joe Biden reforça a importância do restabelecimento imediato de relações internacionais profícuas entre os dois maiores players mundiais do etanol. Os Estados Unidos tendem a intensificar a mistura de etanol à gasolina; a Índia se prepara para adicionar 20% de etanol até 2025, com possibilidade de adotar a tecnologia de motores flex; ;

o produtor passou a ter previsibilidade de renda com a chamada 'safrinha', possibilitando investimentos em tecnologia para aumentar a produtividade e a consequente oferta de milho "

Guilherme Linares Nolasco Presidente da UNEM - União Nacional do Etanol de Milho

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entidades - milho a China segue com grande potencial para incrementar a mistura... Enfim, as possibilidades de crescimento do mercado do etanol serão limitadas somente à capacidade de oferta do biocombustível no mercado mundial. Enquanto isso, o segmento de etanol de milho no Brasil continua crescendo a passos largos; fechamos a última safra com volume de 2,65 bilhões de litros, ou seja, 1 bilhão de litros de crescimento em relação à safra passada. Projetamos crescer em torno de 700 milhões de litros na atual safra, marcada por ampliações da capacidade de produção de usinas já em operação. A partir do final de 2022, deveremos inaugurar mais operações, fruto de projetos represados durante o ano de 2020. Alicerçados em uma ampla cesta de receitas, estratégias sólidas de compras antecipadas de milho, valorização das receitas com os coprodutos (farelos e óleo de milho) e cogeração de energia, o setor vai ocupando seu espaço, superando a exposição dos custos de produção frente à precificação do biocombustível. Apesar da impressão – equivocada – de que o setor exige grande volume de terras para a produção, devemos sempre enfatizar que o etanol de milho brasileiro utiliza matéria-prima vinda de segunda safra. Coadjuvante da cultura da soja, até poucos anos, o milho não incorporava ganhos diretos ao produtor, sendo visto apenas como uma estratégia de rotação de culturas, controle de pragas e cobertura do solo para a prática do plantio direto da safra seguinte de soja. Com a chegada da indústria de transformação do milho em biocombustível, o produtor passou a ter previsibilidade de renda com a chamada “safrinha”, possibilitando investimentos em tecnologia para aumentar a produtividade e a consequente oferta de milho, em um círculo virtuoso de crescimento de toda a cadeia do etanol de milho. De forma indireta, para cada tonelada de milho processada na indústria de etanol, 30% retornam ao mercado como farelo para nutrição das cadeias de produção de proteína animal, possibilitando uma alternativa proteica de baixo custo para a avicultura e a suinocultura e o adensamento da produção pecuária, intensificando o ciclo do boi e desencadeando o efeito “poupa terra”, pelo aumento do suporte de animais por hectare por meio da suplementação no cocho.

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Opiniões Em algumas análises, a demanda por cavaco de madeira para produção de energia e vapor seria um gargalo para a produção de etanol de milho, mas, na realidade, se consolida como mais uma oportunidade de ativação de um cluster de energia renovável, por meio do incentivo, fomento e financiamento de florestas plantadas. O RenovaBio vem selar todos esses aspectos favoráveis que o setor agrega na mitigação de carbono com um bônus de receita adicional. Além disso, certifica a cadeia produtiva à exploração de infinitas possibilidades de acesso a mercados internacionais, viabiliza a atração de investimentos e permite a criação de uma narrativa única sobre os impactos para as políticas de saúde pública e ambiental desencadeadas pela utilização do etanol como principal matriz de energia. Estamos muito focados em fazer o dever de casa visando a mercados internacionais para o etanol de milho brasileiro. A Unem tem contribuído para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na construção de ajustes necessários para contemplar o etanol de milho na RenovaCalc. Buscamos captar as externalidades da rota de produção de milho de segunda safra, na cadeia de custódia do cereal até à indústria, e também mecanismos que possam elevar a elegibilidade do segmento, pois já somos muito bem avaliados, com expressiva nota de eficiência energética no programa. Atualmente, algumas usinas se encontram em processo de certificação internacional visando ter maior remuneração sobre as mitigações de carbono, a exemplo do programa CARB da California-USA, com a certificação LCFS, assim como em outras certificações secundárias que possibilitam o acesso a recursos voltados para investimento em economias verdes. Com a mudança do eixo de exportações de commodities do Brasil Central, cada dia com maior participação do Arco Norte/Nordeste via BR-163, e futuramente via FICO, Ferrovia Norte-Sul e Ferrogrão poderão trazer vantagens competitivas na logística de exportação do etanol produzido a partir do Centro-Oeste, a partir dos portos do Nordeste. A perspectiva concreta é de que o setor de etanol de milho continuará a crescer sustentado pela ampliada cesta de receitas da atividade, diversificação de mercados e agregação de valor pela busca constante de ativos ambientais, direta e indiretamente captados por todos os elos dessa cadeia. n

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Opiniões

entidades - açúcar

a competitividade brasileira no

mercado de açúcar

Até o final da década de 1990, o setor sucroenergético vivenciava um ambiente de negócios caracterizado pela determinação dos preços e quantidades pelo governo. Com o início do processo de desregulamentação, as unidades produtoras ganharam a possibilidade de exportar seus produtos diretamente, sem qualquer intervenção do governo, e, assim, explorar os diversos mercados consumidores pelo mundo. Desde a desregulamentação, a cadeia da cana-de-açúcar passou por profundas transformações, com a mecanização do processo de colheita e plantio, o uso de tecnologias de informação para otimização do controle de pragas, a introdução de novas variedades, o aperfeiçoamento da logística de transporte e escoamento da matéria-prima e da produção, além de melhor gestão dos ativos.

o processo de comercialização também foi aprimorado e, atualmente, o entendimento e o uso do mercado futuro de açúcar são comuns na maior parte das empresas, garantindo maior previsibilidade de preço por meio da fixação antecipada das vendas. "

Antonio de Padua Rodrigues Diretor Técnico da Unica

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Todos esses movimentos garantiram ganhos de eficiência que, hoje, se refletem no posicionamento do País no mercado internacional de açúcar. A indústria sucroenergética brasileira se consolidou como principal player no mercado mundial de açúcar – nos últimos dez anos, o País foi responsável por quase 50% do comércio global de açúcar. Atualmente, cerca de 70% da produção doméstica é direcionada à exportação. Essa liderança ocorreu mesmo em condições bastante adversas às exportações, pois alguns grandes produtores se valem de medidas protecionistas e de subsídios para sustentar a produção doméstica. Ao longo desses anos, o processo de comercialização também foi aprimorado e, atualmente, o entendimento e o uso do mercado futuro de


açúcar são comuns na maior parte das empresas, garantindo maior previsibilidade de preço por meio da fixação antecipada das vendas. Outro elemento ímpar do setor se refere à sua capacidade de ajustar as demandas do mercado a partir da flexibilidade da produção. A possiblidade, ainda que restrita, de alterar a proporção de cana-de-açúcar direcionada à fabricação de açúcar confere vantagem estrutural ao permitir uma gestão de riscos mais eficiente. Um retrato explícito do benefício dos investimentos para a ampliação da flexibilidade da produção pode ser observado nos resultados da última safra, 2020/2021. O setor expandiu a oferta de açúcar em 12 milhões de toneladas no espaço de apenas um ano, sem promover riscos ao dinâmico e competitivo mercado de etanol. Esse resultado gerou a maior produção da história do País, com um total de 41,5 milhões de toneladas de açúcar e a maior quantidade exportada por um único país – somou, no ciclo 2020/2021, 32,1 milhões de toneladas. Assim como outras commodities, o mercado de açúcar apresenta ciclos de produção e de preços. Nos períodos de superávit, os países produtores de açúcar a partir de culturas de ciclo curto, como a beterraba, podem alternar a lavoura com o cultivo de outros produtos, mas,

para os produtores de culturas semiperenes, como a cana-de-açúcar no Brasil, a flexibilidade é fundamental. A despeito da discussão em diversos países sobre medidas para restringir o consumo de açúcar, especialmente nos países desenvolvidos, ele ainda é a fonte de carboidrato mais barata do mundo. Trata-se de um mercado maduro, com um crescimento vegetativo anual entre 1% e 2%, sustentado, principalmente, pelo aumento populacional, pela expansão da urbanização e pelo aumento de renda nos continente africano e nos países do sul e leste asiático, que devem continuar demandando adoçante dos produtores brasileiros. No último ano, as exportações brasileiras para essas regiões representaram cerca de 70% da exportação de açúcar, tendo China, Argélia, Bangladesh e Índia como os principais parceiros comerciais. Os maiores desafios do setor sucroenergético para manutenção e crescimento da sua posição no mercado internacional passa pelo esforço em buscar ações para a redução das medidas protecionistas e dos subsídios aos produtores locais em outras nações e pelo persistente empenho dos produtores brasileiros para ampliar a eficiência produtiva, logística e ambiental ao longo dos próximos anos. n

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Índice

especialistas - macrovisão estratégica

o potencial do açúcar e os biocombustíveis sustentáveis A produção mundial de açúcar se concentra cada vez mais no Brasil e na Índia. Entre 2014/2015 e 2020/2021 (out/set), a participação combinada de Brasil e Índia na produção mundial passou de 36,7% para 42,5%, sobre uma produção mundial de 183,53 milhões de toneladas, ou, respectivamente, 43,9 e 34,1 milhões de toneladas de açúcar cru equivalente. No que tange a exportações, o Brasil exportou 32,13 milhões de toneladas (tel quel) para um mercado livre mundial estimado em 54,6 milhões de toneladas, o que equivale a uma participação dominante de 58,85%. Em 2020/2021, a Índia, segundo maior exportador, deve exportar um total de 7,1 milhões de toneladas, enquanto a Tailândia deve ficar restrita a 3,9 milhões de toneladas, em função do clima adverso e a redução de área cultivada pela competição com mandioca. O açúcar é um mercado que podemos considerar maduro. Há cerca de 20 anos, o consumo mundial crescia a uma taxa anual de 2,3%, impulsionado pela urbanização e crescimento da população jovem, principalmente na Ásia e oeste da África. No entanto vários fatores, como a competição com edulcorantes sintéticos e a redução de consumo em mercados consolidados pelas alegações, até hoje, sem comprovação científica, de uma infundada conexão entre o consumo de açúcar e obesidade, tiveram o efeito de reduzir a taxa de crescimento do consumo mundial para níveis abaixo de 1%. Nos primeiros 12 meses da pandemia por Covid-19, o consumo mundial caiu 2,1%, pela redução no acesso a restaurantes e lanchonetes e, portanto, à consequente redução no consumo de alimentos e bebidas industrializadas.

Já estamos na Era do Hidrôgenio. Não o hidrogênio produzido e armazenado em caros e arriscados tanques de alta pressão, mas hidrogênio envelopado na forma de biocombustíveis de elevada concentração, como o etanol, o biodiesel e o biogás-biometano. "

Plinio Mário Nastari Presidente da DATAGRO e do IBIO Instituto Brasileiro de Bioenergia e Bioeconomia

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Na área do etanol, a produção se mantém historicamente concentrada nos EUA e Brasil, com 58,2 e 32,5 bilhões de litros, respectivamente. Embora, com esse volume, o Brasil esteja substituindo 48% de sua gasolina por etanol, nos EUA, a substituição ainda é de 9,9%. No entanto essa produção começa a mostrar sinais de crescente desconcentração com a expansão da produção de etanol em países como Tailândia, Índia, Paquistão, Argentina, Colômbia e Peru. Ao mesmo tempo, se abrem perspectivas para que, nos EUA, seja crescentemente adotada a mistura de 15% de etanol na gasolina e, no Brasil, com o RenovaBio, o atingimento das metas de descarbonização aprovadas até 2030 sinalizem uma expansão da produção de etanol para entre 48 e 50 bilhões de litros até esse horizonte. Com uma visão ampliada, o que se pode prever em relação ao potencial do mercado para o etanol e os biocombustíveis em geral? Em primeiro lugar, a constatação de que a meritocracia implementada pelo RenovaBio, que premia o esforço individual de cada produtor de biocombustível por sua eficiência energético-ambiental, está induzindo produtores a


Opiniões aproveitarem de forma mais intensiva a energia da cana-de-açúcar e a produtividade que ainda se pode extrair dela. Mais cogeração de bioeletricidade e novas rotas de diversificação, como a produção de biogás e biometano, para geração de eletricidade e substituição de óleo diesel em caminhões, tratores e colhedoras, etanol de segunda geração e bagaço e palha em pellets para aumentar a viabilidade do seu transporte a longas distâncias, abrindo espaço para que substitua energia fóssil, principalmente carvão mineral, em termoelétricas, são iniciativas que devem tomar corpo, aumentando a renda gerada com a cana, reduzindo, no médio e longo prazo, o custo do açúcar e do etanol, o que beneficiará principalmente o consumidor. Mas o mundo busca não só mais eficiência energética como também meios de reduzir emissões relacionadas ao aquecimento global. Nesse sentido, uma importante direção foi indicada na COP23, em Bonn, quando, em novembro de 2017, dezenove países alinhados na Plataforma para o Biofuturo e com a adesão da Agência Internacional de Energia (IEA) e da IRENA, Agência Internacional de Energias Renováveis, emitiram uma importante e seminal Declaração de Visão. Essa Declaração, resumidamente, indica que, para que seja atingido o objetivo de limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius – o “2-degree scenario” –, é mandatório que, até 2030, a proporção da bioenergia na demanda global de energia duplique em termos percentuais e a proporção da produção e o uso de biocombustíveis sustentáveis na demanda total de combustíveis, incluindo terra, mar e ar, triplique. Adicionalmente, a Declaração indicou que esse objetivo ambicioso seria atingível com práticas agrícolas apropriadas e políticas públicas indutoras que permitam o atingimento dessas metas. Em termos práticos, essa meta foi detalhada pela IRENA, que indicou a necessidade de que a produção e o consumo de biocombustíveis produzidos de forma sustentável, hoje, principalmente etanol e biodiesel, passe do atual patamar de 130 bilhões de litros por ano para 500 bilhões de litros por ano até 2030 e para 1.120 bilhões de litros por ano até 2050. Essa Declaração deixa claro o papel extraordinário reservado para a bioenergia e os biocombustíveis produzidos de forma sustentável e o senso de urgência que existe no meio científico e no da formulação de políticas públicas em relação a esse tema. Não por outro motivo, Fatih Birol declarou, já algumas vezes, que a bioenergia é a grande fonte de energia negligenciada no mundo.

Mas, para que esse potencial seja atingido sem distorções, é fundamental que estejam implantadas políticas como as definidas no âmbito do RenovaBio. A certificação de biocombustíveis pelo RenovaBio precisa obedecer a um critério rígido de elegibilidade, que é o desmatamento zero. Isto é, a produção de biocombustível certificada não pode advir de matérias-primas produzidas em áreas que foram objeto de desmatamento. Esse critério garante que a produção de biocombustíveis certificada não está relacionada a desmatamento. A indicação de que é possível, desejável e necessária a expansão da bioenergia e dos biocombustíveis sustentáveis é importante por ser considerada escalável e replicável em vários países, por representar uma fonte de energia acessível aos consumidores, utilizando uma infraestrutura de armazenamento e distribuição já existente, por não depender da extração de minerais raros ou preciosos para a produção de baterias e por viabilizar a eletrificação com biocombustíveis, através dos veículos híbridos em paralelo e em série e, no futuro, as células a combustível. Os biocombustíveis produzidos de forma sustentável irão, crescentemente, aumentar a conexão entre a produção de açúcar e de energia, na forma de etanol, bioeletricidade e biogás-biometano. No futuro, o etanol e o biogás serão utilizados para a produção de bioquerosene, viabilizando o seu uso crescente na aviação. O elevado conteúdo de hidrogênio do etanol e do biometano significa que, com os biocombustíveis sustentáveis, já estamos na Era do Hidrôgenio. Não o hidrogênio produzido e armazenado em caros e arriscados tanques de alta pressão, mas hidrogênio envelopado na forma de biocombustíveis de elevada concentração, como o etanol, o biodiesel e o biogás-biometano. Fazendo isso com uma atividade que não encontra barreira tecnológica à entrada, geram-se emprego e renda descentralizados e se resolvem simultaneamente os dois maiores desafios da humanidade: o aquecimento global e a crise do emprego. Por esses motivos, acredito que o mercado de etanol e de açúcar ainda vai expandir consideravelmente em todo o mundo, e o que precisamos é estender a compreensão sobre esse potencial e essa viabilidade para outros países. Não necessariamente para exportar produto, até porque o Brasil estará, por muito tempo, ainda ocupado com o atendimento do seu próprio mercado interno. Mas expandir para outros países o conceito e a compreensão sobre a viabilidade e as vantagens da sua adoção, superando os preconceitos e falhas de entendimento que tem impedido a sua adoção em maior escala. n

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NA HORA H DA PROTEÇÃO DA CANA, É IHARA. PODE CONFIAR. Tecnologia na hora certa para a sua cultura.

Kellen

Severo


Falcon

Melhor controle das daninhas sem prejudicar o canavial

Poderoso maturador: Cana com + TAH

Único que controla todas as fases da cigarrinha

Herbicida exclusivo para canade-açúcar

No ciclo da lavoura tem hora certa para tudo e tem IHARA para toda hora.


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especialistas - mercado

hedge do açúcar Se pudermos apontar uma importante contribuição que o Governo Collor deu ao País, essa certamente foi a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), fruto da política intervencionista do Governo Vargas na indústria sucroalcooleira do Brasil. A importância do instituto era tão grande que, até 1960, ele era diretamente subordinado à Presidência da República. O IAA atuava na produção, estabelecendo quotas para a fabricação de etanol e para os produtores de cana. O IAA foi o executor do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), criado pelo governo brasileiro, em 1975, em meio à crise do petróleo, o maior embargo dos países membros da OPEP (Organização dos

Países Exportadores de Petróleo) e Golfo Pérsico de distribuição de petróleo para os Estados Unidos e países da Europa, que elevou o preço do produto a níveis estratosféricos. Mas isso tudo é história. A razão desse preâmbulo é mostrar que a atividade comercial, propriamente dita, conduzida pelas usinas é recente. Depois da desregulamentação, ou seja, com a extinção do IAA, as usinas passaram, forçosamente, a prestar mais atenção na atividade comercial que, antes, tinha em grande parte a influência do IAA. Com os esforços concentrados particularmente nas atividades agrícolas e industriais, a saída do IAA do cenário impôs às usinas especial atenção à atividade comercial. Em nada adianta ter um canavial bem cuidado e uma indústria eficiente se, na hora de vender o produto, a empresa desconhece os mecanismos disponíveis no mercado para a proteção contra variações de preço, conhecido como hedge. Foi apenas em meados dos anos 1990 que as usinas decidiram, de maneira muito tímida, se enredar por esse novo caminho. Fixação do preço do açúcar para exportação, tal como conhecemos hoje, era feita majoritariamente por meio dos contratos comerciais que as usinas tinham com as tradings. Usina com conta aberta nas corretoras de commodities com o intuito de

Se pudermos apontar uma importante contribuição que o Governo Collor deu ao País, essa certamente foi a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), fruto da política intervencionista do Governo Vargas na indústria sucroalcooleira do Brasil. "

Arnaldo Luiz Corrêa Diretor da Archer Consulting

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Opiniões operar futuros para se proteger era coisa muito rara. O Brasil também estava aumentando sua participação no mercado internacional de açúcar, ocupando parte do espaço deixado por Cuba, então um grande produtor. A demanda por proteção de preços começou a ser mais importante para as usinas no momento em que o Brasil se via com uma moeda menos instável do que nas décadas anteriores. A introdução do real em 1994 trouxe maior estabilidade à nossa moeda, depois de décadas de corrosão provocada por um processo inflacionário extremamente danoso. Antes do real, os exportadores de commodities tratavam seus produtos como uma reserva de valor, não precisando, portanto, na visão deles, de proteção de preços. A abordagem mudou significativamente quando a inflação foi debelada e uma moeda forte, criada. Assim, curiosamente, as usinas se depararam com duas situações simultâneas inéditas: tomar conta da parte comercial e proteger o valor de seus produtos. É interessante notar que, naquela época, ninguém falava de gestão de risco. Esse era um assunto que não orbitava o dia a dia das empresas. A demanda por proteção não foi apenas um processo interno. Lá fora também, as grandes tradings iam introduzindo o conceito de hedge de maneira bem lenta. Onde existe desconhecimento existe oportunidade, e, não raramente, as margens que as tradings obtinham negociando açúcar no Brasil naqueles tempos eram extremamente altas. A ponto de ser absolutamente comum que as tradings oferecessem viagens em primeira classe para toda a direção de uma usina para atender, por exemplo, eventos de açúcar espalhados pelo mundo. “Não existe almoço de graça”, como nos ensinou o grande professor da escola de Chicago, Milton Friedman. Ou, se quisermos usar a linguagem atual da internet, “se você não paga pelo produto, o produto é você”. Com a disseminação do conhecimento e a comoditização da informação, as usinas começaram a cuidar, elas próprias, da sua gestão de risco. E, quanto mais empresas em toda a cadeia do setor sucroalcooleiro cuida da gestão, maior é o volume de contratos futuros negociados na bolsa. Para se ter uma ideia de como o volume de negócios na bolsa cresceu nos últimos anos, em 1996, o Brasil exportou 5,4 milhões de toneladas de açúcar, e o volume de contratos negociados na bolsa de açúcar de NY, naquele ano, foi de 4,7 milhões de contratos (equivalentes a 240,3 milhões de toneladas). É claro que as

bolsas negociam múltiplos do volume físico porque ali estão não apenas os volumes correspondentes aos hedges de todos aqueles envolvidos na cadeia do produto (usina, instituições financeiras, fornecedores de insumos, provedores de operação de balcão, tradings, refinarias, consumidores industrias, entre outros), mas também dos fundos de commodities e dos fundos especulativos. Isso posto, o volume negociado em NY correspondia a 44,5 vezes o tamanho das exportações brasileiras. Hoje, as exportações brasileiras, nos últimos doze meses, alcançam 32,2 milhões de toneladas de açúcar, e o volume de contratos futuros negociados em NY, no mesmo período, foi de 33,1 milhões de contratos, que equivalem a 1,68 bilhão de toneladas, ou seja, 52,2 vezes o tamanho das exportações brasileiras. Temos um longo caminho ainda a percorrer. Por exemplo, uma das maiores dificuldades que causa inquietação às usinas é o fato de que, se, por um lado, ter uma conta própria numa corretora com o objetivo de fazer seus hedges são fundamentais para a política de risco e para a liberdade na tomada de decisão, por outro, implica correr o risco de uma chamada de margem que pode drenar o caixa da empresa. Como sabemos, operar na bolsa significa deixar um depósito de garantia por cada contrato que se pretende negociar e zerar as flutuações diárias de preço por meio do ajuste diário. O governo deveria estudar formas de possibilitar às usinas (na verdade, para todos os produtores agrícolas de commodities negociáveis em bolsa) garantir os melhores preços tendo acesso às bolsas e financiar eventuais chamadas de margens que lhe seriam ressarcidas assim que houvesse a entrega física do produto ao comprador final. O que ocorre hoje é que as usinas, para poderem fixar seus açúcares de exportação sem correr o risco de chamadas de margem, precisam ter um contrato comercial com as tradings e linha de crédito, para poderem operar os futuros antecipadamente à entrega física do produto, que vai depender do score de crédito que possuem com as tradings. Usinas com dificuldades financeiras só conseguem fixar açúcar à medida que vão entregando o produto às tradings. Àquelas que possuem robustez financeira, por outro lado, são oferecidas condições de fixação que se estendem, não raramente, até 24 meses antes do embarque. O BNDES poderia tentar estudar mecanismos com essa finalidade. Precisa ser provocado. n

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Índice

especialistas - mercado

Opiniões

a flexibilidade e a capacidade brasileira Na maioria das vezes que somos convidados a apresentar nossa visão de curto e médio prazos sobre o mercado mundial de açúcar, nós, analistas, costumamos nos concentrar na oferta nos principais países produtores e exportadores e analisamos o consumo de forma generalizada. É muito comum nos depararmos com afirmações do tipo: “para o próximo quinquênio, o consumo deve continuar crescendo, à razão de aproximadamente um ponto e alguns décimos percentuais ao ano”. Considerando que a produção e os excedentes exportáveis estão concentrados em poucos países, que alguns deles são praticantes do modelo de economia planificada, que o consumo está pulverizado ao redor do globo e, consequentemente, muito difícil de ser quantificado, ainda mais quando se tenta projetar os números do setor industrial e do varejo, é natural que tenhamos essa postura. Contudo essa questão me intriga bastante e, mesmo ciente do risco de incorrer em análises equivocadas, resolvi tentar divagar sobre o tema com uma abordagem fora do convencional. Em seu livro Factfulness - O hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos, Hans Rosling nos ensina, através de estatísticas compiladas pelo Banco Mundial e pelas Nações Unidas, a enxergar o mundo de uma forma menos dramática e mais positiva. Um dos dados que mais surpreende a maioria das plateias de suas apresentações mundo afora é que, ao longo dos últimos 20 anos, a proporção da população global vivendo em pobreza extrema caiu pela metade.

Basicamente, ele demonstra que, ao dividirmos o mundo em duas categorias, sejam elas ricos e pobres ou desenvolvidos e em desenvolvimento, distorcemos completamente todas as proporções globais na cabeça das pessoas. Na análise do autor, a maioria das pessoas (cerca de 75% da humanidade) não vive em países de baixa renda nem em países de alta renda, mas em países de renda média. Juntando-se os países de média e alta rendas, temos 91% da humanidade, com a maioria integrada ao mercado global e com condições de vida decente. Se aplicarmos esses dados a dois dos países que têm participação representativa no mercado de açúcar, vemos que, enquanto, em 1997, 42% da população da Índia e da China viviam em extrema pobreza, em 2017, esse percentual caiu para 12% na Índia e para impressionantes 0,7% na China. Só nesses dois países, tivemos 770 milhões de pessoas saindo, nos últimos 20 anos, das condições de extrema pobreza. Normalmente, associada a essa primeira melhora da renda, está a demanda por açúcar e por caloria. Isso provavelmente explica o fato de a China ter se tornado, nos últimos anos, o maior importador de açúcar brasileiro, e tudo indica que esse processo de melhores condições de vida deve continuar, apesar, infelizmente, do retrocesso causado por uma pandemia de consequências tristes e desastrosas. O autor chama também nossa atenção para o crescimento da população mundial nos próximos anos. De forma aproximada, ele cria um código PIN para o mundo 1-1-1-4, indicando que, atualmente, temos cerca de 1 bilhão de habitantes nas Américas, 1 bilhão na Europa, 1 bilhão na África e 4 bilhões na Ásia.

Atualmente temos, de forma aproximada, uma população assim distribuída: 1 bilhão nas Américas, 1 bilhão na Europa, 1 bilhão na África e 4 bilhões na Ásia. "

Luiz Silvestre Gomes Coelho Trader da Sucden do Brasil

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Segundo as projeções da ONU por ele citadas, no final deste século, esse código PIN passará a ser 1-1-4-5, ou seja, 3 bilhões de pessoas a mais na África e 1 bilhão a mais na Ásia. “Mais de 80% da população mundial viverá na África e na Ásia. ” Indo um pouco além, se as rendas asiáticas e africanas mantiverem a atual expansão, o centro de gravidade do mercado global mudará durante os próximos 20 anos do Atlântico para o oceano Índico. Estima-se que, a partir de 2040, tenhamos mais 2 bilhões de pessoas com maior consumo de alimentos, energia elétrica estável, saneamento básico e com condições até de adquirir uma motocicleta ou um carro popular. Porém não podemos esquecer que essa melhora nas condições de vida gera, em contrapartida, aumento nas emissões de CO2. Embora suas emissões per capita ainda sejam menores, China e Índia, por exemplo, já emitem mais dióxido de carbono que Estados Unidos e Alemanha, respectivamente. Em outras palavras, esses dois gigantes mundiais também precisarão encontrar urgentemente soluções para as questões ambientais, principalmente para suas grandes metrópoles, onde a péssima condição do ar está causando muitas mortes. Nesse contexto de aumento de demanda por alimentos e por energia limpa, não existe outro país tão bem posicionado para suprir as

necessidades do mundo quanto o Brasil. Qual país pode, por livre arbítrio, colocar ou retirar, em um único ano, 12 milhões de toneladas de açúcar no mercado global de açúcar? Qual país tem uma matriz energética tão limpa quanto a nossa, fortalecida por uma geração de energia a partir da biomassa sem precedentes no mundo? Qual país gerador de excedentes significativos de açúcar exportável tem padrões de ESG e um programa de geração de créditos de carbono tão desenvolvidos? A avaliação que faço acerca das perspectivas do mercado sucroalcooleiro mundial, no curto e no médio prazo, é que a demanda vai continuar crescendo e que, dificilmente, outro player terá condições de competir com a nossa indústria. Temos inúmeros problemas internos a serem vencidos (políticos, fiscais, trabalhistas, etc.), mas também temos recursos naturais, tecnológicos e financeiros que nos colocam na vanguarda da produção de açúcar e etanol e, se continuarmos aumentando nossa eficiência, dificilmente vamos perder essa posição. Por último, considero que o setor sucroenergético, tão vitorioso, carece da implementação de um projeto de marketing, capaz de disseminar interna e internacionalmente a valiosa contribuição que a atividade vem desempenhando nos campos tecnológico, socioeconômico e ambiental. n

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especialistas - mercado

tendências dos preços do açúcar e do etanol Após um ano de crise pandêmica e econômica global, a qual desencadeou a maior queda anual em demanda de combustíveis já vista na história recente, os mercados iniciaram 2021 buscando alicerces e parâmetros fundamentalistas para pautarem suas estratégias em um ano ainda de muitas incertezas. Para o setor sucroenergético do Brasil, alguns fatores macroeconômicos, como a forte depreciação do real perante o dólar americano, a queda da inflação global e a busca por alocações em índices de commodities pelos grandes fundos de investimentos, foram direcionadores para a alta na remuneração das usinas, mesmo em um ano de retração econômica.

Sob a óptica dos fundamentos de mercado, a forte queda na produção de açúcar nos países asiáticos abriu espaço para que o Brasil ampliasse a sua produção de açúcar em quase 12 milhões de toneladas na safra 2020-2021, encerrada no último dia 31 de março − uma alta de 43,73% no ano, em um cenário de precificação média 40% superior à safra 2019-2020. Traduzindo as variações anteriores e com base nos fechamentos do primeiro vencimento do contrato futuro ICE NY11, o açúcar exportado do Brasil na safra 2020-2021 teve um preço médio de 13.51 cents/lb, o que se traduziu em um preço médio de R$ 1.605/tonelada métrica (mt), aplicando-se os fechamentos cambiais diários. Durante toda a safra 2020-2021, os produtores do Centro-Sul (CS) do Brasil foram financeiramente encorajados a maximizar a produção e a exportação de açúcar, o qual gerou uma remuneração média de R$ 300/mt acima do equivalente a remuneração obtida pela venda do etanol hidratado no mercado doméstico spot. Tal perspectiva é fundamental para balizar a narrativa que explica a maior remuneração obtida pela venda do etanol combustível no mercado doméstico, mesmo em um ano de forte retração na demanda de combustíveis do ciclo Otto.

apesar do cenário de fortes incertezas sanitárias, políticas e econômicas com as quais o Brasil irá se defrontar em 2021, para o mercado de açúcar e etanol, os fundamentos e o cenário macroeconômico tendem a assegurar remunerações médias acima das observadas nos últimos anos. "

Nicolle Alves Monteiro de Castro Analista Sênior da S&P Global Platts

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Opiniões Ao passo que a venda de etanol hidratado reportado pelas usinas do CS na safra 2020-2021 expressaram uma queda de 14,25% em relação à safra anterior, o volume total produzido no mesmo período caiu 11,31%, neutralizando parte do superavit gerado pela retração de consumo de combustíveis. Além disso, as vendas de etanol anidro reportadas pelas usinas no acumulado da safra tiveram uma ligeira queda de 0,97%, e a produção total caiu 2,56%, desencadeando, em meados de setembro, uma forte corrida no mercado interno pela aquisição do etanol anidro no mercado spot. De acordo com dados da S&P Global Platts, o prêmio médio do etanol anidro sobre o etanol hidratado no mercado spot do CS do País, no ano safra 2020-2021, foi, em média, de 14,3%, o recorde para essa avaliação desde que a empresa iniciou a pesquisa em 2014. Para fins da base de cálculo acima, os tributos de ICMS e PIS e Cofins foram excluídos. Pela óptica macroecônomica, a forte depreciação do real no ano de 2020 e o retorno da tarifa de importação sobre o etanol não originado em países membros do Mercosul também tiveram um peso significativo para o maior prêmio do etanol anidro, PLATTS PVU RP HIDRATADO VS ICE NY11

NY sugar Fonte: ICE, S&P Global Platts

1 r2 Ab

0

21 nJa

ut -2 O

20 lJu

0 r2 Ab

Ja

n-

20

9 ut -1 O

19 lJu

Ab

r1

9

cents/lb

20 18 16 14 12 10 8 6

Hydrous (USc/lb sugar equiv.)

PREÇOS MÉDIOS - BASE RIBEIRÃO PRETO INCLUSO TRIBUTOS

3.500

Real/m³

3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500 ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEVW MAR Preços médios 5 anos

2019/20

2020/21

Min

Máx

já que a arbitragem para importar o biocombustível do país americano permaneceu fechada na quase totalidade do período safra 2020-2021. Cálculos da Platts publicados no último dia 16 de abril mostravam que o custo para importar etanol anidro originado na Costa do Golfo Americano e colocado no porto de Suape era de R$4.891/m³, o que, no mesmo dia, representava uma arbitragem fechada em mais de R$1.700/ m³ quando comparado ao benchmark da região, Platts etanol anidro DAP Suape. Mesmo em um cenário de ainda difícil previsibilidade quanto à demanda de combustíveis no Brasil e no mundo – majoritariamente decorrentes da crise financeira e mudanças no compartamento das empresas quanto à aplicação e à extensão do modelo de home office –, os panoramas fundamentalistas para o mercado de açúcar e etanol do CS do Brasil permanecem altistas na safra 2021-2022, a qual teve início oficial em 1° de abril. Já é consenso entre os grandes produtores que a escassez hídrica observada desde abril de 2020 irá gerar um impacto negativo no volume total de cana moída na região. Enquanto, no início de março, o mercado operava com uma projeção de 590 milhões de toneladas para a safra 2021-2022, as últimas atualizações apontam para um número mais próximo de 570 milhões de toneladas. Participantes do mercado estimam que, mesmo com um menor volume de cana a ser moída, o volume total de produção de açúcar deve permanecer estável, na casa dos 35 milhões de toneladas, sugerindo, portanto, que a forte retração seja sentida na produção de etanol. No primeiro cenário base, ou seja, com uma cana total de 590 milhões de toneladas, os dados da Platts Analytics apontavam para uma produção total de etanol de cana de 25,8 bilhões de litros, uma queda de 2 bilhões comparado à safra anterior. Essa redução seria parcialmente neutralizada pela maior produção de etanol de milho, estimada em 3,3 bilhões de litros, alta de 730 milhões de litros comparado ao ano safra 20202021. Além de uma menor produção doméstica, a importação deve continuar limitada no Brasil, já que a combinação ;

51


Q

Índice

especialistas - mercado da recente alta nos preços internacionais do milho e a forte tendência de um real desvalorizado perante o dólar americano não indicam que a arbitragem possa se abrir. Considerando os argumentos da demanda, mesmo em um cenário de vacinação no Brasil caminhando a passos mais lentos do que inicialmente previsto, além de um forte consenso sobre o agravamento do cenário econômico e aumento de desemprego no País, é esperada uma alta na demanda de combustíveis de ciclo Otto entre 3% e 6%. Em um cenário de leve recuperação de demanda e preços de gasolina entre janeiro e abril de 2021, em média acima de R$ 5/litro em todo o País, a demanda pelo etanol hidratado tem se demonstrado forte, mesmo em locais onde a referência da paridade está acima dos 70% do preço da gasolina. Ao contrário do que vimos no início de 2020, quando houve uma forte migração de consumo do etanol hidratado para a gasolina pelo fator preço, em 2021, o mercado inverteu essa dinâmica, e, até mesmo em regiões como Norte e Nordeste do País − onde não há paridade favorável ao E100 −, a demanda se manteve alta.

Como reflexo dessa maior demanda pelo etanol hidratado no período de entressafra do CS, somado a uma menor produção esperada, os preços médios do hidratado na entressafra (entre 1º de dezembro de 2020 e 31 de março de 2021) foram de R$ 2.815/m³ na base usina em Ribeirão Preto, incluindo tributos. Esse valor representa uma alta de 17% comparado ao mesmo período da safra 2019-2020, de acordo com a avaliação Platts. Apesar das fortes restrições de mobilidade impostas em todo o território nacional em março, o preço médio do etanol hidratado na base usina Ribeirão Preto, na primeira quinzena de abril de 2021, foi de R$2.972/m3. Esse valor representa alta de 73% ao ano e 34% comparado ao mesmo período de 2019, o qual registrou o maior volume de etanol produzido e comercializado pelas usinas do Centro-Sul do Brasil historicamente. Tais referências demonstram que, apesar do cenário de fortes incertezas sanitárias, políticas e econômicas com as quais o Brasil irá se defrontar em 2021, para o mercado de açúcar e etanol, os fundamentos e o cenário macroeconômico tendem a assegurar remunerações médias acima das observadas nos últimos anos. n

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reversão à frente O mercado global de açúcar é feito de ciclos, com alternações entre anos de deficit e de superavit. Neste momento, vivemos um ciclo deficitário, em que temos uma demanda superior à produção mundial pelo segundo ano consecutivo, a despeito de a crise gerada pela Covid-19 ter reduzido o ritmo de crescimento do consumo globalmente. Os maiores direcionadores desses ciclos são o clima nos principais países produtores e os preços. Enquanto o clima impacta diretamente o plantio, o desenvolvimento e a colheita dos canaviais/lavouras, os preços determinam área plantada, investimentos, estratégias comerciais para venda e exportação, ritmo da demanda, entre outros, e também são influenciados pelo clima. Assim, para entendermos o contexto atual do mercado de açúcar e traçar perspectivas para os próximos meses, precisamos, além de fazer essa leitura climática, buscar entender os impactos dos preços atuais sobre a oferta e a demanda da commodity nos principais players. O momento atual de preços altos se deve essencialmente ao clima. A Tailândia, que era o segundo maior exportador mundial de açúcar até a safra passada, sofre os efeitos de dois anos seguidos de estiagem que justificam grande parte do deficit global, já que sua produção saiu de quase 15 milhões de toneladas (MMT), no ciclo 2018-2019 (out-set), para 8,5 MMT na safra passada e menos de 8 MMT no ciclo 2020-2021. A elevação do preço mínimo da cana no país estimulou o plantio, o que, associado à perspectiva de um clima dentro da normalidade, traz perspectiva de aumento relevante

Opiniões

da safra do País no ano 2021-2022, podendo superar os 10 milhões MMT. Estimativas mais otimistas já apontam para 11 MMT. Enquanto isso, o segundo maior produtor global, a Índia, tem produção superior ao seu consumo interno pelo quarto ano seguido, trazendo ao país níveis de estoque bastante confortáveis e colocando-o de volta como um dos protagonistas do mercado exportador de açúcar. Apesar das queixas colocadas na Organização Mundial do Comércio (OMC), os indianos seguem lançando mão de uma série de instrumentos de controle sobre seu mercado sucroenergético. Além de os preços mínimos da cana estimularem o plantio, que deve garantir ao país mais um ciclo superavitário em 2021-2022, o açúcar indiano conta, na safra atual, com generoso subsídio próximo de 80 US$/t para exportação de 6 MMT, que deve ser integralmente ;

Apesar da situação delicada que vive o Centro-Sul, a retomada de produção de outros países, somada ao ritmo mais lento de aumento do consumo, pode indicar o início de uma reversão de ciclo do mercado de açúcar para um período superavitário. "

Lígia Heise Consultora Sênior em Gerenciamento de Riscos da StoneX

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especialistas - mercado aproveitado diante de preços atrativos do mercado internacional. Além do aumento do plantio, favorecido por volumes de chuvas elevados que encheram os reservatórios do país, o Departamento Meteorológico da Índia (IMD) previu que o período de monções deva ser marcado por precipitação dentro do normal, o que, se confirmado, tende a favorecer o desenvolvimento da cana, mantendo o país ativo na ponta exportadora ainda por algum tempo. No longo prazo, é importante destacar o programa governamental de estímulo à produção de etanol, que, só nessa safra, já deve resultar em quase 2 MMT a menos de açúcar sendo colocados no mercado em prol da produção do biocombustível. Muitos investimentos estão sendo feitos e devem resultar em elevação ainda maior da capacidade de destilação no país, o que, como consequência, pode levar a uma redução do excedente exportável indiano. Assim como ocorreu na Tailândia, a União Europeia foi castigada com dois anos de seca, o que, em conjunto com a proliferação do vírus amarelo, decorrente da proibição do uso dos pesticidas neonicotinoides, deve trazer sua

produção, nesta temporada, ao menor patamar desde 2015/2016. Neste momento, acontece o plantio da beterraba para a safra 2021/2022, e já se observa uma redução da área plantada. Apesar dos preços altos do açúcar, outras culturas concorrentes também se valorizaram, mostrando-se alternativas mais interessantes de cultivo neste momento. Além disso, geadas na França trouxeram perdas expressivas que exigirão o replantio e poderão se traduzir em redução adicional de área. Por outro lado, espera-se que o clima dentro da normalidade no restante da primavera e verão contribua para o aumento no rendimento das lavouras em comparação com os últimos anos, compensando a menor área plantada. Já no Centro-Sul brasileiro, é grande a preocupação com a quebra de safra decorrente do clima seco desde o ano passado. Mesmo com mix mais açucareiro, o ATR total poderá ter queda de mais de 10%, o que deverá reduzir a produção da região no ciclo que se inicia. O perfil da cana, mais jovem desde o ano passado, pode ajudar a amenizar a quebra de safra, mas certamente não a evitará.

PRODUÇÃO, DEMANDA E SALDO GLOBAL AÇÚCAR (MMT) ESTIMATIVAS StoneX

OFERTA DEMANDA 166

175

163 164 163 165

155 160

152

158

165

169

184 182 182 181 182

173

176

179

174

180

191

186 186 187

183

185 183 184

SALDO 11,7

11,3

5,9

5,5

2,8

0,3

7,7 2,9

0,4 -2,1

-4,7

-2,5 -3,2

-7,1

54

20/21*

19/20

18/19

17/18

16/17

15/16

14/15

13/14

12/13

11/12

10/11

09/10

08/09

07/08

-12,7 06/07

Q

Índice


Opiniões Do lado da demanda, destaque para a China e a Indonésia, os maiores importadores globais. A China importou grandes volumes desde o início de sua safra, com suas aquisições oficiais atingindo 3,75 MMT até março (vs. 1,39 MMT um ano antes). Entendemos que a força compradora chinesa tenha sido parte de esforço para recompor estoques e que deva perder força nos próximos meses, já que parte do volume adquirido ainda se encontra nos terminais, com problemas nas licenças de importação. Já a Indonésia tem importado bastante e deve continuar ativa nos próximos meses, mas o açúcar brasileiro competirá com o produto indiano, que conta com proximidade logística mais favorável. Nota-se, ainda, que as restrições de circulação e a crise econômica observada em muitos países podem também limitar o crescimento da demanda, como temos observado na Índia e no Brasil. Além disso, continua o movimento de desincentivo ao uso do açúcar em alguns países, como tem ocorrido no México, o que tende a manter a taxa global de crescimento do consumo menor do que víamos há alguns anos.

Apesar da situação delicada que vive o Centro-Sul, a retomada de produção de outros países, somada ao ritmo mais lento de aumento do consumo, pode indicar o início de uma reversão de ciclo do mercado de açúcar para um período superavitário. Se isso ocorrerá já na safra global 2021-2022, que se inicia em outubro, ainda há dúvidas, dependendo muito do clima que será observado nos próximos meses no Centro-Sul e nos principais players do hemisfério Norte. Havendo um clima dentro da normalidade, podemos estar próximos dessa reversão, que poderia trazer pressão negativa aos preços, a depender da evolução do dólar e do cenário macroeconômico, que, neste momento, está desempenhando fator de suporte para as commodities de uma maneira geral. De todo modo, por ainda estarmos vivendo as consequências do segundo ano seguido de deficit no mercado global, com relação ao estoque caindo para abaixo de 40%, podemos continuar esperando volatilidade alta e mercado sensível a qualquer notícia climática que possa trazer mudanças ao cenário desenhado e gerar aperto no trade flow da commodity. n

RELAÇÃO ESTOQUE/USO versus PREÇO NY ESTIMATIVAS StoneX

Preço NY (c/lb)

28,15 22,85 16,64

17,98

17,38

12,66

15,44

20/21*

17/18

16/17

12,31

15/16

14/15

13/14

12/13

11/12

10/11

09/10

08/09

07/08

06/07

13,42

12,57

19/20

16,82

20,91

18/19

10,28

14,93 11,73

Estoque/Uso

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especialistas - mercado financeiro

uma nova chance A introdução da tecnologia flex fuel para motores a combustão no começo dos anos 2000 deu início aos anos dourados do setor. A até então irrefutável competitividade de custo do etanol de cana levou a um rápido crescimento do mercado de etanol nos anos seguintes, com o consumidor final livre para optar pelo etanol hidratado em detrimento da gasolina. A euforia causada pelo exponencial crescimento da demanda, impulsionada por um positivo ciclo econômico local e global, levou a uma impressionante alta da produção, principalmente através de projetos greenfield: o volume de cana processada no Brasil mais que dobrou, saindo de 256 milhões de toneladas na safra 2000/2001 para 620 milhões de toneladas em 2010/2011. O cultivo da cana passou a desbravar áreas em novas regiões do País, e o etanol parecia fadado a se tornar uma commodity global com a busca por alternativas aos combustíveis fósseis. Tudo isso foi em larga parte capitaneado pelo mercado de capitais, que financiou o crescimento do setor através de IPOs, instrumentos privados de dívida e crédito estatal subsidiado. Intensificou-se um processo de profissionalização

Num setor ainda tão heterogêneo, onde os quatro maiores participantes ainda reúnem menos de 30% da capacidade produtiva, é de se esperar que surja um novo ciclo de consolidação. " Thiago Callegari Leme Duarte Sócio e Analista de Agronegócio da BTG Pactual

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e consolidação, inclusive com entrantes vindos dos setores de petróleo, tradings de commodities e infraestrutura que adquiriram e construíram usinas. A década seguinte trouxe um choque de realidade. Ainda que em parte causada pelas distorções da política oficial de controle de preços de combustíveis, além da desaceleração do crescimento econômico e da volatilidade cambial, o setor sucroenergético viu chegar a conta do crescimento desordenado. Em uma atividade onde mais de 70% do custo total da produção é agrícola e predominantemente fixo, o expressivo crescimento da capacidade de moagem de cana-de-açúcar não foi seguido pela adequada manutenção nos canaviais, ainda mais quando feito em regiões não tradicionais para o cultivo da cana, que exigiriam um novo rol de técnicas do trato agrícola para uma cultura semiperene, que demanda investimento e planejamento contínuos e de longo prazo. Somam-se a isso mudanças nas práticas de cultivo e colheita, como a mecanização, e o setor viu a produtividade medida pelo ATR por hectare cair de cerca de 12,3 toneladas na safra 2006/2007 para menos


Opiniões de 9,5 toneladas na safra 2011/2012, valor que ainda se manteve no último ano abaixo dos patamares de 15 anos atrás. Como consequência da rápida ascensão do custo marginal, o custo unitário médio da indústria, medido em centavos de dólar por libra-peso de produto, chegou a triplicar, muito acima da alta dos preços dos seus subprodutos açúcar, etanol e energia. O resultado foi um período de depressão, com fechamento de usinas menos eficientes, pedidos de recuperação judicial e a disparada da alavancagem financeira de boa parte dos produtores. O setor entrou em uma encruzilhada: conforme caíam as margens e crescia o endividamento, diminuía a capacidade de investimento e manutenção adequada dos canaviais, reduzindo a disponibilidade de matéria-prima e pressionando ainda mais os custos da operação. Há anos, o setor lida com excesso de capacidade de moagem e escassez de cana. Estima-se que a utilização de capacidade média das usinas do Centro-Sul tenha chegado a apenas 74% na safra 2010/2011, se recuperando de forma lenta nos anos seguintes. Para os players mais eficientes, esse número raramente caiu abaixo de 90%. Para uma indústria que depende predominantemente de volume para diluir custos, esse longo e tenebroso inverno cobrou seu preço. Não foi à toa que as atividades de fusão e aquisição se tornaram mais raras, apesar do relativo grande número de ativos à venda: com excedente de capacidade, houve pouco incentivo para se adquirirem novas usinas, uma vez que o canavial correspondente era insuficiente e frequentemente depreciado. Além disso, o estoque de dívida era, em muitos casos, superior ao valor do próprio ativo. Os múltiplos de aquisição de usinas, que chegaram a atingir US$ 140 por tonelada de capacidade de moagem durante os anos de euforia, chegaram a menos de US$ 40 por tonelada em algumas (poucas) transações recentes. Em alguns casos, as usinas foram descartadas, e o comprador apenas manteve a cana, que era o ativo efetivamente valioso. Aqui vale um comentário adicional: esse processo de ajuste à produção mais longo do que o desejável se deveu, em parte, aos distorcidos mecanismos de precificação da cana-de-açúcar no Brasil. Em qualquer ambiente livre de preços, um bem escasso (nesse caso, a cana) teria seu valor rapidamente elevado a ponto de incentivar maior inovação e investimento em produção. No entanto, com a precificação da cana atrelada principalmente aos preços do açúcar e do etanol, conforme definido pelo

Consecana, tal incentivo não ocorreu, retardando o processo de ajuste da capacidade produtiva e a recuperação das margens. E, assim, chegamos à terceira década deste século. O desafio relacionado à elevação da produtividade ainda se impõe, principalmente se comparada a outras culturas tradicionais do País. Com o uso de biotecnologia, a produtividade média do milho safrinha subiu mais de 100% em 16 anos, a despeito de uma expansão de quase 10x na área de cultivo. Isso hoje permite, inclusive, que o etanol produzido a partir do cereal tenha se tornado mais competitivo do que o da cana em termos de custo, algo impensável há até pouco tempo. De certa forma, os desafios transcorridos pelo setor sucroenergético durante os anos 2010 serviram com o propósito de seleção natural. Sob um cenário adverso de raras proporções, sobressaíram as empresas com capacidade financeira e operacional para manter investimentos no campo e, assim, garantir competitividade de custo, margens adequadas e baixa alavancagem financeira. Esses são os players que deverão comandar o processo de consolidação e profissionalização operacional e financeira do setor nos próximos anos. Num setor ainda tão heterogêneo, onde os quatro maiores participantes ainda reúnem menos de 30% da capacidade produtiva, é de se esperar que surja um novo ciclo de consolidação. Torçamos para que, dessa vez, esse movimento seja guiado por maior racionalidade. A inversão de alguns dos parâmetros macroeconômicos locais, com juros reais finalmente baixos e câmbio depreciado, somada à intensificação da agenda ESG, com maior incentivo à produção e ao consumo de biocombustíveis em diversos países, trazem uma instigante e animadora perspectiva para o setor nos próximos anos. O advento do RenovaBio reforça ainda não só o reconhecimento do papel do etanol como combustível eficiente e limpo, mas também contribui para o aumento da previsibilidade dos preços que serão recebidos pelos produtores a longo prazo, algo que o setor jamais usufruiu. Ainda no caso brasileiro, um ponto cabe destaque: uma menor presença do financiamento estatal abre espaço para uma maior participação dos mercados privados de equity, dívida e assessoria para fusões e aquisições. Parece inadmissível que um setor com tamanha importância atual e futura para a economia brasileira não tenha mais do que quatro empresas listadas em bolsa (sendo apenas três delas na B3). n

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Q

Índice

especialistas - política dos biocombustíveis

é preciso manter a liderança A emergência climática tem dominado o debate na última década entre as grandes nações do mundo e será pauta permanente em 2021. Como signatário do Acordo de Paris desde 2016, o Brasil avançou no tema com a Lei 13.576/2017, que trata da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). Passo que alavancou a indústria de biocombustível brasileira como setor econômico promissor e potencial influenciador em nível mundial. A regulamentação da legislação do RenovaBio foi realizada em tempo recorde e tornou realidade, em 2019, incentivos para expandir a produção e aumentar a eficiência e o uso de biocombustíveis na matriz energética brasileira. O objetivo é reduzir a emissão de carbono e substituir gradualmente combustíveis fósseis por biocombustível.

Apoiado pelo RenovaBio, o comércio de biocombustível atingiu, no ano passado, receita de R$ 14 bilhões. Só em 2020, foram emitidos 18.508.636 de CBIOs – Créditos de Descarbonização – e negociados, na B3, 14.896.273 desses créditos, a um preço médio de R$ 43,66/CBIO. A operação movimentou R$ 650.371.279,18, riqueza extra para o setor. Em 2021, a meta é dobrar esse valor. Com uma legislação de biocombustível vinculada ao setor de transportes, é preciso que o Brasil esteja atento ao debate mundial, especialmente no que se refere ao carro elétrico. O País vem mostrando sua capacidade em criar infraestrutura, gerar tecnologia e expandir o segmento de biocombustível. Com a decisão europeia de interromper, em 2030, a produção de carros a combustão, é necessário assegurar a sobrevivência da indústria brasileira de biocombustível e automobilística. Um sistema energético que tem uma indústria de etanol, um Programa Nacional de Produção de Biodiesel-PNBP e o RenovaBio é prova de que o Brasil tem muito para crescer em economia sustentável. Neste mês de abril, aconteceu a Cúpula dos Líderes sobre o clima, e, em novembro, ocorre a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança de Clima (COP26).

Só em 2020, foram emitidos 18.508.636 de CBIOs e negociados, na B3, 14.896.273 desses créditos, a um preço médio de R$ 43,66/CBIO. A operação movimentou R$ 650.371.279,18, riqueza extra para o setor. Em 2021, a meta é dobrar esse valor. "

Aurélio Cesar Nogueira Amaral Advogado sócio da RSA Advogados e Diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, ANP (até 03/2020)

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Opiniões O presidente americano, Joe Biden, foi o anfitrião da Cúpula e tem colocado a mudança climática como prioridade do atual mandato. Ele aposta na aprovação de um projeto para os EUA de US$ 2 trilhões em investimentos em infraestrutura, que traz, entre seus alvos, o desenvolvimento de energia limpa. Precisamos acelerar nossa inserção na bioeconomia, reforçando políticas como o RenovaBio e o Pagamento por Serviços Ambientais. Para isso, é fundamental a implantação de um mercado regulado de carbono, no formato de um Sistema de Comércio de Emissões (SCE), como meios para permitir uma maior atratividade e posterior aceleração de entrada de recursos financeiros no País. O mundo empresarial nacional aponta para a urgência de o País avançar na Política Nacional de Biocombustível. Uma dessas iniciativas é a carta-manifesto “Neutralidade Climática: Uma grande oportunidade”, que foi endereçada, em março, ao Governo. Na carta, 28 grandes empresas, apoiadas por entidades de diversos segmentos produtivos, como agronegócio, indústria, comércio e sociedade civil, pedem “metas mais ambiciosas” para o País no que se refere às mudanças climáticas. Entre elas, que o País se comprometa com a neutralidade de emissões em 2050 e não em 2060, como anunciado em dezembro pelo governo brasileiro. A carta apresenta o resultado de levantamento realizado por especialistas do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), demonstrando que o investimento em Soluções Baseadas na Natureza (NbS), como o reflorestamento, por exemplo, pode gerar US$ 17 bilhões em negócios até 2030. O professor de economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Eduardo Seroa, afirmou, em artigo publicado no dia 9 de abril, que estudos demonstram que o Brasil, sozinho, representa mais de 20% desse potencial global das NbS climáticas, que poderiam gerar para o País uma receita líquida entre US$ 19 e US$ 27 bilhões até 2030. A natureza privilegiada do Brasil oferece o cenário propício para que o País seja um grande contribuinte para a geração de crédito carbono. Um país que tem uma floresta Amazônica e uma indústria de biocombustível poderosa pode ser muito mais do que um importador de tecnologia. Em convergência com a emergência climática mundial, o Brasil tem como apostar no futuro, fortalecendo formas sustentáveis de exploração da natureza, explorando todo o crédito carbono para impulsionar a economia nacional, transformando esse crédito em

riqueza e em instrumento de combate à desigualdade e promoção do desenvolvimento. Todavia é preciso ficar alerta para não perdermos tempo e nem o espaço que conquistamos. É urgente definir com mais propriedade e clareza políticas públicas que integrem a cadeia dos biocombustíveis com a motorização da indústria automobilística. Do contrário, iremos ver o fechamento em massa da nossa indústria, que se converterá em importadoras e montadoras que, cada vez mais, desenvolverão essa atividade por meios de robôs. O que pode ser mortal para a indústria nacional de biocombustível e automotiva. Essa última nos deu o carro flex, o carro híbrido e uma logística de distribuição de etanol que, atualmente, nos permite rodar do Oiapoque ao Chuí sem problemas para o abastecimento. Algumas dessas conquistas estão em risco, assim como o nosso parque de engenharia e riqueza técnica. É imprescindível, portanto, que o País realize uma grande avaliação estratégica dos programas de renovação da frota e da sua regulação. O objetivo é integrar toda nossa potencialidade de produção de biocombustíveis, produção agrícola, produção energética, combinando com novas tecnologias e regulação adequada. A integração dessa cadeia nos prepara para não sermos tragados por uma política que vem de fora, impondo a obsolescência do parque automotivo nacional, com reflexos nefastos para a indústria de biocombustíveis. Cabem, ainda, ajustes no RenovaBio, na regulação para incorporar todo o potencial da produção de biocombustíveis a partir de grãos (biodiesel/etanol de milho), elevando sua elegibilidade, hoje de 40%, para algo em torno de 80%. Seria um acréscimo de mais de 20 milhões de CBIOs, correspondente a uma riqueza de mais de R$ 800 milhões por ciclo de certificação. Temos um agronegócio nacional pujante para fortalecer a indústria de biocombustíveis integrada à indústria automobilística. Para tanto, é preciso um grande pacto entre poder público, indústria e integrantes da cadeia do biocombustível para essa indústria avançar. A introdução de pacotes de tecnologia cria as bases para modelos de economia circular e bioeconomia. São alguns dos desafios que estão postos para que o Brasil assuma fatores de produção de serviços que valorizem a produção com menor impacto ambiental, em um ciclo de desenvolvimento positivo, contínuo, que preserva e aprimora o nosso capital natural, otimiza a produção de recursos e minimiza riscos. n

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Q

Índice

especialistas - logística

logística de etanol:

uma evolução em andamento...

Sendo o Brasil um país de dimensões continentais, grande população e com diversificadas regiões, culturas e produção agrícola, além de ter um grande intercâmbio com outros países (turismo e importações/exportações), é razoável imaginar que os fluxos de transporte de pessoas e de cargas tenham uma elevada demanda e razoável grau de complexidade para sua implantação. O que talvez não fique tão claro no cotidiano de uma pessoa leiga é como estão, atualmente, estabelecidos os modais de transporte e suas respectivas relevâncias no País, conforme figura 1.

Nota-se que, ainda nos tempos atuais, carregamos uma enorme dependência do transporte rodoviário de cargas, conforme a matriz de transporte brasileira. Essa condição foi construída no País ao longo de décadas, devido ao enfoque dado a esse modal de transporte em detrimento dos modais de larga escala, como o ferroviário, dutoviário e aquaviário. Essa questão é relevante aqui para o tema deste artigo, pois a nossa matriz de transporte, na forma estabelecida, se defrontará com a agenda que se impõe para os próximos anos. O País precisa de crescimento econômico sustentável, tendo que buscar por maior produtividade e menor impacto ambiental para se posicionar competitivamente no mundo globalizado.

Com maior enfoque de todos os envolvidos nesse processo de transição para o de uma economia de baixo carbono, podemos ter um grande salto de produtividade, sustentabilidade e competitividade na logística de etanol" Leandro Alves Almeida Diretor Comercial da Logum Logística

Quando se comparam as emissões de CO2 por modal de transporte, verifica-se a expressiva contribuição que pode ser obtida através dos modais de larga escala em comparação com o modal rodoviário, com especial destaque para o transporte dutoviário. Modal esse especializado no transporte de cargas líquidas em larga escala (etanol, por exemplo), possuindo grandes vantagens comparativas e competitivas versus os outros modais para esse tipo de carga, conforme figura 2.

62


Opiniões O transporte rodoviário tem como diferenciais competitivos uma elevada flexibilidade para transportar diferentes tipos de cargas e volumes, tendo ainda um baixo tempo de resposta para incremento de capacidade diante de um certo aumento na demanda (relativamente aos demais modais), além de um menor investimento inicial por parte do transportador para operar na atividade. Já os grandes limitadores dessa operação seriam: baixos ganhos de escala; elevada geração de poluentes; alta ocupação de vias públicas e riscos de incidentes. Limitadores importantes para se viabilizar um crescimento sustentável dos fluxos de cargas. 1. Matriz logística brasileira

Matriz Logística Brasileira 1.548,0 bilhões de TKU 11%

4%

0 %

356,8 bilhões de TKU

5%

249,9 bilhões de TKU

15%

125,3 bilhões de TKU 106,1 bilhões de TKU

65%

0,6 bilhões de TKU Rodoviário

Ferroviário

Hidroviário

Cabotagem

Dutoviário

Aeroviário

Total: 2.386,7 bilhões de TKU

2. Emissões de CO2 por tipo de modal

Duto

Navio Trem Caminhão

0

25

50

75

100

Milhões de m³

3. Volume de etanol transportado por modal no BR

Ferrovia

Cabotagem

Dutovia

Volume total ao ano

Já os modais de larga escala, ainda que guardem suas particularidades entre si, podemos colocar, de uma forma geral, como sendo seus principais diferenciais competitivos diante do modal rodoviário: elevados ganhos de escala; menor geração de poluentes; evita ocupação das vias públicas e traz menor risco de incidentes; gera maior eficiência operacional em toda a cadeia. Mas esses modais normalmente demandam a contratação de mais de um modal para se executar toda a rota (origem – destino final), denominada multimodalidade. Além disso, também necessitam de elevados investimentos iniciais, maior planejamento e cadência dos fluxos e, naturalmente, maior volume de carga. A sua viabilização requer uma visão de tempo mais longa para implantação, maturação e retorno do investimento. Assim, em resumo, o que se tem é que o modal rodoviário é mais competitivo para cargas mais fracionadas/ diversificadas e, normalmente, para menores distâncias. Já os modais de larga escala são mais indicados para cargas de elevado volume e baixa diversificação e com trajetos mais longos, tipicamente o que se pode verificar no mercado de commodities agrícolas. Como o enfoque principal deste artigo é a logística de etanol, vamos dar uma avaliada na evolução dos volumes transportados nos modais de larga escala nos últimos anos, conforme figura 3. Apesar de haver ainda muito o que evoluir diante do tamanho atual e potencial do mercado de etanol, nota-se que houve avanços no montante transportado por modais de larga escala, diante de alternativas logísticas que vêm sendo desenvolvidas e exploradas para o transporte desse biocombustível. Como exemplos: • terminais de captação ferroviária foram implementados no início da última década no Centro-Oeste do País, possibilitando o transporte do etanol por ferrovia dessas regiões até o hub de combustíveis de Paulínia/SP; • operadores marítimos disponibilizando mais embarcações para o transporte de etanol com origem nos portos do Sudeste e destino nos portos da re; gião Norte-Nordeste do País;

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especialistas - logística

Opiniões • novos trechos de dutos e terminais de captação dutoviária implementados em meados da última década pela Logum Logística no interior de MG e de SP, possibilitando o transporte do etanol por dutos dessas regiões até Paulínia-SP, regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, além de acesso a uma saída portuária (Terminal de Ilha D’água-RJ), para exportação e/ou cabotagem para a região Norte-Nordeste. Destacando que, nas últimas duas décadas, o setor sucroenergético passou por uma transformação formidável, com ganho de escala, aumento de tecnologia e eficiência na produção de etanol, açúcar e energia (além de outros subprodutos), visando desenvolver soluções sustentáveis para uma economia de baixo carbono. A produção nacional de etanol saltou de 15,8 bilhões de litros em 2005 para 30 bilhões em 2020, ambicionando chegar a mais de 40 bilhões de litros em 2030, com o advento do RenovaBio. E esse crescimento todo vem demandando (e demandará) um “esforço” crescente no desenvolvimento de soluções logísticas para a movimentação mais eficiente e sustentável de toda a produção. E o que parece que está ficando cada vez mais claro para os agentes públicos e privados no País é que o caminho do crescimento passará necessariamente por uma evolução (ou uma verdadeira “revolução”) na nossa matriz de transportes, tendo maior participação de modais de larga escala em detrimento do transporte rodoviário, ainda que esse modal seja de fundamental importância e que sempre deverá ter participação relevante. Programas de governos vêm estimulando a produção e uso de biocombustíveis no Brasil (RenovaBio) e no Mundo (ex.: LCFS, gerenciado pelo CARB, na California/EUA), considerando, no cálculo dos seus incentivos econômicos, a redução da pegada de carbono na produção e também na logística para transporte desta. Com maior enfoque de todos os envolvidos nesse processo de transição para o de uma economia de baixo carbono, podemos ter um grande salto de produtividade, sustentabilidade e competitividade na logística de etanol, afinal, não parece ser prudente estimular a produção de biocombustíveis sem soluções sustentáveis para o seu transporte, correto?! n

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especialistas - comércio ilegal

Opiniões

etanol brasileiro, sucesso e frustração O etanol brasileiro completou 45 anos desde a criação do Proálcool, em 1975. Um sucesso sob a óptica da produção de uma energia limpa e renovável, com avanços gigantescos em diversas áreas, desde a biotecnologia, o desenvolvimento e a inovação de equipamentos e de insumos, na eficiência logística, no desenvolvimento humano, até no manuseio da terra, dentre vários outros. O etanol já ultrapassa 50% do volume dos combustíveis consumidos no ciclo Otto, totalizando 28,9 bilhões de litros em 2020, posicionando o Brasil dentre os países líderes em consumo de energia veicular renovável. A frustração decorre da sonegação e da inadimplência tributária no hidratado, que atinge 1/3 do volume comercializado, principalmente do (ICMS) segundo apurado por entidades do setor,

o que o torna o combustível campeão de sonegação e inadimplência, num montante estimado de R$ 5 bilhões ao ano e crescente. Perde a sociedade, o erário e os concorrentes leais que pagam seus impostos normalmente. O valor elevado dos tributos, a complexidade da legislação tributária, a morosidade da fiscalização e do judiciário e a impunidade criam um ambiente propício para os contribuintes mal-intencionados, mais conhecidos como devedores contumazes (aquele contribuinte que constitui uma empresa com o pressuposto de não pagar tributos, enriquecer rapidamente através da prática predatória de preços, gerando uma concorrência desleal sem precedentes). 1) O valor elevado dos tributos: Combustível tem tributação elevada em quase todo o mundo. O Brasil se situa numa faixa intermediária. Importante ressaltar que, no caso dos combustíveis, dependendo do produto e do estado onde é comercializado, a tributação pode atingir de 5 a 10 vezes o total ; das margens de comercialização.

... o devedor contumaz, em 5 anos, se tornou milionário e, ao final, ficou impune. Para a União e os estados, resta a frustração do 'ganhou, mas não levou' ”.

Helvio Rebeschini Diretor da DO & UP Consultoria

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especialistas - comércio ilegal 2) A complexidade da legislação tributária: No que tange aos combustíveis, além das legislações sobre os tributos federais, existem 27 legislações estaduais que tratam do ICMS, uma para cada tipo de combustível, ou seja, os 3 principais combustíveis demandam 81 legislações sobre o ICMS. No caso específico do etanol hidratado, entre um estado e outro, as alíquotas do ICMS variam entre 12% e 30% dos preços médios praticados nas bombas (PMPF). Outro aspecto relevante, no caso específico do etanol combustível, diferentemente da gasolina e do diesel, cujos impostos são recolhidos no elo produtor e/ou importador da cadeia, no etanol hidratado a arrecadação ocorre em 2 etapas: parte na produção e/ou importação e parte na distribuição. 3) Morosidade do sistema: A complexidade da legislação somada ao rito processual no julgamento de um auto de infração tributária (AI) demandam entre 4 e 6 anos para a conclusão. Cerca de 2 anos na esfera administrativa junto ao Conselho de Contribuintes, estatísticas mostram que, no setor, mais de 85% dos AIs são favoráveis aos estados. Os devedores contumazes imediatamente questionam judicialmente, e lá se vão mais 3 a 5 anos de discussão com a infinidade de recursos e apelações que a legislação permite. Importante ressaltar que, no setor de combustíveis, o estado sai vencedor na maciça maioria, porém dificilmente recebera a dívida, como veremos a seguir. 4) Impunidade: Talvez, esteja aqui o maior incentivo à sonegação e/ou inadimplência dos tributos. As secretarias de fazenda dos estados estão abalroadas de contribuintes condenados a pagar após 4 a 6 anos de demanda. Ocorre que esses contribuintes, muitas vezes, já estão inativos. No caso das distribuidoras, a maioria não possui bens ou ativos para honrar a dívida. Ou seja, o devedor contumaz, em 5 anos, se tornou milionário e, ao final, ficou impune. Para a União e os estados, resta a frustração do “ganhou, mas não levou”. Os estados, através dos Regimes Especiais de Fiscalização e Tributação, procuram diferenciar o contribuinte normal e adimplente dos contribuintes sistematicamente sonegadores e/ou maus pagadores (o devedor contumaz). No entanto, sem muito sucesso, pois esses contribuintes questionam judicialmente os regimes especiais alegando que são meios coercitivos usados contra o contribuinte, obtendo, na maioria das vezes, liminares,

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Opiniões

afastando os regimes e, por consequência, aumentando o passivo tributário. No que pese a Constituição Federal de forma acertada proteger o contribuinte da voracidade do estado na arrecadação, essa mesma Constituição também prevê que regimes especiais possam ser adotados. Art. 146-A. Lei complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo de prevenir desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência de a União, por lei, estabelecer normas de igual objetivo. Existe solução sem uma ampla reforma tributária? Sim, se observamos o que já está previsto na Constituição Federal, bem como a jurisprudência estabelecida pelo STF sobre o tema sonegação/inadimplência e seus impactos na concorrência, é possível mitigar a maioria dessas fraudes. Veja: a) Os Conselhos de Contribuintes devem rever normas e procedimentos internos, visando a maior celeridade na análise dos AIs, estabelecendo filtros que levem em consideração o tempo do AI, o montante, a recorrência, dentre outros, observando-se obviamente as limitações previstas na legislação. b) Tramita no Congresso o PLS 284/17 de autoria da ex-Senadora Ana Amélia, que visa regulamentar o Artigo 146-A da CF. Esse PLS visa caracterizar o devedor contumaz de tributos, na medida em que valida os Regimes Especiais Fiscalização e de Tributação, reduzindo drasticamente os questionamentos judiciais e as consequentes liminares tributárias. c) Sempre defendi que, no caso de o Judiciário entender que ainda assim deva conceder uma liminar a um contribuinte, que, nessa decisão, o montante do tributo correspondente seja depositado em juízo. Isso não prejudica o contribuinte, uma vez que ele continuará comercializando em condições de igualdade com o seu concorrente leal sob a ótica da tributação. Dessa forma: 1) a concorrência desleal deixa de existir, 2) ao final da discussão do processo, caso o contribuinte tenha razão, ele terá o montante depositado a seu dispor, e 3) caso o Estado tenha razão, até então tem sido superior a 85%, ele, Estado, e a sociedade não perderão, revertendo a situação vigente hoje do “ganha, mas não leva”. d) A decisão por maioria do STF no RE 550769/RJ, de 25/05/2013, cria jurisprudência a respeito do tema:


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11 2541-7145 11 2541-7049 www.centurydobrasil.com.br e) Trecho do voto do Ministro Joaquim Barbosa: “não há que se falar em sanção política se as restrições à prática de atividade econômica [cassação] objetivam combater estruturas empresariais que têm, na inadimplência tributária sistemática e consciente, sua maior vantagem concorrencial”; f) Através de Lei Complementar regulamentar, O artigo 155 da CF., onde caberá aos estados e ao DF: 1) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o imposto incidirá uma única vez, qualquer que seja sua finalidade, 2) serão uniformes em todo o território nacional, podendo ser diferenciadas por produto, 3) poderão ser específicas, por unidade de medida adotada, ou ad valorem, incidindo sobre o valor da operação ou sobre o preço que o produto. f1) A Emenda Constitucional 33, de 11 de dezembro de 2001, estabeleceu que: Art 4º Enquanto não entrar em vigor a lei complementar de que trata o art. 155, § 2º, XII, h, da Constituição Federal, os Estados e o Distrito Federal, mediante convênio celebrado nos termos do § 2º, XII, g, do mesmo artigo, fixarão normas para regular provisoriamente a matéria.

g) Recentemente, o Poder Executivo enviou ao Congresso o Projeto de Lei Complementar (“PLC”) nº 16/2021, que visa justamente regulamentar o Art. 155 da CF, instituindo o ICMS monofásico sobre combustíveis derivados e não derivados do petróleo. Existe um receio dos estados de perder arrecadação, uma vez que a definição de única alíquota nacional do ICMS por produto tenderia a ser definida pela média ponderada Brasil; como consequência, alguns estados teriam perda de arrecadação num primeiro momento, no entanto outros teriam ganho. Para solucionar isso, bastaria criar um fundo de compensação temporário e progressivo, para o qual os estados ganhadores repassariam o excedente de tributos auferido, e este, por sua vez, repassaria aos estados perdedores. Em resumo, existe solução, independentemente de uma Reforma Tributária. É preciso sim vontade política em se aprovar o que está proposto na mesa, bem como os conselhos de contribuintes reverem seus procedimentos visando a maior celeridade, e o Judiciário, definir o depósito em juízo dos tributos nas decisões liminares tributárias onde se caracterize o devedor contumaz. n

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especialistas - academia

competitividade e custo de produção da cana-de-açúcar:

um olhar para a última década

Independente da atividade ou segmento, o resultado econômico da comercialização de um determinado produto é mensurado pela diferença entre o preço de venda e seu custo de produção, o que pode refletir em lucro ou prejuízo na negociação. Essa conceituação é importante, principalmente para produtos cujos preços são determinados pela dinâmica de oferta e demanda, como é o caso das commodities agrícolas. No caso do açúcar e do etanol produzidos a partir da cana-de-açúcar no Brasil, ainda há uma inter-relação com outras variáveis, tal como petróleo e taxa de câmbio. A robustez e a geração de caixa das empresas do setor sucroenergético estão associadas a operações mais eficientes e a custos de produção mais baixos, embora o processo de ajuste da curva de custos seja lento, uma vez que o ciclo da cana-de-açúcar é longo. Dessa forma, este documento tem por objetivo analisar o custo de produção de cana-de-açúcar na última década, na região Centro-Sul do País, e as perspectivas de mercado.

Produtividade e o custo de cana-de-açúcar A produtividade média dos canaviais atingiu 77,90 toneladas/ha na safra 2020/2021, resultado superior ao da safra anterior, que fora derivado, principalmente, de 3 (três) aspectos, como: 1. avanço das melhores práticas agronômicas com maior investimento no campo, resultando em menor idade média do canavial, a qual reduziu-se de 3,77 anos, na safra 2019/2020, para 3,6 anos, na safra 2020/2021, fruto dos plantios realizados em 2019; 2. condições climáticas mais favoráveis (mais chuvoso) no período de formação do canavial – entre janeiro e fevereiro de 2020; e 3. alteração nas práticas realizadas no canavial, como a priorização da colheita inicial de canaviais mais jovens, a expansão do plantio por meio da meiosi (e consequente redução no consumo de muda), bem como pela redução do plantio de cana de 12 meses devido à seca. No entanto esse não foi o cenário da produtividade agrícola ao longo dos últimos dez anos. Ela praticamente permaneceu estagnada,

Se essas perspectivas se concretizarem, finalmente, o setor terá a oportunidade de pavimentar o caminho para o regresso do crescimento. (...) O momento é crucial para o setor expandir sua competitividade no mercado mundial. " Haroldo José Torres da Silva Gestor de Projetos do Pecege (Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas da Esalq-USP


Opiniões em função de adversidades climáticas, da mecanização da colheita – quando ela implica no arranquio e pisoteamento das soqueiras e na compactação do solo –, da expansão para ambientes de produção mais restritivos e da baixa capacidade de investimento no campo. Isso culminou em canaviais velhos, rendimento agrícola abaixo do potencial, perda de valor dos ativos e aumento sistemático dos custos de produção do setor sucroenergético brasileiro. Nesse contexto, qual a relação entre a produtividade e o custo de produção da matéria-prima? A matéria-prima, conforme estudos do Pecege, representa cerca de 70,85% do custo agroindustrial total, isto é, a área agrícola respondeu, em média, por 70,85% dos custos para a produção dos produtos finais (açúcar e etanol). Além disso, em torno de 86%, 75% e 50% dos custos são fixos, respectivamente, nas áreas agrícola, industrial e administrativa. Dessa forma, fica evidente que a estrutura de custos do setor sucroenergético brasileiro é predominantemente fixa e agrícola. Se a maior parcela dos custos é fixa e o segmento vem gerando menos produto por área (especificamente, tonelada de ATR por hectare), há um aumento do custo fixo médio, o que explica uma parcela da deterioração dos resultados das usinas brasileiras. O custo caixa unitário reflete alavancagem operacional. Dessa maneira, uma menor oferta de matéria-prima – em função da redução da ‑produtividade agrícola – não contribui para uma maior diluição dos custos fixos, por meio da economia de escala. Nesse caso, há uma queda no nível de utilização da capacidade instalada (NUCI), limitando a diluição dos custos fixos e, por conseguinte, o potencial de geração de caixa das usinas sucroenergéticas, majorando os custos unitários de produção, tal como se verificou na última década. A Tabela em destaque apresenta a evolução do custo de produção da cana-de-açúcar culti-

vada pelas próprias usinas na região Centro-Sul, ao longo das últimas dez safras – entre 2011/2012 a 2020/2021. O custo nominal total de produção de cana-de-açúcar, na região Centro-Sul do Brasil, aumentou 44,26% entre as safras 2011/2012 e 2020/2021. Por outro lado, houve uma forte redução do custo de produção da cana-de-açúcar, quando mensurado em dólares, em função da desvalorização cambial ocorrida no período. A moeda brasileira passou por um processo de desvalorização cambial, saltando de R$ 1,70/US$ na safra 2011/2012 para R$ 5,41/US$ na 2020/2021. Isso contribuiu para um aumento da competitividade do Brasil no mercado internacional, mesmo que, em termos de moeda local (reais), tenham sido observados aumentos nominais dos custos de produção. Avaliando especificamente o período mais recente, a combinação de efeitos econômicos da pandemia, como a maior aversão ao risco, baixas taxas de juros e piora do quadro fiscal brasileiro, levaram a uma grande saída de divisas, enfraquecendo a moeda brasileira, a qual sofreu uma desvalorização em relação ao dólar de mais de 30% em 2020. Diante dessa conjuntura, direta e indiretamente, 54,47% do custo caixa agrícola das usinas sucroenergéticas é afetado pela taxa de câmbio, através de 3 (três) grandes vetores, a saber: 1. preço dos insumos agrícolas (fertilizantes, corretivos e defensivos); 2. preço do diesel; e 3. preço do ATR, conforme apurado pelo Consecana/SP. Este último é afetado indiretamente pela taxa de câmbio graças aos preços do açúcar para o mercado externo e do etanol carburante, dada a política de precificação da gasolina adotada pela Petrobrás, que reajusta sua gasolina não apenas pela variação do petróleo no mercado mundial, mas também pela cotação da moeda americana. Nesse cenário, a forte desvalorização do real frente ao dólar combinada com os movimentos ;

INDICADORES TÉCNICOS E CUSTO DE PRODUÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NA REGIÃO CENTRO-SUL DO BRASIL ÚLTIMOS DEZ ANOS (2011/2012 A 2020/2021) Indicador (Unidade) Produtividade Agrícola (t/ha) Qualidade da Matéria-Prima (kg de ATR/t)

2011/ 2012 68,70

2012/ 2013 74,40

2013/ 2014 79,60

2014/ 2015 73,80

2015/ 2016 84,20

2016/ 2017 78,10

2017/ 2018 76,39

2018/ 2019 74,58

2019/ 2020 76,40

2020/ 2021 77,90

137,54

135,57

133,38

136,45

130,51

133,03

136,60

137,88

138,50

144,72

Toneladas de ATR/hectare (t ATR/ha)

9,45

10,09

10,62

10,07

10,99

10,39

10,43

10,28

10,58

11,27

Idade Média (anos)

3,60

3,55

3,40

3,30

3,31

3,49

3,73

3,78

3,77

3,60

0,4940

0,4753

0,4572

0,4763

0,5499

0,6839

0,5901

0,5826

0,6579

0,7783

Preço do ATR (R$/kg de ATR) Taxa de Câmbio (R$/USD)

1,700

2,012

2,250

2,478

3,593

3,298

3,217

3,786

4,117

5,410

Custo de Produção da Cana-de-Açúcar (R$/t) Custo de Produção da Cana-de-Açúcar (US$/t)

77,21 45,42

80,57 40,05

81,24 36,11

89,03 35,93

92,65 25,78

96,84 29,36

108,12 33,61

110,70 29,24

111,82 27,16

111,39 20,59

Nota: Fonte Pecege 1. Média da taxa de câmbio comercial para venda, divulgada pelo BACEN, durante o período de safra (de abril do ano t a março de t+1). 2. Valores oriundos dos levantamentos de custos conduzidos pelo PECEGE no âmbito do Projeto “Compara Usinas”. * https://radarsucroenergetico.com

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especialistas - academia do açúcar no mercado internacional garantiram bons preços para o adoçante no mercado doméstico, reforçando a competividade do açúcar brasileiro no mercado internacional e favorecendo a recuperação da participação de mercado do País no mercado global, especificamente a partir da temporada 2020/2021. Portanto é importante destacar que a taxa de câmbio contribui diretamente para alavancar a geração de receita através do açúcar (e, indiretamente, no caso do etanol), porém corrói uma parcela da margem através pass-through das variações da taxa de câmbio para os preços dos principais insumos utilizados no processo produtivo. Apesar de pressões exógenas sob o custo de produção, nas últimas três safras, verificou-se uma maior estabilidade do custo de produção da matéria-prima, na casa dos R$ 111/tonelada, em função dos esforços do setor no controle e gestão do custo de produção. Por exemplo, constatou-se um crescimento do plantio através de meiosi, o que tem colaborado para a redução dos custos dessa etapa de produção e para o aumento da qualidade dos canaviais. Dentre os demais benefícios desse sistema, é possível destacar a redução do custo de CTT (Corte, Transbordo e Transporte) da muda, uma redução no consumo de mudas empregadas no plantio, além da obtenção de receitas adicionais com a rotação de outras culturas, em geral, leguminosas. Para onde vamos? Ao analisar a trajetória histórica do setor sucroenergético brasileiro, especificamente durante a década de 2010, observou-se que a estrutura de capital era impeditiva, resultando num retorno sobre o capital investido abaixo do custo médio ponderado de capital (WACC). Em função desse cenário, o setor perdeu eficiência e produtividade, cujo quadro se agravou pela expectativa frustrada de melhores preços de açúcar e etanol. Revertendo essa tendência, notadamente na safra 2020/2021, verificou-se uma melhora de geração de caixa, tanto para usinas quanto para fornecedores de cana-de-açúcar. Nessa linha, com a recuperação dos preços dos produtos – tanto do açúcar quanto do etanol –, faz-se necessária a retomada dos investimentos em novas tecnologias, o emprego de novos materiais e variedades modernas, isto é, investimentos que asseguram a manutenção da competitividade futura. O processo de recuperação do setor sucro-

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energético brasileiro, mais do que políticas públicas ou a definição clara de medidas regulatórias, passa por um processo de ajuste interno. Espera-se que, no curto prazo, a melhora da margem operacional comece a recuperar a capacidade de remuneração da atividade, estimulando ainda mais investimentos que melhorem eficiência dos ativos na área agrícola e indústria. Apesar do cenário que se desenha de potencial aumento dos custos de produção para a safra 2021/2022 e de redução da produtividade agrícola, sopram bons ventos em relação aos preços dos produtos, tanto do açúcar quanto do etanol, os quais tendem a ser superiores aos observados na safra 2020/2021, contribuindo para a manutenção de boas margens econômicas, em especial para o adoçante, sinalizando “ventos favoráveis” ao setor, após um período de safras revoltas. Se essas perspectivas se concretizarem, finalmente, o setor terá a oportunidade de pavimentar o caminho para o regresso do crescimento. Entretanto o desafio para o setor sucroenergético brasileiro é elaborar bons projetos e aproveitar a recuperação dos preços dos produtos (açúcar e etanol) para reestabelecer a renovação dos canaviais e, assim, retomar os investimentos. O momento é crucial para o setor expandir sua competitividade no mercado mundial. Diante desse cenário, as usinas do setor sucroenergético brasileiro deverão continuar focadas na redução de custos, consolidando iniciativas para readequar suas estruturas produtivas e se tornar mais resilientes num ambiente bastante desafiador. Aliás, a pandemia de Covid-19 trouxe mudanças estruturais e novos desafios ao setor sucroenergético brasileiro, bem como reforçou a necessidade de diversificação da sua produção. Prova disso foi o observado entre as safras 2019/2020 e 2020/2021, ocasião em que se saiu de uma safra recorde na produção de etanol para uma safra recorde na produção de açúcar. Essa diversificação continuará a se materializar no setor sucroenergético brasileiro, em especial através de novos usos e produtos oriundos da cana-de-açúcar, tal como a produção de levedura seca, biofertilizantes, biometano e biogás, além da recuperação de CO2 a partir do processo de fermentação. Trata-se de um novo ciclo para o setor, baseado nos princípios da economia circular e de maior geração de valor a partir da matéria-prima e do ativo industrial. n


especialistas - tecnologia

Opiniões

biotecnologia a caminho do

incremento na produtividade

Para o setor sucroalcooleiro, a busca pelo aumento da produtividade é uma questão de sobrevivência econômica. Isso é possível através do plantio de novas variedades com maior resistência a pragas e doenças e mais bem adaptadas a diferentes regiões e condições climáticas. O caminho a ser percorrido é longo, e a biotecnologia tem muito a contribuir para que isso aconteça. Vários países tiveram um incremento da produtividade nesses últimos anos, mas foi o Brasil que evoluiu rapidamente com a introdução de novas soluções em biotecnologia. Porém toda mudança provoca uma certa resistência por parte do setor, que questiona o seguinte: “Mas o uso da biotecnologia é seguro e traz resultados?”.

in vitro, seja para renovação de área, expansão de novas variedades, limpeza e aumento do vigor das plantas e formação de viveiros, temos uma resposta segura e satisfatória com os resultados alcançados. Uma frase que costumamos ouvir do setor é: “Sabemos da importância das melhorias no manejo e dos tratos culturais, mas, sem a introdução de novas variedades sadias e vigorosas, não teríamos o aumentado da produtividade “. A biotecnologia vem trazendo benefícios para o setor, seja através de pesquisas voltadas para o melhoramento genético de novas variedades, seja do cultivo in vitro para multiplicação de plantas livre de patógenos e alto ; vigor vegetativo.

O Brasil tem a maior área plantada com mudas in vitro de cana-de-açúcar no mundo, envolvendo áreas de expansão via meiose para acelerar a introdução de novas variedades e áreas com novas variedades, convencionais ou geneticamente modificadas. "

Alexandre Landgraf Fernandes Alves Diretor da Explante Biotecnologia

A resposta está nesses últimos 10 anos, em que o setor vem aplicando as melhores tecnologias, conseguindo elevar a produtividade dos canaviais. Empresas de biotecnologia, multinacionais e órgãos de pesquisa vêm trabalhando junto ao setor, possibilitando o plantio de milhares de hectares de mudas de qualidade. Quando avaliamos a dimensão das áreas plantadas com mudas que passaram pelo processo do cultivo

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especialistas - tecnologia

O melhoramento genético da cana-de-açúcar tem um papel fundamental no incremento da produtividade através do desenvolvimento de novas variedades, seja pelos métodos convencionais de cruzamento, ou pela transformação genética para incorporação de novos genes de interesse. O sequenciamento do genoma da cana abriu um leque enorme de oportunidades para o setor, e, futuramente, teremos canaviais mais produtivos adaptados a solos restritivos e com resistência ao estresse hídrico e às principais pragas e doenças. Já o cultivo de mudas in vitro é uma técnica mundialmente utilizada para a propagação de plantas sadias e vigorosas. Trata-se de uma ferramenta de grande importância, tanto que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) criou, em 2014, o National Clean Plant Network (NCPN), Rede Nacional de Plantas Limpas, para fornecer materiais de propagação vegetativa livres de patógenos das principais culturas, garantindo a competitividade global dos produtores dos EUA. Temos outros programas na Europa que visam ao mesmo fundamento, a segurança da cadeia de fornecimento de mudas para os produtores. Já a Ásia vem se destacando como um grande player de cultivo in vitro, para atender à demanda de mudas para os seus principais setores econômicos e também para vários outros países. Atualmente, as instituições de pesquisa e melhoramento de plantas de todo o mundo fazem intercâmbio de materiais promissores, através do envio de plantas in vitro, garantindo, assim, a circulação de plantas livres de doenças. Países como a Índia e a China vêm investindo na introdução de novos materiais genéticos in vitro e construindo laboratórios, através de iniciativas governamentais e empresas privadas, visando à ampliação do censo varietal.

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Países como Guatemala, República Dominicana, Indonésia e Paquistão, que são produtores de cana-de-açúcar e possuem usinas de maior capacidade, já possuem seus próprios laboratórios de cultivo in vitro para atender à produção interna. No Brasil, tivemos uma época de expansão de laboratórios dentro das usinas, porém quase todos fecharam devido à falta de mão de obra especializada e à baixa tecnologia existente na época. Porém, na última década, a modernização da tecnologia in vitro e os investimentos das empresas de pesquisa RIDESA e IAC no lançamento de novos clones promissores e do CTC no desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas abriram a necessidade da propagação desses novos materiais. Com esse cenário, surgiram as biofábricas, que são laboratórios de cultivo in vitro para a produção de mudas em larga escala. Empresas multinacionais investiram em novas tecnologias de produção de mudas com base no cultivo de meristema, o que garantiu o fornecimento de mudas de qualidade para o mercado nacional. Nesse contexto, passamos a operar nesse seguimento para atender a crescente demanda de mudas de qualidade. Mas como a tecnologia garante a sanidade dos materiais a serem multiplicados livres de patógenos, comparado com o sistema de multiplicação convencional, realizado por seguimentos de plantas?


Opiniões

Podemos observar, na foto tirada no microscópio eletrônico, bactérias (seta) que ocasionam doenças nos vasos condutores de um colmo de cana-de-açúcar, impedindo o crescimento da planta e, consequentemente, reduzindo a produtividade. Há vários artigos científicos abordando os impactos das bactérias Leifsonia xyli subsp. Xyli (raquitismo-da-soqueira) e Xanthomonas albilineans (escaldadura-das-folhas) na produtividade dos canaviais, podendo causar redução de produtividade na ordem de 5% a 30% em determinada época do ano ou região, ou podendo chegar a níveis mais críticos, infectando todo o canavial. Essas bactérias podem ser eliminadas através da extração do meristema. O meristema é a região da planta em intensa atividade celular, com alta capacidade de regeneração e pequena quantidade de patógenos. Essa região é formada pelo domo meristemático e vários primórdios foliares e, quando extraídos corretamente, garantem uma produção de mudas de alta qualidade. Porém essa tecnologia exige recursos, como mão de obra especializada e conhecimento científico. Além disso, um dos maiores desafios é a necessidade de investimento em melhorias do processo produtivo, tornando-o mais eficiente e competitivo quando comparado ao método convencional de propagação. Devemos reforçar que o uso de gemas laterais para

a formação das mudas, mesmo que acompanhado do tratamento térmico, não é eficiente para garantir mudas de boa qualidade. Para o raquitismo-da-soqueira, o tratamento térmico vai ajudar a eliminar ou abaixar o inóculo das bactérias presentes nas gemas, mas, para a escaldadura-das-folhas, o tratamento térmico não é eficiente, e ainda não temos nenhum tratamento químico para o controle da doença. Nesse caso, a produção de muda de cana in vitro, através do cultivo de meristema, é o único caminho para a eliminação desses patógenos e oferece uma rota segura para a formação de novos campos livres de doenças. Hoje, o Brasil tem a maior área plantada com mudas in vitro de cana-de-açúcar no mundo, podendo ser áreas de expansão via meiose para acelerar a introdução de novas variedades e áreas com novas variedades, convencionais ou geneticamente modificadas. Essa realidade nos dá a certeza de que o setor continuará crescendo. A biotecnologia já é uma realidade para muitas usinas e fornecedores de cana-de-açúcar. O uso de novas tecnologias exige mudanças e adaptação de manejo para garantir o sucesso na produção, porém, na avaliação dos resultados, a tecnologia garante incremento da produtividade, tornando o setor mais competitivo e sustentável. n

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a m i x ó ão r P iç d e

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na r a i c n u n A iões n i p O a t s Revi -2200 3 7 7 9 9 16


A tecnologia e a inovação do sistema sucroenergético É impressionante a velocidade com que estão sendo desenvolvidas e implantadas novas tecnologias e inovações, mesmo em áreas até então conservadoras, como o caso do setor sucroenergético.

Essa é a pauta da nossa próxima edição. Se os produtos e a marca da sua empresa tem estas características, esta é uma excelente oportunidade para se expor. Lembre-se: quem é visto é lembrado!

Uma boa ideia puxa outra e, em função da escala de produção do setor, reduções de quilos, metros e centavos, passaram a representar ganhos expressivos, as vezes justificando atualizações em sistemas que acabaram de ser implantados.

Fechamento: 22 de Julho de 2021 Celular/WhatsApp:

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FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira

ano 18 • número 63 • Divisão F • mar-mai 2021

as sinergias do sistema florestal

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Alexandre Landgraf Fernandes Alves, Explante

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pages 69-78

Haroldo José Torres da Silva, Pecege da Esalq-USP

9min
pages 66-68

Aurélio Cesar Nogueira Amaral, RSA

5min
pages 58-59

Leandro Alves Almeida, Logum

13min
pages 60-65

Luiz Silvestre Gomes Coelho, Sucden

12min
pages 46-50

Arnaldo Luiz Corrêa, Archer

5min
pages 44-45

Thiago Callegari Leme Duarte, BTG Pactual

5min
pages 54-57

Plinio Mário Nastari, Datagro e do Ibio

6min
pages 40-43

Eduardo Leão de Sousa, Unica

6min
pages 28-31

Pedro Robério de Melo Nogueira, Novabio

5min
pages 32-33

Guilherme Linares Nolasco, Unem

5min
pages 34-37

Ricardo Busato Carvalho, BP Bunge Bioenergia

5min
pages 20-25

Alexandre Zebulun Ades, Raízen

6min
pages 14-15

Helder Luiz Gosling, São Martinho

7min
pages 16-19

Antonio de Padua Rodrigues, Unica

3min
pages 38-39

Henrique Penna de Siqueira, Jalles Machado

4min
pages 26-27
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