Ethanol Summit 2009 - OpAA21

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ethanol summit 2009

os limites do etanol de

primeira geração " as perspectivas de sucesso desses esforços são promissoras, mas existem ainda muitas incertezas e um longo percurso antes que tecnologias de segunda geração atinjam maturidade e se tornem comercialmente competitivas " José Goldemberg Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP

Existe um grande esforço em pesquisa e desenvolvimento para a produção de etanol de segunda geração utilizando vários métodos, dos quais o que se destaca é a hidrólise enzimática. A principal razão para isso decorre do fato de que o etanol nos Estados Unidos e em vários países da Europa é produzido a partir de milho, beterraba e trigo, competindo diretamente com a produção de alimentos. A expansão prevista do uso de etanol, como resultado de decisões governamentais nesses países, enfrenta dificuldades basicamente devido à inexistência de áreas para expansão. As tecnologias de segunda geração resolveriam esse problema usando qualquer produto agrícola celulósico, como madeira, grama e até lixo orgânico. As perspectivas de sucesso desses esforços são promissoras, mas existem ainda muitas incertezas e um longo percurso antes que tecnologias de segunda geração atinjam maturidade e se tornem comercialmente competitivas. Daí a importância de avaliar quais os limites atuais da produção de etanol com tecnologias de primeira geração, particularmente a partir de cana-de-açúcar. Em 2008, o Brasil produziu 22,5 bilhões de litros de etanol, usando 3,4 milhões de hectares, o que permitiu substituir cerca de 1,5% da gasolina usada no mundo, principalmente no próprio país, que substituiu aproximadamente 50% da gasolina que seria consumida. A possibilidade de aumentar essa produção a partir da cana-de-açúcar, depende de dois fatores: 1. ganhos de produtividade que permitiriam produzir mais etanol na mesma área, e 2. expansão geográfica no Brasil e em outros países produtores de cana. Uma análise dos dados existentes mostra que expandir a produção de etanol por essa rota por um fator 10, isto é, substituindo 10% da gasolina usada no mundo, não só é possível como também provável. Ganhos de produtividade: A cana é uma planta tropical, perene, com metabolismo C4, que captura 6% da energia solar incidente nela, o que corresponde a um rendimento teórico de 472 toneladas de cana por hectare - ou 219 toneladas de biomassa seca por hectare. Esse rendimento teórico não é atingido na prática devido a uma variedade de limitantes agronômicos, ambientais e fisiológicos, como doenças, qualidade do solo e as próprias características das variedades

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existentes, que têm teores de açúcar variáveis. Com todas essas limitações, o rendimento máximo que foi alcançado até hoje é de cerca de metade do rendimento teórico. A produtividade da cana, incluindo a fase agrícola e a produtividade na área industrial - que converte essa cana em etanol, tem crescido cerca de 4% ao ano desde 1975; o número de litros produzidos por hectare aumentou de cerca de 2 mil litros por hectare, em 1975, para 7 mil litros por hectare, em 2005. Isso ocorreu por meio da diversificação e da seleção das variedades usadas, que eram apenas 6, em 1984, e passaram a ser mais de 500, em 2005. Ganhos adicionais poderiam ser atingidos com modificações genéticas. Existe, portanto, a possibilidade de dobrar a produtividade atual. Expansão geográfica: A área usada por plantações de cana--de-açúcar destinada à produção de etanol no país é de 3,4 milhões de hectares. Outro tanto é usado na produção de açúcar. O total da área cultivada para cana representa 10% da área usada para agricultura no país; soja representa 27% e milho, 18%. O que é notável, contudo, é que pastagens cobrem 172 milhões de hectares, mais de 2 vezes a área usada para agricultura, que é de 77 milhões de hectares. É obvio, portanto, que uma forma ambientalmente mais segura de expandir as plantações de cana é sobre as pastagens, e não derrubando mata virgem. Isso não só é possível como também está ocorrendo. Só para citar um exemplo, a área dedicada à agricultura, em São Paulo, cresceu de cerca de 5 milhões para 8 milhões de hectares, de 1970 a 2006, enquanto a área de pastagens caiu de 12 milhões para 9 milhões de hectares. Boa parte dessa expansão é em razão da cana-de-açúcar. Como resultado, a densidade de gado nas pastagens aumentou de 1,1 para 1,3 cabeças por hectare, o que ainda é uma ocupação muito baixa do solo. Com o recente zoneamento ecológico-econômico adotado pelo estado de São Paulo, a expansão da cultura da cana tem todas as condições para se manter aceitável, sob o ponto de vista ambiental. Há, portanto, amplo espaço para a expansão da cultura da cana no Brasil. O mesmo ocorre na região dos trópicos do resto do mundo. Açúcar de cana é produzido em cerca de 100 países, e os 15 principais produtores responsáveis por 86% da produção são listados na tabela.


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