Ethanol Summit 2009 - OpAA21

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ethanol summit 2009

biocombustíveis no contexto global

O mundo está debruçado sobre estudos e pesquisas que encontrem energia renovável, não poluente e que reduza o aquecimento global. A agroenergia está pronta para atender a essa demanda, seja produzindo biocombustíveis, seja com a bioeletricidade, seja usando pellets de bagaço ou de folhas secas para substituir o carvão mineral e vegetal em lareiras dos países frios. Está tudo pronto: a tecnologia agrícola, a tecnologia industrial e a automotiva; sabemos como fazer a mistura e a distribuição; conhecemos a comercialização e já erramos tanto, que podemos ensinar só os acertos. É impressionante a resistência que existe, globalmente, quanto a essa alternativa. É claro que não se pretende que a agroenergia seja a única solução para a grande questão da segurança energética. Mas, sem dúvida, é uma das boas soluções já resolvidas: não é preciso reinventar nada para que ela se torne uma alternativa globalizada. Mais do que isso: a agroenergia certamente mudará o paradigma agrícola mundial de forma positiva, mediante definição de matérias-primas adequadas à produção de energia sem concorrência com alimentos. E, ainda mais, pode mudar de maneira notável a geopolítica global, dando aos países mais pobres do planeta uma oportunidade de desenvolvimento sustentável. Produzir agroenergia é diferente de produzir alimentos. Estes, qualquer país pode fazer, embora possa custar caro. A segurança alimentar deflagrou o processo de protecionismo agrícola que até hoje tolhe as negociações para liberação do mercado, mas resolveu o problema do abastecimento na Europa, no pós-guerra. Com subsídios, é possível produzir comida em qualquer lugar, com artificialismo, como as estufas. Mas agroenergia não, porque esta depende de 3 fatores: o solo (com tudo que há nele, como nutrientes e água), a planta e o sol. Sem sol à vontade, não há agroenergia. E o sol está disponível entre os dois trópicos - Câncer e Capricórnio, região que engloba os países po-

bres da América Latina, da África e da Ásia. Esses países serão os garantidores da segurança energética, financiados pelos grandes consumidores do hemisfério norte. Com a cana ou com a celulose, esses países terão emprego, renda e riqueza, produzirão energia para consumo próprio, o que impulsionará seu desenvolvimento, além dos excedentes exportáveis e ainda produzirão alimentos na rotação com a cana, conforme já se faz há décadas no Brasil, desde o famoso programa “Cana e Alimentos”, implantado pelo Planalsucar, nos anos 70. Mas isso só acontecerá com uma estratégia internacionalmente desenhada, e falta o desenhista. Falta a vontade de desenhar. O acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para produzir etanol no Caribe e na América Central está andando, com o protagonismo do Itamaraty, da Apex e do BID. E já há rudimentos de conversa no mesmo sentido entre o Itamaraty e a União Europeia para desenvolver projetos na África, bem como vai andando a negociação entre Petrobras e Mitsui, tendo em vista o mercado japonês e asiático. Há, portanto uma lógica que coloca os biocombustíveis no contexto global de forma irreversível. Vai acontecer, mesmo que pela inércia, característica das grandes mudanças. Poderíamos apressar esse projeto, se o Brasil tivesse uma estratégia clara. Mas, infelizmente, não a temos. Embora o discurso nacional, público e privado, seja perfeito, as ações são inconsistentes, vão à matroca, sem planejamento e sem estratégia. É claro que esforços na direção do planejamento são feitos, sobretudo pelo setor privado, mas esbarram na descoordenação das ações públicas. Cerca de 12 ministérios tratam da agroenergia, fora a Petrobras, a ANP, a Embrapa, o Inmetro, o Inmet, a ANA e mais uma centena de instituições federais, estaduais, regionais e municipais. E todas com gente da maior qualidade, técnicos competentes, patriotas esforçados e cheios de boa vontade e boas intenções... mas que não conversam entre si.

" Devemos vender etanol para o mundo todo, mas, antes, precisamos ensinar os países a produzi-lo, para criar nos mesmos um mercado interno. Só assim haverá um mercado global. " Roberto Rodrigues Coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas

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