Revista Transformaçao Especial Redes

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TRANSFORMAÇÃO

ESPECIAL

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Revista Transformação Diretoria de Sustentabilidade Econômica e Comunicação Integrada Gladis Eboli Assessores de Comunicação Ana Guerra, Gidália Santana, Juliana Coimbra, Nilza Valeria Estagiário Paulo Bregantin Jornalista Responsável Nilza Valeria Zacarias MTB 40653/SP Coordenador do Projeto Redes Edson Marinho Fotos Arquivo Visão Mundial Projeto Gráfico e Arte Máquina Voadora DG Atendimento ao leitor Fale conosco, dê suas sugestões e faça suas críticas. e-mail: transformacao_vmb@wvi.org Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a opinião da Visão Mundial. Reprodução permitida mediante autorização e posterior envio do material ao editor.

sumário 03| Editorial 05| Apresentação 07| Projeto Redes em benefício do nordeste brasileiro 10| Sebrae – Empreendedorismo e microfinanças são ferramentas de inclusão financeira 13| Integração Brasil-Índia 14| Aprendizados com Projeto 22| Edson Marinho – Entrevista 27| BID – Estruturação e execução do projeto Redes de Desenvolvimento

Visão Mundial Rua da Concórdia,677 – 2º andar São José – Recife/PE CEP 50020-050 Tel.: (81) 3081-5600 Presidente Débora Fahur Vice-presidente Carlos Teixeira 1º Secretário Ivan Rocha 2º Secretário Roberto Costa 1º Tesoureiro Dídimo Freitas 2º Tesoureiro Rofolfo Stömer

especial

Conselho Fiscal Edelweiss Oliveira Suzana Leal Eude Martins Diretor Executivo Celso Fernandes Nossa Missão Seguir a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.Trabalhar com os pobres e oprimidos para promover a transformação humana. Buscar a justiça e testificar das boas novas do Reino de Deus.

Visite nosso site www.visaomundial.org.br Apadrinhe uma criança 0800 312 320

TRANSFORMAÇÃO A Revista Transformação é uma publicação da ONG Vi­são Mun­di­al. Ela é um meio de divulgação das idéias, experiências e de­sa­fio ­ s re­laci­o­na­dos à sensibilização e ao engajamento da so­ci­e­da­de na busca para os graves problemas sociais que atin­gem o Brasil. A Visão Mundial está presente em mais de 100 países e atua no Brasil desde 1975 na erradicação da pobreza, tendo como foco de atuação as crianças e os adolescentes empobrecidos, suas fa­mí­li­as e comunidades.

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editorial Redes remetem a vínculos de relacionamentos nos quais a convergência de ideais e de interesses legítimos fala mais alto que o individualismo e a competição predatória. Redes trazem a segurança de poder ser amparado e salvo da queda pela solidariedade das teias que se unem para nos proteger. Redes nos restauram do cansaço depois do trabalho exaustivo e que nunca cessa, a fim de renovar os sonhos e as energias a cada manhã. Redes lembram que é preciso ensinar a pescar. Mas que também é preciso instrumentalizar aqueles que pescam, para que a pesca seja farta e responsável. Redes alertam que precisamos desatar os nós da nossa sociedade hierárquica e burocratizada, para evoluir em nossa ação social. Por tudo isso e mais aquilo que vi e senti ao caminhar pelo Nordeste e conversar com grupos de microempreendedores, na maioria mulheres, tenho a convicção de que o projeto Redes representa uma silenciosa revolução no modelo de ação social e desenvolvimento sustentável. Um salto qualitativo e quantitativo para que o Brasil evolua de programas assistencialistas e de distribuição de renda para mecanismos geradores de riqueza que promovam o desenvolvimento transformador. A Visão Mundial Brasil tem colocado talentos, recursos e determinação para que esse projeto seja referência, e aplicado sua metodologia em grande escala a fim de atender a enorme demanda de populações de baixa renda que querem empreender e precisam de oportunidades.

Para isso, temos parceiros importantes que aportam recursos, competências e apoio institucional com a convicção de investir em uma nova forma de desenvolvimento inclusivo e gerador de riqueza com sustentabilidade. Temos ao nosso lado o BID1, o Sebrae, a Hand in Hand2 e contamos com a força de nossos braços de Microfinanciamento – ANDE3 e de Comércio Justo – ÉTICA. Já estamos colhendo os frutos desse trabalho relevante, sendo reconhecidos pelos nossos parceiros e convidados a ampliar nossa atuação com a AFAL – Agência de Fomento de Alagoas. A metodologia que desenvolvemos, contextualizada para nosso ambiente e cultura a partir da parceria com o Hand in Hand, já é referência para aplicação em outros países da América Latina. Redes nos inspiram a crer em milagres, mas nos convidam a trabalhar para que cada vez mais pessoas de baixa renda possam vislumbrar um futuro melhor. Pessoas que alimentem seus filhos e nutram seus sonhos com seu trabalho árduo, porém com a justa recompensa. Pessoas que vão empregar pessoas e ativar economias comunitárias. Pessoas que vão crescer e se multiplicar em multidões num movimento que capacita, leva o poder às bases, eleva a autoestima e gera riquezas, construindo um país mais justo. Celso Fernandes

Diretor Nacional VMB BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento Hand in Hand: organização indiana que trabalha com grupos solidários (self-help groups) 3 ANDE – Agência Nacional de Desenvolvimento Microempresarial 1 2

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apresentação O projeto Redes de Desenvolvimento – Redução da Pobreza através da Integração Regional das Capacidades Locais de Negócios no Nordeste do Brasil – visa desenvolver e implementar um modelo de intervenção em larga escala, eficiente e integrado, que contribua para a redução da pobreza no Nordeste do Brasil. Ele nasce a partir de uma conjugação de esforços de parceiros que buscaram a potencialização integrada das suas vocações, experiências e capacidades construídas e, ousadamente, estabeleceram a meta de alcançar 50.000 beneficiários diretos, com, ao final do projeto, pelo menos metade deles fora da linha da pobreza. O modelo aplica de forma integrada os diferentes fatores e aspectos que estão relacionados na complexa luta contra a pobreza em sua multicausalidade: autoestima, empreendedorismo, cooperação, hábito de poupar, visão de futuro, microfinanças, educação financeira, organização comunitária e acesso a mercados. Talvez uma das fortalezas do Redes resida no fato de que o projeto se fundamenta numa quase inédita cooperação Sul-Sul, com imenso potencial de escalabilidade e replicabilidade. O que estamos fazendo é muito mais do que reunir pessoas empobrecidas em torno de objetivos comuns em meio ao seu microcosmo

de dificuldades, problemas e esperanças. Com o apoio dos nossos parceiros, estamos escrevendo uma nova história, contextualizando uma grande experiência social indiana que vem estabelecendo uma nova ordem mundial. Estamos criando tecnologias sociais, produzindo e exportando conhecimento, numa verdadeira corrente do bem que se ergue sobre os pilares da cooperação e da construção de um sonho compartilhado. O Redes é a versão brasileira e latino-americana de um dos mais notáveis movimentos sociais de luta contra a pobreza. Não há limites para um projeto que se autoalimenta das potencialidades locais e da capacidade humana para, engenhosamente, buscar soluções a partir de vínculos de solidariedade e organização comunitária. Somos somente facilitadores de um processo latente e que apenas espera para ser desencadeado. O projeto Redes aproxima-nos mais da nossa própria condição humana, lançando as bases de apoio para o pleno desenvolvimento. Estamos apenas começando. Na incansável luta contra a pobreza e por uma vida em plenitude, há muito por fazer e aprender. Os Gold.s nos ensinarão o caminho. Mauricio Cunha

Diretor Nacional de Programas e Ministério Integrado - VMB

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PROJETO REDES em benefĂ­cio do nordeste brasileiro

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O projeto Redes de desenvolvimento é uma iniciativa que visa reduzir o nível da pobreza através de geração de oportunidades e aumento da renda das famílias brasileiras no Nordeste e no Estado de Minas Gerais. O Gol.d – Grupo de Oportunidades Locais e Desenvolvimento – é a principal metodologia do Redes. São grupos de 10 a 20 pessoas da mesma rua e do mesmo bairro que se reúnem, semanalmente, com o objetivo de discutir os problemas e as dificuldades do grupo e de sua comunidade, buscando soluções para superar a pobreza por meio da solidariedade e da troca de experiências.

e C o n o M i a V i Va O Economia viva é um projeto na área de desenvolvimento econômico que tem foco nas mulheres com idade entre 25 e 60 anos, líderes de famílias monoparentais, excluídas do mercado formal, produtoras autônomas, artesãs e jovens com idade entre 16 e 24 anos, desempregados, produtores e artesãos. Esse público é trabalhado nos princípios da economia solidária para efetuar suas comercializações.

Na comunidade do Terral, em Fortaleza (CE), não há praças, não há saneamento, não há lazer, não há postos de saúde, não há escolas, não há transporte público para as 4 mil pessoas que vivem na região. Diante de tantas faltas, sobra determinação do grupo que, semanalmente, debaixo de uma árvore, realiza sua reunião regular de Gol.d e, a partir dela, direciona as mobilizações que beneficiarão a comunidade. São 13 mulheres que, no Gol.d Vitória, trocam experiência numa tentativa de reconstruir suas histórias de dificuldades e desafios com o hábito da poupança e do acesso a crédito, além de se capacitarem para empreender e para o mercado de trabalho. Além do Redes, a comunidade tem o apoio da Visão Mundial com o projeto economia Viva – um programa de incentivo ao desenvolvimento do comércio local.

FeiRaS O Economia Viva promove a realização de feiras solidárias no espaço comunitário. Além de incentivar a criação de negócios, a feira é uma opção de lazer e distração da comunidade: “A comunidade vive ao léu, cheia de lixo e desgraça. A feira

trouxe a autoestima de volta; a gente se sente mais alegre. Participo do Economia Viva e participo do Gol.d, que ajuda a resgatar essa alegria. Hoje nós conversamos, compartilhamos nossos problemas nas reuniões. Voltamos a sonhar e a pensar no futuro, conta Maria Zilma Lima, moradora do Terral.

ConQuiSTaS Regina Bezerra é Agente de Desenvolvimento de Grupo (ADG), líder comunitária e membro do Gol.d Vitória. Para ela, a presença do projeto Redes no Terral, além de importante para a história de vida de cada participante, é uma oportunidade de as mulheres se mobilizarem e, articuladas, buscar benefícios para a comunidade. Exemplo disso foi o Gol.d garantir participação numa assembleia do Orçamento Participativo de Fortaleza e iniciar uma conversa com o poder público municipal para a construção de uma escola, uma creche e um posto de saúde no Terral. “Nós gostamos de participar do Gol.d; passamos a nos sentir mais poderosas, ganhamos mais conhecimento e não precisamos mais de depender só do marido. Graças ao Gol.d já montei o meu negócio”, diz Regina. 7

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distribuindo

Participando do gol.d, Jeane enxerga uma oportunidade importante de se capacitar ainda mais e de ajudar as vizinhas com sua própria experiência de superação, incentivando o hábito da poupança nas companheiras. 8 Especial REVISTA Redes_Portugues.indd 8

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o experiência A vida de dona Jeane nunca foi fácil. Com oito filhos para criar, viúva e a mãe doente, Jeane precisou de muita força e garra para vencer as dificuldades: “A minha história tem por nome superação; tive uma vida difícil, mas graças à fé em Deus e à minha determinação consegui realizar o sonho de sustentar meus oito filhos”, conta a comerciante. Com cem reais, ela alugou um ponto, comprou alguns sacos de carvão, palitos de churrasco e fogareiros e iniciou seu próprio negócio. Para atrair clientela, uma estratégia: “Coloquei café e chá para vender na porta e pouco a pouco fui vendendo e conseguindo comprar mais materiais para vender”. Para poupar e conseguir recurso para investir no próprio negócio, outra estratégia: “Todo dinheiro que eu ganhava, fazia uma poupança, lá no depósito mesmo, num cano que ficava encostado na parede; todos os dias eu colocava de R$1 a R$2 dentro do cano. Mais na frente o dono do ponto colocou o lugar à venda, eu me ofereci para comprar e me livrei do aluguel”, completa. Economia é palavra-chave na vida de Jeane. Para investir no empreendimento, com-

prava roupa para os filhos somente duas vezes no ano; para comer, comprava os produtos mais baratos. Para estar mais capacitada, Jeane voltou à sala de aula e fez cursos de eletricista e bombeiro hidráulico: “Eu não sabia explicar como usar alguns utensílios que vendia, e isso era uma dificuldade. Os cursos eram só para homens, mas eu insisti e fiz; tive bom desempenho nos dois. Para conhecer a construção civil, acompanhei uma obra de dois dias. Assim aprendi quais são as ferramentas e como são seus usos”. Fé e garra são palavras determinantes na vida dessa senhora que superou o desafio de sustentar os filhos e, mais do que isso, de estar perto deles: “Eu precisava de um negócio que garantisse sustento e tinha que estar por perto deles para evitar que caíssem na marginalidade ou nas drogas, opção comum para quem vive por aqui”. Participando do Gol.d, Jeane enxerga uma oportunidade importante de se capacitar ainda mais e de ajudar as vizinhas com sua própria experiência de superação, incentivando o hábito da poupança nas companheiras. 9

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Publicado na Revista Conhecer Sebrae em maio de 2010.

empreenDEdorismo e microfinanças

são ferramentas de inclusão financeira

Está em curso no Nordeste do Brasil projeto de inclusão financeira que vai muito além da concessão do microcrédito

Trata-se do projeto Redes de Desenvolvimento, que objetiva contribuir para o fortalecimento da economia local por meio do empreendedorismo e do fortalecimento socioeconômico comunitário. O projeto é voltado para microempreendedores formais e informais que se encontram abaixo da linha nacional de pobreza e tem o Sebrae, o BID, a Visão Mundial e a ANDE como parceiros. Dentre as diversas ações previstas nos quatro eixos do projeto, destaca-se a formação de Gol.ds, associações informais de 10 a 17 integrantes, a maioria mulheres, em busca de soluções comuns e complementares. Os grupos funcionarão como ponto de encontro e de oportunidades para quem quer montar seu pequeno negócio, ter acesso a microcrédito e a outros serviços de inclusão social e financeira. “Por ser um público-alvo com características próprias de áreas de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é ne-

cessário implementar ações que levem em consideração o uso de metodologia adequada a características como nível educacional, acesso a serviços públicos, conhecimento de mercado, produção artesanal, além de sistemas alternativos de acesso a serviços financeiros e de crédito”, explica João Silvério, gestor do projeto pelo Sebrae Nacional. A expectativa é o atendimento de 50 mil pessoas. Desse total, 30 mil com assistência técnica e orientação microempresarial. A execução operacional do projeto é compartilhada entre a ANDE e a Visão Mundial – sendo a ultima a principal gestora – que atuam no Nordeste e Norte de Minas Gerais. As primeiras ações no âmbito do projeto tiveram início em julho de 2009. Elas resultaram na fase do piloto de implantação do Gol.d, que deverá ser concluída em julho próximo, quando se complementará o processo de teste e de adaptação do modelo à realidade brasileira.

Metodologia GOL.D A metodologia é baseada no modelo do Self-Help Group (SHG), desenvolvido no sudeste da Índia pela Hand in Hand (HiH), organização não governamental de microfinanças. Os SHG ajudam as comunidades a gerar renda ao mesmo tempo que atendem os mais pobres da sociedade com financiamento, educação empreendedora, alfabetização e serviços de microfinanças. Em janeiro de 2009, a HiH registrava na região a existência de 26 mil desses grupos, com 378 mil pessoas. Em quatro anos, esse modelo contribuiu para a criação de 15,5 mil novos empreendimentos familiares. A liberação de serviços microfinanceiros para esses grupos foi de US$20,5 milhões no período. Eles também já estão preparados para acessar o sistema financeiro convencional do país, tanto que, nesses quatro anos, realizaram US$17,2 milhões em empréstimos bancários.

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Piloto As ações do piloto do projeto estão sendo desenvolvidas no Rio Grande do Norte e no Ceará. Até o momento, segundo dados da Visão Mundial Brasil e da ANDE, 162 grupos foram formados, abrangendo 1.756 pessoas. A previsão é que, até o final do piloto, 200 grupos, com 3 mil integrantes, sejam atendidos. As ações do projeto são implementadas por meio de Agentes de Desenvolvimento de Negócios (ADNs), pessoas arregimentadas, preferencialmente na própria localidade, especialmente capacitadas para o desenvolvimento do Gol.d. “Eles identificam os potenciais clientes do projeto, conversam com os empreendedores, os convidam a participar, e a receptividade é muito boa”, informa Elza Fagundes, diretora executiva da ANDE. “São pessoas que desejam mudar de vida. Por isso querem aderir. Querem saber o que vai mudar de fato. Animam-se quando visualizam possíveis resultados, como o aumento de renda para viver melhor, morar melhor, se alimentar melhor”, continua. Os Gol.ds são formados por pessoas de perfis semelhantes: as que já têm negócios, os potenciais empreendedores e até os não empreendedores – que não têm negócios nem perfil empreendedor, mas podem se beneficiar com externalidades positivas, com o aumento do mercado de trabalho. “Os grupos são distintos, apresentam necessidades próprias de cada estágio e tipo do negócio”, explica Elza. Formado o grupo, o primeiro passo é identificar quais são as necessidades das pessoas. O acesso a crédito, ressalta Elza Fa-

gundes, nem sempre é o problema central no início. “É preciso ouvi-las para saber de que exatamente precisam naquele momento. Pode ser uma capacitação em gestão, um programa de alfabetização ou um auxilio para combater alguma violência doméstica, por exemplo. As pessoas aprendem juntas e crescem juntas”.

Conhecimento Compartilhado O coordenador do projeto Redes de Desenvolvimento pela Visão Mundial, Edson Marinho, informa que outras instituições que atuam com foco no mesmo público-alvo e na região Nordeste podem ter acesso à metodologia Gol.d, assim como a outras ações, como parceiros do projeto. “É uma metodologia de mobilização social, concessão de crédito e desenvolvimento de negócios. Temos todo o interesse de disseminar e compartilhar esse conhecimento”, explica. Instituições de microfinanças, operadoras de microcrédito, cooperativas de crédito de MPE e empreendedores, cooperativas de crédito de base solidária, bancos do povo municipal e estadual e associações de apoio ao desenvolvimento local, entre outros interessados, podem se beneficiar da metodologia e fortalecer o projeto. A metodologia de desenvolvimento do Gol.d prevê a realização de reuniões semanais, e a cada encontro são introduzidos temas como democracia, organização social, igualdade e transparência. À medida que o grupo vai amadurecendo, começam a ser discutidas questões básicas sobre montagem de pequenos negócios e empreendedorismo.

É feito é todo um processo de desenvolvimento humano e cidadania, comunitário e local, antes da oferta de serviços financeiros. Tudo orientado por facilitadores capacitados na metodologia. “É um processo que valoriza e potencializa as capacidades locais já existentes. É um processo de empoderamento das pessoas”, destaca Elza Fagundes. A pessoa, grupo ou instituição empoderada é aquela que realiza – por si mesma – as mudanças e ações que a levam a evoluir e se fortalecer, já dizia Paulo Freire, educador brasileiro. Os empreendedores se fortalecem e percebem que juntos podem realizar melhor as mudanças necessárias para seu desenvolvimento. O acesso a crédito é coletivo, assim como o aval. Se um integrante do grupo não paga, todos discutem como ajudá-lo a honrar o pagamento. Os caminhos encontrados para resolver essas situações são muito interessantes. Fazem rifas, bingos, quermesses

Poupança Além da concessão do microcrédito, o trabalho estimula nos empreendedores o hábito de poupar. É a iniciativa da poupança em grupo. Mais do que uma forma de juntar dinheiro, a poupança é um recurso que educa ao contribuir para a organização do grupo, o planejamento de longo prazo e o estímulo ao uso de serviços bancários. Orientamos que abram contas de poupança nos bancos oficiais. “Muita gente não sabe, mas há a possibilidade da poupança coletiva”, informa Elza. Para organizar a poupança, o grupo define, informalmente, o tesoureiro, faz reuniões para coletar o dinheiro, combinar o depósito e prestar contas. “Pode ser um real 11

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por semana. O importante é desenvolver a atitude de poupar, planejar. De pensar o futuro. Nosso objetivo com esse trabalho”, resume Elza Fagundes, “é contribuir para que essas pessoas deixem de precisar de nossos serviços, que tenham condições e preparo para buscar e conseguir crédito nos bancos ou em qualquer outra instituição do sistema financeiro convencional; que cresçam econômica e socialmente”. Outra ação do Redes de Desenvolvimento é prestar assistência técnica em gestão e empreendedorismo a 30 mil pessoas. Essas consultorias serão feitas por meio de 250 ADNs do projeto, os quais serão capacitados na metodologia de atendimento Negócio a Negócio – do Sebrae. Dessa forma, o Sebrae entra em um segundo momento dos trabalhos, quando os empreendedores já passaram pela orientação empresarial básica, recebida durante as reuniões do Gol.d. Pela metodologia Negócio a Negócio, os clientes terão uma formação mais avançada em gestão empresarial. Os agentes irão a campo prestar a orientação, que será personalizada para cada atividade. Os empreendedores individuais, aqueles que faturam R$36 mil ao ano e que estão, em grande escala, no público-alvo do projeto, são o principal foco dessa ação.

SaiBa MaiS O Redes de Desenvolvimento é parte do Programa Sebrae de inclusão Financeira, que objetiva “ampliar o acesso ao crédito, produtos e serviços financeiros por meio de estratégias e mecanismos inovadores de disseminação, análise e concessão de garantias e financiamentos para populações empresariais de baixos ingressos”. Seis projetos integram o programa Sebrae de inclusão Financeira: • Apoio à Estruturação de Sociedades de Garantia de Crédito • Soluções Coletivas para a maioria – parceria com o Banco do Brasil e Banco interamericano de Desenvolvimento (BID) • intercâmbio de Boas Práticas e Governança entre Cooperativas de Crédito de mPE e Empreendedores • Formalização de Empreendedores individuais Clientes de instituições de microfinanças • Redes de desenvolvimento • melhores Práticas de inclusão Financeira – parceria com o Banco Central e a Associação Brasileira de instituições financeiras de desenvolvimento (ABdE).

O projeto Redes de desenvolvimento é uma importante iniciativa a qual proporcionará às comunidades atendidas grandes perspectivas de desenvolvimento, tendo no empreendedorismo sócio-empresarial sua principal ferramenta de desenvolvimento local. Promover a criação de Grupos Locais de Desenvolvimento, a partir do capital humano e social, aliado a formação de poupança local requer atitude e conhecimento específico, somente possível pela junção de ações coordenadas entre a AndE,visão mundial, Bid e Sebrae. João SilVÉRio Sebrae Nacional

O compromisso, o entusiasmo e a vontade da equipe da visão mundial e dos beneficiários em observar, aprender e absorver é imensa. E é essa característica do time que foi capaz de sustentar o programa e trazer resultados para a mesa. Sua equipe deve ter absorvido isso da equipe de gestão, que não só coopera de maneira inequívoca com a Hand in Hand como também assume a missão de garantir que este projeto seja um sucesso. desejo a todos na visão mundial o melhor e espero que haja mais ocasiões para trabalhar, em conjunto, a serviço das pessoas.viva India! Viva Brasil! heManTha KuMaR PaMaRThY Managing Director | Hand in Hand Micro Finance Pvt. Ltd. 12 Especial REVISTA Redes_Portugues.indd 12

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Equipe da VMB em visita a Índia, 11/2009.

INTEGRAçãO Brasil – Índia Em junho de 2009, seguiu para a Índia a primeira missão brasileira com o objetivo de conhecer a organização Hand in Hand, que trabalha com uma metodologia efetiva e integral para a redução da pobreza e a geração de renda. A ideia inicial era adaptar e testar uma metodologia semelhante para ser implantada no Nordeste do Brasil; assim surgiu o Gol.d. Dois meses antes, no mesmo ano, a Hand in Hand, por intermédio da diretora executiva, Kalpana Sankar, lançou no Brasil um programa

de treinamentos para os facilitadores e para as comunidades que seriam as primeiras para a implementação do projeto. Os treinamentos, realizados em junho e outubro de 2009, possibilitaram um excelente entendimento da metodologia e da forma de atuação, apesar das notórias diferenças entre os dois países. Em fevereiro de 2010, a Visão Mundial assinou um acordo com a Hand in Hand, e Kalpana Sankar veio ao Brasil para conhecer as atividades desenvolvidas pelo piloto do

DIFERENçAS

BRASIL

ÍNDIA

• Grupos voltados para empreendimentos individuais • Inicialmente solicitam empréstimos externos • Os Gol.ds são grupos informais • Poupança em nome dos membros do grupo • Empreendimentos coletivos • Capacidade de articulação • Espírito empreendedor mais aguçado • Inicialmente operam crédito interno, a partir da poupança do grupo • Maior compromisso em poupar coletivamente • Os grupos são formalizados • Poupança em nome da organização

projeto Redes de Desenvolvimento, além de estabelecer um plano de visitas para cooperação mútua. A partir de todas as experiências dos dois países, um manual de treinamento e operação foi criado e traduzido para o português. O destaque da metodologia é colocar em prática o hábito da poupança e economia, permitindo que os membros dos Gol.ds busquem primeiro ajuda em seu grupo antes de buscar apoio externo.

SEMELHANçAS • Predominantemente formados por mulheres • Passos metodológicos • Manuais Operativos • Público Alvo (abaixo da linha da pobreza) • Poupança interna

www.hihseed.org

HAND IN HAND Hand in Hand é uma instituição filantrópica Indiana, uma organização de desenvolvimento que luta para erradicar o trabalho infantil e reduzir a pobreza com foco na educação, saúde, democracia e proteção ambiental.

O trabalho da Hand in Hand combina capacitação financeira, empreendedorismo, alfabetização e microfinanças. Self-Help Group (grupo de autoajuda) é o modelo de intervenção utilizado pela Hand in Hand. São grupos de pessoas, na maioria mulheres pobres, normalmente de uma mesma localidade, que concordam em formar um grupo em que os integrantes

se ajudem mutuamente e melhorem suas vidas social e economicamente, por meio de empreendimentos sustentáveis, ascendendo a níveis acima da linha de pobreza. A organização está presente em 5 estados na Índia, além de ter presença na África do Sul e no Afeganistão. No total são 24.165 Self-Help Groups, com 348.308 pessoas participantes. Já foram iniciados e fortalecidos 195.097 microempreendimentos familiares e 834 empresas de médio porte. 13

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APRENDIZADOS com o projeto REDES DE DESENVOLVIMENTO César Calônio (consultor externo)

O projeto de redução da pobreza através da integração regional das capacidades locais de negócios do Nordeste do Brasil é uma parceria entre Visão Mundial, ANDE, Ética e BID. Seu objetivo é desenvolver e implementar um projeto de intervenção em larga escala, que seja eficiente e integrado e contribua para a redução da pobreza no Nordeste do Brasil. Tal intervenção é operacionalizada pela metodologia Hand in Hand, numa parceria com a Índia, país onde esse método obteve grande êxito e no qual

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Baraúna Mossoró

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Maracanaú Itaitinga

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os grupos de autoajuda se multiplicaram, com fortes impactos socioeconômicos. De julho de 2009 a julho de 2010, foi implantado o projeto-piloto nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, no Nordeste do Brasil. No primeiro estado foram criados nesse período 18 grupos, com a participação de 234 pessoas. No Ceará, no mesmo espaço de tempo, foram criados 12 grupos, com a participação de 133 pessoas. O mapa abaixo traz a localização dos grupos no Rio Grande do Norte.

RN

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Rio Grande do Norte (18 grupos; 234 pessoas) COMUNIDADE

NOME DO GRUPO

PA Mulunguzinho

Grupo da paz

17

PA Cordão de Sombra I

Esperança

13

PA Cordão de Sombra II

15

PA Santa Rita de Cássia

Caminhando com Cristo

12

Baixia Branca Bara

Vencedor

10

Barreira Vermelha

Estrelas do Amanhã

13

Cabelo de Nego

Paz e União

10

PA São José

Sementes da Terra

11

Jucuri

Socorro Loucas

14

PA Boa Sorte

União Faz a Força

10

Vila Ceará – Serra do Mel

Associação das Mulheres Rurais Francisca Jota da Silva

17

Vila Pará – Serra do Mel

Grupo das Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas

12

PA Vingth Rosado

Raízes do Campo

16

Baraúna

Paz e Amor

13

PA Canaã

Felicidade

14

Comunidade Vertente

Unidos Venceremos

13

PA Recanto da Esperança

Grupo da União

13

Bairro Bom Pastor

Maracanaú

11

CEARÁ (12 grupos; 133 pessoas) COMUNIDADE NOME DO GRUPO

COMPONENTES

COMPONENTES

Terral

Vitória

19

Terral

Vencendo com Cristo

13

Terral

Unidas para Vencer

13

Santa Maria

Mulheres em Busca da Liberdade

10

Área Verde

Esperança

10

Margarida Alves

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Margarida Alves

Família Viva

10

Perimetral

Unidas Venceremos

12

Perimetral

Tapeçaria e Cia.

Renascer

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Angorá

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16

Angorá

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O projeto Redes representa uma oportunidade única para a transferência de conhecimentos e experiência de um continente, a Ásia, para o outro, a América do Sul, e neste processo melhorar e enriquecer as metodologias existentes e apefeiçoar de ambos os lados. A cooperação Sul-Sul do projeto é o que o torna inovador e mais bem sucedidos do que as iniciativas similares, tanto nos níveis individual como institucional. O BID está impressionado e aprecia os esforços realizados por nossos parceiros brasileiros e indianos na superação de barreiras culturais e de idiomas, e esperamos replicar essa experiência em projetos futuros na região. Na verdade, a experiência já foi replicada em um projeto regional em 5 países na América Central e recebemos outros sinais de interesse. Por todas as razões acima, faremos um esforço extra para absorver o conhecimento e aprender com o projeto além de divulgar amplamente essas lições, para que assim um maior número possível de pessoas possam se beneficiar com isso.

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SVANTE PERSON Fundo Multilateral de Investimento Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID

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Solidariedade, um conceito complexo Na proposta de formação de Gol.ds a questão da solidariedade funcionou, ao menos durante o projeto-piloto, a partir da percepção concreta da maximização dos recursos quando as pessoas estão envolvidas em grupos locais. A solidariedade, portanto, não é intrínseca às pessoas, mas, nesse caso, percebida como necessária. Há um pragmatismo presente (e que pode ser aproveitado) nesse tipo de comportamento. No caso da poupança, o grupo exerce uma espécie de pressão solidária e coletiva, levando a comportamentos não tão fáceis de ter quando se está fora dos grupos. Como disse uma das componentes do Gol.d Vitória: “difícil é poupar em casa”. O estímulo à formação de grupos de vizinhos (pessoas com condição socioeconômica na maioria das vezes semelhante) e os estímulos passados nas capacitações iniciais, nas dinâmicas de grupo, favorecem a compreensão de que o pouco que se consiga fazer, seja em termos sociais, seja em termos econômicos, continua sendo pouco para pessoas sozinhas, mas há um ganho de escala quando as pessoas estão junto de outras. Mesmo em grupos com histórico de desavenças ou de experiências malsucedidas com bancos comunitários, houve a formação de Gol.ds, o que parece indicar um cenário proveitoso para a expansão do projeto com base nas demandas percebidas para a formação de novos e inúmeros grupos.

Gol.d Grupo da Paz

Formação, independência e saúde dos grupos A autogestão dos grupos é algo a ser trabalhado permanentemente. Em uns mais, em outros menos, existe a demanda pela tutela, pela presença constante dos facilitadores e ADGs, pelo apoio externo. Noutros grupos há o perigo de componentes mais maduros ou de maior grau de instrução serem nomeados de alguma maneira pelos demais componentes como responsáveis pelo destino do grupo. Isso tende a acontecer, pelo que observamos, no Gol.d Estrelas do Amanhã, em Jucuri, onde duas das componentes são professoras na comunidade. Percebemos a tendência de uma parte das componentes de delegar a uma das professoras a responsabilidade pelas decisões grupais. Assumir as reuniões e democratizar a participação nem sempre é algo fácil para as componentes dos grupos. Falta de costume, timidez e medo de errar são alguns dos entraves. Enfim, o projeto-piloto parece apontar para a necessidade de que os aspectos formação e maturidade dos grupos ganhem uma dimensão um pouco maior do que tiveram até agora na metodologia de formação de Gol.ds no Brasil.

Resgate do associativismo Os Gol.ds, da forma como são estruturados, permitem a convivência entre familiares e vizinhos, incentivando a formação de grupos. Há pessoas que não participam diretamente das reuniões, mas ficam no entorno no momento em que estas acontecem, observando e ouvindo o que estão fazendo as pessoas aglomeradas. Nesse aspecto, a metodologia ajuda a resgatar antigos costumes, como conversar à porta de casa e fazer reuniões, que muitas vezes vêm sendo apagados por hábitos provenientes de épocas mais recentes (como ver televisão, por exemplo). Nas comunidades, as reuniões grupais podem representar a retomada dos trabalhos em grupo em contextos em que a desmobilização é a tônica, e o descrédito nas associações, sindicatos e projetos socioeconômicos coletivos é quase generalizado. O Gol.d, nesse cenário, cumpre, portanto, um papel de contraponto ao panorama associativo vigente. 16 Especial REVISTA Redes_Portugues.indd 16

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aprendizados ViVeR de ConTingênCiaS ou PlaneJaR? O planejamento e a educação financeira são presentes e importantes nessa metodologia. As pessoas mais pobres vivem muitas vezes da contingência, do que lhes aparece no dia a dia. Pensar no dia de hoje, para elas, é planejar na vida. A compra do arroz para o almoço, o dinheiro de uma passagem, resolver um problema com o vizinho: os objetivos de curto prazo em geral norteiam a vida dos mais pobres. Pensar no amanhã nem sempre é possível. A participação nos Gol.ds lhes dá a possibilidade de pensar e trabalhar segundo prazos menos estreitos. A poupança pode ser um exercício de planejamento de médio e longo prazo, o que ajuda as pessoas a superar parte do pensamento mágico (conforme obra de Paulo Freire) segundo o qual algum político, uma divindade ou a sorte resolverão seus problemas. O esforço para poupar e para fugir às tentações de gastos cotidianos tem o poder de mostrar que nem tudo deve ser resolvido imediatamente e que os problemas locais podem ser resolvidos, quiçá definitivamente, a partir de soluções e metas pensadas em grupo.

ConSuMidoReS e CidadãoS Além de introduzir lógicas de planejamento e metas coletivas, o Redes se propõe a trabalhar a questão do controle orçamentário no meio popular. Isso é importante na perspectiva em que vivemos de mercado de consumo sedutor não apenas através da propaganda, mas também de políticas de crédito aparentemente facilitado. Planejamento e controle podem ajudar, nesse sentido, na facilitação da percepção de que pode ser mais fácil poupar antes de se lançar em aventuras financeiras que podem levar a rombos financeiros graves, como o parcelamento de grandes compras em muitas prestações, por exemplo. Esse é um aspecto ainda não tratado pelo projeto, mas que pode fazer parte de seu desdobramento, após a fase piloto. Ao tratar isso, pode-se também levar em consideração que consumo é uma categoria política, uma forma de estar no mundo, que pode ser amplamente usada para fomentar reflexões nos grupos, ao se trabalhar questões como cidadania e meio ambiente.

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o CaPiTal SoCial CoMo inSuMo PaRa FoRMação de CaPiTal eConÔMiCo A formação de capital social é um processo que tende a se expandir. O conhecimento produzido nos grupos durante as reuniões tende a ir para além dos sujeitos participantes dos Gol.ds. Famílias, sindicatos e associações locais tendem a se contaminar com o novo fôlego propiciado pela experiência. Antigos vícios de participação podem ser revertidos a partir daí, inclusive com a formação de novas lideranças. Não é possível produzir capital econômico sem produzir capital social. Uma vez tendo acessado algum capital material, indivíduos ou grupos são levados a produzir mais capital social para conseguir alavancar novos e bons resultados, sociais ou econômicos. Para isso acontecer, o acesso às informações são ativos fundamentais, assim como a ampliação das redes de relacionamentos. Operadas essas mudanças, o processo educativo fará com que os indivíduos e grupos estejam credenciados para acessar uma quantidade maior de capital social. A cada ciclo percorrido, mais se afastam da linha de pobreza. Esse é o círculo virtuoso necessário com a utilização das ferramentas aprendidas com a metodologia Hand in Hand, no caso presente. Esse ciclo tende a propiciar sustentabilidade social ao projeto, desde que estruturado com base na autogestão. 17 1/19/11 2:37:26 PM


aprendi MulheReS + hoMenS, o gêneRo CoMo uMa QueSTão não exCluSiViSTa A questão gênero deve continuar sendo prioritariamente trabalhada, mas deve-se evitar cair no comodismo a que muitas vezes se é levado pela constatação de que a participação feminina é mais fácil ou é extensiva ao conjunto dos familiares. Conseguir mulheres para os grupos não é difícil. Mais complicado é qualificar essa participação, além de aproveitar o ensinamento de outras experiências com movimentos sociais de não segmentar a participação por gêneros. Assim, é altamente desejável que homens sigam sendo convidados e participem dos grupos.

eSTRaTÉgiaS MaCRo de deSenVolViMenTo O Projeto Redes pode ser pensado como sendo uma das estratégias de desenvolvimento econômico da Visão Mundial Brasil. Com sua integração a outras metodologias, projetos e programas (como a escola de Oportunidades Solidárias, por exemplo), é possível atingir variados públicos, em diversas etapas, sem deixar de priorizar os mais pobres dentre os pobres. Na forma como funcionou durante a fase piloto não foi priorizada a integração de estratégias, nem sequer com os PDAs.

inCReMenToS noS negÓCioS Vivemos num país de economia capitalista. Pessoas das classes populares, assim como aquelas pertencentes às demais classes sociais, pensam em melhorar de vida. Uma possibilidade é fazêlo através da geração de renda e, no caso de produtores rurais, da comercialização de produtos in natura ou transformados. Várias pessoas entrevistadas dizem que a poupança propiciou a elas a entrada (mesmo que limitada, em virtude do curto tempo do projeto-piloto) no mercado de consumo. Isso se deu, na maioria das vezes, pela maior diversidade dos produtos que vendiam, que por sua vez propiciavam melhores rendimentos às famílias. Isso representa, na prática, a melhoria de vida objetivada por essas pessoas dos Gol.ds. Um dos depoimentos mais comuns, ao se ouvir pessoas nas reuniões de mobilização ou mesmo nos primeiros encontros com os facilitadores, é sobre as expectativas de diversificar e incrementar as vendas em seus ramos de negócio. 18 Especial REVISTA Redes_Portugues.indd 18

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dizados inCluSão SÓCioeConÔMiCa Mulheres e homens até então alijados do mercado de trabalho ou que viviam no limiar da sobrevivência com a chance de ter recursos nas mãos e usá-los para retornar, fomentar ou mesmo entrar num mercado de trabalho fechado a elas e eles é algo que não pode ser deixado de lado ao se refletir sobre o projeto-piloto. Recursos financeiros eram inacessíveis nos bancos tradicionais ou então acessíveis somente por meio de projetos governamentais, em geral sem qualquer tipo de assistência técnica. E a possibilidade de remuneração digna, limitada pela baixa escolaridade da maioria das pessoas. A obtenção de empréstimos, no médio prazo, constitui-se, então, numa das vias possíveis para romper barreiras econômicas diretamente atreladas a barreiras sociais. Mesmo o pouco tempo de experiência dos Gol.ds mostra que os recursos financeiros, nos casos em que não injetaram capital suficiente para melhoria da qualidade de vida, ao menos injetaram esperança de geração de renda àqueles que se consideravam alijados ou inseridos precariamente no mercado de trabalho.

eMPReendedoRiSMo x PRogRaMaS de aSSiSTênCia Este dado é bem específico da realidade brasileira neste início de Século XXI: algumas pessoas têm medo de abrir conta poupança por serem cadastradas no principal programa de assistência e benefício social do país, o Bolsa Família. O temor delas é que o governo brasileiro corte esse benefício ao constatar que têm contas poupança movimentadas através de depósitos semanais. Cabe aos ADGs e facilitadores fazer os esclarecimentos necessários quanto a isso.

lÓgiCaS inTeligenTeS Pequenas somas acumuladas nem sempre levaram a depósitos semanais em contas abertas nos bancos comerciais. Alguns grupos optaram pela conveniente espera de juntar somas relevantes para depositar. Essa prática deve ser levada em conta a fim de evitar deslocamentos custosos, que às vezes representam cerca de 50% da poupança semanal do grupo. Em outros grupos, a lógica, igualmente inteligente, é de emprestar e fazer circular o dinheiro assim que possível, para que o rendimento seja maior, uma vez que os juros das cadernetas de poupança no Brasil são irrisórios (em torno de 0,6% ao mês).

Quando o PouCo MuiTo PaReCe “O pouco que ajuda vale muito”, segundo a componente de um grupo. O dinheiro que circula nos Gol.ds, mesmo restrito a uma pequena poupança semanal, tem o poder de mudar a vida das pessoas. Por saberem que o recurso é pequeno e fruto de muito esforço, as componentes parecem se organizar para cuidar dele, levando em conta que ele é fruto de organização pessoal e familiar. Comparações feitas com outro público, que dispõe de mais recursos, mostram que o desperdício é muito maior neste último e que o próprio valor numérico do dinheiro parece outro, num e outro grupo. Noutras palavras: cinco ou dez reais num grupo de pessoas mais pobres parecem valer e render muito mais do que num de pessoas mais abastadas. Recursos limitados também parecem incitar os tomadores de empréstimo a uma melhor utilização do dinheiro do que quando as pessoas estão diante de recursos fartos. Um dos cuidados necessários, nesse aspecto, é não deixar que a poupança ganhe proporções excessivas e que não estão presentes na metodologia original de montagem de Gol.ds. Deve-se sempre voltar aos componentes metodológicos da Hand in Hand e estudá-los permanentemente para que seus cinco componentes básicos sejam postos em prática nos grupos de autoajuda. 19

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“Com espírito empreendedor”, assim se define a costureira Maria das graças. Para ela, a proposta de participar do gol.d foi a chance para reabrir o comércio que tinha em casa, iniciado com apenas uma caixa de ovos: “O comércio que eu tinha, ergui com esforço e garra. Fechei por causa de problemas financeiros. Agora, estou investindo de novo nisso. Vontade e garra fazem diferença no nosso grupo”.

aprendi

ManTeR o FoCo na PoPulação aBaixo da linha de PoBReZa Quanto mais pobre ou excluído, mais a metodologia é assumida pelo grupo e flui, a ponto de prescindir do facilitador em determinados estágios. Esses grupos encontram sentido na organização, pois ela se materializa para eles como uma tábua de salvação capaz de possibilitar-lhes a ascensão a outros estágios de desenvolvimento. Isso tende a não acontecer em grupos mais estabilizados, que não têm necessidades claramente expostas e, por isso, prescindem algumas vezes da metodologia proposta, pois conseguem sobreviver sem ela. A preocupação com o cumprimento das metas operacionais não deve deixar que se perca o foco na população abaixo da linha de pobreza, até porque é essa faixa que mais participa e assume para si a proposta de apoio.

adaPTação da MeTodologia O passo a passo da metodologia Gol.d, conforme repasse efetuado nas capacitações para gestores, facilitadores e ADGs, vai depender do andamento das reuniões dos grupos. O passo a passo sugerido no manual remetido pelo Hand in Hand é muito fechado em fórmulas concebidas a partir da realidade indiana. Os ritmos dos grupos brasileiros são diferenciados e deve-se respeitá-los. Algumas vezes o respeito às normas do manual pode representar um desrespeito ao ritmo grupal. Assim, se o grupo não está maduro para abrir a conta no banco ou se pretende ficar duas ou três reuniões discutindo suas regras, isso é preferível a seguir normas que podem dificultar processos de sustentabilidade.

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dizados

A costureira lucia, além de participar da cooperativa, vê no gol.d outros benefícios, além da melhoria financeira: “Fortaleci as amizades, conheci novas pessoas, aprendi a valorizar os seres humanos e a me valorizar como mulher. Conscientizei que o desejo pelo crescimento de todos é melhor que o crescimento de apenas um”.

geRaR inCÔModoS, PoR Que não? Pelos depoimentos de facilitadores e ADGs, a metodologia Gol.d tem como um de seus potenciais ajudar as pessoas a sair de situações seguras, ou seja, fugir da rotina em que se encontravam. A metodologia traz as pessoas para discutir situações aparentemente resolvidas, abrindo novas vias para tentar resolvê-las nos grupos. Percebeu-se neste primeiro ano que a capacidade de mobilização, inicialmente motivada pela poupança em grupo, é capaz de dotar as comunidades de melhores condições de existência em variados aspectos, com a criação de incômodos ao se discutir os problemas de cada região. A saída das situações de rotina não deve ser mascarada pela participação em projetos anteriores, seja da Visão Mundial, seja de outras instituições.

eVolução da QuanTidade de gRuPoS A evolução de montagem dos Gol.ds no Rio Grande do Norte, considerando-se apenas aqueles formados a partir de novas mobilizações, pode ser observada no gráfico abaixo: Evolução de Gol.ds - Rio Grande do Norte 30

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cooperação, parcerias, integração na construção de Desde dezembro de 2007, Edson Marinho integra o time de colaboradores da Visão Mundial. Antes, fez consultoria para a organização na área de Comércio Justo. Agora, em sua responsabilidade, está o gerenciamento o projeto Redes de Desenvolvimento. Entre as muitas tarefas, a responsabilidade de ampliar o projeto para outras regiões do Nordeste brasileiro e para Minas Gerais através de parcerias que garantam o fortalecimento das redes e a inclusão das pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza.

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ação, independência e inovação de REDES DE DESENVOLVIMENTO

edson Marinho – coordenador do Projeto RedeS. 23 Especial REVISTA Redes_Portugues.indd 23

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Qual a sua experiência com projetos relacionados a empreendedorismo , inclusão e comunidades empobrecidas? Antes de ser convidado a integrar a equipe de consultores da Visão Mundial, atuei por quase três anos como Assessor de Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de Pernambuco. Durante esse período acompanhei projetos de integração da Fecomércio-PE com instituições não governamentais pernambucanas, com o objetivo de aproximar o comércio de comunidades menos favorecidas, criando oportunidades de negócios e empregos. Em 2005 passei a integrar a equipe de consultores da Visão Mundial, como líder e redator do Piloto de Acesso ao Mercado Externo por meio dos princípios do Comércio Justo. Esse piloto, executado em parceria com Sebrae e BID, produziu uma cartilha que aponta o caminho para que grupos de artesanato e cooperativas ou associações do setor agrícola possam exportar seus produtos de forma justa, transparente e sustentável. Desde 2007 assumi a gerência da Ética Comércio Solidário, empresa criada pela Visão Mundial que pode ser traduzida em um instrumento para acesso a mercados pelas comunidades apoiadas pela Visão Mundial e seus parceiros. Apesar de legalmente ser uma empresa comercial como outra qualquer, a Ética trabalha exclusivamente com comunidades menos favorecidas dentro dos princípios internacionais do FairTrade, com vistas a educá-las, fomentar o seu empreendedorismo e conectá-las com o mercado. Qual o diferencial do Projeto Redes para outros projetos de inclusão financeira? O Redes se destaca inicialmente pela sua inovação em uma parceria Sul-Sul, entre o Brasil e a Índia. A Índia é reconhecida pelas metodologias aplicadas para inclusão financeira e educação empreendedora, e a experiência adquirida nos permitiu criar uma nova metodologia combinada com outras experiên-

cias já em curso no Brasil. As diferenças culturais e de idioma não foram obstáculos a essa parceria, o que pode ser observado pela cooperação e integração entre as equipes e a semelhança das necessidades das comunidades nos dois países. Além de ser inovador na sua concepção, o projeto se diferencia pelo foco em pessoas abaixo da linha de pobreza, pelo desenvolvimento do hábito da poupança, pela independência e fortalecimento dos laços entre os indivíduos no grupo, pelo fomento do empreendedorismo e, por fim, pela criação de uma rede regional de apoio e assistência aos grupos. A grande maioria dos projetos de inclusão financeira atende indivíduos que já têm um empreendimento, formal ou informal, ou experiência e vocação profissional estabelecidas. O Redes busca atender pessoas que ainda não encontraram sua vocação ou que ainda necessitam de educação financeira para garantir seu acesso ao crédito de forma produtiva, para seu desenvolvimento econômico e social. Entretanto, o projeto não exclui o atendimento àqueles que já possuem pequenos empreendimentos ou experiência para desenvolver uma atividade produtiva. Muitos desses empreendedores adquir i-

ram empréstimos e criaram seus negócios sem receber uma capacitação financeira e empreendedora aprofundada, e necessitam de apoio para que seus negócios possam se desenvolver. O hábito da poupança, a independência e o fortalecimento dos laços dos indivíduos estão interligados. O valor da poupança é definido pelo grupo, de acordo com as possibilidades de cada membro, diferente de outras metodologias cujo valor da poupança está vinculado, desde o início, ao valor de um empréstimo almejado pelo grupo. Essa poupança do grupo é utilizada para empréstimo entre os membros, para solução de problemas individuais ou para a criação ou fortalecimento de empreendimentos. As regras do grupo, tais como valor da poupança, taxa de juros e prioridade para empréstimo, são definidas de forma democrática. Em conjunto com as reuniões que ocorrem semanalmente, para discussão de problemas da comunidade e do grupo, essa independência fortalece os laços dos membros e cria uma unidade ou célula de ajuda recíproca. O fomento ao empreendedorismo ocorre, então, a partir de grupos e pessoas que já vivenciaram seu ciclo de “empréstimos internos”: o grupo e cada indivíduo estarão prontos para captar recursos de instituições microfinanceiras para criar ou fortalecer seu empreendimento. Todo esse processo, desde criação do grupo, educação financeira básica para empréstimos internos e externos e empreendedorismo, é acompanhado pela Visão Mundial, pela ANDE e por seus parceiros, que formarão uma rede regional. Outro diferencial do projeto é essa rede regional de apoio e assistência aos grupos. Ao final do projeto, os grupos estarão sendo acompanhados e apoiados por instituições microfinanceiras e sociais em toda a área de atuação (Nordeste e estado de Minas Gerais). A rede também permitirá a rápida disseminação da metodologia alcançando, no mínimo, 50.000 beneficiários diretos e a sustentabilidade do processo para além do período do projeto.

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Como foi a negociação com o Sebrae e com o Bid? Sabemos que esse projeto atinge um público com o qual o Sebrae não costuma trabalhar. O projeto foi desenhado e está sendo executado através de componentes que atendem às expectativas do BID e do Sebrae. Desde sua elaboração, o trabalho foi realizado a quatro mãos: BID, Sebrae, Visão Mundial e ANDE. Dessa forma, garantimos que os objetivos e resultados estejam alinhados com as missões de cada parceiro. Os objetivos do projeto estão profundamente ligados aos objetivos do BID - eliminar a pobreza e a desigualdade e promover o crescimento econômico sustentável. Da mesma forma, o Redes trabalha dentro de uma perspectiva de escalabilidade e sustentabilidade em sua execução, o que re-

força sua relação com a área de atuação do BID - América Latina e Caribe -, e com a sua estratégia de aumentar a efetividade na realização de seus mandatos institucionais. O Sebrae, por sua vez, apoia a abertura e expansão dos pequenos negócios, com uma missão clara e focada no desenvolvimento do Brasil através da geração de emprego e renda pela via do empreendedorismo. O projeto permite, então, que indivíduos que não têm emprego ou empreendimentos, ou que atuam na informalidade, se preparem para receber o apoio e a orientação do Sebrae. Se para o Sebrae a parceria representa uma forma de ampliar sua atuação no desenvolvimento de comunidades, geração de empregos e negócios formais, para o projeto essa parceria é fundamental para garantir excelência na assistência aos empreendimentos que surgirão.

Juliana Paz Gerente de Finanças ANDE – Agência Nacional de Desenvolvimento Empresarial O projeto REDES promove e sustenta a inclusão financeira de microempreendedores informais que estão abaixo da linha da pobreza. Há componentes importantes no projeto, como educação financeira e microempresarial, desenvolvimento local e redes solidárias de apoio.Esses elementos são decisivos na construção de um ambiente sustentável de inclusão financeira.

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Depois de um ano do piloto há o que deve ser corrigido para continuar o avanço da metodologia? O piloto, desenvolvido no Ceará e Rio Grande do Norte, apontou as mudanças necessárias na metodologia original indiana para adequá-la ao contexto brasileiro com sucesso. Superamos as expectativas de resultados quantitativos e qualitativos. Em julho foi realizado um Seminário de Avaliação do Piloto do Projeto, que ressaltou a preocupação da sustentabilidade dos resultados após o término do projeto - uma “estratégia de saída”. Essa estratégia e as ações necessárias já estão previstas, e os parceiros em cada estado e a comunidade estão sendo envolvidos no planejamento da sustentabilidade do projeto. É importante também destacar que cada comunidade possui suas peculiaridades, dinâmicas e características sociais e econômicas. Apesar dos manuais metodológicos já estarem elaborados, devemos respeitar essas diferenças e flexibilizar a metodologia sem descaracterizá-la ou modificar os resultados esperados. Quais as possibilidades de replicar o Projeto Redes na América Latina e África? A World Vision já está presente na América Latina e na África, e a Visão Mundial Brasil possui um importante diferencial nesse processo de expansão para outros países: a metodologia indiana foi adaptada para integrar as ações, estratégias e metodologias que já existem nos PDAs. Além desse diferencial, as características de independência, empoderamento e transformação da metodologia são claramente adaptáveis à realidade de outros países. Para o Brasil, por exemplo, uma das principais preocupações foi o desenvolvimento do hábito da poupança – a ausência desse hábito não é uma característica apenas das comunidades menos favorecidas. Então, como poderia uma pessoa que possui uma renda mensal de R$ 70,00 poupar? Se o valor da poupança for de apenas R$ 0,10, um grupo de 20 pessoas terá poupado R$ 8,00 em um mês – o que representa mais de 10% da renda individual, e pode ser o capital necessário para que a pessoa crie seu microempreendimento. Em outras palavras, a flexibilidade da me-

todologia garante as adaptações necessárias para seu sucesso em qualquer ambiente, comunidade, estado ou país, graças a um processo de contextualização que é executado em parceria com instituições locais. A seleção e integração entre essas instituições é o principal componente para o sucesso da contextualização. De que forma o Projeto Redes e a metodologia Gol.d faz interface com os projetos e áreas de atuação da Visão Mundial no Brasil? Desde o piloto, a metodologia foi adaptada com participação direta dos PDAs, o que garantiu que as ações de mobilização social e fortalecimento dos grupos estejam alinhadas com as das demais áreas do PDA e da Visão Mundial. Essa participação direta não significa apenas um olhar dos PDAs sobre a metodologia, mas a execução através deles. Em outras palavras, os ADGs são alocados em cada PDA e supervisionados pelos facilitadores do projeto e coordenadores dos PDAs. Em Fortaleza, por exemplo, a Unidade Operacional (UOPE) utilizou a metodologia Gol.d como instrumento para sua expansão territorial. Para alcançar a comunidade Terral, a UOPE inicialmente utilizou a metodologia para organizar as mulheres na comunidade, divulgar o trabalho e princípios da Visão Mundial e assim criar condições para um trabalho de apadrinhamento mais eficiente e rápido. A estratégia da execução através dos PDAs possibilitou que a metodologia seja um fortalecimento das ações locais e que, ao término do projeto, o conhecimento e as técnicas permaneçam integradas. O Comitê Operacional

de Projetos Especiais da Visão Mundial já sinalizou que a metodologia Gol.d deverá ser estabelecida como base de mobilização social e formação de grupos para a aplicação de outras metodologias nas áreas de empreendedorismo, inclusão financeira, ou mesmo apadrinhamento, educação e saúde. Além disso, a metodologia Gol.d pode ser utilizada como base ou complemento de outros projetos que estão sendo em curso nos PDAs, como o Coletivo Coca-Cola, que tem como foco a capacitação de jovens para a conquista do primeiro emprego e o estímulo ao empreendedorismo. A metodologia é o instrumento ideal para a mobilização e associação desses jovens, permitindo a criação de empreendimentos individuais e coletivos.

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Estruturação e execução do projeto Redes de Desenvolvimento: considerações gerais Ismael Gílio. Especialista Sênior Fomin. Brasília (DF), 05 de novembro de 2010

Apresentação Os projetos de apoio ao desenvolvimento econômico para o combate à pobreza através da inserção produtiva de micro e pequenos empreendimentos enfrentam, em geral, o desafio de alcançar escala, especialmente em ambientes de extrema pobreza. Além da escala, o tempo, o custo e a eficácia são outros desafios para as iniciativas de inserção produtiva bemsucedidas. O ambiente econômico local, condicionado e diretamente relacionado à criação de oportunidades de trabalho, requer uma atuação integrada e multissetorial, que significa basicamente: capacitação dos envolvidos, assistência técnica e acesso ao crédito. Adicionalmente, o entorno das oportunidades de inserção produtiva que se pretende organizar exige um grande conjunto de atividades de preparação: sensibilização, organização, promoção da atitude cooperativa e associativa, educação financeira, planejamento, elaboração de planos de negócios, promoção de parcerias públicas e privadas e, quando possível, formalização do empreendimento. Esse conjunto de atividades deve ainda respeitar o atendimento das obrigações legais, tributárias, fiscais, sociais e ambientais, além de operar em perfeita harmonia com as condições culturais locais, sem esquecer que os empreendimentos têm de ser sustentáveis. Em síntese, um enorme desafio!

Este projeto tem o mérito e a ousadia de procurar superar esse desafio. Se não em sua totalidade, mas seguramente em sua maior parte. O seu propósito reside, precisamente, em integrar a organização, a capacitação, a assistência técnica e o acesso ao crédito, com um amplo conjunto de parcerias, com escala e baixo custo, em regiões de baixo índice de desenvolvimento econômico e social, mas com potencial para a geração de negócios. Os resultados preliminares alcançados até o momento são animadores. A eficácia, conheceremos futuramente. De qualquer forma, chegar até aqui foi um grande passo e um desafio superado com êxito, sobretudo pelo ousado intercâmbio entre instituições da Índia e do Brasil, passando por Washington, nos Estados Unidos. Três diferentes economias, com enormes diferenças culturais, mas com o mérito de operar um projeto em comum, para uma causa nobre: a inserção produtiva. O seu propósito reside, precisamente, em integrar a organização, a capacitaçào, a assistência técnica e o acesso ao crédito, com um amplo conjunto de parcerias, com escala e baixo custo, em regiões de baixo índice de desenvolvimento econômico e social, mas com potencial para a geração de negócios.

É importante registrar, ainda, a perfeita harmonia entre a Hand in Hand (HiH), da Índia (responsável pela transferência da metodologia), e a Visão Mundial Brasil, VMB (responsável pela coordenação e execução do projeto), com o apoio da ANDE (microcrédito), da Ética Comércio Solidário (comercialização), do Sebrae (assistência técnica) e do Fundo Multilateral de Investimentos (FOMIN). Os méritos do projeto, portanto, devem ser creditados a todas essas instituições, as quais contaram com o apoio inestimável de seus técnicos e representantes, em especial de Hemantha Pamarthy (HiH) pela competente coordenação do intercâmbio entre Índia/Brasil; de Edson Marinho (VMB) pela coordenação do projeto; de Juliana Paz (ANDE) pelo apoio na preparação e execução do projeto, desde o princípio; de Elza Fagundes (ANDE) e Mauricio Cunha e Celso Fernandes (VMB) pelo apoio institucional ao projeto; de Carlos Alberto dos Santos, Alexandre Guerra e João Silvério (Sebrae) pelo apoio à parceria entre Sebrae/ANDE/VMB, sem a qual o projeto não seria possível, e a Svante Person (FOMIN), que coordenou os esforços de intercâmbio e preparação do projeto entre FOMIN/VMB/HiH. A transferência da metodologia de trabalho da HiH, integrada e adaptada às me-

ATN/ME-11053-BR (BR-M1063). Programa de Redução da Pobreza mediante Integração Regional de Capacidades Locais. Nome Fantasia: Projeto Redes de Desenvolvimento. Executor:Visão Mundial Brasil (VMB). Co-Executor: Agência Nacional de Desenvolvimento Microempresarial (ANDE). Parcerias: Hand in Hand, Índia (HiH). Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional).

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todologias e políticas de atuação da VMB, da ANDE e do Sebrae, resultou nesta nova forma de atuação que ora empreendemos: o Gol.d - Grupo de Oportunidades Locais e Desenvolvimento. Esperamos que essa nova metodologia (ou tecnologia social) de atuação seja uma referência e confirme o princípio de que o efetivo combate à pobreza consiste, antes e acima de tudo, em proporcionar e viabilizar “a utilização produtiva do bem de que os pobres mais dispõem – o trabalho!”.

A Elaboração do Projeto: Análise de Viabilidade A ideia do projeto nasceu de um convite do CEO da Hand in Hand (HiH) ao Fundo Multilateral de Investimentos (FOMIN) para uma parceria cujo objetivo seria a transferência e a adaptação de tecnologia da experiência de HiH na Índia. O FOMIN, por sua vez, com base nas características do modelo de atuação de HiH, sondou as possibilidades de adaptação da tecnologia nos países de maior concentração populacional, entre eles Brasil, Colômbia e México. No Brasil, por sorte, encontrou na Visão Mundial, por sua experiência na execução do Projeto de Comércio Justo, e na ANDE razoável semelhança de objetivos, formas de atuação e modelo de intervenção, em relação à metodologia de HiH, o que facilitou seguir na preparação da missão de análise de viabilidade para a transferência de conhecimentos. A missão à Índia, realizada em fins de 2007, contou com representantes do FOMIN, da VMB/ANDE e do Governo da Suécia. Cercada de muita expectativa, a missão oscilou entre momentos de entusiasmo e desânimo. Apesar das semelhanças entre as metodologias de atuação e as condições socioeconômicas verificadas na Índia e na região Nordeste do Brasil (local sugerido para execução do projeto), a diferença cultural (idioma, religião, costumes) sempre se apresentou como um fator de dúvida sobre o êxito da viabilidade de transferência. Paralelamente, existia ainda o desafio de se alcançar a escala de beneficiários, com qualidade, eficácia e baixo custo. Mesmo assim, tomando-se em conta os fatores positivos identificados, ou seja, a semelhança entre VMB e HiH no que se refe-

re (i) aos modelos de intervenção, (ii) aos objetivos de atuação em áreas de extrema pobreza e elevado risco social, (iii) ao foco de atendimento prioritário à mulher, (iv) ao trabalho através de grupos de beneficiários, e (v) às condições socioeconômicas da região Nordeste do Brasil, onde se observa a maior concentração de pobreza do país, a missão optou pelo seguimento do intercâmbio, desde que superadas três barreiras: (i) a realização de parcerias para viabilizar os investimentos necessários, (ii) a definição de um modelo de intervenção de baixo custo operacional, e (iii) a conformação de uma rede de instituições para se alcançar a escala necessária.

A Elaboração do Projeto: Estrutura, Mecanismo de Execução e Sustentabilidade Estrutura Uma das primeiras barreiras à construção do projeto foi superada com a parceria com o Sebrae Nacional, que aportou a mesma contribuição financeira do FOMIN, viabilizando os investimentos necessários para a consecução do projeto e sua plena e satisfatória execução. No que se refere à definição de um modelo de intervenção de baixo custo operacional, decidiu-se, após a realização de duas oficinas técnicas, que contaram, inclusive, com a participação de HiH e do Sebrae Nacional, pela construção de uma metodologia, a partir da experiência de HiH, e sua adaptação à realidade do Brasil, tomando-se por base a metodologia EPES (Escola Popular de Empreendedorismo Social) da VMB e as tecnologias de Bancos Comunitários e Grupos Solidários da ANDE. Para a construção e adaptação dessa nova tecnologia de intervenção, firmou-se uma parceria entre a VMB/HiH para o desenvolvimento de um projeto-piloto. Em relação à escala, além do fato de VMB e ANDE estarem presentes em toda a região Nordeste, nos nove estados, tomou-se ainda a constituição de uma rede de instituições para operarem em parceria, a partir das instituições que mantinham algum vínculo com VMB e com ANDE, basicamente: associações de pequenos empreendedores, ONGs locais,

instituições microfinanceiras, cooperativas de produção e cooperativas de crédito. Dos três pilares de sustentação do projeto, ou seja, (i) a capacitação e a assistência técnica, (ii) o acesso ao microcrédito, e (iii) os enlaces empresariais, o microcrédito contava com a experiência e o aporte da ANDE, e os enlaces empresariais contavam com a extensa rede de instituições vinculadas à VMB e à ANDE, restando como principal desafio a capacitação e assistência técnica, sobretudo em função da escala do projeto, o que foi superado com a participação direta do Sebrae Nacional. Adicionalmente, em relação à capacitação em educação financeira e assistência técnica em gestão empresarial, o desafio foi igualmente superado através do desenho de um novo perfil para os agentes de desenvolvimento, que estariam diretamente envolvidos na formação dos grupos de beneficiários e operando em perfeita sintonia com os agentes de crédito, ambos com competências para a promoção da capacitação e assistência técnica financeira e empresarial. Mecanismo de Execução A execução do projeto foi compartilhada entre a VMB, responsável pela coordenação geral e pela atuação direta em campo, no atendimento aos beneficiários para a formação dos grupos de beneficiários, e a ANDE, responsável pela execução do componente de acesso ao crédito (microcrédito) e transferência da tecnologia às instituições microfinanceiras e cooperativas de crédito, que integram a rede de apoio promovida pela ANDE. Para a transferência da tecnologia HiH, construção e adaptação de uma nova metodologia e modelo de intervenção, o projeto contemplou uma fase-piloto, com participação direta dos técnicos de HiH, processo de capacitação de HiH para VMB e ANDE, visita de técnicos multiplicadores e facilitadores de VMB e ANDE à HiH, processo de avaliação da fase-piloto, proposta e adaptação da metodologia. A metodologia adaptada compreendeu a conjugação de quatro distintos modelos em um único: Escola Popular de Empreendedorismo, da VMB, Bancos Comunitários e

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Grupos Solidários, da ANDE, e Self-HelpGroup, adotado por HiH. Essa nova metodologia, ou modelo/ferramenta de intervenção, ou ainda, essa nova “tecnologia social”, foi batizada de Gol.d: Grupos de Oportunidades Locais e Desenvolvimento. Uma identidade forte, simpática, que remete a diversas nuanças.Vale ressaltar que esta nova ferramenta guarda razoável sinergia com algumas linhas de atuação do Sebrae, a exemplo do Programa “Negócio a Negócio”, que proporciona um atendimento presencial e ‘in loco’ aos micro e pequenos empreendedores. Com os multiplicadores e facilitadores capacitados e a metodologia adaptada, após a realização da fase-piloto e de sua avaliação, o projeto iniciaria a preparação dos agentes de desenvolvimento e de agentes de crédito, tanto da VMB e da ANDE quanto das entidades que iniciariam a formação da rede. Para facilitar o seu alcance, a meta geral do projeto foi subdividida em quatro grupos: (i) beneficiários sem experiência empresarial e em situação de extrema pobreza e alto risco social; (ii) beneficiários sem experiência empresarial; (iii) beneficiários com experiência em produção para apoio à comercialização; e (iv) beneficiários na fase-piloto, com todas as características dos grupos acima. Para o apoio ao tema da comercialização, a Ética Comércio Solidário passou a integrar o projeto com o compromisso de dar assistência àqueles grupos com uma organização produtiva mais avançada, cuja maior necessidade seria o apoio ao processo de comercialização. Conformou-se, ainda, um Conselho para a execução estratégica do projeto, com a presença de VMB, ANDE, Ética, FOMIN e Sebrae. Sustentabilidade O desafio maior da sustentabilidade operacional, técnica e financeira do projeto concentrava-se, e ainda se concentra, na forma de se operar com agentes de desenvolvimento e agentes de crédito, responsáveis diretos pela formação dos grupos de beneficiários. Os agentes de crédito são, por natureza, sustentáveis, dependendo de sua pro-

dutividade, a partir do momento em que tem-se, em média, um custo de apenas alcançam uma carteira de operações de US$ 100,00 por beneficiário. microcrédito suficiente para cobrir os custos operacionais. Mesmo assim, um agente Resultados, de crédito toma entre um e dois anos para Desdobramentos atingir uma carteira-ótima de operações de e Perspectivas microcrédito. Nesse intervalo de tempo, o Os resultados iniciais da fase-piloto, de seu retorno é negativo. Já por outro lado, mais de 500 grupos formados, com a paros agentes de desenvolvimento, atuando di- ticipação de mais de 5.000 beneficiários, foretamente com grupos desorganizados, que ram bastante animadores e referendaram a requerem muito tempo para sensibilização, eficácia da metodologia desenvolvida. organização, capacitação, desenvolvimento A partir dos resultados alcançados, o de habilidades empresariais, elaboração de projeto experimentou um conjunto de planos de negócios e acesso a mercado, são, desdobramentos altamente favoráveis, igualmajoritariamente, deficitários. mente animadores e com a segurança de A solução foi construir perfis para os continuidade. A VMB e a ANDE passaram a agentes, de maneira muito similar, para que adotar integralmente, em todas as suas atipudessem operar em qualquer grupo, po- vidades, e em todos os seus territórios de dendo passar do campo do desenvolvimen- atuação, a mesma metodologia, e um proto para os negócios (crédito). O projeto, por jeto similar foi desenvolvido para a América sua vez, assumiu a responsabilidade de sele- Central, envolvendo os escritórios da VM de cionar, capacitar e contribuir com uma ajuda cinco países: Costa Rica, El Salvador, Guade custo e uma espécie de bolsa-aprendiza- temala, Honduras e Nicarágua. Além disso, gem até o alcance do nível de equilíbrio. A foram firmados convênios (i) da VMB com partir desse momento, os agentes integram- o Governo de Alagoas, para a formação se às respectivas instide 500 Grupos; (ii) da As perspectivas, portanto, tuições. ANDE com o Governo são de expansão e Por essa razão, no fortalecimento deste de Alagoas, para expanprojeto como um todo, novo modelo de intervenção, são do microcrédito; (iii) contemplou-se a sele- envolvendo novas parcerias, da ANDE com o Sebrae transferências e disseminação, ção, a capacitação e o Nacional para assistência no Brasil e no exterior. apoio a 250 agentes técnica; (iv) da ANDE (de desenvolvimento e de crédito). Cada com o Sebrae Nacional para formalização agente teria, portanto, a responsabilidade de de microempreendimentos; e (v) da VMB formação de 12 a 15 grupos, no período de com a Coca-Cola Brasil, para a realização de um ano. Uma meta bastante razoável, que 10 experiências-piloto, incluindo duas novas permitiria alcançar perto de 3.000 grupos localidades: São Paulo e Rio de Janeiro. de beneficiários, utilizando-se a nova metoAs perspectivas, portanto, são de expandologia. Considerando uma média entre 10 são e fortalecimento desse novo modelo a 20 pessoas por grupo, seria, então, perfei- de intervenção, envolvendo novas parcerias, tamente factível alcançar perto de 50.000 transferências e disseminação, no Brasil e no beneficiários. Adicionalmente, tomando-se exterior. uma média de 20 instituições da rede, teríamos perto de 150 grupos por instituição, o Síntese que também representa uma meta factível. E O projeto se trata de uma nova Tecnoos 250 agentes, já capacitados e com grupos logia Social, com as seguintes características: formados, poderiam, então, integrar-se às • É um mecanismo de ação e intervenção instituições, que passariam a responsabilizarintegral a microempreendimentos, sobrese pelo seu seguimento, alcançando assim a tudo os individuais, prioritariamente dedinecessária sustentabilidade. cado à mulher empreendedora, através da Adicionalmente, considerando um horiorganização dos beneficiários em grupos zonte de 50 mil beneficiários e um investide interesses comuns, localizados em zomento total do projeto de US$ 5,5 milhões, nas de extrema pobreza e alto risco so29

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cial, envolvendo oferta de capacitação em educação financeira, incentivo à poupança, assistência técnica em gestão empresarial, preparação de planos de negócios, acesso ao microcrédito e apoio ao acesso a mercados de forma sustentável. • Opera em escala com a formação de redes e parcerias e da inserção nas redes sociais

de promoção do desenvolvimento local. • Tem como objeto principal a construção de oportunidades para o acesso à organização e inserção nas redes sociais de promoção do desenvolvimento local, à capacitação e assistência técnica financeira e empresarial, à poupança e ao microcrédito orientado e responsável, e

o Que É TeCnologia SoCial? (Conceito da Fundação Banco do Brasil) Tecnologia Social compreende produtos, técnicas ou metodologias replicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. É um conceito que remete para uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando a participação coletiva no processo de organização, desenvolvimento e implantação. Está baseado na disseminação de soluções para problemas voltados a demandas de alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos hídricos, saúde, meio ambiente, entre outras. As tecnologias sociais podem aliar saber popular, organização social e conhecimento técnico-científico. Importa essencialmente que sejam efetivas e reaplicáveis, propiciando desenvolvimento social em escala. São exemplos de tecnologia social: o clássico soro caseiro (mistura de água, açúcar e sal que combate a desidratação e reduz a mortalidade infantil); e as cisternas de placas pré-moldadas que atenuam os problemas de acesso à água de boa qualidade à população do semiárido, entre outros.

A Visão Mundial tem sido pioneira no uso de metodologias de Desenvolvimento Econômico que realmente promovem impacto na redução da pobreza. Um exemplo concreto é o Projeto Redes que tive a oportunidade de conhecer. Essa experiência tem um caráter muito inovador tanto no seu processo de desenvolvimento como no seu conteúdo. A “tropicalização” da metodologia Self Help Groups originária da ONG indiana Hand in Hand, foi enriquecida com a larga experiência da Visão Mundial Brasil e ANDE na área de desenvolvimento econômico, com ênfase na integração do empreendedorismo, acesso à serviços financeiros e acesso à mercados. Com base nos resultados promissores obtidos ainda na fase piloto do projeto no Brasil, o Escritório Regional da Visão Mundial para América Latina e Caribe decidiu mobilizar os 5 Escritórios Nacionais localizados na América Central – Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e El Salvador para também implementar a metodologia desenvolvida no Brasil, de maneira contextualizada à realidade centro americana.

ao mercado, proporcionando, portanto, oportunidades de inserção produtiva no mundo dos pequenos negócios por meio do trabalho. • E permite o alcance da necessária sustentabilidade por constituir-se em uma tecnologia de baixo custo operacional, de impacto considerável e em escala.

TeCnologia SoCial (origem: Wikipédia, a enciclopédia livre) Considera-se tecnologia social todo o produto, método, processo ou técnica, criado para solucionar algum tipo de problema social e que atenda aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade (e reaplicabilidade) e impacto social comprovado. É um conceito contemporâneo que remete a uma proposta inovadora de desenvolvimento (econômico ou social), baseada na disseminação de soluções para problemas essenciais, como demandas por água potável, alimentação, educação, energia, habitação, renda, saúde e meio ambiente, entre outras. As tecnologias sociais podem originar-se quer no seio de uma comunidade, quer no ambiente acadêmico. Podem ainda aliar os saberes populares e os conhecimentos técnico-científicos. Importa, essencialmente, que a sua eficácia possa ser alcançada ou repetida por outras pessoas, permitindo que o desenvolvimento se multiplique entre as populações atendidas, melhorando a sua qualidade de vida. São numerosos os exemplos de tecnologia social, indo do clássico soro caseiro até as cisternas de placas pré-moldadas que atenuam o problema da seca, passando pela oferta de microcrédito, ou ainda pelos Encauchados de Vegetais da Amazônia, que geram renda para populações indígenas e seringueiros ao agregar valor à borracha nativa, entre outros

Eu não poderia deixar de mencionar a importância estratégica da parceria que a Visão Mundial Brasil tem mantido com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Graças a esta parceria, foi possível a aprovação do projeto na América Central e um novo projeto está em negociação entre a Visão Mundial Brasil e Visão Mundial Haiti com apoio do BID. Essa abordagem da Visão Mundial facilita a participação de parceiros institucionais como o Sebrae, governos locais e empresas. O mais importante é o resultado que essa iniciativa tem potencial de gerar na vida de milhares de familias pobres, seja no Brasil, nos países da América Central ou num país tão sofrido como Haiti. Eu me sinto muito orgulhoso de ter contribuído para a propagação desse iniciativa inovadora em toda América Latina e Caribe. Tenho certeza que nos próximos anos ouviremos falar muito do impacto desta iniciativa e da sua propagação por outras comunidades espalhadas por nosso continente.

João diniz Diretor de Estratégia e Planejamento do Centro Global da Visão Mundial

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PROJETO REDES e Ação Territorial com os PDAs de Fortaleza Carmilson Brito – Gerente da Unidade Operacional da Visão Mundial em Fortaleza.

O ser humano tem por natureza uma tendência para a vida associativa, podemos perceber isso através da constituição da família e da habilidade em desenvolver ações de solidariedade. Por outro lado temos nos caracterizados pela extraordinária capacidade de erguer muros, grades, levantar barreiras e promover distanciamentos. Os Gol.ds avançam na perspectiva da ação do território desempenhando um papel catalisador, aglutinando as mais variadas expressões de organizações locais na perspectiva da soma de forças que vão se traduzindo na vontade da participação, valorizando os interesses coletivos, neste sentido vão se formando novos grupos e se fortalecendo através das experiências, principalmente na área da economia solidária.

Para a construção de uma ação territorial, de acordo com Osmar Rufino (2006), é necessário “ser capaz de desterritorializar-se para se reterritorializar consigo mesmo, com a organização, com os outros e com o ambiente e com o nosso ser como sujeito histórico e de construção de relações”. Neste sentido a Visão Mundial busca com os diversos parceiros na região do Grande Jangurussú, Ancuri e Planalto Airton Sena, fortalecer as relações entre os movimentos locais através de um trabalho em rede, para enfrentamento dos grandes desafios sociais que compõem este território da região sul de Fortaleza/CE. Esta ação territorial na perspectiva do desenvolvimento local urbano, remete como desafio a estas entidades o pensar a cidade a partir do local, de maneira planejada e governada através do exercício da cidadania consciente, para que haja uma ação ativa no desenho de políticas publicas em cumplicidade com este processo organizativo. Para isso, O PROJETO REDES, como uma ferramenta metodológica contribui na formação de grupos na comunidade, onde estes grupos se articulam e mergulham na dinâmica local, se estruturando a partir de um modelo que discute os aspectos econômicos na perspectiva da Economia Popular Solidária. Com isso a economia é discutida e pensada partindo da realidade

local, contextualizada, e com um jeito onde as pessoas se fortalecem umas com as outras, e assim juntas vão descobrindo os potenciais para além da ações econômicas e avançando nas questões do contexto local. Os grupos (Gol.d´s), como resultado da metodologia, avançam na perspectiva da ação do território desempenhando um papel catalisador, aglutinando as mais variadas expressões de organizações locais na perspectiva da soma de forças que vão se traduzindo na vontade da participação, valorizando os interesses coletivos, neste sentido vão se formando novos grupos e se fortalecendo através das experiências, principalmente na área da economia solidária. Um aspecto relevante da metodologia do PROJETO REDES, no avanço do processo de construção da ação territorial dos PDA’s aqui de Fortaleza, é de como se dar a organização dos grupos dentro do modelo de implementação de um processo participativo sustentável. As ações econômicas desenvolvidas pelos grupos não são o fim, mas a possibilidade de animar o grupo para intervir no contexto local. A partir desta intervenção local podemos perceber que os grupos vão se animando e participando da dinâmica territorial. Por estas razões considero este aspecto como um das grandes contribuições desta proposta metodológica na ação territorial dos PDA´s aqui em Fortaleza. 31

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www.visaomundial.org.br

A Visão Mundial é uma organização não governamental cristã, brasileira, de desenvolvimento, promoção de justiça e assistência. Combate as causas da pobreza para que crianças, famílias e comunidades alcancem seu potencial pleno. A Visão Mundial integra a parceria da World Vision International, que atua em quase 100 países. A Visão Mundial atua no Brasil desde 1975. Em seus projetos e programas, prioriza as crianças que vivem em comunidades empobrecidas e em situação de vulnerabilidade. O Trabalho da VMB se sustenta em três pilares, com os quais contribui para a superação da pobreza: desenvolvimento, Transformador, Promoção da Justiça para as Crianças e Emergência e Reabilitação.

declaração de visão nossa visão para todas as crianças: vida em abundância. nossa oração para todos os corações: a vontade para tornar isso uma realidade. Missão Seguir a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador; trabalhar com os pobres e oprimidos para promover a transformação humana, buscar a justiça e testificar as boasnovas do Reino de Deus. nossos Valores • Somos cristãos • temos compromisso com os pobres • valorizamos as pessoas • Administramos com responsabilidade • Somos parceiros • Somos sensíveis

www.agenciaande.org.br

A ANDE é uma organização irmã da Visão Mundial e da Vision Fund Internacional. A Visão Mundial é uma ONG presente no Brasil desde 1975 que trabalha com programas de apoio a crianças, adolescentes e suas famílias. Seus projetos concentram-se nas áreas de saúde, educação, agroecologia, desenvolvimento econômico e comunitário, promoção da justiça e emergência/reabilitação. Hoje, a organização desenvolve trabalhos no Nordeste, Amazonas, Tocantins, norte de Minas Gerais e regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A Vision Fund Internacional é uma organização, fundada em 2003, da World Vision International. Ela tem o objetivo de fomentar instituições microfinanceiras, ligadas à Visão Mundial, que atendem empreendedores de baixa renda nos seus projetos. Além disso, ela também é responsável por administrar financiamentos e doações para instituições microfinanceiras da rede, manter o controle do gerenciamento de riscos das mesmas e oferecer suporte técnico especializado.

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Missão Contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida das famílias brasileiras menos favorecidas, facilitando o desenvolvimento socioeconômico sustentável, através da prestação de serviços microfinanceiros. Visão Chegar em 2010 como uma organização líder em serviços microfinanceiros, consolidada,com reconhecida eficiência e capacidade operativa, oferecendo produtos e serviços microfinanceiros diversificados e inovadores para o desenvolvimento das populações menos favorecidas. Valores • Compromisso com os mais pobres • Produtividade • Criatividade e inovação • Integridade e transparência • Trabalho em equipe valorizando a contribuição individual

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