RVS - ano 81 - 2017 - nº 2

Revista

Santa Cruz

Ano 81

2017 Nยบ 2

I. EDITORIAL Nesta edição da Revista Santa Cruz trazemos, na íntegra, as mensagens do Papa Francisco para o 54o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado em 7 de maio de 2017, sobre o tema “impelidos pelo Espírito para a missão”, e para o I Dia Mundial dos Pobres, marcado para o dia 19 de novembro de 2017, sobre o tema “Não amemos com palavras, mas com obras”.

Após a recordação de notícias e dados sobre a nossa Ordem, apresentamos algumas recordações das atividades e eventos da nossa Província nos meses de abril a junho. Damos continuidade ao texto sobre a história do noviciado da Província Santa Cruz e trazemos reflexões de cunho mariano e temáticas referentes à Justiça, à Paz e à Integridade da Criação, de acordo com a proposta da Equipe Provincial de Comunicação para este ano. Por fim, proporcionamos uma reflexão sobre nosso confrade Santo Antônio e a devoção a ele no Brasil.

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SUMÁRIO I. Editorial

....................................................................................... 83

II. Vida da Igreja Mensagem do Papa o 54o Dia Mundial de Oração pelas Vocações (Papa Francisco) ............................................................................... 88 Mensagem do Papa Francisco para o I Dia Mundial dos Pobres (Papa Francisco) ................................................................................ 92

III. Vida da Ordem A Fraternidade OFM em cifras - ano de 2016 (Ordo Fratrum Minorum) ........................................................................................................... 100 Assis ganha Santuário do Despojamento de São Francisco (Rádio Vaticano) .......................................................................................... 101 Custódia prepara festejos dos 800 anos na Terra Santa (Ordo Fratrum Minorum) ......................................................................................... 103 Master em Evangelização - Interpelações e Perspectivas (Frei Francisco do Carmo de Carvalho, OFM) ............................................... 106

IV. Vida da Província Comunicações do Definitório Provincial – maio de 2017 (102) .... 110 Notícias - Missão Baixo Rio Branco em Roraima (Frei Renieverton Telles de Oliveira, OFM) ....................................................................... 113 - Encontro da Faixa Etária II (Frei Joaquim Fonseca, OFM) ..... 116 - Compostela (Frei Geraldo Luciano Claret Chaves, OFM) ....... 118 - Frei Prick celebra 99 anos de vida (Equipe Provincial de Comunicação) ............................................................................ 124 - EDUCAFRO em Divinópolis (Centro Franciscano de Formação e Cultura) .................................................................................... 125 Revista Santa Cruz -

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- Festa de Santo Antônio e Acolitado de Frei Robério em Salinas (Paróquia Santo Antônio) ........................................................... 126 - Em Belo Horizonte (MG) o primeiro Seminário do JPIC (CRB Nacional) ..................................................................................... 127 - Capítulo regional eletivo da Ordem Franciscana Secular (Frei Francisco Alexandre Viana, OFM) .............................................. 128 - Encontro de guardiães (Centro Franciscano de Formação e Cultura) ........................................................................................ 130 - Festa de Nossa Senhora de Fátima em Betim (Frei Luciano Lopes, OFM) ............................................................................................ 131 - Cursos de teologia fazem retiro em Santos Dumont (Frei Oton da Silva Araújo Junior, OFM) ........................................................... 132 - Encontro de jovens em Divinópolis (Frei José Roberto Garcia Lima, OFM) .................................................................................. 133 - Encontro de jovens em Jequitinhonha (Frei Carlos Alexandre da Silva Lima, OFM) ......................................................................... 134 - Encontro com lideranças jovens e postulantes em São João del-Rei (Frei José Roberto Garcia Lima, OFM) .............................. 135 - Retiro da Fraternidade Santa Maria dos Anjos (Frei Agmar Roberto Ferreira, OFM) .............................................................. 136 - Retiro da Fraternidade Beato Duns Scotus (Frei Oton da Silva Araújo Junior, OFM) ..................................................................... 138

V. Memória Um olhar sobre a história do noviciado da Província Santa Cruz – Parte II (Frei Hilton Farias de Souza, OFM) ....................................... 140

VI. Reflexões Educar a Piedade Mariana (Frei Joaquim Fonseca, OFM) ............. 148 Biomas brasileiros e sustentabilidade da vida (Frei Valter Pinto Vieira Júnior, OFM) ...................................................................................... 159 Santo Antônio no Brasil (Frei Francisco van der Poel, OFM) ........... 165

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II. VIDA DA IGREJA

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MENSAGEM DO PAPA PARA O 54O DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

Íntegra da mensagem do Papa Francisco para o 54o Dia Mundial de Oração pelas Vocações que se celebrou em 7 de maio de 2017 - IV Domingo da Páscoa, sobre o tema «Impelidos pelo Espírito para a missão».

Amados irmãos e irmãs!

Nos anos passados, tivemos ocasião de refletir sobre dois aspetos que dizem respeito à vocação cristã: o convite a «sair de si mesmo» para pôr-se à escuta da voz do Senhor e a importância da comunidade eclesial como lugar privilegiado onde nasce, alimenta e se exprime a chamada de Deus.

Agora, no 54o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, gostaria de me deter na dimensão missionária da vocação cristã. Quem se deixou atrair pela voz de Deus e começou a seguir Jesus, rapidamente des-cobre dentro de si mesmo o desejo irreprimível de levar a Boa-Nova aos irmãos, através da evangelização e do serviço na caridade. Todos os cristãos são constituídos missionários do Evangelho. Com efeito, o discípulo

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não recebe o dom do amor de Deus para sua consolação privada; não é chamado a ocupar-se de si mesmo nem a cuidar dos interesses duma empresa; simplesmente é tocado e transformado pela alegria de se sentir amado por Deus e não pode guardar esta experiência apenas para si mesmo: «a alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária» (FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii Gaudium, 21).

Por isso, o compromisso missionário não é algo que vem acrescentar-se à vida cristã como se fosse um ornamento, mas, pelo contrário, situa-se no âmago da própria fé: a relação com o Senhor implica ser enviados ao mundo como profetas da sua palavra e testemunhas do seu amor.

Se experimentamos em nós muita fragilidade e às vezes podemos sentir-nos desanimados, devemos levantar a cabeça para Deus, sem nos fazermos esmagar pelo sentimento de inaptidão nem cedermos ao pessimismo, que nos torna espectadores passivos duma vida cansada e rotineira. Não há lugar para o temor: o próprio Deus vem purificar os nossos «lábios impuros», tornando-nos aptos para a missão. «Foi afastada a tua culpa e apagado o teu pecado!»

Então, ouvi a voz do Senhor que

dizia: “Quem enviarei? Quem será o nosso mensageiro?” Então eu disse: “Eis-me aqui, envia-me”» (Is 6, 7-8).

Cada discípulo missionário sente, no seu coração, esta voz divina que o convida a «andar de lugar em lugar» no meio do povo, como Jesus, «fazendo o bem e curando» a todos (Cf. At 10, 38). Com efeito, já tive ocasião de lembrar que, em virtude do Batismo, cada cristão é um «cristóvão», ou seja, «um que leva Cristo» aos irmãos (Cf. FRANCISCO, Catequese, 30 de janeiro de 2016). Isto vale de forma particular para as pessoas que são chamadas a uma vida de especial consagração e também para os sacerdotes, que generosamente responderam «eis-me aqui, enviame». Com renovado entusiasmo missionário, são chamados a sair dos recintos sagrados do templo, para consentir à ternura de Deus de transbordar a favor dos homens (Cf. FRANCISCO, Homilia na Missa Crismal, 24 de março de 2016).

A Igreja precisa de sacerdotes assim: confiantes e serenos porque descobriram o verdadeiro tesouro, ansiosos por irem fazê-lo conhecer jubilosamente a todos (Cf. Mt 13,44).

Com certeza, não faltam as interrogações ao falarmos da missão cristã: Que significa ser

missionário do Evangelho? Quem nos dá a força e a coragem do anúncio? Qual é a lógica evangélica em que se inspira a missão? Podemos dar resposta a estas questões, contemplando três cenas evangélicas: o início da missão de Jesus na sinagoga de Nazaré (Cf. Lc 4, 16-30); o caminho que Ele, Ressuscitado, fez com os discípulos de Emaús (Cf. Lc 24, 1335); e, por último, a parábola da semente (Cf. Mc 4, 26-27).

Jesus é ungido pelo Espírito e enviado. Ser discípulo missionário significa participar ativamente na missão de Cristo, que Ele próprio descreve na sinagoga de Nazaré: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-Me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4, 18-19). Esta é também a nossa missão: ser ungidos pelo Espírito e ir ter com os irmãos para lhes anunciar a Palavra, tornando-nos um instrumento de salvação para eles.

Jesus vem colocar-Se ao nosso lado no caminho. Perante as interrogações que surgem do coração humano e os desafios que se levantam da realidade, Revista Santa Cruz -

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podemos sentir-nos perdidos e notar um défice de energia e esperança. Há o risco de que a missão cristã apareça como uma mera utopia irrealizável ou, em todo o caso, uma realidade que supera as nossas forças.

Mas, se contemplarmos Jesus Ressuscitado, que caminha ao lado dos discípulos de Emaús (Cf. Lc 24, 13-15), é possível reavivar a nossa confiança; nesta cena evangélica, temos uma autêntica e real «liturgia da estrada», que precede a da Palavra e da fração do Pão e nos faz saber que, em cada passo nosso, Jesus está junto de nós. Os dois discípulos, feridos pelo escândalo da cruz, estão de regresso a casa percorrendo o caminho da derrota: levam no coração uma esperança despedaçada e um sonho que não se realizou. Neles, a tristeza tomou o lugar da alegria do Evangelho.

Que faz Jesus? Não os julga, percorre a própria estrada deles e, em vez de erguer um muro, abre uma nova brecha. Pouco a pouco transforma o seu desânimo, inflama o seu coração e abre os seus olhos, anunciando a Palavra e partindo o Pão. Da mesma forma, o cristão não carrega sozinho o encargo da missão, mas experimenta – mesmo nas fadigas e incompreensões – que «Jesus caminha com ele, fala com

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ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária» (FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii Gaudium, 266).

Jesus faz germinar a semente.

Por fim, é importante aprender do Evangelho o estilo de anúncio.

Na verdade, acontece não raro, mesmo com a melhor das intenções, deixar-se levar por um certo frenesi de poder, pelo proselitismo ou o fanatismo intolerante. O Evangelho, pelo contrário, convida-nos a rejeitar a idolatria do sucesso e do poder, a preocupação excessiva pelas estruturas e uma certa ânsia que obedece mais a um espírito de conquista que de serviço. A semente do Reino, embora pequena, invisível e às vezes insignificante, cresce silenciosamente graças à ação incessante de Deus: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como» (Mc 4, 26-27). A nossa confiança primeira está aqui: Deus supera as nossas expectativas e surpreende-nos com a sua generosidade, fazendo germinar os frutos do nosso trabalho para além dos cálculos da eficiência humana.

Com esta confiança evangélica abrimo-nos à ação silenciosa do Espírito, que é o fundamento da missão. Não poderá jamais haver pastoral vocacional nem missão cristã, sem a oração assídua e contemplativa. Neste sentido, é preciso alimentar a vida cristã com a escuta da Palavra de Deus e sobretudo cuidar da relação pessoal com o Senhor na adoração eucarística, «lugar» privilegiado do encontro com Deus. É esta amizade íntima com o Senhor que desejo vivamente encorajar, sobretudo para implorar do Alto novas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. O povo de Deus precisa ser guiado por pastores que gastam a sua vida a serviço do Evangelho. Por isso, peço às comunidades paroquiais, às associações e aos numerosos grupos de oração presentes na Igreja: sem ceder à tentação do desânimo, continuai a pedir ao Senhor que mande operários para a Sua messe e nos dê sacerdotes enamorados do Evangelho, capazes de se aproximar dos irmãos, tornando-se, assim, sinal vivo do amor misericordioso de Deus.

o seguimento de Cristo. Face à generalizada sensação duma fé cansada ou reduzida a meros «deveres a cumprir», os nossos jovens têm o desejo de descobrir o fascínio sempre atual da figura de Jesus, de deixar-se interpelar e provocar pelas Suas palavras e gestos e, enfim, sonhar – graças a Ele – com uma vida plenamente humana, feliz de gastar-se no amor.

Maria Santíssima, Mãe do nosso Salvador, teve a coragem de abraçar este sonho de Deus, pondo a sua juventude e o seu entusiasmo nas mãos d’Ele. Que a sua intercessão nos obtenha a mesma abertura de coração, a prontidão em dizer o nosso «Eisme aqui» à chamada do Senhor e a alegria de nos pormos a caminho, como Ela (cf. Lc 1, 39), para O anunciar ao mundo inteiro.

Cidade do Vaticano, 27 de novembro – I Domingo do Advento – de 2016.

Franciscus

Amados irmãos e irmãs, é possível ainda hoje voltar a encontrar o ardor do anúncio e propor, sobretudo aos jovens, Revista Santa Cruz -

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O I DIA MUNDIAL DOS POBRES Foi publicada, na manhã da terça-feira (13/6), no Vaticano, a Mensagem do Papa para o Primeiro Dia Mundial dos Pobres, que tem como tema: «Não amemos com palavras, mas com obras».

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O I DIA MUNDIAL DOS POBRES XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (19 DE NOVEMBRO DE 2017) «Não amemos com palavras, mas com obras» 1. «Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» (1 Jo 3, 18). Estas palavras do apóstolo João exprimem um imperativo de que nenhum cristão pode prescindir. A importância do mandamento de Jesus, trans-mitido pelo «discípulo amado» até os nossos dias, aparece ainda mais acentuada ao contrapor as palavras vazias, que fre-quentemente se encontram na nossa boca, às obras concretas, as únicas capazes de medir verdadeiramente o que va-

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lemos. O amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres. Aliás, é bem conhecida a forma de amar do Filho de Deus, e João recorda-a com clareza. Assenta sobre duas colunas mestras: o primeiro a amar foi Deus (Cf. 1 Jo 4, 10.19); e amou dando-Se totalmente, incluindo a própria vida (Cf. 1 Jo 3, 16).

Um amor assim não pode ficar sem resposta. Apesar de ser dado de maneira unilateral, isto é, sem pedir nada em troca, ele abrasa de tal forma o coração, que toda e qualquer pessoa se sente levada a retribuí-lo não obstante as suas limitações e pecados. Isto é possível, se a graça de Deus, a sua caridade misericordiosa, for acolhida no nosso coração a ponto de mover a nossa vontade e os nossos afetos para o amor ao próprio Deus e ao próximo. Deste modo, a misericórdia, que brota por assim dizer do coração da Trindade, pode chegar a pôr em movimento a nossa vida e gerar compaixão e obras de misericórdia em prol dos irmãos e irmãs que se encontram em necessidade.

2. «Quando um pobre invoca o Senhor, Ele atende-o» (Sal 34/33, 7). A Igreja compreendeu, desde sempre, a importância de tal

invocação. Possuímos um grande testemunho já nas primeiras páginas do Atos dos Apóstolos, quando Pedro pede para se escolher sete homens «cheios do Espírito e de sabedoria» (6, 3), que assumam o serviço de assistência aos pobres. Este é, sem dúvida, um dos primeiros sinais com que a comunidade cristã se apresentou no palco do mundo: o serviço aos mais pobres. Tudo isto foi possível, por ela ter compreendido que a vida dos discípulos de Jesus se devia exprimir numa fraternidade e numa solidariedade tais, que correspondesse ao ensinamento principal do Mestre que tinha proclamado os pobres bem-aventurados e herdeiros do Reino dos céus (Cf. Mt 5, 3).

«Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um» (At 2, 45). Esta frase mostra, com clareza, como estava viva nos primeiros cristãos tal preocupação. O evangelista Lucas – o autor sagrado que deu mais espaço à misericórdia do que qualquer outro – não está a fazer retórica, quando descreve a prática da partilha na primeira comunidade. Antes, pelo contrário, com a sua narração, pretende falar aos fiéis de todas as gerações (e, por conseguinte,

também à nossa), procurando sustentá-los no seu testemunho e incentivá-los à ação concreta a favor dos mais necessitados. E o mesmo ensinamento é dado, com igual convicção, pelo apóstolo Tiago, usando expressões fortes e incisivas na sua Carta: «Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que O amam? Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? […] De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?

Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta» (2, 5-6.14-17).

3. Contudo, houve momentos em que os cristãos não escutaram profundamente esse apelo, deixando-se contagiar pela mentalidade mundana. Mas o Espírito Santo não deixou de os chamar a manterem o olhar fixo no essencial.

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Com efeito, fez surgir homens e mulheres que, de vários modos, ofereceram a sua vida a serviço dos pobres. Nestes dois mil anos, quantas páginas de história foram escritas por cristãos que, com toda a simplicidade e humildade, serviram os seus irmãos mais pobres, animados por uma generosa fantasia da caridade!

Dentre todos, destaca-se o exemplo de Francisco de Assis, que foi seguido por tantos outros homens e mulheres santos, ao longo dos séculos. Não se contentou com abraçar e dar esmola aos leprosos, mas decidiu ir a Gúbio para estar junto com eles. Ele mesmo identificou, neste encontro, a viragem da sua conversão: «Quando estava nos meus pecados, parecia-me deveras insuportável ver os leprosos. E o próprio Senhor levou-me para o meio deles e usei de misericórdia para com eles. E, ao afastar-me deles, aquilo que antes me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo» (Test 1-3: FF 110). Esse testemunho mostra a força transformadora da caridade e o estilo de vida dos cristãos.

Não pensemos nos pobres apenas como destinatários duma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos

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ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz. Essas experiências, embora válidas e úteis a fim de sensibilizar para as necessidades de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a sua causa, deveriam abrir a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida. Na verdade, a oração, o caminho do discipulado e a conversão encontram, na caridade que se torna partilha, a prova da sua autenticidade evangélica. E deste modo de viver derivam alegria e serenidade de espírito, porque se toca palpavelmente a carne de Cristo. Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na Eucaristia. O Corpo de Cristo, repartido na sagrada liturgia, deixa-se encontrar pela caridade partilhada no rosto e na pessoa dos irmãos e irmãs mais frágeis. Continuam a ressoar de grande atualidade estas palavras do santo bispo Crisóstomo: «Queres honrar o corpo de Cristo?

Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no tempo com vestes de seda, enquanto

lá fora O abandonas ao frio e à nudez» (Hom. in Matthaeum, 50, 3: p.58).

Portanto, somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma.

4. Não esqueçamos que, para os discípulos de Cristo, a pobreza é, antes de tudo, uma vocação a seguir Jesus pobre. É um caminhar atrás d’Ele e com Ele: um caminho que conduz à bem-aventurança do Reino dos céus (cf. Mt 5, 3; Lc 6, 20). Pobreza significa um coração humilde, que sabe acolher a sua condição de criatura limitada e pecadora, vencendo a tentação de omnipotência que cria em nós a ilusão de ser imortal. A pobreza é uma atitude do coração que impede de conceber como objetivo de vida e condição para a felicidade o dinheiro, a carreira e o luxo. Mais, é a pobreza que cria as condições para assumir livremente as responsabilidades pessoais e sociais, não obstante as próprias limitações, confiando na proximidade de Deus e vivendo

apoiados pela sua graça. Assim entendida, a pobreza é o metro que permite avaliar o uso correto dos bens materiais e também viver de modo não egoísta nem possessivo os laços e os afetos (Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2545).

Assumamos, pois, o exemplo de São Francisco, testemunha da pobreza genuína. Ele, precisamente por ter os olhos fixos em Cristo, soube reconhecêLo e servi-Lo nos pobres. Por conseguinte, se desejamos dar o nosso contributo eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização. Ao mesmo tempo recordo, aos pobres que vivem nas nossas cidades e nas nossas comunidades, para não perderem o sentido da pobreza evangélica que trazem impresso na sua vida.

5. Sabemos a grande dificuldade que há, no mundo contemporâneo, para se poder identificar claramente a pobreza. E, todavia, esta interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos vincados pelo sofrimento, a marginalização, a opressão, a violência, as torturas e a prisão, pela guerra, a privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e o analfabetismo, pela Revista Santa Cruz -

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emergência sanitária e a falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e a escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!

Infelizmente, nos nossos dias, enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a exploração ofensiva da dignidade humana, causa escândalo a extensão da pobreza a grandes setores da sociedade no mundo inteiro. Perante esse cenário, não se pode permanecer inerte e, menos ainda, resignado. À pobreza que inibe o espírito de iniciativa de tantos jovens, impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza que anestesia o sentido de responsabilidade, induzindo a preferir a abdicação e a busca de favoritismos, à pobreza que envenena os poços da participação e restringe os espaços do profissionalismo,

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humilhando assim o mérito de quem trabalha e produz: a tudo isso é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade.

Todos estes pobres – como gostava de dizer o Beato Paulo VI – pertencem à Igreja por «direito evangélico» (Discurso de abertura na II Sessão do Concílio Ecumênico Vaticano II, 29/IX/1963) e obrigam à opção fundamental por eles. Por isso, benditas as mãos que se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos que superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade.

Benditas as mãos que se abrem sem pedir nada em troca, sem «se» nem «mas», nem «talvez»: são mãos que fazem descer sobre os irmãos a bênção de Deus.

6. No termo do Jubileu da Misericórdia, quis oferecer à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carenciados. Quero que, aos outros Dias Mundiais instituídos pelos meus Antecessores e sendo já tradição na vida das nossas comunidades, se acrescente este, que completa o conjunto

de tais Dias com um elemento requintadamente evangélico, isto é, a predileção de Jesus pelos pobres.

Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade.

São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai celeste.

Este Dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão.

7. Desejo que, na semana anterior ao Dia Mundial dos Pobres – que este ano será no dia 19 de novembro, XXXIII domingo do Tempo Comum –, as comunidades cristãs se empenhem na criação de muitos momentos de encontro e

amizade, de solidariedade e ajuda concreta. Poderão ainda convidar os pobres e os voluntários para participarem, juntos, na Eucaristia deste domingo, de modo que, no domingo seguinte, a celebração da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo resulte ainda mais autêntica.

Na verdade, a realeza de Cristo aparece em todo o seu significado precisamente no Gólgota, quando o Inocente, pregado na cruz, pobre, nu e privado de tudo, encarna e revela a plenitude do amor de Deus. O seu completo abandono ao Pai, ao mesmo tempo que exprime a sua pobreza total, torna evidente a força deste Amor, que O ressuscita para uma vida nova no dia de Páscoa.

Neste domingo, se viverem no nosso bairro pobres que buscam proteção e ajuda, aproximemo-nos deles: será um momento propício para encontrar o Deus que buscamos. Como ensina a Sagrada Escritura (Cf. Gn 18, 3-5; Heb 13, 2), acolhamo-los como hóspedes privilegiados à nossa mesa; poderão ser mestres, que nos ajudam a viver de maneira mais coerente a fé. Com a sua confiança e a disponibilidade para aceitar ajuda, mostram-nos, de forma sóbria e muitas vezes feliz, como é decisivo vivermos do Revista Santa Cruz -

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essencial e abandonarmo-nos à providência do Pai. 8. Na base das múltiplas iniciativas concretas que se poderão realizar neste Dia, esteja sempre a oração.

Não esqueçamos que o Pai-Nosso é a oração dos pobres. De fato, o pedido do pão exprime o abandono a Deus nas necessidades primárias da nossa vida. Tudo o que Jesus nos ensinou com esta oração exprime e recolhe o grito de quem sofre pela precariedade da existência e a falta do necessário.

Aos discípulos que Lhe pediam para os ensinar a rezar, Jesus respondeu com as palavras dos pobres que se dirigem ao único Pai, em quem todos se reconhecem como irmãos. O Pai Nosso é uma oração que se exprime no plural: o pão que se pede é «nosso», e isto implica partilha, comparticipação e responsabilidade comum. Nesta oração, todos reconhecemos a exigência de superar qualquer forma de egoísmo, para termos acesso à alegria do acolhimento recíproco.

9. Aos irmãos bispos, aos sacerdotes, aos diáconos – que, por vocação, têm a missão de apoiar os pobres –, às pessoas consagradas, às associações, aos movimentos e ao vasto mundo do voluntariado, peço que se comprometam para que, com este Dia Mundial dos

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Pobres, se instaure uma tradição que seja contribuição concreta para a evangelização no mundo contemporâneo.

Que este novo Dia Mundial se torne, pois, um forte apelo à nossa consciência crente, para ficarmos cada vez mais convictos de que partilhar com os pobres permite-nos compreender o Evangelho na sua verdade mais profunda.

Os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho.

Vaticano, Memória de Santo Antônio de Lisboa, 13 de junho de 2017.

Franciscus

III. VIDA DA ORDEM

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A FRATERNIDADE OFM EM CIFRAS (ANO DE 2016) Ordo Fratrum Minorum Os Frades Menores, em 31 de dezembro de 2016, eram 13.302.

Alguns detalhes: • Postulantes: 608 (não entram no cálculo); •

Noviços: 385;

• Professos temporais: 1.496 (Fratres cum optione clericali: 1.129; Fratres seno optione clericali: 150; Fratres seno optione: 217); • Professos solenes: 11.300 (Sac: 8.977; Diac Perm.: 62; frades em opções clericais 410; frades leigos: 1.851).

• Nossos irmãos cardeais (4) e Arcebispos / Bispos (117) são 121.

• Os frades que morreram durante este ano foram 303.

Os Frades Menores, presentes em 119 países, estão assim distribuídos: África e Oriente Médio: 1.234; América Latina: 3.257; América do Norte: 1.194; Ásia-Oceania: 1.487; Europa

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Ocidental: 3.712; Europa Oriental: 2.418.

A fraternidade universal está estruturada em 93 províncias e 8 Custódias Autônomas; 8 Entidades dependentes do Ministro Geral; 19 Custódias dependentes das Províncias; 14 Conferências de Ministros provinciais e 3 Uniões de Conferências (Ásia / Oceania: FCAO; América Latina: UCLAF; Europa: UFME).

“Os números não são o elemento mais importante para avaliar a qualidade de vida. No entanto, eles não podem ser considerados "apenas como algo negativo. Frente a[esta situação] somos convidados a escavar profundamente as raízes da nossa identidade vocacional.

Precisamos rever a forma como estamos vivendo o carisma e como estamos trabalhando com os leigos, para que possamos continuar transmitindo a mensagem do Evangelho" (Fr. Michael A. Perry, Incontro ad Aleppo, 07 de abril de 2017).

ASSIS GANHA SANTUÁRIO DO DESPOJAMENTO DE SÃO FRANCISCO Rádio Vaticano “Uma nova pérola no panorama religioso de Assis”. Com estas palavras, o Papa Francisco define o novo Santuário do Despojamento, que foi inaugurado em 20 de maio.

Para a ocasião, o Pontífice enviou uma mensagem ao Bispo de Assis-Nocera-Umbra-Gualdo-Tadino, Dom Domenico Sorrentino.

A conversão como despojamento dos bens terrenos

O Papa abençoa o novo Santuário e todos os peregrinos que apoiaram, em oração, o local “onde o jovem Francisco despojou-se, até a nudez, de todos os bens terrenos, para doar-se inteiramente a Deus e aos irmãos”.

jovem convertido não pretendia faltar com o devido respeito com o seu pai, mas recordou-se – escreve o Papa – “que um batizado deve colocar o amor por Cristo acima dos afetos mais caros”.

E naquele local – recorda ainda o Papa Francisco de sua visita – o encontro com um representante de pobres, “testemunho da escandalosa realidade de um mundo ainda tão marcado pelo abismo entre o infinito número de indigentes, frequentemente despojados do mínimo necessário, e a minúscula porção de pessoas com posses, que detêm a máxima parte da riqueza e pretendem determinar os destinos da humanidade”.

A partilha contra as iniquidades da economia

A iniquidade global, a economia que mata – sublinha o Papa –

Recordando a emoção de sua primeira visita a Assis em 2013, o Papa ressalta a força evocativa do lugar em que São Francisco “se desvincula dos encantos do deus-dinheiro, que havia seduzido a sua família, em particular seu pai Pietro di Bernardone. Certamente, o Revista Santa Cruz -

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hoje como então, atingem os mais vulneráveis: os migrantes hoje, ontem os doentes de lepra. O novo Santuário em Assis – portanto – nasce como desejo de uma sociedade mais justa e solidária.

A própria Igreja – escreve o Papa – deve despojar-se da mundanidade e revestir-se dos valores do Evangelho.

Retomando as palavras pronunciadas em Assis, o Papa Francisco sublinha que “todos somos chamados a ser pobres, a despojarmo-nos de nós mesmos; e para isto, devemos aprender a estar com os pobres, compartilhar com quem é privado do necessário, tocar a carne de Cristo! O cristão não é alguém que se enche a boca com os pobres, não! É alguém que os encontra, olha em seus olhos, os toca”.

E, diante do fenômeno do afastamento da fé – sublinha – somos chamados a uma nova evangelização, que se baseie não tanto na força das palavras, mas no “fascínio do testemunho sustentado pela graça”.

O despojamento, mistério de amor São Francisco, portanto, fez da pobreza o sinal mais evidente de penitência, de renovação e – recorda o Papa – da inspiração em

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Cristo, que é “o modelo original do despojamento”.

Jesus assume uma condição de servo, tornando-se igual aos homens, fazendo-se obediente até a morte de Cruz.

A Onipotência, de qualquer maneira, se oculta, para que a glória do Verbo feito carne se expresse sobretudo no amor e na misericórdia.

O despojamento é portanto – conclui Francisco – “um mistério de amor!”, mas despojamento – é a sua ressalva – não é desprezo pelo mundo, mas fruição sóbria e solidária das coisas materiais: é amor, não egoísmo. E esta é na prática a alegria evangélica do caminho cristão, que pode encontrar caminhos de saída à tristeza individualista de nosso mundo.

Na conclusão da carta, um aceno à sociedade do amanhã: os jovens.

Eles – escreve o Papa – devem ser acompanhados pela luz destes valores.

Que novo Santuário do Despojamento – são os votos do Papa – seja um lugar de encontro entre jovens e adultos: uma família ideal, onde os jovens sejam ajudados no discernimento de sua vocação.

CUSTÓDIA PREPARA FESTEJOS DOS 800 ANOS NA TERRA SANTA Ordo Fratrum Minorum Jerusalém – Os 800 anos da presença franciscana na Terra Santa (1217 – 2017) serão celebrados com diversas iniciativas, sendo o ápice das celebrações no mês de outubro.

O logotipo das comemorações traz o célebre ícone de São Francisco chegando de barco em Acre (norte de Israel), a Cruz da Custódia e o número “800” em destaque.

Também foram criados banners alusivos em diversas línguas que enfatizam a importância da recorrência. Segundo explicou o Frei Narcyz Klimas, arquivista da Custódia e Presidente do Comitê organizativo, eles serão enviados “a todos os Comissariados da Terra Santa e a todos os Conventos no Líbano, Síria,

Jordânia, Egito, Rodes, Chipre, Washington, Itália e Espanha”.

“Desde o início do ano já se pensava em como celebrar este importante aniversário”, revelou o religioso, explicando que mesmo as pessoas começavam a perguntar a respeito e a interessar-se.

Peregrinação a Acre Uma das tantas iniciativas previstas para o período será a peregrinação a Acre, como contou Frei Narcyz Klimas: “Queríamos iniciar em 14 de maio – data do Capítulo de Pentecostes em que foram criadas as primeiras Províncias franciscanas, entre as quais, a da Terra Santa – mas depois decidiu-se inaugurar as celebrações com uma peregrinação-excursão em outra data”.

Assim, em 11 de junho, um ônibus com frades partiu para Acre, onde na parte da manhã o Padre Custódio presidirá uma celebra-ção. Após o almoço, os

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religiosos fizeram uma breve visita guiada aos bairros de Acco, onde encontram-se os primeiros alojamentos dos frades chegados à Terra Santa. Um concerto no final da tarde concluiu o dia.

Celebrações em outubro O mês de outubro terá três dias especiais dedicados à conferências e concertos, na presença do Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, Cardeal Leonardo Sandri, do Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores; Frei Michael Perry, do Vigário Geral da Ordem; Frei Julio César Bunader e personalidades do mundo universitário e religioso.

No dia 16, uma conferência na parte da manhã será dedicada às organizações e instituições que apoiam as múltiplas atividades da Custódia. Na parte da tarde, o Padre Geral da Ordem abrirá as celebrações do aniversário. Já no dia 17, o Cardeal Leonardo Sandri presidirá a Santa Missa, seguida por uma conferência no Salão da Imaculada sobre o tema “O papel dos franciscanos na Terra Santa”.

Seguirão outras conferências, entre as quais, uma dedicada à chegada dos primeiros frades em Acre, uma sobre “Acre Cruzada” e outra sobre vestígios franciscanos

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encontrados no primeiro convento no Monte Sião.

No terceiro dia – quarta-feira, 18 de outubro – o tema do encontro será o significado dos afrescos na Basílica Superior de São Francisco de Assis, seguido por um breve pronunciamento sobre os primeiros Conventos Franciscanos no Oriente Médio.

No encerramento, à tarde, está prevista uma missa com o Vigário Geral da Ordem, seguida por um Concerto preparado pelo Instituto Musical da Custódia Magnificat.

Mas as iniciativas não param por aí. O organista húngaro Robert Kovács, da Wiener Philarmoniker, será o protagonista de diversos concertos em igrejas e basílicas de Tel Aviv-Jaffa, Nazaré, Jerusalém e Belém.

Mídia Frei Narcyz também ressaltou que com o “Christian Media Center – órgão de comunicação da Custódia dedicado ao vídeo e à TV – estamos procurando realizar um documentário acompanhado por imagens de ficção, para que se construa uma narrativa diferente a partir de lugares símbolos: o Santo Sepulcro, Acre e o Cenáculo”.

Também as revistas da Custódia impressas em seis línguas cobrirão

a recorrência com uma edição especial ou com aprofundamentos que serão publicados de maneira continuada ao longo de todo o ano.

O Comitê organizativo assim, com

suas iniciativas, pretende envolver universidades, santuários, escolas, paróquias e revistas nos festejos do oitavo centenário dos franciscanos na Terra Santa.

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MASTER EM EVANGELIZAÇÃO INTERPELAÇÕES E PERSPECTIVAS Frei Francisco do Carmo de Carvalho, OFM Quando ouvimos falar em Master, em nossas casas, ficamos pensativos e imaginando do que se trata. Surgem indagações, nem sempre muito bem esclarecidas a respeito, baseadas, muitas vezes, no achismo.

A terminologia Master tem sua origem nas artes, especialmente no campo da música. A ideia primeira era que os alunos tivessem oportunidade de ter aula com músicos renomados. E, quando foi inventado? Na música, é originário do século XIX. Em aulas de graduação, existe há pouco mais de uma década.

Pois bem, hoje, o Master é um termo técnico, para indicar aulas ministradas por doutores e mestres em conhecimento.

Situa-se como um degrau anterior ao mestrado. Em nosso caso específico, o Master está situado na área da teologia, em todas as suas ramificações. Constitui-se em aulas proativas, baseadas em projetos concebidos pelos alunos, para que dominem e construam conhecimentos aprofundados e

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fundamentais na área. Em nosso caso, a área específica está voltada para a escuta de Interpelação e a construção de Perspectivas Evangelizadoras. É uma proposta apoiada pela Ordem dos Frades Menores e assumida pelos Provinciais e Custódios da América Latina e do Caribe. Sua implementação prática está confiada à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, através do renomado ITF (Instituto Teológico Franciscano) de Petrópolis – RJ. A este Instituto cabe elaborar e repassar aos demais confrades, a outros religiosos e a quem se interessar, particularmente da Família franciscana, a articulação das Interpelações e das Perspectivas de Evangelização, hoje, auxiliando-se das ciências bíblica, teológica, eclesial, sociológica e pastoral.

A duração do Master em Evangelização pode variar de acordo com a instituição. Para nós, de comum acordo entre os Provinciais e Custódios, o período ficou determinado em oito meses.

Nesse curto espaço de tempo (de meados de março para cá), tivemos oportunidade de construir uma metodologia ou uma ferramenta de trabalho, com consciência crítica, diretamente com grandes

nomes de referência nacional e internacional, reinterpretando paradigmas teológicos, bíblicos, pastorais, eclesiais e antropológicos. Trata-se, sobretudo, de quebrar alguns paradigmas nem sempre condizentes, que foram sendo construídos ao longo da caminhada evangelizadora da Igreja, nesses últimos tempos de sua história, mas também de reafirmar a alguns e reedificar outros.

E, com base no contexto histórico em que nos encontramos e a partir de novas luzes de conhecimento bem fundamentadas, busca-se construir novas perspectivas.

Por exemplo, em antropologia franciscana, vemos que Francisco de Assis, em sua época, destacou-se como um homem bem à frente de seu tempo; ele, em sintonia com a Igreja e tendo ouvido de Cristo, na cruz de são Damião, “Francisco, vai e reconstrua a minha casa, que, como vês, está em ruínas”, toma esse chamado ao pé da letra e, desde então, põe mãos à obra. Mas, percebendo que Deus esperava muito mais da parte dele, parte em missão, e vai ter com o Sultão, chefe político do Islã. Quando a Igreja, através das cruzadas, procurava combater o Islamismo, Francisco vai ter com

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o Sultão, que o recebe e que teria marcado de forma muito profunda e determinante a vida e a espiritualidade de Francisco de Assis.

Enfim, outros paradigmas são avaliados, alguns relacionados à Conjuntura Eclesial, hoje, com acento na ótica latino-americana.

Podemos lançar um olhar para a caminhada histórica da Igreja, perpassando os Concílios e as Conferências que foram levando luzes nas diversas etapas da história evangelizadora da Igreja, no seguimento de Jesus Cristo, e reforçando sua opção preferencial pelos pobres, como missionária, mãe e mestra. Nos dias atuais,

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com nosso pastor Papa Francisco, que convoca a Igreja a ser menos dualista, para ser uma Igreja em saída, e que também procura lançar um olhar misericordioso para a família e a adotar atitudes de consciência ecológica de preservação e cuidado com a criação em todos os aspectos.

Estamos apenas a três meses de caminhada de estudo e aprofundamento. Ainda temos muito que beber nessa fonte. A caminhada vai se fazendo a cada dia, com novas interpelações e perspectivas que vão sendo construídas e lapidadas, nessa estrada.

IV. VIDA DA PROVÍNCIA

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Notícias MISSÃO BAIXO RIO BRANCO EM RORAIMA Frei Renieverton Telles de Oliveira, OFM Entre os dias 23 de maio e 18 de junho aconteceu a Missão do Baixo Rio Branco em Roraima. Neste ano, a missão contou com oito missionários: padre Lúcio (páro-

co de Caracaraí e responsável pela missão), Andrielle, Álvaro e Rafael (Caracaraí), Alexia e Jamile (Iracema) frei Renieverton e frei Malone (Boa Vista).

Nesses vinte e sete dias de missão, visitamos nove comunidades: Santa Maria do Boiaçu, Santa Maria Velha, Sacaí, Canauini, Lago Grande, Terra Preta, Cachoeirinha, Caícubi e Cravoeiro (única comunidade do trajeto que está no estado do Amazonas).

Foram dias intensos de visitas às famílias e formação para o sacramento do Batismo. Muitos foram os desafios, desde a viagem de barco, que neste ano durou três dias para chegar à primeira comunidade, até o grande número de pessoas que deixaram o Catolicismo pela falta de uma presença religiosa – essas comunidades

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têm celebração Eucarística e os demais Sacramentos uma vez no ano. Uma moradora de uma das comunidades nos afirmou: “eu sou católica e sinto a necessidade de ouvir a Palavra, a única opção que temos é a igreja evangélica, porque elas estão presentes em todas as comunidades e cada uma com seu pastor...”

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Contudo, muitos ribeirinhos mantêm a sua fé viva através das orações e devoções populares. E entre os desafios, ao longo da viagem em meio à grande Amazônia, encontramos um povo forte, que conserva sua cultura, que cuida e preserva da natureza, vivendo em perfeita harmonia: ribeirinhos e povos indígenas.

Encerramos essa experiĂŞncia com uma nova MissĂŁo agendada para outubro e uma Carta relatando a necessidade de um padre para residir nessa regiĂŁo.

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ENCONTRO DA FAIXA ETÁRIA II Frei Joaquim Fonseca, OFM Nos dias 17 a 20 de abril de 2017, aconteceu mais um encontro da faixa etária II, na “Arca de Noé”, em Guarapari. Presentes, os seguintes confrades: Dario Campos, Moisés Bastos, Mário Rodrigues, João José de Jesus, Pedro José de Assis, Paulo Afonso Aguiar, Francisco Carvalho, Antônio Teófilo, Jacir de Freitas e Joaquim Fonseca. A coordenação do encontro ficou

por conta de Jacir de Freitas e Joaquim Fonseca. No penúltimo dia, contamos com a presença do Moderador da Formação Permanente, fr. Jaime Eduardo.

O encontro aconteceu nos moldes dos anteriores: oração, partilha, convivência e lazer. Como sempre, a partilha da vida foi seu núcleo gerador e inspirador: À luz das alegrias pascais que se prolongam na oitava da Páscoa, cada um pôde partilhar o que viveu no ano que passou, tanto em nível de experiência na comunidade religiosa, quanto na vida eclesial.

Houve um saudável exercício de escuta. Buscou-se, acima de tudo,

Encontro da Faixa Etária II

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acolher, na gratuidade, o que brotava do coração de cada um.

Na avaliação, feita no último momento do encontro, ressaltaram-se como pontos positivos, os momentos de oração, as boas condições da casa (sobretudo após a reforma), o ambiente fraterno, a abertura para a escuta e a liberdade de expressão. Algumas questões ficaram em aberto, como: a) Desafios emergentes, tanto na vida fraterna, como na ação evangelizadora; b) Melhor investimento na formação dos leigos; c) Melhora nas relações entre párocos e vigários, uma vez que ainda predomina o esquema piramidal e a ausência do espírito de colegialidade. Por fim, o grupo avaliou como positivo o esforço do governo provincial de marcar presença junto às fraternidades, especialmente aquelas que enfrentam dificuldades nas relações fraternas.

O próximo encontro ficou agendado para os dias 2 a 6 de abril de 2018 (oitava da Páscoa), na mesma casa, em Guarapari. Os freis Paulo Afonso e João José de Jesus ficaram incumbidos da coordenação desse futuro encontro.

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COMPOSTELA Frei Geraldo Luciano Claret Chaves, OFM

Ser Peregrino (Beatriz de Abreu) É acreditar na realização dos sonhos...

Encontrar os limites... e superá-los, Dar um passo de cada vez...

Valorizar o que se tem, Ter o essencial e ser feliz com isso...

Adorar os amigos! Principalmente se forem peregrinos...

Amar as estrelas...

Sair mesmo que chova torrencialmente...

Dormir em qualquer lugar e achar ótimo...

Comer o que está na mesa sem reclamar...

Ver a natureza com outros olhos...

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Viver cada dia com alegria e prazer, Ter a certeza que o pior sempre passa...

Acreditar que depois de uma montanha... tem outra montanha...

Dormir mesmo ouvindo roncos, graves e moderados...

Não se importar de tomar banho frio... ou até gelado... (mesmo no inverno, hehehe) Ter a certeza de que a vida é mais colorida...

Não saber por que fez o caminho...

Ter a certeza de que vai fazer outra vez.

Tomei conhecimento do Caminho de Santiago em 1993, através de nosso guardião Frei João Bosco Resende.

Era meu noviciado.

Nessa experiência do noviciado, enriquecida pelas leituras espirituais, cito o Peregrino Russo, daí, comecei a sonhar em trilhar os caminhos de Santiago de Compostela. No decorrer de minha caminhada franciscana perdi a companhia de outros confrades e amigos que também sonhavam em peregrinar. No entanto, a vida, a vida franciscana se encarregou de colocar em meu caminho outros amigos e irmãos.

Assim, convivendo com Frei José Aguinaldo Querobino ganhei um irmão que também sonhava em ser peregrino nos caminhos de Santiago.

Após o Capítulo Provincial em 2016, solicitamos ao governo provincial autorização para fazermos a peregrinação. Fomos então regalados com tal graça.

Queremos aqui manifestar nossa gratidão a Deus por nos ter concedido forças para caminhar até o fim, agradecer à Província Santa Cruz e, eu, de modo especial, aos confrades de minha fraternidade em Santos Dumont que prontamente assumiram minha responsabilidade na casa Revista Santa Cruz -

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junto aos formandos. Caminhou conosco a Edna, uma paroquiana de Santa Isabel e irmã da Ordem Franciscana Secular, fraternidade Ir. Hilda Morateli.

Propomo-nos a fazer o caminho antigo, ou seja, o “Caminho Francês”, totalizando 799 km.

Esse caminho tem seu início na cidade francesa de Saint Jean Pied de Port. Na sequência, citarei todos os lugares onde passamos e/ou nos hospedamos: Orisson, Roncesvales (a partir daqui já em território espanhol), Zubiri, Pamplona, Puente La Reina, Navarra, Estella, Los Arcos, Logroño, Nájera, Santo Domingo de La Calzada, Belorado, San Juan de Ortega, Burgos, Castrojeriz, Frómista, Carrion de Los condes, Terradillos de Los Templários,

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Bercianos de Los Caminos, Mansillas de Las Mulas, León, Villadangos del Paramo, Astorga, Rabanal del Camino, Molinaseca, Ponferrada, Villa Franca Del Bierzo, O’Cebreiro, Triacastela, Sarria, Portomarin, Palas Del Rei, Ribadiso, Pedrouzo e Santiago de compostela. Chegamos a Santiago por volta de 12h00min horas do dia 06 de maio. Freis Aguinaldo e Edna participaram da missa das 12h00min, na Catedral.

Eu e mais dois peregrinos italianos participamos às 19h.

Em Santiago, fomos ao local onde apresentamos a credencial devidamente carimbada, atestando que realmente fizemos todo o percurso caminhando a pé. Nesse local, recebemos a Compostelana, documento oficial da Igreja, atestando que fizemos a peregrinação.

Tivemos também oportunidade de chegar, de ônibus, até Finesterre, seria o local onde termina o continente, antigamente acreditavam que ali seria o fim da terra, que teria somente o oceano Atlântico. Um local muito bonito e com uma energia boa.

O início da peregrinação em território francês foi marcado por belas paisagens onde as plantas, muitas podadas, começavam a soltar os viçosos brotos. Muitas flores bonitas, porém sempre muito frio. Marcante foi a subida dos Pirineus, tanto pela beleza da paisagem quanto pela dureza da subida. Em Orisson, primeiro albergue onde nos hospedamos, foi onde pudemos descansar apreciar a belíssima paisagem no alto do monte e, assim, recobrar as energias para, no outro dia, seguir em frente, sempre subindo os Pirineus. Cada vez mais alto, com muito vento e frio. Chegamos a encontrar resquícios da neve do inverno. Em Roncesvales, primeira cidade em território espanhol, conhecemos Diego, um jovem de Teixeira de Freitas, da Ordem Franciscana Secular. Outro desafio foi à saída de Roncesvales, experimentamos peregrinar sob uma chuva fria, mas leve.

Assim foi nosso peregrinar: apreciando belas paisagens e pueblos, conhecendo pessoas de vários países, sofrendo as dores que o caminhar nos impõe. Ora com companheiros, ora na solidão, assim cada um foi rompendo pelos caminhos.

Cada passo, cada sensação de dor vinha acompanhada de

muita reflexão. Revisão de vida, valorização de todas as benesses que fazem parte de nossa vida, valorização da presença amiga e fraterna dos demais peregrinos.

Lembrança das pessoas queridas, muitas pediram nossas orações durante a caminhada, assim, em cada passo, às vezes sofrido e doído, o sentimento de cansaço se transformava em oração.

Peregrinar e carregar a mochila nas costas faz-nos repensar no quanto somos apegados a coisas desnecessárias. Nesse sentido, o caminhar nos propõe conversão, nos propõe sermos mais simples e franciscanos. Não posso deixar de citar algumas pessoas que Revista Santa Cruz -

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se tornaram amigas e irmãs em nosso peregrinar. Encontramos e caminhamos muito juntos com Claudir e Marisa, ambos gaúchos.

Marisa, uma presença pacífica e harmoniosa, foi um anjo de mãos abençoadas, sempre com suas massagens e ajustes posturais nos colocando prontos para o dia seguinte. Encontramos o Maurício,

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de São Paulo, fez o percurso de bicicleta. Diego, de Teixeira de Freitas, Solange e Beth, ambas de São Paulo, Rodrigo, de Belo Horizonte, Cézar, carioca e mora em Porto Alegre. Sandra, uma alagoana que vive na Europa.

Conhecemos muitos italianos, dentre eles destaco Luigi e Girolamo, ambos napolitanos, apesar de termos nos conhecido no caminho, faltando apenas quatro dias para chegarmos a Santiago, firmamos uma fraterna amizade. Desde então, caminhamos e concluímos o caminho juntos. Cito também o Ramiro, um argentino que conhecemos no último dia de caminhada, mas que também se entrosou conosco. Conversando, descobrimos que sua avó é de Minas Gerais.

Outro trecho marcante da peregrinação foi entre Villafranca Del Bierzo e O’Cebreiro. Longa caminhada em retas intermináveis e árduas subidas até o alto do O’Cebreiro que fica a uns 1.350 metros de altitude. Apesar da dureza da subida e do frio, fomos agraciados com belas paisagens. Destaco a descida de O’Cebreiro. Amanheceu chovendo e, no decorrer da descida, passou a nevar. Inicialmente bem leve e depois com mais intensidade.

Para mim foi um grande desafio e sofrimento, pois estava de sandálias. Essa neve não estava prevista e minha bota estava numa outra bolsa que já havia sido despachada até Triacastela, próxima cidade depois de O’Cebreiro. Mesmo assim, consegui

caminhar sete quilômetros até um Pueblo onde paramos e tomamos algo quente. Depois na hora de retomar a caminhada não tive condições físicas, meus pés estavam congelando e doíam muito. Desci os vinte e um quilômetros restantes de táxi e aguardei Edna e Frei Aguinaldo em Triacastela. Meus companheiros de peregrinação foram guerreiros e venceram as dificuldades impostas pela nevasca. “Gelos e neves, bendizei o Senhor.”

Os sentimentos e motivações de peregrinar são muito subjetivos. Impossível descrever tal experiência em sua totalidade.

Digo apenas que valeu muito a pena, aos poucos, com certeza, colheremos os frutos de tal empreendimento.

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FREI PRICK CELEBRA 99 ANOS DE VIDA Equipe Provincial de Comunicação No dia 05, de maio, Frei Francisco Prick comemorou seus 99 anos de vida. Ele nasceu em Maastricht, na Holanda, no ano de 1918.

Apesar de o aniversário ser no dia 5, a data escolhida para celebrar a jovialidade do quase centenário Frei Prick foi a quarta-feira, 3 de maio. Os confrades, amigos e colaboradores da Província Santa Cruz se reuniram para um almoço festivo no Guardianato São Francisco das Chagas.

Não faltou alegria na festança: no bolo de aniversário e na ação de

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graças, os confrades lembraram a jovialidade do nosso irmão, expressada no painel de fotos feito especialmente para essa ocasião.

Frei Prick ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Menores no ano de 1937. Sua profissão temporária ocorreu em oito de setembro de 1938. Três anos depois professou solenemente na Ordem dos Frades Menores.

Ordenou-se presbítero da Igreja no dia 19 de março de 1944. Veio para o Brasil como missionário e ajudou em diversos trabalhos na Província Santa Cruz.

Ao nosso confrade, desejamos muitas felicidades! Que sua vida, em nosso meio, seja a cada dia sinal da bênção de Deus!

EDUCAFRO EM DIVINÓPOLIS Centro Franciscano de Formação e Cultura

Na noite de 7 de abril de 2017 foi dado o pontapé inicial para a concretização do Projeto EDUCAFRO em Divinópolis, mais precisamente no Centro Franciscano de Formação e Cultura.

Coordenou os trabalhos desta noite Frei Humberto Leite, coordenador do Projeto e membro do Centro Franciscano de Defesa de Direitos Humanos da Província Santa Cruz, com sede em BH. Estiveram presentes, nesta primeira fase, os voluntários inte-

ressados em atuar como professores, a saber: Camila Braga - História Eli Geraldo - Física; Elisa Biologia; Luzia Fonseca - Português; Rohorez Faria - Química; Sueli Tatiane - Química; Daniel Resende - Redação; Bráulio Santos - História/ Direito; Luiz Fernando CFFC; Frei Laércio Jorge – CFFC. Todos os professores ficaram de pensar sua disponibilidade de hora/dia de aulas. A pauta da noite girou em torno da apresentação do Projeto EDUCAFRO e uma reflexão sobre a educação hoje, suas lacunas e seus novos rumos. Também se falou da prévia de uma Equipe de Coordenação, Divulgação, Inscrição e método de sondagem.

A implementação do projeto está marcada para iniciar em maio, no mais tardar em junho 2017.

Frei Humberto terminou a reunião apresentando a Agenda Comum da EDUCAFRO. Agradecemos a todos de coração e sigamos na luta pela transformação de consciências. Terminamos saboreando um café tipicamente franciscano.

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FESTA DE SANTO ANTÔNIO E ACOLITADO DE FREI ROBÉRIO EM SALINAS Paróquia Santo Antônio As comemorações da festa do Padroeiro Santo Antônio de Salinas aconteceram nos dias 31 de maio a 17 de junho de 2017.

As celebrações litúrgicas da Eucaristia e da Trezena em honra a Santo Antônio reuniram centenas de devotos, que expressaram com muita alegria a fé dos paroquianos.

A trezena se iniciou no dia 31 de maio e teve como tema geral: Como Santo Antônio, busquemos "cultivar e guardar a criação" sob o olhar da Virgem Maria.

Durante a festa, houve grande participação e colaboração das instituições públicas, organizações civis, do conselho paroquial, das comunidades urbanas e rurais, setores, pastorais e movimentos da paróquia.

No dia 1o de junho, no 2o dia da trezena, Frei Robério Antunes

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recebeu o Acolitato, sob a presidência do Ministro Provincial Frei Hilton. Etapa importante de formação e compromisso para o futuro ministério diaconal.

As celebrações foram realizadas com muita devoção. Logo após as celebrações, iniciava-se a festa na praça da matriz, com barraquinhas e leilões e muita animação.

No dia 13, dia do padroeiro, missa solene seguida de procissão com a imagem de Santo Antônio, bênção e partilha dos pães de Santo Antônio com todos os féis e visitantes. A celebração foi presidida pelo pároco Frei José Silva e concelebrada pela fraternidade franciscana de Salinas, Frei Hugo, Frei Pedro, Frei Robério e Pelo Padre Célio. Frei José Silva agradeceu a presença e colaboração de todos os fiéis.

EM BELO HORIZONTE (MG) O PRIMEIRO SEMINÁRIO DO JPIC CRB Nacional Aconteceu na Regional CRB, Belo Horizonte - Minas Gerais, o Primeiro Seminário do JPIC, com o Tema: Construir “o Bem Viver”: A Justiça de Deus – Cultivar e guardar a criação (Gn 2.15).

Esse evento contou com a presença de representantes dos quatro estados da região Sudeste, num total de 35 pessoas.

O seminário foi aberto com uma Análise de Conjuntura conduzida pelo Sr. Frederico, coordenador

do Vicariato para a Ação Social da Arquidiocese de Belo Horizonte e com a valiosa e sábia assessoria de Moema Miranda que desenvolveu o tema acima descrito.

Dentre as atividades desenvolvidas foram realizadas seis oficinas que abordaram os temas: Feminicídio, Povo em situação de rua, Povos Indígenas, Saúde e educação, juventudes em defesa da vida e Mariana: Atingidos por Barragens.

Os trabalhos nas oficinas foram antecedidos por uma mesa redonda, onde as pessoas convidadas apresentaram os temas das oficinas e os conteúdos que seriam trabalhados. O segundo dia do se-minário foi encerrado com uma bela celebração Ecumênica,

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que contou com a participação do Reverendo Bernardino, presidente do CONIC, da Igreja Presbiteriana, que presidiu a celebração, juntamente com o Fr. Wilson Simão, OFM, e Fr. João Xerri, OP. No terceiro e último dia, o Irmão Afonso Murad desenvolveu o tema da "Ecologia Integral", levando os participantes, através do contato direto com a natureza, as árvores, animais, terra, ar, vento, para que os mesmos tomassem, ainda mais, consciência de como todas as coisas estão interligadas.

A Comissão de Justiça e Paz e Integridade da Criação da CRB NACIONAL foi representada pelo Fr. Wilson Simão que esteve nesse primeiro seminário da região Sudeste, representando a Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação da CRB Nacional.

CAPÍTULO REGIONAL ELETIVO DA ORDEM FRANCISCANA SECULAR Frei Francisco Alexandre Viana, OFM Aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de maio o capítulo regional eletivo da Ordem Franciscana Secular de Minas Gerais. O capítulo contou com a presença de Vanderley Suelio, Ministro Nacional da Ordem Franciscana Secular (OFS) e frei José Maria, OFMCap, Assistente Espiritual Nacional. No primeiro dia, houve a apresentação dos participantes do capítulo, irmãos da OFS das fraternidades de Minas Gerais. O tema do capítulo foi: “Revisitar nosso interior em vista da Missão”. Uma formação que reacenda a chama.

Frei Francisco Alexandre Viana, OFM, assistente espiritual regional, conduziu a oração da noite, enfatizando o caminho formativo próprio da OFS. No caminho acontecem desvios, assim torna-se necessário reavaliar o caminho, corrigir os desvios para voltar ao bom caminho. Na caminhada não estamos sós, ora conduzimos os irmãos, ora somos conduzidos.

Nos erros que acontecem durante

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a caminhada precisamos pedir perdão e ser perdoados. Nunca devemos perder de vista o caminho e a meta, ou seja, o encontro pessoal com o Senhor.

No sábado, dia 27, iniciamos nosso dia com a celebração da Eucaristia. Na mesma manhã, houve a apresentação do relatório da ministra regional, dos assistentes espirituais, financeiro e da JUFRA. Ainda na parte da manhã foi apresentado por frei Francisco Alexandre o tema do capítulo. Enfatizou-se a necessidade de se revisitar sempre o projeto de formação e

demais documentos relativos à formação própria da OFS, tanto pessoal como comunitária. Tudo em vista de apresentar o carisma franciscano nas realidades nas quais estão inseridos.

Na parte da tarde do mesmo dia, aconteceu o capítulo eletivo.

Para ministra foi escolhida Zélia Castilho (Belo Horizonte); para vice-ministra foi escolhida Ana Paula (Patos de Minas); para formadora Ana Carolina (São João del-Rei); secretária Mirna (Uberaba) e tesoureiro Eugênio (Belo Horizonte). Na parte da noite, tivemos uma confraternização.

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Na manhã do domingo, dia 28, tivemos a apresentação das prioridades do capítulo. Uma delas foi a formação. Foram eleitos os coordenadores de distrito. Para o capítulo avaliativo de 2018 foi escolhida a cidade de Divinópolis.

Terminamos nossas atividades com a celebração da Eucaristia, na qual o novo governo tomou posse.

ENCONTRO DE GUARDIÃES Centro Franciscano de Formação e Cultura Mais um encontro de guardiães da nossa Província Santa Cruz aconteceu no Centro Franciscano de Formação e Cultura, em Divinópolis/MG, entre os dias 22 e 25 de maio.

Encontro de Guardiães

Com o objetivo de formação e partilha, nesta missão de "cultivar e guardar", confiada aos irmãos Guardiães. O tema, “Como lidar com os conflitos na fraternidade local”, sob a assessoria de Artur Vandre, psicólogo, orientou e ajudou a refletir sobre nossos desafios nesta missão.

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FESTA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA EM BETIM Frei Luciano Lopes, OFM Na noite de sábado, 13 de maio, a Comunidade Nossa Senhora de Fátima na Colônia Santa Isabel, em Betim, celebrou a festa da padroeira com uma grande participação de fiéis de diversas comunidades da Paróquia Santa Isabel.

A celebração eucarística foi presidida pelo pároco Frei Geraldo Machado. Antes de iniciar a missa, os fiéis fizeram uma procissão, saindo da frente da paróquia Santa Isabel até a comunidade.

Como neste ano de 2017 a Igreja celebra os 100 anos da aparição de Nossa Senhora de Fátima, na Cova da Iria (Portugal), Frei Geraldo, em sua homilia, destacou a importância de Maria, como discípula fiel a Cristo e pediu que sejamos autênticos cristãos, anunciadores da paz, da misericórdia e do amor de Deus.

No final da celebração, houve a Coroação da Virgem Maria.

Durante a novena em preparação à Festa de Nossa Senhora de Fátima, estiveram presentes, celebrando junto com a comunidade, Frei José Roberto Garcia, Frei Luciano Lopes, Frei Marco Antônio Abreu e Frei Felipe Trindade.

Que a nossa mãe Maria Santíssima interceda junto ao seu Filho Jesus Cristo trazendo paz e esperança a todos nós!

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CURSOS DE TEOLOGIA FAZEM RETIRO EM SANTOS DUMONT Frei Oton da Silva Araújo Junior, OFM Entre os dias 26 e 28 de maio, os núcleos do curso de teologia do Colégio Santo Antônio e da paróquia São Francisco das Chagas, de Carlos Prates, se uniram para o retiro anual, no seminário de Santos Dumont. Ao todo, 57 pessoas se dedicaram a meditar sobre o Ano Mariano, em comemoração aos 300 anos da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida. É a primeira vez que os dois núcleos fazem retiro juntos e ficou provada a riqueza desse contato.

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Durante o retiro, houve momentos de meditação pessoal, reflexões em grupos, caminhada, celebrações diversas e confraternização.

Os participantes foram recebidos pela fraternidade dos frades e aspirantes, que se empenharam para que tudo corresse da melhor forma possível.

O curso de teologia para leigos é oferecido pela Província Santa Cruz, dos frades franciscanos e conta com núcleos na Paróquia São Francisco das Chagas, Colégio Santo Antônio (ambos em Belo Horizonte), Convento Santa Maria dos Anjos e Paróquia Jesus Operário (em Betim), Centro Franciscano, em Divinópolis, e Paróquia São Francisco, em São João del-Rei. A experiência foi muito bem avaliada pelos dois grupos e possivelmente outras oportunidades virão.

ENCONTRO DE JOVENS EM DIVINÓPOLIS Frei José Roberto Garcia Lima, OFM Aconteceu no domingo, dia 07 de maio, um encontro com os jovens da Paróquia Santo Antônio, de Divinópolis, motivado pela Pastoral Vocacional da Paróquia, pela Pastoral Franciscana da Juventude e pela Pastoral Vocacional da Província Santa Cruz.

O encontro teve os seguintes objetivos:

realizados trabalhos em grupos para, a partir de várias perguntas inspiradas no documento, colhermos as respostas que serão enviadas a Roma, para a elaboração do Instrumentum laboris do Sínodo.

Participaram do encontro cerca de 200 jovens. Foi um dia de alegria, reflexão, oração e partilha.

A Pastoral Franciscana da Juventude e a Pastoral Vocacional estão visitando os lugares e paróquias onde nossa Província Santa Cruz tem presença, para fazer esse trabalho com os jovens.

Contamos com o apoio dos nossos confrades.

1o – Criar o Setor Juventude na Paróquia Santo Antônio, que é composto pelos grupos: Maria de Nazaré, Jufra, EAC, Kairós, Filhos de Deus, GNJ, Crisma, Acólitos, e Pastoral Vocacional.

2o – Trabalhar com os jovens o tema do Sínodo dos Bispos de 2018: Os jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional.

Sobre o tema do Sínodo, houve uma breve apresentação do documento e depois foram Revista Santa Cruz -

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ENCONTRO DE JOVENS EM JEQUITINHONHA Frei Carlos Alexandre da Silva Lima, OFM Nos dias 21, 22 e 23 de abril de 2017 aconteceu, em Jequitinhonha, o Encontro com as Juventudes da Paróquia São Miguel e Almas, com o tema: “Despertaivos! (Ef 5,14)” e lema: “Juventudes, Sociedade e Igreja”. Foi um momento rico em espiritualidade franciscana, partilhas, dinâmicas, reflexões, músicas, oficinas, rodas de conversa e diversão.

Tivemos a presença do Frei José Roberto, animador vocacional da Província Santa Cruz, que

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trabalhou sobre o Documento Preparatório da XV Assembleia Geral Ordinária dos Bispos que acontecerá em 2018. Com isso, discutimos sobre o jovem e suas diferentes visões acerca da realidade na vida social e eclesial.

Também utilizamos do espaço para fazer uma prévia de algumas questões que foram elaboradas pela Pastoral Franciscana da Juventude (PFJ), junto com a Pastoral Vocacional, com a intenção de conhecer mais de perto quem são os jovens de hoje. Foi encaminhado aos organizadores, no término do encontro, o encargo de trabalhar as questões e encaminhar as respostas para a equipe da PFJ, que irá fazer a síntese para enviar à Comissão Preparatória do Sínodo.

ENCONTRO COM LIDERANÇAS JOVENS E POSTULANTES EM SÃO JOÃO DEL-REI Frei José Roberto Garcia Lima, OFM Aconteceu no dia 1o de abril de 2017, em São João del-Rei, um encontro de formação com as lideranças juvenis da paróquia São Francisco de Assis, com o tema: Jovens, a fé o discernimento Vocacional.

No encontro foi trabalhado o documento preparatório da XV Assembleia Geral Ordinária dos Bispos que acontecerá em 2018. Apresentamos as diversas dimensões da vida juvenil. O documento está dividido em três grandes blocos: I - Os Jovens no Mundo de Hoje; II - Fé,

Discernimento e Vocação, III - Ação Pastoral.

Com o intuito de conhecer mais de perto a realidade dos jovens, nós, da equipe da Pastoral Franciscana da Juventude (PFJ), juntamente com a Pastoral Vocacional, elaboramos uma série de perguntas a serem respondidas pelos jovens sobre a realidade em que se encontram. As perguntas foram en-tregues aos representes juvenis da Paróquia São Francisco que terão o encargo de responder e encaminhar as respostas para a equipe da PFJ, que fará a filtragem e encaminhará a pesquisa para a equipe preparatória do Sínodo.

Inspirados no discípulo amado, que seguiu e que deu testemunho da ressureição do Mestre, queremos criar um caminho de discernimento vocacional que parta da realidade de cada grupo juvenil.

Paz e Bem!

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RETIRO DA FRATERNIDADE SANTA MARIA DOS ANJOS Frei Agmar Roberto Ferreira, OFM Entre os dias 15 e 18 de junho, na Comunidade de Jovens Franciscanos (Aspirantado) em Santos Dumont, aconteceu o retiro da Fraternidade Santa Maria dos Anjos. Aproveitando o feriado de Corpus Christi e o recesso das atividades acadêmicas, os frades de Betim fizeram uma pausa para refletir sobre vocação. O assessor

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do retiro foi o padre Valentim Fagundes de Meneses, religioso, Missionário do Sagrado Coração.

Logo no início, padre Valentim afirmou: “ao refletir sobre nossa vocação, se existe um sentimento que nasce espontâneo e que vai agigantando-se à medida que lançamos o olhar em profundidade, é precisamente o sentimento do assombro. Assombro que confina com o espanto por causa da ‘escolha’. Entendamo-nos bem.

Escolha da parte de Deus, e não de nossa parte”. Sua proposta foi retomar a caminhada vocacional e pensar na imagem que cada

um tem de Deus com a seguinte interrogação: A que Deus você está servindo?

No segundo dia, foi proposto o texto de Mc 3, 1-6 para se pensar nas securas da caminhada e nos possíveis ressentimentos que cada um pode estar carregando.

Com a pergunta: “temos consciência daquilo que devemos mudar?” provocou os retirantes e os convidou a armar a tenda para falar com Deus.

Por fim, foram abordados os votos: obediência (ao bem, à verdade), nada de próprio (renúncia que deve frutificar e não destruir) e castidade (abertura do coração, capacidade de amar a todos).

Padre Valentim finalizou sua fala citando o Papa Francisco que nos convida a viver com esperança e alegria, surpreendendo-nos a cada dia por Deus.

No terceiro dia, textos como I Cor 13 e Mt 19, 16ss foram utilizados para falar do Amor. O amor que, na lógica de Deus, não é simplesmente um sentimento, mas uma decisão.

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RETIRO DA FRATERNIDADE BEATO DUNS SCOTUS Frei Oton da Silva Araújo Junior, OFM Entre os dias 14 e 18 de junho, os frades da fraternidade Beato Duns Scotus realizaram seu reitor anual. O local escolhido, como no ano anterior, foi o sítio da Associação Irmão Sol, em Rio Acima. A orientação foi confiada a Frei Celso Márcio Teixeira, o

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qual, a partir da separação oficial da Ordem Franciscana entre os Observantes e Conventuais (1517), fez um itinerário a partir dos valores fundamentais da identidade franciscana, desde a vida fraterna até a evangelização dos frades, o que suscitou partilhas intensas entre os participantes do retiro.

O clima fraterno, as orações, o silêncio do lugar (sem TV e internet) propiciaram a todos um retiro muito agradável e frutífero, capaz de compensar, em muito, o frio in-tenso durante os dias.

V. MEMÓRIA

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UM OLHAR SOBRE A HISTÓRIA DO NOVICIADO DA PROVÍNCIA SANTA CRUZ – PARTE II1

de 1965 teve início o noviciado, com três noviços, sendo mestre Frei Estanislau Bartholdy2. Ele continuou à frente do noviciado até o ano de 1967.

Frei Hilton Farias de Souza, OFM

É importante pontuar que até 1966 havia na província dois noviciados

1965 - Betim – Primeira fase.

O noviciado da nossa Província funcionava em Daltro Filho, no Rio Grande do Sul. Em 1965 aconteceu a separação e a criação da Custódia de São Francisco de Assis (oficialmente criada no ano de 1966), a etapa do noviciado veio pela primeira vez para Minas Gerais. Onde instalar? A casa de Betim, que havia sido criada no passado para funcionar como um pré-seminário foi adaptada pelo Frei Gilberto Alders para iniciar o noviciado próprio da Província Santa Cruz. No dia 29 de janeiro de 1965, foi erigida canonicamente a Casa de Betim, como o segundo noviciado da Província, recebendo o nome de Santa Maria dos Anjos.

Os formandos se instalaram no novo convento no dia 05 de março, com uma eucaristia celebrada pelo Ministro Provincial Frei Erardo Veen. E no dia 24 do mesmo mês 1 Nota do Editor: O artigo será publicado em três partes. A primeira parte foi publicada na edição anterior e a terceira parte será publicada na edição posterior.

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2 Estanislau Bartholdy (Guilherme George Bartholdy). Nasceu em São Vicente de Minas, no dia 19.04.1928. Noviciado: 1o.02.1948, em Daltro Filho. Profissão Solene: 02.02.1952, Divinópolis. Ordenação Presbiteral: 22.08.1954, em Divinópolis. Falecimento: 18.05.2011, em BH e sepultado em São João del-Rei. É difícil falar de pessoas que nos marcaram profundamente, mas quando se trata das que já foram, nunca é demais fazer como diz o livro do Eclesiástico “o elogio dos nossos antepassados”. Por muitos anos, o noviciado em Visconde do Rio Branco levou a marca do nosso Estanislau Bartholdy.

Como já descrevi por ocasião do seu in memoriam, era um homem de coração franciscano e de alma beneditina. O nosso noviciado foi marcado por grandes pilares que recordo ainda hoje, como: Espiritualidade foi sempre um homem marcado pela espiritualidade, seja franciscana, como também passando por grandes nomes como Tomás Merton, ou nos levando como discípulos a mergulhar na leitura de clássicos como: A nuvem do não saber; Relatos de um peregrino Russo; Filocalia e tantos outros.

O exercício da Leitura Orante ocupava um lugar especial na nossa vida. A nossa vida litúrgica, sobretudo a eucaristia e o Ofício Divino, ocupavam a centralidade da nossa vida de noviciado.

Nas aulas de liturgia, o mestre mostrava o seu conhecimento profundo, dando os fundamentos do mistério celebrado. Creio que se pode aplicar ao nosso saudoso mestre as palavras de André Gouzes, na sua obra de liturgia – La notte luminosa. Iniziazione al mistero della Pasqua - “A liturgia não se ensina, pertence à ordem da iniciação. É necessário a amizade com um mestre, um que transmite, para descobri-la”. O seu conhecimento de psicologia, pautada pela escola do Padre Rulla, nos levava a mergulhar num amplo conteúdo na área da formação humana. Apesar de muitas críticas sofridas ao longo de seu período como formador do noviciado, por parte de alguns seguimentos da província, sempre foi fiel a esse trabalho confiado a ele e não se deixou abater.

distintos, um para os irmãos de opção clerical e outro para os irmãos de opção laical. Somente a partir de 1966 o noviciado foi unificado3.

1969 - Santos Dumont – Primeiro tempo.

Por ocasião do Capítulo Extraordinário, que aconteceu em 1968, decidiu-se que não haveria noviciado nesse ano na PSC4. O 3 A partir de 1966, buscam-se caminhos para que haja uma única etapa de noviciado, evitando o esquema anterior, fortemente arraigado nos grandes conventos, onde os frades de opção laical eram totalmente segregados; isso se dava em várias dimensões da vida fraterna como: formação diferenciada, convivência (recreio separado), espaços conventuais diferenciados, etc. Criou-se cada vez mais na Vida Religiosa um “clericalismo” acentuado em detrimento da vocação laical, como se fosse uma opção de “segunda categoria”.

4 Cf. SC, 2, 1968, p.40.

definitório provincial, reunido em Belo Horizonte, nos dias 14 e 15 de novembro de 1968, transferiu a etapa do noviciado (20.02.1969) para o Seminário Seráfico Santo Antônio, de Santos Dumont.

Frei Urbano Plentz5 foi nomeado 5 Urbano Plentz. Nasceu no dia 03.03.1931, em Estrela. Noviciado: 1o.02.1951, em Daltro Filho. Profissão Solene: 02.02.1955, em Divinópolis. Ordenação Presbiteral: 02.08.1957, em Taquari. Falecimento: 02.07.2000, em Roma.

Ao longo de sua vida como frade menor, Frei Urbano Plentz foi muito solicitado para pregar retiros para diversas Congregações femininas pelo Brasil afora. Acompanhou de perto também o Instituto Secular Pequena Família Franciscana (PFF). Era um apaixonado pela espiritualidade franciscana; apesar de ser um “autodidata” em franciscanismo, possuía um vasto conhecimento, fruto das suas inúmeras leituras e pesquisas feitas em diversas línguas. Ainda me recordo das substanciosas aulas de História da Ordem que ele ministrava no noviciado. Fundou e coordenou os famosos Cadernos Franciscanos, onde oferecia material de franciscanismo para ajudar na formação de diversos grupos franciscanos, como a OFS. Acompanhou diversos grupos ligados à FFB na experiência de Assis, para

Seminário Seráfico Santo Antônio, em Santos Dumont.

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mestre, permanecendo em Santos Dumont, de fevereiro de 1969 até janeiro de 1972. No ano de 1972, também não houve noviciado na Província. É importante ressaltar “en passant” que o ano de 1971 foi um marco importante para a nossa PSC, quando foi realizado no nosso Colégio São José, em Teófilo Otoni um Congresso de Formação6. que pudessem conhecer os lugares ligados à memória de Francisco e de Clara. Durante uma dessas experiências, veio a falecer. Era famosa a resposta dele, quando alguém lhe perguntava: como estás Frei Urbano? “Estou escandalosamente bem”.

6 Esse 1o Congresso foi realizado nos dias 1416 de dezembro de 1971. Não é objetivo desse nosso artigo aprofundar essa questão, por isso remeto para mais informações a SC, 3, 1971, p. 218-231 e SC, 1, 1972, p. 36-39. Algumas breves considerações sobre o objetivo do Congresso: viu-se a necessidade de promover um encontro para refletir sobre a Formação em nível de PSC; também avaliar a caminhada dos primeiros seis anos (desde a separação do Rio Grande do Sul), levantando os aspectos positivos e negativos, os desafios na formação. E partir para uma tentativa de reorganizar as etapas

1973 Betim – Segunda fase.

Ao final de 1972, os estudos de Filosofia e Teologia são transferidos para Petrópolis e no início de março de 1973 o noviciado retornou para o Convento de Santa Maria dos Anjos, tendo agora como mestre Frei Francisco Duarte Júnior, que também coordenava os trabalhos da formação inicial como Prefeito da formação7. Frei Francisco ficou como mestre de noviços até janeiro de 1981; no mês de de formação e sua dinâmica. Outro ponto forte foi atrair a presença e participação dos frades da Província para se unirem mais, num apoio maior, mais consciente e participativo dentro de um projeto de que “todos somos formandos e formadores”. No plano da Pastoral Vocacional, tentou-se despertar maior interesse e participação dentro da lógica de que “somos todos promotores vocacionais”. Organizar e estruturar mais as fraternidades formadoras (casas de formação). Enfatizou de novo a “liberação” de um Promotor vocacional em tempo integral. Colóquio com Frei Luciano Brod – março de 2017, em BH. 7 Cf. SC, 1, 1972, p.76.

Convento de Santa Maria dos Anjos

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fevereiro ele foi transferido; para o seu lugar foi nomeado Frei Célio de Oliveira Goulart, que permaneceu mestre de noviços no Convento Santa Maria dos Anjos até o ano de 1982, quando, por ocasião do Capítulo Provincial, aconteceriam novas mudanças nessa etapa de noviciado.

Visconde do Rio Branco. Vocação primeira da casa como “Casa de missionários”.

O Convento de Visconde do Rio Branco tem sua origem no ano de 1953, como uma casa para missionários, que dali partiam para várias iniciativas da “Cura animarum” da região. A primeira equipe era composta pelos frades: Helano van Koppen, Teodulfo Kamsma, Osório da Silva Santos e Valério Heisen. A escolha do local estava influenciada pelo trabalho de Frei Osório, como recrutador vocacional, que já conhecia a região nas suas inúmeras visitas às paróquias, pregando missões e recolhendo esmolas para o nosso seminário de Santos Dumont. Ele tinha a simpatia e autorização do bispo diocesano Dom Delfim Ribeiro Guedes. Frei Osório ajudou e substituiu muitas vezes o pároco Cônego Raul de Faria Cunha, de Visconde do Rio, que se encontrava constantemente em tratamento.

Frei Osório relata que, em 1953, o visitador esteve em Guiricema e Visconde do Rio Branco para acompanhar in loco o seu trabalho como recrutador; naquela ocasião, Frei Osório sugeriu ao visitador: “suprimir o cargo de recrutador substituindo-o por uma turma de missionários, que com mais simpatia e mais disfarçadamente fizessem o trabalho das vocações; e fundar um reduto franciscano na Zona da Mata, concretizando o desejo de quase todos os nossos confrades. Este sonho chegou a ser realidade no último Capítulo” (SC, 1, 1954, p. 16).

Frei Osório, em diálogo com o Sr. Oilliam José, presidente dos Marianos e Vicentinos, foi negociado um terreno deles que estava destinado a construir uma casa de retiros. No local já havia uma capela dedicada a Santo Antônio. Frei Osório ficou à frente da construção. Segundo o seu relato, “foi demolido o que já existia de construção para dar lugar a alicerces sólidos. Não tive dificuldades de ganhar o terreno com escritura. Com a ajuda de Deus e ciúmes do vigário, com oito meses entreguei o convento pronto e equipado para a primeira turma de missionários” (SC, 3, 1983, p.99). Frei Osório recebeu muitas ajudas espontâneas, fruto do seu Revista Santa Cruz -

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“espírito pidão”. No dia 26 de setembro de 1954, foi inaugurado oficialmente o convento, com a presença de Dom Delfim Ribeiro Guedes, o Ministro Provincial Serafim Lunter, o Cônego Raul de Faria Cunha, confrades e o povo.

No final de 1966, os missionários foram transferidos e, para o lugar deles, não foram nomeados outros frades. Ali no convento de Visconde do Rio Branco ficou firme e forte, no seu trabalho manual o nosso destemido irmão leigo Frei Metódio Kager. A presença dos frades nesse convento se tornou menor, talvez não com a força do projeto original sonhado pela equipe dos missionários. Vale ressaltar a figura de Frei Zacarias van der Hoeven, que depois de trinta anos de pastoreio em Carlos Prates, com 75 anos, foi transferido para Visconde do Rio Branco e ali conseguiu mobilizar o povo para a construção de um grande e moderno Santuário de Santo Antônio, no lugar da velha e tradicional igrejinha.

Pastoralmente, Frei Zacarias se tornou muito admirado pelas suas ovelhas. Após a figura de Frei Zacarias (+1974), o convento passou por um período de grande alternância de frades que em pouco tempo passaram por ali, mantendo o espírito franciscano.

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Noviciado em Visconde do Rio Branco.

No ano de 1982, o governo provincial nomeou uma equipe de frades: Célio de Oliveira Goulart, Celso Márcio Teixeira, Conrado Goumans e Eliseu Tijdink, com a finalidade de assessorá-lo quanto a possibilidade da transferência da etapa de Noviciado de Betim para Visconde do Rio Branco8.

Feita a visita e a avaliação, a equipe chegou a uma conclusão positiva de possível transferência dessa etapa de formação9. As motivações para que a casa de noviciado fosse erigida nessa cidade foram as seguintes: “por estar em uma região carente, pobre e numa cidade marcada pela religiosidade popular”10.

O governo provincial decidiu pela transferência da casa de noviciado de Betim para Visconde do Rio Branco11. Encontrou-se na 8 Numa pequena apostila intitulada: “Pesquisa sobre o Noviciado”, aparece uma informação curiosa quanto a outras possíveis alternativas de lugares para instalar a etapa do noviciado.

“Na época havia a possibilidade de levar o noviciado ou para Divinópolis, ou Rua Pernambuco em Belo Horizonte, ou ainda construir uma casa em Areias, porém a urgência do tempo não podia esperar a construção de uma nova casa, e as casas de Divinópolis e Belo Horizonte não vinham ao encontro do que se esperava do noviciado”.

9 Cf. SC, 5, 1982, p. 185.

10 Pesquisa sobre o Noviciado.

11 Cf. SCE, março de 1983, p. 17.

figura de Frei Edvaldo Kemmeren o frade ideal encarregado de fazer as adaptações no prédio antigo e de construir uma nova ala, onde iria abrigar: sala de recreio, sala de reuniões, as celas, banheiros e área de serviço. Ele iniciou a reforma no dia 29 de agosto de 198212. No dia 05 de fevereiro de 1983, foi inaugurada, oficialmente, pelo Ministro Provincial Frei Patrício de Moura Fonseca a nova Casa de Noviciado e presidido o Rito de entrada de 16 postulantes13; dando início ao 12 Cf. SC, 7, 1982, p. 251.

13 Dessa 1a turma de 17 noviços permanece na PSC o Frei Paulo Afonso Aguiar. Vale ressaltar que o Alair Matilde Naves, natural de Pará de Minas, fazia parte dessa turma e nos anos de 1991-1996 foi Mestre de noviços nesse Convento de Santo Antônio, de Visconde do Rio Branco. Deixou a Ordem no ano de 1999.

tempo de “Provação” na antiga casa dos missionários. O Mestre de noviços era o Frei Célio de Oliveira Goulart e o guardião, Frei Conrado Goumans. Um terceiro frade era aguardado para compor essa fraternidade do noviciado, o Frei Ismael Lambi, que faleceu logo após arrumar a sua mudança para Visconde do Rio Branco.

A presença de uma etapa de noviciado, ligada pastoralmen-te ao Santuário de Santo Antônio, deu um novo vigor a essa presença franciscana missionária, já enraizada em Visconde do Rio Branco. Os noviços também se faziam presentes aos sábados, nas comunidades aos cuidados pastorais do Convento Santo Antônio.

Noviciado em Visconde do Rio Branco Revista Santa Cruz -

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Os Mestres durante o tempo de Visconde do Rio Branco foram os seguintes frades: ● Frei Célio de Oliveira Goulart 1983 a 1985; ● Estanislau Bartholdy - fevereiro de 1986 até janeiro de 1991; ● Frei Célio de Oliveira Goulart – janeiro de 1991 até abril de 1992; ● Frei Alair Matilde Naves – de maio de 1992 até fevereiro de 1996; ● Frei Vicente Ronaldo da Silva – de março de 1996 a 2000.

Frei Vicente Ronaldo da Silva foi o mestre de noviciado de março de 1996 a 1998. A última turma de noviços de Visconde do Rio Branco. concluiu o seu tempo de provação no final de 1998, quando oficialmente foi encerrada a nossa presença enquanto etapa de formação inicial. Como não houve noviciado no ano de 1999, por causa do projeto do postulantado, Frei Vicente Ronaldo foi transferido para São João del-Rei, para reforçar o Coetus formatorum.

Visando a uma melhor preparação dos candidatos ao noviciado, foi apresentada uma proposta pelo Conselho de Formação Inicial, refletida, discutida e amadurecida; posteriormente apresentada no

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relatório do Capítulo Provincial de 1997, como uma moção. Durante o Capítulo, a moção apresentada pelo CFI foi apreciada e votada na íntegra, na qual a etapa de Postulantado passava por modificações. O texto da moção recebeu 40 votos. Vejamos o texto votado na sessão do dia 13 de novembro de 1997: “Visto que, principalmente para o jovem que ingressa diretamente no Postulantado, a etapa anterior ao noviciado é por demais curta, o Governo Provincial, juntamente com o CFI, durante o ano de 1988, estude a possibilidade de introduzir mudanças no Aspirantado e no Postulantado, mudanças essas que visariam a uma preparação melhor do candidato para o ingresso no noviciado”. (SCE, 1997, p. 530). No ano de 1998, iniciou-se a nova modalidade da etapa do Postulantado, com o placet do Governo Provincial.

VI. REFLEXÕES

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EDUCAR A PIEDADE MARIANA Frei Joaquim Fonseca, OFM

momento, apresentar alguns critérios para ‘educar’ a piedade mariana, além da apresentação da oração Angelus Domini tida como referência de um sadio exercício de piedade mariana. Por fim, no intuito de trazer à tona a desafiante tarefa da integração da piedade popular à liturgia, apontaremos o Ofício da Mãe do Senhor como um exemplo concreto desse relevante empreendimento no campo da inculturação da liturgia.

1. Um olhar sobre a ‘atual’ piedade mariana

Sem qualquer pretensão de esgotar tão instigante tema, teceremos nossa reflexão a partir de três pontos: partindo de um rápido olhar sobre a nebulosa situação em que se encontra a devoção a Maria em nossos dias, buscaremos, num segundo

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Ninguém duvida do profundo afeto dos cristãos católicos por Maria, a mãe do Senhor. Desde cedo, a Virgem tem recebido uma especial atenção tanto na liturgia como na devoção popular. Todavia, ao longo do segundo milênio, a intensidade da relação dos ‘filhos’ para com a Mãe chegou ao ponto de transformá-la numa espécie de divindade absoluta, desvinculada do mistério de Cristo. Por mais que a reflexão teológica desencadeada pelo Concílio Vaticano II tenha atingido patamares de expressiva relevância no que tange à compreensão do lugar de Maria no mistério de Cristo e da Igreja, ainda se percebe, na prática, um sensível descompasso entre o ensinamento do Magistério da Igreja e o conteúdo de recentes

produções de orações e cantos.

A título de exemplo, vejamos o seguinte canto mariano: Ó, minha Senhora e também minha mãe Eu me ofereço, inteiramente todo a vós.

E em prova da minha devoção Eu hoje vos dou meu coração.

Consagro a vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca.

Tudo o que sou desejo que a vós pertença.

Incomparável mãe, guardai-me e defendei-me, Como filho e propriedade vossa.

Amém.

Como filho e propriedade vossa.

Amém.

Neste canto, intitulado Consagração a nossa Senhora, a figura de Maria é invocada na qualidade de uma deusa, dotada de dignidade e de poderes absolutos e divinos.

O(a) devoto(a) se coloca diante de sua Senhora e nela deposita a total confiança de se tornar uma propriedade dela. Isto aparece de forma explícita nos verbos “querer’, “dar”, “consagrar”, “desejar”, “pertencer”, “guardar”, “defender”.

Certamente o que nos causa maior desconforto é a ideia de consagração como tal. Pergun-

tamos: Podemos nos consagrar a algum santo? Ou ainda: Os santos têm o poder de consagrar alguém? É claro que não. Quem nos escolhe e nos consagra é Deus. Vale aqui lembrar os relatos bíblicos que falam de vocação como, por exemplo: Samuel, Isaías, Jeremias etc. Para nós cristãos, pelo sacramento do batismo, Deus nos consagra e nos incorpora de forma definitiva na dinâmica do mistério pascal de Cristo. Os santos são para nós paradigmas de como devemos viver nossa consagração batismal.

Continuar compondo e entoando hinos vazados de uma teologia que reforça o “maximalismo mariano” denota um total distanciamento da reflexão teológica conciliar e pós-conciliar sobre Maria, além de dificultar o diálogo inter-religioso e ecumênico.

Pudemos ver que o canto Consagração a nossa Senhora traduz o diagnóstico de algo mais profundo, ou seja: o principal pilar da mariologia inspirada no Concílio Vaticano II – sua relação com o mistério de Cristo e da Igreja – sequer foi assimilado pela grande maioria de nosso povo. Não raro, também entre o clero e comunidades religiosas, encontramos práticas devocionais ligadas a Maria, desconectadas do eixo central da fé Cristã que é Revista Santa Cruz -

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o mistério pascal de Cristo. Não obstante, acreditamos que há outra maneira de ser devoto de Maria. É, antes de tudo, olhar para ela com a divina simpatia de quem a mandou chamar pelo Anjo de “cheia de graça”! [...] O povo precisa ser ajudado a entender que é sua tarefa cotidiana, a toda hora, seguir Jesus, deixando-se levar pela mão desta mulher, imitando este mode-lo admirável de escuta e disponibilidade, de fidelidade e firmeza, de busca de Deus e de solidariedade para com o povo.

E esse é o jeito ‘adulto’ de os filhos e filhas gostarem de sua Mãe.

2. Revisitando a Exortação Apostólica Marialis Cultus Em sua Exortação Apostólica Marialis Cultus, o papa Paulo VI, dentre outras coisas, nos fornece alguns critérios para uma sadia piedade mariana, além de uma referência explícita à oração Angelus Domini, como paradigma desta piedade popular. Vejamos: 2.1. Critérios para ‘educar’ a piedade mariana Os exercícios de piedade mariana não podem prescindir:

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a) Do caráter trinitário do culto cristão O culto cristão é, por sua natureza, culto ao Pai por Cristo no Espírito.

Na Virgem Maria, tudo é relativo a Cristo e dependente dele: foi em vista dele que Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu Mãe toda santa e a plenificou com dons do Espírito a ninguém mais concedidos. A genuína piedade cristã nunca deixou de pôr em realce a ligação indissolúvel e a essencial referência da Virgem Maria ao divino Salvador (Cf. LG 66). b) De sua relação com o mistério da Igreja É necessário que os exercícios de piedade com que os fiéis exprimem a sua veneração para com a Mãe do Senhor manifestem de modo mais claro o lugar que ela ocupa na Igreja. É igualmente indispensável atentar-se para os conceitos fundamentais expostos pelo Concílio Vaticano II, sobre a natureza da Igreja, “Família de Deus”, “Povo de Deus”, “Reino de Deus”, “Corpo Místico de Cristo” (Cf. LG 6, 7-8, 9-17). Isto permitirá aos fiéis reconhecerem mais prontamente qual a missão de Maria no mistério da mesma Igreja e qual

seu eminente lugar na Comunhão dos Santos.

O amor pela Igreja traduzir-se-á em amor para com Maria, e vice-versa, pois uma não pode subsistir sem a outra: “Não se pode, portanto, falar da Igreja senão quando estiver aí Maria, Mãe de Senhor, com os irmãos dele” (S. Cromácio de Aquileia). c) Da fidelidade à Sagrada Escritura As fórmulas de oração e os textos destinados ao canto assumam os termos e a inspiração da Bíblia; exige-se, sobretudo, que o culto à Virgem Santíssima seja permeado pelos grandes temas da mensagem cristã, a fim de que os fiéis, ao mesmo tempo que veneram aquela que é a Sede da Sabedoria, sejam também eles iluminados pela luz da Palavra divina e levados a agir segundo os ditames do Verbo encarnado. d) Da sintonia com a genuína tradição litúrgica As práticas de piedade sejam ordenadas de tal forma que sejam levados em conta os tempos do ano litúrgico, de maneira que se harmonizem com a Sagrada Liturgia, de certo modo derivem dela, e a ela, que por sua natureza lhes é muito superior, conduzam o povo cristão (Cf. SC 13).

e) Da dimensão ecumênica Em virtude de seu caráter eclesial, no culto à Virgem Maria refletem-se as preocupações da própria Igreja, entre as quais, nos nossos dias, se salienta o anseio pela recomposição da unidade dos cristãos. A piedade para com a Mãe do Senhor torna-se, deste modo, sensível aos anelos e aos escopos do movimento ecumênico, quer dizer, adquire também ela um caráter ecumênico.

“A causa da união dos cristãos é algo que faz parte da função da maternidade espiritual de Maria.

Na verdade, aqueles que são de Cristo, Maria não os gerou nem poderia gerar, senão numa única fé e num mesmo amor” (Leão XIII). f) Das ciências humanas No culto à santíssima Virgem devem ser tidas em atenta consideração também as aquisições seguras e comprovadas das ciências humanas; isso concorrerá, efetivamente, para que seja eliminada uma das causas de perturbação que se nota nesse mesmo campo do culto à Mãe do Senhor; quer dizer, aquele desconcerto entre certos dados deste culto e as hodiernas concepções antropológicas e a realidade psicossociológica, profundamente mudada, em que os Revista Santa Cruz -

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seres humanos do nosso tempo vivem e operam.

A nossa época, não diversamente das precedentes, é chamada a aprimorar o próprio conhecimento da realidade com a Palavra de Deus, a confrontar as suas concepções antropológicas e os problemas que daí derivam com a figura da Virgem Maria, conforme ela está proposta no Evangelho.

Desse modo, a leitura das divinas Escrituras, feita sob o influxo do Espírito Santo e tendo presentes as aquisições das ciências humanas e as várias situações do mundo contemporâneo, levará a descobrir que Maria pode ser tomada como modelo naquilo por que anelam os seres humanos de nosso tempo.

2.2. A oração Angelus Domini

O papa Paulo VI, na referida Exortação Apostólica, nos aponta como um salutar exercício de

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piedade mariana a oração do Angelus Domini pela sua “estrutura simples, o caráter bíblico, [...] a abertura para o Mistério Pascal, em virtude da qual, ao mesmo tempo em que comemoramos a encar-nação do Filho de Deus, pedimos para ser conduzidos, ‘pela sua paixão e morte na cruz, à glória da ressurreição’, fazem com que ele [Angelus], à distância de séculos, conserve inalterado o seu valor e intacto o seu frescor”.

Em cada versículo da oração do Angelus, contemplamos a figura de Maria plenamente integrada no plano salvífico de Deus, numa profunda relação com a Palavra.

Vejamos: a) O Anjo do Senhor anunciou a Maria; e ela concebeu do Espírito Santo (Lc 1,28.35) Este versículo constitui um bom exemplo do que podemos chamar de sacramentalidade da escuta da Palavra de Deus: Deus fala e cumpre; diz e faz.

Maria é a Virgem que sabe ouvir, que acolhe a Palavra de Deus com fé; fé, que foi para ela prelúdio e caminho para a maternidade divina; [...] fé, enfim, com a qual ela, protagonista e testemunha singular da Encarnação, reconsiderava os acontecimentos da infância de Cristo, confrontando-os entre si,

no íntimo do seu coração (Cf. Lc 2,19.51). É isto também que a Igreja faz; na sagrada liturgia, sobretudo, ela escuta com fé, acolhe, proclama e venera a Palavra de Deus, distribui-a aos fiéis como pão da vida, à luz da mesma, perscruta os sinais dos tempos, interpreta e vive os acontecimentos da história. b) Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa Palavra (Lc 1,38) Da escuta emerge a disponibilidade ao serviço. Maria se coloca à inteira disposição da vontade de Deus, possibilitando o desencadeamento da plena realização da ‘obediência’ do Verbo que, do seio da Trindade, virá cumprir a vontade do Pai, como bem expressa a Carta aos Hebreus: “Ao entrar no mundo, Cristo declara: ‘eis que vim, ó Pai, para fazer a tua vontade’”.

Em suma, o “eis-me” de Maria se perpetua e se atualiza no seio da Igreja quando esta se põe na total disponibilidade de servir a Deus, em comunhão com o seu divino Esposo. c) E o Verbo se fez carne; e habitou entre nós (Jo 1,14) A encarnação do Verbo no seio de Maria marca, de forma simultânea, o início da trajetória

do Cristo no seio da humanidade.

Começando por Maria de Nazaré, e se ampliando e prolongando através da comunidade eclesial, continuadora da sua vivência de fé e obediência, a Palavra se faz carne e habita entre nós, homens e mulheres de todas as gerações, atingindo seu ponto culminante na participação do mistério do rebaixamento (kenosis) – a sua paixão e morte de Cruz – e da consequente glorificação. A partir da ressurreição de Cristo, sua ‘morada’ entre nós continua garantida, graças ao permanente envio do Espírito Santo e à sua acolhida pela comunidade eclesial, sempre à semelhança do que ocorreu no Cenáculo, onde estava presente a “mãe de Jesus”. d) Rogai por nós, santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo Espelhando-se naquela que vivenciou admiravelmente as “promessas de Cristo”, as “bem-aventuranças”, a comunidade dos fiéis suplica à “Mãe” e “Discí-pula” que rogue a Deus para que Ele lhe conceda a graça de seguir o caminho do verdadeiro discipulado do divino Mestre, Jesus Cristo. e) Infundi, Senhor, em nossos corações, a vossa graça para que, conhecendo pela mensagem do anjo a encarnação de vosso Filho, Revista Santa Cruz -

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cheguemos, por sua paixão e Cruz, à glória da ressurreição.

Esta oração conclusiva do Angelus adveio da “oração do dia” da missa do quarto domingo do advento.

Como é sabido, neste domingo a figura da “Virgem e Mãe”, a escolhida por Deus, recebe uma atenção especial. A comunidade reunida suplica ao Pai a graça de levar o ‘conhecimento’ (no sentido bíblico do termo!) do mistério da Encarnação às suas últimas consequências: a participação plena no mistério pascal de Cristo para que, a exemplo de Maria, seja no mundo sinal visível da contínua ação de Deus na história humana. Esse ‘conhecimento’ nada mais é do que a experiência da passagem libertadora de Deus, sentida e vivenciada a cada instante, sobretudo onde a vida vence a morte, onde o amor, a solidariedade, vencem o egoísmo, onde situações desumanas se convertem em estruturas mais humanas.

3. “Ofício divino da Mãe do Senhor”: um exemplo concreto de integração da Piedade Popular à Liturgia das Horas As comunidades eclesiais espalhadas por este imenso país, desde o ano de 2001, podem contar com um sólido alimento

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que, certamente, muito as ajudará no cultivo de uma sadia devoção à Virgem Maria. Trata-se do Ofício da Mãe do Senhor. Este subsídio, elaborado conforme o esquema ritual do já conhecido Ofício Divino das Comunidades, integra, de forma magistral, a multiforme expressão da piedade popular à inesgotável riqueza da Liturgia das Horas. Além do valor em si, este ‘Ofício popular’ vem atender a explícita recomendação do Concílio Vaticano II para que os pastores fomentem a participação dos fiéis leigos na recitação do Ofício Divino, bem como o desafio pastoral da integração da piedade popular à liturgia.

Inspirando-se na devoção dos mistérios do rosário (gozosos, dolorosos, gloriosos), o autor organizou o Ofício da Mãe do Senhor em três seções: “Ofício das alegrias”, “Ofício das dores” e “Ofício das glórias”. Para cada seção, três formulários (ofício de vigília – ofício do amanhecer – ofício do anoitecer).

No intuito de obtermos uma noção do trabalho do autor, a título de exemplo, tomaremos dois elementos do referido Ofício, a saber: os refrãos meditativos e o hino que vêm apresentados como primeira opção. Vale observar, de antemão, que o compositor teve o

cuidado de reescrever alguns versos, buscando adequá-los ao Ofício em questão e à teologia atual. As matrizes originárias dos refrãos são o tradicional “Louvando a Maria” e o conhecido “Ave de Fátima”, e a do hino é o Ofício da Imaculada Conceição. Observemos os quadros abaixo: a) Hino

OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO

OFÍCIO DAS GLÓRIAS (Amanhecer)

Deus vos salve, Virgem, Senhora do mundo, Rainha dos céus e das virgens, Virgem.

Deus vos salve, Virgem, Sois do mundo aurora, Barra luminosa Todos te bendizem!

Estrela da manhã, Deus vos salve, cheia de graça divina, formosa e louçã.

Da manhã de Deus Alba, sois bendita: O Sol da Justiça Já de vós nasceu!

Dai pressa Senhora em favor do mundo, pois vos reconhece como defensora.

Deus vos nomeou desde “ab aeterno” para a Mãe do Verbo, com o qual criou:

Deus vos nomeou Com amor eterno Para Mãe do Verbo, Pelo qual criou

Terra, mar e céus, e vos escolheu, quando Adão pecou, por esposa de Deus.

Terra, mar e céus, Dons do seu amor, Dons do Criador Para os filhos seus!

Etc.

Etc.

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b) Refrãos meditativos Vigília

OFÍCIO DAS ALEGRIAS Amanhecer Anoitecer

Louvando a Maria o povo fiel

Maria visita sua prima Isabel,

A noite desceu e vai-se o dia,

saúda hoje em dia com são Gabriel

os ventres exultam, alegra-se o céu!

que nunca nos falte tua companhia!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Vigília

OFÍCIO DAS DORES Amanhecer

Anoitecer

Ó mãe, do teu povo as dores sentiste,

Levando sua cruz, Jesus nos convida,

Amou a seu povo, por nós deu a vida,

teu Filho co’a cruz bem cedo seguiste.

sua mãe vem conosco, da cruz nos entrega a conforto na lida! mãe tão querida!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Vigília

OFÍCIO DAS GLÓRIAS Amanhecer Anoitecer

Ó quanta alegria, do teu Filho a glória:

Maria do povo, Maria de Deus,

Maria do povo, Maria de Deus,

Divina justiça, do amor a vitória!

na vida e na morte, na terra e nos céus!

na terra serviste, reinaste nos céus!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

Ave! Ave! Ave, Maria!

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Nos exemplos apresentados, bem como nos demais elementos do Ofício da Mãe do Senhor, o tratamento devotado à figura de Maria – mãe, discípula fiel de Jesus, mulher do povo, companheira de caminhada etc.

– está em perfeita conformidade com a Sagrada Escritura e a mais genuína Tradição da Igreja. Em nenhum momento, a Mãe do Senhor é tratada por “Senhora”, porque, na intuição pastoral do autor, o binômio “Nosso Senhor – Nossa Senhora” é, sem dúvida, um dos desvios “pedagógicos”, que levaram à piedade singela e espontânea do povo, a essa equivocada equiparação e endeusamento da figura de Maria, a qual não precisa dos nossos exageros para ter a importância que merece em nossa devoção.

Concluindo nossa reflexão, auguramos que ela possa contribuir para o fomento de uma sadia devoção à Mãe do Senhor. Talvez o principal desafio seja o de garimpar, no imenso baú da piedade popular, aquelas pedras preciosas que se encontram misturadas com outras

tantas que precisam ser buriladas ou mesmo postas de lado. A base criteriológica para tão delicada empreitada não poderá prescindir de um acurado estudo da Tradição bíblico-teológico-litúrgica e espiritual, como bem nos apontou o papa Paulo VI em sua Exortação Apostólica.

Afinal, o que se espera de tudo isso é caminharmos no firme propósito traçado pelo venerável pastor da Igreja de Milão: Esteja em cada um de vós a alma de Maria para engrandecer o Senhor: em cada um esteja o espírito de Maria para exultar em Deus. Embora segundo a natureza haja uma só Mãe de Cristo, segundo a fé o Cristo é o fruto de todos; pois toda alma recebe o Verbo de Deus desde que, sem mancha e libertada do pecado, guarda a castidade com inteira pureza. Toda alma que alcança esta perfeição, engrandece o Senhor como a alma de Maria O engrandeceu e seu espírito exultou em Deus, seu Salvador.

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1 Texto-conferência elaborado para o Simpósio de Mariologia, promovido pela União Marista do Brasil (UMBRASIL), em São Paulo, dias 17-21/07/2011. Publicado em: VV.AA. Maria no coração da Igreja: múltiplos olhares sobre a mariologia. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 89- 104.

2 Citando apenas dois textos que são paradigmas: CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática “Lumen Gentium” sobre a Igreja, cap. VIII; PAULO VI. Exortação Apostólica “Marialis cultus”.

3 VV.AA. Louvemos o Senhor. Campinas: Associação do Senhor Jesus, 2011, canto n. 700.

4 Cf. 1Sm 16,1-13.

5 Cf. Is 6,1-8.

6 Cf. Jr 1,4-10.

7 “Vós todos que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27); “Vós sois a raça escolhida, o sacerdócio do reino, a nação santa, o povo que ele conquistou para proclamar as obras admiráveis daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1Pd 2,9).

8 Expressão utilizada por: MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. São Paulo: Paulinas, 2004, p.

15.

9 VELOSO, R. Ofício da Mãe do Senhor. São Paulo: Paulus, 2001, p. 10-11.

10 Cf. MC, 25.

11 Cf. MC, 28.

12 Cf. MC, 29.

13 Cf. MC, 31.

14 Cf. MC, 32.

15 Cf. MC, 34-37.

16 O Angelus Domini é uma oração tradicional dos cristãos católicos que se estruturou lentamente, ao longo dos séculos. A forma como a conhecemos em nossos dias - três ave-marias alternadas por três antífonas, seguidas de um versículo e de uma oração - remonta ao século XVI. Conforme S. MAGGIANI, “o caráter oficial do Angelus, se assim podemos dizer, recebeu confirmação definitiva no Cerimoniale Episcoporum, editado por vontade de Clemente VIII” (Dicionário de Mariologia, p. 39).

17 MC, 41.

18 Cf. Ez 37,14.

19 MC,17. Veja também: BENTO XVI. Exortação pós-sinodal “Verbum Domini” [2010]: “Daqui se compreende que, na origem da sacramentalidade da Palavra de Deus, esteja precisamente o mistério da encarnação: ‘o Verbo se fez carne’ (Jo 1,14), a realidade do mistério revelado oferece-se a nós na ‘carne’ do Filho’” (n. 56).

20 Hb 10,5.7.

21 Cf. Fl 2,6-11.

22 Cf. At 1,14.

23 Cf. CELAM. Conclusões de Medellín. Introdução, n. 6.

24 VELOSO, R. Ofício da Mãe do Senhor: “Eis aí tua mãe”. São Paulo: Paulus, 2001.

25 Esquema ritual do Ofício: 1. Chegada; 2. Abertura;

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3. Recordação da vida; 4. Hino; 5. Salmodia; 6. Palavra de Deus; 7. Cântico evangélico; 8. Preces; 9. Bênção final; 10. Canto final.

26 Cf. SC, 100.

27 Reginaldo Veloso é presbítero, poeta, músico e liturgista. É tido como um dos promotores pioneiros da inculturação da música litúrgica da Igreja no Brasil. É membro das equipes de “Reflexão” e do “Hinário Litúrgico da CNBB”. Participou ativamente da elaboração do Ofício Divino das comunidades. Além da elaboração do Ofício da Mãe do Senhor. Reginaldo Veloso produziu os três CDs que acompanham esta obra.

28 O Ofício da Imaculada Conceição de Nossa Senhora ou simplesmente Ofício de Nossa Senhora surgiu na Europa por volta do século XV. Foi amplamente divulgado e recomendado por missionários e beatos no interior do Brasil. Este ofício popular segue a divisão da oração do breviário antigo nas horas de Matinas, Prima, Tercia, Sexta, Nôa, Vésperas e Completas, porém, sem os salmos. Enquanto a oração do breviário é rezada de forma fragmentada, ou seja, conforme cada hora do dia e da noite, o ofício popular de Nossa Senhora é rezado de uma só vez. Existem muitas melodias para cantar este ofício. Há melodias próprias para o tempo comum, para a quaresma e para exéquias.

No Maranhão, por exemplo, há mais de trinta melodias diferentes para o Ofício de Nossa Senhora.

29 SANTO AMBRÓSIO. Exposição sobre o evangelho de São Lucas. Cit. In Liturgia das Horas, vol. 1, p. 318.

---------------------------------------------REFERÊNCIAS

CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática “Lumen Gentium” sobre a Igreja, cap. VIII. MAGGIANI, S. “Angelus”. In: FIORES, Stefano; MEO, Salvatore. Dicionário de Mariologia. São Paulo: Paulus, 1995, p.

35-46.

MAGGIONI, Corrado. Maria na Igreja em oração. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2006. _____. Benedetto il frutto del tuo grembo: due milleni di pietá mariana. Casale Monferrato: Portalupi Editore, 2000.

MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. São Paulo: Paulinas, 2004.

PAULO VI. Exortação Apostólica “Marialis cultus”.

VELOSO, Reginaldo. Ofício da Mãe do Senhor. São Paulo: Paulus, 2001.

VV.AA. Maria nel Concilio: approfundamenti e percorsi. Roma: Centro di Cultura Mariana “Madre della Chiesa”, 2005.

BIOMAS BRASILEIROS E SUSTENTABILIDADE DA VIDA Frei Valter Pinto Vieira Júnior, OFM O princípio da sustentabilidade da vida humana pressupõe relações de cidadania que assegurem a existência feliz tanto dos que compartilham do mesmo tempo histórico, em que cada pessoa atua em sua singularidade, como também admite a continuidade do mundo comum pelos que ainda virão fazer parte da existência cidadã. Nesse sentido, o artigo 225, da Constituição Federal, determina que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras gerações”. Em consonância com a perspectiva desse artigo do meio ambiente, a Lei 6.938, de 1981, sobre A Política Nacional do Meio Ambiente, já no início do artigo 2o, garante a “ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente

assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo”.

No entanto, apesar de vincular o equilíbrio ambiental ao conceito de proteção da vida dos brasileiros que estão vivos na presente data e daqueles que ainda nascerão, o pressuposto fundamental da política ambiental brasileira é a lógica do desenvolvimento econômico-social. Assim, o binômio “desenvolvimento sustentável” apresenta-se, nos discursos legais, empresariais e no senso comum, praticamente como tautologia. Mas, esse ideal revelase incongruente quando conflita com estimativas de pesquisas científicas, que demonstram um

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crescente aumento na perda de biodiversidade e que preveem uma inexorável e drástica reconfiguração dos ecossistemas, devido a alterações dos estoques naturais pela ação antrópica.

Os biomas brasileiros evidenciam múltiplas lacunas ecossistêmicas, como consequência da exploração neoliberal, na persistência da meta do desenvolvimento. O paradigma neoextrativista exaure os sistemas biodiversos e compromete o princípio de sustentabilidade da vida em geral. Evidencia-se o governo da contradição ambiental, no qual a regência do mercado e o princípio do lucro imediato determinam as extinções.

No decorrer das reflexões sobre o tema da Campanha da Fraternidade de 2017, ressoou a valoração dos biomas a partir do significado que eles trazem inscritos em sua própria constituição como emaranhados de vida, em contraponto à ambição desenvolvimentista. Os biomas significam complexos processos evolutivos e narram expressões históricas de extinções, adaptação ao acaso e sobrevivência. Esses “sistemas de zonas de vida” (Holdridge, 1967), na ótica cristã, exprimem a beleza de Deus, que é a fonte da espiritualidade de “cultivar e guardar a criação” (Gn

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2,15), não nos considerando seres sublimes, mas humanos, ou seja, humus (do latim), coisas da terra.

Além do compromisso de gestão responsável dos dons de Deus, o ser humano faz a experiência da condição finita, que se enche de sentido no amor divino expresso em todas as criaturas.

O ser humano não tem uma classificação evolutiva primária na história da Terra. Há antecedentes ambientais que propiciaram nossa evolução e de todas as formas de vida com as quais compartilhamos a alegria da existência. Do ponto de vista da geologia histórica, compreender a origem e a formação dos biomas brasileiros permite admitir como os processos abióticos e bióticos interagem como forças maravilhosas na expansão das diversas formas de vida. Distintos eventos geológicos e ecológicos permitem levantar hipóteses para datação dos biomas brasileiros, embora este assunto admita bastante complexidade.

Conforme Räsänen et al. (1987), o rio Amazonas, até cerca de 10 milhões de anos (entre o Mioceno e o Plioceno), fluía para o oeste em direção ao Oceano Pacífico. A partir da orogênese Andina, devido à colisão da Placa Sul-Americana e da Placa de Nazca, essa passagem para oeste foi bloqueada e o rio Amazonas inverteu o seu sentido para leste, passando a desaguar no Oceano Atlântico.

Assim, sucedeu-se o processo de formação de uma imensa bacia de sedimentos originados da Cordilheira dos Andes, com formação de depósitos fluviais de idade que remete ao Quaternário.

A partir do Pleistoceno Superior, os depósitos sedimentares foram talhados, moldando as várzeas amazônicas (Cf. Silva, 2008).

O bioma do Pantanal relaciona-se ao período que sucede a subida geológica da Cordilheira dos Andes. A depressão pantaneira admi-te interpretações de que ela resultou de processos erosivos em tempos do Cretáceo Superior.

Conforme Silva (2008), no final do Cretáceo, o soerguimento de blocos da plataforma brasileira ligados à origem Andina irrompeu processos tectônicos, com dobramentos e falhamentos. A partir da reativação Pós-Cretácea, surgiu a bacia sedimentar onde está inserido o Pantanal mato-grossense.

Em relação ao bioma da Mata Atlântica, é possível imaginar que este associa-se à fragmentação dos continentes africano e sul-americano (separação de Gondwana), ocorrida há mais de 80 milhões de anos. Eventos que acomodaram imensas quantidades de terra e água com a formação do Oceano Atlântico promoveram agitações geológicas, que originaram inúmeros blocos de montanhas, ocupando a faixa litorânea de Santa Catarina ao Espírito Santo, que se modificou num ambiente propício para a evolução da Mata Atlântica. (Cf. NOGUEIRA; FILIPE, 2008).

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Já o Cerrado e a Caatinga são considerados, por um bom motivo hipotético, os biomas com origem mais antiga. O Cerrado apresenta-se como uma fitofisionomia biodiversa savânica, que está presente também na África e Austrália, com paisagens similares. Isso permite postular uma origem geológica comum, ainda em Gondwana (GUIMARÃES, 2014). Em relação à Caatinga, o aspecto semiárido também converge com porções de Gondwana (Saara), na relação entre conexões geológicas de regiões similares da África e América do Sul.

O bioma dos Pampas, caracterizado predominantemente por região

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de planície e de gramíneas, permite uma relação de datação sobre sua origem no período do Cretáceo para o Terciário, em que há registros da formação de campos. Na época do Mioceno, considera-se a expansão das gramíneas, o que corrobora ecologicamente para a evolução mais intensa dessa fitofisionomia.

No período Quaternário, todos os biomas brasileiros já estão representados (Cf. SOUZA et al., 2005).

As intensas relações abióticas e bióticas favorecem a diversificação da vida nos biomas. Essas zonas de vida guardam revoluções naturais, climáticas, geológicas, de reciprocidades de entidades vivas e não vivas. Há muitas histórias naturais desconhecidas que, se fôssemos capazes de compreender em sua profundidade, seríamos humildes e mais agradecidos pela graça de compartilhar o dom da vida com outros seres.

Durante o discurso de Steven Suzuky na Rio+20 (2012), a canadense referiu-se aos impactos das ações humanas sobre os sistemas de vida como nova força geológica, capaz de modificar significativamente as dinâmicas terrestres. Inclusive, há cientistas que defendem a legitimidade do Período Tecnógeno ou Quinário, como período em que nossa es-

pécie engenheira assemelha-se a um poderoso agente geológico.

Estima-se que a população mundial atingirá 9,6 bilhões até 2050. Além do aumento das exigências pessoais nos moldes do mercado, o ritmo acelerado do desenvolvimento tende a manter-se. Conforme estudos científicos, para atender às crescentes demandas por alimentos, água, habitação, energia, biocombustíveis, minerais, entre outros, haverá supressões drásticas nos biomas. Para 2030, a expectativa é de que a urbanização cresça 185% no mundo. Em relação à agricultura mundial, será necessário quase um bilhão de novos hectares de terras agrícolas até 2050. Ao mesmo tempo, o poder dos mercados emergentes deverá aumentar o consumo global de energia em 56% em 2040. A atividade mundial de mineração está projetada para aumentar em 60% nos próximos 30 anos. (Cf. OAKLEAF et al, 2015).

lution, no último mês de março, denuncia a elevada extinção de espécies endêmicas do Cerrado nos próximos 30 anos, caso persistam as condições atuais de desmatamento, principalmente com destinação agropecuária. O Cerrado já perdeu 46% da cobertura nativa por causa do desmatamento e, hoje, possui menos de 10% de sua área protegida em unidades de conservação.

Enquanto persistir a mentalidade de que nossa espécie humana é separada da natureza, numa direção antropocêntrica doentia, que desconsidera o valor evolutivo e a imensa expressão de amor manifestado em cada criatura de Deus presente nos biomas, caminhamos para a infelicidade. Diante da acelerada cultura suicida do desenvolvimento, a espiritualidade cristã insiste na conversão do nosso estilo de vida.

Uma amostra de como os biomas brasileiros são impactados pelo modelo devastador da economia globalizada é a extinção do cerrado, que se apresenta como o bioma mais ameaçado. Uma pesquisa internacional, coordenada por pesquisadores brasileiros e publi-cada na revista Nature Ecology and EvoRevista Santa Cruz -

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A hegemonia do homem sobre a criação de Deus e a cultura da obsolescência revela que o próprio homem perdeu o controle sobre si mesmo, e, portanto, renunciou sua liberdade e não permite que outros seres vivos sejam livres.

A pobreza, interior e exterior de Francisco de Assis, manifesta-se como o ideal que ajuda a purificar nossos afetos e o modo de ver e tratar a realidade. Do legado franciscano, aprendemos que é possível uma aproximação cordial, que integra amor e conhecimento, abrindo caminho à verdadeira sabedoria da fraternidade universal. Em tempos de conversão à ecologia integral, o movimento cristão precisa superar o antropocentrismo dominador e caprichoso, que separa o ser humano do resto das criaturas e o põe em guerra contra elas.

Diante do exposto, é importante considerar que o tema da Campanha da Fraternidade desse ano não se trata de um folclore ambientalista. Mas refere-se a uma realidade aflita, uma interpelação do reconhecimento daquilo que realmente somos: coisas da terra, cidadãos capazes de garantir a sustentabilidade da vida, a partir de outra lógica político-econômica, em que cada criatura de Deus é considerada para nós como um

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dom divino, que é necessário respeitar, pois toda biodiversidade ama a doçura da vida. _____________________________ REFERÊNCIAS GUIMARÃES, M. A origem do cerrado.

Pesquisa. Fapesp, 2014. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp. br/2014/05/15/origem-cerrado/>.

NOGUEIRA, L. C., FILIPE, C. H. O. Mata Atlântica: origem do bioma, caracterização e áreas de ocorrência.

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SANTO ANTÔNIO NO BRASIL Frei Francisco van der Poel, OFM O cristianismo que nos chegou de Portugal era guerreiro. Justamente em 1500, quando Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, deu-se na península ibérica a última batalha contra os mouros na reconquista de Granada pela qual os cristãos puseram fim a sete séculos de dominação árabe. Até hoje, as lutas entre cristãos e mouros estão presentes na cultura popular brasileira de muitos modos. Além disso, o cristianismo de toda a Europa era guerreiro por causa das cruzadas. Havia santos guerreiros: São Sebastião, São Jorge, Nossa Senhora da Conceição. Santo Antônio ainda é conhecido no Brasil como Santo Antônio militar. A ele são atribuídas vitórias milagrosas contra os invasores calvinistas holandeses e contra os huguenotes franceses em Salvador (1595), contra os franceses no Rio de Janeiro (1567

e 1710) ou contra os espanhóis na Colônia de Sacramento(1703). Sua imagem no andor era levada pelo exército aos campos de batalha, bem assim como os judeus carregavam a arca da aliança na conquista de Jericó e de toda a Terra Santa.

Em lugares diferentes recebeu títulos militares, de soldado raso a coronel do Exército brasileiro e nos respetivos santuários recebia também seu soldo, por exemplo Santo Antônio do Relento. Trata-se da imagem(1621) de Santo Antônio de Lisboa, do convento franciscano no Largo do Carioca, no Rio de Janeiro. Quando, em 1710, os franceses invadiram a cidade, a imagem do taumaturgo foi colocada à frente da igreja no relento com o bastão de general na mão e com o rosto virado para o combate. A vitória sobre os franceses foi atribuída ao santo protetor das armas portuguesas.

No dia 18 de setembro de 1710, Santo Antônio do Relento ganhou a patente de Capitão de Infantaria em um dos Terços da Guarnição Revista Santa Cruz -

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do Rio de Janeiro, com o soldo de 40 cruzados mensais. Mais tarde foi promovido por D. João VI a Sargento-mor da Infantaria(1810) e a Tenente-Coronel(1814).

Além da memória de Santo Antônio militar, santo da corte e do exército de Portugal, existem no Brasil: o pão de Santo.Antônio, a devoção mensal nos dias treze, as preces para encontrar objetos perdidos, as cartinhas para Santo Antônio e os recados do Santo para nós, as promessas a Santo Antônio Casamenteiro, a alegria das festas juninas e vários santuários.

Fato é que os colonizadores, com seu cristianismo guerreiro, não admitiam nenhuma religião, nenhuma devoção que não fosse a dos portugueses. Antes de serem embarcados para o Brasil, os escravos negros eram marcados com ferro em brasa, prova do pagamento do imposto real, e batizados com o sinal da cruz.

As relações entre a Igreja e o Estado era regidas pelo sistema do Padroado, como veremos mais logo. Havia poucos padres no Brasil e seu trabalho era principalmente na corte, nas universidades e na organização das infraestruturas da própria igreja. A maioria dos portugueses viviam um cristianismo de tradição oral. Além das festas natalinas, a Semana

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Santa e as festas dos padroeiros, havia os autos, folias, procissões, benditos, benzeções, provérbios.

Era uma religião integrada à vida cotidiana, sem o moralismo da Igreja da Contrarreforma que estava nascendo e se fortalecendo na Europa onde estas tradições populares já estavam sendo marginalizadas. Importante é observar que existia uma certa semelhança entre negros, caboclos e brancos pobres nas suas religiões quando não separavam vida e religião.

Exatamente isso causaria aproximação e integração.

O Santo Antônio da tradição dos pobres até hoje ajuda os vaqueiros para conduzir o gado. Contam que o próprio santo era amansador de burro bravo. Manoel Ferreira dos Santos explica: Santo Antônio, no tempo em que ele era homem, andava no mundo como nós mesmos. O emprego dele foi amansar burro. Ele era amansador de burro bravo, ele era peão. E por isso, ficou a oração dele.

Ele amansa também os homens.

Tem a oração para apartar uma briga: Santo Antônio de Guiné, Amansador de todo brabo.

Amansais fulano.

Que tá brabo, como o diabo.

Ele é protetor contra o inimigo da alma pela tradicional bênção de Santo Antônio "Fugi partes contrárias. Venceu o Leão de Judá!" O santo guerreiro do exército português protege o pobre contra a polícia, contra ladrão e assaltante.

Há pessoas que cortam a pele no braço ou nas costas para costurar dentro da carne um minúsculo Santo Antoninho de metal para obter sua proteção contra os inimigos e fechar o corpo para nenhum mal entrar. Dizem: Fulano tem Santo Antônio enterrado no corpo. Em algumas ocasiões, a faca de ponta é chamada "espinho de Santo Antônio". Uma oração contra arma de fogo diz: Hoje faz noventa dias Que eu rezei a Salve-Rainha.

e paz na guia; o sangue de Jesus (ou: o leite de Nossa Senhora) derramado sobre mim; a cruz de Jesus sobre mim; coberto com as 5 chagas; trancado com a chave do sacrário; coberto com o manto de Nossa Senhora; fechado no ventre de Nossa Senhora ou na barquinha de Noé.

Santo Antônio resolve muitos problemas. Tem histórias que contam que o Santo livrou da forca o seu pai inocente.

Bendito de Santo Antônio Socorro, Antônio, socorro - Socorro no continente Vem tirar seu pai da forca - Que ele vai morrer inocente

Entre o cão e a espoleta (peças da arma)

Levanta corpo morto - Pelo um Deus que nos criou

Está sentado Santo Antônio e a Virgem Maria.

Diga por sua boca - Se este homem me matou.

As orações contra os inimigos e para fechar o corpo não são exclusividade de Santo Antônio. Há outras dirigidas a Maria, aos doze apóstolos, a São João Batista, São Jorge, Santa Catarina, São Manso e São Marco, São Sebastião e à Virgem Santa Clotilde. São rezados o Salmo 90 e o Credo em cruz.

Nestas orações, encontramos expressões como: Jesus adiante

Este homem não me matou - Nem por mim ele pecou Antes na hora da minha morte - Ele me ajudou.

Me diga, padre mestre, - Onde é sua morada Mesmo que não posso ir lá - Mas mando lhe visitar.

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Sinto muito de meu pai - De não ser meu conhecido Me chamo Antônio Fernandes - Que de vós eu fui nascido.

De meu pai não quero nada - Só quero a vossa bênção Vou me embora pra Itália - Terminar com meu sermão. Às vezes, ele entra na vida das pessoas disfarçado como um menino ou um velho. Ajuda os pobres e prejudica o rico. Mas é preciso ter cuidado com ele.

Ninguém engana Santo Antônio! Ele é malino. Pode dar um namorado, mas depois faz o casal brigar. Ele faz cobrança das promessas feitas pelos seus devotos.

Castigo de Cisalpino Cisalpino morava em Araçuaí.

Certa ocasião, ele começou a trabalhar na lavra (mineração de pedras preciosas) e estava tendo sucesso. Então, para o negócio melhorar mais, ele fez uma promessa com Santo Antônio que, se daquela vez ele tirasse bastante pedras, partiria a metade com ele. Deu tudo certo. Ele tirou um balaio de pedras e tratou logo de ir embora.

Chegando aqui, ele foi parar na igreja. Chegou, ajoelhou-se diante

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da imagem do santo. Dizem que ele foi falando em voz alta, e pessoas que estavam por lá estranharam o caso: "Ó Santo Antônio!

Essa vez eu num dou vós não.

Numa outra eu dou. Ah! o senhor não come e nem nada..." Voltou pra casa todo feliz.

Num foi nada não. As pedras importavam em 60 contos naquele tempo e ele mandou o sócio dele vender as pedras fora. Até hoje ele não voltou. Foi homem e balaio com pedras para sempre, sem glória, amém.

Cisalpino adoeceu e ficou impressionado com essas pedras até que Deus o chamou.

História dos 500 Anos da Evangelização do Brasil

O cristianismo que veio da Europa foi imposto aos brasileiros, tanto no tempo da Colônia, pela cris-

tandade portuguesa, como no tempo da Independência e da República, pelo sistema tridentino da romanização. Vejamos: A partir do séc. XIII, existia na península ibérica o Padroado que é um sistema de alianças entre o Estado e a Igreja. Incorporado às três ordens militares de Cristo, Santiago e São Bento de Aviz, o rei era o chefe dos assuntos religiosos no seu reino pela bula "Praeclara Charissimi" (Papa Júlio III, 1551).

Especificamente pelo título de Grão-mestre da Ordem de Cristo, os reis de Portugal passaram a exercer nas colônias o pleno domínio político e religioso, mesmo no período da Independência. Por causa disso, a Igreja não tinha autonomia. Por exemplo: o rei tinha o direito de nomear e transferir bispos e padres. Aprovava ou não os documentos vindos de Roma. Portugal era um país sem protestantes e as reformas tridentinas não interessavam aos portugueses. Havia pouquíssimas paróquias e o clero local não tinha poder. No Brasil surgiu uma igreja organizada por irmandades de leigos brancos e negros em que o padre era capelão. As tradições orais eram importantes. As irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos compravam a liberdade de seus

associados e garantiam uma relativa independência também cultural. Com o fim da monarquia, no século passado, acabou o padroado no País. Fato é que, para os índios e para os negros, a religião e a colonização chegaram juntas.

A Constituição Republicana se-parou Igreja e Estado e obrigou a Igreja a ser uma igreja de "poder espiritual". Foi então que trouxeram e copiaram a igreja católica da Contrarreforma num Brasil onde não houve a Reforma (protestante). A nova Igreja era baseada no sistema de paróquias com o poder centralizado na mão dos padres e impôs ao povo brasileiro a cultura católica da Europa. O sistema eclesial baseado na atuação dos leigos nas irmandades foi eli-minado. Este episódio é chamado de "romanização". O negro, para ser cristão, havia de deixar de ser negro simplesmente. Não havia luRevista Santa Cruz -

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gar para a memória da África nem da escravidão. Os tambores passaram a ser proibidos no recinto da igreja e os reinados de Nossa Senhora do Rosário eram considerados uma brincadeira de mau gosto. Sobretudo a experiência religiosa dos ex-escravos não tinha vez. Estas coisas se tornam mais absurdas quando lembramos que quase a metade da população brasileira é negra.

Depois do Concílio Vat. II, surgiu um clima diferente que, através das reuniões dos bispos latino-americanos em Medelim, Puebla e Santo Domingos, veio chamar a nossa atenção pela pobreza do povo, pela religiosidade popular e pela inculturação.

A Devoção de Santo Antônio nas Tradições dos Bantos no Brasil As manifestações culturais dos negros bantos (originárias das colônias portuguesas de Congo, Guiné, Angola e Moçambique) são bem parecidas com o cristianismo e facilitaram a aproximação.

No caxambu, jongo, susa, çairé, Santo Antônio é festejado nas fogueiras das festas juninas. Naquele momento, juntam-se danças, cantos, tambores de origem africana a elementos religiosos da tradição oral portuguesa.

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No congado, nas festas e nos reinados de Nossa Senhora do Rosário em maio, agosto e outubro, notamos a presença da devoção antoniana em alguns cantos.

O senhor Waldomiro Gomes de Almeida, vice-presidente da Federação dos Congados de Nossa Senhora do Rosário, do Estado de Minas Gerais (1995), declara que, dentro da devoção ao rosário de Nossa Senhora, todos os santos são homenageados. Lembra até a existência em Belo Horizonte (MG) de uma guarda de Santo Antônio de Lisboa, no bairro Floramar, fundada pelo saudoso Rei-Congo do Estado de MG, Raimundo Nonato.

Também em Cordisburgo (MG), há uma Guarda de Marujos de Santo Antônio da Lagoa. Em diversas partes do interior de Minas Gerais, as guardas levantam a bandeira de Santo Antônio. Além disso, há pessoas que fazem a promessa de ser rei de Santo Antônio. Também pode tratar-se do Santo Preto, Antônio de Catigeró, às vezes confundido com Santo Antônio de Lisboa. Também as taieiras, no Estado de Sergipe, reverenciam Santo Antônio.

Constatamos que os grupos de negros de cultura banto acima não se autodenominam de "cultos".

Nas suas festas, Santo Antônio é celebrado, mas aparentemente

não se verifica propriamente uma identificação do santo com alguma entidade religiosa banto.

A Identificação de Santo Antônio Existem no Brasil manifestações diversas de cultura negra nagô/ iorubá/jêje, originárias das regiões do Sudão, da Nigéria e de Daomé.

Seus cultos conhecem mitologias elaboradas nas quais os orixás são uma espécie de divindades. Santo Antônio é identificado com vários orixás.

A cidade de Salvador (BA) foi a primeira capital do Brasil-Colônia.

Afrânio Peixoto escreve sobre os sant'antônios da Bahia: "É o maior de todos os santos, portanto o maior dos portugueses e brasileiros. Particularmente honrado na Bahia. Temos Santo Antônio da Barra: fortaleza e energia. Temos Santo Antônio da

Mouraria. Temos Santo Antônio de Além do Carmo. Na capital; no interior, tantos! No espaço; no tempo, Santo Antônio de Arguim, com a sua lenda. "Santo Antônio" de Arguim", por ter destroçado uma armada francesa que veio para atacar a cidade no fim do século XVI, já foi padroeiro da Bahia. No candomblé nagô em Salvador (BA), Santo Antônio é identificado com o orixá Ogun que é filho de Oduduá, rei de Ifé. Ogun é um guerreiro poderoso e destemido.

Seu símbolo é a espada. Ele vence as demandas. Seus rituais são realizados nas terças-feiras(!).

A saudação típica, pronunciada pelos adeptos, é "Ogunhê!". O filho de Ogun usa ao pescoço um colar de contas azuis. As roupas usadas pelo filho-de-santo em transe são a calça e saia azuis, a couraça, o capacete e a espada. Sua dança Revista Santa Cruz -

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ritual parece um duelo de espada.

Para vencer os obstáculos da vida, as pessoas buscam nele a força de quem molda o ferro. O "otá", a pedra onde foi assentada a força mística do orixá Ogun, é uma pedra de minério, ou pedaço de ferro. Abençoa principalmente os ferreiros e os que lidam com armas e ferramentas, os guerreiros e os agricultores. Seu fetiche é uma penca de instrumentos da lavoura em ferro.

Ogun é o orixá que julga uma situação e fornece elementos para Xangô executar a justiça. É também chamado Ogun de Ronda. Como Senhor das Estradas, protege os viajantes. Tem grande afinidade com Exu com quem se encontra nas encruzilhadas. Algumas das comidas oferecidas a Ogun são a feijoada e inhame assado. (No candomblé Ketu: fígado, coração e bofe de boi.) Animais sacrificados são o bode, o galo, o conquém.

Muitos terreiros possuem uma bonita imagem de Santo Antônio.

Um exemplo de como se dá essa identificação dentro da igreja

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acontece todas as terças-feiras em Salvador na Bahia, no convento de Santo Antônio. A este assunto voltaremos mais tarde quando falarmos da identificação.

Nos terreiros iorubá do culto xangô no Estado de Pernambuco, Santo Antônio (com o livro na mão igual a São Jerônimo) é identificado com Xangô, orixá do raio e da justiça, e com Aniflaquete, uma espécie de orixá (exu?) que chama os orixás da África para o Brasil.

No batuque do Rio Grande do Sul, é identificado com Exu, o anjo/mensageiro entre os Deuses e os homens. Exu abre caminhos e é encontrado nas encruzilhadas.

Diversas orações tradicionais de Santo Antônio dizem: "Ele nos guia no bom caminho". Exu leva recados e dá recados, como Santo Antônio.

Traz as respostas da adivinhação no jogo de Ifá. Sem Exu nada se pode fazer. Tanto protege como castiga, quando as pessoas não cumprem as obrigações. Isto nos lembra o Santo Antônio malino da fé dos pobres. Há outros cultos

em que Exu, com sua roupa preta e vermelha e com seu tridente na mão, é identificado com o demônio, o anjo mau.

A umbanda é um conjunto de cultos que misturam elementos africanos dos nagôs e dos bantos, porque os negros trazidos da África não conseguiram reencontrar os com-panheiros das nações de origem.

Na umbanda, no Rio de Janeiro, Santo Antônio é identificado com Bará, um dos títulos de Exu ligado ao destino individual, e com Verequete, orixá do raio e que abre caminhos para os deuses do seu grupo. Há um ponto (canto) de abertura (próprio de Exu): Santo Antônio é de ouro fino suspende a bandeira e vamos trabalhar.

Na umbanda de orientação espírita (desde 1930), distinguemse sete linhas, cada uma dividida em 6 ou 7 falanges de espíritos iluminados. Santo Antônio faz par-te da primeira linha que é de Oxalá (Jesus Cristo). Os chefesguia de suas falanges são: Santo Antônio, São Cosme e Damião, Santa Rita, Santa Catarina, Santo Expedito, São Benedito o Preto, e São Francisco de Assis. Os santos da linha de Oxalá, penetram nas

linhas de quimbanda (magia negra) para desmanchar "trabalhos" feitos para prejudicar as pessoas.

Isto fica claro num ponto (canto) de umbanda: Ó viva Deus(3x), meu maior amigo é Deus.

Pisei na pedra, a pedra balançou. mundo estava torto, Santo Antônio endireitou (Araçuaí. MG) Existem na umbanda vários pontos de amarração. Por exemplo: Santo Antônio é o Santo Maior Quem pode com ele é o Filho de Zâmbi Amarra e amarra, ó Santo Antônio Quem pode com ele é o Filho de Zâmbi.

Outro ponto de amarração: Caboclo da encruzilhada Santo Antônio ele é Amarrador de feiticeiro Com o cordão de sua fé.

Os cantos de amarração podem indicar alguma magia do amor, do outro lado sugerem o estilo das rezas obrigativas e bravas da Quimbanda (magia negra).

Segundo alguns autores, Santo Antônio é identificado com Erekê, Revista Santa Cruz -

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em cultos bantos de Guiné e Luanda.

E finalmente, na Casa das Minas em São Luiz, no Estado do Maranhão, existia antigamente, no dia 13 de junho, uma festa para Toi-poliboji, vodu da falecida mãe Andresa. Toi-poliboji é identificado com Santo Antônio. Em outras casas, provavelmente não por acaso, Toi-poliboji é identificado com o demônio.

Observação: É interessante observar que Ogun, em candomblés não baianos e na umbanda, é identificado com São Jorge.

O orixá Xangô, na maior parte das vezes, é identificado com São Jerônimo.

Há grupos que identificam Exubara com São Pedro que, com suas chaves, abre as portas do destino.

A umbanda costuma identificar Exu com o demônio.

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Identificação: O Que É?

A Bênção de Santo Antônio virou tradição especial em Salvador (BA) na igreja de São Francisco, no Terreiro (=Praça) de Jesus. Todas as terças-feiras, no final da missa, os frades dão a bênção com água benta e fazem uma distribuição de pão para os pobres nas escadarias da igreja. Entre os fiéis encontram-se muitos filhos-de-Ogun (do Candomblé) que, com muita fé, participam da solenidade. Depois, descem a Ladeira do Pelourinho, para começar a diversão noturna na praça. Há diversos frades que percebem a situação. Não gostam, mas não sabem que atitude tomar.

Também em Salvador (BA), realiza-se em janeiro a festa do Senhor do Bonfim (Jesus crucificado) num grande santuário (séc.XVIII), administrado pelos padres diocesanos. A festa demora dez dias e reúne seguramente umas 100 mil pessoas. O povo, vestido de branco (cor do orixá Oxalá), anda 10 km em procissão. As atividades religiosas podem ser compreendidas em três fases: lavagem das escadarias e do adro da Igreja pelas "baianas" (muitas são sacerdotisas no candomblé); culto ao Senhor do Bonfim por muitos identificado com Oxalá; festanças populares no Porto da

Ribeira. Dependendo do bispo, a igreja tem se pronunciado contra a festa. Os redentoristas criticam o uso da roupas brancas nas missas e pedem o povo para não misturar as coisas. Nos movimentos negros modernos, também encontramos lideranças que desejam separar candomblé e igreja e voltar às coisas como eram na África.

Para entender o cristianismo dos negros no Brasil e, especialmente a identificação, temos de deternos um pouco no tema: imposição e integração.

Há dois aspectos nesta questão: Quando os negros foram obrigados a confessar a religião dos

portugueses, os santos da Igreja e do Governo foram colocados no lugar dos orixás para enganar as autoridades e celebrar os cultos proibidos.

Do outro lado, deu-se uma espécie de integração entre orixás e santos populares no livre encontro entre os pobres negros e brancos nas casas de tambor-de-mina, candomblé, xangô, batuque e umbanda. Afinal, o culto é lugar da liberdade. É o último reduto onde os escravos, diante de seus Deuses, guardavam a memória da África e da escravidão e os símbolos de dignidade e resistência: coroas, cetros, espadas, machados, arcos e flechas.

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Essa liberdade é o elemento importante para entender a identificação como algo positivo. No Brasil, não somente os negros integraram elementos da cultura e da religião dos portugueses.

Também a religião luso-brasileira integrou elementos africanos.

Em outras palavras, há adeptos dos cultos que rezam nas igrejas e muitos católicos "praticantes" frequentam as casas dos cultos afro-brasileiros.

setembro, com São Jerônimo. Isto é, nos terreiros de umbanda. Além disso, nas casas do candomblé, um mesmo orixá pode apresentar-se como homem e como mulher, como acontece com Oxalá que é identificado com o Senhor Bom Jesus. Também pode chegar como um jovem ou como um velho. É o caso de Ogun Xoroquê, entidade que é Ogun durante seis meses do ano, e Exu (anjo mensageiro) nos outros seis meses.

Na identificação, não se trata simplesmente de trocar um santo por um orixá/vodu ou vice versa. O processo é bem mais complicado. É difícil distinguir qual é o santo popular e qual é o orixá. Nem sempre um orixá corresponde a um santo apenas. Por ex.: O orixá Xangô, rei de Oyó, senhor da justiça, e poderoso e violento dono dos raios e trovões, é identificado em março com São José, em junho, com São João Batista, e em

Outro fator que deve ser levado em conta é a figura do santo na religião católica dos pobres, no Brasil. Diferente da hagiografia moralista dos santos oficiais, o povo admira o santo pela sua esperteza, sua beleza e outras qualidades. Bem assim como faz a Bíblia, quando fala do patriarca Abraão na negociata com Javé antes do extermínio de Sodoma e Gomorra. Sua esperteza era motivo de orgulho para o judeu.

Também a história do rei Davi que, na sua idade avançada, dormia com uma moça jovem e bonita.

Ouçamos uma história do nosso Seráfico Pai São Francisco: Um dia estava São Francisco na sua casa comendo um pão. Aí ele sentiu a vontade de fazer as necessidades.

Com pouco estava São Francisco no mato atrás de uma moita.

Comia o pão, rezava, porque era santo, e ... cagava. O demônio viu

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tudo e resolveu fazer uma tentação ao santo. Chegou perto dele e disse: "Mas o senhor está fazendo muita coisa ao mesmo tempo. 'tá comendo, 'tá rezando e ..." - "Já sei!", disse São Francisco. "Mas o que tem? Estou comendo – é para mim. Estou rezando – é para Deus.

Estou cagando – é para você!"

Dizem que o demônio nunca mais voltou para atentar São Francisco.

Outras histórias assim existem de Santo Antônio.

Portanto, na identificação, não se trata simplesmente de um santo oficial trocado por engano ou para escapar da imposição da religião oficial.

Talvez valha fazer uma comparação.

No século IV, colocaram na festa romana do Sol Invicto no dia 25 de dezembro, o dia do Nascimento de Jesus Cristo, a Luz do Mundo. Será que houve uma identificação?

Será que houve gente que integrou à revelação divina pelo Sol Invicto (romana) a revelação divina em Jesus (judáica). Afinal, para muitos, o dia do sol (Sunday, Zondag, Sonntag) tornou-se o dia do Senhor.

Pistas Para Reflexão: Em meio à celebração histórica de Santo Antônio, somos confrontados com o Santo Antônio do mito.

Tanto na religiosidade popular de

origem portuguesa e vivida pelos pobres no Brasil, como nos cultos afro-brasileiros, encontramos um Santo Antônio que corresponde às necessidades atuais do povo mas que nem sempre coincide com o santo da história.

Em plena era de secularização, encontramos um santo presente na vida do pobre. Ele realiza milagres e castigos, abre caminhos, defende o povo contra os inimigos e tem a ver com justiça. Ele lida com o burro bravo e as vacas, e cuida da felicidade no casamento. Acha objetos perdidos e leva cartas a seu destino. Parece que a presença do santo na vida do branco português e a presença dos orixás e mesmo dos antepassados na vida do negro não são tão diferentes assim. Enquanto na igreja oficial a presença de Deus e do santo está em crise (nós mais falamos sobre Deus), o pobre fala com Deus e a linguagem dos cantos e das rezas é de encontrar, descer, baixar, vir com força.

A identificação de Santo Antônio com diversos orixás dos cultos afro-brasileiros nos desafia a refletir sobre assuntos como sincretismo e inculturação. O negro há de ser cristão sem deixar de ser negro. E nem Roma, nem tampouco o branco podem criar essa maneira própria de viver a Revista Santa Cruz -

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religião. As comunidades negras são os protagonistas legítimos da busca desta nova fé cristã, a partir da experiência religiosa atual do negro e dos seus antepassados.

As maneiras diferentes de celebrar e pensar entre pobres e ricos, entre brancos e negros nos obrigam a imaginar a vivência da união na diversidade do povo de Deus; há teólogos que propõem o termo "macro-ecumenismo" (não entre igrejas, mas entre culturas).

Motivos de crítica à igreja oficial são a hagiografia moralista, e a permanência de uma uniformidade cultural na liturgia, catequese e teologia. Causas da distância entre o cristianismo oficial e outras religiões são o abandono dos nossos antepassados (as almas), a quase ausência do rosto feminino de Deus. Além disso, para nós, a revelação divina não mais se dá através da natureza (florestas, rios, pedras), mas somente em Jesus Cristo. Todas estas coisas causam preconceitos e dificultam a compreensão.

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Conclusão: Santo Antônio, guerreiro do tempo colonial, e principalmente na sua forma popular de companheiro dos pobres na luta pela sobrevivência, é identificado com o orixá guerreiro Ogun no candomblé da Bahia.

Santo Antônio, que tirou seu pai da forca e defende os pobres contra os inimigos, é identificado com Xangô, orixá da justiça e do raio, nos terreiros do Estado de Pernambuco.

Santo Antônio, o mensageiro que, segundo a tradição oral, nos guia no bom caminho, é identificado com Exu, Senhor do destino e das encruzilhadas.