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Novo ano, novas dinâmicas e um novo alcance

Pensando no universo mais transversal da economia, O projecto O.Económico estende-se, a partir do O.Económico Weekend, para assuntos ligados à economia cultural, onde pretende vasculhar questões que cruzam as duas atmosferas sociais: a economia e a cultura. Aliás, a dinâmica global, e Moçambique não está isento, mostra o quão as manifestações culturais e projectos criativos são geradores de receitas e funcionam como uma verdadeira indústria.

De forma periódica e sistemática, vamos compulsar a volta dos eventos, iniciativas e hábitos que nos aproximem às indústrias culturais e criativas que se praticam no país e lançarmos um olhar às tendências internacionais, com o propósito, por exemplo, de inspirar o sector que em Moçambique está em franco crescimento.

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Neste número inaugural, não podíamos estar distantes ao Ponta Apart Hotel, um empreendimento de vulto que vem mudar os paradigmas da cultura e turismo na Ponta de Ouro, que, no ‘fim-de-semana dos heróis’, vai abrir-se ao público amante do jazz com um espectáculo que junta Jimmy Dludlu, Ótis

Alípio Cruz e Judith Sephuma.

Para além deste empreendimento, sugerimos aos leitores o saboroso ukanyi, a bebida que nos conta sobre a tradição de Fevereiro no sul do país e celebramos com o jovem que ganhou uma viagem a Amesterdão, Holanda, fruto do After Work da Heineken.

No panorama internacional, concentramo-nos no mercado de consumo, onde as tendências tecnológicas e a indústria automóvel tem forte influência nos produtos e serviços que atraem atenção dos cidadãos. Por exemplo, a Aple ensaia lançar novos Macbooks e a Toyota tenciona fabricar, neste ano, mais de 10 milhões de veículos.

Parece que este ano será de novas abordagens no que diz respeito ao automóveis. Primeiro carro electricado estará disponível nos finais deste ano. Na indústria alimentar, os vinhos, pela sua tradição secular, chamam atenção a todos. E aqui partilhamos os países maiores produtores desta bebida e fechamos com o lançamento de ‘Castelo di Solomeo’, uma marca de vinhos do empresário Brunello Cucinelli, conhecido como o rei do cashmere, uma importante companhia de moda italiana.

Boas leituras!

A propósito dos oito anos da tragédia de Chitima, onde morreram 75 pessoas na sequência do consumo da bebida local phombe, o escritor Juvenal Bucuane decidiu escrever um livro em homenagem aos moçambicanos que partiram sem nunca terem respostas sobre a sua derradeira dor, na hora da morte. O livro Phombe – um trágico 9 de Janeiro em Chitima será lançado ainda neste mês de Fevereiro, sobre a chancela da Editorial Fundza. No dia 9 de Janeiro de 2015, em Chitima, uma das localidades incrustadas à Vila do Songo, Distrito de Cahora Bassa, Tete, houve uma tragédia incomum, cujo eco teve drástica repercussão durante meses. Essencialmente, os postos de saúde locais viram-se inundados de gente de todas as idades e de todos os sexos, que buscavam socorro por um mal-estar generalizado.

A situação foi tão grave, repentina e inédita naquelas paragens que toda a ajuda tornou-se quase insignificante para tanta morte. Ao todo, foram 75 mortes. Recorrendo a factos reais, que marcaram um passado recente da realidade moçambicana e com repercussão internacional, entretanto com uma técnica de escrita próxima à ficção, Juvenal Bucuane propôs-se escrever um livro sobre a bebida local phombe, em homenagem às vítimas da tragédia de Tete. Segundo lembra o escritor, entre as 75 mortes houve várias pessoas internadas no Centro de Saúde de Chitima e no Hospital Rural do Songo. Enquanto se enterrava os mortos e tentava-se salvar os pacientes internados, o Governo decidiu impedir, por vários dias, a preparação, o consumo e a venda do phombe, pois, todas as mortes e internamentos estavam associados ao consumo da bebida. Tal interdição, constrangeu a muitos vendedores que encontravam na bebida fonte de receita.

Para Juvenal Bucuane, escrever sobre o fatídico dia 9 de Janeiro de 2015, em Chitima, significa homenagear todos aqueles que partiram sem saber por que morreram e, mais do que isso, o livro que será lançado neste mês representa uma tentativa de prender a memória colectiva de um povo. Por isso mesmo, o escritor com cerca de 40 anos de percurso literário partiu de

Maputo, cidade onde vive, para, em Tete, explorar uma história com contornos difíceis e imprevisíveis. “Veio-se a saber que os recorrentes à intervenção médica haviam ingerido phombe inquinado, confeccionado pela senhora Olívia Olucane N’Tefula, uma das mais respeitadas porque exímias fabricantes daquela bebida caseira fermentada. Para o deslinde das causas do inquinamento do phombe em causa, muito vasculhou-se, sob uma nuvem densa de mistério”, avança Juvenal Bucuane.

Uma das pessoas que morreu ao consumir phombe foi a própria produtora da bebida e vendedeira: Olívia Olucane N’Tefula. Tal facto, segundo Juvenal Bucuane, dificultou as investigações sobre o que poderia ter acontecido para que tanta gente sucumbisse. Com base nas amostras, os laboratórios moçambicanos não conseguiram apurar a verdade dos factos. A equipa envolvida recorreu ao conhecimento científico sul-africano. Igualmente, sem sucesso.

Tal como em 2015, no mais recente livro de Juvenal Bucuane aparecem diferentes versões sobre as possíveis causas da morte de 75 moçambicanos no Distrito de Cahora Bassa, em Tete. Entre o místico e o crime, houve, inclusive, pelo menos uma prisão. No entanto, a polícia soltou o suspeito de envenenamento por falta de provas.

O livro do escritor charrueiro, com efeito, esclarece mal entendidos e mergulha em questões de fundo rumo à veracidade dos factos que, inclusive, muitas semanas depois de tanta investigação, seriam esclarecidos por um laboratório norte-americano. A conclusão das análises feitas à amostra apontou a questões de falta de higiene como motivo das 75 mortes e internamentos ligados ao consumo da bebida local bem consumida na Província de Tete.

Phombe – um trágico 9 de Janeiro em Chitima é o título do segundo livro da autoria de Juvenal Bucuane chancelado pela Editorial Fundza. A primeira proposta literária do escritor pela editora é Masingita ou a subtileza do incesto, uma novela de amor e caos lançada ano passado, em Maputo, com desfecho dramático e trágico.

Ora, com Phombe – um trágico 9 de Janeiro em Chitima, Juvenal Bucuane devolve à realidade o que, se não soubéssemos que aconteceu, seria uma bela história de ficção.

“Matola Sundown” abre ano com cantora sul-africana Boohle

Quando o assunto é jardim, pôr do sol e animação é porque, sem dúvidas, estamos a falar de Matola Sundown in the Garden, ciclo de eventos mensais que no dia 4 de Fevereiro, no Parque dos Poetas, Matola, abre a temporada de 2023. A proposta que inaugura o presente ano é a talentosa sul-africana Boohle. Este evento, que se caracteriza por vibração electrónica cumpre com o propósito deste festival nos últimos três anos: o convite aos artistas sul-africanos dada a “febre” do ritmo amapiano nos últimos tempos.

De acordo com a produção, representada por Dilson Chaúque ou Dj Dilson, a cantora sul-africana Boohle é uma aposta certeira para o mercado que está a consumir efusivamente o ritmo amapiano, e acredita que é a melhor escolha para a satisfação dos moçambicanos neste começo de ano. Boohle é uma voz sobejamente conhecida em Moçambique e “dançada” em várias pistas de dança. Um dos seus últimos hits, “Hamba Wena”, em parceria com Deep London é disso prova. Mas do seu vasto reportório, pode-se mencionar sucessos como “Singili”, “Egoli”, “Siyathandana”, “Amawaza”, “Ngimnandi” e “Pilow Talk”.

É autora do álbum “Izibongo” (2020) e já coleciona alguns troféus na sua carreira. É vencedora de Melhor Amapiano de Novos Talentos e de Melhor Voz Feminina de Amapiano no South African Amapino Awards, em 2021, e, em 2022, sagra-se a Artista do Ano no Basadi in Music Awards, concurso musical sul-africano que celebra artistas femininas da indústria musical daquele país.

Para além da “cabeça do cartaz”, vários artistas nacionais e internacionais vão se juntar ao evento. Dj VIP, Bander, para além do próprio Dj Dilson, são alguns nomes de tocadores que vão garantir a festa por parte moçambicana e permitir a diversidade rítmica no evento que já se pressupõe um sucesso.

“Crónicas do Subúrbio” segue-se a “Moçambique, Sida e Hábitos Tradicionais” (20210) “Vida e Visão Empresarial de Salimo Abdula” (2013) como livros da autoria de André Matola, que é director editorial do Semanário Domingo.

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