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CONJUNTURA DE MERCADOS .PÁG

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RETROSPECTIVA DO 2º TRIMESTRE DE 2022

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O 2º Trimestre de 2022, foi, essencialmente, marcado pelo desenvolvimento da guerra Rússia-Ucrânia que teve o seu início em meados do 1º Trimestre, e a materialização de alguns efeitos desta. O impacto macroeconómico mais óbvio e imediato da guerra foi nos preços das commodities energéticas e alimentares, que exacerbaram os riscos de uma crise alimentar e energética mundial. Para além disto, verificou-se um incremento das perspectivas de abrandamento do crescimento mundial para 2022. Foi também observado o alastramento geográfico do nível de inflação, impulsionado, maioritariamente, pelas subidas expressivas das commodities energéticas e alimentares, tendo muitos países desenvolvidos atingido seus níveis mais altos de inflação em uma década.

No caso de Moçambique, a inflação homóloga subiu para 9.31% em Maio, nível este mais alto dos últimos quatro anos e sete meses, influenciada pelas razões supracitadas, pressões nos preços das commodities energéticas e alimentares.

Contudo, o 2º Trimeste não foi mal no seu todo, para Moçambique, o Projecto Coral Sul, na área 4 da Bacia do Rovuma, registou um marco importantíssimo no processo de produção do gás natural liquefeito, que foi da introdução de hidrocarbonetos na usina de Gás Natural Liquefeito flutuante, a partir do reservatório Coral Sul ao largo do país. Com este passo a Coral Sul FLNG estará pronta para alcançar a sua primeira carga de exportação no semestre que se segue, adicionando, efetivamente, Moçambique à lista dos países produtores e exportadores de GNL.

GÁS NATURAL

Perspectiva-se que vários agentes económicos serão positivamente impactados com o arranque da produção e exportação do gás liquefeito na área 4 da bacia do Rovuma ainda no decorrer deste ano, 2022. O Mercado cambial poderá ser um dos primeiros mercados a ser impactado por estas exportações, com um aumento de liquidez em moeda estrangeira na nossa economia, quer seja por transações entre os bancos comerciais e o público, quer nas transações entre bancos comerciais. Embora a expectativa seja grande, a realidade poderá ser bem mais moderada uma vez que os acordos estabelecidos entre o Governo e as petrolíferas não acautelam uma entrada de volumes elevados de receitas de exportação do gás, uma vez que uma parte significativa do volume que entrará em Moçambique será canalizado para os cofres do Estado por via do Banco Central. Ainda assim, espera-se uma marginal entrada do volume total das exportações, para alguns bancos comerciais com exposição ao sector.

Um fator que poderá ajudar a manter a expectativa viva, será a constituição do Fundo Soberano, que irá visar assegurar que as receitas de exportação obtidas sejam repartidas, através de investimentos, com o intuito de contribuir para a estabilização fiscal e isolar o Orçamento de Estado bem como a economia nacional das adversidades causadas pelas oscilações, adversas, dos preços do gás natural nos mercados internacionais.

PETRÓLEO BRUTO

Em relação aos preços do petróleo bruto (Brent), no 2º Trimestre, estes mantiveram-se em alta, mas, de forma, relativamente, estável, ou seja, sem oscilações acentuadas. Tendo este variado num canal ascendente, maioritariamente, entre USD 100-115 o barril, tendo quebrado/testado a fasquia acima dos USD 120/ barril, ainda assim, abaixo do nível mais alto registado este ano, de USD 127/ barril, em Março.

A relativa estabilidade dos preços do petróleo, entre os níveis de USD100115/barril, pode ser justificada pelo facto da China, que é um dos maiores importadores/consumidores de energia, ter entrado em confinamento, por volta dos primeiros dias de Abril até início de Junho, o que causou uma revisão em baixa da demanda por energia e que, consequentemente, reduziu a volatilidade dos preços dos combustíveis.

A pressão apreciativa dos preços dos combustíveis nos meses vindouros, continuará a ser, altamente, dependente do desenvolvimento do conflito Rússia-Ucrânia.

Sendo a Rússia um dos principais exportadores mundiais de petróleo bruto e gás, perspectiva-se o risco para o fornecimento destes produtos de várias frentes: sanções comerciais impostas a Rússia, a capacidade técnica de manter a produção aos níveis actuais, a decisão dos países europeus de parar de comprar energia da Rússia, e a recusa da Rússia em fornecer energia ao que se chama de “nações hostis” (total de 48 países). Com isto, podemos esperar que os preços da energia permaneçam elevados por mais algum tempo.

CRISE ENERGÉTICA: IMPACTO DO CONFLITO RÚSSIA-UCRÂNIA

O conflito geopolítico Rússia-Ucrânia agravou a tendência apreciativa do sector energético a nível mundial, mas sobretudo na Europa, isto devido a alta dependência da Europa pela Rússia para o abastecimento do gás natural. Este peso sobre a EU tornou-se evidente com o alto nível de desvalorização do euro apôs a invasão da Rússia na Ucrânia.

Pelas análises feitas, perspectiva-se que o Euro possa atingir o nível de paridade com o Dólar, ou seja EUR/USD= 1.0000.

De novo, o enfraquecimento do Euro dependerá largamente do rumo que o desenrolar da guerra Rússia-Ucrânia tomará, do quão eficazes serão as sanções impostas à Rússia, da rapidez e dimensão com que o BCE irá subir as taxas de juro de politica monetária e apertar a felixibilizção quantitativa ´Quantitative Easing´(QT), de modo a conter o alto nível de inflação e o risco de uma recessão que assola os países da Europa.

Caso a UE não chegue a um acordo com a Rússia, a situação do Euro poderá agravar-se em volta do fim do 3º Trimestre (Setembro) a início do 4º Trimestre (Outubro), altura em que a temperatura começa a esfriar, pois nessa altura a UE irá precisar de mais energia para os aquecedores domésticos, o que irá impulsionar os preços dos produtos energéticos de forma mais significativa, e em volta, desvalorizar ainda mais o Euro, a medida que mais unidades de Euro serão necessárias para comprar Rublos Russos para efectivar os pagamentos pelos produtos energéticos. Nessas condições, eventualmente, poderemos nos deparar com um Dólar mais caro que o euro, como EURUSD= 0.9780.

CRIPTOMOEDAS

Mais uma vez, presenciamos o preço da principal criptomoeda do mundo, ainda o bitcoin, caindo abaixo da barreira psicológica de USD 20,000 (suporte). Este é um nível importante, porque foi aqui que a maior transação desta criptomoeda começou anos atrás, em 2020, quando era na altura considerada uma área de resistência. Embora saibamos que as criptomoedas sejam uma classe de ativos bastante voláteis, uma queda na ordem de 60% em 6 meses é bastante.

Como o motivo da venda acentuada, observa-se a subida das taxas de juro, que redirecionaram os investimentos para os rendimentos de títulos de renda fixa (obrigações) atraentes, como alternativa, onde muito capital tem estado a ser investido recentemente.

Neste contexto, não nos deve surpreender a materialização de um declínio para a fasquia de USD 12,000, no segundo semestre, esta que foi a região do pico no período pre-pandemia, em 2019.

SEGURANÇA ALIMENTAR

O primeiro semestre de 2022 registou um rápido incremento dos preços de bens alimentares, e de escassez de alimentos em todo o mundo. As crises agravadas em diferentes partes do mundo foram causadas pela combinação de causas geopolíticas, económicas e naturais, como calor extremo, inundações e secas causadas pelas mudanças climáticas. Perspectiva-se que estes problemas, de forma composta, reduzirão os esforços que têm sido feitos para reduzir o problema da fome e desnutrição.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, os preços dos alimentos já se encontravam a níveis historicamente altos em Fevereiro do ano corrente, e a 20% dos preços no mesmo período, no ano antecedente (2021), portanto mesmo antes da invasão da Rússia na Ucrânia. A guerra, por sua vez, veio aumentar os preços dos alimentos para outros 40%, em

Março, em relação ao mesmo período no ano antecedente.

Para por as coisas em persectiva, embora alguns argumentem que a actual subida dos preços do trigo para €400/tonelada não estejam, directamente, relacionadas com a guerra Rússia- Ucrânia, pelos motivos supracitados relacionados as causas naturais, e pelo fato de existirem outros grandes produtores de trigo que possam compensar o deficit de fornecimento pela parte da Rússia e Ucrânia, o mundo não pode prescindir das colheitas da Ucrânia e da Rússia. Suas quantidades são simplesmente bastante significativas.

Contudo, persepectiva-se que o trigo não deverá estar em falta, pois existem reservas significativas. Estima-se, por exemplo, que a China tenha reservas suficientes para apoiar os países menos favorecidos de África, com suprimentos de alimentos. Cerca de metade dos stocks de trigo do mundo em seus armazéns. O Partido Comunista poderia assim aumentar a sua influência económica em África.

No entanto, teme-se que muito poder possa estar concentrado na China, criando assim espaço para a China explorar a crise alimentar global, em uma região específica.

Subidas exorbitantes dos preços do trigo, são sempre más notícias para o mundo, mas sobretudo para os países em desenvolvimento, especialmente para os países Africanos. Isto por conta do alto nível de dependência de importação desta commodity nestes países, e pelo facto das pessoas nestes países gastarem entre 60 a 80% das suas rendas em alimentos, portanto, se o preço do pão se tornar o dobro porque o trigo subiu de €200 para €400 por tonelada, o custo de vida da população pode se tornar insustentável, mais sufocante.

MERCADO BOLSISTA

A última sessão do primeiro semestre foi o espelho da evolução dos mercados acionistas em 2022, com os índices a sofrerem quedas acentuadas devido às preocupações dos investidores de que a inflação elevada vai pressionar os bancos centrais a uma politíca monetária agressiva que colocará a economia global em recessão.

Com isto, os investidores redicionaram os seus fundos, refugiando-se em obrigações com rendimentos/as yields de títulos de dividas soberanas. Isto por estas serem ativos mais seguros e mais rentáveis nesta altura de uma tendência de subida das taxas de juro de politica monetária.

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