11 minute read

Economic Briefing

O ÍNDICE DE ROBUSTEZ EMPRESARIAL COM SUBIDA MÍNIMA NO III TRIMESTRE

No sentido oposto, a tendência foi determinada pelo aumento de custos de produção, ainda que numa dimensão inferior ao registado no II Trimestre.

Advertisement

No computo geral os sectores registaram uma melhoria da performance empresarial no III Trimestre de 2022 , sendo que, do ponto de vista sectorial, os determinantes foram, para a agricultura, o pico da comercialização agrícola, que incluiu a comercialização no circuito normal e a realização de feiras de produtos agrícolas e a entrada em funcionamento de grandes empreendimentos agrícolas Relativamente a industria, os determinantes de performance, foram, designadamente, o incremento de vendas devido ao alívio de medidas restritivas e a relativa estabilização dos custos de produção. Nos transportes, foram o aumento do custo de combustíveis, a actualização das tarifas e a estabilização do custo de manutenção, que determinaram o desempenho deste sector.

Já para a hotelaria e restauração, o desempenho foi determinado pelo aumento devido ao aumento de eventos tanto privados como do Estado e pela melhoria da taxa de ocupação dos estabelecimentos turísticos

Foi, no entanto, o tema do financiamento as empresas que concitou o debate que se seguiu a apresentação do IRE do III trimestre de 2022, situação que está com uma tendência de agravamento devido ao aperto que se verifica na política monetária.

Sobre a situação os participantes, defenderam necessidade de medidas equilibradas por parte do Banco de Moçambique e o alargamento de opções de financiamento por parte de todo o sistema financeiro, mas não, como dos fundos públicos e, mais recentemente, a necessidade da materialização do fundo de garantia, anunciado no Pacote de Medidas de Aceleração Económica, PAE. “Na nossa perspectiva, este desempenho não foi mais pronunciado por conta ainda dos impactos da alta de preços de combustíveis, uma produção abaixo do esperado no sector de pesca devido a baixa operacionalização da frota devido aos altos custos operacionais e baixas capturas, e certa retração da procura face ao encarecimento do custo de vida”, explicou Agostinho Vuma, Presidente da CTA.

A CTA prevê que até o final do ano o desempenho empresarial mantenha a tendência de progressão. Contudo, prevê ainda a CTA, “o aumento do custo de financiamento, a manutenção das pressões inflacionárias, e a situação de instabilidade na província de Cabo Delegado poderão condicionar o almejado dinamismo na actividade empresarial”.

Agostinho Vuma, Presidente da CTA, disse na apresentação do IRE do III Trimestre que o cenário actual caracterizado pelo aperto das condições de financiamento para fazer face a alta de preços, merecem devida análise.

“Impõe-nos uma reflexão sobre a magnitude da tolerância para com a inflação, vis-a-vis a criação de condições para impulsionar o desempenho empresarial”, Disse Vuma.

Dando a entender reconhecer o trabalho que o Banco de Moçambique, tem feito no sentido de assegurar a estabilidade cambial, todavia, a CTA advoga que o mesmo devia ter uma atitude mais reservada nos ajustes que tem efectuado nas taxas de juro directoras do mercado. Conforme constata a CTA, “a prime rate que em Janeiro estava em 18,6% neste mês foi fixada em 22,5%, isto é, cerca 4 pontos percentuais de aumento”.

Em face da gravidade da situação a CTA, quer que haja um amplo debate franco sobre esta matéria, sobretudo, tendo em conta, o impacto significativo que se faz na tesouraria das empresas e na sua capacidade de expandir as suas operações, num contexto em que as empresas ainda procuram se refazer dos prejuízos causados pela pandemia da covid-19 e outras adversidades recentes.

Salim Valá - PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

MERCADO BOLSISTA CONFIRMA RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA

Intervindo durante o “Economic Briefing” promovido pela CTA, no dia 02 de Novembro corrente, em Maputo, no auditório do BCI, atinente a análise do “Desempenho do Sector Empresarial e Perspectivas Económicas”, o PCA da BVM, Salim Cripton Valá, defendeu que apesar das perspectivas económicas globais de curto e médio prazo serem marcados por incertezas, a manter-se a situação de desaceleração económica, com duas crises globais (COVID-19 e conflito no Leste Europeu) e haver risco de estagflação (combinação de crescimento lento e inflação elevada), registouse uma evolução positiva dos indicadores bolsistas, quer em relação ao período homólogo de 2021, quer ao 2º trimestre de 2022.

Com efeito, no 3.º Trimestre de 2022, a análise dos indicadores bolsistas face ao período homólogo de 2021 revelou uma evolução crescente, em particular o volume de negócios (+77,8%), e no indicador bolsista que lhe está associado, o índice de liquidez (+50,8%). Nesse período, a capitalização bolsista e o seu rácio sobre o PIB tiveram um crescimento de +17,4% e 14,7%, respectivamente.

Na óptica do dirigente da BVM, a economia doméstica tem estado a conhecer uma recuperação modesta desde 2021, com uma taxa de crescimento do PIB de 2,1 %, que incrementou para 4,3 % durante o 1º Semestre de 2022, uma melhoria assinalável se tiver-se em conta a retracção ocorrida em 2020, onde a taxa foi de -1,3%.

Salim Valá, nota sinais positivos de recuperação económica, cuja tendência epera que venha a manter-se, com o início da exportação do gás proveniente da plataforma flutuante no Rovuma, a retoma do apoio directo ao Orçamento do Estado pelos parceiros de cooperação, a implementação dos projectos energéticos na Bacia do Rovuma e em Inhambane, e com o dinamismo no agro-negócio, transportes e comunicações, turismo e indústria extractiva.

Salim Valá referiu que outros indicadores como o número de títulos de Dívida Corporativa (+42,9%), o financiamento ao Estado (+22,7%) e à economia (+22,6%), o número de títulos (16,4%) registados na Central de Valores Mobiliários igualmente evoluíram positivamente. O financiamento ao sector privado teve um crescimento de +22,3%, mas em termos absolutos continua muito abaixo do financiamento público. Para o PCA da BVM, “este facto evidencia as múltiplas oportunidades existentes para o sector privado recorrer ao mercado de capitais para se financiar”.

O 3.º Trimestre de 2022 findou com uma capitalização bolsista de 142.491 milhões MT, um rácio de capitalização bolsista de 20,86% sobre o PIB, um volume de negócios de 12.992 milhões MT, um índice de liquidez de quase 9,1%, um financiamento total à economia de 250.563 milhões MT, dos quais 204.984 milhões MT ao Estado e 45.579 milhões MT ao sector privado.

Salim Valá, disse na sua expanacao no “Economico Briefing” do III Trimestre, que dois aspectos constituem neste momento motivo de preocupação para a economia, sendo o primeiro “o facto de persistirem riscos e incertezas associados às projecções de inflação e a política monetária restritiva que retrai a procura de crédito”. O outro, disse, “tem a ver com o elevado potencial de crescimento económico do país, uma vez que a economia está funcionando muito abaixo do seu potencial”.

Face a estas circunstâncias, Salim Valá é de opinião que os empresários e investidores moçambicanos devem se empenhar na exploração as oportunidades económicas latentes, incluindo o uso do mercado de capitais como um mecanismo alternativo de financiamento das empresas, à um custo de capital relativamente mais baixo mas exigindo, em contrapartida, melhorias na governação e gestão das empresas.

Aléxis Cirkel - Representante do FMI em Moçambique

FMI VÊ OPORTUNIDADES CONQUISTADAS, MAS INCERTEZAS INTERNACIONAIS CRESCENTES PODEM SER UMA AMEAÇA

“Vivemos tempos interessantes no País, com muitas oportunidades conquistadas, mas com um pano de fundo de incertezas internacionais crescentes”, disse o Representante Residente do FMI em Moçambique Alexis Cirkel, a quando do último “economic briefing” da CTA, referente a robustez empresarial do III Trimestre de 2022.

Alexis Cirkel descreveu o momento actual como sendo de arrefecimento na dinâmica de crescimento global, e adianta: “Desde Abril deste ano, nossos colegas do departamento de pesquisa económica em Washington reviram em baixa o crescimento de 2022 em 0.35 pontos percentuais agora 3.2% e para 2023 já corrigiram o crescimento em cerca de 0.9pp para 2.7%.”

Para ele as correcções feitas reflectem eventos como a guerra russa ucraniana, as incertezas geopolíticas, as condições financeiras mais apertadas, preços bastante voláteis das commodities e ainda restrições relacionadas a COVID prevalecente em alguns países com peso significativo na economia global.

São condições, adversas, que têm pressionado os preços de alimentos, energia e transporte, com um impacto desproporcional nas camadas menos privilegiadas.

Alexis Cirkel, enfatizou o facto de a inflação a dois dígitos estar presente em 1/3 dos países, incluindo em algumas economias avançadas, situação que está a corroer o poder de compra e a aumentar o potencial de conflitos sociais.

“Hoje, cerca de 123 milhões de pessoas encontram-se numa situação de insegurança alimentar grave na nossa região”. Disse.

Não obstante a ter registado uma retoma de crescimento de 4.7 porcento em 2021, essa dinâmica perdeu bastante força e, traduz-se, hoje, numa expectativa de crescimento de 3.6 porcento para este ano, ao mesmo tempo que o fluxo de capital de carteiras de investimento se reverteu, provocando saídas líquidas da região e uma fuga para mercados vistos como “portos seguros”.

Referindo-se a situação especifica de Mocambique, o Representante do FMI, disse que “apesar das adversidades, Moçambique demonstra uma recuperação continuada”.

Como exemplos a corroborarem a sua afirmação, Aléxis Cirkel referiu-se a campanha de vacinação acertada contra a COVID-19, que atingiu cerca de 95% da população alvo, a gestão fiscal e macroeconômica que classificou de prudente, e a subida de preços das commodities de exportações importantes para o País, que impulsionaram a economia para uma trajectória de recuperação contínua.

“O crescimento de 4.1 e 4.6 porcento nos primeiros dois trimestres não demonstra somente uma excelente dinâmica, mas também a qualidade da sua composição alicerçado sobretudo, por bons desenvolvimentos no sector de serviços, agricultura, mineração”, Frisou Aléxis Cirkel.

O representante do FMI, disse ainda, referindose aos desenvolvimentos macroeconómicos mais relevantes num passado recente, que, a prudência verificada na gestão pública, permitiu fazer frente às pressões fiscais impostas pelos diversos choques que assolaram o País recentemente. Esta situação, disse, “rendeu sinais claros de confiança internacional – seja pelo programa acordado com o FMI, a retoma do apoio ao orçamento pelo Banco Mundial, a melhora na perspectiva do rating pela Moody’s e Fitch, entre outros”.

Moçambique cumpriu todos os indicadores quantitativos e estruturais estabelecidos no contexto da primeira revisão da Facilidade Alargada de Crédito e registou progressos nas reformas estruturais.

Referindo-se ao estágio do actual Programa do FMI com o País, o Representante do FMI em Mocambique, Aléxis Cirkel, foi perenptório afirmando que “todos os indicadores quantitativos e estruturais estabelecidos no contexto da primeira revisão da Facilidade Alargada de Crédito (ECF, na sigla em inglês) foram cumpridos e houve um bom progresso nas reformas estruturais”.

Sobre o futuro, o próximo do programa, a despeito de um ambiente macro-económico desafiador, Aléxis Cirkel, revelou que “as autoridades moçambicanas pretendem continuar a implementar a sua ambiciosa agenda de reformas económicas, incluindo uma lei de fundo soberano, as reformas da remuneração do sector público e da gestão de tesoureira para minimizar os atrasos nos pagamentos de fornecedores e a alteração da lei de probidade pública e do código de IVA.

“Os sinais actuais são bons, a perspectiva de longo prazo melhor, e mesmo assim todo cuidado e’ pouco”, disse Aléxis Meyer-Cirkel.

Na sua análise, colocando a perspectiva no médio prazo, o representante do Meyer-Cirkel, observa que as projecções actuais “preveem um crescimento médio acima do cinco porcento para Moçambique, um nível notavelmente superior à média da Africa Subsaariana. Essas projeções reflectem o início das exportações do gás liquefeito da plataforma flutuante, assim como a esperada retoma do projeto de investimento na península Afungi pela Total”.

Por ouro lado, “as expectativas positivas também reflectem prudência na gestão macroeconômica-fiscal, com um esperado retorno ao superavit primário em 2024 e uma esperada queda contínua do nível de endividamento público”

A despeito das perspectivas económicas de medio prazo optimistas, Aléxis Cirkel, alerta que “em um contexto de melhoria e de boas expectativas, os agentes económicos tendem a querer acelerar o processo e esperar mais apoio do Estado. No entanto, é muito importante navegar esse mar de incertezas globais com muita cautela”.

Na sua opinião, o Representante do FMI em Mocambique, é preciso “deixar o Estado mobilizar recursos domésticos sem aumentar desnecessariamente as despesas, manter o compasso de reformas, mesmo que algumas criem a necessidade de ajustes por parte dos agentes económicos”.

“A manutenção da boa gestão das finanças publicas e das reformas estruturais são um investimento de alto retorno para o país”, frisou Aléxis Meyer-Cirkel.

This article is from: