Quinta Edição

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Diretor: Filipe Resende | Diretores-adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade Edição nº5 (Março de 2013)—Jornal Mensal ExpoCarreiras 2013 Que relevância tem a ExpoCarreiras? Quais as novidades deste ano? Sabe tudo na FCH News d’O Académico

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Culturismo Nesta edição conhece a saga The Vengeance triology e o livro de Vergílio Ferreira “Em nome da terra” Págs. 10 e 11 Correio FCH O Jornal Público na Biblioteca e a falta de civismo e “Os meninos da Católicos vs. Os outros alunos” nas cartas desta edição.

Pág. 15 Question à trois Conhece Pedro Pereira, aluno da FCH e um jovem talento escritor

“Não sou professor, nem doutor, nem excelência ou eminência(…) O meu nome é Carlos” Grande Entrevista - Págs. 4 a 6 Opinião Não percas nesta quinta edição a opinião do antigo aluno da FCH e atual editor de política do Expresso, Martim Silva

Págs. 13

Págs. 8 e 9


2 | Editorial

Por aqui passaram talentos "O talento é um título de responsabilidade.” Charles de Gaulle

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Anos depois da fundação do curso de Comunicação Social e Cultural na FCH/UCP, sentimos a necessidade de tocar neste assunto pela importância que esta licenciatura tem no panorama atual da comunicação social em Portugal. Após alguns contactos com a primeira geração de alunos de comunicação, apercebemo-nos que a FCH não é apenas uma faculdade, é uma fábrica de talentos e de futuros profissionais. Hoje grande parte dessa primeira geração ocupa grandes cargos profissionais. São assessores de ministros, jornalistas ou investigadores consagrados. O Académico espera, a partir deste momento fazer um apanhado dessas duas décadas, com entrevistas, artigos ou mesmo reportagens. Nesta quinta edição temos dois exemplos dessa primeira formação prodigiosa de Comunicação Social na Católica: Carlos Calaveiras, atual professor de Comunicação Radiofónica e jornalista da Rádio Renascença e Martim Silva, prestigiado jornalista, que é hoje editor de Política do Semanário Expresso. Curso teórico ou não, a verdade é que Comunicação na FCH continua a ser um curso de uma Faculdade de Excelência dentro da Católica e no panorama nacional do ensino superior português. Esperamos nas próximas edições tocar neste tema e procurarmos estes atuais profissionais da Comunicação, de forma a entendermos a importância da nossa faculdade no panorama nacional e individual.

Para além da Comunicação, as outras Ciências Humanas na Católica também são muito valorizadas. O curso de Serviço Social é um dos melhores cursos a nível nacional. As Línguas Estrangeiras Aplicadas a mesma coisa e temos a certeza que daqui por alguns anos o mesmo vai acontecer com Psicologia, a licenciatura mais recente da FCH. Embora digam que existem outras faculdades melhores que a nossa, a verdade é que a FCH da Católica tem um prestígio que nenhum outro estabelecimento de ensino tem. Tem exigência, cria desafios aos seus alunos.

Mas cuidado, o talento não é sinónimo de curso superior na FCH/UCP. O talento é algo que se desenvolve. Como já nos disseram vários antigos alunos da FCH o talento pode ser a humildade que cada um tem em querer aprender mais e ser capaz de ser crítico relativamente ao seu trabalho. Como disse o ator Rui Morisson “Se nascemos com jeito para fazer coisas e não trabalharmos, nunca chegaremos a um nível pelo menos aceitável. Às vezes, sucede que um tipo com menos talento pode chegar mais longe.”


FCH News | 3

Expocarreiras 2013 Beatriz Isaac No tempo presente, em que conseguir um estágio, e mais ainda um emprego, se transformou numa quimera, urge reduzir (na esperança de radicar) o fosso entre o ensino superior e o mercado de trabalho. Neste sentido, surgiu a ExpoCarreiras, um evento promovido pela Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) que se apresenta já na sua 6ª edição. Nascido em 2008, este projeto visa fomentar a comunicação e a proximidade entre os alunos do ensino superior e o mercado de trabalho, com objetivo final de fazer chegar aos estudantes informações concretas sobre as expectativas e requisitos da esfera laboral. Para tal, a FCH solicita a participação de diversas empresas da área da comunicação (quer no campo do jornalismo, quer no das relações públicas, entre outros) que se deslocam ao campus de Palma de Cima para esclarecer os estudantes e oferecer oportunidades de estágio. Além dos objetivos já referenciados, procura-se ainda, com a ExpoCarreiras, promover a própria UCP, bem como a qualidade do seu ensino, que acompanha os seus alunos durante o processo de metamorfose e à saída do casulo

BREVE Inês Andrade na FCH A locutora da Cidade FM, vem dar uma palestra à FCH sobre a sua experiência em rádio. O encontro será no próximo dia 12 de março, a partir das 15:30 com lugar na AEFCH.

como competentes profissionais. Querendo inteirar-nos das especificidades da ExpoCarreiras 2013, entrevistámos a aluna de 2º ano do curso de Comunicação Social e Cultural, Miriam Andrade, que tem participado ativamente na preparação deste evento. Qual é a relevância deste evento para os estudantes da UCP? Este evento é extremamente importante para todos os alunos da FCH porque promove o intercâmbio entre o mundo do trabalho e o estudante, preparando caminho para o seu futuro profissional. As empresas estarão aptas para receberem os Currículos dos alunos, o que

poderá suscitar uma hipótese de emprego e, principalmente, de estágio. É uma oportunidade a não perder! Que novidades traz a ExpoCarreiras 2013? O tema abordado no próximo dia 5 de Março será o aluno e o mercado de trabalho. A ExpoCarreiras deste ano traz um toque de interatividade entre o aluno e o especialista, onde as duvidas que os alunos tiverem em relação à sua entrada no mercado de trabalho serão respondidas numa das conferências da tarde. Será uma boa forma de esclarecer as cabeças confusas e ansiosas de todos nós.

Bênção das Fitas da FCH No passado dia 14 de fevereiro ficou decidido em Reunião Geral de Alunos (RGA) que a Bênção das fitas vai ser composta por duas cerimónias distintas: um primeira evento com presença nas instalações da FCH, e a respetiva Bênção na Cidade Universitária juntamente com as outras universidades de Lisboa. Ao contrário da polémica discussão na rede social Facebook, após um dos membros da Comissão de Finalistas ter publicado o

aviso da Bênção, muitos dos alunos mais críticos não reagiram da mesma forma que nos comentários do Facebook tendo comparecido apenas 12 alunos.

Até ao momento contabilizam-se cerca de 60 alunos inscritos na Bênção, apurou O Académico junto da Comissão de Finalistas. A Bênção será no dia 18 de maio.


4 | Destaque

GRANDE ENTREVISTA

“Não sou professor, nem doutor, nem excelência ou eminência(…) O meu nome é Carlos” Filipe Resende

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le não gosta, nem tem “prefixos” no nome, como títulos de professor ou doutor. O seu nome é Calaveiras, Carlos Calaveiras, 40 anos. Há 21 anos foi um dos alunos a inaugurar o curso de

Comunicação Social e Cultural na Católica. Foi colega de turma de figuras como Ricardo Araújo Pereira ou Martim Silva. A sua maior paixão é a Rádio. Atualmente é professor de Comunicação Radiofónica e Jornalista da Rádio Renascença. Passaram pelas suas mãos

imensos talentos do meio radiofónico como Vasco Palmeirim, André Henriques e outros tantos radialistas conhecidos. O Académico foi conhecer este descontraído professor que pede para que não lhe tratem por tal:

empregabilidade elevada no setor. Estávamos em época de maré cheia, digamos assim e a maioria entrou nessa fase.

que fazia tudo. Fazia o programa, a informação. Também ouvia rádio de manhã à noite, a minha mãe tinha um rádio sempre ligado. Portanto quando acordava estava o rádio ligado lá ao fundo na cozinha. E ia para as aulas e vinha das aulas e ligava o rádio do carro. E descobri uma coisa gira. Quando era pequeno a minha mãe mandavame para a cama às dez da noite. Nós quando somos miúdos fazemos aquela “cowboiada” do “não quero ir, não quero ir” até que descobri que a Renascença tinha um programa à noite, que era às dez e meia, que se chamava “Bola Branca: Edi-

Foste um dos primeiros alunos de Comunicação na Católica. Sim. Fui dos primeiros a entrar e dos segundos a sair, digamos assim. Quem foi teu colega nesse primeiro ano de Comunicação? O Ricardo Araújo Pereira e o Miguel Gois, que foram para o humor. Agora no jornalismo há muitos. Na SIC há imensos. Na TVI há vários. No grupo da Renascença são dezenas. Mas nomes. O atual editor da noite da Renascença, José Pedro Frazão foi cá aluno. O editor da RFM da tarde Pedro Caeiro, também foi cá aluno. Fora do grupo Renascença, temos o Paulo Fernandes na M80, o Ricardo Sérgio na Antena 3, temos na Cidade FM a Rita Rugeroni, que acho que já está na Comercial. São tantos. Na televisão temos muita gente também. Temos o Martim Silva, editor de política do Expresso. Temos o Martim Avillez Figueiredo. Temos o Luís Costa Branco que estava na SIC e agora é editor do Sol em Angola. São imensos. São imensos talentos. Sim. Eu conheço melhor os dois primeiros anos. Tiveram todos uma

A rádio foi sempre o sonho da tua vida? Sim, foi a primeira “doença grave” que apanhei. Isto é um bicho que se desenvolve nas pessoas. Antes de vir para a rádio, eu brincava às rádios em casa. Tinha uma rádio pirata. Quer dizer, não era bem pirata porque nem ia para o ar. Era “Me, myself and I” como diz a música dos Gift. Tinha um nome que não posso dizer aqui. Mas era uma rádio em


Grande Entrevista a Carlos Calaveiras | 5

Carlos Calaveiras ção alargada da noite” e então a minha mãe mandava-me para a cama às dez. Eu aguentava aquilo um bocado e às dez e meia enfiava o rádio debaixo da cama com um auricular e estava a ouvir a Bola Branca sossegado. A minha mãe pensava que estava a dormir e estava a ouvir a Bola Branca, e depois ouvia o noticiário das onze. Mas graças à Bola Branca comecei a ir para a cama às dez e meia. Depois vim para a Católica, quis Comunicação Social e vi-me inscrever na cadeira de Comunicação Radiofónica. A “doença” foi-se agravando ao longo dos tempos. Na altura a cadeira era opcional e vimme para cá de véspera com um grupo de alunos porque tínhamos de garantir as vagas e portanto, a doença era tão grande que quase nos obrigámos a inscrever na cadeira. A coisa agravou-se. E nunca mais paraste… É verdade. Eles [professores] acharam tanta graça ao miúdo que não saía daqui [estúdios de rádio da UCP], que acabaram por me contratar para a Católica e depois para a Renascença. Foi quase simultâneo. Com quem é que já trabalhaste conhecido na rádio? O vosso professor Ramos Pinheiro foi o meu primeiro diretor de informação. Agora é administrador do grupo R/com. Agora fora o professor, já entrevistei ministros, não sei se conta. Risos. Se os ministros contam... Houve um ministro que me virou a cara a uma pergunta. O que foi simpático da parte dele. Fez-me um sinal que aquela pergunta não ia responder, e virou-me as costas. Foi engraçado. Com outra ministra, essa mais simpática. Eu cheguei atrasado ao serviço ao qual sou alheio e a senhora estava a sair quando cheguei. Falei com ela e disse-lhe:

“Doutora peço-lhe desculpa por ter chegado atrasado, importa-se de responder a umas perguntinhas rápidas? Eu sei que isto já acabou, mas é só para eu ter qualquer coisa para quando chegar à rádio.” E ela disse-me: “Ainda não almocei, estou quase a desfalecer, mas vá lá.” Foi muito porreira. Essa posso dizer quem foi. Foi a Dra. Maria de Belém. Foi impecável comigo e com uma outra colega que também se atrasou. Que jovens promessas já passaram pelas tuas mãos nesta disciplina de Comunicação Radiofónica? Suponho que tenham sido bastantes. Sim. Uma coisa que dá especialmente orgulho é ver ex-alunos desta cadeira em vários lugares. Ligar a televisão e estão lá, ou abrir o jornal e ver o nome. Ouvir as rádios e lá andam. É espetacular. É giro ver as pessoas que começam pequeninas e vão crescendo. Temos que ter qualquer coisa cá dentro. Não sei se é um bicho, nem sei o que é, eu chamo -lhe bicho. É qualquer coisa que depois vamos regando, para aquilo crescer e tornamo-nos bons e é espetacular ver as pessoas, mesmo fora do jornalismo. Temos excolegas nossos que hoje são assessores de ministros, temos tudo. É fantástico! Este curso, esta universidade abriu imensos horizontes a muita gente e deu emprego. E pelos vistos a empregabilidade continua alta, mesmo apesar da crise. Os alunos queixam-se que o curso é demasiado teórico e esta disciplina é um oásis. Nesse aspeto, ainda bem que é assim porque à partida os alunos gostam. Temos um bom feedback e recebemos as nossas avaliações e temos estado sempre acima da média. O que é bom saber, é sinal que os alunos gostam e que valemos alguma coisa.

Achas que os alunos que saem das universidades têm potencial na rádio? Claro! Ninguém nasce ensinado. Mas assim de anos para anos, há umas pessoas que aparecem e aquilo é inato nelas. Mas isso é como o Maradona no futebol. Ele não precisava de treinar, aquilo já vinha com ele. Há pessoas na rádio, como há em todas as profissões, que aquilo parece que já vem formatado. Mas 99% das pessoas que trabalham em rádio, aquilo é muito trabalho. Aquilo aprende-se, aquilo evolui-se. Não sais daqui, mesmo depois do curso, especialista em rádio. É preciso ires para um sítio onde vais avançando e melhorando. Vais aprendendo com os mais velhos, com as pessoas que lá estão. Como o próprio Professor José Patrício diz, 95% é trabalho e 5% é talento. Sim, é fundamental. Tens que ser humilde. Tens que querer aprender. Tens que ouvir os mais velhos. Tens que levar na cabeça. Tens que apanhar secas à porta da Procuradoria, ou dias e dias atrás de certas pessoas. Por exemplo eu estou agora há dias e dias atrás de uma pessoa que não me atende o telemóvel, e quando me atende diz que está ocupada. Andamos nisto. Quando é preciso, temos


6 | Destaque

que ir buscar o almoço a alguém ou comprar cafés e cigarros. Se me dissesses dá-me aí três ingredientes fundamentais diria, vontade de aprender, humildade de ouvir os mais velhos e força de vontade, são três coisas fundamentais para esta e para outras profissões. Porque essa frase do “Aí tenho uma grande voz” Isso não é nada. As pessoas da rádio têm que ter a capacidade de ter uma boa comunicação, expressividade, trabalho, vontade e humildade. Conhecemos o Carlos de Comunicação Radiofónica. Como é o Carlos da Rádio Renascença? Risos. Isso só vendo, podes fazer-me uma entrevista lá. Eu tento ser a mesma pessoa, é isso que eu digo na primeira aula que não sou professor, nem doutor, nem excelência ou eminência. Tu até dizes que não tens prefixos no nome. Não. O meu nome é Carlos e portanto tento estar à vontade. O professor Patrício costuma dizer que nós estamos à vontade, o que é diferente de estarmos à “vontadinha”. Portanto são coisas diferentes. Eu aqui tento ser o mais igual a mim próprio. Tento ser eu próprio. O Carlos da Renascença é igual ao Carlos da Católica sendo que na Renascença diz mais umas asneiras. Porque lá é a sério e com maior pressão, é complicado quando as coisas estão acontecer no momento. Quando me dizem para ter determinada coisa na hora, temos que ser rápidos a reagir. Aqui na Católica tentamos por pressão mas não conseguimos chegar ao mundo real. Às vezes é difícil gerir isso tudo. Que grandes acontecimentos já testemunhaste na rádio? Ui! Não sei quanto tempo tens, mas posso estar aqui horas a falar sobre isso.

Então os momentos que te vêem assim à cabeça. Olha lembrei-me de um que estamos quase a repetir, a mudança do Papa. Quando morreu o Papa João Paulo II eu estava na Rádio. A Renascença é a emissora católica portuguesa e o que posso dizer-te que o Papa morreu num sábado, dia 2 de abril de 2005. Há datas que sei de cor! O papa morreu num sábado e nós entrámos em alerta vermelho na quarta-feira à noite, três dias antes. As folgas foram cortadas às pessoas, foram reforçados os turnos. Apanhei a morte do Papa, apanhei o conclave, apanhei a escolha do Papa Bento XVI, apanhei a queda da ponte Entre -Os-Rios. Fiz essa noite e madrugada. Apanhei o 11 de setembro. O primeiro avião ainda estava em casa, o segundo avião estava a sair de casa. Entrei na rádio às 15 horas e saí às 8 da manhã do dia seguinte. Apanhei as duas eleições do Barack Obama. Todos os atos eleitorais portugueses, eu estava presente. Incluindo a demissão do engenheiro Guterres, do engenheiro José Sócrates. Falhei agora precisamente a resignação do Papa Bento XVI. Apanhei a segunda Guerra do Golfo. Nessa também estava de prevenção assim que o saudoso Carlos Fino deu a notícia, eu estava na cama mas calçado e vestido e foi só sair de casa e ir para a rádio. De quem trabalha contigo, os que vieram da Católica estão mais bem preparados? Depende, vamos tentar ser sinceros. Eu acho que nalgumas coisas sim, noutras não. Ou seja naquela coisa que se chama a teoria e isso engloba a cultura geral, acho que a Católica está à frente de todas. Naquela coisa do “estás pronto para ir fazer jornalismo”, já uma coisa prática, aí penso que há universidades melhores que a Católica. Em termos de à vontade prática, acho que a Católica não está à frente, não estou a dizer que está em último. Mas lá está, isto é um equilíbrio.

Em todas as grandes entrevistas que fizemos temos sempre uma pergunta “bombástica” e a nossa pergunta para ti é… Meu Deus! Andaste numa universidade Católica, trabalhas numa rádio católica e a que pergunta que fazemos é :és católico? Eu sou aquilo que se designa um católico não praticante. O que quer isto dizer? Eu tive educação católica, como 99% dos portugueses. Sou batizado, fui à catequese, os meus pais são católicos e educaram-me tudo isso. Agora se me perguntas se vou à missa, normalmente não vou. Se calhar é neste momento que vou ser despedido. Vão rescindir o contrato, mas sim tenho uma educação católica e tenho essa formação na minha vida.

“Naquela coisa que se chama a teoria e isso engloba a cultura geral, acho que a Católica está à frente de todas.”


Opinião | 7 CONVIDADO ESPECIAL

Muito mais que uma universidade… Martim Silva Editor de Política do jornal Expresso

F

oi há 21 anos que pela primeira vez subi as escadas que dão acesso ao edifício principal e mais antigo da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. Eu e uma centena de outros jovens olhávamos então com esperança e ansiedade as pautas com as notas dos exames de acesso ao 1º ano do curso de Comunicação Social (e Cultural) da Católica. Eramos novos na Universidade. Como novo era o curso, que se estreava. Depois das áreas mais tradicionais de ensino na Católica, como o Direito, a Economia e Gestão e a Teologia, a Universidade abria-se ao jornalismo. Isto acontecia precisamente no momento em que em Portugal explodia a comunicação social privada. A SIC estava quase a nascer, a TVI seguialhe os passos meses depois. O Público tinha nascido havia pouco tempo, o DN e o JN tinham sido privatizados. Era um momento de esperança. Um momento de todas as esperanças… Aliás, Portugal era considerado o bom aluno da Europa, o dinheiro comunitário entrava no país e a fatura parecia que nunca iria chegar. Duas décadas depois, vocês, que subiram como eu as escadas de acesso à UCP cheios de ilusões e energia, têm um país

“Eu e uma centena de outros jovens olhávamos então com esperança e ansiedade as pautas com as notas dos exames de acesso ao 1º ano do curso de Comunicação Social (e Cultural) da Católica.” e um mundo muito diferentes. A democracia generalizou-se no mundo, e a globalização faz crescer países… mas noutros pontos do mundo. Cá dentro o que se sente é tudo menos otimismo: é a crise que não há maneira de ir embora, os empregos que não regressam, o crescimento económico que se transformou numa quimera. A questão já não é tanto o sítio para onde vão quando tiverem o canudo, mas se vão ter um local para onde ir… A comunicação social vive essa angústia diariamente. O mercado publicitário retraiuse fortemente, com uma diminuição considerável das receitas que se sente em todo o lado. Começando nas televisões, mas passando fortemente pela imprensa e rádios.

O mote da generalidade dos órgãos de comunicação social já não é saber como fazer o mesmo com menos recursos. Agora, é fazer menos com menos. Ponto final. Ao mesmo tempo, e numa suprema ironia, nunca se consumiu tanta informação, nunca se produziram tantas notícias, nunca se leram tantas novidades como agora. É verdade, também há notícias boas, ou pelo menos, notícias que permitem manter a esperança. A internet é global. Está no mundo inteiro, em todo o lado e a toda a hora, e está também nas nossas mãos, com os telefones de última geração e aparelhos como os tablets. Estamos todos ligados e a informação é cada vez mais


8 | Opinião

imediata, instantânea, e com maior dificuldade da manutenção do papel de mediação do jornalista. Esta sociedade global das redes de informação é a vossa sociedade. Este é o ar que respiram. E vocês são os atores e protagonistas que se seguem. Serão vocês a estar ao comando, sejam jornalistas ou trabalhando em qualquer outro lugar ligado à comunicação e à sociedade da informação global. Daqui a duas décadas serão vocês os líderes de opinião, os jornalistas que definem a agenda, os comunicadores que definem as tendências. Serão vocês os “ricardos araújos pereiras” (meu colega no primeiro ano do curso), serão vocês quem vai estar a pilotar as redações deste país, como hoje estão antigos alunos da Católica, seja na SIC, no Público, na Rádio Renascença ou na Sábado. Ou no Expresso, obviamente. Tenho imenso prazer e mesmo orgulho em ter feito parte da primeira fornada de “católicos” de comunicação social. E tenho a profunda convicção que daqui a vinte anos vocês pensarão o mesmo. A Católica é uma excelente Universidade, que se mantém no topo do que melhor se faz em Portugal há décadas. E a Católica são os professores, são os funcionários. Mas são sobretudo vocês, o futuros trabalhadores e empresários deste país. Há vinte anos recebi conhecimento e informação de professores como Braga da Cruz,

Adriano Moreira, Pedro Magalhães, José Luís Garcia, Adérito Tavares e tantos outros que recordo com carinho. Recebi ensinamentos de rigor, exigência e excelência. Mas também recebi uma nova família que ainda hoje chamo minha.

“Isto

P.S.: agora aqui para nós que ninguém nos ouve, digam-me uma coisa, as tertúlias no bar ainda são tão divertidas e intensas como eram?

acontecia precisamente no momento em que em Portugal explodia a comunicação social privada. A SIC estava quase a nascer, a TVI seguia-lhe os passos meses depois. O Público tinha nascido havia pouco tempo, o DN e o JN tinham sido privatizados.”


Crónica | 9

Cama Diogo Lopes

A

bre os olhos, devagar, deixando lentamente, a penumbra do nascer do sol, dar vida às íris de cor verde que lhe dão o mundo. Que lhe dão ela. Esta a descansar ainda. Um anjo num nenúfar de linho branco, engelhado, impressão digital que revela o que se passou durante a noite. Na noite que durou mil noites. Mas ele não a olha logo, tem medo, medo de se aperceber de que tudo não passou de um sonho bom. Olha para o mogno pesado da cómoda que sustem um velho espelho, testemunha do verdadeiro eu que ele guarda dentro de si e que mais ninguém conhece. Um eu que chora, que dança e que faz caretas. O seu olhar vai subindo pelas linhas de madeira que fazem o móvel até que se detém no velho espelho. Não reconhece o que vê. Os traços que limam o seu rosto mantem-se, já os conhece de cor, mas a sua expressão hieroglífica não se assemelha a nada do que já viu. Olha para o seu reflexo, sarapintado por autocolantes que nascem pela superfície gelada do espelho, e vê o que esperou anos por ver. Vê o que o fez enlouquecer de desespero e esperança ao mesmo tempo. Vê Amor. Recíproco, genuíno e sem fim. Quase que nem consegue aperceber se disso... Disso que leva pintado na cara. Disso que nasceu do universo de sensações que está ali, deitado, ao seu lado, a respirar pequenas lufadas de eternidade no seu pescoço. Ela. Tudo. Com a subtileza de quem engana linhas de chuva fugindo pelos seus intervalos, destapa-se, lança com mil cuidados de veludo as pernas quentes para fora da cama e senta-se. Olha o espelho de novo. Vê o sol que cada vez cresce mais na sua cara. Sorri. Levanta-se e fica de pé. Com a cama nas suas costas. A olhar se ao espelho. O velho espelho. A sua cara feliz. Respira fundo e vira-se para ela, a ternurenta ela. A razão pela qual o mundo gira esta ali, à sua frente, com uma gasta camisola de lã que ele usa inverno após inverno, entrelaçada nos lençóis de amor que tem para lhe dar. Cobririam o mundo inteiro, o univer-

so inteiro. E ele sorri de novo. Sorri muito. Quer partir os maxilares só para poder sorrir ainda mais. Meu Deus, ela está mesmo ali. Ele quase que nem consegue acreditar, mas é verdade. Ela está mesmo ali, deitada, de olhos carinhosamente fechados, com um sorriso de favos de mel. Ela está ali. Com passos de calma e cuidado, ele atravessa o mar de madeira que forra o chão até chegar ao porto seguro que observa com amor desde que acordou. É perfeita. Tudo nela o é. Desde os seus pés de desenho cuidado, que espreitam, sorrateiramente, pela ponta da manta de lã que a protege, até ao seu cabelo castanho, curto, luminoso, que leva em si os cheiros do paraíso. Tudo é a perfeição. E ele continua a caminhar até ela. Chegou. Ao lado da cama onde o futuro feliz dormita. Tem-na exatamente à sua frente. O seu corpo e ela, em suspensão, preso num momento de total graciosidade. Um anjo a descansar. E o sorriso continua agarrado de unhas e dentes àquela cara cansada, gasta. Ele flete as suas pernas junto à extremidade da cama que flutua diante de si, uma nuvem, e fecha os olhos. Fecha-os e quase que vê mais ainda. De repente, o entrelaçado de sensações, cheiros, imagens e sonhos que jorram daquele amanhecer, daquele novo dia, fazem-no estremecer por dentro. As suas costas são rasgadas, de cima a baixo, por um fulminante arrepio.

Um arrepio diferente dos arrepios normais. Não vem do frio ou do medo, vem do fogo que o amor deixa como rasto quando vagueia por um corpo simples, adormecido, dormente. Um arrepio de recomeço. Assim, alimentado pela brisa de uma nova vida, de uma nova esperança, ele aproxima-se dela, do seu corpo, da sua cabeça, do seu brilho. Ainda agachado de encontro às arestas da cama, deixa o seu braço baloiçar pelo ar até cair em torno dela. Outro arrepio. Aproxima a sua cabeça da dela, e como se fosse dar um trago numa bebida quente, deixa os seus lábios tocarem na face quente daquela que o faz respirar. Beija-a. Com ternura e leveza. Com carinho, com cuidado, com tudo. E o mundo nasce de novo. Um Big Bang num quarto na penumbra. Pousa a sua face na dela, fecha os olhos com muita força, com a força de quem se quer agarrar a um futuro bom. Quer aquilo para sempre. Quer aquilo até ao fim. Tanto querer, tanto sentir, tanta coisa, tanta coisa que leva agora consigo, todo ele é combustão. Combustão de tudo de mau que levava, pesadamente, às costas. Tudo isso se incendeia e faz libertar o que usará para construir a vida que quer partilhar com ela. Encosta os seus lábios na orelha dela, deixa-os suspensos por entre a cortina de veludo que é o seu cabelo, e solta-se. "Sempre esperei por ti."


10 | Culturismo

CINEMA

A trilogia da vingança (2002-2005), Park Chan-wook Inês Correia Há um ditado chinês que diz “Antes de embarcares numa viagem de vingança, cava duas sepulturas”. Este ditado, irá ser essencial para entender a obra do realizador. A trilogia de Park Chanwook não apresenta seguimento mas é contudo unida por um tema, facto que lhe valeu a atribuição do título “A trilogia da vingança”. As suas personagens implacáveis buscam pelo restauro da honra e pela aplicação do castigo. “Tu até não és mau rapaz, mas sabes porque tenho de te matar”, diz uma das personagens de Park. Percorram comigo esta saga que viaja por caminhos de justiça, crueldade, fé e karma, até chegarmos à reposta para a pergunta, “valerá mesmo a pena?” Começamos com Sympathy for Mr. Vengeance (2002), onde um rapaz surdo-mudo trabalha numa barulhenta fábrica. Fará tudo ao seu alcance para conseguir arranjar um rim para a sua irmã doente, até mesmo raptar uma criança de modo a conseguir o resgate. Contudo, há algo que corre mal. O segundo filme da saga e o mais aclamado mundialmente é Oldboy (2003). Um homem é preso durante 15 anos sem saber porquê. Oh Dae-su é libertado e é-lhe

dito que tem apenas 5 dias para decifrar o seu cativeiro e obter a sua vingança. Em Lady Vengeance (2005), o terceiro filme, entre tons de branco e vermelho, pureza e luxúria, é a vez de Geum-ja, a belíssima protagonista feminina brilhar. Juntando os temas recorrentes dos outros dois filmes, Geum-ja é tramada por um rapto e a morte de uma criança. Aguarda calculosamente os treze anos na prisão feminina criando futuras aliadas e traçando o seu plano. Em três filmes, três diferentes pontos de vista: Mr. Vengeance lida com a futilidade da vingança; Oldboy trata-a como uma experiência espiritual e Lady Vengeance lida com a sua absolvição. Três casos de pessoas normais que levaram este ato ao seu extremo mais poético e psicótico.

“Quando um herói decide vingar-se, a sua até agora tediosa vida acaba e ele renasce como uma pessoa completamente diferente. Com a conclusão da vingança à vista, o herói tem de enfrentar o facto de que o prazer até esse ponto terá de chegar a um fim. Os meus filmes são as histórias de pessoas que culpam os outros pelas suas ações porque se recusam a culpabilizar a elas mesmas”, diz o realizador. Os temas de vingança e destino trágico são entrelaçados de tal maneira que nos anestesiam. Apesar de não haver heróis ou vilões, cada personagem tem direito ao seu destaque e as motivações para as suas ações são lentamente reveladas, justificadas e depois completamente destruídas à medida que o destino interfere para levar tudo a um ponto de completo desamparo e inutilidade.


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LITERATURA

Em Nome da Terra, de Vergílio Ferreira (1990) Susana Gil Soares A mensagem subjacente nos três filmes, parece ser que a vingança nunca acaba por trazer paz, só leva a que as personagens se sintam não realizadas ou a que acabem ainda pior do que começaram. O realizador utiliza técnicas inovadoras cheias de estilo acompanhando atos horripilantes com esplendida música clássica: está criada uma experiência memorável. As cenas chegam a ser tão improváveis e mesmo absurdas, que não há outra opção se não rir. Uma violência sádica e muito, muito negra com que o cinema europeu não lida tão frequentemente. Os filmes não são para uma tarde de domingo com a família. Há partes muito violentas e os temas são emotivos. Mas tal como diz o realizador, para uma experiência que evoque passividade, mais vale ir a um Spa. Esta é uma saga que vale a pena ver e rever e apreciar a beleza de cada imagem de um filme como hoje em dia há tão poucos.

“Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever. Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes”. Começa assim este romance de Vergílio Ferreira. Amor em forma de livro ou livro em forma de amor. João é o narrador que escreve a Mónica, a esposa já falecida. A ela escreve do envelhecimento e da degradação do corpo utilizando uma fórmula quer crua quer humana e fala sempre, sempre do amor, do mistério que o próprio homem representa. “Porque a grandeza ou a miséria de um homem está fechada à chave mas ninguém sabe quem tem a chave”. Da primeira à última página, a ternura e a crueza andam de mãos dadas numa escrita fluida mas que se sente triste e amaciado pela memória de Mónica. João, isolado, vai percorrendo os seus pensamentos, a sua vida com a mulher num momento de introspeção e solidão. E toma a primavera como estado ideal. “É primavera e não me apetece sair dela, é a terra natal de todos os sonhos da vida, mesmo que lá não tenha nascido nenhum. Porque os grandes sonhos não são deles mas do tempo em que devem ser. Os grandes sonhos só nascem depois de terem morrido”. Publicado em 1990, dois

anos depois, Vergílio Ferreira foi galardoado com o prémio Camões como culminar de uma carreira de um escritor brilhante. Neste, como em outros romances, foca o silêncio, o abandono e a própria condição humana. “Só eu hei-de saber o teu mistério, só eu saberei o teu ser” ou “A um olhar sem piedade o homem é tão caricatura do homem”. Faz várias reflexões sobre o “Eu”, próprias da corrente existencialista, em que João toma a palavra e escreve sobre ele e sobre Mónica. No final, “Eu te batizo em nome da Terra, dos astros e da perfeição. E tu dirás está bem.”

Em Nome da Terra, de Vergílio Ferreira, Bertrand Editora,15.93€


12| (Des)focado

Manifestação "Que Se Lixe a Troika" no dia 2 de Março Fotografia Por: Gonçalo Fonseca (500px.com/goncalofonseca)


Question à trois| 13

Pedro Pereira: Um jovem talento escritor

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Diogo Lopes

screver. Escrevemos milhões de palavras durante a nossa vida toda. De trabalhos de casa a contratos de trabalho. Das coisas mais importantes às mais banais, desenhamos letras praticamente durante toda a nossa vida, mas poucos conseguem transpor a

Desde quando escreves? Como começaste? Escrevo desde os doze anos. Lembro-me da data pois foi quando saiu o filme “Senhor dos Anéis.” Ao mesmo tempo estava a ler os livros e pensei para mim mesmo: “Estou sempre a imaginar mundos e personagens porque não fazer o mesmo?” Escrevi vários manuscritos inacabados desde essa altura, alguns com menos de vinte páginas outros com cento e poucas.

Em que baseias o que escreves? Nas vivências e nas não vivências. Tento sempre incluir parte da minha “voz” no que escrevo, seja um ideal ou uma opinião contudo procuro sempre retratar vidas ou situações, mundos que nunca irei conhecer. Uma busca por paisagens, pessoas e momentos que podem nunca vir a acontecer, tento capturar em palavras o melhor que posso e assim sinto-me mais completo

barreira do direto e imediato significado do que aparece no papel à nossa frente. Poucos conseguem criar sensações, imagens e às vezes até pessoas na nossa cabeça unicamente através de a’s, o’s ou u’s. Abençoados são os que conseguem dar-nos tudo isso através daquilo que criam com tanto carinho e, com trabalho, imaginação e sensibilidade,

Entre nós, alunos, temos um exemplo desses: Pedro Pereira. Um jovem escritor que já faz magia de caneta na mão desde os doze anos e que vai demonstrando vezes e vezes que promete muito mais. Com dois romances praticamente feitos, e com os prémios Leya a chamarem por si, decidimos ouvir o que ele tem para dizer.

como se tivesse vivido mais do que posso no quotidiano. Em suma: Escrevo sobre o que não vivo, aquilo que desejo viver e aquilo que já vivi. Tudo num pequeno pacote de palavras que procuro expressar da melhor forma até ir de encontro aquilo que eu sinto.

Perspetivas para o futuro? Continuar a escrever ao mesmo ritmo (1000 palavras por dia durante a semana, 4000 por dia aos fim-de-semanas), procurar acabar umas quantas histórias curtas que estão atrasadas, procurar uns concursos em que participar e finalmente tentar escrever uma primeira história em inglês para lançar sobre um formato de e-book.

“Tento sempre incluir parte da minha “voz” no que escrevo, seja um ideal ou uma opinião”


14 | Edição Limitada

Talkfest'13: uma oportunidade de emprego

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Afonso Sousa

orque festivais de música não são só música, bandas, concertos, tendas e loucura à fartazana, o Talkfest regressa pela segunda vez na história para provar isso mesmo. Esteja o caro leitor em qualquer uma das vertentes do curso de Comunicação, que vislumbrará no Talkfest aquela visão idílica de se trabalhar no que se gosta. Sim, já sabemos que a semana vai ser prolífica em conferências e palestras, mas a verdade é que o Talkfest promete oferecer algo certamente especial. De dia 6 a 8, ali mesmo na Aula Magna, a missão deste festival é debater o presente e o futuro da indústria. Dos dinossauros da área como Álvaro Covões (Everything is New) ou Tozé Brito (SPAutores), aos mais rookie mas não menos capazes como Artur Mendes (Boom Festival) ou Joaquim Durães (Milhões de Festa), todos virão com ideias no bolso. Não fossem as aulas mais teóricas já de si interessantes, as práticas - entenda-se, os concertos são igualmente prometedoras. Paus, Salto ou Capitão Fausto

darão o melhor dos usos à sua retórica. Poucas apresentações se afiguram precisas: estamos perante os especialistas na matéria. Falar de festivais em Portugal é falar de uma das maiores e mais lucrativas indústrias nacionais, daí

que não seja nada descabido afirmar que um dia muitos de nós estaremos também a trabalhar na confeção de um festival. Estavam à procura de uma oportunidade de emprego? Não deixem escapar esta.


Correio FCH | 15 CARTA 1

CARTA 2

O Jornal Público na “Os meninos de Biblioteca e a falta Economia vs. Os outros alunos” de civismo Exige-se que um futuro profissional da Comunicação Social seja uma pessoa bem informada e que leia jornais. No nosso campus existe uma estante presente na Biblioteca onde todos os dias é colocado o Jornal O Público para os alunos poderem tirar e ler. Mas a verdade é que quando vou buscar O Público, já não existem exemplares. Um dia quando fui buscar o jornal, à hora de abertura da Biblioteca, estavam na estante imensos exemplares. Tirei um exemplar para mim e para mais uma colega e estava uma funcionária atrás de mim. Virei-me para a deixar passar e fiquei parado para guardar os jornais na minha mochila Quando olho para a mesma funcionária, provavelmente dos serviços administrativos da Universidade, vejo-a tirar uma resma de

jornais deixando apenas um exemplar e foi-se embora. Fiquei espantado com aquele comportamento da parte desta indelicada funcionária. Considero isto uma autêntica vergonha pelo facto de funcionários tirarem os jornais todos, para supostamente darem aos professores e doutores da universidade. Aquela estante é para os alunos e não percebo porque é que os senhores professores doutores, (muitos deles recebem o suficiente para poderem assinar um jornal) não dizem às suas secretárias para deixarem aqueles jornais para os alunos. Considero isto uma falta de respeito perante os alunos que muitas vezes não têm possibilidade de ter o jornal O Público, porque alguns senhores professores querem poupar uns “trocos”.

Carta enviada por um aluno do 3ºAno

Correio FCH Este espaço também pode ter a tua opinião. Para isso basta enviares o teu texto para o e-mail o.academico.geral@gmail.com e poderás vê-lo publicado na edição de abril.

Quando vim para a universidade pensei que todos os alunos e cursos fossem tratados da mesma forma mas ao longo dos tempos tenho visto que há uma diferença de tratamento entre os alunos da Faculdade de Economia e as restantes faculdades. É verdade que pagam mais que os outros cursos, mas acho esta realidade injusta. Agora com as mudanças dos alunos de enfermagem para o campus de Lisboa, vieram mais tantos alunos para o nosso edifício, quando deveria existir espaço livre no edifício deles. Constatando factos e realidades. Eles têm um edifício quase topo de gama, com ar condicionado, cinco elevadores, o dobro do bar e da nossa cantina juntas, uma telepizza, jornais gratuitos distribuídos no seu edifício como o semanário Sol, Diário Económico e Jornal de Negócios. Têm espaços para estudarem. Têm uma grande máquina de cafés Nespresso. Têm benefícios que ninguém tem. A minha questão é

porquê este exagero entre esta e as outras faculdades? Por pagarem mais? Apenas por esse fator? Às vezes tenho dúvidas sobre essa questão e coloco uma pergunta diferente: Será que eles têm mais pessoas interessadas nos seus alunos? Ou seja que se preocupam exclusivamente com o seu bem-estar. Será que os serviços administrativos e direção desta faculdade têm como única prioridade os seus alunos? Se assim é penso que deveria haver uma maior preocupação em relação aos alunos por parte da nossa faculdade, como “mimarem -nos” com coisas simples. Por exemplo adquirirem uma máquina de café como a máquina Nespresso deles. Porem o elevador do bloco 2 a funcionar, melhorarem algumas instalações. Colocarem alguns jornais na entrada do nosso edifício. Pensarem em simples coisas, mas que fariam toda a diferença para haver maior motivação e energia para estudarmos e trabalharmos mais.

Carta enviada por um aluno do 3ºAno


16 |Parte para rasgar

O Belo Horrível João Tavares Obras Adiante (Circule com Cautela) Já o ano passado, o hall de entrada tinha sofrido obras, mas parece que não terão sido suficientes. Afinal, tirar o multibanco da entrada para pôr um símbolo da faculdade em linóleo no chão é uma decisão acertada, mas que não satisfaz o desejo de requinte. O desafio desta vez era maior, e impunha-se que se selasse a passagem não só no hall, mas também no parque de estacionamento ao lado, obrigando quem passa à tal volta ao bilhar grande (com o bónus de se pisar lama) que tanto entretém toda a gente, como se sabe. Até agora não chegou ao conhecimento do grande público, como sempre, o que estas obras reservam aos utilizadores do edifício, mas aqui na Parte Para Rasgar decidimos quebrar o efeito kinder surpresa e revelar algumas das alterações que serão efetuadas e que se nos afiguram de tanta ou maior sensatez que as primeiras: Criação de uma parede entre o A2 e a porta principal, o que dá jeito para que o visitante que quer chegar ao auditório tenha logo direito a uma visita guiada completa ao edifício; na parte exterior, que se encontra cercada, vai ser construída uma mega estátua de uma santa igual à que já existe e que ocupará todo o espaço que atualmente está vedado, sendo que a santa antiga vai ser doada a uma instituição de caridade; tapar as janelas com papel higiénico numa tentativa forçada de abordar técnicas experimentais de decoração de interiores.

Música Maestro

Os Nossos Novos Coleguinhas

Durante o mês que passou, Miguel Relvas voltou a brilhar, cantando, por cima de um coro de manifestantes que o vaiavam. Mas não só a tentativa do ministro de se destacar mais que as críticas que lhe apontavam falhou, como os seus dotes de artista da canção deixaram muito a desejar...mesmo. Aquela carinha de criança reguila que ele sempre ostenta por ser mestre em fazer marotices e safar-se pelo buraco de uma agulha, parecia querer desvanecer-se e o suor escorria-lhe pela cara, denunciando o nervosismo que lhe tirava o fôlego para conseguir articular meros ditongos. De modo que como show musical, falhou completamente, mas em termos de entretenimento foi um momento de grande valor artístico! Tanto o foi, que este revisitar de Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso, está de novo a prestar serviço cívico à comunidade, servindo para enxovalhar políticos por todo o país. Exemplo disso, foi o segundo concerto da tourneé de Relvas no ISCTE, onde foi o público a cantar, pelo que a cara de criança marota se desvaneceu finalmente. O menino Miguelito desta vez fugiu com o rabinho entre as pernas, sem cantar, o que é uma pena pois parece que ia interpretar cançonetas muito bonitas sobre jornalismo, que teriam certamente como temas das letras empreendimentos à la Berlusconi em empresas de comunicação e a criação de uma nova comissão de censura. Porém, uma coisa é certa: se esta coisa do governo lhe correr mal (o que é muito provável), Relvas já pode ir cantar para um cabaret para ganhar a vida...

Temos um novo curso, que abriu a meio do semestre e que se adequa perfeitamente ao pólo da Palma de Cima: Enfermagem. Tanto, que a outra parte das obras que estão a ser feitas, serve para equipar os novos alunos, que precisam de um laboratório para fazer lá as coisas deles, cortar ratos ao meio e mexer em células estaminais, tudo muito parecido com bruxaria, de modo que aqui na Católica, este curso não deve durar muito... Mas o dinheiro nas obras já foi gasto e espantem-se vocês, alunos da FCH, de ele ser aquele com que vocês pagam todos os meses, para continuar a ter um edifício onde entra chuva! Espantem-se de o mesmo dinheiro, que nunca é canalizado para algo que beneficie os vossos cursos, esteja a ser usado para construir um laboratório (que é sempre muito barato) para aspirantes a médicos frustrados, que chegam agora do nada! E não estranhem o aumento de gente que se veste como quem vai a uma reunião administrativa de uma multinacional. São os nossos “colegas” de enfermagem. A boa notícia? Diz-se que vão finalmente arranjar o elevador da torre Este. Say Hallelujah!


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A verdadeira história da carne de cavalo

Notes from the Up Palm (Para os alunos de Erasmus especialmente)

Dário Alexandre

José Paiva

ra uma vez um cavalo chamado Trovão, que andava pelos campos a espreitar éguas e vitelas. Certo dia encontrou uma pedra no chão. Não era uma pedra qualquer, era uma mágica, parecida com a do Harry Potter. Ele ficou com a capacidade de mudar de corpo com outros animais, quando assim o quisesse. Numa manhã de agosto, Trovão avistou uma vaca que tinha coragem para iniciar conversa com éguas, algo que ele não possuía porque era tímido. E, por isso, mudou de corpo com a respetiva vaca. No dia a seguir foi morto e as almôndegas acusaram ADN de cavalo.

onfesso que desta vez tenho algumas dificuldades em saber especificamente do que vou falar, sabendo que a nossa Faculdade este mês esteve uma paz de alma e eu ainda deixo, de vez em quando, o meu cérebro a descansar na almofada. Destacaria talvez, como tópicos mais interessantes, o regresso dos filhos pródigos de Erasmus, e as obras. Sim, fico-me por dizer “obras”, porque o meu juízo mental relativamente a este tema assemelha-se a de um burro quando está indeciso entre uma cenoura ou palha, e já percebi que existe uma espécie de competição entre estas obras e as de Lisboa em geral, que me fazem ficar mais magro, e mais maldisposto do que o habitual . Quanto aos regressados, tal mito sebastianista, trazem uma verdadeira lufada de ar fresco sentindo, eu na minha inocência, uma enorme compaixão por eles, por aterrarem neste ecossistema músicocatólico, sem qualquer tipo de preparação ou esclarecimento que os ajude a retomar o ritmo de uma vida académica lisboeta que desgasta qualquer um, como de uma volta ao mundo se tratasse. Não é que isto esteja muito diferente, afinal foram só seis, o bar foi sempre fiel a si mes-

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mas, o bar foi sempre fiel a si mesmo, as aulas são uma plataforma de moodelização do nosso sono, e os professores seguem o seu papel, sem nunca cessar! Parece um pouco chato, mas também foi só aquele tempo, menos do que uma gravidez (o que é bom, se é que me entendem), não esperavam grandes mudanças ou esperavam? É claro que todos os alunos lutaram para que algumas coisas fossem diferentes, a inserção de estilos musicais variados, tal como a nova baguete de pizza, demonstram o nosso braço firme! E nós também fizemos isto por vocês! Sabíamos que iam encontrar novas culturas, então adotámos de tudo um pouco em termos musicais, deixamos alguns ratos entrar no nosso quotidiano (nalguns países dá sorte), e revolucionámos a restauração católica, tudo em vosso nome! Não se assustem, pois isto está quase igual, e meus caros companheiros erasmusianos, desejo sinceramente que se sintam novamente em casa, ensinem-nos coisas novas, mas livrem-nos de estrangeirismos, já basta a linguagem em código morse dos alunos de Direito e o inglês do Sr. António. Se sofrerem de stress póserasmus, consultem a Clementina, pode ser que ela vos recambie para lá! Boa sorte!


Jornal O Académico - Edição de fevereiro

Pesos & Contrapesos

FCH Ilustrada

Bênção dos Finalistas (+6) Ficou decidido em RGA que a Bênção dos Finalistas vai ser na Cidade Universitária e vai ter também uma cerimónia solene com lugar na FCH. É bom chegar-se a consenso após tanta confusão sobre este assunto. Página 3 Harlem Shake da AEFCH (+3) A AEFCH não escapou à moda dos “Harlem Shakes” e fez um divertido vídeo deste fenómeno viral da Internet.

A nova equipa da Quase FM, uma rádio com “quase tudo”

(In)direto

Obras (-10) O segundo semestre trouxe consigo mais obras. Além do estaleiro estar mal organizado, o barulho das obras é incómodo.

Pequeno espaço de leitura onde são escritos poemas que carecem de interpretações individuais, porque os poemas precisam disso, necessitam que cada leitor os sinta e os aplique para que eles possam viver. Poema nº2 Destroços expoentes nos rostos dos que cá ficam. Vendo a sua efemeridade plena reduzida à sobrevivência Sem que fosse dada permissão, foram desfocados e afastados de si. Séculos de confrontos, Memórias ressequidas, permanecem nas entrelinhas das mais liberais conquistas. Ganhando destreza vão seduzindo maiorias. O futuro? Palavra simbólica para a imaginação humana Fica assim entregue a mentalidades viciantes que ousam penetrar, incessantemente, em todos, Até, mesmo, naqueles que fizeram juras de reverter o sentido dos ponteiros da decadência humana.

Joana Portugal

Jornal O Académico Publicação dos Alunos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa Diretor: Filipe Resende Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade Redação: Beatriz Isaac, Dário Alexandre, Gonçalo Fonseca, Inês Correia, Joana Portugal, José Paiva, Sara dos Santos e Susana Gil Soares Contatos: o.academico.geral@gmail.com Visita a nossa página no Facebook: https://www.facebook.com/JornaloAcademico


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