13ª ediçao

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Directora: Beatriz Isaac | Directores-adjuntos: Emanuel Monteiro | Joana Portugal Edição nº13 (Março de 2014) - Jornal Mensal ©Tim Harvey

FCH homenageia licenciados, mestres e alunos Págs. 4-5

Crítica literária ao livro A desumanização de Valter Hugo Mãe

Págs. 16-17

Grande Entrevista com a Professora Catarina Duff Burnay Págs. 6-10

Neknomination : o jogo de bebida online

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Talkfest, o responsável pelo futuro dos Festivais de Música Págs. 4-5

Ucrânia: democracia procura-se Págs. 12-15

©Getty Images


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Edição de Março

Editorial

A nova vida d’O Académico Beatriz Isaac tantes faculdades. Alem do mais, passamos a incluir uma agenda cultural no final de cada ediçao que sugere algumas actividades de entretenimento. Finalmente, e concluindo o topico relativo as inovaçoes, anuncio a alteraçao do nome do jornal que nao mais sera O Academico. A nova designaçao sera dada a conhecer ainda antes da ediçao de Abril atraves da pagina de Facebook do jornal que podem seguir atraves do seguinte link: www.facebook.com/ JornaloAcademico No respeitante a presente ediçao, destaca-se o tema quente da actualidade, a questao da Ucrania, com um texto explicativo dos confrontos ocorridos nesse país e das implicaçoes com potencias internacionais. Aborda-se tambem o jogo viral do Facebook – Neknomination – que angaria fas de dia para dia e tem vindo a levantar preocupaçoes por parte de especialistas da saude. No que toca a FCH referencia-se a bençao entrega de diplomas, assim como se da destaque a uma grande entrevista com a Professora Doutora Catarina Burnay, coordenadora do curso de Comunicaçao Social

e Cultural, que nos fala da sua experiencia profissional na area da televisao e tambem um pouco da situaçao actual do nosso país, relativamente aos jovens recem-licenciados. Por ultimo, na area da cultura, apresentamos uma crítica ao novo livro de Valter Hugo Mae, A Desumanizaçao, e ao filme Her, recentemente galardoado com o Oscar de Melhor Argumento Original, assim como se apresenta o Talkfest, um festival de musica nacional. Concluo desejando boas leituras a todos e prometendo novidades na proxima ediçao, neste projecto que busca o constante melhoramento.

O Académico | Nº13 Ficha Técnica

O Académico conta já com a sua 13ª ediçao mensal e, desta feita, traz varias novidades a entrar em vigor na ediçao do mes de Abril. Recentemente, reforçando a cooperaçao com o corpo docente e varios orgaos administrativos e de comunicaçao da Faculdade de Ciencias Humanas (FCH), foi possível introduzir mudanças que revitalizarao este projecto. Iremos, desde ja, passar a disponibilizar uma impressao a cores do jornal que estara disponível no placard da Associaçao de Estudantes da FCH, localizado no corredor paralelo ao bar da faculdade. Assim, este jornal estudantil deixara de ser apenas em formato digital proporcionando aos alunos mais distraídos uma oportunidade de conhecer O Académico, e aos seus leitores assíduos a possibilidade de contactar com este projecto fora do mundo das novas tecnologias. Adicionalmente, foi assegurada, pelo gabinete de Comunicaçao e Marketing da FCH, a inserçao de um link de acesso directo a pagina do jornal (atraves do site Issu) no site oficial da Universidade Catolica Portuguesa, divulgando-o, deste modo, as res-

Directora: Beatriz Isaac

Directores-Adjuntos: Emanuel Monteiro Joana Portugal

Redacção: Ana Claudia Rodrigues Ana Machado Dario Moreira Ines Correia

Joao Gonçalo Simoes Jose Paiva Mariana Rodrigues Miriam Andrade Patrícia Fernandes Sara Placido


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FCH News Bênção e entrega de diplomas FCH homenageia licenciados, mestres e alunos Emanuel Monteiro

©Emanuel Monteiro

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Faculdade de Ciencias Humanas (FCH) realizou, no passado dia 21 de Fevereiro, no auditorio Cardeal Medeiros, mais uma cerimonia de bençao e entrega de diplomas, esta, referente ao ano lectivo 2012/2013. Por entre alunos de cursos de licenciatura, de mestrado, de formaçao avançada e de

pos-graduaçao, a FCH entregou um total de 307 diplomas, como símbolo de homenagem e reconhecimento do trabalho desenvolvido pelos alunos, ao longo da frequencia dos cursos. A presidir a sessao esteve a Reitora da Universidade Catolica Portuguesa, a Professora Doutora Maria da Gloria Garcia, acompanhada na me-

sa pelo Director da Faculdade de Ciencias Humanas, o Professor Doutor Jose Miguel Sardica, a coordenadora da licenciatura em Comunicaçao Social e Cultural, a Professora Doutora Catarina Burnay, a coordenadora da area científica de Estudos de Cultura, a Professora Doutora Alexandra Lopes, o coordenador da area científica de Filosofia, o


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FCH News

Professor Doutor Americo Pereira, o coordenador da area científica de Ciencias Sociais, o Professor Doutor Francisco Branco, e o capelao da Universidade Catolica Portuguesa, o Padre Hugo Santos. Numa cerimonia dedicada a alunos, o Director da FCH nao quis deixar de saudar pais, familiares e amigos, agradecendo a confiança e a aposta feita na FCH, salientando aquilo que de mais importante a Faculdade deu aos estudantes durante o seu percurso: “habitos de estudo, conhecimentos solidos, competencias actualizadas, espírito de maturidade e de responsabilidade”, uma “educaçao integral” feita, nao so “de conhecimentos, competencias e resultados, como tambem de aspiraçoes, valores e empenhamento”. A professora doutora Alexandra Lopes dirigiu, tambem, a plateia, a Oraçao de Sapiencia, intitulada “O Elogio do nao-saber”, uma reflexao sobre as “novas zonas de ignorancia” que se descobrem a medida que se sabe cada vez mais e um convite ao pensamento sobre as “possibilidades do nao-saber enquanto espaço humano de indagaçao e procura”. Ja no encerramento da sessao, a Reitora da Universidade Catolica quis tambem deixar a licenciados, mestres,

Numa cerimónia dedicada a alunos, o Director da FCH não quis deixar de saudar pais, familiares e amigos, agradecendo a confiança e a aposta feita na FCH alunos e familiares uma mensagem de felicitaçao – relativamente ao ciclo que se encerra – e de esperança e motivaçao – no que diz respeito as portas que agora se abrem e aos projectos futuros – sempre com a certeza da capacidade distintiva dos valores e das competencias transmitidos pela Universidade Catolica Portuguesa. Este foi ainda um evento onde se reconheceu e premiou o merito dos actuais alunos da FCH, atraves da entrega de diferentes premios: o “Premio de Excelencia FCH”, para alunos com media superior a dezassete valores; o “Premio Radio Renascença”, para o melhor licenciado em Comunicaçao Social e Cultural, na variante Comunicaçao Social/ Jornalismo; o “Premio MSN Microsoft”, para a equipa vencedora do protocolo MSN/FCH; o “Premio CEPCEP

– 30 anos”, para o melhor licenciado da Faculdade de Ciencias Humanas em 2012/2013; e o premio do “Concurso de Ensaio da Area Científica de Filosofia”, subordinado ao tema “Para que serve a etica em tempos de crise?”. Samuel Silva, presente na plateia e pai de um dos alunos, destacou “o humanismo, a motivaçao e a esperança”, postos nas palavras dos intervenientes da sessao, e “o reconhecimento do valor das humanidades na sociedade contemporanea”, sempre tendo em conta “os reais constrangimentos da conjuntura do país”. A sessao terminou com um porto de honra, onde professores, alunos, licenciados e mestrados puderam conviver e trocar algumas palavras num ambiente mais descontraído.

Samuel Silva, (…) e pai de um dos alunos, destacou “o humanismo, a motivação e a esperança”, postos nas palavras dos intervenientes da sessão, e “o reconhecimento do valor das humanidades na sociedade contemporânea”


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Entrevista Professora Catarina Duff Burnay Emanuel Monteiro

©Catarina Burnay

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rofessora da disciplina de Publicos e Audiencias e coordenadora da licenciatura em Comunicaçao Social e Cultural. Estes sao os cargos mais conhecidos de Catarina do Amaral Dias Duff Burnay, mulher de ofícios varios e uma figura incontornavel na Faculdade de Ciencias Humanas (FCH). Como nao poderia deixar de ser, O Académico foi conversar com a Professora Catarina Burnay, numa grande entrevista onde vida pessoal, percurso academico, carreira profissional e assuntos da actualidade se

fundiram. Falou-se de muita coisa: telenovelas, series, professores, alunos, sonhos de infancia, estagios, emprego, desemprego e ate perspectivas futuras. Tudo, com um grande objectivo: dar a conhecer melhor a Professora Doutora que a FCH viu crescer. O Académico (1): Licenciada, mestrada e doutorada pela Universidade Catolica Portuguesa, num percurso iniciado ha quase vinte anos. Porque esta escolha? Catarina Burnay (CB): Bem, posso afirmar que o

meu percurso foi mais a vida que o escolheu do que propriamente eu. Estudei num colegio de ensino integrado - Academia de Musica de Santa Cecília - e na altura fez sentido vir para a Universidade Catolica, porque me oferecia, dento do curso de Comunicaçao, uma variante de comunicaçao cultural. Era esse o meu objectivo. Depois, no mestrado, queria ir para Barcelona fazer Historia de Arte. Entretanto, em 2000, abriu o primeiro mestrado em Ciencias da Comunicaçao, na FCH, e a professora Isabel Ferin acabou por insistir que eu ficasse. E eu fiquei. Em 2002, abriu a cadeira de Publicos e Audiencias e a mesma professora convidou-me para leccionar, com ela, essa disciplina. Nesse mesmo ano, a professora foi para Coimbra e eu fiquei por minha conta em Publicos e Audiencias. E as coisas acabaram por ir acontecendo. Nao foi uma meta que coloquei na minha vida, mas acabou por fazer sentido.

O Académico (2): Professora de licenciatura e de dois mestrados, coordenadora da licenciatura em Comunicaçao Social e Cultural, Professorasecretaria da Faculdade de


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Entrevista

secretaria da Faculdade de Ciencias Humanas, membro da revista Comunicaçao e Cultura, co-coordenadora da equipa portuguesa do Observatorio Ibero-americano da Ficçao Televisiva (OBITEL), aluna de um curso de posdoutoramento na Universidade de Sao Paulo, autora de varios artigos científicos, professora de musica e mae. Como e possível conciliar todas estas tarefas em dias de apenas 24 horas e em semanas de 7 dias? Catarina Burnay (CB): Costuma-se dizer que quem corre por gosto nao cansa e isso acaba por ser verdade. Mesmo assim, sao precisos varios elementos para gerir todo este trabalho. Em primeiro, e uma questao de organizaçao. Em segundo, e necessaria uma estrutura familiar que me permita fazer tudo isto: o facto de ter uns pais

Costuma-se dizer que quem corre por gosto não cansa e isso acaba por ser verdade. Mesmo assim, são precisos vários elementos para gerir todo este trabalho. Em primeiro, é uma questão de organização.

fantasticos que me amparam em tudo e logo meio caminho andado para me sentir segura quando estou a desempenhar uma tarefa. E depois, tenho um gosto por fazer todas estas actividades, para alem de ter a vantagem de poder realizar grande parte do meu trabalho em casa, o que me permite estar com a minha filha. E isso equilibra-me e da -me a vontade de continuar. O Académico (3): Como e ser coordenadora do curso com mais alunos da FCH? Uma roda viva, calculamos... Catarina Burnay (CB): Surpreendentemente, e muito gratificante. As minhas tarefas passam por dar conta das questoes pedagogicas, tanto dos alunos como dos docentes do curso. E verdade que nao posso pensar todos os dias que tenho 400 alunos e que tenho de dar conta de todos. Penso so que cada aluno e um caso e que eu estou ca para resolver os seus problemas. Por vezes e complicado, e verdade. Mas e gratificante perceber que consigo contribuir todos os dias para que a vida academica de cada um dos alunos possa ser um pouco melhor. O Académico (4): Sempre foi uma ambiçao ser professora e investigadora? Se nao fosse hoje, esta, a sua profissao, qual seria?

Penso só que cada aluno é um caso e que eu estou cá para resolver os seus problemas. (…) é gratificante perceber que consigo contribuir (…) para que a vida académica (…) possa ser um pouco melhor. Catarina Burnay (CB): Quando era pequena tinha duas alternativas: ou ser professora ou ser cabeleireira. Portanto, ve-se o resultado: acabei como professora. Mas nao tinha, de todo, o objectivo de seguir uma carreira academica. E se nao fosse professora, tambem nao sei o que poderia ser. Ter um daqueles empregos em que estaria fechada num escritorio das 9 as 5 acho difícil, embora lidar com papeis e canetas, isso, sempre foi uma paixao. Eu brincava muito aos escritorios, portanto a minha profissao tinha que ter alguma coisa a ver com livros e cadernos. A parte da investigaçao resultou da minha vontade de querer saber mais e o facto de trabalhar numa area muito dinamica como as


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Ciencias da Comunicaçao tambem ajudou a definir o meu percurso que foi, sem duvida, um percurso natural. E esses, para mim, sao sempre os melhores. O Académico (5): A sua principal area de investigaçao e a ficçao televisiva. Porque a escolha das telenovelas e das series? Catarina Burnay (CB): Foi tambem uma oportunidade, mais uma vez atraves da professora Isabel Ferin. Em 2002, Portugal foi convidado para integrar o Observatorio Europeu da Ficçao Televisiva (Eurofiction) e a professora Isabel convidou-me para integrar a equipa portuguesa. Esse foi o meu primeiro contacto, ainda a fazer o mestrado, com a Ficçao Televisiva. A parti daí, o meu percurso passou a estar associado a esta area, uma vez que em Portugal tambem nao havia grande investigaçao nesse campo. Para a minha dissertaçao de mestrado resolvi observar a transiçao da nova TVI (2000/2001), da aposta nos reality shows e na ficçao nacional, que estava a ganhar uma nova vida. E pronto, ate hoje fiquei ligada a essa area de estudos. O Académico (6): Sobretudo as telenovelas, no meio academico e nas classes mais altas, sao um conteudo des-

trabalhar numa área muito dinâmica como as Ciências da Comunicação também ajudou a definir o meu percurso que foi, sem dúvida, um percurso natural. E esses, para mim, são sempre os melhores valorizado e alvo de preconceito. Como lida com essa realidade? Por que razao considera ter surgido essa ideia feita acerca da ficçao televisiva? Catarina Burnay (CB): O preconceito em relaçao as telenovelas surgiu pelo produto em si. Ele e visto como destinado a um espectadortipo: as mulheres mais velhas, de uma classe baixa e do interior do país. Isso faz com que que quem verbalizar que ve esses conteudos se sinta e seja associado a esse espectador-tipo. E essa reacçao ate e antagonica. A telenovela e vista como um sub-produto mas depois e aquele que tem maiores audiencias televisivas. Essa ideia feita e, para mim, um desafio, que passa por tentar alterar a mentalidade em relaçao a este pro-

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Entrevista

duto, que ja deu provas no espaço latino-americano, por exemplo, que e um produto cultural, cuja produçao e consumo tem um impacto nas dinamicas sociais. E um fenomeno quase sociologico e antropologico. Ha trabalho feito em círculos academicos reconhecidos que tratam desta questao. Mas penso que esse paradigma esta a mudar. Hoje, as telenovelas, especialmente as da SIC, estao a conquistar um novo publico, mais jovem, mais dinamico, de classes sociais mais elevadas, com habitos de consumo e de lazer mais diversificados. Apesar de tudo, e de ainda existir esses estigma antigo, as coisas estao a mudar. O Académico (7): Segundo dados do Eurostat, em Novembro de 2013, Portugal apresentava a quinta taxa de desemprego jovem mais elevada na Uniao Europeia – 36,8% - o que significa, aproximadamente, que um em cada tres jovens esta dessem-

[As telenovelas são vistas] como destinado a um espectador-tipo: as mulheres mais velhas, de uma classe baixa e do interior do país.


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©L.FrascOON

pregado. De que forma essa realidade a preocupa? Catarina Burnay (CB): Essa e um realidade que me preocupa muito, sobretudo porque estou a formar esses jovens e depois vejo que eles nao conseguem colocar ao seu proprio serviço os ensinamentos e as ferramentas que aqui adquiriram. E extremamente preocupante ver os licenciados a abandonar o seu proprio país. Nao sinto que Portugal esteja a matar o sonho dos jovens, considero mesmo que o nosso país esta a matar expectativas legítimas. E legítimo uma pessoa estudar, adquirir conhecimentos, desenvolver compe-

tencias e coloca-las ao serviço da comunidade. E isso e muito assustador. Como resultado, vemos a quantidade de jovens que diariamente procuram uma vida melhor la fora. E muitos acabam por nao regressar. E caso para dizer que Portugal esta a perder os seus activos. Costumase dizer que os jovens sao os homens de amanha. E verdade. E aí sim, pergunto o que sera Portugal daqui a 10 anos se continuarmos neste caminho. O Académico (8): Bem sabemos que nao faz futurologia. No entanto, como preve o futuro dos licenciados no

nosso país? Catarina Burnay (CB): No outro dia, estava a conduzir e ouvi a musica do Pedro Abrunhosa “Para os Braços da Minha Mae”. Emocioneime, de facto. Nao porque tenha algum caso na família de abandono do país, mas porque me corta o coraçao olhar para a realidade dos nossos jovens. Ha, por isso, um grande caminho a percorrer. E a aposta na formaçao nao e um objectivo vazio. O facto de as pessoas nao so se especializarem, mas terem a capacidade de desenvolver varias tarefas ao mesmo tempo, e bem, e uma certeza, um activo que os mercados portu-


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a aposta na formação não é um objectivo vazio. O facto de as pessoas não só se especializarem, mas terem a capacidade de desenvolver várias tarefas ao mesmo tempo, e bem, é uma certeza gues e mundial procuram. E num momento de decisao, o mercado faz a triagem. Entre duas ou tres pessoas com uma formaçao semelhante, alguma delas que tenha mais alguma especializaçao, alguem que salta fronteiras e que tenha uma mente aberta acaba por vencer. O Académico (9): Ainda a proposito de emprego, assistimos, hoje, no nosso país, a uma situaçao de contracçao, no que diz respeito a contrataçao de recursos humanos nas empresas. Considera que esta e uma tendencia, passageira, consequente da conjuntura economica ou considera que esta inclinaçao para fazer o maximo com o menor numero possível de recursos se vai tornar paradigma? Catarina Burnay (CB): É provavel que se torne paradigma. Mas nao tem de ser necessariamente mau. O facto

de uma pessoa ser multitasking é uma mais-valia, e bom tanto para empresas como para profissionais. Claro que nao defendo a situaçao dos estagios nao remunerados. Para alem de ser mau para os licenciados e mau para as empresas: ter um estagiario durante tres meses numa organizaçao e contraproducente. Geralmente, quando uma pessoa acaba o estagio e que esta em condiçoes para começar. E esta e uma situaçao que nao permite dar o salto e, consequentemente, nao se desenvolvem nem as pessoas nem a propria empresa. Portanto, considero essa pratica altamente reprovavel. O Académico (10): Pois bem, todos conhecem a professora Catarina Burnay da FCH. Mas que Catarina Burnay existe para alem dessa? Catarina Burnay (CB): Acho que conhecem a Catarina Burnay. Eu sou assim, nao sou muito mais do que isto. Claro que tenho aquilo a que costumo chamar a minha vi-

Claro que não defendo a situação dos estágios não remunerados. Para além de ser mau para os licenciados é mau para as empresas

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Entrevista

da paralela: o facto de dar aulas de canto e de ter algumas iniciativas musicais. Tirando isso, sou assim, tanto aqui como em casa. O Académico (11): Tem noçao da imagem que os alunos da FCH tem de si? Catarina Burnay (CB): Nao tenho muita ideia. Acho que, como em tudo, ha pessoas que gostam e pessoas que nao gostam. E basta-me saber isso para tentar trabalhar, todos os dias, para que as pessoas gostem e se sintam representadas no trabalho que eu desenvolvo e que sintam, sobretudo, que eu desempenho bem a minha funçao, que e servir os alunos. Mas prefiro ficar nesse limbo e nao saber pormenores. O Académico (12): Depois de, tao jovem, ja se ser e fazer tanta coisa, desenhar perspectivas futuras torna-se uma tarefa difícil. Mesmo assim, o que poderemos esperar da professora Catarina Burnay daqui a 20 anos? Catarina Burnay (CB): Nao faço planos a essa distancia. A vida ensinou-me a fazer planos a curto e a medio prazos e, sinceramente, sou muito mais feliz assim. Portanto, gostava que daqui a 20 anos ainda estivesse por ca e pudesse continuar a fazer planos, sempre a curto e a medio prazos.


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Actualidade

NekNomination : O jogo de bebida online Ana Machado

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opularmente conhecido como tendo origem na Australia, o NékNomination surgiu primeiramente na Irlanda, com a famosa estrela de Rugby, Ross Samson. Neste jogo, os participantes colocam hashtags (#neknominate), seguidos pelos tags das pessoas (@exemplo) que pretendem desafiar a consumirem varias bebidas alcoolicas de um trago so. As pessoas tagadas tem a sua disposiçao 24 horas para se filmarem a beber e colocarem o vídeo online, tagando também eles outros amigos. Como todas as modas online, esta difundiu-se a veloci-

dade da luz, havendo ja uma pagina do Facebook dedicada a esta pratica. Em Inglaterra, contudo, o jogo ganhou outros contornos. O que antes era uma brincadeira, tornouse aqui um desafio, atraves do qual os jovens tagam amigos para que estes consigam beber uma maior quantidade e diversidade de bebidas alcoolicas (incluindo agora, espirituosas) no menor tempo possível. Segundo o jornal Télégraph, esta moda toma por base a lad culturé ou, como e muitas vezes conhecida, laddish culturé. Nascida nos anos 90, com o impacto da musica Britpop na classe trabalhadora, este conceito compreende

a defesa do papel do homem na sociedade pos-moderna, como resposta ao Girl Powér, movimento crescente no Seculo XXI. Por muitos, especialmente duma faixa etaria mais jovem, este jogo nao e mais do que uma folia, que encontrara o seu fim dentro em breve, como tudo o que e viral online. Para outros, esta moda e apontada como promotora do consumo excessivo de alcool. Aqueles que negarem o desafio, na sua perspectiva, sao vítimas de cybérbullying. Segundo o jornal Metro, houve ja cinco mortes no Reino Unido e Irlanda, as quais se acreditam estar relacionadas com o consumo excessivo de alcool devido ao NékNomination. Houve outra iniciativa que tomou este jogo de bebida como base, da parte da Academia Inglesa de Artes Marciais e Kickboxing em Wimbledon, Reino Unido. A semelhança do jogo anterior, as pessoas executam um exercício físico durante determinado período de tempo, gravam e colocam o vídeo online. Depois, tagam os amigos, desafiando-os a fazerem mais e melhor, extraindo assim um aproveitamento positivo do conceito do Néknomination.


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Actualidade Ucrânia: Democracia procura-se Iryna Shev

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assaram mais de tres meses desde o início de manifestaçoes em Kiev, na Ucrania. Desde esta altura a informaçao a circular sobre o que se passa no país tem sido abundante, mas as duvidas persistem e parecem ser cada vez maiores. Tudo começou no dia 21 de Novembro de 2013, na praça de Independencia de Kiev, onde se ergueu uma manifestaçao de estudantes. Estes tinham como objectivo demonstrar o seu desagrado perante o comportamento do seu Presidente na altura, Viktor Yanukovich. O mesmo comprometeu-se em assinar o tratado de comercio livre com a Uniao Europeia (UE), em Novembro de 2013 na Lituania, um tratado fulcral para uma futura associaçao do país com os

estados-membros. Ao inves do garantido, o ex-Presidente ucraniano assinou um acordo com a Russia do qual, desde 2010, fazem parte dois outros países da ex-URSS - a Bielorrussia e o Cazaquistao. Apos uma longa preparaçao para a aproximaçao ao Ocidente, a populaçao ucraniana sentiu-se traída. Dias apos a manifestaçao pacífica, o governo respondeu com violencia. Esta atitude enfureceu ainda mais os ucranianos, que começaram a chegar a capital vindos de varias cidades do país. O protesto tomou, assim, um novo rumo. O problema ja nao era somente o afastamento da UE e a nao desejada aproximaçao a Russia, estavam tambem em jogo a corrupçao do sistema político ucraniano, a brutalidade da polícia, a falta

da liberdade de expressao e de participaçao da populaçao nas decisoes políticas. Para alem do mais, a situaçao financeira do país encontra-se numa situaçao instavel, o que exige medidas proactivas do governo para melhorar a qualidade de vida dos ucranianos. Ao longo de tres meses nenhuma das partes cedeu. Os manifestantes prosseguiram na sua demanda e ganhavam cada vez mais força enquanto a polícia especial ucraniana, berkut, permanecia inabalavel. Ao mesmo tempo, em muitas outras cidades do país, organizavamse grupos de manifestantes que tomavam o poder das camaras municipais, pedindo a demissao dos seus representantes. Praticamente todos os presidentes de camara


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Actualidade

Três meses depois do início das manifestações, os dias de 18 a 22 de Fevereiro foram marcados por inúmeras mortes, tanto do lado do berkut, como do lado dos manifestantes nos distritos ucranianos tinham sido nomeados pelo presidente Yanukovich apos a sua tomada de posse. Tres meses depois do início das manifestaçoes, os dias de 18 a 22 de Fevereiro foram marcados por inumeras mortes, tanto do lado do berkut, como do lado dos manifestantes. No centro dos acontecimentos foram avistados atiradores emboscados que disparavam com precisao na cabeça e no pescoço, tanto nos manifestantes como nos polícias. A informaçao sobre quem esta por tras destes atiradores ainda nao foi desvendada. Os líderes da oposiçao de Yanukovich culpamno de ser o responsavel, afirmam ter sido uma tentativa de virar os polícias contra os manifestantes, provocando uma guerra civil entre a populaçao. Uma outra acusaçao da parte da oposiçao contra o ex-Presidente ucraniano, e a

de que este contratou dezenas de russos para fazerem parte do berkut ucraniano. No final contam-se muitas baixas. Registaram-se 98 mortos, entre os quais nao so ucranianos, mas tambem dois bielorrussos, um georgiano, dois armenios e um russo. No entanto, as declaraçoes medicas nao-oficiais vao muito para alem destes numeros. Num dos dias mais sangrentos dos confrontos, dia 22 de Fevereiro, o país ficou sem saber do paradeiro do seu Presidente. Assim, o parlamento ucraniano votou a favor da destituiçao de Yanukovich das suas funçoes de presidente da Ucrania, nao o considerando capaz de resolver a crise do momento, elegendo como presidente interino Oleksandr Turchynov, e como primeiro-ministro Arseny Yatseniuk, ambos líderes da oposiçao. Foi tambem marcada a data para as novas eleiçoes – 25 de Maio de 2014. No mesmo dia, Viktor Yanukovich surgiu na televisao publica declarando encontrar-se no leste da Ucrania, sem intençoes de sair do país, nem de abdicar do seu cargo de presidente. Ao fim de alguns dias, deslocou-se para a vizinha Russia, tendo Vladimir Putin afirmado que acolheu o seu colega ucraniano devido ao receio de ser assassinado. Com algumas madrugadas de

incerteza quanto ao futuro do país, o governo autonomo da Península de Crimeia foi destituído. O poder foi tomado por um partido pro-russo, defensor de que os poderes de presidente pertencem a Yanukovich. Posteriormente, foram organizados varios protestos contra os novos líderes do país por parte dos manifestantes ucranianos designados como pro-russos. Estes indivíduos lamentavam os acontecimentos ocorridos nos ultimos tempos na capital, e desejavam que a situaçao regressasse a normalidade, isto e, a situaçao do país antes da manifestaçao de Novembro. A 28 de Fevereiro, as tropas militares russas começam a chegar a Crimeia, apesar de ter sido somente no dia 1 de Março que a votaçao para a entrada das tropas

o parlamento ucraniano votou a favor da destituição de Yanukovich (…) não o considerando capaz de resolver a crise do momento, elegendo como presidente interino Oleksandr Turchynov


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para a entrada das tropas russas em territorio ucraniano ter sido validada pela maioria no parlamento russo. Nos dias que se seguiram os numeros de soldados e equipamentos de guerra foram aumentando progressivamente. Começaram a surgir varias questoes vindas de todos os cantos do mundo. Reunioes entre os líderes da ONU foram realizadas e todos os colegas democraticos de Putin colocavam-lhe a mesma pergunta: Porque ocupar a Crimeia com as tropas russas? As respostas foram multiplas. Primeiramente, o governo russo afirmou estar a proteger o povo russo na Crimeia, visto que, segundo o estudo estatístico de 2001, os russos faziam parte de 58% da populaçao da península, seguidos de 24% ucranianos e 12% tartaros (povo que se cre originario da Crimeia). Com a acusaçao de infracçao de varias leis internacionais e de tratados com a Ucrania, o Presidente russo afirmou estar a obedecer a um pedido de ajuda de Yanukovich para restabelecer a ordem - para Putin este era ainda o presidente oficial da Ucrania. Apos a continuaçao de acusaçoes de intervençao inconstitucional da Russia na Ucrania, na conferencia de imprensa realizada por Putin no passado dia 4 de Março, este afiançou tratar-se apenas de um exer-

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Actualidade

©Reuters cício militar, que ja estava marcado muito antes de se travar qualquer tensao política no territorio Ucraniano. No mesmo dia, o Presidente russo assegurou que as suas tropas iriam sair do territorio da Ucrania. Actualmente, as bases militares ucranianas na Crimeia continuam cercadas por militares russos. Os soldados de Putin pedem a rendiçao e entrega das armas dos soldados ucranianos. Em simultaneo tem sido organizadas equipas de voluntarios para entregar comida a estes ultimos soldados que se mantem firmes perante o juramento a Patria. Contudo, no dia 5 de Março uma destas equipas de voluntarios, incluindo mulheres, foi violentamente agredida por militares russos. Este facto prova que a palavra de Putin esta por cumprir. Uma das razoes de insatis-

façao do povo ucraniano perante o governo de Yanukovich era a falta de liberdade de expressao. Durante os tres meses de manifestaçao a transmissao de informaçao foi muito distinta de canal para canal, sendo que um deles, que transmitia a maior quantidade de informaçao sobre a manifestaçao em Kiev (5 Kanal), foi bloqueado na parte leste do país ucraniano. Nos canais generalistas, os manifestantes foram dados a conhecer como radicais e terroristas, e ainda, mais recentemente, por neo-nazis e fascistas. Trata-se de uma guerra de informaçao. A opiniao publica do leste do país sobre os acontecimentos na Praça da Independencia e muito distinta da opiniao publica do oeste, onde ha meios de comunicaçao em que a informaçao nao se encontra controlada pelo governo. Um facto


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Actualidade

comprovado e de que existe um partido de extremadireita ucraniano que esteve representado nas ruas de Kiev. Outro e que os representantes da extrema-direita encontravam-se em numero muito reduzido, no meio de “centenas de estudantes, trabalhadores e famílias”, segundo o relato de Gabriel Gatehouse, jornalista da BBC. Por outro lado, os meios de comunicaçao russos narram a presença de centenas de extremistas, ignorando o numero de civis. Ulrich Heyden, escritor e jornalista alemao, afirma que “os media russos falam sobre os ucranianos, mas eles nunca falam com ucranianos”, num depoimento a Deutsche Welle, empresa de radiofusao do mesmo país. Ruslana, cantora ucraniana que no passado dia 4 de Março recebeu o premio de Mulher de Coragem das maos de Michele Obama, fez um pedido na sua pagina de Facebook. Este tratava de solicitar a todos os jornalistas a exporem factos verídicos e confirmados na imprensa do mundo. Muitos dos títulos das notícias dos meios de comunicaçao russos nao se ancoram na veracidade dos factos. Na sua opiniao, a Russia esta a lançar notícias falsas desde o início da manifestaçao em Kiev. Agora, essa informaçao circula com muito mais intensidade, pois para

esta artista musical ucraniana, o maior medo de Putin e que as ideias revolucionarias se espalhem, fazendo com que a populaçao russa se levante contra a corrupçao do seu proprio país. Nos ultimos dias, varias foram as cidades na Russia

Ulrich Heyden, escritor e jornalista alemão, afirma que “os media russos falam sobre os ucranianos, mas eles nunca falam com ucranianos”

onde houve manifestaçoes anti-guerra onde a populaçao se dirigia a Putin pedindo para retirar as tropas da Ucrania Estas manifestaçoes terminaram com varios presos e agressoes aos manifestantes da parte da polícia. A palavra de ordem sobre os acontecimentos na Ucrania tem sido o separatismo, isto e, a afirmaçao de que o país esta dividido ao meio pelas suas preferencias políticas e questoes geohistoricas. Na realidade, a populaçao ucraniana diz-se mais unida que nunca. Apesar de existirem diferenças entre as duas partes da Ucrania, ha algo que tanto o oeste como o leste deseja – independencia.


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Culturismo CINEMA

Her, Spike Jonze Inês Correia

A

pesar de nao conseguirmos ver o seu rosto, a mulher da foto parece ser bonita. Na fotografia, ela esta de costas para nos, a olhar para o bosque num dia solarengo, provavelmente no outono, e o seu cabelo louro cai sobre os ombros. Ela esta presente mas e inacessível, intocavel. E real, mas apenas no seu mundo e nao no nosso. Esta foto do artista Todd Hido foi o ponto de partida para o filme de Spike Jonze. Esta pendurada na sua casa desde o dia que a comprou numa galeria apelado pelo misterio e memorias que evocava. Na parte superior da fotografia, fez uma pequena adiçao, um post-it amarelo onde escreveu com um marcador preto, tres letras minusculas que lhe pareciam encaixar na perfeiçao: hér. E assim nasceu o seu ultimo aclamado filme. Tendo ganho o Oscar para Melhor Argumento, e com certeza um dos filmes do ano e um romance ,que apesar de se passar num futuro proximo, nos fala tao alto, ja que nos dias de hoje rapidamente a tecnologia esta a substituir as rela-

©Todd Hido çoes humanas presenciais. Este romance sci-fi passase num futuro proximo na cidade de Los Angeles e conta a historia de um homem solitario saído de uma separaçao complicada que decide fazer download do O.S.1 (Opérating Systém 1), um sistema operativo inteligente

desenhado para se adaptar as suas necessidades. A voz feminina do sistema que se auto-intitula de Samantha provem da sensual Scarlett Johansson e Theodore começa a desenvolver uma relaçao com esta carismatica simulaçao humana. Para Theodore, Samanta e muito mais que uma mulher feita de zeros e uns, e uma consciencia. Samantha rapidamente se torna a melhor amiga de Theodore. Organiza o seu email, o seu emprego, a sua vida; ele leva-a a praia, a feira, no bolso da camisa, e guiando-a pelas suas experiencias preferidas. “Serao estes sentimentos reais?, (…) ou nao passarao de programaçao?”, questiona-se Samantha. Para Theodore, pelo menos, eles sao muito reais, e assim floresce a sua primeira relaçao


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Edição de Março

Culturismo

(…) o conflito da história entre a tecnologia e a realidade transforma-se num espelho do conflito entre os nossos desejos egoístas contra as necessidades dos outros (…) amorosa desde o doloroso divorcio e um coraçao de luto volta a bater. Phoenix teve de contracenar os sentimentos do filme quase por si proprio. E consegue-o com gentileza e profundidade. Encurralado na melancolia doce de um homem cuja dor emocional se desvanece na melodica voz de Samantha. Tal como os outros filmes do realizador, esta e uma obra sincera e melancolica e aqui, o conflito da historia entre a tecnologia e a realida-

de transforma-se num espelho do conflito entre os nossos desejos egoístas contra as necessidades dos outros: um dilema moral que dota o filme de um toque de seriedade. Mostra-nos uma sociedade onde algo tao pessoal como uma carta de amor e fabricado por um serviço, onde uma rua recheada de pessoas que aparentemente juntas, caminham isoladas. Uma das preocupaçoes do realizador parece ser que as pessoas nao estao a passar tempo suficiente juntas, que

nao estao suficientemente abertas as necessidades dos outros, e que a culpa provem, em parte, dos meios digitais. O resultado nao e so uma meditaçao acerca do romance e da tecnologia, mas uma exploraçao acerca da estranheza do amor. E tambem uma lembrança para deixar o computador, desligar a televisao e o telemovel numa luta contra o isolamento sentimental que apenas nos podemos vencer.


Décima Terceira Edição

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Culturismo LITERATURA

A Desumanização, de Valter Hugo Mãe João Gonçalo Simões

(in)directo

Perda de determinadas qualidades morais humanas” e a definiçao que encontramos no dicionario de Língua Portuguesa para a palavra desumanizaçao. Ecoam pela obra emoçoes fortes presas a uma unica natureza – a morte, explicada atraves de frases curtas que constroem um aprosa que nao e mais do que um longo poema. Angustia, responsabilidade e herança espiritual sao descritas de forma tao bela que a antítese da narraçao e do fim da vida humana vai confundir o leitor. Mas o que e, para Valter Hugo Mae, o desumanizar? Certamente e algo que transcende valores morais. A historia que nos e apresentada fala-nos de duas irmas gemeas, Halla e Sigridur, onde a primeira tenta lidar com a morte da ultima. Os nomes nao surgem ao acaso, ja que o cenario e o meio rural da Islandia, com toda a melancolia que a imagem possa trazer. Por entre o discurso interno de Halla, assistimos a um crescimento forçado pela perda. A grande viagem implícita e caracterizada por um disturbio de separaçao e

Joana Portugal

P dilemas consequentes – na calamidade, a vida continua, mas nao somos os mesmos. As açoes de Halla serao todas em conformidade com o acontecimento inicial, que vai ser frequentemente recordado. Atraves de varias analepses da-se a conhecer ao leitor quem foi realmente Sigridur. O facto das personagens gemeas serem crianças tambem nao e acidental, ja que a funçao de crescer ganha uma outra importancia. O escritor , atraves da personagem, reflecte varias vezes num tom que parece quase pessoal – consideraçoes sobre o ceu e o inferno, perdiçao e salvaçao, Deus e o Diabo. Nunca se deixando ultrapassar pela corrente, as reflexoes sao perfeitamente encadeadas e embelezam uma historia deveras fascinante que entristece o nosso lado mais humano.

equeno espaço de leitura onde são escritos poemas que carecem de interpretações individuais, porque os poemas precisam disso, necessitam que cada leitor os sinta e os aplique para que eles possam viver.

A elegancia na razao do tempo que transcorrendo da espinha aos pulmoes extenuados crava em apertos rígidos brutais vícios de ambiguidade. A consciencia em tempestade, louvores de granizo, ramos arqueados e sombras em terror. Perfida e petrificante beleza, Selvatica graça da razao do tempo. Um bloco de visao fulminante, O sentido de rotaçoes e translaçoes e a impossibilidade das mesmas na impotencia geracional da consciencia.


Edição de Março

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Unchallenged, music.

Talkfest, o responsável pelo futuro dos Festivais de Música Patrícia Fernandes

T

alkfést trata-se de um forum anual que tem como objectivo a discussao e reflexao sobre os festivais que acontecem no Verao, bem como, o estado da musica nos dias de hoje. A terceira ediçao deste evento realiza-se, este ano, entre os dias 13 e 15 de Março, no Instituto Superior de Economia e Gestao, vulgarmente conhecido como ISEG, e na Aula Magna, na Universidade de Lisboa. Como tem vindo a acontecer em anos anteriores, o Talkfest prima pela inovaçao das tematicas em discussao nos seminarios e conferencias e, principalmente, pelos oradores e keyspeakers convidados representando as mais diversas areas – na musica, vao estar Richie Campbell, Noiserv ou Capicua, na parte da comunicaçao diversos jornalistas de musica, promotores e locutores de radio, como Mario Rui Andre e Diogo Beja, nao esquecendo, organizadores de festivais como o Rock In Rio ou Musa. Ao longo dos tres dias, vao ter lugar outras actividades, em paralelo, associadas ao evento. Desde apresentaçoes

de projectos profissionais, ate sessoes de documentarios sobre os festivais Glastonbury e Coachella, que acontecem anualmente em Inglaterra e Estados Unidos da America, respectivamente, e os festivais nacionais Optimus Primavera Sound e Paredes de Coura, assim como concertos de DJ Ride ou Brass Wires Orchestra. No site da organizaçao do Talkfest e possível ler-se que a principal missao deste espaço visa nao so a reflexao e promoçao de novas ideias mas tambem a discussao da

sustentabilidade do futuro dos festivais de musica no país. E e certo que este tipo de foruns sao uma optima oportunidade de ter acesso a diferentes opinioes e ideias sobre o que se passa no mundo da musica. E uma sugestao diferente para todos os amantes e empreendedores na industria musical que pretendem de algum modo contribuir para o futuro dos festivais mas, principalmente, para o cenario musical nacional. Sem duvida, uma experiencia cultural unica!


Décima Terceira Edição

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Parte para rasgar Fernando Tordo abandona o paraíso Dário Moreira

Q

uando se noticiou a emigraçao de Fernando Tordo para o Brasil, achei que o musico fosse presenciar o Mundial de futebol. Nao entendo a sua fuga do Paraíso. Portugal esta espectacular, tanto para musicos como para sapateiros, tanto para estudantes como para arqueologos, que cavam a procura de emprego. O Governo e excelente, os partidos estao em sintonia constante, ha uma forte aposta na arte e na cultura. Ninguem, em momento algum, desvia dinheiro neste país. Ate o clima, muitas vezes maroto, e fenomenal.

podemos vangloriar de tal coisa. Acima de Portugal, so mesmo a China. Tordo alegou ainda que nao ha trabalho. Estara a fazer pouco de nos? No Brasil nem ouvem musica. Uma tia minha foi la e diz que o pessoal nos tempos livres so frequenta o Colombo e o Brasil dos pequeninos, uma especie de cidade em miniatura. Eu acho que, quando se emigra, deve-se emigrar como deve ser. Por exemplo, com destino a Moçambique, Venezuela ou Síria. Isso sim, sao países que aleijam. Fernando vai trocar o calor fabuloso de Portugal pelo frio incomodo do Brasil. Fernando vai abdicar das melhores praias do Mundo para estar nos fracos areais do Brasil. Sera que o musico, com 75 anos, nao pensa nos sorvetes que temos por ca? Nao pensa nos cocos que bebemos ao fim da tarde enquanto ouvimos Gabriel, o Pensador? Para alem disto, o nosso Carnaval e mundialmente conhecido. No Brasil, salvo erro, acho que nem celebram essa epoca festiva. Eu daria razao a quem emigra se este país fosse mau para viver. Mas nos somos uma grande potencia, ate nos

Portugal está espectacular, tanto para músicos como para sapateiros, tanto para estudantes como para arqueólogos, que cavam à procura de emprego. (…) Até o clima, muitas vezes maroto, é fenomenal.


Música Nome

Quando

Birds Are Indie

14/03

Ana Moura & Antonio Zambujo You Can't Win, Charlie Brown Beyonce

18/03

26/03 e 27/03

MEO Arena

Panda Bear + The Veils

29/03

MusicBox

20/03

Onde

Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro Coliseu dos Re21:30h creios MusicBox 21:30h

22:30h 20:00h 00:00h

Preço 4€ Desde 30 € 8€ Desde 42 € ---

Exposições Nome

Quando

Onde

Preço

RUBENS, BRUEGHEL, LORRAIN Ate 16/03 A paisagem nordica no Museu do Prado Pintura

Museu Nacional de Arte Antiga Rua das Janelas Verdes

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O EXOTICO NUNCA ESTA EM CASA? Ate 29/06 A China Na Faiança E No Azulejo Portugueses (Seculos XVII-XVIII) Azulejaria

Museu Nacional do Azulejo Rua da Madre de Deus

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ALMADA NEGREIROS. Festas Da Cidade De Lisboa - 80 Anos

Museu Da Cidade Campo Grande

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Ate 30/06 Desenho

Cinema Nome

Realizador Estreia

Onde

Liçoes de Harmonia - Uroki Garmonii

Emir BaigaDrama zin

06/03

Cinema Monumental

Uma Longa Viagem - The Railway Man

Jonathan Drama Teplitzky

13/03

Cinema Monumental, Fonte Nova e Zon Lusomundo

Bertrand Comedia Tavernier

27/03

Palacio das Necessidades—Quai d’Orsay

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