Revista Neo Mondo - Edição 13

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NeoMondo

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um olhar consciente

Ano 2 - Nº 13 - Agosto 2008 - Distribuição Gratuita

Vencendo a Poluição

Industrial

Células-tronco

Construção Sustentável 10

O Início de um sonho

Cubatão

Uma questão de ética

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Recuperação ambiental

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Neo Mondo - Agosto 2008


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Seções Economia & Negócios 10 Início de um sonho País já tem a sua própria certificação de construção sustentável, inspirada no modelo francês

Perfil 08 A arte no contexto social Alessandra Meleiro fala sobre como a arte e na cultura podem revelar a capacidade de expressão de um povo.

13 Artigo: Gestão de mudanças A gestão de mudanças é assunto estratégico na administração empresarial.

MEIO AMBIENTE Investindo na preservação Programa internacional investe em projetos que preservam florestas tropicais do uso indevido

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17 Artigo: Folclore também é meio ambiente Meio ambiente não se restringe a florestas, mas também, às tradições populares e a tudo o que confere valor à vida.

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ESPECIAL - POLUIÇÃO INDUSTRIAL Vencendo a poluição industrial Como o maior centro industrial do país está lidando com a questão da poluição industrial

26 Como Cubatão deixou o Vale da Morte O processo de recuperação ambiental

29 Artigo: Uma forma de desperdício A poluição industrial é um indicador de falta de eficiência nos processos produtivos Leis não bastam País é bom de leis, e na área ambiental não é diferente, mas falta acompanhar o ritmo e a abrangência desejadas.

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42 Santo e delicioso remédio Pesquisadora da USP desenvolve o sorvete de bagaço de uva, que têm o poder antioxidante contra doenças degenerativas e o envelhecimento.

Expediente Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Livi Carolina e Eduardo Sanches Redação: Liane Uechi (MTB 18.190), Livi Carolina (MTB 49.103-59) e Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Revisão: Instituto Neo Mondo Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

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SAÚDE 18 Uma questão de ética Cientistas divergem quando o assunto é células-tronco embrionárias.

25 Artigo: A indústria quase sob controle. Falta o povo Na questão da poluição, o que falta ainda é educação. Algo de Bom no Ar Empresas adotam dispositivos avançados que as tornam mais competitivas e em dia com a missão ambiental.

30 38 Saúde é que interessa Há sinais de vida saudável nos ambientes de trabalho; a Comissão do Benzeno é uma das mais promissoras pela atuação de seus integrantes. 45 Artigo: Como Economizar água Soluções simples que podem ser adotadas por todos para o uso racional da água

Publicação Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 Santo André – SP Cep: 09190-000 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br classificadosolidario@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 20 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.


Prêmio Brasileiro Imortal. Valorizando quem se dedica ao meio ambiente.

A Vale investe em tecnologia para a disseminação de mudas das espécies nativas onde atua, e também na recuperação e conservação ambiental dessas regiões. A Vale busca constantemente formas de valorizar pessoas que, assim como ela, trabalham pelo meio ambiente. Por isso, criou o Prêmio Brasileiro Imortal, que irá homenagear brasileiros por projetos, ações e seu compromisso socioambiental. Os 6 vencedores serão escolhidos por voto popular e poderão ter seu nome associado a novas espécies botânicas, descobertas no projeto de avaliação da biodiversidade da Mata Atlântica, por pesquisadores brasileiros, na Reserva Natural da Vale em Linhares – ES. Acesse www.brasileiroimortal.com.br e conheça os indicados e seus trabalhos, e vote. Você pode concorrer a uma viagem ecológica para conhecer uma de nossas reservas naturais. Sim, é possível transformar recursos minerais em riqueza, desenvolvimento sustentável e reconhecimento.

Neo Mondo - Julho 2008

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Editorial

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a edição de agosto da Revista Neo Mondo trabalhamos o tema central poluição industrial. Nas décadas de 70 e 80 ela era uma das responsáveis pela baixa qualidade de vida nos grandes centros urbanos. Problemas pulmonares, má formação genética, alergias e intoxicações eram rotina na vida de quem estava exposto a todo tipo de produtos tóxicos. Hoje, vivemos uma fase de consciência ambiental, postura amadurecida por força da pressão internacional e também pela constatação óbvia da interdependência do homem com o meio ambiente. Melhor ainda, as empresas passaram a perceber que as ações e investimentos para proteção ao meio ambiente impulsionaram o desenvolvimento de novas soluções, como o reaproveitamento de resíduos, implementação de processos mais racionais, mudanças de matriz energética, que agregaram muitas vezes redução de custos e produtos e serviços mais competitivos. A sustentabilidade, palavra chave no mundo dos negócios começa a se mostrar factível e indissolúvel ao desenvolvimento. O leitor poderá verificar como está sendo controlada e monitorada a poluição industrial, nesses novos tempos. Conhecerá ainda os caminhos escolhidos pelos grandes pólos industriais. São Paulo, maior centro industrial e comercial do país, foi nosso foco nessa pesquisa. Analisamos dois grandes centros nervosos da produção industrial, o Pólo de Capuava, central petroquímica instalada na região do ABC paulista e o Pólo de Cubatão, que em tempos

remotos já foi considerado o Vale da Morte. Aliás, resgatamos o programa desenvolvido para a sua recuperação ambiental, que reverteu o quadro de grande degradação daquela região. Iremos entender como a tecnologia e os novos modelos de gestão estão permitindo rever posturas de desenvolvimento. Nesse bloco especial, abordaremos ainda a questão das doenças do trabalho, as legislações ambientais, os licenciamentos, que se tornaram a principal ferramenta de controle e ainda o exemplo de mobilização da sociedade com a Comissão de Benzeno. A Neo Mondo também traz à tona a discussão sobre células-tronco, ouvindo os dois lados desse polêmico embate. As pesquisas científicas continuam reservando boas surpresas como um sorvete contra o câncer e problemas cardiovasculares. Vale a pena provar! Em Meio Ambiente, visitaremos um programa de apoio internacional para proteção de florestas tropicais. No perfil desse mês, a doutora em cinema e políticas culturais, Alessandra Meleiro, nos fala sobre o papel da arte no fortalecimento da cultura e no desenvolvimento de uma nação. Preparamos mais esta edição com o carinho de sempre e esperando que as informações e debates levantados possam contribuir e estimular novas discussões e soluções de desenvolvimento sustentável. Boa leitura!

Liane Uechi Diretora e Redação

Instituto

Neo Mondo Um olhar consciente Neo Mondo - Agosto 2008

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Neo Mondo Um olhar consciente

Neo Mondo - Julho 2008

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Perfil

A arte no contexto Na arte e na cultura revela-se a capacidade de expressão de um povo. Da Redação Paula Lyn Carvalho

Alessandra Meleiro, especialista em cinema e políticas culturais

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ão há dúvida de que a arte e a cultura são aspectos da vida e da sociedade e que portanto, têm seus papéis nos caminhos do desenvolvimento de uma nação. A antropologia define a cultura como resultado da interação social dos indivíduos e dos seus modos de pensar, construir valores, manejar identidades e diferenças. É na expressão artística e cultural que um povo acaba revelando sua força e sua capacidade de expressão, de situar-se no mundo e de se comunicar. A especialista em cinema e políticas culturais, Alessandra Meleiro, nos fala sobre a importância da arte, nesse contexto social, e, sobre os caminhos do cinema brasileiro. Neo Mondo: O que é arte e qual seu papel social? Alessandra: A arte pode ser vista como um produto cultural e como prática social, valiosa tanto por si mesma como pelo que pode nos revelar dos sistemas e processos culturais. Ironicamente, essa inclusão da arte na cultura – de certa forma uma redução de sua importância como prática – resultou numa maior compreensão de sua especificidade como meio de comunicação. Em geral, as políticas culturais tendem a considerar como arte apenas as manifestações que se enquadrem em um determinado sistema de valores preestabelecidos. Mário de Andrade

propunha o conceito de “arte-ação”, que rejeitava a visão exclusivamente focada na beleza, defendendo que também se considerasse o contexto histórico como elemento de produção. Neo Mondo: De que forma a arte pode representar a identidade de um povo? Alessandra: Se entendermos arte como atividades de criação que abrangem diferentes tipos de eventos e um largo espectro de linguagens e mídias e, paralelamente, pensarmos na adoção de um programa de ação cujo propósito seja criar condições para que públicos de determinada comunidade utilizem formas apropriadas de arte como meio de expressão, acredito que possa ocorrer processos de identificação, já que estas manifestações artísticas podem ser adequadas aos desejos locais. Neo Mondo: O Brasil possui uma identidade cultural única? Alessandra: A dinâmica cultural contemporânea é complexa e de orientação contraditória. Insistir em uma identidade cultural única é celebrar o passado para reafirmar-se no presente. A transnacionalização da cultura efetuada pelas tecnologias comunicacionais agora é parte das culturas urbanas – o que enfraquece as fronteiras nacionais e redefine os conceitos de nação e identidade.


social Neo Mondo: A TV e o cinema têm um apelo muito forte junto ao brasileiro, ditando modas, tendências e comportamentos. Há uma consciência de quem atua nesses meios sobre essa influência e esse poder de transformação? Alessandra: Boa parte dos cineastas que chegou ao set nos anos 90 passou pela TV ou pela publicidade e foi organizando seu ideário fílmico individualmente. Portanto, não há uma homogeneização de projetos ideológicos entre eles. Do ponto de vista da estética, o que percebemos é que a linguagem que vem da publicidade e da TV invadiu as telas de cinema – e isso é um aspecto positivo – já que cobrar uma coerência estética da produção atual seria castrar o vigor da atual produção. Acredito que estes diretores que vieram da publicidade e da televisão – habituados a analisar indicadores e a interpretar pesquisas de hábitos de consumo – estão conscientes de que, através da linguagem e da construção da narrativa – podem inibir a capacidade de reflexão do público. Neo Mondo: Como vê a exploração da miséria nos enredos de filmes brasileiros? Alessandra: Desde o filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, que por variadas razões transformou-se num marco do cinema contemporâneo brasileiro, as propostas estéticas e narrativas da atual safra nacional passam

pela representação da miséria e por um discurso da periferia e da violência. Seguiram-se “Carandiru”, de Hector Babenco, “Baixio das Bestas”, de Cláudio Assis, e vários outros. Percebemos que todos esses filmes foram grande sucesso de bilheteria no Brasil e muito premiados em festivais internacionais, passando a ocupar salas de cinema comerciais no exterior e a atrair um público mais amplo do que o chamado ‘público de festivais’. O fato da representação da miséria atrair tamanho interesse de crítica e público dentro e fora do Brasil acaba incentivando uma nova safra de diretores a seguirem os passos de seus antecessores. Neo Mondo: Esse tipo de exposição da miséria não ajuda a reforçar a má imagem do Brasil no exterior? Alessandra: Não concordo com a afirmação de que os filmes podem propagar uma imagem negativa do país para o mundo, mas sim que os filmes podem propagar uma imagem negativa das empresas patrocinadoras. Tenho ouvido de profissionais do mercado cinematográfico que empresas patrocinadoras estatais e privadas – que acabam assumindo o poder do que vai ou não ser filmado – vêem rejeitando propostas de roteiro que tragam este discurso, já que não querem ver suas imagens institucionais associadas com a imagem de um país pobre e subdesenvolvido.

Neo Mondo: A Lei de Incentivo à Cultura tem permitido democratizar ou tornou a arte uma mercadoria da indústria do entretenimento? Alessandra: A Lei de Incentivo à Cultura é falha no sentido de que atualmente só existe um único mecanismo, o da renúncia, capaz de dar conta do financiamento da cultura. O que precisamos é de uma política em que se tenham vários mecanismos. O Ministério da Cultura pretende modificar em diversos pontos a Lei Rouanet e criar outras formas de fomento e financiamento do setor, hoje baseados fundamentalmente em renúncia fiscal. À renúncia seriam acrescentados outros mecanismos, como a criação do valecultura, da loteria da cultura, de linhas de financiamento a juros baixos para o setor e a ampliação do orçamento da pasta. Essa revisão é positiva já que a lei atual de renúncia não é mais capaz de sustentar uma política pública para a área cultural. Neo Mondo: O fácil acesso a conteúdos artísticos pelos modernos meios de comunicação enfraqueceram a arte popular? Alessandra: Não acredito na oposição entre o tradicional e o moderno ou o culto e o popular. O que ocorre é a hibridização entre essas formas culturais. É possível haver a coexistência de culturas étnicas e novas tecnologias, formas de produção artesanal e industrial. Neo Mondo - Agosto 2008

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Economia & Negócios

Início de um

Sonho

São poucos os exemplos de construção sustentável no Brasil, mas o País já tem a sua própria certificação, inspirada no modelo francês Gabriel Arcanjo Nogueira

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homem das cavernas procurava um local seguro para se livrar das intempéries e de seus inimigos naturais. Hoje, o que se busca são ambientes saudáveis para viver. Uma construção pode até ser ecologicamente correta, mas não basta - o ideal é que ela seja sustentável. O que implica levar em conta aspectos ambientais, sociais e econômicos. Quem dá a receita é a arquiteta e urbanista Silvia Manfredi, diretora-geral da Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica (Anab). Criada no País em 2005, a Anab 10

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Brasil atua de forma independente, mas com o respaldo e know-how técnico da Itália, país de origem da Associazione Nazionale di Architettura Bioecologica, com sede em Milão. O correto é falar em construção - e não apenas edificação - porque é o que se ouve no mundo. Uma idéia que ultrapassa os limites da edificação e se estende a bairros e outros tipos de construção, como estradas e pontes sustentáveis. “Claro que se a construção for uma edificação, pode-se perfeitamente falar

em edificação ou edifício sustentável”, diz Manuel Carlos Reis Martins, da Fundação Vanzolini. Tripé da sustentabilidade Com especialização em Gestão Ambiental e responsável pelo desenvolvimento de projetos e programas da Anab, Silvia detalha: “A construção sustentável é baseada no tripé da sustentabilidade, que significa ser ambientalmente correta, causando o menor impacto possível no meio em que está inserida; socialmente justa; e


nementale (HQE), do Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB), o lado internacional da parceria. O nível de uma certificação dessa importância no mundo soma-se à credibilidade da Fundação Vanzolini, “a maior certificadora brasileira”, lembra Martins. A preocupação da Fundação foi desenvolver algo que tivesse a cara do Brasil porque considera fundamental atender às demandas e particularidades do País, com arquitetura própria e normas técnicas específicas.

economicamente viável. Aspectos que devem ser levados em conta em todo o ciclo de vida do empreendimento, ou seja, no seu planejamento, construção, durante toda a sua vida útil e posterior demolição. E ir além: considerar também os impactos indiretos relacionados ao ciclo de vida dos podutos que utiliza, desde a extração da matéria-prima e demais impactos até a aplicação no local da obra”. Tarefa nada fácil, reconhece a arquiteta e urbanista. Mas o Brasil já conta com sua própria certificação, desenvolvida pela Fundação Vanzolini em parceria com o Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Trata-se do Processo Aqua, que emite na reta final o selo de Alta Qualidade Ambiental (Aqua). É a versão tupiniquim do modelo francês, o Haute Qualité Environ-

Três fases e 14 categorias Martins, coordenador-executivo da Construção Sustentável - Processo Aqua da Fundação Vanzolini, explica em detalhes o passo a passo do processo: > Antes de mais nada, o empreendedor deve definir o Programa do empreendimento, desde as necessidades até o desempenho planejado em 14 categorias do Referencial Técnico. O que deve ser feito de “maneira justificada, coerente e viável”. É indispensável que o empreendedor “se comprometa com esse desempenho, adotando um sistema de gestão que permita atingi-lo e alocando os recursos necessários”. O passo seguinte requer do empreendedor e seus agentes avaliarem a coerência do desempenho planejado e submeterem essa avaliação à auditoria da Fundação Vanzolini. Esta constata o atendimento do Referencial Técnico e emite o certificado da Fase Programa, o que sai em 30 dias. “Com isso o empreendedor já pode usar o certificado e a marca no lançamento do empreendimento.” > A fase seguinte é a do desenvolvimento da concepção - o projeto - do empreendimento, para que a construção atinja os níveis de desempenho programados. “O empreendedor, por meio de seus agentes, avalia o desempenho especificado no projeto nas mesmas 14 categorias de desempenho, agora de modo mais objetivo.” É quando a Fundação Vanzolini audita essa avaliação e, se constatar o atendimento ao Referencial Técnico, emite o certificado da Fase Concepção, também em 30 dias. > A obra está pronta. O empreendedor faz a avaliação do desempenho da construção resultante do previsto no projeto e a submete à auditoria da Fundação Vanzolini. Esta verifica se o atendimento ao Referencial Técnico está satisfeito e emite o certificado da Fase Concepção, em 30 dias.

Brasil na rede mundial Martins adianta que a Fundação Vanzolini, como órgão certificador, desenvolve o referencial para avaliação do desempenho no uso e operação da construção para ser utilizado tanto por construções certificadas no Processo Aqua quanto por construções existentes que alcancem o que classifica como “desempenho mínimo”, previsto no Referencial Técnico, nas mesmas 14 categorias, devidamente adaptados para essas últimas. Desempenho que, de acordo com o coordenador-executivo, será mais fácil de obter em empreendimentos desenvolvidos no Processo Aqua. O modelo escolhido pela Fundação Vanzolini coloca o Brasil numa rede mundial de 19 países, com predominância européia. Martins esclarece: “O Brasil está apenas no começo. O processo teve início na Europa, depois alastrou-se por Austrália e Nova Zelândia, logo após a Eco Rio-92, já como resultado prático das intenções da Agenda 21. Mais tarde, os Estados Unidos entraram no bloco desses países, ao término daquela década. A Europa, de modo geral, sempre mostrou maior consciência ambiental”. Silvia concorda e vai além, ao lembrar: “Na Europa, onde a questão está bem avançada, já se constroem edifícios com emissão zero de carbono (que utilizam apenas energias renováveis e são altamente eficientes do ponto de vista do consumo de energia, conforto e qualidade dos ambientes), focados principalmente na saúde de seus usuários. No mundo todo se constroem também as chamadas ecovilas, empreendimentos fundamentados na permacultura, por utilizar basicamente tecnologias naturais que não agridem o ambiente em que estão inseridas”. Importância do conceito A especialista diz que o País não chega a passar vergonha, devido a problemas e questões peculiares que tem de enfrentar e por estar ainda no início de uma tomada de consciência. Silvia reconhece que, mesmo assim, há iniciativas isoladas, louváveis pelo alcance delas no processo de conscientização que deve ser tanto dos profissionais envolvidos no setor como de toda a população. A diretora da Anab prefere ressaltar a importância do conceito, do qual faz breve histórico: “A partir da crise do petróleo, na década de 1970, veio a percepção de que o modelo de de-

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Economia & Negócios

Divulgação/Petrobras

cia do Banco Real na Granja Viana, em Cotia (SP), que conquistaram a certificação segundo critérios dos Estados Unidos: o selo Leadership in Energy and Environmental Design (LEED). No mesmo caminho dessa conquista estão o Edifício Rochaverá, no bairro paulistano do Morumbi, e a ampliação do Centro de Pesquisa em Alta Tecnologia da Petrobrás (Cenpes), na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. Ainda pouco para um país da magnitude do Brasil, mas sem dúvida um bom começo.

SERVIÇO Centro de Pesquisa em Alta Tecnologia da Petrobrás, no caminho da certificação

senvolvimeto e de consumo, que persiste até hoje, baseado em fontes e recursos não renováveis, é insustentável para o planeta. Foi quando surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, e cada país e setor econômico começou a criar a sua agenda visando à sustentabilidade. A construção não poderia ficar de fora, pois é o segmento de maior impacto social, ambiental e econômico, seja pelo volume de negócios e de investimento, seja pelo consumo de recursos do planeta”. Silvia tem na ponta da língua os impactos negativos das edificações na vida das pessoas (ver quadro). Cases promissores Unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc), na capital paulista e no Interior do Estado, estão entre exemplos de construções sustentáveis no País. Conceito que, para a instituição, é antes de tudo uma escolha: a de criar ambientes saudáveis. O que implica privilegiar uma arquitetura de baixo impacto ambiental que leve em conta não só questões técnicas, mas as relações humanas e trabalhistas, além, é claro, de respeitar o reaproveitamento e destinação de resíduos e a conservação de recursos naturais, entre outros critérios. Quem esclarece é Luciano Ranieri, gestor de projetos, orçamentos e planejamento da Gerência de Serviços de Engenharia do Sesc, com a ressalva: “Nosso conjunto arquitetônico teve inicio na década de 1940. A partir de 1990, todas as unidades vêm sendo adaptadas. Hoje, já possuímos dispositivos economizadores 12

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de água em todos os pontos de consumo. O aquecimento de água também nunca utiliza exclusivamente fontes diretas como a energia elétrica ou o gás; antes, a água é pré-aquecida utilizando sistemas solares, ou por troca de calor com a energia, rejeito daquela gerada no processo de condicionamento do ar”. Luciano considera altamente positivo o fato de o Brasil contar com um método próprio de certificação - o selo Aqua -, que “se converte em especial vantagem para os casos de empreendimentos de revitalização ou onde as características de uso e ocupação do solo não permitem o total atendimento de ações predefinidas”. E adianta: “A futura unidade do Sesc Guarulhos, cuja fase de design e especificação foi iniciada neste ano, será o primeiro projeto para o qual pretendemos buscar certificação”. Há mesmo edificações, como a agên-

A adaptação do selo sustentável francês incluiu ajustes técnicos e treinamentos diferenciados aos auditores brasileiros. O resultado, segundo a Fundação Vanzolini, foi um certificado mais completo e flexível, o que garante maior liberdade de projeto e inovação. O Aqua está disponível para download no site www.geaconstruction.com.

Silvia, da Anab: projetos devem levar em conta aspectos ambientais, sociais e econômicos

Quadro Impactos Negativos * Nos Estados Unidos, as edificações são responsáveis por 12% do consumo de água; 39% das emissões de CO2; 65% da geração de resíduos; e 71% do consumo de eletricidade. * Índices semelhantes aos brasileiros: 40% dos recursos naturais extraídos no País são destinados à indústria da construção civil; 50% dos resíduos sólidos urbanos são provenientes de construções e demolições; 50% do consumo de

energia elétrica é destinada para operação das edificações. * No mundo, os edifícios são responsáveis por 17% do consumo de água potável; 25% do consumo de madeira; 33% das emissões de CO2; 40% do uso de recursos naturais; e 40% do consumo de energia. Fontes: United States Green Building Council (USGBC) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) União Nacional da Construção


Leonardo Henrique Nardin

Gestão

de mudanças A gestão de mudanças é assunto estratégico na administração empresarial.

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Brasil vive hoje uma excelente fase econômica, apesar de o mercado apresentar perspectivas mais conservadoras para o segundo semestre de 2008. Adventos como a conquista do grau de investimento; implantação da nova legislação contábil (Lei 11.638); inflação sob controle – apesar de pressões que a leva perto do teto da meta de 6,5% ao ano; fusões e aquisições; pequena desvalorização do dólar, que afeta negativamente as exportações, porém favorece importações de máquinas e equipamentos de ponta, que permite à indústria renovar ou melhorar seu parque industrial, entre outros itens favoráveis ao crescimento do país, têm criado um ambiente de constantes mudanças. O resultado de qualquer mudança pode assustar e é por isso que existe o período de adaptação para que as conseqüências sejam as melhores possíveis. A da conquista do grau de investimento atribuído pelas agências classificadoras de risco Standard & Poors e Fitch, que colocou o Brasil numa posição de destaque para recebimento de investimentos estrangeiros, e também da aprovação da nova legislação contábil, que elevou as normas brasileiras a padrões internacionais, são mudanças que o mundo corporativo tem que aprender a conviver. Em consultoria empresarial, um dos principais trabalhos é o de convencer o empresário da necessidade de reestruturação organizacional em sua empresa. Isso implica essencialmente em mudança cultural e revisão da estratégia da organização.

A capacidade em lidar com a mudança caracterizou as organizações de sucesso nos anos 80 e isso desencadeou a proposição de modelos de gestão de mudança na década seguinte. Se só alcançaram o sucesso as organizações que realmente foram capazes de gerir a mudança no final do século passado, a Gestão da Mudança passa a ser um dos assuntos mais importantes a serem estudados e desenvolvidos em Administração nos dias atuais. Algumas são as explicações aceitas para estes fatos: No passado, o “patrão” tinha impregnada a cultura da gestão familiar, na qual a falta de concorrentes era a grande razão pela qual sua forma de gestão mantinha-se inalterada, abstendo-se da profissionalização. Por mais que a produtividade fosse baixa em função de haver funcionários desmotivados, condições insalubres de trabalho ou altos custos, o negócio ainda assim era rentável, pois a ausência de opções levava o cliente a continuar comprando do mesmo fornecedor, nem que ele tivesse que pagar mais por isso. Oscilações de produtividade sempre alteraram e vão continuar alterando os custos e/ ou a qualidade do produto. Entretanto, hoje a oscilação de preço e/ ou qualidade leva um cliente a experimentar a concorrência, que é fortíssima, e se ele gostar, não voltará. Isso afeta a rentabilidade da empresa, e se afeta a rentabilidade, de fato passa a ser um problema. A compreensão das necessidades dos clientes tem se tornado mais difícil e este

cenário justifica o fenômeno da Gestão da Mudança, ambiente para o qual algumas condições são necessárias. É primordial que ela se inicie no pensamento da direção da empresa. São os gestores quem iniciam todo o processo de mudança cultural da organização, aceitando e compreendendo a necessidade de sua realização. O ambiente de mudança é fato. Vivemos em períodos de constantes oscilações. Conhecer as técnicas de gestão nesse ambiente é obrigação dos gestores de qualquer organização. Evidentemente que, para aqueles que ainda não se convenceram disso, não há fórmula mágica que os faça aceitar e compreender esse novo cenário. Por mais eloqüente e conhecedor de habilidades comportamentais que um consultor e/ou facilitador do processo seja, não há garantias de que um processo de mudança tenha êxito em uma empresa se só o gestor tem a autonomia e o poder para catalisá-lo e realizá-lo. Esse é o primeiro grande desafio para deixarmos a administração familiar e amadora do século passado para a gestão profissional e dinâmica dos tempos modernos.

Leonardo Henrique Nardin é administrador de empresas, pós-graduado em marketing e Auditor de Gestão de Riscos da BDO Trevisan de Londrina e Curitiba. E-mail: leonardo.nardin@bdotrevisan.com.br. Neo Mondo - Agosto 2008

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Meio Ambiente

Investindo na

Pres

Programa internacional investe em projetos que protegem florestas tropicais do uso indevido Da Redação

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ervação “

Se a idéia de uma ONG, proprietário ou do governo está dando certo é preciso dar a ela a chance de crescimento

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ossuidor de 20% da biodiversidade mundial, não há como negar que o Brasil é um país privilegiado pela natureza. Suas matas somam cerca de 550 milhões de hectares - área maior que toda a Europa -, que ocupam mais de 60% do território nacional. Por isso não é à toa que a preservação desse patrimônio tem, com o passar dos anos, se constituído em foco de preocupação mundial. E há motivos para isso, todo o planeta usufrui dessa riqueza ambiental brasileira. A Amazônia, sozinha, concentra mais de uma centena de trilhões de toneladas de carbono, transformados em oxigênio, com capacidade para refrigerar todo o mundo e promover o equilíbrio ecológico global. Sem perder a soberania e autonomia, o Ministério do Meio Ambiente tem firmado parcerias com outros pa-

íses e com o Terceiro Setor para promover o desenvolvimento sustentável dessas áreas. Um desses acordos, firmado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio92, denominado Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras - PPG7 tem como foco, entre outras ações, preservar a biodiversidade das florestas tropicais e reduzir a emissão de gás carbônico na região amazônica. Implantado pelo Ministério do Meio Ambiente e com investimento internacional do Grupo dos Sete países industrializados (Canadá, França, Alemanha, Itália, Espanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos), desde a criação do programa, têm promovido ações que conciliam o desenvolvimento econômico e social com a proteção do meio ambiente, em regiões de florestas tropicais.

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Meio Ambiente

Rede de proteção Para melhor efetivação destas ações, o PPG7 foi dividido em subprogramas, sendo um deles o Projeto Demonstrativo A – PDA, voltado para o segmento não-governamental, que tem apoiado cerca de 180 comunidades e organizações da Amazônia e da Mata Atlântica na implementação de iniciativas inovadoras no uso e conservação dos recursos naturais. De acordo com o coordenador técnico do PDA, Jorg Zimmermann, a ênfase é auxiliar as Unidades de Conservação e pequenos agricultores familiares a desenvolverem meios sustentáveis e inovadores, e, a partir do sucesso dessas experiências, estabelecer políticas públicas que introduzam estas estratégias em outras comunidades, organizações e instituições governamentais. “Sabemos que é importante promover a troca de experiência para que uma atitude bem-sucedida seja de conhecimento e aproveitada por todos. Temos o exemplo do Projeto de Conservação, Recuperação e Uso Sustentável do Palmiteiro Juçara nas Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira que permitiu à população conhecer novos meios de capitação de renda. Populações que só conheciam o extrativismo ilegal do palmito para sua

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sobrevivência, agora o preservam, pois não dependem somente dele. O programa começou no quilombo de Ivaporunduva e tem sido implantado em outras regiões” – ressalta o coordenador. PDA Para ser contemplado pelos recursos financeiros, doado pelo governo alemão e repassado pelo PDA, é preciso estar atento à publicação dos editais anuais. Para os quais é preciso apresentar a eficácia do projeto, que precisa estar em andamento há no mínimo dois anos, e o direcionamento do investimento, seja organização, proprietário ou governo. Se aprovado pela comissão executiva, e dependendo do impacto social positivo que o projeto causar na comunidade, gerando renda e qualidade de vida, o valor liberado pode variar de 500 a 9.300 mil, no período médio de três anos. Zimmermann explica que há etapas a cumprir para receber a totalidade do valor, que é dividido em três parcelas recebidas somente após a prestação de contas do investimento da parcela anterior. “Um dos medos iniciais do PDA era o uso indevido destes recursos, mas desde o início só tivemos seis projetos que desviaram o investimento. Por isso, tentamos ao máximo fechar o cerco

com as avaliações periódicas do programa. Mas este é um risco que se corre, as experiências podem dar certo ou não, mas tudo é aprendizado. Porém, dentre tantos projetos bem encaminhados, acredito que somos um sucesso” – declara o coordenador. Resultado De acordo com a avaliação do DIE (Instituto Alemão do Desenvolvimento, Bonn, Alemanha), realizada entre 1999 e 2002, sobre a contribuição do PPG7 notou-se que elevou enormemente a capacidade do Ministério do Meio Ambiente de assumir seu papel na Amazônia. Além de demarcar e legalizar 22 milhões de hectares de terras indígenas, dar suporte a reservas extrativistas em 2,1 milhões de hectares, oferecer treinamento para 12.000 pessoas em 322 comunidades na prevenção e no combate de queimadas e apoiar a implementação de iniciativas inovadoras de manejo florestal em nível empresarial e comunitário. “Se a idéia de uma ONG, proprietário ou do governo está dando certo é preciso dar a ela a chance de crescimento para que outras comunidades, com a mesma necessidade, também usufruam no futuro destes resultados” – destaca Zimmermann.


Márcio Thamos

Folclore também é meio ambiente Meio ambiente não se restringe a florestas, rios, espécies em extinção ou problemas das grandes cidades mas também, às tradições populares e, de um modo geral, a tudo o que confere valor à vida.

“M

eio ambiente” é uma expressão cara ao mundo contemporâneo. Seus elementos de composição, no entanto, vêm de tempos antigos. Ambient- é o tema do particípio presente do verbo latino ambire (amb- + ire), que significa, literalmente, ir em volta, isto é, andar ao redor. Medius é o termo que designa o que quer que esteja no meio, sendo, pois, central, intermediário, medianeiro. Por meio ambiente, entende-se, de imediato, o conjunto dos elementos físicos, biológicos e químicos que nos cercam, nos influenciam e são influenciados por nós. O que vale dizer, a terra, a água, o ar, as plantas e os animais – numa palavra, a natureza. Mas também o homem – “um bicho da terra tão pequeno”, como diz Camões n’Os Lusíadas –, não deixa de ser parte dessa mesma natureza. O que distingue o bicho humano dos restantes animais são suas variadas práticas sociais. É através delas que se expressa a cultura dos povos. E não existe cultura sem imaginação. Por isso o homem pode ser definido como um animal simbólico. Desse modo, o conceito de meio ambiente se alarga com facilidade para incorporar em sua definição aquilo que costumamos chamar o patrimônio cultural das nações, quer seja em seu aspecto material,

como objetos ou conjuntos arquitetônicos, quer seja em seu aspecto imaterial, como manifestações artísticas ou criações científicas. Àquela acepção básica de natureza, reserva-se atualmente a designação de meio ambiente natural. Já o sentido ligado às práticas sociais organizadas pelas comunidades humanas vem cada vez mais sendo denominado meio ambiente cultural. É assim que, ao falar de meio ambiente, podemos nos lembrar não só das florestas e dos rios, das espécies em risco de extinção ou dos problemas das grandes cidades mas também das tradições populares e, de um modo geral, de tudo o que confere valor à vida. Por isso não estranhei quando me veio à mente a figura do Curupira feito uma síntese do meio ambiente. Ora, trata-se de um protetor das matas e dos animais, conhecido e reconhecido de norte a sul do país. Na maioria das vezes, aparece como um indiozinho veloz, de cabelos vermelhos e dentes azuis, tendo sempre os pés voltados para trás. Costuma andar pelas florestas batendo o calcanhar no tronco das árvores para certificar-se de que estão firmes quando se aproxima um temporal. É generoso com os que se contentam em caçar para satisfazer as necessidades, mas torna-se o pavor dos que caçam desmedidamente ou perseguem as fêmeas prenhas e os filhotes. A estes, faz perder o rumo por muito tempo até pode-

rem deixar a selva. O Curupira é o nosso maior guardião do meio ambiente natural. E é, ao mesmo tempo, uma das grandes criações do imaginário popular brasileiro, sendo, portanto, um elemento integrador do nosso meio ambiente cultural. Embora curiosa, não é de espantar a notícia que Plínio, o Antigo, autor romano do séc. I d. C., registra em sua História Natural sobre homens da floresta, muito ligeiros, com pés virados para trás, que viviam na companhia de animais selvagens, em certa região ao norte da Europa e da Ásia. Tradições como essa, muitas vezes, viajam pelo mundo entre nações e gerações e viram mitos, lendas e contos, enriquecendo a imaginação dos povos. O meio ambiente natural e cultural, que recebemos como herança das gerações passadas, nos forma e nos encaminha em nossa jornada humana. Daí a importância de refletir – e de agir – sobre o mundo que vamos deixar para as próximas gerações.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Lingüística da FCL-UNESP/CAr. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

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Saúde

Uma

é

O

nde se inicia a vida humana? Alguns crêem que ela começa na fecundação do óvulo, outros acreditam que há vida somente após a formação do sistema nervoso do embrião - por volta do 14º dia da fecundação -, há ainda aqueles que defendem a teoria de que somente há vida se a formação do embrião for feita no útero da mãe e não in vitro, onde ele não pode se desenvolver... E assim, para cada indivíduo há uma teoria cheia de verdade baseada em suas crenças e valores. Mas foi este polêmico questionamento, que carrega intrinsecamente a ética dos direitos humanos, o foco das

discussões para a liberação do uso de células-tronco embrionárias - concedida em 29 de maio desse ano pelo Supremo Tribunal Federal - em pesquisas de terapia celular, para a formação de tecidos para reposição de células que foram perdidas pelo organismo. Com a promessa de, no futuro, tratar doenças crônicas degenerativas, como mal de Parkinson, auto-imunes, seqüelas de paralisias, derrames, queimaduras e, supostamente, até substituir órgãos inteiros e tecidos do corpo, eliminando procedimentos como transplantes e enxertos, métodos passíveis de rejeição do organismo.

De acordo com o ginecologista, especialista em Medicina Reprodutiva da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana – SBRH, Dirceu Mendes Pereira, isto seria possível porque estas célulasembrionárias são totipotentes, o que significa que têm o poder de transformar-se em qualquer tipo de tecido. “São estas células que, após a fecundação do óvulo, formam o embrião, um emaranhado de células idênticas, que, dependendo da combinação com proteínas do organismo, dão início ao desenvolvimento de cada órgão e membro do futuro feto. Por isso, crê-se que elas poderão re-

Fonte das células-tronco embrionárias: Embrião Fertilizado Primeiro dia

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Estágio Bicelular Segundo dia

Estágio Quadricelular Passagem do segundo dia para o terceiro dia

Blastocisto Do sétimo ao oitavo dia


questão de

tica! Cientistas divergem quando o assunto é células-tronco embrionárias. Livi Carolina

constituir qualquer tecido do corpo que, por algum motivo, tenha sido extinguido” – esclarece Mendes Pereira. Conforme o Conselho de Informações sobre Biotecnologia – CIB, o poder de transformação deste emaranhado de células, vai além, ao ponto de, se separado, cada célula ser capaz de produzir um embrião inteiro, com todos os seus tecidos e mais os anexos embrionários: a placenta, o cordão umbilical, saco amniótico, etc. Mas, mesmo com estas possibilidades, a questão ética central destacada pelos contrários a estas pesquisas, é que para utilizar as células-tronco embrionárias é necessário destruir o embrião, uma vez que é preciso retirar o núcleo dessa célula. A destruição do embrião A professora no Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília, Lenise Garcia, destacou que “destruir um embrião é violar o direito à vida, infringindo o Art. 5° da Constituição Federal, porque toda vida humana é digna e um ser humano, mesmo nas fases iniciais de seu desenvolvimento, não pode ser tratado como se fosse uma coisa” e ressalta: “isto é uma questão ética, não religiosa”.

Segundo Lenise, no momento da fecundação define-se toda a carga genética desse novo indivíduo, “quem são seus pais, se é homem ou mulher, a cor dos olhos, dos cabelos, e até características da personalidade. Ele ainda não tem uma ‘carteira de identidade’, mas a identidade ele já tem. É o mesmo indivíduo que será dali a dois, vinte ou oitenta anos, se chegar a viver esses anos”. Em contrapartida a esta preocupação, a presidente do Instituto de PesquiFernada Velloso

Lenise Garcia, bióloga que defende pesquisas com células-tronco adultas.

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Saúde

Ainda teremos anos de pesquisas para chegar a estes possíveis resultados

sa com Célula-Tronco, Patrícia Pranke, elucida que estas células são retiradas de um procedimento de fertilização in vitro de embriões congelados que necessariamente seriam descartados. “Quando um casal procura uma clínica de fertilização para fazer a fecundação assistida. Alguns embriões serão implantados para gerar uma criança, mas outros, chamados de excedentes, serão congelados. Grande parte dos cientistas acha que é melhor utilizá-los para pesquisa do que permanecerem congelados e inexoravelmente descartados, uma vez que os pais não desejam mais ter filhos” – declara em depoimento ao CIB. Com base em um Censo divulgado, em 2005, pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida – SBRA, existem cerca de 10 milhões de embriões congelados nas 15 maiores clínicas de reprodução brasileiras. Desses, 3.219 congelados há mais de três anos, critério exigido para a utilização em pesquisas com células-tronco embrionárias, de acordo com a Lei de Biossegurança, que também determina a autorização do casal doador do material genético para pesquisas. A alternativa das células-tronco adultas Alheia a estas discussões éticas, os estudos com células-tronco adultas estão avançando. De acordo com Lenise Garcia, a cada dia são publicadas novas descobertas. “A maior parte ainda está em fase de testes clínicos ou pré-clínicos, mas a evolução da área é notável. Elas representam a verdadeira esperança para pacientes com doenças degenerativas ou outras patologias que necessitam de terapia celular” – destaca. Estas células-tronco adultas são as responsáveis pela recomposição diária das células que morrem no organismo. Por exemplo, a cada nove dias, duas pla-

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quetas – responsáveis pela coagulação do sangue – são destruídas e a medula é responsável por produzir novas, geralmente encontradas na medula óssea, no cordão umbilical, na placenta. Mas existem inúmeras outras, como a retina, tecido adiposo e outros que ainda estão passando por estudos. Porém, segundo Mendes Pereira, estas células são limitadas, podendo formar somente alguns tipos específicos de tecido. Já Lenise afirma que elas têm, sim, especificidades, não sendo uma única célulatronco adulta capaz de regenerar todos os tipos de tecidos, mas não vê isso como uma desvantagem. Ela explica que na farmacologia, nunca se descobriu a “panacéia”, o medicamento capaz de curar todas as doenças, pelo contrário, cada vez evoluem os tratamentos descobrindo-se qual a droga adequada para cada patologia. “Penso que o mesmo acontecerá com a terapia celular: é necessário descobrir qual a célula-tronco adequada para cada tratamento e como pode ser usada. É claro que isso demanda muita pesquisa, mas a ciência nunca evoluiu de outro

Dirceu Mendes Pereira, especialista em Medicina Reprodutiva da SBRH.

modo”, e rebate a opinião dos favoráveis às células-tronco embrionárias: “as embrionárias transformam-se mesmo em todos os tipos celulares, inclusive nas células-tronco adultas. Mas conseguir fazer isso in vitro é um sonho que não se tem transformado em realidade. A sua falta de especificidade é justamente a fonte de um dos maiores problemas para o seu uso, pois elas tendem a formar tumores”. No entanto, mesmo o especialista Mendes Pereira ressalta que “por enquanto, todas essas possibilidades oferecidas pelas células-tronco, tanto embrionárias como adultas, são promessas. Não há nenhum estudo que efetivamente comprove estas especulações” e acrescenta: “ainda teremos anos de pesquisas para chegar a estes possíveis resultados”.

* Lei da Biossegurança (11.105/05) Art. 5o - É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. § 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa. o § 3 É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo ...


Poluição

Industrial Gestão ambiental, licenciamento, novas tecnologias, legislação específica, mobilização da sociedade e projetos de sucesso mostram como o Estado de São Paulo está vencendo a poluição industrial sem perder a competitividade.

Caderno Especial


Especial

Vencendo a

Poluição

Como o maior centro industrial do país está lidando com a questão da poluição industrial Liane Uechi

A

partir da década de 60, a industrialização no Brasil sofreu uma aceleração, com vistas ao desenvolvimento econômico. Formaram-se Parques Industriais e iniciou-se o chamado milagre brasileiro. Nessa época, o foco era o crescimento e o aumento das exportações, o Brasil queria e precisava produzir. O estado de São Paulo assumiu a dianteira e tornou-se o grande centro industrial e comercial do país, lugar que ocupa até hoje. O gerente do Departamento de Planejamento de Ações de Controle, Mauro Sato, lembra que nessa época a imagem de

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chaminés emitindo densa fumaça chegava a ter conotação positiva, pois era associada ao progresso. Nesse sentido, as questões ambientais não eram consideradas importantes, simplesmente não se falava no assunto. O resultado, como não poderia deixar de ser, foram taxas elevadas de degradação ambiental, reflexos da poluição do ar, da água e do solo, que expuseram as populações do entorno desses Pólos industriais a uma enorme variedade de substâncias tóxicas e a uma baixa qualidade de vida (ver tabela 1).

A constatação de que a preservação da Natureza significava a continuidade de vida no planeta, apesar de óbvia, custou a ser entendida, mas após algumas catástrofes ambientais mundiais ocorridas entre as décadas de 60 a 80, na índia, União Soviética, Japão e no próprio Brasil - em Cubatão, ficou claro que uma nova postura precisava ser adotada. O desenvolvimento sustentável, que consiste na possibilidade de conciliação entre crescimento econômico contínuo e conservação do meio ambiente, evitando a destruição de seus próprios alicerces naturais, passou a fazer parte do vocabulário nacional. O conceito


Industrial também não escapa do componente ético, já que incorpora à gestão empresarial e pública dimensões sociais, políticas e culturais, como a pobreza e a exclusão social, bem como o respeito às futuras gerações. De lá para cá o Brasil avançou bastante na questão do controle da poluição industrial, criando mecanismos, leis e instrumentos de controle e prevenção da qualidade ambiental dos processos. As agências ambientais se tornaram os principais articuladores dessa questão. Em São Paulo, maior pólo industrial do Brasil cabe a Cetesb (Companhia de Tec-

nologia de Saneamento Ambiental) estabelecer condições, restrições e medidas de controle ambiental. É o órgão estadual responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição. Para isso, utiliza-se dos seguintes expedientes: • licenciamento e fiscalização de fontes fixas; • fiscalização de fontes móveis; • monitoramento da qualidade do ar, das águas superficiais interiores, das águas subterrâneas e da balneabilidade das praias, inclusive as interiores.

Laércio Vechinni, gerente do setor de Planejamento de Ações de Controle da Cetesb, explicou que na questão industrial, o grande instrumento de controle é o Licenciamento Ambiental, documento necessário para a instalação e funcionamento. O licenciamento, bem como sua renovação periódica, tornou-se o grande recurso de controle da qualidade ambiental hoje no Brasil. Segundo Vechinni, esse mecanismo, que envolve o atendimento a diversas premissas, permitiu uma mudança de cenário da questão da poluição industrial, pois impôs um controle muiNeo Mondo - Agosto 2008

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Especial

Tabela 1 - Setores industriais com maior potencial de emissão Poluente Carga orgânica (DBO) Sólidos suspensos (água) SO2 NO2 CO Compostos orgânicos voláteis Particulados (ar)

Setores industriais Metalurgia de não- ferrosos; papel e gráfica; químicos não- petroquímicos; indústria do açúcar Siderurgia Metalurgia de não- ferrosos; siderurgia; refino de petróleo e indústria petroquímica Refino de petróleo e indústria petroquímica; siderurgia Siderurgia; metalurgia de não- ferrosos; químicos diversos; refino de petróleo e indústria petroquímica Refino de petróleo e indústria petroquímica; siderurgia; químicos diversos Siderurgia; óleos vegetais e gorduras p/ alimentação; minerais não- metálicos

to mais efetivo das ações das empresas, que passaram a obrigatoriamente, ter que seguir um formato aceitável de atuação e parâmetros de emissões. Sato explica que o Licenciamento Ambiental está previsto na Lei Estadual nº 997/76, que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente no Estado de São Paulo, e na Lei Federal nº 6.938/81, que estabelece as diretrizes da Política Nacional de Meio Ambiente LICENÇA AMBIENTAL As licenças estão divididas em três fases: • Licença Prévia, concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento atividade; • Licença de instalação, que autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos; • Licença de operação, que permite a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta nas licenças anteriores. José Jorge

Laércio Vechinni, da Cetesb.

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Após aprovadas as três licenças, o acompanhamento continua com as fiscalizações de rotina. Para alguns casos especiais, de significativo impacto ambiental, os meios de licenciamento mudam, como é o caso da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo que exige que algumas atividades apresentem o Relatório Ambiental Preliminar (RAP) ou o licenciamento no EIA/RIMA. De acordo com o engenheiro Sato, no Estado de São Paulo, os órgãos envolvidos no licenciamento ambiental são, além da CETESB, o Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental – DAIA e o Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais – DEPRN. Para empreendimentos localizados na Área de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo, é necessária ainda a participação do Departamento do Uso do Solo Metropolitano – DUSM. ÁREAS CONTAMINADAS O tema de controle da poluição está num processo evolutivo, porém ainda há muito o que fazer e aperfeiçoar. A questão de áreas contaminadas, por exemplo, sejam elas provenientes de falha mecânica ou mesmo remanescentes de outras épocas ainda é um tema recente, mas que irá avançar com o passar dos anos, com a necessidade de renovação e obtenção de novas licenças ambientais, pois a verificação dessas áreas é mais uma exigência, vinculada ao licenciamento. “Áreas suspeitas de contaminação precisarão apresentar estudo de

investigação ambiental de solo e águas subterrâneas, que subsidiarão a tomada de decisão quanto à necessidade de planos de remediação” – disse Sato. Meio Ambiente & Competitividade No início desse processo de desenvolvimento sustentável acreditava-se que os altos investimentos em processos de controle antipoluentes tornariam as indústrias menos competitivas no mercado internacional. No entanto, o que se observa é que é possível vislumbrar sinergias entre a competitividade e preservação do meio ambiente. Nessa nova postura e visão empresarial, as regulamentações ambientais deixam de ser encaradas apenas como um desafio e passam a ser estímulos ao desenvolvimento de novas soluções. Assim tem sido com as importantes corporações instaladas no país, antes ligadas ao estigma de grandes poluidoras. A pressão para avançar na questão ambiental, geralmente, conduziu à adoção de inovações tecnológicas e novas formas de gestão empresarial, que incluem o uso racional dos insumos, tratamento e/ou reaproveitamento de resíduos industriais para a co-geração de energia, mudança na matriz energética, reuso de recursos naturais e análises de ciclos produtivos, evitando desperdícios. E, apesar do investimento inicial para a implantação desses novos processos, o que se verifica nessas iniciativas é a redução de custos totais de um produto/serviço ou ainda o aumento de seu valor, melhorando a competitividade das empresas e, consequentemente, do país.

POLUIÇÃO & LEIS O controle da poluição do meio ambiente no Estado de São Paulo é regido basicamente pela Lei Estadual nº 997/76 e pelo Decreto Estadual nº 8468/76, além de legislações e normas específicas, tais como as resoluções da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, as resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, etc.


A indústria quase sob controle. Falta o povo

Mauro Ambrósio

Na questão da poluição, o que falta ainda é educação.

O

IBGE divulgou na primeira quinzena de agosto os números do crescimento da produção industrial em 14 locais distintos do país onde a pesquisa é realizada. Com taxas de dois dígitos destacaram-se: Espírito Santo (16,1%), Paraná (11,3%) e Goiás (11,1%). Em seguida, vieram São Paulo (9,8%), Pernambuco (7,9%), Amazonas (7,5%) e Minas Gerais (6,6%). Uma outra pesquisa do IBGE, aplicando uma metodologia desenvolvida pelo Banco Mundial, identificou pela primeira vez, alguns municípios do Rio de Janeiro que têm os maiores potenciais de emissão industrial de poluentes atmosféricos. O estudo mostrou também quais são os tipos de indústrias com maior capacidade de poluir o ar: refino de petróleo, minerais não metálicos e metalurgia. Os poluentes identificados são dióxido de enxofre (SO2), os particulados finos (PM10) - produzidos por indústrias de materiais não metálicos -substâncias que causam danos à saúde respiratória e ao meio ambiente. A identificação da localização e da concentração dessa poluição em potencial pode facilitar o seu monitoramento e controle pelos órgãos ambientais.

A poluição industrial é apenas um dos problemas que estamos vivendo. Os efeitos do desequilíbrio ecológico aumentam diariamente e, não é de agora. Vem sendo provocado por décadas ou séculos de industrialização com resultados para toda a cadeia de negócios, que vai desde a extração de matérias-primas, industrialização de produtos e comercialização da produção industrial. A indústria brasileira cresceu 6,3% em 2007 em muitos setores, como os de bens de capital, que fabricam máquinas e equipamentos para a indústria, e os de bens de consumo duráveis (produtos com vida longa, como carros e eletrodomésticos). A promessa para os próximos anos é de mais expansão. Um levantamento da CNI (Confederação nacional da Indústria) mostrou que 42% de mais de 1.600 indústrias pesquisadas têm intenção de investir em máquinas e equipamentos nos próximos meses, o que é ótimo para o crescimento do país e uma boa notícia é que essa expansão do setor vem acompanhada de uma boa intenção: fabricação de produtos que não prejudiquem o meio ambiente com a utilização de matérias-primas com responsabilidade socioambiental e desenvolvimento de pro-

jetos sustentáveis. Hoje, algumas empresas são conscientes de que a sustentabilidade é o caminho para a perenidade dos negócios. Outra boa notícia é que o mercado de trabalho para profissionais que desenvolvem e atuam em projetos e programas sustentáveis, está muito valorizado. Algumas pesquisas mostram que profissionais como estes, em níveis de gerência, chegam a ganhar perto de R$ 20 mil mensais. Esses profissionais terão muito trabalho pela frente. Além da poluição industrial, existem outros fatores que contribuem para a destruição da natureza e que estão totalmente ligados à crescente onda de urbanização e concentração populacional. O consumo desenfreado e irresponsável de bens e produtos que contribuem para a contaminação das nossas águas, do solo e também do ar, além do desmatamento de florestas e extinção de espécies de animais. É necessário muito esforço para a erradicação desses problemas. Acreditamos que um planejamento macro de marketing muito forte há de ser feito para conscientizar a população da importância do nosso meio ambiente. O que falta ainda é educação. Nosso grande marketing para o planeta, apesar de ainda vivermos individualmente como citamos no parágrafo acima, é nossa fonte de energia renovável: o etanol, que ainda engatinha, mas caminha para o sucesso. Nós temos um grande trunfo nas mãos para dar exemplo ao mundo que ainda utiliza combustíveis fósseis não renováveis e muito poluidores como o petróleo. Mas, para isso, precisamos nos reeducar. Sócio-diretor da BDO Trevisan para assuntos de sustentabilidade. E-mail: ambrosio@bdotrevisan.com.br Neo Mondo - Agosto 2008

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Especial

Como Cubatão

Vale da

O processo de recuperação ambiental de Cubatão que controlou a poluição e a degradação da cidade. Liane Uechi

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deixou o

a Morte 1985

A

cidade de Cubatão, a 40 km de São Paulo, é um caso bem sucedido de recuperação ambiental. O exemplo desse município, que chegou a carregar o estigma de “Vale da Morte” ilustra bem algumas situações: o descaso com as questões ambientais, na implantação do Pólo Industrial de Cubatão a partir dos anos 50 e a conseqüente resposta da natureza e ainda, como foi possível recuperar ambientalmente a cidade, sem perder a produtividade e a competitividade desse grande centro industrial brasileiro. Exatamente o que apregoa o conceito de desenvolvimento sustentável, processo esse onde o equilíbrio de objetivos sociais, econômicos e ambientais deve atender as necessidades da sociedade presente, sem comprometer as necessidades das gerações futuras. No início do século 20, Cubatão era um lugar bonito repleto de matas, rios, cascatas, mangues, um vale rodeado pela bela Serra do Mar. A excelente disposição geográfica, a apenas 40 km de São Paulo, maior centro consumidor e produtor do Brasil e a proximidade com o Porto de Santos, entrada e saída de cargas, assim como a abundância de água, uma malha viária moderna (à época, Anchieta e Piaçaguera) e mão de obra disponível, foram atrativos à grande industrialização da região. Cubatão tornou-se assim,

a partir das décadas de 60, um grande Pólo Industrial. Ali foram instaladas 23 indústrias de ponta, entre as quais uma refinaria, uma siderúrgica, nove fábricas de produtos químicos e sete de fertilizantes. A produção industrial deu ao município o quarto lugar dentro do Estado de São Paulo, em arrecadação de impostos. As exportações atingiam a casa de 500 milhões de dólares - cerca de 2% das exportações de todo o País, na época. O desenvolvimento avançava sem preocupação alguma com a questão ambiental. Emissões no ar, nos rios e no solo eram realizadas sem grande controle. A resposta veio rápida. Num período de aproximadamente 15 anos, Cubatão apresentava sinais de uma degradação ambiental sem precedentes na história brasileira. Na Serra do Mar era possível ver áreas sem vegetações, verdadeiras cicatrizes na montanha. Cerca de 60 km² da mata atlântica foram atingidos, provocando erosão nas encostas, escorregamentos de solo e assoreamento das drenagens superficiais, resultando em riscos às instalações industriais e bairros próximos, além de inundações em Cubatão. A topografia desfavorável à dispersão dos poluentes mantinha o ar sempre pesado e com cheiro de produtos químicos, sinais evidentes das condições atmosféricas inapropriadas, os peixes e as aves desapareceram. Foi então que novos Neo Mondo - Agosto 2008

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Especial

Vôo do Guará Vermelho, de volta a Cubatão

alertas começaram, desta vez, envolvendo seres humanos. Cubatão era campeã nacional em doenças respiratórias. Em seis meses, no período de outubro de 1981 a abril de 82, nasceram 1.868 crianças: 37 estavam mortas; outras cinco apresentavam um terrível quadro de desenvolvimento defeituoso do sistema nervoso; três nasceram com anencefalia (ausência de cérebro) e duas tinham um bloqueio na estrutura de células nervosas que liga o cérebro ao resto do corpo através da espinha dorsal (fechamento do tubo neural)1. Então ficou claro que o descaso e o desrespeito com o meio ambiente não passariam impunes. Era hora do Estado intervir de forma mais rigorosa, do que apenas promulgar as advertências e multas contra as empresas que violavam os níveis máximos de emissão de poluentes. Esse contexto levou o governo do Estado a iniciar em 1983 um plano de Recuperação Ambiental, cuja implementação ficou sob a responsabilidade da Cetesb - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo de São Paulo. O engenheiro Luiz Antonio Brun participou, na época, desse projeto de recuperação, desde os primeiros estudos até a constatação dos resultados positivos, quando então já ocupava o cargo de gerente regional da Cetesb. Segundo ele, a primeira medida foi o mapeamento das emissões. “Foram detectadas 320 fonte de alto potencial, sendo 230 lançados no ar, 44 nas águas e 46 no solo. Também se constatou uma emissão de cerca de 115 mil tonelada/ano de poluentes, dentre os quais substâncias como o dióxido de enxofre, hidrocarbonetos, óxido de nitrogênio, amônia e fluoretos” – contou o engenheiro. Exigiu-se das empresas soluções para o controle gradativo dessas emissões. O prazo máximo estipulado foi de cinco anos. Até lá, quando a situação atingia níveis críticos de poluição, as empresas eram obrigadas a 28

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parar a produção. Isso podia durar por dois ou três dias, o que representava prejuízos incalculáveis para os negócios. Brun explica que também se iniciou um trabalho de conscientização junto a população, que pôde acompanhar todo o processo. Reuniões trimestrais na Prefeitura apontavam as ações que estavam sendo realizadas. O cubatense sofreu bastante com o problema, tanto com as doenças quanto com o estigma de ser morador da região mais poluída do país. O problema virou até letra de música de sucesso na época:”... Aqui o ar realmente existe, dá até para pegar. Ai! o verde... as árvores são verdes, o rio é verde, o céu, a terra, o sol, as borboletas, as pessoas, tudo verde...”2 Mas o fato é que o trabalho conduzido pela Cetesb conseguiu reverter a situação. De acordo com Brun, em 1989, as 320 fontes poluentes estavam controladas. Foi implantada então a segunda fase, o Plano de Operação e Manutenção. “Não bastava instalar equipamentos. São necessários o monitoramente e procedimentos confiáveis para garantir esse controle” – explicou. Nessa fase foram listadas as fontes secundárias de poluição, que apesar de menores, quando somadas tornavam-se significativas. Novo levantamento apontou mais 263

fontes, sendo 163 lançamentos por ar, 85 por água e 16 por solo. Também foi feito o projeto de reflorestamento da Serra do Mar. “A Cetesb desenvolveu um método onde sementes de espécimes nativas envoltas em gel foram lançadas, na Serra, com auxílio de helicóptero” – disse. Atualmente, com o avanço tecnológico dos instrumentos de medição e informática, está em fase de implantação um programa de medição contínua de poluentes das principais fontes, com transmissão de dados em tempo real. De acordo com o relatório “Como está Cubatão”, que serviu de base para a Agenda 21 (ver quadro), até 2005, foram investidos pelas indústrias de Cubatão valores superiores a um bilhão de dólares e controladas cerca de 98,8% das fontes de emissão atmosférica. A melhor parte ainda é constatar a volta dos peixes ao Rio Cubatão, observar a cobertura vegetal da Serra do Mar e acompanhar o vôo da garça, do guará vermelho e de tantas outras aves que já podem ser avistadas nos mangues. As indústrias continuam lá, produzindo, competitivas, mas conciliando desenvolvimento, com critérios de sustentabilidade sócio ambiental. ¹ Fonte: Novo milênio.inf.br/cubatao ² Letra da música: Lua de Mel, do grupo Premeditando o Breque.

Pólo Industrial de Cubatão

Agenda 21: fazendo a lição de casa Passados 25 anos, a cidade ainda faz a “lição de casa”, construindo mecanismos de cidadania capazes de aperfeiçoar as conquistas. A cidade desenvolve sua Agenda 21, onde após um processo de levantamento das necessidades da cidade, se traçou um Plano de desenvolvimento com base na sustentabilidade. Durante mais de um ano, os 1700 conselheiros realizaram reuniões, debates, audiências públicas para diagnosticar de forma precisa

os anseios da cidade e definir as ações e propostas para atingi-las. Elas fazem parte de um livro: A Cubatão que queremos. A iniciativa envolve o Pólo Industrial, os poderes Executivo, Legislativo e a comunidade. O ano de 2020 é a data limite para a conclusão dos 282 projetos que versam sobre 17 temas. Para ver como está sendo desenvolvida essa Agenda, clique em: http://www.novomilenio.inf.br/cubatao/agenda21.htm


Artaet Arantes da Costa Martins

Uma forma de

DESPERDÍCIO

A poluição industrial é um indicador de falta de eficiência nos processos produtivos.

P

oluição industrial é, na verdade, uma forma de desperdício e ineficiência dos processos produtivos. Resíduos industriais representam, na maioria dos casos, perdas de matérias-primas e insumos. O próprio processo industrial é que deve ser investigado por meio de detecção de ineficiências e falhas, por exemplo, de acordo com a metodologia da qualidade, enquanto buscam-se novas aplicações para os materiais residuais gerados no processo. Essa visão sustentável vem sendo discutida, passando a ser reconhecida como uma alternativa coerente para a degradação ambiental. As ferramentas utilizadas para alcançar a Qualidade Ambiental são, em sua essência, idênticas àquelas utilizadas pela empresa para assegurar sua qualidade de produção: treinamento, plano de ação, controle de documentação, organização, limpeza e análises periódicas da situação. Historicamente, as soluções para os problemas causados pelo homem ao meio ambiente sempre tiveram como diretriz a conhecida lei do menor esforço. A abordagem tradicional para eliminação dos efeitos nocivos da poluição consistia em afastar o poluente gerado, diluí-lo, dispersá-lo e fazer, em suma, com que o mesmo deixasse, graças à distância, de incomodar seu gerador. A geração dos resíduos perigosos, pouco comuns nas sociedades primitivas, só começou efetivamente a incomodar quando se intensificou o processo de industrialização. O gerenciamento de resíduos sólidos industriais é pautado nos seguintes conceitos: Minimizar – abordagem preventiva, orientada para reduzir o volume

e o impacto causado pelos resíduos; Valorizar - abordagem orientada para extrair valores materiais ou energéticos que contribuem para reduzir os custos de destinação dos resíduos; Reaproveitar - abordagem corretiva, orientada para trazer de volta ao ciclo produtivo matérias-primas, substâncias e produtos extraídos dos resíduos; Dispor - abordagem passiva, orientada para conter os efeitos dos resíduos, mantendo-os sob controle, em locais que devem ser monitorados; Reciclar - quando há o reaproveitamento cíclico de matérias-primas de fácil purificação, como por exemplo, papel, vidro, alumínio, etc... Reutilizar - quando o reaproveitamento é direto, sob a forma de um produto, tal como as garrafas retornáveis e certas embalagens reaproveitáveis. Os volumes dos resíduos domiciliares, inflados pelo crescimento populacional e pelos hábitos da sociedade de consumo, e a geração de resíduos industriais de alta periculosidade, exigiram que os critérios para disposição de resíduos fossem revistos. A disposição in natura, passou a ser controlada com maior rigor e os mares e os cursos d’água deixaram de ser aceitos como áreas de disposição. Algumas outras alternativas, para a disposição controlada, foram recentemente propostas e desenvolvidas, tais como a injeção de resíduos em poços profundos, a disposição em minas subterrâneas desativadas e o armazenamento controlado em edificações projetadas especialmente para essa finalidade. A disposição em aterro é a solução in-

dicada para resíduos estáveis, não perigosos, com baixo teor de umidade e que não contenham valores a recuperar. Os aterros industriais requerem projeto e execução mais elaborados que os aterros sanitários, em razão dos tipos de materiais que deverão receber, particularmente quando se trata de resíduos perigosos. Os resíduos dispostos em aterro devem ser, tanto quanto possível, secos, estáveis, pouco solúveis e não voláteis. Contudo, esse domínio da tecnologia moderna sobre o meio natural traz conseqüências negativas para a qualidade da vida humana em seu ambiente. O homem, afinal, também é parte da natureza, depende dela para viver, e acaba sendo prejudicado por muitas dessas transformações, que degradam sua qualidade de vida. Os conhecimentos adquiridos mostram, sobretudo, que é mais sensato e de custo menor, incorporar, desde o início, a questão ambiental em todo e qualquer planejamento industrial. Dessa maneira, é possível não só evitar ou reduzir danos e conflitos, como também melhorar as chances de sobrevivência e fortalecimento da atividade dentro do cenário atual, que impõe a todas as organizações industriais um nível de exigência cada vez mais restritivo com relação ao desempenho e sustentabilidade ambiental.

Assessor da Qualidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Ouvidoria. Engenheiro com mestrado em Qualidade e Pós-graduação em Gestão Ambiental. Neo Mondo - Agosto 2008

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Especial

Algo de bom

no Empresas adotam dispositivos avançados que as tornam mais competitivas e em dia com a missão ambiental Gabriel Arcanjo Nogueira

N

a popular história em quadrinhos “Asterix”, os heróicos gauleses, chefiados por Abracurcix, só tinham um temor: o de que o céu caísse sobre suas cabeças. Houve uma época recente onde esse mesmo temor rondou os grandes centros urbanos brasileiros. A nuvem negra ameaçadora sobre nossas cabeças era a poluição industrial, que hoje é alvo de diversos mecanismos de controle adotados pelas empresas no País, onde se destacam as novas tecnologias e leis que regulamentam o assunto. Nos anos 70 a situação era assustadora em função da quantidade de emissões atmosféricas nos grandes Pólos Industriais do país. Passados mais de 40 anos, até dá para comemorar a melhora obtida na qualidade do ar e outros avanços alcançados como a adoção de

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AR


“”.

Nossos investimentos em melhoria do desempenho ambiental não buscam somente o atendimento legal, mas a sustentabilidade

novas formas de gestão dos negócios. Na Quattor, segurança e meio ambiente caminham juntos nos projetos que proporcionam à organização a desejada sustentabilidade. Recém-criada (a constituição da empresa foi anunciada em junho - ver Quadro 1), a petroquímica é uma das melhores do setor em gestão ambiental. Quem garante é Eduardo Sanches, gerente da área de Qualidade, Segurança e Meio Ambiente. Isto porque privilegia, em todas suas unidades, a instalação de dispositivos de controle de suas emissões, que a mantém nos limites legais. E, mais que isso, mostra que a questão ambiental represente, de fato, a posição estratégica da organização. A preocupação, de acordo com o executivo, é fazer com que todas as ampliações de seus processos produtivos apresentem ganhos ambientais. “É como comparar um carro novo com um antigo: o novo possui dispositivos mais sofisticados para emitir menos poluentes. Além do ganho tecnológico nos novos equipamentos, existem os específicos para controle ambiental que propiciam menos emissões. Embora a empresa esteja dentro dos limites legais de emissões, os órgãos ambientais exigem redução nas emissões para obtenção das licenças dos novos projetos.” esclareceu Sanches, que define essa medida como um processo de melhoria contínua. Planejamento e transparência “Processos importantes, como aquisição ou venda de ativos e ampliações, passam por avaliações ambientais e interferem significativamente nas decisões da empresa. Nossos investimentos

em melhoria do desempenho ambiental (ver Quadro 2) não buscam somente o atendimento legal, mas a sustentabilidade. Para nós, relacionamento transparente com a sociedade e as comunidades do entorno faz parte do nosso planejamento estratégico”, afirmou o gerente. Sanches deixa claro que a Quattor obedece a legislação ambiental do Brasil, mas fundamenta sua estratégia de investimentos na área tomando por base o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade do negócio. E acentua: “Se existem tecnologias disponíveis e elas são mais restritivas do que a própria legislação do País, pesquisamos para adquiri-las e implementá-las”. Dinâmica do mercado A política de investimentos de empresas em dia com os mais avançados métodos de gestão leva em conta cenários, que mudam a cada momento, a dinâmica do mercado e dos acontecimentos que norteiam as suas estratégias. A Quattor, atenta a essa constante, considera que até o momento seus objetivos e metas de investimentos na área ambiental a colocam numa posição de destaque positivo no cenário industrial. “Eu diria que nossos investimentos são adequados. Os próximos, já planejados, são analisados constantemente para verificarmos se acompanham os cenários que se apresentam. Nosso objetivo é estar sempre à frente do que preconizam os padrões mínimos”, assegura o gerente. O fato da organização levar em conta a questão ambiental nas suas decisões estratégicas faz com que, já em sua origem, a Quattor defina de forma Neo Mondo - Agosto 2008

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Especial

Quadro 1 O que é Quattor Participações • Nome inspirado nos quatro elementos da natureza, para designar a Companhia Petroquímica do Sudeste. • É uma das vinte maiores empresas brasileiras. • Constituição Acionária: Unipar 60,0% Petrobrás 31,9% Petroquisa 8,1% Principais Controladas:

Unipar – Divisão Química Polietilenos UNIÃO RIOPOL PQU Suzano Petroquímica

explícita o seu compromisso em obter as melhores práticas adotadas nas unidades consolidadas na nova empresa. Mas não é só. Também em sua estrutura, a Quattor busca os melhores resultados a partir das mais avançadas tecnologias e práticas disponíveis não só em suas unidades, mas em todo o mercado. Sanches é taxativo: “A busca constante da melhoria faz parte da nossa cultura organizacional”. Ele lembra ainda que há resultados muito diferentes em um mesmo segmento. E conclui: “Nossas práticas industriais do setor químico e petroquímico obedecem a rígidos controles não somente em consonância à legislação ambiental, mas a seus próprios códigos do Programa de Atuação Responsável, coordenado no Brasil pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)”. Planejamento, ações e resultados Outra gigante entre as indústrias brasileiras que investiu pesado na missão ambiental é a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa: a terceira siderúrgica integrada do mundo a obter a ISO 14001, norma reconhecida mundialmente por atestar os mais elevados níveis de gestão ambiental). “Conquistamos a ISO 14001 há nove anos, e o sistema implantado contribuiu para que todas as ações

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realizadas na Cosipa tivessem também preocupação com a sustentabilidade. Ganhamos em planejamento, em ações e resultados”, afirma o superintendente de Meio Ambiente, Ricardo Salgado e Silva. Controle e conscientização Desde a época da privatização, quando a Usiminas assumiu o seu controle em 1993, a Cosipa recebeu investimentos de US$ 435 milhões em equipamentos, ações de controle e conscientização ambiental. “Estes investimentos nos permitiram, a partir de uma política de gestão ambiental, implantar diversos projetos e ações na empresa, que possui 100% dos seus processos ambientais licenciados pela Cetesb”, afirma Salgado e Silva. A partir dos projetos e ações focadas em meio ambiente, a empresa obteve alguns resultados importantes como:

• 96% de índice de recirculação de água doce na usina - a água recirculada volta ao processo produtivo, com redução do descarte de efluentes e da conseqüente necessidade de captação de mais água; • sistema de monitoramento próprio de seus efluentes líquidos; • controle de emissões atmosféricas mediante um trabalho de reestruturação que possibilitou a instalação de 60 modernos equipamentos nas várias fases de produção; • avaliação contínua do desempenho e controle de processos das fontes fixas, com destaque ao monitoramento online das emissões, feito pela Cetesb; • qualidade das emissões atmosféricas continuamente apurada; • tratamento contínuo dos resíduos sólidos, feito em sua Central que recebe materiais da siderúrgica e de empresas contratadas e faz o controle da geração, destinação e reaproveitamento dos lotes desses resíduos (850 t, apenas em 2007). A Cosipa tem presença marcante entre as indústrias do Pólo Industrial de Cubatão, unidas em parcerias que fizeram com que o município saísse da classificação de um dos mais problemáticos em degradação ambiental para a conquista do título de Cidade-Símbolo da Ecologia, em 1992.

Quadro 2 Mais de 10 anos devotada ao meio ambiente * As unidades produtivas da Quattor mudaram as suas matrizes energéticas, alterando a queima de óleo por gás, com redução significativa de emissões atmosféricas: 98% na de material particulado;

99% em óxido de enxofre; 85% em óxido nitroso. * Investimentos de R$ 250 milhões em projetos de Segurança e Meio Ambiente, somente na unidade de químicos básicos de São Paulo (antiga PQU).


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Especial

LEIS

não

País é bom de leis, e na área ambiental não é diferente, mas falta acompanhar o ritmo e a abrangência desejados. Gabriel Arcanjo Nogueira

L

eis, decretos, resoluções, portarias, instruções normativas... Somos um país de “vastidão legislativa incomparável, cujo grande problema é a aplicação delas, inclusive as ambientais. O Brasil sempre figura entre os países ricos (ainda que convidado) em eventos internacionais que

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discutem temas como aquecimento global, redução de emissão de gases, enfim, estamos sempre presentes nos principais encontros globais. Fomos organizadores do segundo grande encontro mundial, a Rio-92, o que nos colocou na vanguarda das discussões”. A análise do especialista em Direi-

to Ambiental, Terence Trennepohl, é significativa e serve como novo alerta para que as autoridades sejam mais ativas e a sociedade mais consciente de seus direitos e deveres. Se, de um lado, há legislação suficiente, “os órgãos de fiscalização estão muito aquém dos textos legais”, ressalva.


bastam

“Arcabouço invejável” O advogado, autor de uma série de livros temáticos, acredita que o importante para o País é, além de possuir uma biodiversidade incomparável, ser coerente entre a teoria e a prática: “Somos exemplo a ser seguido na elaboração de Flaque, leis; não os senador 73melhores Centroem

Rua Santo André - SP CEP 09112 180

todas as matérias ambientais, mas possuímos um arcabouço legislativo invejável, dada a própria dimensão continental de nosso território”, argumenta. O empresário Marcelo Eduardo de Souza vê a legislação ambiental brasileira como construção “concorrente” nas várias esferas de governo. Isso porque se,

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Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva ADVOGADO

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Especial

Ação Civil Pública, de 1985; a Constituição Federal, de 1988; e a Lei dos Crimes Ambientais, já mais perto de nós: 1998.

Trennepohl: há avanços, graças sobretudo a opinião pública e empresários

em âmbito federal, há muita produção normativa em leis, decretos e atos do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), com os equivalentes instrumentos em nível estadual, todavia municípios menores ainda carecem de legislação específica, e apenas alguns dos maiores já se fazem presentes. Ele reconhece, porém, que “há muitos avanços em termos de concepção, principalmente graças à atuação dos conselhos de meio ambiente. Estes representam, de forma equilibrada, a visão do poder público, dos setores empreendedores e da sociedade civil organizada”. “Leis não bastam” Engenheiro florestal (com Mestrado em Ciência Florestal) e advogado, Souza acredita que as leis são instrumentos de controle ambiental, mas não o único recurso. “Há mecanismos privados, decorrentes do mercado, por exemplo, cujo papel é tão mais relevante quanto menor seja a presença do poder público, seja em sua função preventiva, a do licenciamento ambiental, seja na de acompanhamento e repressão, mediante a fiscalização” - explicou. Evolução legislativa Mestre em Direito, prestes a concluir seu Doutorado, Trennepohl cita, entre as principais leis reguladoras do

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meio ambiente, a 6.938/81 - como a primeira verdadeiramente ambiental. O advogado lembra que, antes dela, havia os Códigos de Caça, Pesca, das Águas, Florestal, que eram menos ecológicos e mais patrimoniais: “A defesa dos bens dizia respeito ao patrimônio, a sua valoração econômica”. Isso para não falar das disposições do Código Civil de 1916 sobre o direito de vizinhança. A partir de 1981, à 6.938 se juntam três instrumentos que compõem a evolução legislativa brasileira ( ver QuadroResumo ) e lhe dão sustentação: Lei da

Futuro incerto?! A legislação e o Direito Ambiental, para o especialista, têm a ver com eventos históricos, a exemplo da Agenda 21, Protocolo de Kyoto e Declaração do Milênio, marcos na conscientização global. E faz seu alerta: “a humanidade não pode correr o risco de chegar ao caos econômico, mas se nada for feito, o futuro será incerto”. Daí a importância das conclusões e proposições oriundas desses encontros internacionais como ponto de partida para a tomada de decisões sérias e viáveis. Até mesmo porque, a exemplo do Protocolo de Kyoto, os chefes de Estado acordam quando se chega a situações extremas, no caso as emissões de gases. Nesse cenário reside a preocupação por excelência que deve nortear o cuidado com o meio ambiente, na visão de Trennepohl. Soluções pra ontem e pra já Ele argumenta que com proporções continentais e problemas ambientais de toda ordem, o Brasil precisa resolver com urgência, questões sociais como a falta de zoneamento urbano, a desordenação das cidades, o descaso ao meio ambiente no trabalho. Para ele essas questões antecedem o lixo atômico, nuclear, tratamento de resíduos sólidos e alimentos transgênicos. Te-

Quadro-Resumo AS PRINCIPAIS LEIS AMBIENTAIS > Lei 6.938 (31/08/1981) Regula a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de aplicação > Lei 7.347 (24/07/1985) Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico > Constituição Federal de 1988 > Lei 9.605 (12/02/1998) Trata das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente


mas muito em voga na Europa, onde já não existem problemas como a fome, trabalho escravo, condições insalubres e favelas. Souza cita ainda, entre as mazelas nacionais, o combate à corrupção. Esta, em seu diagnóstico, “doença grave”. Mas não se pode esquecer que, se temos problemas, países hoje avançados conquistaram padrão de desenvolvimento

à custa, muitas vezes, de certo grau de depredação de seus recursos ambientais. Que não nos sirvam de consolo, mas de lição. Trennepohl acredita que há avanços, nem tanto por esforço do Estado, mas graças a uma opinião pública esclarecida e empresários que prezam pela qualidade de conceitos em seus negócios. Nem tudo estaria perdido, entre outros

motivos porque nas esferas federal, estadual e municipal se dispõem de legislação específica, profissionais habilitados e ferramentas técnicas para que o País se desenvolva socioambientalmente. “A população aprendeu a cobrar seus direitos, seja administrativamente, seja em juízo. É uma evolução multifacetária, indispensável ao próprio estado democrático brasileiro”, conclui.

ISO 14000 - Certificado de Fé As normas ISO 14000 – Gestão Ambiental fomentam a prevenção de processos de contaminações ambientais, uma vez que orientam a organização quanto a sua estrutura, forma de operação e de levantamento, armazenamento, recuperação e disponibilização de dados e resultados (sempre atentando para as necessidades futuras e imediatas de mercado e, conseqüentemente, a satisfação do cliente), entre outras orientações, inserindo a organização no contexto ambiental. “A norma 14001 define os requisitos para implantação de Sistemas de Gestão Ambiental.” Quem esclarece é o consultor Marcelo Eduardo de Souza. Ao dizer que essa ferramenta “auxilia na efetividade da legislação ambiental no Brasil”, ele lembra: “As organizações que espontaneamente, ou por pressão do mercado, decidem implantar um sistema de ges-

tão ambiental baseado na ISO 14001 necessitam cumprir extensa série de requisitos”. * Definir política ambiental; * Estabelecer programas de gestão ambiental; * Realizar o mapeamento das realidades ambientais; * Cumprir as leis ambientais próprias das suas atividades. Souza faz uma ressalva oportuna. Não é que a empresa, ao obter a certificação ambiental ISO 14000, vá se ver livre de problemas ambientais ou de eventualmente descumprir uma lei. O certificado é a garantia de que uma empresa atende aos requisitos definidos na ISO 14001 e, por isso, está pronta, “de maneira estruturada, de modo a evitar problemas ambientais e tratá-los, caso venham a ocorrer”.

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Especial

SAÚDE é que interessa Há sinais de vida saudável nos ambientes de trabalho; a Comissão do Benzeno é uma das mais promissoras pela atuação de seus integrantes Gabriel Arcanjo Nogueira

U

m dos efeitos mais perniciosos da poluição, seja ela de que ordem for - a industrial é apenas uma delas -, está nas doenças causadas por emissão de poluentes químicos. Em sã consciência, ninguém seria capaz de querer um país doente. Se a poluição industrial é tratada com medidas adequadas por algumas empresas, o combate a doenças tóxicas também mostra avanços. Um deles vem da criação e atuação da Comissão do Benzeno (ver boxe), resultado de esforços da parceria entre governo, iniciativa privada 38

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e trabalhadores. Um tripé de peso na busca permanente de soluções. Surgida em âmbito nacional, a Comissão derivou em seguida para as Estaduais e, em São Paulo, para as Regionais. José Roberto Teixeira, da Pólo Saúde Assessoria e Consultoria em Saúde Ocupacional, define: “Toda substância química é tóxica, dependendo da dose. Seu uso correto e os controles adotados para a exposição é que vão determinar a carga negativa do produto”. Médico do Trabalho desde 1978 e em Higiene Ocu-

pacional desde 1995, Teixeira esclarece: “Por vezes o poluente, devido às condições atmosféricas e ao modo como é lançado, atinge em maior concentração ambientes externos. As ditas doenças profissionais, originadas no ambiente interno da empresa, devem, mais corretamente, ser denominadas doenças relacionadas ao trabalho”. Mais prevenção e consciência O quadro pode parecer assustador porque o benzeno, por exemplo, é agente can-


cerígeno (reconhecido como tal por lei federal em 1994) que ataca, de modo especial, a medula óssea e pode causar leucemia, particularmente a mielóide aguda. Em que pesem avanços no tratamento de cânceres, a taxa de mortalidade ainda é significativa. Mas aí entram em ação os antídotos: empresas investem mais em prevenção; o trabalhador está mais consciente dos riscos; e os órgãos de fiscalização atuam com maior eficácia, em ações integradas das Delegacias Regionais do Trabalho, Sistema Único de Saúde e Previdência Social. Teixeira não tem dúvida de que a saúde do trabalhador está, hoje, mais bem controlada: “Tudo melhorou em relação ao início dos anos 1990”. Controle é a palavra-chave no enfrentamento de doenças tóxicas, já que não é possível erradicar de vez os agentes causadores delas. A fumaça dos cigarros, as emissões de motores automotivos, os onipresentes postos de gasolina e as indústrias químicas - todos eles são veiculadores do benzeno; os dois primeiros, as maiores fontes de exposição da população.

Atacar os pontos críticos Danilo Fernandes Costa, médico especializado em Medicina do Trabalho há 25 anos, cita como significativo o que é feito em indústrias petroquímicas, entre elas a do Pólo do ABC Paulista. O especialista aponta o que considera aspectos relevantes para tornar efetivo esse controle: as empresas devem ter a preocupação de equipar-se melhor, mediante o controle tecnológico, por um lado; e, por outro, tomar cuidados na gestão de seus negócios, para evitar a produção a qualquer custo, sobretudo à saúde do trabalhador. Na prática, isso significa atacar o que o médico classifica de pontos críticos na fabricação e manuseio de produtos químicos. Por exemplo, providenciar a instalação de filtros de última geração; o bombeamento mais seguro, com o uso de bombas herméticas; e o carregamento por baixo, o “bottom-load”, e não por cima dos caminhões-tanque. Medidas como essas evitam que os vapores nocivos afetem a saúde do operador desses mecanismos e atinjam o meio ambiente. Teixeira diz que o ideal seria substituir o uso do benzeno quando pos-

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Especial

Arline Sydneia Abel Arcuri, do Ministério do Trabalho sível (o que foi feito na fabricação do álcool anidro) e adotar medidas de uso responsável, quando for inevitável a sua aplicação. Todo cuidado deve ser devotado à pessoa, que não pode ficar exposta de modo descontrolado ao benzeno (o que se faz nas empresas que produzem, armazenam, estocam ou comercializam a espécie). Arline Sydneia Abel Arcuri, doutora em Fisicoquímica e pesquisadora da Fundacentro na Coordenação do Ministério do Trabalho - Setor de Agentes Químicos, considera que há avanços tecnológicos significativos. Um deles é a citada proibição do uso do benzeno na produção do álcool anidro. E destaca outros, como a diminuição (restrita a 0,1%) de sua aplicação na fabricação de tintas, colas, vernizes e solventes. “A discussão sobre as implicações do uso do benzeno é secular”, ilustra

a pesquisadora. Mesmo assim ainda há resistência de empresas no reconhecimento dos casos de benzenismo em suas unidades. Mas ela comemora o fato de ser crescente o número das que adotam tecnologias de produção mais aprimoradas, como a utilização de bombas, respiros e flanges melhorados. “Há um controle mais rigoroso devido a esses equipamentos, e novas empresas já os utilizam desde o início de suas atividades. Uma conquista da pressão social, resultante de nossos grupos de trabalho”, diz. João Rocha Doutor, técnico de Inspeção de Equipamentos em empresa manipuladora de benzeno, integra tanto a Comissão Nacional como a Estadual. Mais que isso, é membro também da Comissão Regional da Baixada Santista. Além desta, há Regionais no ABC Paulista e Campinas. “Ainda há muita coisa a ser feita, mas o importante é que houve uma melhora significativa da consciência dos trabalhadores na discussão dos problemas que dizem respeito não só ao homem em si, mas ao meio ambiente. Nossa visão é do coletivo”, diz. Benzenismo ou benzolismo é a doença causada na intoxicação por benzeno. As seqüelas (ver Quadro “Alguns efeitos do benzenismo” ) são tratáveis, como mostram estudos realizados com grupo de trabalhadores expostos à substância durante quatro anos. Depois de afastados de suas atividades profissionais, recuperaram-se num prazo médio de cinco anos.

Tratamento adequado Costa afirma que “temos sido bem-sucedidos em restringir o uso do benzeno” (ao se referir aos trabalhos da Comissão) e lamenta que outras substâncias, como o amianto, ainda não tenham sido reconhecidas como cancerígenas – o que, comprovadamente, este elemento é. Teixeira demonstra o que se pode definir como otimismo realista: “O trabalhador, hoje em dia, dificilmente terá manifestações clínicas relacionadas à exposição crônica ao benzeno. Isso porque a vigilância à sua saúde é feita, nas empresas, em exames periódicos de dosagens de indicadores biológicos da exposição e exames clínicos e laboratoriais semestrais. Uma vez detectada qualquer alteração, o profissional é acompanhado pelo serviço médico da empresa e, quando necessário, é encaminhado a especialistas que auxiliam no diagnóstico e no acompanhamento dos casos”.

José Roberto Teixeira, da Pólo Saúde

Quadro Alguns efeitos do benzenismo - A doença pode ser aguda e causar: > irritação moderada das mucosas e até provocar edema pulmonar, se aspirado em altas concentrações; > efeitos tóxicos no sistema nervoso central com possibilidade de narcose e excitação seguida de sonolência, tonturas, cefaléias, náuseas, taquicardia, tremores, convulsões e até morte - Na fase crônica pode provocar: > alterações sangüíneas, em que, de-

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pendendo da lesão da medula óssea, correspondem a: hipoplasia - pode causar a diminuição da contagem de glóbulos vermelhos e/ou brancos e/ou plaquetas; displasia - causadora de modificações celulares; aplasia - correspondente à depressão de todas as linhagens hematológicas, com manifestações de leucopenia, plaquetopenia e anemia


Fórum tripartite e democrático A Comissão Nacional do Benzeno, resultado de acordo firmado em dezembro de 1995, atua desde 1996. A partir de 1998, foram constituídas as estaduais e as regionais. Fórum tripartite e democrático, privilegia a discussão, negociação e acompanhamento desse acordo. Dela participam representantes de trabalhadores, governo e empregadores. É coordenada pela Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho, órgão do Ministério do Trabalho. A participação de empregados se dá mediante o Grupo de Representação dos Trabalhadores do Benzeno (GTB), de modo a acompanhar a elaboração, implantação e desenvolvimento do Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno nas empresas. Em meio a tantos doutores, os trabalhadores também comparecem com o João Doutor, do Sindicato dos Químicos de Santos e Baixada Santis-

ta, indicado pela Força Sindical, cita como altamente positivo o fato de terem conseguido ampliar o fórum de debates, a partir dos meados de 1998. Para ele, hoje a participação dos trabalhadores nas plenárias é mais representativa. Ele cita também o reforço que as discussões ganham com a adesão de mais categorias profissionais. Como a dos “empregados em postos de gasolina, que a partir do Paraná também se mobilizam conosco para discutir os problemas e apontar soluções. Foi até criado um selo, já bem conhecido no meio, sobre os cuidados no trato com o benzeno, que não é flor que se cheire”. Ações como essa, para João Doutor, mostram que “com certeza a evolução da Comissão do Benzeno é fato marcante, e nesse sentido a ampla participação nossa nas discussões é relevante”.

A evolução da

Comissão do Benzeno é fato marcante,

e nesse sentido a ampla participação nossa (dos trabalhadores) nas discussões é relevante

“Inquietude e otimismo” Teixeira faz a sua avaliação - positiva - do atual estágio desse importante e estratégico grupo de trabalho, que ajudou a criar: “O estado natural da Comissão é a inquietude, sempre procurando onde melhorar, e o otimismo no futuro, lastreado nos avanços obtidos”. Quem ocupa o seu lugar, hoje, na Comissão é Eduardo Sanches, gerente da Quattor e professor universitário. Arline Arcuri, da Fundacentro, compartilha a inquietude do médico, ao notar que há, na Comissão Nacional, um retrocesso da bancada patronal, que se retirou das plenárias. Essas reuniões têm número significativo de participantes (100 pessoas), com 70% de representantes de trabalhadores. Poderia haver, segundo ela, avanços maiores se o fórum fosse mais democrático, a exemplo do

que acontece em São Paulo. A Comissão paulista, no entender da pesquisadora, tem-se mostrado mais atuante e produtiva, Costa lembra que 1994 foi um divisor de águas, quando se reconheceu o benzeno como cancerígeno e, a partir daí, começou a luta sem tréguas, “No Estado de São Paulo, somos muito atuantes. Não é que não existam problemas, mas eles são enfrentados, e soluções são encontradas. Desenvolvemos programas e atividades de mobilização de empresas, trabalhadores e organismos do governo”, afirma o médico, representante da Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo (DRT-SP) na Comissão paulista e um dos que participaram da criação da Comissão nacional. Nada mais promissor: sinal de que o grupo é atuante e não se acomoda ante os resultados alcançados.

Serviço Para saber mais sobre o Acordo e Legislação do Benzeno, acesse www. fundacentro.gov.br/dominios/CTN/ seleciona_livro.asp?Cod=225. Neste endereço é possível baixar a íntegra do livro “Benzeno 10 Anos” – uma história de 10 anos de muito trabalho, avanços e até retrocessos, segundo seus organizadores.

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Tecnologia

Santo e del

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Uma pesquisadora da US que têm o poder antioxi envelhecimento. Livi Carolina

N

ão importa se no inverno ou no verão, sorvete é gostoso em qualquer época do ano. E quem diz que ele faz mal à saúde engana-se, além de ser indicado durante a recuperação de cirurgias odontológicas e de amígdalas, a quem diga que ele “ilumina” as zonas de prazer do cérebro - afirmação do Institute of Psychiatry, em Londres, em resultado a uma pesquisa solicitada pela empresa Unilever. Se sozinho já faz tão bem, imagine adicionar a ele uma fruta com características capazes de ajudar na prevenção de doenças cardíacas, cancerígenas e de “brinde” retardar o envelhecimento?

“ 42

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Um suplemento alimentar de baixo custo e com alto valor nutricional


icioso

édio!

S P desenvolveu o sorvete de bagaço de uva dante contra doenças degenerativas e o

Parece um sonho, mas é o que a pesquisadora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - USP, Emília Ishimoto, está próxima de conseguir. Ela realizou estudos com bagaço de uva, que confirmaram sua ação antioxidante, matéria-prima para a fabricação do sorvete ‘milagroso’, que pode ajudar a reduzir os riscos de cânceres e doenças cardiovasculares. Tal resultado é possível porque os antioxidantes, presentes no bagaço da uva, produto que, pelo gosto amargo, é naturalmente descartado, funciona como proteção contra os efeitos danosos do excesso dos radicais livres que, em quantidades normais, atuam combatendo as bactérias e vírus presentes no organismo. Porém, em demasia danificam as células saudáveis e aumentam o risco para o desenvolvimento de câncer, doenças do coração e o envelhecimento precoce. Para chegar a esta conclusão a pesquisadora triturou e desidratou, a uma temperatura de menos sessenta graus centígrados, casca e as sementes de duas

variedades de uva, cabernet sauvignon e isabel, e obteve a farinha de bagaço usada para elaborar extratos concentrados. Testado em laboratório, os organismos alimentados com este extrato apresentaram uma redução de até 32% do colesterol total em relação aos outros dois grupos que não ingeriram os subprodutos. Além disso, houve uma redução média de 50% nos níveis de triglicérides, diminuindo o acúmulo de gorduras nas artérias.

Farinhas produzidas a partir dos bagaços das uvas: cabernet sauvignon e Isabel.

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Tecnologia

Existem ainda outros fatores que podem contribuir para o aumento da formação dos radicais livres: Álcool; Cigarro; Estresse; Poluição; Consumo excessivo de gorduras saturadas.

“Com a melhora do perfil antioxidante dos animais também é reduzido o risco de várias doenças relacionadas ao estresse oxidativo, como câncer, diabetes, Parkinson e Alzheimer.” – observa a pesquisadora. Será que é bom? Comprovado o valor terapêutico do bagaço, era preciso verificar se a receita agradava o paladar. Foi, então, realizada uma avaliação sensorial com 43 indivíduos, por meio de um método para medir a aceitação do paladar em uma escala variável de sabor. “Os sorvetes foram aprovados sensorialmente e, após completarmos esse

ciclo, fizemos o depósito de patente do processo de produção do sorvete e da farinha” – afirma Emília. Segundo a pesquisadora, já existem empresas interessadas pela comercialização do sorvete, no entanto, as negociações estavam paradas até o momento desta entrevista. No cardápio, além do sorvete Mas os benefícios da farinha do bagaço não estão somente restritos ao sorvete. Com ela também será possível produzir outros alimentos como bolos, pudins, iogurtes e barras de cereal. “Um suplemento

alimentar de baixo custo e com alto valor nutricional” – destaca a pesquisadora. Porém, quem não querer esperar a comercialização da farinha, pode tentar fazer em casa. O ideal é desidratar as cascas e as sementes a uma temperatura que não ultrapasse a 60°C, caso contrário, ela perderá nutrientes importantes. Depois disso, basta triturála e usar a criatividade. Outra dica da pesquisadora para quem gosta do azedinho da uva é fazer um suco com o bagaço (casca e semente) da uva. Ele mantém os nutrientes e aproveita integralmente a fruta.

Como evitar o acúmulo dos radicais livres? Segundo Emília Ishimoto, os alimentos que previnem doenças não são milagrosos, “a uva não evitará problemas cardíacos se a pessoa comer feijoada todos os dias, por exemplo. Mas, um estilo de vida

saudável, e uma alimentação rica em frutas e vegetais, são as melhores opções para se proteger contra os radicais livres, reduzindo o risco de doenças e evitando o envelhecimento.

Outras substâncias antioxidantes: Nutriente

Efeito Protetor

Fontes alimentares

Vitamina C

Eficiente fotoprotetor da pele Aumento da atividade imunológica Prevenção de câncer de estômago Prevenção de câncer de pulmão

Acerola, frutas cítricas, tomate, melão, pimentão, repolho cru, morango, abacaxi, goiaba, batata e kiwi. Instável ao calor e álcalis.

Vitamina E

Eficiente fotoprotetor da pele Previne doenças respiratórias Aumenta imunidade celular Tratamento de doenças neurológicas

Germe de trigo, óleos vegetais, vegetais de folhas verdes, gordura do leite, gema de ovo e nozes. Estável ao calor e aos ácidos.

Licopeno (carotenóide)

Previne doenças cardiovasculares Previne o câncer de próstata Previne o câncer de mama

Tomate, pimenta, goiaba, melancia, grapefruit. Estável ao calor.

Betacaroteno (carotenóide)

Eficiente fotoprotetor celular Previne o câncer de mama, próstata Previne doenças respiratórias Previne a catarata

Cenoura, mamão, abobrinha, vegetais e frutas alaranjadas. Estáveis ao calor.

Previne o câncer de mama Previne o câncer de útero Previne doenças cardiovasculares

Soja, uva vermelha, vinho tinto, alho,casca de berinjela, beterraba Estável ao calor.

Isoflavona

Tabela elaborada pela nutricionista Roberta Stella

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Como Economizar

Água

Dilma de Melo Silva

Correspondente especial de Quioto – Japão

Soluções simples que podem ser adotadas por todos para o uso racional da água.

O

Brasil é reconhecidamente o país com maior volume de água doce no planeta (13% das reservas existentes), o que lhe atribui naturalmente um importante papel na discussão internacional sobre o futuro dos recursos hídricos do planeta. Mas, será que sabemos economizar água ou o desperdício seria a norma em nossas casas? No Japão a preocupacão com economia de água está por todo lado. Junto a todas as torneiras existe um aviso em japonês e em inglês: save energy for tomorow (economize recursos para o futuro). As recomendações para evitar a poluição da água dos rios também são divulgadas com muita freqüência, por exemplo: • Use na pia filtros com rede de malha bem fina que possam impedir que o lixo vá para o esgoto. Retire sempre esse filtro mantendo a pia limpa; • Antes de lavar pratos, panelas, copos, limpe com papel ou escova pequena reduzindo a gordura na pia; • Nunca descarte restos de gordura ou de alimentos na pia; • Use quantidade adequada de detergente; • Prefira sabão natural aos detergentes sintéticos. Como aproveitar mais a água? As pessoas no Japão estão acostumadas ao banho de banheira, o famoso ofurô, considerado como a arte do banho, possui várias finalidades: relaxamento, limpeza, terapia, dentre outros. Quando se fala

em Ofurô, a primeira coisa que nos vem à mente é uma tina de madeira com água quente, onde ervas nos esperam para uma deliciosa imersão. O ofurô tradicional é originalmente uma tina de madeira (individual), com água aquecida gradualmente até 45o sobre fogo, alimentado por carvão. O banho dura de 10 a 20 minutos e é conhecido por ser um tipo de imersão profunda. Antes de entrar na banheira a pessoa deve tomar uma ducha, e, durante o ofurô não se usa sabão ou xampu. Desse modo, após o banho a água pode ser reutilizada para outros fins, por exemplo: • Lavagem de calçadas ou do quintal; • Primeira lavagem de roupas na máquina de lavar; • Lavagem de vidraças ou de piso da casa; Outra forma de reutilizar água que nos chamou atenção por aqui, é a caixa de água para descarga no banheiro: a parte de cima da caixa (que seria a tampa) é uma pequena pia. Assim, quando a pessoa aciona a descarga, a água jorra da torneira e você lava as mãos e essa água usada, entra dentro da caixa (ver foto). Parece bem simples e encontra-se por todo lado. A reutilização da água da chuva é também um método largamente utilizado na agricultura, para irrigar campos de desportos e parques; lavagem de veículos; descarga em toaletes; reserva para combate a incêndios; uso geral na construção civil, entre outros.

Muito comum no Japão: caixa de descarga acoplada à torneira para reaproveitamento de água.

Enfim, estes são alguns exemplos de como economizar hoje a água para garantir o consumo amanhã.

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros. Neo Mondo - Agosto 2008

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Dica

Sugestão de Livros A história de B – Uma aventura da Mente e do Espírito Daniel Quinn Editora Fundação Peirópolis O alvo da investigação de Osborne é um norteamericano conhecido por seus seguidores por “B”. Ele está revelando a história oculta do nosso planeta, redefinindo a decadência do homem e redesenhando o caminho da espiritualidade

humana. Osborne é levado a penetrar no círculo mais íntimo de B. Ali, como discípulo eleito, ele logo se surpreende como um colaborador angustiado no desmantelamento de suas próprias convicções religiosas.

Os senhores do clima Tim Flannery Editora Record Mudanças climáticas estão ocorrendo no mundo todo, mas elas realmente são uma ameaça? Neste livro, Tim Flannery trata da urgente necessidade de discutir as conseqüências da mudança climática global que vem arrui-

nando o planeta e colocando em risco a nossa sobrevivência. O autor apresenta fatos, analisa implicações, desmistifica idéias e exemplifica como as mudanças climáticas já afetam a Terra.

Gaia – Um novo olhar sobre a vida na Terra James Lovelock Editora Edições 70 James Lovelock, que foi consultor do programa espacial da NASA, propõe-nos a descoberta do maior organismo vivo conhecido: a própria Terra.

Utilizando o saber adquirido por meio da astronomia e da zoologia, o autor mostra-nos que a vida funciona como um único organismo que define e conserva as condições necessárias à sua sobrevivência.

Sem dúvida A BNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas é o órgão responsável pela normalização técnica no país, representante das seguintes entidades internacionais: ISO (International Organization for Standardization), IEC (International Electrotechnical Comission); e das entidades de normalização regional COPANT (Comissão Panamericana de Normas Técnicas) e a AMN (Associação Mercosul de Normalização).

B arreiras alfandegárias: Regras de proteção comercial, normas - como as ISOs, e leis financeiras, que definem a legalização da entrada de produtos estrangeiros no país.

minimização de riscos advindos da exposição, manipulação e uso de organismos vivos que podem causar efeitos adversos ao homem, animais e meio ambiente.

C élulas-tronco adultas: Existentes em diversas partes do corpo, principalmente - e até os estudos atuais -, nas células de cordão umbilical, da placenta e medula óssea.

C élulas-tronco embrionárias: extraídas do embrião, com capacidade de se transformar em qualquer outro tipo de célula

B iossegurança:

M anancial:

Designação genérica da segurança das atividades que envolvem organismos vivos (bio quer dizer vida). É uma junção da expressão “segurança biológica”, voltada para o controle e a

Fontes de água, superficiais ou subterrâneas, utilizadas para abastecimento humano e manutenção de atividades econômicas. As áreas de mananciais compreendem as porções do territó-

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rio percorridas e drenadas pelos cursos d’água, desde as nascentes até os rios e represas.

M atriz energética: toda a energia disponibilizada para ser transformada, distribuída e consumida nos processos produtivos. O petróleo e seus derivados têm a maior participação na matriz brasileira, cerca de 40%. Ou pode ser entendida como instrumento gráfico que mostra a participação relativa das diversas fontes energéticas de um país.

P ermacultura: método que considera o organismo vivo como um todo indecomponível para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis.


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O Pé Quente Bradesco SOS Mata Atlântica pode mudar o seu futuro: são milhões em prêmios sorteados toda semana. E ele também ajuda a mudar o futuro do planeta inteiro apoiando os projetos da Fundação SOS Mata Atlântica. Em apenas 4 anos, já viabilizamos recursos para o plantio de 20 milhões de árvores no Brasil. Faça um Pé Quente Bradesco SOS Mata Atlântica.

Quem investe na sorte ganha, no mínimo, um planeta melhor. Faça um Pé Quente Bradesco SOS Mata Atlântica.

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Neo Mondo - Maio 2008

www.bradescocapitalizacao.com.br


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