Revista Neo Mondo - Edição 12

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NeoMondo

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um olhar consciente

Ano 2 - Nº 12 - Julho 2008 - Distribuição Gratuita

A um passo do

Desenvolvimento

No topo do mundo

O mundo de barriga vazia 28

Desnutrição

Paraty

Beleza Literária

Escalada

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Neo Mondo - Julho 2008


Seções Perfil 06 Os caminhos do desenvolvimento Paulo Skaf, presidente da Fiesp, diz que estamos a um passo do desenvolvimento, mas faz duras críticas às políticas públicas ineficazes. Artigo Muitas vezes nos preocupamos em ganhar o mundo e perdemos a batalha dentro de casa

Economia & Negócios Consumo cidadão Aquecedor solar representa ganhos para comunidade, para o meio ambiente e para o resgate da cidadania. MEIO AMBIENTE 12 Comando verde Como as principais ONGs ambientalistas encaram a mudança no ministério.

08 15 Artigo: Efeito estufa ou Potencial Poluidor A interpretação equivocada das informações pode propiciar muito alarde e pouco resultado.

Ciência e Tecnologia

11 20 Animais sim, objetos não! Cobaias vivas em cursos de graduação de saúde, começam a ser substituídas por outras alternativas. SAÚDE 24 Em busca da fala Arte dramática auxilia a recuperação de vítimas da afasia.

16 Com cheirinho de saúde Sabonete contra a dengue poderá resolver um problema que tira o sono - e a vida - de muita gente.

22 O lado escuro da internet Nova modalidade de crime, via internet, invade espaço virtual.

28 O mundo de barriga vazia A desnutrição, que leva à morte cerca de 50% das crianças brasileiras, tem solução encontrada pelo CREN em favelas de São Paulo. ESPORTE

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19 Artigo: O que fazer com o lixo? Quioto pretende ser cidade exemplo para a coleta, uso e a reciclagem do lixo.

No topo do mundo A escalada é uma atividade esportiva que permite a integração com a natureza e o profundo respeito ao meio ambiente.

31 Artigo: Marketing social ou sustentabilidade Num futuro próximo não haverá espaço para empresas que não adotem conceitos de sustentabilidade. 35 Artigo: Nossos bosques ainda têm mais Vida (mas, até quando?) TURISMO 36 Beleza literária Referência brasileira em turismo cultural, Paraty envolve os visitantes em um clima de conto literário.

Expediente

Publicação

Correspondência: Instituto Neo Mondo Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz 32Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Ricardo Santo André – SP Girotto, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Cep: 09190-000 Livi Carolina, Eduardo Sanches e Para falar com a Neo Mondo: Luciana Stocco de Mergulhão Redação: Liane Uechi (MTB 18.190), Livi Carolina assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br (MTB 49.103-59) e Gabriel Arcanjo Nogueira 36trabalheconosco@neomondo.org.br (MTB 16.586) classificadosolidario@neomondo.org.br Revisão: Instituto Neo Mondo Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Tel. (11) 4994-1690 Diretor de Criação e Ilustração: Ricardo Girotto 38Presidente do Instituto Neo Mondo: Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa oscar@neomondo.org.br Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 20 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização. Neo Mondo - Julho 2008

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Editorial

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Neo Mondo de julho tem como tema central o desenvolvimento do Brasil. Do que precisamos para atingir a eterna promessa de ser o país do amanhã? Entrevistamos o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que defendeu além de uma gestão púbica eficiente e de investimentos inadiáveis em infraestrutura, outros contextos que em tempos de aquecimento global precisam ser considerados. O progresso a qualquer custo não é mais tolerado. Uma nova postura, com chamamento de razão às bases éticas vem sendo exigida pela sociedade, que questiona qual o nosso papel no mundo. Além das questões econômicas, que ainda esbarram em taxas de juros, câmbio e o protecionismo agrícola internacional, convivemos rotineiramente com a violência e a criminalidade que se expande de diversas formas. Trazemos aos leitores informações e dicas de prevenção sobre uma nova modalidade de crime: os cometidos pela internet, tão perniciosos e prejudiciais quanto qualquer outro. Temos recursos abundantes: a maior reserva de água doce, petróleo, terras férteis capazes de alimentar o mundo, florestas e a maior biodiversidade global. É consenso que essas riquezas precisam ser bem administradas. Com as mudanças no Ministério do Meio Ambiente, fomos verificar como as principais instituições ambientais assimilaram e quais as expectativas com a entrada do novo ministro. Seguimos com nossa série sobre esportes que aliam atividade física e o contato com a natureza. Desta vez,

o assunto é a escalada, aproveitando a última conquista da dupla brasileira, Rodrigo Ranieiri e Eduardo Keppke, que alcançaram o cume do Everest. Por falar em natureza exuberante, acompanhamos também a Festa Literária Internacional, ocorrida em Paraty e que, numa inusitada alquimia, transforma o charme e a simplicidade caiçara num reduto intelectual, dando um novo tom ao desenvolvimento social local. Quando falamos em desenvolvimento, outro tema é fundamental: a tecnologia, em todas as suas variáveis sociais, econômicas e ambientais. No tocante a isso, não nos faltam leis nem instituições, mas ainda não valorizamos o papel da ciência em muitos setores estratégicos. Os especialistas apontam que é exatamente essa inteligência técnica agregada aos sistemas produtivos e sociais que aferem o grau de desenvolvimento de uma nação. Assim sendo, nesse primeiro ano de trabalho, procuramos mostrar a importância da pesquisa, que gera conhecimento. Nessa edição, prosseguimos nessa tarefa e mostramos mais algumas soluções nascidas na ciência entre as quais: a instalação de aquecimento solar em favelas e a elaboração de um sabonete contra dengue. Todos, frutos da pesquisa científica e que trazem benefícios e impulsionam o desenvolvimento sustentável, que a sociedade brasileira tanto anseia e merece. Boa leitura! Liane Uechi Diretora e Redação

Instituto

Neo Mondo Um olhar consciente Neo Mondo - Julho 2008

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Neo Mondo - Julho 2008

Neo Mondo - Maio 2008

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Perfil

Renata Castello Branco

Os caminhos

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Paulo Skaf, presidente da Fiesp, diz que estamos a um passo do desenvolvimento, mas faz duras críticas às políticas públicas ineficazes. Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

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á décadas, o Brasil é apontado como o País do Futuro. Mas afinal, o que é necessário para galgar o patamar do desenvolvimento? O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Antonio Skaf, em entrevista à Revista Neo Mondo, fala sobre os caminhos para esse desenvolvimento, aponta os principais gargalos e analisa as políticas públicas necessárias para carimbar nosso passaporte ao Primeiro Mundo. Skaf está à frente de importantes ins-

Liane Uechi

tituições empresarias como o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp); Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em São Paulo; Instituto Roberto Simonsen – IRS; e ocupa a vicepresidência da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ainda faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), do Presidente da República e do Conselho Administrativo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES;

A falência dessas políticas sociais talvez seja o mais grave problema brasileiro

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Neo Mondo - Julho 2008

Neo Mondo: Quais os fatores que promovem o desenvolvimento de um país? Paulo Skaf: Democracia, instituições sólidas e respeitadas, educação e saúde de qualidade acessível a todos os habitantes, segurança jurídica e capacidade de promover o crescimento sustentado da economia. Neo Mondo: Qual o papel de cada segmento (Governo, Empresas e Terceiro Setor) nesse processo? Paulo Skaf: Ao Estado, cabem as responsabilidades do ensino, saúde, infraestrutura, segurança pública, garantia das instituições e das relações de direitos e deveres, bem como a condução da política econômica. Parece óbvio, mas em nosso país ainda faltam algumas lições de casa para que o governo cumpra adequadamente seu papel. Às empresas, competem, basicamente, a busca do lucro, a geração de empregos e o avanço na área de pesquisa e inovação, sob os


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volvimento parâmetros da legalidade e da ética. Quanto ao Terceiro Setor, sua missão é fundamental, pois sua contribuição é crescente no sentido de complementar ações sociais que o Estado já não consegue suprir sozinho. Independentemente dessa divisão cartesiana de atribuições, é imprescindível a participação de todos na vida nacional. É o que fazemos na Fiesp/ Ciesp, criticando construtivamente, cobrando medidas e também realizando e encaminhando estudos às áreas competentes do governo. Para isto, agregamos à entidade o trabalho voluntário de algumas das mais brilhantes mentes deste país. Esta mobilização permanente é decisiva, pois a sociedade tem imensa responsabilidade ante os destinos nacionais. Neo Mondo: Qual o tempo necessário para atingir o patamar de desenvolvimento? Paulo Skaf: O processo, em qualquer país, é de longo prazo. No caso brasileiro, considerando nossas potencialidades, como dimensão territorial, população, recursos naturais e clima propício, estamos atrasados. Já poderíamos ter conquistado o desenvolvimento. Creio estarmos a um passo dele. O que falta é justamente solucionar os gargalos estruturais e conjunturais. Neo Mondo: Quais são esses gargalos? Paulo Skaf: Os mais graves são de caráter estrutural: a deficiência dos transportes e energia elétrica; o sistema tributário, que é oneroso demais e injusto; o déficit público, incluindo a questão da previdência; os elevados encargos sociais inerentes

às relações trabalhistas; e o excesso de burocracia no Estado. Esperamos que esses gargalos possam ser solucionados pelos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no tocante à infra-estrutura, e com as reformas constitucionais, que já deveriam ter sido realizadas há muito tempo. Há, ainda, os gargalos conjunturais, como os juros muito elevados e o câmbio sobrevalorizado, que poderiam ser solucionados no âmbito da política econômica do Governo Federal, cuja visão, contudo, continua excessivamente monetarista. Neo Mondo: Como o senhor avalia as políticas econômicas e sociais existentes hoje no Brasil? Paulo Skaf: A política econômica ainda é excessivamente monetarista. Seria necessário um olhar mais estratégico para as imensas oportunidades de ingresso num ciclo duradouro de crescimento sustentado que o momento histórico e econômico do mundo têm nos oferecido. Quanto às políticas sociais do governo, a sua grande marca, há décadas, tem sido a ineficácia, má gestão, péssimos serviços e desperdício do dinheiro público. Nem mesmo as prioridades da educação e da saúde são atendidas a contento. A falência dessas políticas sociais talvez seja o mais grave problema brasileiro. Neo Mondo: O processo de desenvolvimento de um país hoje é diferente, sobretudo no tocante ao meio ambiente. Como crescer, preservar os recursos naturais e garantir a sustentabilidade?

Paulo Skaf: Numa era de mudanças climáticas e necessidade de prover a sustentabilidade pelo acréscimo de fontes renováveis e menos poluentes à matriz energética, é muito confortável ao Brasil ter a maior área agricultável disponível em todo o mundo, petróleo, a maior reserva hídrica, essencial à geração de eletricidade, e elevada capacidade de produção de biocombustíveis. Tudo está a favor do País e dos diferenciais competitivos que lhe proporciona a sua exuberante e rica natureza. Por isto, além de tirar dela os alimentos e os biocombustíveis de que o mundo precisa, devemos preservá-la, recuperá-la nos pontos em que está ferida e utilizar — de modo sustentável —, os recursos hídricos, minerais e geológicos. Esta tem sido uma das bandeiras da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp), em defesa de investimentos na produção mais limpa. Trata-se de um trabalho focado na viabilização do desenvolvimento sustentável. Neo Mondo: Qual a perspectiva em relação aos caminhos adotados para o desenvolvimento do país? Paulo Skaf: As possibilidades do Brasil são imensas, a começar por nossa elevada capacidade de produção de alimentos e combustíveis de fontes renováveis. Temos um povo talentoso e trabalhador, uma indústria avançada, um agronegócio eficaz e um mercado interno respeitável. Precisamos, apenas, fazer as lições de casa às quais já me referi para carimbar o passaporte ao primeiro mundo. Neo Mondo - Julho 2008

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Economia & Negรณcios

Consumo

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CIDADaO

Aquecedor solar representa ganhos para comunidades de baixa renda, para o meio ambiente e para o resgate da cidadania. Gabriel Arcanjo Nogueira

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m meio a tantos problemas ambientais, a AES Eletropaulo optou por uma saída ecologicamente correta: a instalação de equipamentos de energia solar em comunidades de baixa renda, com consumo elevado (acima de 150 kw/h), que tiveram as ligações legalizadas. A instalação do aquecedor solar é parte do Programa de Regularização de Ligações Elétricas, iniciado em 2004. Um conjunto de ações que ajuda a reduzir bastante o gasto com consumo de eletricidade, utiliza energia limpa e ainda acaba com a poluição visual por eliminar o horrível emaranhado de fios em incontáveis gambiarras. Ao buscar soluções, como essa, de viabilidade econômica e socioambiental, a empresa se insere entre as que lêem pela cartilha da responsabilidade social. Desde abril de 2008, o projeto passa por um teste piloto em 20 casas da favela de Paraisópolis, na Zona Sul da capital paulista, e deve chegar a 200 mil famílias, em 60 favelas da área abrangida pela empresa. A AES Eletropaulo atende a 24 municípios na Região Metropolitana de São Paulo, entre eles

a capital do Estado, num total de 5,7 milhões de consumidores. “Depois dos testes em Paraisópolis, esperamos chegar com nossos fornecedores ao aprimoramento da solução para aquecimento solar adaptado às condições de urbanização de favelas. Nelas, os imóveis possuem peculiaridades de construção, e seria oneroso e complexo instalar o equipamento-padrão de energia solar nesses locais”, disse o gerente de Recuperação de Mercado, José Cavaretti. A distribuidora espera, até 2010, instalar 10 mil equipamentos de energia solar em favelas e conjuntos habitacionais. Ações educativas A preocupação da empresa com o projeto do aquecedor solar leva em conta três componentes: o econômico, o social e o ambiental, como “estratégia para reduzir o consumo e possibilitar clientes economicamente viáveis”, afirma Cavaretti. Com isso, “evitamos ações traumáticas, que podem chegar ao corte de fornecimento ou a negativação do cliente. Preferimos ações educativas, para otimizar o uso de energia por essas pessoas” – disse o gerente.

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Economia & Negócios

sa prática é educativa”, diz o gerente de Recuperação de Mercado.

A AES Eletropaulo considera clientes de baixa renda os moradores de favelas, cortiços e conjuntos habitacionais populares para efeito desse projeto. Por isso, escolheu um equipamento diferenciado, feito de placa coletora de plástico, mais barato, mas de eficiência igual à de outros disponíveis no mercado. Os gestores da empresa acompanham diariamente o correto uso do aparelho, que permite, por exemplo, que uma família de até sete pessoas tome banhos de no máximo 10 minutos, com economia superior a 30% no consumo. “Mesmo nesse sentido, nos-

Chuveiro, o maior vilão O aquecedor solar instalado, gratuitamente, em casas da favela Paraisópolis é de uso exclusivo nos chuveiros (maior vilão nos gastos excessivos de energia nas residências), e os moradores passaram por treinamento sobre a melhor maneira de utilizá-los. Entre os beneficiados pelo projeto estão a autônoma Rosane Conceição Macário, o marido dela, Everaldo, três filhos com idades de 12 a 16 anos, mais duas pessoas. O exemplo típico da família de 7 membros, citado pela AES Eletropaulo. Rosane diz que “foi muito bom contar com esse aquecedor” e que “ficou muito bonito o visual por aqui” depois da regularização das ligações. A expectativa da moradora - além de tocar direitinho a sua lanchonete na comunidade -, é de, na primeira conta de luz depois dessas mudanças, economizar como uma de suas vizinhas: “A conta dela caiu de 30 para 12 reais”. Além da economia, Rosane está contente com “as crianças”, que souberam entender a novidade como meio de se educar para o consumo cidadão. “Sabe como é adolescente, né. Demora muito no chuveiro. Mas agora eles estão mais disciplinados e colaboram com a gente.” O operário da construção civil, Aloísio Batista da Silva, “desempregado no momento”, mora apenas com a filha de 17 anos e

comemora o fato de poder “gastar mais dois minutinhos no banho”. Ainda mais quando está envolvido em alguma empreitada. Chega cansado e empoeirado em casa, e uma ducha relaxante é o que mais quer. Aloísio destaca a importância de poder contar com um equipamento bem prático, de fácil manuseio e capaz de armazenar 200 litros de água. “Dá para quase 10 banhos, se a pessoa não gastar mais do que 25 litros debaixo do chuveiro.” Econômico-ambientalmente correto O correto uso de recursos energéticos, em que o Brasil é rico potencialmente, está na agenda do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, empossado em maio e nesse caso a AES Eletropaulo faz a sua parte, na iniciativa privada. O ministro, em uma de suas entrevistas, lembrou que pretende estender para o País uma de suas realizações como secretário estadual no Rio de Janeiro. Lá não se constrói mais prédio público que não conte com energia solar, por força de lei, garante a autoridade. Cavaretti esclarece que a empresa, da qual é um dos gerentes, não faz caridade nem favor. De 2004 a 2007, investiu R$ 110 milhões (R$ 80 milhões em reforma e ampliação e R$ 30 milhões do Programa de Eficiência Energética). Tudo constituído de recursos próprios, do que resultou recuperação de R$ 150 milhões pela empresa. “O que significa que o valor acumulado no período supera o investido”, contabiliza.

Famílias com energia elétrica regularizada 80 mil em 2006 71 mil em 2007 70 mil em 2008* 50 mil em 2009* *Previsão

Passo a passo da regularização

Aquecedor solar

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Contatos com as lideranças comunitárias Conscientização das pessoas Cadastro das famílias Instalação gratuita de postes, caixas e cabos de medição Em grandes comunidades, faz-se um posto de atendimento


Artaet Arantes da Costa Martins

Muitas vezes nos preocupamos em ganhar o mundo e perdemos a batalha

dentro de casa

A indiscutível importância do cliente interno.

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xistem profissionais simplesmente histéricos na busca de novos clientes e na busca do encantamento dos atuais. Desesperados por mais e mais novos clientes. Que precisam pensar na próxima ação bombástica para reaver os clientes perdidos para a concorrência, que se preocupam com a nova campanha de Marketing, que querem atingir maiores patamares de venda e lucratividade. Porém, poucos profissionais se dedicam efetivamente a cuidar do “sangue e dos músculos” da empresa. Estou me referindo aos colaboradores ou clientes internos. Tão importante quanto o cliente externo (aquele que vem comprar conosco) é o cliente interno (aquele o qual temos que “vender” idéias). O mais interessante é que é muito fácil cobrar, reclamar, repreender, mas parece tão distante e difícil ver ações efetivas de empresas que apóiam, incentivam e auxiliam o crescimento pessoal daqueles que dedicam grande parte de suas vidas à empresa. Em última instância os dirigentes e empresários são responsáveis diretos pela qualidade do trabalho de seus colaboradores, portanto, a falha de um colaborador evidencia a falha dos responsáveis pela empresa. Se quem estiver dentro da empresa não comprar a “idéia” não serão os de fora que o farão. Tem uma frase muito interessante que diz que “ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar”. Excluir os colaboradores das decisões da empresa e depois lhes exigir que se empenhem em vender algo em que não acreditam ou que não foram convencidos é no mínimo um paradoxo.

Muitas empresas cometem a barbaridade de tratar seus colaboradores (neste caso empregados) como extensões de máquina, como males necessários ou como pessoas que não têm capacidade de contribuir com idéias e sugestões. Não há como pedir que a equipe se empenhe mais se eles próprios, muitas vezes, não concordam com a forma (política de preços, promoções, assistência técnica) como as coisas são feitas. A balconista atende de cara amarrada e é despedida, mas ninguém nunca foi lá dizer a ela que por melhor que seja o produto, ele não vende por si só, que a atenção ao cliente é tão importante quanto o produto ou serviço que o consumidor está levando. Ninguém foi conversar com o entregador e explicar que se ele não cumprir os horários corretamente o cliente pode não fazer mais negócios com a empresa, por conseqüência menos dinheiro entra, menos trabalho se tem, e por fim, menos competitiva ela se torna e mais difícil será se manter no mercado. Numa época em que a busca pela preferência do cliente é disputada palmo a palmo, relegar o fator humano a um segundo plano é loucura. Cada vez mais se fala nessa valorização, porém, na prática ainda existem poucas ações e em sua maioria, isoladas. Os dirigentes e empresários ainda se queixam por não saberem os motivos da falta de motivação e empenho de seus “colaboradores”, não entendem os motivos da falta de comprometimento. É claro, que existem colaboradores que não apresentam o menor interesse ou condições, mas isto não é desculpa para não se fazer algo a respeito. Ficam alguns conselhos de ordem prática para aqueles que se interessam em

alterar seu ambiente de trabalho e melhorar o relacionamento entre as pessoas: - Pessoas guardam sentimentos e ressentimentos. Não esquecem tão facilmente aquela bronca, aquele desaforo ou injustiça a que foram submetidos. Portanto, tenha cuidado ao repreender alguém e principalmente cuide de seu tom de voz e das palavras que profere; - Pergunte, questione, peça sugestões. As pessoas quando se sentem peças importantes de algo tendem a ajudar. E não esqueça, esta ajuda vem de graça, a maioria quer apenas se sentir parte da construção de algo. - Cuidado com o excesso de “sinceridade”. Muitos têm o chamado “pavio curto” e explodem com facilidade. Após a raiva passar voltam a conversar com as pessoas atingidas como se nada houvesse acontecido. Cuidado, as pessoas são diferentes dos cães que após levarem um chute voltam a abanar o rabo como se nada houvesse ocorrido. - Tenha um meio organizado de comunicar tudo o que acontece na empresa. Se você não tem tempo ou hábito, delegue a função a outra pessoa que possa realizar, afinal todos os dias existem novidades e seus colaboradores quanto mais informados melhor poderão responder aos desafios do dia-a-dia. Para finalizar, antes de cobrar algo, verifique se realmente as condições de desenvolvimento foram dadas. Cobrar é fácil, auxiliar a crescer “são outros quinhentos”.

Assessor da Qualidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Ouvidoria. Engenheiro com mestrado em Qualidade e Pós-graduação em Gestão Ambiental. Neo Mondo - Julho 2008

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Meio Ambiente

Coman

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Ministro promete combater ONGs vão da expectativa Gabriel Arcanjo Nogueira

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chegada de Carlos Minc Baumfeld ao Ministério do Meio Ambiente, em maio, aconteceu no melhor estilo “vamos à luta” porque a questão ambiental não é brincadeira. O jeito Minc de fazer política é coerente com quem participou de ações da esquerda armada durante a ditadura militar. A metralhadora do Ministro, em que pese ser giratória, não desperdiça munição. Se atira em várias direções, todavia tem

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alvo certo. Um deles: as leis existem para ser cumpridas. Com a ressalva de que vai dar andamento aos projetos setoriais, promete reforço na segurança para garanti-los e acena com medidas repressivas, se preciso. Lembra, porém, que não dá para focar só a Floresta Amazônica e cita a Mata Atlântica, “o segundo bioma mais ameaçado do planeta”. Por isso, o combate a desmatamentos e queimadas deve ser implacável.

Sem chorar a seiva derramada No começo de junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou novos dados alarmantes sobre o desmatamento na chamada Amazônia Legal: em abril foram derrubados pelo menos 1.123 km2 de floresta, área equivalente à da cidade do Rio de Janeiro. O sistema adotado pelo Inpe (Deter) mapeia apenas grandes áreas, acima de 25 hectares, e o estrago pode ser até pior. Para se ter uma idéia do problema, em março o desmatamento teria sido de 145 km², com a ressalva, porém, de que 78% da floresta estava encoberta por nuvens. Carlos Minc diz que não vai brigar com os números e filosofa: “Não queremos chorar a seiva derramada, mas manter a floresta em pé”. Carlos Minc parece estar atento a tudo, como ao reivindicar mais presença de sua pasta no trato da política industrial e incrementar a articulação com a comunidade científica, demais


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RDE

os crimes ambientais. de mais diálogo à crítica ácida.

ministérios, madeireiras, siderúrgicas. Mas... e as expectativas de pessoas e instituições que batalham há décadas, no Brasil e no mundo, pelo meio ambiente? Gestão equilibrada e empreendedora A nomeação de Carlos Minc foi muito bem-recebida pelo WWF-Brasil, de acordo com Denise Hamú, secretáriageral desta ONG. O que se espera do ministro é que ele tenha atitudes voltadas a “construir soluções baseadas no diálogo entre governo, organizações não-governamentais, movimento social e setor privado”, afirma Denise. O WWF-Brasil entende que o ministro se mostra sensível a questões fundamentais, como ao revelar que pretende fortalecer o Arpa (Programa Áreas Protegidas da Amazônia), para o qual busca obter financiamento de mais de 150 milhões de euros em ONGs da comunidade internacional, e a manutenção da biodiversidade e do clima do planeta.

Mas nem só de expectativas vive a comunidade ambientalista. O WWF-Brasil reconhece que Carlos Minc terá desafios pela frente. Um deles será fazer com que as questões ambientais ampliem seus espaços de prestígio na agenda política do governo federal, de modo a desenvolver com a equipe ministerial ações integradas com outros ministérios. Se o ministro conseguir isso, acredita a ONG, os resultados serão mais sólidos e haverá o necessário respaldo político dentro do governo, para que não se repitam fatos que podem ter contribuído para a saída de Marina Silva. Nesse sentido, a secretária-geral do WWF-Brasil aposta na experiência de Carlos Minc no movimento ambientalista e nos poderes Legislativo e Executivo para promover uma gestão equilibrada e empreendedora. Para Denise, o ministro “possui um genuíno comprometimento com a questão ambiental,

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Meio Ambiente

Mario Mantovani, diretor de Mobilização da SOS Mata Atlântica

e acreditamos que isso possa contribuir para que construa os necessários e inadiáveis consensos dentro do governo federal”. Visão mais política Mario Mantovani, diretor de Mobilização da SOS Mata Atlântica, acredita que a gestão Minc à frente do Meio Ambiente muda bastante quanto a políticas públicas. “Há situações graves, como a da Amazônia, e o Minc tem uma visão mais política, de carreira, enquanto Marina tem a visão dos movimentos sociais. Mantovani, se de um lado aposta na continuidade à luta intransigente de Marina contra a devastação da Amazônia, espera que se melhorem as relações com o movimento ambientalista, ao qual o governo Lula “tem dado pouca atenção”. Outras expectativas: que se trace uma “ação direta com relação à reserva legal para o resto do País, além de trabalhar os incentivos para quem protege e as competências dos diversos órgãos constituintes do Sistema Nacional do Meio

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Marina jogou a toalha em pleno fogo cruzado... Vamos endurecer

Ambiente (Sisnama), questões que tramitam no Congresso”. A SOS Mata Atlântica, lembra o seu diretor de Mobilização, privilegia ações de políticas públicas e, nesse sentido, “as ações propositivas do ministro serão apoiadas, e as ações que as confrontem serão severamente combatidas”. Em síntese, Mantovani (geógrafo, como Carlos Minc, com especialização em gestão ambiental e manejo de bacias hidrográficas) promete “ficar de olho na ação do governo, pois ainda há muitas demandas não resolvidas”. Para ele, o ministro “não pode ser apenas um anteparo; precisa colaborar com os encaminhamentos desses processos”. Perdas ambientais e econômicas Sérgio Leitão, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, é mais ácido ao avaliar o atual momento ecológico do País. Para ele, “as questões ambientais voltaram a ser vistas como obstáculo ao desenvolvimento do governo”. O que classifica como visão ultrapassada, que remete aos tempos da ditadura. Na opinião do diretor verde, de nada valeu o aceno, lá longe, de se dar às questões ambientais e econômicas a mesma importância. Leitão considera a saída de Marina uma perda não só para o meio ambiente, mas também para a economia do País. Isso porque, diz, “faltou apoio à decisão da ministra de tomar medidas efetivas para que a agricultura respeite áreas de proteção ambiental”. O governo parece ceder às pressões do setor agrário e da bancada ruralista, o que impediu que “Marina desenvolvesse uma estratégia para o Brasil enfrentar problemas ambientais sérios, de grandes implicações, como as mudanças climáticas”. Tudo porque, segundo Leitão, ao defender o meio ambiente e uma política

de desenvolvimento sustentável, perdeu espaço para a ala do crescimento a qualquer preço. Classificada pelo diretor do Greenpeace como “anjo da guarda”, a ex-ministra fará falta “até aos setores que a demonizavam”. Ao lembrar que “além de bons conselhos, Marina dava ao governo prestígio internacional”, Leitão vê a economia nacional ante o desafio de “convencer a opinião pública mundial de que a floresta amazônica não está sumindo porque está sendo exportada em forma de grãos”. Desafios e exorcismos à parte, o substituto de Marina no Meio Ambiente sinaliza que não deve se intimidar diante dos primeiros. Carlos Minc não quer repetir o gesto da antecessora, que, segundo ele, “jogou a toalha em pleno fogo cruzado”.


Eduardo Sanches

Efeito estufa ou Potencial Poluidor A interpretação equivocada das informações pode propiciar muito alarde e pouco resultado.

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missão atmosférica: CO2, ininterruptamente, 24 horas por dia. Emissão de Resíduo Sólido: Sem tratamento, direto na rede pública de esgoto. Consumo de Recursos Naturais: Água e Oxigênio”. Três conceitos muito citados na atualidade e que remetem à imagem de um potencial poluidor. Vamos imaginar uma situação: esse potencial poluidor é o maior emissor de CO2 dentro de seu campo de atuação. Se essa informação cair na mídia, com certeza ele terá que se justificar e apresentar planos de ação, objetivando a correção desses desvios tão danosos ao meio ambiente. Talvez considere interessante apresentar um projeto de conscientização com tema relacionado ao efeito estufa, depois realize investimentos significativos em controles ambientais e por fim, o plantio de algumas mudas de árvores para compensar o impacto causado nos anos anteriores, afinal já está no mercado há mais de vinte anos. Bom, após essas ações planejadas, será necessário enfim, trocar de secretária, talvez utilizar uma eletrônica, eliminando assim a “potencial poluidora e número 1 do setor”. Essa confusão, muito caricata, é claro, acontece a todo o momento. A quantidade de informação que recebemos é muito grande e na maioria das vezes, não conseguimos digeri-la. A interpretação equi-

vocada das informações pode propiciar muito alarde e pouco resultado, é como parabenizar alguém por chegar em segundo lugar numa corrida eliminatória com dois participantes ou preocupar-se com potenciais poluidores sem conhecer as suas emissões, o escopo de sua atuação ou abrangência da comparação efetuada. Essa questão do efeito estufa é um problema preocupante que deve ser tratado com a importância devida. É necessário entender o que é CO2, sigla de dióxido de carbono, trata-se de uma gás inodoro, incolor, não inflamável, mais pesado que o ar. Ele desprende-se dos vulcões, das fendas de certas cavernas, de algumas fontes de águas minerais e da queima de qualquer material combustível. Em seu estado gasoso serve para o preparo de soluções carbônicas, é usado para a produção de gelo seco, e extinção de incêndios, também está presente em bebidas efervescentes, em que é dissolvido sob pressão. Atualmente, é um dos grandes problemas da sociedade moderna, em função da queima de combustíveis fósseis em excesso, aumentando a sua concentração na atmosfera, considerando-se que uma de suas propriedades é reter calor, por conseqüência mais gás, gerando mais retenção de calor, provocando o aquecimento da atmosfera ou aquecimento global.

Segundo “Relatório do Inventário Estadual (CETESB)” a maior parte dessa emissão, mais de 50%, corresponde às emissões dos automóveis e o restante divide-se nos vários segmentos industriais. A parcela relativa aos automóveis aumenta em relação às demais fontes de emissão, em decorrência do crescente número de veículos em circulação. Esse cenário exige ações estratégicas, além das restritivas. Nos últimos anos, as restrições sempre foram o foco, mas hoje precisamos de algo mais, será necessário avaliar alternativas como políticas de transporte público mais eficientes. A responsabilidade não pode ser repassada para alguns segmentos, através da manipulação ou da ignorância da informação. A sociedade e órgãos públicos precisam buscar alternativas eficazes para a solução desse problema.

Eduardo Sanches Gerente de Meio Ambiente, Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo Petroquímico. Professor universitário de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA).

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Ciência & Tecnologia

Com cheirinho

sa Pesquisa da Uenf pode resultar em sabonete que contribuirá para resolver um problema que tira o sono - e a vida - de muita gente: a dengue. Gabriel Arcanjo Nogueira

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de

úde O

temido mosquito da dengue, nascido de larvas postas em malcheirosas águas paradas, pode estar, com a nefasta eficácia de suas picadas, com os dias contados por uma solução de odor diferenciado. A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) desenvolve, em seu Laboratório de Ciências Químicas, o sabonete repelente, capaz de auxiliar no combate ao Aedes aegypti, que também transmite a febre amarela. Mais uma vez, a pesquisa científica mostra sua importância social, pois é através dela e do talento acadêmico e técnico que obtemos produtos que permitem a melhoria real da qualidade de vida. O campus da Uenf fica em Campos dos Goytacazes (RJ), a terceira cidade fluminense no ranking das mais afetadas pelos casos de dengue em 2008. Quem coordena os trabalhos é o professor Edmilson José Maria, chefe do setor de Síntese Orgânica da instituição. Ele deixa claro que não se deve tirar conclusões precipitadas. “ Os testes ainda estão em andamento, e a pesquisa não está concluída”, enfatiza. Tempo, dedicação, recursos Toda pesquisa, para chegar a bom termo, demanda tempo, dedicação plena, recursos financeiros e liberdade de ação. Com essa não poderia ser diferente. “Na

atual situação, faltam-nos esses requisitos, pois na Universidade estamos envolvidos em atividades de ensino, pesquisa e extensão, além da administração. Não há o privilégio de sermos somente pesquisadores, como muitos pensam. Mas a falta de recursos é o fator primordial no momento para o bom andamento dos trabalhos”, afirma Edmilson. O professor, formado em Química Orgânica, com doutorado em Síntese de Fármacos Antivirais e Antiparasitários acredita na viabilidade do projeto em 18 meses. “A idéia da pesquisa surgiu da necessidade de reaproveitar o óleo de fritura usado e com ele produzir sabão para, neste, incorporar substâncias repelentes a mosquitos. Ou seja, surgiu de um apelo ambiental”, esclarece. Edmilson acrescenta que seu interesse acadêmico-profissional é produzir repelentes a insetos que atacam pessoas e animais, bem como desenvolver armadilhas caseiras e comerciais para monitoramento de mosquitos. Parceria importante No caso específico do seu empenho em desenvolver o sabonete repelente para combater o mosquito da dengue, Edmilson não fica apenas a lamentar a falta de recursos. O professor cita a parceria da Fundação do Norte Fluminense (Fenorte), que possibilitou “o financiaNeo Mondo - Julho 2008

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Ciência & Tecnologia

Os testes estão em andamento, e a pesquisa não está concluída

mento de pequena, mas importante, quantia e a concessão de uma bolsa de iniciação tecnológica”. A expectativa de Edmilson é bem clara: “Nossa intenção prioritária é finalizarmos as pesquisas e posteriormente efetuarmos parcerias com empresas para disponibilizar o produto quer para entes públicos quer para consumo em geral”. Se a eficácia do sabonete já pôde ser comprovada, todavia ainda faltam experimentos para assegurar a duração da atividade repelente. “O parâmetro de 6 horas de ação, por enquanto, não passa de meta a ser atingida”, afirma Edmilson.

O caminho da chegada do produto até as prateleiras de drogarias e supermercados é longo, e o coordenador da pesquisa lembra um passo importante, ainda não dado: “Não submetemos o sabonete à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, condição prévia para sua distribuição e utilização em larga escala”. Camundongos e pessoas Ecologicamente correta, a fórmula do produto (ver quadro) inclui substâncias químicas capazes de ampliar a duração de sua eficácia. Testes foram realizados em camundongos e também em voluntários da própria Universidade, com o uso de insetos não-portadores do vírus da dengue. Há possibilidade de o foco da pesquisa ser estendido à ação do sabonete repelente contra outros vetores, além do Aedes aegypti. Edmilson explica como os testes são feitos: “Primeiramente, aplicamos o sabonete em camundongos, que ficaram em contato com mosquitos Aedes aegypti. Esses insetos são criados em cativeiro, no laboratório, a partir de uma linhagem que não tem o vírus da dengue, fazendo com que as gerações posteriores do mosquito também não desenvolvam a virulência. Em seguida, inserimos os braços dos voluntários, sucessivamente em um período de 6 horas, em gaiolas cheias de mosquitos para verificar se haveria algum tipo de contato dos insetos com a pele, o que não ocorreu. Fizemos

ainda uma contraprova, onde a mesma base do sabonete, sem as substâncias repelentes, foi aplicada. Seguimos a mesma metodologia e identificamos um alto número de pousos dos mosquitos na pele dos voluntários”. O professor acrescenta que tomou por base procedimentos descritos na literatura, usuais em experimentos com insetos. “Estes são cultivados sem vírus e acondicionados em gaiolas. A substância a ser testada é aplicada no antebraço da pessoa ou no dorso da cobaia, e observa-se em intervalos de tempo se ocorre algum ataque. É efetuada também uma contraprova com um produto sem o repelente (placebo).” Baixo custo A Uenf se esforça para obter um produto eonomicamente acessível à população carente de grandes centros, desprovida de meios sofisticados de combate à dengue. “O sabonete ainda não tem preço definido, mas certamente será de baixo custo”, diz Edmilson. O professor lembra que é essa camada que está mais sujeita a contaminação por viver em áreas com risco de alagamentos, com saneamento básico precário ou inexistente, sem a mínima condição de comprar, por exemplo, um repelente elétrico ou mesmo, instalar telas de proteção em janelas.

SERVIÇO Instituições e empresas interessadas em dar suporte a esse trabalho de vulto e significância social podem contatar a Uenf pelo site www.uenf.br ou pelo telefone 0800-252004.

Ecologicamente correto • O sabonete tem efeito de seis horas sobre a pele humana; • Foi criado a partir de uma mistura de glicerina, obtida com óleo de cozinha reciclado; • Utiliza essências naturais de plantas como o cravo-da-índia, citronela e capim-limão. Edmilsom cria novo sabonete contra dengue 18

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Que fazer com

o lixo?

Quioto pretende ser cidade exemplo para a coleta, uso e a reciclagem do lixo.

A

ssim sendo, existem informaçôes detalhadas e disponíveis sobre isso, visando um futuro limpo e sustentável. O Japão decidiu utilizar sua tecnologia avançada pondo em prática um tratamento de lixo exemplar, aspirando pela liderança mundial na criação de uma aldeia global sustentável. É incrível a quantidade de material que uma família de quatro pessoas acumula numa única semana, tudo vem embalado em dois, três invólucros que se juntam rapidamente. Nos últimos anos, o país focou suas atenções nas áreas de tratamento de lixo, produzindo não somente esse projeto global, mas adotando também a filosofia dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). O projeto ambiental desenvolvido pelo Japão foi motivado graças ao elevado crescimento econômico do país, após a 2ª Guerra Mundial. O lixo, inclusive o tóxico, começava a se acumular. Como o país é muito pequeno, cerca de 128 milhões de habitantes e apenas 377.801 km², o lixo acabava tendo fins ambientalmente incorretos; para se ter uma idéia, o Brasil é 22 vezes maior que o Japão e com 180 milhões de habitantes. Com esse novo projeto, o país aproveita o lixo como fonte renovável de energia e dispensa o que não é reaproveitável de um jeito apropriado, o que preserva a natureza e não produz impacto ambiental. Para isso, os japoneses pretendem utilizar seus novos recursos em tecnologia. Como exemplo, podemos citar a comercialização de cartuchos para impressoras com tintas apagáveis e a popularização de técnicas como a que transforma garrafas PET em cabides plásticos, ou outros objetos. Outro exemplo da tecnologia avançada do país é a mecanização da coleta de lixo, onde o taxa de emprego será aumentada devido à ampliação das empresas especializadas em transformar lixo em mercadoria, com a utilização das cinzas de incineradoras na produção do ecocimento. De modo geral,em todo o país, a classifi-

Dilma de Melo Silva

Correspondente especial de Quioto – Japão

cação para a coleta observa as seguintes orientações: a. Lixo incinerável, coletado duas vezes por semana,constituído de: restos de alimentos bem escorridos, óleo de comida, pedaços de madeira e galhos de árvore, papéis usados (higiênicos, absorventes). b. Lixo não queimável, coletado duas vezes por semana, constituído por: louças em geral, espelhos, vidros de cosméticos, brinquedos, lâminas cortantes e lâmpadas (devem ser embrulhadas em papel). c. Plástico reciclável, coletado uma vez por semana, constituído de frascos e embalagens de alimentos e artigos de uso diário como: copos, sacos e filmes plásticos, bandejas, embalagens de isopor, tampas de frascos. d. Lixo reciclável, coletado uma vez por semana, como: garrafas, latas, frascos plásticos (PET). e. Lixo de grande porte, como eletrodomésticos, móveis de madeira,objetos de metal, plástico grosso. Para a coleta desse tipo de material é necessário comunicar com antecedência para que a remoção seja feita.Conforme o tamanho do objeto há uma taxa a ser paga. Está em vigência a Lei de Reciclagem de Eletrodomésticos, ou seja, a limpeza pública municipal não faz mais coleta de material não utilizável, assim, devem ser levado para as lojas onde se esteja comprando a mercadoria nova; em geral a empresa cobra uma taxa pelo frete da remoção. f. Pilhas: devem ser colocadas em recipiente especial, as ”Nikado” e baterias para relógio.

nes, tudo o que imaginar: móveis, louças, roupas, cerâmicas, calçados, objetos de decoração, quadros, livros, revistas... Nas cidades onde residem muitos estrangeiros, as indicações sobre o assunto da coleta, uso e reciclagem de lixo são escritas na língua dos residentes para que todos colaborem na implementação da legislação, participando assim, do esforço comum para a melhoria da questão ambiental. Além desse assunto, os jornais noticiam que o Japão pretende reduzir as taxas de gás carbônico através de um plano que diminuiria a emissão de gases entre 60% e 80% até o ano de 2050. Como o país acolheu em julho a reunião dos G8, na ilha de Hokkaido, norte do país, as autoridades procuram liderar a luta contra o aquecimento global. Contudo, as indústrias colocam resistência e não querem que o governo defina a meta de redução de gás carbônico. O Instituto Nacional de Estudos Ambientais Japonês divulga estimativas de que o país poderia diminuir em 70% a emissão de gases até o ano de 2050.

Há casos de famílias brasileiras que ao chegarem ao Japão nos primeiros anos da vinda dos dekasseguis, final da década de 80 e 90, conseguiram montar uma casa com objetos descartados nas portas das casas. Hoje, isso já não ocorre. Mas, em algumas cidades, como nos arredores de Quioto, perto das unidades de reciclagem de lixo, existem depósitos onde se pode ir comprar, por poucos ien-

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros. Neo Mondo - Julho 2008

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Ciência & Tecnologia

Ani

Cobaias vivas, em cursos de graduação de saúde, começam a ser substituídas por outras alternativas. Livi Carolina

C

om as atenções voltadas ao perigo do aquecimento global, escassez de água doce, desmatamento e uma série de catástrofes que envolvem diretamente o bem-estar do homem e a sua relação com o meio ambiente, outros seres vivos, que também sofrem com a imprudência humana, ficam aquém das grandes discussões socioambientais. Animais não têm poder de argumentação ou de recorrer a instituições quando se sentem injustiçados, cabe a eles somente fazer sua parte no bioma e esperar que seres

racionais sejam as suas vozes diante de maus tratos, abusos e conceitos que os julgam dominados pela soberana posse de suas vidas. Embora existam leis que prevêem seus direitos como parte do meio ambiente, o uso de animais vivos para experimentação fisiológica e anatômica em aulas na área de saúde ainda é comum. Porém, mesmo que de maneira tímida, em meio a tantos alarmes da natureza, a visão sustentável tem trazido a sociedade à reflexão dessas antigas práticas que segregam das preocupações ambientais o trato com os ani-

Não é preciso fazer o aluno injetar adrenalina no coração de um cachorro para saber que isso irá matar o animal

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mais. Seu avanço tem atingido a ciência, que desde os primórdios utiliza-se especialmente de roedores para compreensão da mecânica do corpo humano. Mas também répteis, coelhos, macacos, cachorros e gatos... Animais que, em geral, são criados em biotérios, ou adquiridos através dos Centros de Zoonoses, para substituir o ser humano na experimentação em pesquisas científicas, na preparação e controle de qualidade de medicamentos e na graduação dos cursos de saúde. Animais na graduação Uma das práticas mais condenadas pelos defensores dos direitos dos animais é a vivissecção, experimentação com animais vivos, para estudo de alguns fenômenos anatômicos e fisiológicos, técnica pela qual alunos universitários de medicina, biologia e outras, ainda são submetidos para verificar o funcionamento do organismo mediante a injeção de substâncias e cirurgias.


imais sim, objetos NÃO! Na opinião da Ong inglesa Interniche, instituição que defende, para professores e estudantes, a substituição dos experimentos com cobaias vivas por outras alternativas, esse tipo de prática é maléfica não somente para os animais, que têm o físico ou o psicológico prejudicado, ao ponto de no final da experimentação precisarem ser sacrificados, mas também danoso aos futuros profissionais. “No começo, o estudante pega um animal, corta, se sente mal com aquele ato, um desconforto moral, mas com a repetição, ele passa a sublimar isso. No final do curso, ele já está cortando sem qualquer problema, passando pelo processo de desensibilização, e se torna mais frio com relação à vida” – afirma Thales Tréz, biólogo e representante da Interniche Brasil, em depoimento ao documentário “Não Matarás”, do Instituto Nina Rosa. Para Luiz Henrique Paschoal, diretor da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC, instituição pioneira na abolição do uso de animais vivos nas aulas de graduação no Brasil, a humanização da medicina começa com a responsabilidade com os animais. “Não é preciso fazer o aluno injetar adrenalina no coração de um cachorro para saber que isso irá matar o animal. Esta é uma das práticas desnecessárias e que não agrega conhecimento ao aluno” – exemplifica. Graduada em medicina veterinária, Camila Tognon, diz que “aprendeu do mesmo jeito” mesmo não tendo manipulado animais vivos durante o curso, e acrescenta: “não teria coragem de fazer qualquer coisa em um animal sabendo que depois teria que sacrificá-lo. Estudei para salvar vidas, não o contrário”. Atualmente, a FMABC, seguida por outras universidades, utiliza softwares, vídeos e bonecos que simulam as reações do orga-

nismo. E, embora tenha encontrado resistência à mudança por parte de professores e alunos mais tradicionais, “tínhamos que começar de alguma forma” – diz o diretor. Além de economizar com a compra de animais para as aulas, fazendo um investimento único em alternativas duráveis, o diretor faz questão de ressaltar que não foi preciso utilizar animais durante as aulas para ter nota máxima no Enade. Hoje, a Faculdade somente libera o uso de animais para pesquisas inéditas, com relevância científica e previamente aprovadas pelo CEEA - Comitê de Ética em Experimentação Animal da FMABC. Paschoal explica que “nesse caso, até que se prove o contrário, o modelo animal é insubstituível”. Alternativas Durante uma palestra na FMABC, o coordenador-geral da InterNICHE, Nick Jukes declarou que no momento já se pode simular cirurgias ‘vivas’ em cadáveres preparados especificamente para esse fim. Um cachorro artificial e um sapo real, morto naturalmente e preservado quimicamente para utilização no ensino foram alguns exemplos práticos de métodos substitutivos.

Dr. Luiz Henrique

Lei de Crimes Ambientais Capítulo V Art. 32 – Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. §1o – Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. §2o – A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Declaração Universal dos Direitos dos Animais - 1978 1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida. 2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem. 3 - Nenhum animal deve ser maltratado. 4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat. 5 - O animal que o homem escolher para companheiro não deve nunca ser abandonado. 6 - Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor. 7 - Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida. 8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais. 9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei. 10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.

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Ciência & Tecnologia

Nova modalidade de crime, via internet, invade espaço virtual. Liane Uechi

A

história da humanidade tem mostrado que o conhecimento e os avanços tecnológicos têm estreita ligação com a ética e os valores morais daqueles que os utilizam. A internet é um exemplo claro disso. Desde seu advento, a sociedade moderna obteve ganhos expressivos, como uma ampla facilidade de comunicação global, interação, acesso a conteúdos de diversas naturezas, conforto e agilidade na aquisição de produtos e serviços, estímulo ao relacionamento etc. Porém, nos últimos tempos nota-se um volume crescente de crimes sendo cometidos através da rede global. Vão de infrações contra o patrimônio às violações dos Direitos Humanos. A SaferNet, entidade do Terceiro Setor, criou a única Central Nacional de Denúncias da América Latina, que opera em parceria com

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o Ministério Público Federal e oferece serviços de recebimento, processamento, encaminhamento e acompanhamento on-line de denúncias anônimas sobre qualquer crime ou violação aos Direitos Humanos, praticado por meio da Internet. Recebe uma média de 2.500 denúncias (totais) por dia de crimes como pornografia infantil ou pedofilia, racismo, neonazismo, intolerância religiosa, apologia e incitação a crimes contra a vida, homofobia e maus tratos contra os animais. Além dos delitos dessa natureza, a rede também é utilizada para furtos, fraudes, estelionato até a destruição de dados em sistemas web. Diariamente, milhares de pessoas recebem em seus e-mails falsas propagandas e comunicados com o intuito real de instalar programas que capturam as senhas e permitem o roubo de dinheiro, através dos sites de Internet. O ladrão moderno não está se dando ao trabalho de ir mascarado com arma em punho assaltar bancos, já que encontrou uma forma de fazê-lo diretamente na conta do correntista incauto. O advogado Marcel Leonardi, especialista em crimes web e autor de vários títulos literários sobre o tema, disse que ainda não é possível traçar um perfil desse ‘cyberdelinqüente’. “Há técnicos em informática que, sem encontrar lugar no mercado de trabalho, associaram-se a criminosos comuns, com o objetivo de de-

senvolver programas para capturar senhas bancárias. Há garotos de classe média que compram produtos on-line utilizando cartões de crédito de terceiros. E há curiosos que simplesmente executam programas desenvolvidos por essas pessoas para praticar pequenos delitos” – explicou. Para Leonardi, a vantagem econômica e rápida que pode ser obtida com esses golpes, aliada a uma percepção equivocada de que jamais serão encontrados ou punidos estimulam esses crimes. Na verdade, é possível sim, chegar aos criminosos. “A identificação e localização do responsável depende do fornecimento de dados cadastrais e de conexão armazenados nos provedores de serviços utilizados pelo culpado” - explicou. NÃO SE TORNE UMA VÍTIMA Segundo o especialista, a esmagadora maioria dos golpes poderia ser evitada com o emprego de bom senso e cuidado ao abrir mensagens, arquivos e sites. Muitas vezes pessoas e empresas podem não ser quem dizem ser. “As vítimas mais vulneráveis são aquelas com pouca experiência na área de informática, que confiam cegamente no conteúdo que recebem e crianças e adolescentes que, apesar de utilizar muito bem o computador, baixam qualquer tipo de arquivo e não evitam certos tipos de sites, crentes de que nunca serão enganados” - esclareceu.


EFS Advocacia

A mídia tem divulgado também casos em que ex-maridos expõem as ex-mulheres em vídeos íntimos, como vingança em casos de separação. Leonardi explicou que perante a lei, esse tipo de conduta, lamentavelmente, não representa um crime grave, podendo ser interpretado como difamação, cuja penalidade, na prática, é muito suave. “Em contrapartida, no âmbito civil, a Justiça tem concedido indenizações significativas nesses casos, mas o fato é que nenhum dinheiro irá reparar o vexame passado e, principalmente, a perpetuidade e publicidade do registro da cena íntima” - concluiu. APOLOGIA AO CRIME O mau uso da internet tem se constituído uma verdadeira dor de cabeça para os provedores de sites de relacionamento, como o conhecido Orkut, onde os usuários podem criar comunidades de interesses com temas variados, inclusive os de caráter de apologia criminosa e preconceituosa. Segundo a diretora de comunicação da Safernet, Daniela Silva, 87% das denúncias são de crimes contra os Direitos Humanos praticados por meio do Orkut. O provedor está, inclusive, sendo ouvido na CPI da Pedofilia, do Senado. Até agora, as investigações já quebraram o sigilo 3.261 álbuns privados do Orkut. Esta lista foi gerada e fornecida à Comissão pela SaferNet. Felix Ximenes, diretor de Comunicação do Google Brasil disse que a empresa tem trabalhado com as autoridades em diversos estados brasileiros para revisar conteúdos senador Flaque, 73 Centro e adequá-los às leis, bem como auxiliar nas

Rua Santo André - SP CEP 09112 180

investigações criminosas, fornecendo documentações solicitadas. Para ele, os problemas que surgem são reflexos da “vida real”. “A internet não criou nem o racismo, nem a pornografia infantil, nem outros crimes hediondos que o Google reprova com toda a ênfase. Infelizmente, esses crimes existem na vida “offline” e são apenas reproduzidos na Internet” – disse Ximenes, que por outro lado, afirma que a boa notícia é que a esmagadora maioria dos usuários da internet a utiliza para fins legítimos e positivos: trabalhar, descobrir informações relevantes, comunicar-se com amigos e parentes e expressar idéias. Nessa batalha, o Google precisou investir numa estrutura técnica, mantendo uma equipe especializada para filtrar e rastrear ações ilegais em seus produtos. Elaborou ainda, ferramentas para denúncia de conteúdo ofensivo e perigoso. “No orkut, ao clicar em “denunciar”, nós automaticamente recebemos a notificação e sua identidade se mantém confidencial. Se descobrirmos que o conteúdo, de fato, viola a lei ou nossas políticas, podemos imediatamente removê-lo” – disse o diretor. Mas esse combate não está se configurando uma tarefa fácil. Só no orkut, significa monitorar um universo de quase 30 milhões de usuários brasileiros que criam um gigantesco volume de informações diariamente e ainda há, segundo Ximenes, a preocupação de não ferir o direito legítimo de expressão. As denúncias e orientações sobre como proceder diante de crimes virtuais podem ser obtidos no site da SaferNet Brasil: www.denunciar.org.br.

Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva ADVOGADO

Rua Senador Fláquer, 73 - Centro Santo André - SP - CEP 09010-160 Tel.: (11) Cel.: (11)9798-1341 Neo4436-4111 Mondo - Julho -2008 23 efsadv@aasp.org.br


Saúde

l a a

Em busca da

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Arte dramática auxilia a recuperação de vítimas da afasia. Livi Carolina

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Construções

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m acidente, a perda, o Silêncio, o apoio, uma viagem, um tratamento dramático, a chegada de novos casos, o ESPETÁCULO! “Reconstruindo a Palavra” é o nome do primeiro espetáculo do grupo Teatro de Afásicos, da ONG Ser em Cena, cujos atores são aprendizes da fala, pacientes em recuperação que fazem do teatro um tratamento intensivo de estímulo para a reconstituição da palavra, perdida em função de lesões no cérebro provocadas por traumas ou acidentes vasculares cerebrais (AVC), conhecidos como derrames cerebrais. Pessoas afásicas que, de repente, perderam a capacidade de falar ou de entender o que ouvem. Esta, que foi a primeira peça apresentada pelo grupo (2004), criada para mostrar o trabalho de reabilitação da fala e da linguagem por meio da expressão dramática, dividia-se em quatro esquetes, abordando o sentimento da falta de comunicação, a importância da palavra, o que resultou a perda e a falta de comunicação oral. “Lotamos o teatro Bibi Ferreira, além de termos feito apresentações na Uniban (SP) para fonoaudiólogos, estudantes de fonoaudiologia e pacientes afásicos. Todos adoraram e aprenderam um pouco sobre a afasia“ – diz Saliba Filho, diretor do espetáculo. No entanto, mais importante que a apresentação em si, foram os avanços no estado clínico durante as aulas e ensaios. “Na afasia é preciso treinar a mente e estimular com a leitura. O teatro tem o poder de fazer isso porque incentiva a sociabilidade e o contato com o texto. Ele também trabalha a expressão corporal, importante para que se entenda o outro. Além disso, atinge a auto-estima do indivíduo, pois, a partir da estimulação, ele se

Cálculo estrutural sente mais seguro e confiante para ir além, mostrando para si e para a família que é capaz” – analisa Fátima Monteiro, fonoaudióloga da ONG Ser em Cena. Às aulas, que acontecem uma vez por semana na Água Branca em São Paulo, são acrescentados passeios culturais, encontros de confraternização e ensaios para aqueles que aceitaram participar da montagem. Atualmente, o grupo trabalha em outro espetáculo com mais cenas, porém ainda sem data de estréia. Nichollas Wahba, ex-afásico e assistente de direção teatral, explica que a montagem de uma peça com esse grupo demanda mais tempo de preparo, pois não se trata somente de ensaios, mas de um meio de evoluir na recuperação da fala. Um acidente... Pivô da formação do Ser em Cena, Nichollas Wahba, também relações públicas da organização, aos 16 anos, sofreu um acidente de carro que o deixou incapaz de falar no auge de sua juventude. Foram quatro meses de silêncio e mímicas até conseguir dizer ‘A’. “Foi muito difícil. Sabia o que era mala, identificava a palavra quando a ouvia, mas quando abria a boca, não saia som. Não conseguia dizer: MALA” – conta. Enquanto ele se esforçava para ser compreendido e recebia a ajuda de sua mãe, Liliana Liviano Wahba, doutora em Psicologia Clínica, presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica - que posteriormente escreveu o livro “Reconectar a Mente - Juntando o A e o B e o C”, com exercícios verbais para a reabilitação de afásicos – iniciou-se uma busca por especialistas em afasia. Nesta procura, a fonoaudióloga Fernanda Papaterra Limongi tornou-se a res-

Hidráulica e elétrica Laudos e perícias

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Saúde

Sabia o que era mala, identificava

a palavra quando a ouvia, mas quando abria a boca, não saia som.

ponsável pelo tratamento de Nichollas Wahba, que já era ligado à arte teatral, e, mesmo com a afasia, dava continuidade aos cursos de dramaturgia. “Um ano e meio após o acidente fiz um curso com o professor Hélio Braga e, embora falasse como bêbado, ele me colocou no elenco da peça Esperando Godot, baseado no livro de Samuel Beckett. Um livro enorme que me estimulou a ler” – relembra Wahba.

nização fundada pela fonoaudióloga e atriz canadense Anne-Marie Théroux, com o objetivo de reabilitar afásicos por meio da arte dramática e sensibilizar a população para a realidade da afasia. Ele ator, ela fonoaudióloga, a mãe psicóloga, o pai empresário patrocinador, não demorou cerca de um mês para que as aulas começassem e outras vítimas da afasia pudessem contar com a arte para a reabilitação.

Uma viagem... A melhora de Nichollas era progressiva e as consultas à fonoaudióloga reduziramse para uma vez ao ano. Em uma delas Fernanda Limongi contou a ele que durante uma viagem à Montreal havia assistido uma peça do Le Théâtre Aphasique, orga-

A chegada de novos casos... A divulgação do trabalho começou no consultório da fonoaudióloga e logo chegaram novos parceiros que também se incumbiram de divulgar as aulas, como o Sesc Consolação, que abriu espaço para receber a Ser em Cena.

Alunos durante as aulas de teatro. 26

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O primeiro a chegar foi José Francisco dos Santos, com cerca de 50 anos, vítima de acidente vascular cerebral. “Ele foi o primeiro a aceitar o desafio e até hoje está conosco, sem faltar a nenhuma aula” – comenta Wahba. Atualmente são mais de 40 alunos que foram, em sua maioria, encaminhados por profissionais da saúde. Sem contar os familiares que os acompanham e acabam participando da ‘brincadeira’. “As aulas vão além da dramaturgia e compõem um trabalho de socialização, no qual as pessoas trocam experiências e idéias, onde se desenvolvem o teatro com jogos dramáticos, aulas de música e canto, técnicas de mímica e clown, ioga, tai chi chuan e outras” – destaca o diretor, Saliba Filho.

O que é afasia? A Afasia é um déficit geral da linguagem decorrente de uma lesão cerebral no hemisfério esquerdo do cérebro. As causas mais comuns são: AVC - acidentes vasculares cerebrais (derrames, isquemias), traumatismos (causados por acidentes automobilísticos, armas de fogo, quedas graves, etc) e tumores cerebrais. A Afasia pode ser caracterizada por distúrbios na capacidade de compreender, expressar linguagem ou ambas as capacidades. Pode existir um distúrbio de comunicação leve, moderado ou severo, dependendo da extensão e local da lesão cerebral. O número estimado de afásicos no Brasil é de aproximadamente 160.000 pessoas, considerando apenas os casos causados por AVC. Porém, há falta de profissionais especializados no tratamento. Além disso, a falta de informação faz com que muitas vítimas e familiares confundam a afasia com mudez, incorrendo em tratamento inadequado. Fonte: ONG Ser em Cena


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Cuidados

Saúde

O desenvolvimento da criança pode ser prejudicado, quando seus pais não recebem orientação de médicos, enfermeiras, nutricionistas, auxiliares de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais, etc, a respeito de:

de

• Pré-natal; • Aleitamento materno; • Desmame; • Orientação nutricional durante o desenvolvimento da criança;

• Vacinação - que deve estar em

A desnutrição, que leva à morte cerca de 50% das crianças brasileiras, tem solução encontrada no trabalho em favelas de São Paulo. Livi Carolina

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ma recente crise alimentar ocasionada pela alta nos preços dos produtos agrícolas, motivada por um ciclo de colapsos: o aumento da população mundial, e, portanto, a demanda maior pelo consumo de alimentos; os focos mundiais de seca; o crescimento do preço do petróleo, que, por sua vez, aumentou o custo do transporte dos produtos alimentícios e uma série de outros fatores subseqüentes, causaram o crescimento no índice da fome mundial. Durante a Conferência sobre a Segurança Alimentar Mundial, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), realizada em Roma, na primeira semana de junho, foi divulgado um acréscimo de 100 milhões ao número, já alarmante, de 850 milhões de pessoas que sofrem de desnutrição. Como resposta à situação degradante, os 193 que compõem a FAO, entre eles o Brasil, se comprometeram a reduzir à metade, até 2015, o número de famintos no mundo. Para alcançar este objetivo, o Governo Brasileiro lançou, em julho, o programa Mais Alimentos que beneficiará, até 2010, um milhão de produtores rurais. Com uma linha de crédito de até R$ 100 mil, a meta é alcançar um excedente de produção agrícola familiar de 18 milhões de toneladas por ano.

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Pé no chão e barriga vazia Longe das cúpulas e da burocracia para a erradicação da fome no mundo, o Brasil vive em estado de alerta, quase a totalidade das crianças provenientes de famílias de baixa renda encontram-se desnutridas. A informação é do portal Vencendo a Desnutrição do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que também divulga: em 96, 10,5% dos menores de 5 anos mostraram baixa estatura (índice de desnutrição). Porém, analisados os 20% mais pobres, esse percentual sobe para 23%, que é mais alto do que em países africanos como o Egito. Segundo a psicóloga e diretora de projetos do Centro de Recuperação e Educação Nutricional - CREN, Gisela Maria Bernardes Solymos, 50% das mortes entre crianças menores de seis anos tem como causa a desnutrição. No entanto, este índice fica oculto nos atestados de óbito, já que a criança não morre de desnutrição, pelo menos não nos atestados, mas de sarampo, bactérias e tantas outras enfermidades, que encontram em seu organismo debilitado força para se desenvolver. “A partir da desnutrição primária, a criança não come, fica fraca e doente. Doente, ela não consegue comer. Ou seja, ela está exposta a um ambiente propício às doenças e não consegue se recuperar” – acrescenta a diretora. Aqueles que sobrevivem à desnutrição, mesmo quando adultos sentem sua marca

dia, pois desta forma muitas doenças, como difteria, coqueluche, tétano, paralisia infantil, tuberculose e sarampo serão evitadas.

Fonte: Vencendo a desnutrição


Divulgação

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Neo Mondo - Julho 2008 29 !V DO %STADO 6ILA #ALIF˜RNIA 3ĂĄO 0AULO &ONE

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Saúde

Crianças durante a aula de educação alimentar.

e muitas vezes não têm conhecimento disso. De acordo com Gisela, jovens e adultos que tiveram desnutrição na infância têm tendência à obesidade, hipertensão, cardiopatias e diabetes. “Ao passar por uma favela é fácil destacar este índice de obesidade. As pessoas são geralmente obesas e com baixa estatura, prova da desnutrição na infância” – destaca. No caso específico da obesidade, isso acontece porque, depois de algumas horas sem ingerir nenhum alimento, quando a pessoa retorna à alimentação, o corpo guarda mais calorias para que, em outra baixa de energia, utilize o estoque. No caso de uma pessoa que sofreu com a desnutrição na infância isso se intensifica, porque o corpo já foi condicionado a sempre armazenar mais. E pais com tal histórico, vivendo em situação de risco, retomam o mesmo ciclo gerando crianças desnutridas. A mídia também tem de culpa Gisela Solymos, diretora do CREN, aponta como um dos vilões o marketing em torno de alimentos vitaminados: bolachas, salgadinhos, bolinhos... Isso se dá pelo desejo de querer agradar o filho, que vê na televisão e sente vontade. “Então, quando a mãe recebe o salário do mês prefere comprar bolachas ‘práticas e vitaminadas’ a comprar frutas, verduras e legumes. E fazem isso sem culpa, pois acreditam que aquele produto irá oferecer os nutrientes necessários.” – destaca Gisela. Na comunidade e agora com barriga cheia Para confrontar e transformar esta realidade, há 15 anos o CREN atua na recuperação de crianças 0 a 6 anos em situação de desnutrição e de risco social, exclusas da sociedade. 30

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Seu trabalho começou com uma pesquisa nutricional e de saúde feita pela Universidade Federal de São Paulo - Unifesp com moradores da favela da Vila Mariana, na qual foram entrevistadas duas mil pessoas. Com os dados em mãos percebeu-se que era preciso fazer algo de concreto que pudesse mudar a trajetória daquelas vidas. Logo uma das professoras responsáveis pela pesquisa, escreveu um projeto já com o apoio da instituição italiana AVSI. A pesquisa se tornou o Centro de Recuperação Educacional e Nutricional, onde as crianças são atendidas, em regime de creche hospitalar, de segunda a sexta-feira. “Aqui as crianças recebem cinco refeições diárias e aprendem, em uma rotina de pré-escola, com atividades adequadas às ida-

des, a fazer refeições balanceadas com acompanhamento médico e nutricional” – descreve Gisela Solymos, diretora de projetos. Ela explica que o objetivo é, além de recuperar o peso, dar tempo para o corpo responder ao tratamento com a normalização da estatura, fazendo com que esta criança não tenha seqüelas da desnutrição. “Nossos resultados mostram o contrário de pesquisas que afirmam que criança que nasceu desnutrida – 70% – não chega à estatura normal para sua idade. Por isso, nosso trabalho é minucioso e leva em média um ano e meio, ou mais, depende de como o organismo da criança está respondendo” – acrescenta. Segunda Gisela, uma pesquisa realizada recentemente pela Unifesp com crianças de 10 anos que passaram pelo CREN, mostrou que estes jovens têm estatura nutricional equiparada aos outros jovens da região. Recuperando a cidadania Além do atendimento às crianças, pelo menos, uma vez por mês os pais são orientados por uma assistente social quanto à retirada de documentos, a programas de alfabetização e aos programas do Governo. Das famílias atendidas somente 25% nesta faixa de pobreza têm acesso ao Bolsa Família. “Muitos nem sabem desse auxílio” – destaca Gisela. Por isso, a coordenadora enxerga que o CREN ajuda as famílias a recuperarem também a auto-estima, a dignidade e o respeito.

Taxas de crianças menores de 5 anos com baixa estatura, baixo peso e baixo consumo equivalente (%) Desnutrição crônica (nanismo)

Bangladesh Brasil China Côte d’ Iv Egito Gana Guatemala Guyana Indonésia Marrocos Nepal Nicaragua Paquistão Peru Filipinas Romania Rússia África do Sul Vietnã Zambia

Taxa Média

20% mais pobres

20% mais ricos

51 15 28 20 17 31 62 12 46 28 49 15 42 31 14 24 17 26 53 37

56 23 38 26 20 38 70 15 54 39 55 24 46 51 21 25 22 39 60 60

43 9 14 18 16 25 47 6 35 15 39 9 31 10 8 20 6 12 38 37

Baixo Peso

Pobre/ Taxa Rico Média 1.3 2.6 2.7 1.4 1.3 1.5 1.5 2.5 1.5 2.6 1.4 2.7 1.5 5.1 2.6 1.3 3.7 3.3 1.6 1.6

54 6 13 17 11 26 33 19 40 15 47 8 43 12 21 7 6 18 41 22

20% mais pobres 59 9 21 21 10 32 41 25 46 23 60 15 48 22 26 9 7 24 48 29

Desnutrição aguda (magreza)

20% 20% Pobre/ Taxa mais mais Rico Média ricos pobres 44 3 6 15 10 19 25 8 33 6 27 4 35 5 13 6 5 11 29 14

1.3 3.0 3.5 1.4 1.0 1.7 1.6 3.1 1.4 3.8 2.2 3.8 1.4 4.4 2.0 1.5 1.4 2.2 1.7 2.1

22 6 4 10 5 5 1 8 10 8 13 3 25 2 22 5 6 10 6 6

Fonte: Wagstaff and Watanabe (2000), “Socieconomic Inequalities in Child Malnutrition in the Developing World”.

28 9 6 10 4 6 1 7 14 12 16 7 28 4 29 6 7 10 4 6

20% Pobre/ mais Rico ricos 21 6 2 11 6 3 1 3 11 5 8 0 22 2 16 4 4 8 7 6

1.3 1.5 3.0 0.9 0.7 2.0 1.0 2.3 1.3 2.4 2.0 1.3 2.0 1.8 1.5 1.8 1.3 0.6 1.0


Marketing social ou

Mauro Ambrósio

Num futuro próximo não haverá espaço para empresas que não adotem conceitos de sustentabilidade.

R

ecentemente, fui abordado para responder a uma questão que me fez parar para pensar: ainda existem muitas empresas que desconhecem o que é ser sustentável no mundo corporativo. A pergunta que me fez refletir foi: - Ser socialmente responsável não é a mesma coisa que fazer marketing social? O marketing social, propriamente dito, não é uma estratégia mercadológica adotada por uma empresa com o objetivo de vender mais produtos ou serviços. A história do marketing social começou na década de 60, nos Estados Unidos, no setor da saúde, onde as ações eram exclusivamente promovidas por instituições sem fins lucrativos. E, definitivamente, não podemos dizer que ser socialmente responsável é ter como objetivo reforçar ou melhorar a imagem corporativa, associando a marca da empresa a causas sociais. É muito mais do que isso, é uma forma de garantir a sustentabilidade dos negócios e de todos os envolvidos no entorno da corporação. Em vários países, empresas de diversos setores vêm se empenhando para fa-

zer parte da carteira de índices de sustentabilidade. Podemos usar como exemplo a carteira do Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI) que é um indicador que reúne empresas socialmente responsáveis, cotadas na Bolsa de Nova York. Entre essas empresas está a estatal brasileira Petrobrás, que conseguiu no ano passado ser indicada para o índice. . O principal objetivo dessas companhias, assim como da nossa estatal, é tornar-se mais atrativa para os fundos que investem em empresas tidas como socialmente responsáveis, demonstrando mais transparência e credibilidade; mais governança e, por conseqüência, maior competitividade no mundo dos negócios. Nos Estados Unidos, esses fundos chegam a movimentar mais de US$ 1 trilhão por ano. A participação num índice de sustentabilidade, como o da Bolsa de Nova York, é como atestar que a companhia possui boas práticas de governança corporativa, de gestão ambiental e de relacionamento com consumidores, funcionários e fornecedores, entre outros. Na prática, a parti-

cipação nesses índices vem representando ganhos financeiros. É uma forma de gestão responsável. Talvez seja por isso que muita gente vem confundindo responsabilidade social com marketing. Assim como em outras partes do mundo, o Brasil também tem o seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela Bovespa em 2005, quando foi composto por uma carteira de 28 empresas em seu lançamento. Essas companhias enfrentaram um processo de seleção e tiveram de responder a um questionário que avalia aspectos econômico-financeiros, sociais e ambientais. Gerar qualidade de vida é um diferencial desse setor. Portanto, a implementação de práticas e políticas de Responsabilidade Social nas empresas do segmento é de altíssimo valor agregado. Não há obrigatoriedade legal de qualquer setor para a implementação das práticas de Responsabilidade Social Corporativa. Porém, naturalmente, há sim, uma cobrança da sociedade — composta por consumidores de produtos e serviços de empresas e setores econômicos. As organizações e seus líderes já perceberam que, num futuro bem próximo, não haverá lugar para empresas e negócios isolados dos conceitos de sustentabilidade, da preocupação com os grupos de interesse - os chamados stakeholders - e dos conceitos de pilares básicos de sustentação da governança.

Sócio-diretor da BDO Trevisan, responsável por auditorias e consultorias de responsabilidade socioambiental de entidades e empresas. Neo Mondo - Julho 2008

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Esporte

No topo

do mundo A escalada é uma atividade esportiva que permite a integração com a natureza e o profundo respeito ao meio ambiente.

Arquivo pessoal de Rodrigo Ranieri

Liane Uechi

Eduardo Keppke e Rodrigo Ranieri com a Vila de Namche Bazaar, no Nepal, ao fundo. Arquivo pessoal de Davi Marski

GEEU

Arquivo pessoal de Rodrigo Ranieri

Davi Marski na Bolívia.

Eduardo Keppke a caminho de Phurte, outro vilarejo, no Nepal.

A primeira entidade de escalada em ambiente universitário do Brasil, a GEEU (Grupo de Escalada Esportiva da Unicamp) há 17 anos vem formando grandes escaladores, alguns com renome internacional. O GEEU mantém em funcionamento um muro de escalada, com o propósito de democratizar e estimular a prática do esporte, tornando-se uma opção barata de escalada em resina no Brasil. Qualquer um pode se filiar ao grupo, independente de vínculo com a universidade. Há inclusive um “estágio probatório” inicial, para o futuro escalador decidir se quer ou não ingressar no grupo, gratuitamente. A prática em ambientes artificiais tem sido a porta de entrada para muitas pessoas nesse mundo das alturas.


E

nfrentando fortes rajadas de vento e sob temperaturas extremamente baixas, vencendo o gelo, a altitude e o cansaço de dois meses de caminhadas montanha acima, uma dupla brasileira atingiu em maio, o ponto mais alto do Planeta, o Everest (que está a 8.850 metros do nível do mar). O sabor da conquista de um feito considerado de alta dificuldade e risco como esta, agrega outras lições também valiosas, que incluem o fortalecimento da paixão pela natureza e a valorização de pequenas coisas essenciais na vida. Os responsáveis por colocar as cores verde e amarela no topo do mundo foram Rodrigo Ranieri e Eduardo Keppke. Ambos praticam um esporte que a cada ano ganha novos adeptos no Brasil: a escalada. A escalada é uma atividade esportiva, que ao contrário das demais não está muito relacionada à competição e rivalidade entre as pessoas. Mas a diferença pára por aí, pois há nessa prática outros fatores inerentes ao esporte, como a superação, a obstinação, as regras “do jogo”, as diversidades de modalidades, a necessidade do conhecimento técnico, do preparo físico e psicológico, dentre outros aspectos. A escalada envolve um fator a mais, que inclusive é apontado como responsável por conquistar grande parte de seus praticantes: o contato com a natureza de uma forma tão peculiar, que torna irresistível a integração e o profundo respeito ao meio ambiente. Davi Marski, que escala há 20 anos, com experiência em montanhas da Europa e América do Sul, explica que escalada é um termo genérico que engloba vários modalidades diferentes, como o montanhismo, o bouldering (escalada de blocos ou falésias com alguns poucos metros de altura), o alpinismo e ainda a escalada em muros artificiais (única modalidade competitiva reconhecida pela União Internacional de Associações de Alpinismo -UIAA). Cada tipo de escalada demanda um comprometimento específico. “Na escalada competitiva, o nível técnico e a forma física do escalador são diferenciais importantes, já na escalada tradicional, o estado psicológico e a forma de lidar com os próprios medos e anseios são cruciais. Na escalada de alta montanha, a excelente forma física, resistência aeróbia e determinação em atingir os objetivos são realmente importantes, assim como conhecimento técnico e a experiência” – disse Marski. Ranieri considera a prática da escalada uma atividade essencialmente coletiva, que exercita o companheirismo e o trabalho em

equipe. Para ele, a atividade extrapola o esporte e traduz-se num estilo de vida, do qual o grande prazer está em obter o equilíbrio entre a técnica, o preparo físico e o psicológico. Keppke, por sua vez, independente da modalidade, é uma atividade que exige a superação de dificuldades. O autoconhecimento passa a ser um atributo do atleta, que precisa conhecer seus limites e saber até onde é possível ultrapassá-los, sem colocar em risco a vida. “Toda atividade esportiva tem algum risco, por isso é necessário dominar a técnica, utilizar corretamente os equipamentos de segurança e respeitar as forças da natureza. Para atingir o cume, precisamos da autorização da montanha” – disse ele, referindo-se às horas, às vezes dias, de espera dentro da barraca, aguardando a “janela”, quando as condições climáticas se tornam propícias para avançar na montanha. Vivência & Consciência O que fica, dessas experiências são valores subjetivos, como o companheirismo, a valorização de coisas simples e importantes. Os praticantes ganham novas lentes para enxergar o mundo e conhecer a si mesmo. A motivação do escalador está muito relacionada ao sentimento de superação pessoal. Marski acredita que na escalada esse é um fator decisivo, e que se dá através de conquistas graduais, a partir de pequenos desafios. À medida que os conhecimentos da técnica e dos limites do próprio corpo se desenvolvem é possível ampliar o contato com os diferentes ambientes naturais que o esporte proporciona. “A escalada resgata o anseio natural da espécie humana de se deslocar, conquistar, superar seus próprios medos e dificuldades. É um aprendizado constante. Cada escalada é única. O que conta são os companheiros e o ambiente de magia que tornam essas experiências tão significativas” – explicou Marski que resume esse sentimento como: “Quanto mais alto você sobe, mais longe você enxerga!”. Esse “enxergar longe” tem um sentido maior. O contato íntimo com a exuberância da natureza, matas, rochas, montanhas, gelo, nascentes e cachoeiras, grandes altitudes e baixas temperaturas promovem uma nova percepção na forma de viver. “Não é possível respeitar sem conhecer. A quase totalidade dos escaladores busca um ambiente de harmonia, sinergia e equilíbrio com o meio natural. Somos parte deste mundo, e dessa forma é conseqüente que busquemos preservar, respeitar e propagar o respeito pelo meio-ambiente”. Neo Mondo - Julho 2008

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Esporte

Ranieri e Keppke concordam e engrossam o coro afirmando que nessa atividade vive-se momentos impactantes, de alegria e de dor, de sofrimento e superação, de privações e superações, que provocam grandes mudanças na forma de ver as coisas. As experiências cole-

tadas nas escaladas aos maiores e mais difíceis picos do mundo, garantiram a Ranieri uma percepção clara do que realmente tem valor na vida. Em depoimento gravado durante a última expedição ao Everest, ele relata: “Quando passamos por grandes dificuldades, como nessa ex-

pedição, onde temos além da saudade, a privação de sono, de alimentos adequados, de banho, entendemos o valor de uma cama limpa, da água quente, de uma boa comida e do abraço da pessoa amada. Percebemos que precisamos de pouco para ser feliz” – disse ele.

Arquivo pessoal de Rodrigo Ranieri

Eduardo Keppke e Rodrigo Raineri, no cume

O BRASIL NO TOPO DO MUNDO Rodrigo Ranieri e Eduardo Keppke alcançaram o pico do Everest, pela face sul (Nepal), em 27 de maio de 2008. A façanha, que já levou a morte diversas pessoas, continua a fascinar escaladores, devido às inúmeras adversidades que se impõe a essa tarefa. A dupla levou dois meses na montanha, subindo em etapas, para aclimatização, conforme um plano que precisou considerar a logística e a estratégia de “ataque” ao cume. Na última etapa, no dia da investida final, sob intensas rajadas de ventos e baixas temperaturas, foram 17 horas de caminhada do Acampamento 3 (8.000 metros) até o cume (8.850 metros de altitude). Permaneceram no topo do mundo por cerca de 45 minutos e caminharam mais cinco horas até chegarem de volta ao C3. Dentre as principais dificuldades que enfrentaram além das já previstas como: falta de oxigênio, em função da altitude (acima dos 8.000 m existe apenas 30% do oxigênio existente ao nível do mar), frio rigoroso, ventos cortantes, riscos

de avalanches, de congelamentos das extremidades como nariz e mãos e o desconforto de uma barraca, precisaram lidar ainda com o extravio de bagagem, roubo de alimentos (gel de carboidrato) nos acampamentos mais avançados, burocracias nas documentações de autorização de escalada... Enfim, foi uma expedição difícil, mas vitoriosa. A intenção de Ranieri era alcançar o cume sem auxílio de O2 suplementar (oxigênio engarrafado em cilindros), porém quando estavam no acampamento avançado, as previsões de tempo indicaram ventos de 60km/h e temperatura de -50ºC no cume da montanha. Por segurança, Rodrigo decidiu subir usando O2. Eduardo Keppke que já escalou cinco dos sete cumes* tinha optado, desde o início da expedição, pelo uso de O2. Ranieri conta que está foi sua terceira excursão à montanha mais famosa do mundo. Nas duas primeiras não atingiu o cume. Em 2005, faltando apenas 50 metros para o objetivo, decidiu retornar ao acampamento para que a dupla não corresse risco na descida (trecho em que ocorrem os maiores problemas envolvendo alpinistas). Sua atitude foi considerada de grande amadurecimento por reconhecer os próprios limites e tomar a decisão acertada. É essa consciência corporal que muitas vezes salva vidas. Em 2006, desistiu do “ataque ao cume” logo após a perda do grande amigo e companheiro de excursão, Vitor Negreti, que ao iniciar a descida, após atingir o cume, passou mal e morreu na montanha. Uma perda trágica que ainda afeta Ranieri. Em 2008, finalmente, subiu ao pódio mais alto desse esporte.

SETE CUMES* O desafio dos Sete Cumes do Mundo é a escalada das maiores montanhas de cada um dos continentes em que os alpinistas dividem a Terra. Everest – 8.850 m, na Ásia; Aconcágua – 6.962 m, na América; McKinley (6.193 metros), no Alasca; Kilimanjaro (5.895 metros), na África; Elbrus (5.641 metros), na Europa; Carstensz (5.039 metros), na Oceania; Maciço Vinson (4.897 metros), na Antártida.

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Sites para consultas sobre o tema: www.geeu.wsystem.com.br www.marski.org www.rodrigoraineri.com.br


Nossos bosques ainda têm mais Vida

Márcio Thamos

(mas, até quando?)

G

onçalves Dias é um dos nossos grandes poetas. Sem dúvida, apaixonado pelo Brasil, não foi por puro ufanismo romântico que encheu o peito, em sua “Canção do exílio”, para entoar a quadra famosa:

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. A biodiversidade das matas brasileiras, apesar de ameaçada por um intenso processo de devastação, é ainda surpreendente. Embora já desgastado – e atualmente relativizado –, o epíteto de “pulmão do mundo”, que se aplicou com facilidade à Floresta Amazônica, denota o prestígio legendário de uma das maiores florestas tropicais do planeta, diante especialmente do esplendor de sua flora. A maior parte dessa riqueza encontrase em território nacional. Estendendo-se por vários Estados brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Piauí, a Mata Atlântica forma o mais rico bioma de todo o mundo em diversidade biológica, com uma fauna repleta de animais que povoam o imaginário dos brasileiros, como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira, o mico-leão-dourado, a jararaca, o bicho-preguiça e o sapo-cururu. Tinha razão o poeta. E não cantava àtoa as saudades de sua terra. Na Antiguidade, as florestas eram freqüentemente consideradas santuários naturais. Era comum que fossem dedicadas aos deuses, e não raro erguiam-se templos às divindades no meio de um bosque sagrado. No Canto I da Eneida, Virgílio apresenta o herói mítico dos antigos romanos, que seria responsável pelas bases do Império, explorando uma desconhecida mata em que, não por acaso, encontrará Vênus,

sua mãe, a própria deusa da beleza e do amor. Joël Thomas, estudioso das estruturas do imaginário no grande poema latino, considera que “Vênus representa um dos aspectos mais esplêndidos da Sophia, da realização espiritual completa, na Eneida”, o que permite certa interpretação simbólica da passagem. É justamente no meio da floresta que se dá uma espécie de iniciação mística do herói, a fim de fortalecê-lo no cumprimento de sua missão. Ao adentrar a mata e encontrar-se com a mãe divina, Enéias parece viver uma experiência que o transporta para além da realidade física, e que representaria o próprio desejo humano de transcendência, o anseio apaixonado e incompreensível de atingir o absoluto ou metafísico. Em sua Poética do espaço, Gaston Bachelard faz uma afirmação que parece confirmar esse simbolismo: “Será fácil citar documentos literários que serão variações sobre o tema de um mundo ilimitado, atributo primitivo das imagens da floresta”. O romântico Gonçalves Dias, formado na tradição clássica, sonhava com um mundo ilimitado, sagrado e cheio de sabedoria natural. Estando longe de seu país, era justo

– e era certo! – que projetasse seu desejo de poeta brasileiro nestas terras de além-mar. Hoje, no entanto, centenas de quilômetros quadrados são desmatados mês a mês na Amazônia, e cerca de 7% é tudo o que nos resta da Mata Atlântica em sua formação original. Já não é preciso amargar nenhum exílio para lamentosamente pedir:

Não permita Deus que eu morra, .................................................... Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Se não quisermos terminar nossa canção com uma nota triste, há tempo ainda para concentrar nosso talento consciente no desenvolvimento sustentável. Ontem também já foi amanhã. O futuro começa hoje.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Lingüística da FCL-UNESP/CAr. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica. Neo Mondo - Julho 2008

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Turismo

Beleza literária

Referência brasileira em turismo cultural, Paraty envolve os visitantes em um clima de conto literário.

Luciana Serra

Da Redação

Luciana Gutiérrez

Alunos do CIEP Dom Pedro I homenageiam Liz Calder.

Rua de Paraty durante a Flip.

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araty é um lugar que transpira um clima harmônico entre a natureza, o povo e a cultura. Sua paradoxal simplicidade e sofisticação, já reveladas pela história quando ainda servia de porto para as embarcações que transportavam ouro e pedras preciosas das Minas Gerais para Portugal, é traduzida nas mais belas paisagens arquitetônicas, nas ruas de pedra, casarios coloniais e na inspiração da arte que envolve seus visitantes em uma atmosfera de charme e aconchego ao som do canto dos pássaros. Por isso mesmo,a inglesa Liz Calder, uma das fundadoras da Bloomsbury, editora que lançou Harry Potter, foi arrebatada pela cidade e a transformou no reduto literário brasileiro com o lançamento, em 2003, da Festa Literária Internacional de Paraty - Flip, idealizada por ela. Em depoimento ao site Oi Londres a empresária revela que desde que conheceu Paraty percebeu que aquele local seria perfeito para festivais. “Um lugar onde os autores e os leitores ficariam numa atmosfera muito íntima. Mesmo porque aproveitariam não somente a literatura, mas também o mar, as ilhas e as praias”. Desde então, a cidade passou a fazer parte do roteiro de festivais literários internacionais como Harbourfront de Toronto, Festival de Berlim, Edimburgo e Mântua. A Flip tornou-se chamariz para personalidades internacionais e uma valiosa vitrine da literatura brasileira no exterior.

A secretaria de Turismo e Cultura de Paraty, Dalva Lacerda, diz que a Flip mudou a visão da cidade. “Antes da Festa Literária, tínhamos como principal destaque cultural o Festival da Pinga, que continua sendo muito apreciada. Porém, agora Paraty tem um apelo diferente com um toque de intelectualidade” – destaca Dalva. Hoje a Estância Balneária atrai turistas em busca de descanso, conforto e cultura. Recentemente, a cidade foi nomeada pelo Ministério do Turismo como referência em turismo cultural. Isso tem propiciado um novo tom ao desenvolvimento local. O comércio e a população tiveram que se adaptar à nova realidade e se preparar para receber um público mais exigente. Segundo Cristina Maseda, coordenadora do Núcleo de Educação da Associação Casa Azul, responsável pela organização do evento foi necessário oferecer capacitação profissional à população. “A Flip gera 250 vagas de empregos diretos e indiretos” – diz a coordenadora. Ar cultural Mas a Flip não mudou somente o objeto da economia local, também transformou a cidade em um espaço de valorização da cultura. Durante todo o ano, a Casa Azul promove o Programa Educativo Cirandas de Paraty, que atua em escolas e na rede de ensino, incentivando a qualificação do ensino através da formação de grupos de leitura, capacitação de professores e me-


Flip 2008 A Flip, que a cada edição homenageia um símbolo da escrita nacional como Vinicius de Moraes, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado e Nelson Rodrigues, escolheu o escritor carioca Machado de Assis, considerado um dos mais importantes nomes da literatura brasileira, como anfitrião da Festa que aconteceu no início de julho Foram suas obras o mote de inspiração para palestras, peças teatrais, exposições e leituras durante os cinco dias de festa em Paraty. A começar com a participação do crítico literário Roberto Schwarz, que fez uma leitura sobre Dom Casmurro, segundo o crítico “o ro-

Gustavo Scatena

mance possivelmente mais refinado e composto da literatura brasileira”. Mas não foi só Machado de Assis que embalou o ritmo da Festa. O humor de David Sedaris, a ficção de Neil Gaiman, Richard Price, João Gilberto Noll e Lucrecia Martel, a criminalidade tratada nas obras de Misha Glenny e Guilherme Fiúza, a literatura feminina de Cíntia Moscovich, Inês Pedrosa e Zoë Heller, a dramaturgia de Tom Stoppard, entre outros temas, levaram à Tenda dos Autores e ao Telão, onde aconteceram os debates, 35 mil espectadores.

Pepetela, escritor angolano que participou da mesa “Guerra e Paz” na Flip 2008.

Esteve por lá... A Revista Neo Mondo também marcou presença ao evento, com a distribuição de material nos principais pontos da cidade. O presidente do Instituto Neo Mondo, Oscar Lopes Luiz, se encantou com o clima do lugar. “É interessante andar pelas ruas e encontrar, completamente descontraídos, passeando pela cidade, prestigiando o local, ou sentados às mesas dos bares, grandes nomes da literatura nacional e internacional. Realmente Paraty consegue nos envolver neste clima literário” – destacou.

Luciana Gutiérrez

diadores de leitura, criação de bibliotecas, organização de oficinas literárias e artísticas, entre outras atividades. Este projeto deu espaço para a criação da versão infantil da Festa Literária, a Flipinha. “O trabalho que as crianças realizam ao longo do ano, com base no tema da Festa, é exposto na versão infanto-juvenil que também tem suas palestras, peças, danças, músicas e poesias, tudo de acordo com o público” – explica a Cristina Maseda. Um dos resultados marcantes do incentivo à cultura é a Biblioteca Azul, que hoje tem mais de 8 mil livros infantis, graças à participação de quase 90% das escolas da rede pública, à maturidade dos alunos em sala de aula e ao consenso da população em valorizar o patrimônio da cidade.

Agradecimentos Pousada da Marquesa, Pousada Aconchego, Hotel Coxixo, Blend Café, Pousada do Ouro, Pousada do Sândi e Pousada Pardieiro.

Audiência na Tenda dos Autores.

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Dica

Sugestão de Livros O emprego no desenvolvimento da nação Marcio Pochmann Editora Boitempo Partindo de dados alarmantes sobre o aumento do desemprego no Brasil, Marcio Pochmann faz uma análise criteriosa da relação entre a falta de trabalho e a adoção de políticas econômicas desfavoráveis ao país. O autor propõe o abandono do que chama de

economia do bonsai, calcada na condenação do investimento público e na manutenção de um salário mínimo baixo, e a adoção da economia da jabuticaba, brasileira na essência, que combinaria democracia com crescimento econômico sustentado.

Fórmulas Magistrais Chinesas Lo Der Cheng Editora Roca Dentre os métodos terapêuticos alternativos, a fitoterapia tem adeptos fiéis, não obstante os recursos tecnológicos disponíveis. Correspondendo a 70% da prática médica chinesa tradicional, as ervas e outras substâncias minerais, vegetais e animais ainda encontram

extenso emprego em manipulações específicas. Fórmulas Magistrais Chinesas registra, com competência, clareza e objetividade, a associação e o preparo de ingredientes e suas indicações, sempre observando as características de cada síndrome.

Questões Sociais: Desafios para o país Jô Azevedo Editora Salesiana Quarto livro da Série radar, “Questões Sociais: Desafios para o País” aponta e discute grandes problemas que afligem o nosso país. Trabalho, reforma agrária, política habitacional, saúde, educação e processos discriminatórios, entre outros, são alguns dos temas apresentados, com

o objetivo de contribuir para a promoção dos direitos humanos no Brasil e formar cidadão mais críticos e conscientes. Uma visão panorâmica, informativa e analítica do quadro social brasileiro. O texto jornalístico, os boxes explicativos e as charges tornam a leitura leve e dinâmica.

Sem dúvida A gronegócios:

G oogle:

A palavra agronegócio tem um sentido genérico, referindo-se a todas as atividades de comércio com produtos agrícolas.

É o nome da empresa que criou e mantém o maior site de busca da internet.

D esnu­trição primária:

Rede social filiada ao Google, criada em 24 de Janeiro de 2004 com o objetivo de ajudar seus membros a criar novas amizades e manter relacionamentos. Tais sistemas, também são chamados de rede social. É a rede social com maior participação de brasileiros, com quase 30 milhões de usuários. Fonte: wikipedia.

Causada pelo baixo nível socio­econômico.

D esnutrição secundária: Conseqüência de alguma enfermidade.

D eter: Sigla do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real, pelo qual o Inpe monitora a Amazônia a cada 15 dias. (Site do Inpe).

O rkut:

S istema tributário: Conjunto dos tributos que compõem o ordenamento jurídico, e também as normas tributárias de um determinado país.

W WF: World Wild Fund (Fundo Mundial pela Natureza). Desde 1996, o WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira. (Assessoria de Imprensa da WWF-Brasil).

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