Revista Neo Mondo - Edição 10

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NeoMondo

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um olhar consciente

Ano 1 - Nº 10 - Maio 2008 - Distribuição Gratuita

Treme Brasil

Mata Atlântica 8

Vá pedalando

Terremoto paulista

O que restou do paraíso

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Ciclovias em Santos

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Neo Mondo - Maio 2008


Seções Perfil 06 Histórias cruzadas Paulo Nogueira Neto, primeiro secretário do Meio Ambiente, fala sobre a luta ambiental.

MEIO AMBIENTE Mata Atlântica – O que restou do paraíso É preciso cuidar dos 7% restantes de um dos mais ricos biomas do Planeta.

11 Artigo: Emissões Atmosféricas Reverter o desequilíbrio ambiental é o desafio da geração atual.

14 É possível mudar a atitude O Projeto Uso Racional de Água mostra como mudar hábitos.

12 Boas e viáveis intenções Acordos internacionais são como o novo despertar da humanidade.

16 Treme Brasil Terremoto paulista foi um dos cinco maiores já registrados no País.

19 Língua mãe Um dos mais importantes fatores de união nacional.

Cadê as abelhas? O mundo inteiro está sofrendo com o desaparecimento das abelhas.

SAÚDE 22 Bebida é uma droga! A bebida alcoólica causa dependência em 10% da população brasileira.

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20 Especial 26 Vá pedalando A experiência de Santos impulsiona o uso da bicicleta como meio de transporte.

29 O exemplo de Quioto Como o respeito ao meio ambiente já está arraigado à cultura japonesa

COMPORTAMENTO 30 Dominado pela máquina A dependência da internet ameaça ser um dos grandes problemas sociais do futuro.

SOCIAL Respeito é bom, e criança gosta Este princípio deve estar cada vez mais presente no cotidiano das famílias.

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ECONOMIA & NEGÓCIOS 37 Você sabe trabalhar em equipe? Como conciliar e converter divergências em uma equipe.

Expediente

Publicação

Correspondência: Instituto Neo Mondo Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz 32Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Ricardo Santo André – SP Girotto, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Cep: 09190-000 Livi Carolina, Eduardo Sanches e Para falar com a Neo Mondo: Luciana Stocco de Mergulhão Redação: Liane Uechi (MTB 18.190), Livi Carolina assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br (MTB 49.103-59) e Gabriel Arcanjo Nogueira 36trabalheconosco@neomondo.org.br (MTB 16.586) classificadosolidario@neomondo.org.br Revisão: Instituto Neo Mondo Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Tel. (11) 4994-1690 Diretor de Criação e Ilustração: Ricardo Girotto 38Presidente do Instituto Neo Mondo: Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa oscar@neomondo.org.br Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 20 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização. Neo Mondo - Maio 2008

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Editorial

N

esta edição, preparamos

nossas páginas. As ocorrências de

um conteúdo diversificado

congestionamentos infindáveis, que

e atual. Trouxemos para

tornam as cidades ineficientes, nos

nossas páginas a Mata Atlântica,

conduziram para novas experiências

ou pelo menos, o que sobrou desse

e alternativas. Mostramos a cidade

paraíso. Conheceremos as opiniões

de Santos, no litoral paulista,

de especialistas sobre o uso sus-

que está implantando uma malha

tentável desse tão valoroso bioma

cicloviária, e abrindo espaços para

brasileiro. Vamos entender um

os ciclistas que estão tomando

pouco melhor também os acordos

conta dessa cidade praiana.

internacionais, como a Agenda

O desaparecimento das abelhas,

21, o Tratado de Kyoto etc, saber

motivo de grande preocupação de

porque existem e de que modo

ambientalistas do mundo inteiro,

nos auxiliam a buscar melhorias

também ocorre no Brasil. Nossa

ambientais para o planeta. A edu-

reportagem foi descobrir os motivos

cação familiar volta a nossa pauta

e os riscos disso.

com uma reportagem sobre a vio-

Na saúde, conheceremos mais um

lência contra crianças e o esforço

dos graves problemas de saúde

de entidades do Terceiro Setor que

pública nacional, o alcoolismo, uma

lutam pela sua defesa. A internet,

questão de difícil solução e que já

que mudou a comunicação mun-

afeta 10% da população.

dial, está preocupando psicólogos

Disponibilizamos ainda, modelos de

que relatam o crescimento de

projetos ambientais, que buscam

um novo mal: a dependência da

oferecer soluções e mobilizar a

internet. O Hospital das Clínicas,

sociedade. Porque não há dúvidas: o

em São Paulo, já iniciou, inclusive,

caminho de um mundo melhor passa

atendimento gratuito à população.

necessariamente pela contribuição

Diversos tremores têm abalado o

de cada um.

Planeta, alguns provocando grande

Boa Leitura

Instituto

mundo subterrâneo?

Liane Uechi

Neo Mondo

O transporte é outro tema de

Diretora de Redação

sofrimento e destruição, como o ocorrido na China. Nem mesmo o Brasil está imune a terremotos. Afinal, o que está acontecendo no

Um olhar consciente

Neo Mondo - Maio 2008

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Neo Mondo - Maio 2008

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Perfil

Histórias

Cruza

A trajetória de Paulo Nogueira Neto alinha-se para preservação da natureza Livi Carolina

“Chegamos a um momento da história em que devemos orientar nossos atos em todo o mundo com particular atenção às conseqüências que podem ter para o meio ambiente. Por ignorância ou indiferença, podemos causar danos imensos e irreparáveis ao meio ambiente da terra, do qual depende nossa vida e nosso bem-estar”.

Era permitido cortar mata natural para plantar eucalipto

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O trecho acima, embora represente bem o momento presente, é parte da Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano de 1972, quando alguns países já demonstravam a preocupação vigente quanto à necessidade de mudança de hábitos em favor do desenvolvimento sustentável – termo este que só foi aparecer anos depois. Essa inquietação da minoria foi resultado do rápido processo evolutivo industrial que o mundo começara a passar a partir da revolução industrial, período em que os aglomerados da classe baixa e a devastação da natureza cresciam em paralelo ao progresso socioeconômico. Em meio a este cenário, o Brasil passava pelos ciclos da cana-de-açúcar, do minério e do café, e, em defesa da economia, opunhase a tais preocupações. Contudo, foi pressio-

nado a assinar a Declaração de Estocolmo, mas continuava a devastar áreas inteiras de mata em favor da capitalização. No entanto, tendo-se comprometido internacionalmente, em 1973, foi instituída a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA. Neste momento surge em cena Paulo Nogueira Neto, o primeiro a assumir o cargo de Secretário do Meio Ambiente - função que ocupou por 12 anos -, cujo papel fundamental, durante a ditadura militar, foi a mudança de visão na questão ambiental no País. Trajetória Hoje, membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente, do Conselho da Fundação SOS Mata Atlântica, presidente da Fundação Florestal do Estado de São Paulo e presidente emérito da WWF-Brasil, entre outras funções, Nogueira Neto, que foi o protagonista da frente política ambiental, relembra as dificuldades que enfrentou para implantar políticas sustentáveis. Segundo ele, era difícil tratar de meio ambiente, exemplo é o fato de ninguém falar nacionalmente na época sobre Mata Atlântica. “Começou-se a falar somente após a Constituição Federal de 1988 que


zadas com o despertar Paulo Nogueira Neto

a estabeleceu como Patrimônio Nacional, antes a única preocupação era com o entorno de São Paulo, que mesmo assim, foi devastado para fabricação de carvão”. Ele acrescenta que a derrubada só não chegou à Serra da Cantareira, pois esta já era reserva florestal e à Serra do Mar devido à dificuldade de acesso. Era tamanha falta de visão futura, que “permitia-se cortar mata natural para plantar eucalipto”. Não bastasse tais dificuldades, ainda havia um novo entrave: “Trabalhávamos com apenas cinco funcionários, enquanto o extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, substituído pelo IBAMA, contava com 6.000 colaboradores. Além disso, o decreto criado pela SEMA não nos dava poder nem para multar. O que podíamos fazer era verificar onde estavam os problemas e orientar o governo como solucioná-los. Mas conseguimos alterar a legislação”. Até 1981, a legislação do meio ambiente era péssima, limitada e insuficiente. Considerava-se poluição todas as emissões de indústrias, que não estivessem de acordo com as leis e normas técnicas. Porém, como toda a atividade

produtiva causava certo impacto ao meio ambiente, eram toleradas as emissões que atendessem a determinados parâmetros. Com o advento da Lei 6.938/81, conhecida como Política Nacional do Meio Ambiente, não há mais emissão tolerada. A nova legislação baseia-se na idéia de que mesmo o resíduo poluente, tolerado pelos padrões estabelecidos, poderá causar um dano ambiental e, portanto, sujeitar o causador do dano ao pagamento de indenização – analisa Antonio José L.C. Monteiro, do escritório de advocacia Pinheiro Neto Advogados. Em seu mandato, Nogueira Neto também viabilizou a criação de Unidades de Conservação, que para ele, é a melhor maneira de preservar o que ainda resta das nossas florestas. “Envolver a população é

a melhor forma de mantê-la. Isso custa, mas perde-se mais se tudo continuar como está” – sugere. Ele acredita que o Brasil deveria fazer como os países da Europa, subsidiar as florestas, ou seja, pagar pelo cuidado com ela, porque se não tiver quem lhe dê valor vai acabar derrubada. Futuro Contudo ele é otimista, e crê que a preocupação com o meio ambiente está gerando atitudes favoráveis e reconhece os esforços do Ministério do Meio Ambiente. “Penso que ainda temos tempo de consertar o planeta, tem muita gente engajada nisso e a população uma hora vai acordar, pois não é cega. Acredito mesmo em um final feliz!” – encerra.

Destaque “A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos“ (Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano - 1972)

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Meio Ambiente

MATA ATLÂNTICA

o que restou do paraíso

É preciso cuidar do que restou de um dos maiores biomas do Planeta Livi Carolina

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R

espirar fundo e sentir o frescor suave do ar puro que vem da mata, se banhar e refrescar em seus rios e cachoeiras, se deliciar com seus frutos e se maravilhar com a beleza de seus habitantes são privilégios dos brasileiros. Regalias glorificadas pelos europeus que chegaram em 1500 a estas terras de muitas riquezas. Mistérios escondidos dentre a imensidão, até então, infinita de enormes árvores e vegetação fechada da mata banhada pelo Oceano Atlântico. Mas, de quê serve os mistérios, senão para desvendá-los? Riquezas, senão para possuí-las? Terras férteis, senão para aproveitar-se delas? Foi este o pensamento que motivou os desbravadores desta terra e os

acompanhou desde a extração do pau-brasil, da mineração, do plantio da cana-deaçúcar e do café, da expansão da pecuária e da agricultura até os dias atuais. Segundo o geógrafo, ambientalista e diretor de mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, os responsáveis pelos ciclos econômicos enxergavam a Mata Atlântica como algo a ser conquistado. E atitudes, que pareciam tão importantes para a prosperidade do homem, o levaram para o caminho da escassez. Hoje, de toda a imensurável área de Mata Atlântica que percorria o Brasil de Norte ao Sul no período da colonização, que ocupava 15% do território nacional, restam somente derradeiros 7%. Ou


seja, foi desmatado, queimado, explorado e urbanizado, sem manejo adequado, 93% da Mata, o que a caracteriza como o segundo bioma mais ameaçado de extinção do Planeta, atrás somente das florestas de Madagascar, no Sul da África. Mesmo assim, “até 30 anos atrás o governo brasileiro ainda tinha como improdutivas as áreas florestais, impulsionando, então, o desmatamento” - destaca Mantovani. Contudo, sua magnitude permanece! E mesmo sofrendo com a imprudência, ela ainda é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo, distribuída em faixas litorâneas, florestas de baixada, matas interioranas e campos de altitude. Além de ser detentora de sete das nove maiores bacias hidrográficas brasileiras, responsá-

Foi destruído

mais do que o necessário

veis pela distribuição de água potável para 3,4 mil municípios, em uma área onde vivem 62% da população brasileira, e para os mais variados setores da economia nacional como a agricultura, a pesca, a indústria, o turismo e a geração de energia. Por isso, não são poucas as intenções de proteção da área existente.

Lei da Mata Uma das tentativas de conter a devastação é a Lei da Mata Atlântica, sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, no final de 2006, que modernizou e valorizou o controle socioambiental da Mata. “Corrigimos aqui um erro histórico. Antes, contávamos com o Decreto 750 para regulamentar isso de uma forma muito embrionária e confusa, o que possibilitou o entendimento errado de que a Mata Atlântica seria apenas a franja ombrófila densa. Como resultado, tivemos a interpretação criminosa dos que continuavam desmatando como se as áreas não fossem Mata Atlântica (e, por-

tanto, estivessem liberadas para o desmate, principalmente nos estados da região Sul que se interessavam em explorar a araucária)” – explica Mantovani em depoimento ao boletim da SOS Mata Atlântica. Hoje, o intuito da legislação é preservar os 7% restantes da floresta, incentivando a criação de áreas de reserva e proteção ambiental. “Oitenta por cento do restante da Mata está nas mãos de proprietários, mas somente 20% são Unidades de Conservação. A situação é periclitante! Temos que restaurar e espalhar áreas não contínuas da floresta, por meio dessas ações” – alerta o ambientalista.

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PANORAMA DA MATA ATLÂNTICA Composição da Mata A Mata Atlântica apresenta um conjunto de ecossistemas interligados, formados por florestas Ombrófila Densa, Ombrófila Mista (mata de araucárias), Estacional Semidecidual e Estacional Decidual e os ecossistemas associados como manguezais, restingas, brejos interioranos, campos de altitude e ilhas costeiras e oceânicas. A relação entre os ecossistemas, caracterizada pelo trânsito de animais, o fluxo de genes da fauna e flora, forma as áreas chamadas de transição ecológica. Fauna A riqueza da fauna endêmica, peculiar da Mata Atlântica, é impressionante. Das 1711 espécies de vertebrados que vivem ali, 700 são endêmicas, sendo 55 espécies de mamíferos, 188 de aves, 60 de répteis, 90 de anfíbios, 133 de peixes, além daqueles que continuam sendo catalogadas, como a rã-de-Alacatrazes e a rã-cachoeira, os pássaros tapaculoferrerinho e bicudinho-do-brejo, os peixes Listrura boticário e o Moenkhausia bonita, e até um novo primata, o micoleão-da-cara-preta, entre outros. Mas se há abastança de um lado, do outro a realidade é triste. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Mata Atlântica abriga hoje 383 dos 633 animais ameaçados de extinção no Brasil. Água As águas da Mata Atlântica abastecem 70% da população dessa região, mas os rios estão assoreando. Para se ter uma idéia, hoje se gasta mais com

desassoreamento do que com saneamento. “Poderíamos fazer produções diferentes, usar melhor o poder do plantio da nossa terra, produziríamos muito mais” – ressalta Mantovani. Fertilidade da terra Segundo Mantovani, não há necessidade de abrir mais espaço na floresta para o crescimento da agricultura, é possível utilizar as áreas que já foram devastadas e estão inutilizadas. Pois, embora a vegetação original tenha sido degradada, a terra continua fértil. “Foi destruído mais do que o necessário. Atualmente temos 43% dessa área de terra que pode ser aproveitada pela agricultura”. A qualidade da terra é incontestável. Há países em que o eucalipto demora cerca de 50 anos para atingir um tamanho para corte, na Mata Atlântica, isso leva 5 anos. Uso sustentável Se tivéssemos respeitado os 20% de reserva legal das propriedades, onde não é permitido o corte de vegetação, de acordo com a Lei Federal 4.771/65, hoje teríamos 17% da Mata Atlântica. Os ambientalistas defendem que hoje é possível conciliar o desenvolvimento sem destruir nossos recursos. Dentre as alternativas estão o investimento no cultivo de plantas medicinais, de espécies utilizadas como matérias-primas para a produção de vestimentas, corantes, essências de perfumes, nos insumos para a indústria alimentícia, manejo sustentável de árvores por meio do corte seletivo para a produção de móveis certificados, no ecoturismo e no mercado de carbono.

Viva a Mata A Fundação SOS Mata Atlântica realiza a quarta edição do Viva a Mata – mostra de iniciativas e projetos em prol da Mata Atlântica, que acontece entre os dias 30 de maio e 1º de junho, das 10 às 18h, na Marquise do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Com apoio da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, o

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evento tem como objetivo comemorar o Dia Nacional da Mata Atlântica (27 de maio), promover a troca de informações e experiências entre os que lutam pela conservação deste Bioma, realimentar o movimento ambientalista e informar e conscientizar a sociedade. Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica


Meio Ambiente

Emissões

Eduardo Sanches

Reverter o desequilíbrio ambiental é o desafio da geração atual

N

as últimas décadas, a população mundial alterou seus hábitos em decorrência do grande avanço tecnológico. As pessoas passaram a ter um estilo de vida diferente, consumindo mais materiais sintéticos. Os produtos industrializados ganharam mais espaço no hábito de consumo das populações. O que não evoluiu na mesma proporção foi a educação e o respeito ao meio ambiente. Ao substituir um produto orgânico por um sintético, deveriam mudar também as etapas subseqüentes, principalmente na destinação de seus resíduos. Neste novo cenário percebe-se claramente que as ações decorrentes desses novos hábitos atuam sistematicamente sobre a biosfera do planeta, através da emissão de gases que promovem o aquecimento global (efeito estufa), mais especificamente o CO2 (gás carbônico). As crescentes emissões de poluentes atmosféricos são agravadas pelo desmatamento, que promove a diminuição das florestas e matas tornando-as insuficientes para absorver e purificar o ar. Esse desequilíbrio ambiental é o grande desafio para essa geração, buscando maior sustentabilidade a esse desenvolvimento tecnológico.

O crescimento da atividade industrial está condicionado à redução de suas emissões atmosféricas

Em São Paulo, de acordo com Inventario Estadual de Emissões CO2 de Fontes Fixas divulgado pela CETESB, em 23/04/08, a maior contribuição de CO2 para a atmosfera é proporcionada pelo transporte. A emissão dos veículos contribui com 59% das emissões totais. Esse número é alarmante, considerando que a quantidade de automóveis cresce a cada ano. Esse crescimento não é proporcional ao de outras fontes, como as indústrias. Outro fator comparativo importante refere-se ao processo de instalação de novas indústrias ou ampliações das já existentes. De acordo com a legislação ambiental específica, o crescimento da atividade industrial está condicionado à redução de suas emissões atmosféricas. Essa metodologia não se aplica aos carros, embora exista um avanço tecnológico para minimizar a emissão atmosférica de veículos novos, não há uma obrigatoriedade de redução proporcional ao aumento da frota nas ruas (algo parecido com o que ocorre com as indústrias).

Nesta época do ano, as queimadas ganham destaque como as grandes vilãs de todo esse processo, pois trata-se de uma contribuição significativa e que não propicia nenhum benefício à sociedade. Não existe nenhum desenvolvimento material ou intelectual associado a esse processo. Existem leis direcionadas a esse grande problema, mas as queimadas continuam ocorrendo, o que falta? Fiscalização? Conscientização? Controle? Acredito que cada um deve fazer a sua parte. Além de cobrar, devemos avaliar o cenário em que estamos inseridos para identificar qual a nossa parcela de contribuição para a redução das emissões de CO2. Eduardo Sanches Gerente de Meio Ambiente, Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo Petroquímico. Professor universitário de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA).

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Meio Ambiente

BOAS e viáveis

intenções

Acordos internacionais, a exemplo da Agenda 21, alertam para temas inadiáveis Gabriel Arcanjo Nogueira

N

o princípio Deus criou o céu, a terra, águas, plantas, animais; o homem e a mulher, para cuidarem da criação - e viu que tudo isso era bom. Milhares de anos depois, as pessoas criaram a Agenda 21, o Protocolo de Kyoto, a Declaração do Milênio. Foi como o despertar de um sono profundo. Há bons princípios de gestão ambiental que devem sair do papel para tornar a vida no planeta mais digna. A Agenda 21, surgida da Eco92, é um exemplo do que governos, empresas, organizações não-governamentais e cidadãos podem fazer pela preservação da natureza, entre outras providências, cuidando de temas para os quais se exigem soluções inadiáveis (ver Quadro 1 ) .

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Três temas da Agenda 21

Luta contra a pobreza

Luta contra a desertificação e a seca

Proteção dos oceanos e dos mares e dos recursos de água doce Quadro 1.

Ações de baixo para cima O geógrafo Wagner Ribeiro, docente do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade (Procam), considera relevante o papel desempenhado pela Agenda 21 por disseminar ações em níveis nacionais, regionais e locais. E cita como exemplo do acerto desse tratado o alcance da disseminação de iniciativas como a da cidade de Barueri, na Grande São Paulo, que criou a Agenda 21 Escolar, algo bem específico e de futuro promissor, dentro da Agenda 21 local. Este despertar da consciência faz com que se trabalhe de baixo para cima, com resultados bem visíveis, entre eles a recuperação de um córrego em área de aterro sanitário ou a coleta seletiva, que abrange 100% da cidade.


Quadro 2.

Compromissos e um alerta O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional de compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, tidos como os vilões do aquecimento global. E estabelece um calendário de metas, pelo qual os países desenvolvidos têm a obrigação de reduzir, entre 2008 e 2012, a emissão dos gases causadores do efeito estufa em, pelo menos, 5,2% em relação aos níveis de 1990. Meta a ser atingida mediante um conjunto de ações entre os países (ver Quadro 2), mas considerada insuficiente por alguns cientistas. Entre os críticos do Protocolo está Aziz Ab’Saber, docente do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo que alerta para outros tipos de poluição, que não apenas a emissão de CO2. Seu recado é claro: o Brasil precisa cuidar para que cesse todo tipo de desmatamento e se adotem medidas para conter a poluição marinha. No primeiro caso, o avanço das selvas de pedra fez com grandes centros urbanos, a exemplo da capital paulista, tivessem a temperatura média aumentada de 18,6 graus para 21,4 em 100 anos. Outro grande dilema apontado pelo especialista: “A poluição marinha é gravíssima e não está sendo combatida como deveria. Em 200 anos, poderemos ter no País venezas caóticas com a subida dos oceanos”.

Três ações do Protocolo de Kyoto

Rua senador Flaque, 73 Centro Santo André - SP CEP 09112 180

Promover o uso de fontes energéticas renováveis;

Limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos;

Proteger florestas e outros sumidouros de carbono.

países reunidos na Cúpula do Milênio, durante a Assembléia Geral das Nações Unidas. Mais que um recado, por ela se firma um compromisso em torno de alvos bem concretos. Destacados pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Anan, eles são: reduzir para a metade a porcentagem de pessoas que vivem na pobreza extrema; fornecer água potável e educação a todos; conter a propagação do HIV/Aids; e alcançar outros objetivos no domínio do desenvolvimento. Tudo com base em valores fundamentais, definidos como essenciais nas relações internacionais no século 21(ver Quadro 3).

Preocupação de 191 países Outro documento histórico, a Declaração do Milênio, é de 2000, e tem a chancela de 147 chefes de Estado de 191

Quadro 3.

EFS Advocacia

Três valores da Declaração do Milênio

A liberdade, garantida por governos de democracia participativa;

A tolerância, em respeito a toda diversidade de crenças, culturas e idiomas;

Respeito pela natureza, na defesa do bem-estar comum e das futuras gerações.

Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva ADVOGADO

Rua Senador Fláquer, 73 - Centro Santo André - SP - CEP 09010-160 Tel.: (11) Cel.: (11)9798-1341 Neo4436-4111 Mondo - Maio-2008 13 efsadv@aasp.org.br


Meio Ambiente

É possível mudar a

ATITUDE Projeto Uso Racional de Água do Semasa transforma o comportamento do usuário. Da redação

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inguém agüenta mais ouvir que a água do Planeta está acabando. Grande parte das pessoas já sabe que existe somente 2,5% de água doce no mundo e que destes somente 0,3% é destinada para consumo, higiene, indústria, agricultura... A questão é: ter essas informações é suficiente para mudar o hábito da população? Pode parecer, por exemplo, demasiadamente contraditório pedir à população brasileira, que vive no País que detém 12% da água do mundo, para ser breve nos banhos, usar a vassoura ao invés do esguicho d’água para lavar a calçada, fechar a torneira ao fazer a barba, entre outros, quando está rodeada de rios, lagos, nascentes... Neste caso, para que haja mudanças significativas, é necessário apresentar fatos que comprovem os dados. Medida que o Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André – Semana e a Secretaria de Educação e Formação Profissional têm adotado nas escolas municipais e nos Centros Educacionais de Santo André – CESAs, por meio do Projeto Uso Racional da Água. Implantado no Município de Santo André, região metropolitana de São Paulo, que tem metade do seu território situado em áreas de proteção de mananciais, rica em recursos hídricos, e que convive com a contradição de buscar água para abastecimento no Rio Piracicaba, interior do Estado, o programa revela que para efetuar mudanças de comportamento, a po14

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pulação precisa enxergar de que forma o desperdício e o uso irracional afetarão sua economia e futuro. “Uso Racional da Água” Mostrar para diretores, funcionários e educadores como as soluções simples podem gerar economia de gastos nas unidades escolares do município foi o primeiro passo para a implantação do projeto, que atingirá 90 unidades escolares da região. Inicialmente, foram escolhidas oito, por suas características diferenciadas, para se-

diar o programa . Elas receberam a visita de uma equipe de técnicos do Semasa que analisaram como os profissionais da limpeza, cozinha, ensino, alunos e usuários utilizavam a água. A partir do resultado, foi possível identificar problemas e traçar soluções, como a troca de hidrômetros, de torneiras e consertos de vazamentos. “Soluções simples que refletem diretamente na economia. Um hidrômetro descalibrado, por exemplo, pode gerar uma perda de 30% da água” – comenta Milton Luis Joseph, superintendente do Semasa.

Torneira com temporizador ajuda a reduzir o consumo de água.


Educadores visitam a ETA Guarará.

Vistoria técnica em ligação de água na escola. Alunos usam torneira com temporizador.

A partir da sala de aula

Com conhecimento, consciência, técnicas e resultados em mãos, cada escola passa a desenvolver seu próprio projeto de uso racional de água. Dentre outros exemplos, os alunos do Emeief Prof. Mariângela F. Aranda Fuzzeto trabalham com as contas de água, acompanhando o consumo e se informando sobre a importância da água no planeta; a Creche Prof. Antonio Oliveira estimula o uso do copo na hora de escovar os dentes; assim como a Emeief da Vila Sá, que também orienta as crianças a economizar

ao fazer a higiene bucal, medida que contribuiu para a redução de 70% do consumo de água (veja o gráfico), junto com o reparo feito em um vazamento identificado pelos técnicos do Semasa. “Escolhemos atingir com maior ênfase os professores porque são eles que levarão esta nova consciência para as escolas onde atuam. Eles multiplicarão isso em unidades de regiões diferentes, atingindo por sua vez outros alunos, que também serão multiplicadores na sociedade” – explica Joseph.

EMEI DA VILA SA - CONSUMO MENSAL 2000 1500

Para acompanhar os efeitos destas mudanças, as unidades passaram a receber as contas de saneamento antes encaminhadas somente para a Secretaria de Educação e Formação Profissional. “Com este controle, as escolas viram na prática como é possível ter atitudes conscientes, ficando mais fácil transmitir isso aos alunos e à comunidade” – destaca. A próxima etapa foi preparar os profissionais para trabalharem com o tema de forma eficaz com as crianças. “Levamos os alunos para conhecer o sistema de captação de água, visitar a Estação de Tratamento Guarará e ver a maquete gigante “Caminhando com as Águas”. Foi interessante a reação deles, uma das visitantes chegou a revelar que imaginava que a água da torneira era retirada direto do rio” – ressalta Hegli Serpa Kovacic, do desenvolvimento e acompanhamento de projetos educativos do Semasa ”uma das coordenadoras do projeto”. Além das visitas, os educadores também passaram por palestras de capacitação, nas quais foi discutido o conceito da Agenda 21, com a proposta de estabelecer uma reflexão sobre o agir global e local. O funcionamento de uma estação de tratamento de água também foi apresentada. Utilizouse ainda uma técnica chamada Oficina do Futuro, que leva o participante a refletir sobre o que é possível fazer para mudar a realidade que não está satisfatória, assim como, trabalhar para o “sonho” acontecer.

1000 500 0

jan/07

fev/07 mar/07 abr/07 mai/07 jun/07

CONTA 118322

jul/07

ago/07 set/07

out/07 nov/07 dez/07 jan/08

fev/08

LINHA DE TENDENCIA ( LOG.)

Reconhecimento Após quase dois anos de projeto, o Uso Racional da Água, além de atingir bem-sucedidos resultados, ganhou notoriedade nacional, sendo utilizado como exemplo para a implementação de programas em

outros estados brasileiros. “Acompanhando este projeto vimos as benfeitorias que ele pode trazer, por isso sinto orgulho de fazer parte dele” – enfatiza o superintendente Milton Luis Joseph.

... uma das visitantes chegou a revelar que imaginava que a água da torneira era retirada direto do rio... Neo Mondo - Maio 2008

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Meio Ambiente

Treme

BRASIL

Terremoto com epicentro em São Vicente, no litoral paulista, foi um dos cinco maiores já registrados no País Gabriel Arcanjo Nogueira

BOLETIM SISMICO BRASILEIRO (1767 a 2007, magnitudes > 3.0) -75°

-70°

-65°

-60°

-55°

-50°

-45°

-40°

-35°

5° metros 0°

2000 1000

-5°

0

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BOLETIM SISMICO BRASILEIRO (1767 a 2007, magnitudes > 3.0

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N

os últimos trinta dias, o mundo foi sacudido por diversos tremores de terra. O mais grave aconteceu na China, atingindo cerca de 10 milhões de pessoas. As estimativas são trágicas e apontam um número aproximado de 50 mil mortes. Ao contrário do que sempre se pensou, o Brasil não está imune aos terremotos. Uns dias antes, em 22 de abril, os brasileiros também tiveram seus lares sacudidos por estranhas sensações, embora sem grandes danos. Esses abalos sísmicos de magnitude intermediária foram detectados pelo sistema de rastreamento dos Estados Unidos. Com epicentro no litoral de São Vicente, em São Paulo, e magnitude de 5,2 graus na escala Richter, o terremoto paulista foi sentido em mais três Estados: Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Tudo não passou de seis segundos, mas foi o maior tremor de terra dos últimos 5 anos no País, de acordo com o Laboratório de Sismologia da Universidade de São Paulo, e o maior desde 1922, no Estado de São Paulo.


Mais susto do que danos  Uma das maiores autoridades brasileiras em Sismologia, Marcelo Sousa de Assumpção explica que o que ocorreu, a partir do litoral de SĂŁo Vicente, “nĂŁo foi um fenĂ´meno incomum, mas nada indica que o PaĂ­s estĂĄ com risco sĂ­smico maiorâ€?. Docente na Universidade de SĂŁo Paulo, o professor lembra de tremores semelhantes, como os de 1939, em Santa Catarina; de 1955, no EspĂ­rito Santo; de 1972, no Rio de Janeiro; e de 1990, no Rio Grande do Sul, para arrematar: “A terra tremeu, mas nada de excepcional. Como das vezes anteriores, houve mais sustos do que danosâ€?. NĂŁo por mera coincidĂŞncia, em locais dentro da mesma faixa litorânea de agora.    Na comparação de padrĂľes internacionais e nacionais para avaliar a magnitude do mais recente terremoto no PaĂ­s, Marcelo (professor titular da Universidade de SĂŁo Paulo - USP; graduado em FĂ­sica pela USP, doutorado em GeofĂ­sica pela Universidade de Edinburgo, EscĂłcia; especialista em GeociĂŞncias, com ĂŞnfase em Sismologia) esclarece que o de SĂŁo Vicente foi acima da mĂŠdia dos registrados aqui. “No Brasil ocorrem tremores com magnitude 5 uma vez a

cada cinco anos, em mĂŠdia.â€? Mas, em vista do que acontece pelo mundo, o terremoto paulista â€œfoi muito pequeno, pois ocorrem vĂĄrios por dia com essa magnitudeâ€?. Cristiano Naibert Chimpliganond, geĂłlogo do ObservatĂłrio SismolĂłgico da Universidade de BrasĂ­lia, considera que o terremoto aconteceu Ă s 21 horas, a aproximadamente 215 km da costa brasileira. E avalia: haveria motivo de preocupação se um tremor da mesma magnitude “tivesse seu epicentro muito prĂłximo de uma vila e possuĂ­sse foco a profundidade rasaâ€?. Caso em que provocaria â€œdanos nas construçþes de menor qualidade (casas de adobe, sem fundaçþes, fora dos padrĂľes normais de construção)â€?. Cristiano lembra o que ocorreu em 9 de dezembro de 2007, em CaraĂ­bas, norte de Minas Gerais. O tremor “de lĂĄÂ teve magnitude de 4,9 (ou seja, um pouco menor que o do litoral de SĂŁo Paulo), mas foi bastante raso (por volta de 3 km de profundidade), a ponto de causar a destruição de dezenas de casas de baixa qualidade e ter resultado, infelizmente, na primeira vĂ­tima fatal direta de terremotos no Brasil (uma menina de 6 anos de idade)â€?.

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PARA SABER COMO FICA: O Brasil encontra-se no interior de uma placa tectônica chamada Placa Sul-americana. Terremotos mais fortes ocorrem com maior freqßência nas bordas das placas. No entanto, tambÊm no interior delas hå registros de abalos (caso dos Estados Unidos, com magnitude atÊ 8). Quanto maior o terremoto, maior Ê o tempo de recorrência, que pode ser de centenas de anos, de acordo com o geólogo Cristiano.

...e ainda temos muito chĂŁo pela frente! VOLARE COM BR s 3!#

!V DO %STADO 6ILA #ALIF˜RNIA 3ĂĄO 0AULO Neo Mondo - Maio 2008 17 &ONE

Fotos para fins ilustrativos. Alguns itens sĂŁo opcionais.

Terremoto - movimentação da terra causada por forças geológicas internas à Terra; Maremoto e/ou Tsunami - onda causada por terremoto muito grande com epicentro no mar; Ciclones e Tufþes - fenômenos atmosfÊricos sem relação com tremores de terra.


Nem todo mundo sentiu

Marcelo Assumpção

SERVIÇO Para saber mais sobre Terremotos, Sismicidade do Brasil é o livro mais indicado, escrito em parceria por dois dos mais renomados especialistas no assunto, os professores Marcelo Sousa de Assumpção e Jesus Antônio Berrocal. A obra recebeu o Prêmio Jabuti de 1985 para livro científico. Edição da Câmara Brasileira do Livro.

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O fato de um tremor, que se origina no litoral, não ser sentido por algumas pessoas que estão mais próximas - Praia Grande, por exemplo - e chegar a incomodar outras que ficam na capital paulista, no ABC e até em outros Estados, também é para ser visto sem mais sobressaltos. Marcelo diz que provavelmente o abalo deve ter sido sentido em Praia Grande sim, mas nem sempre as pessoas relatam as informações. ”Também depende de como a pessoa estava na hora (sentada, movimentando-se) e do tipo de prédio”, conta o especialista. Alan Geminiano, comerciante no centro de São Vicente e morador próximo ao Terminal Rodoviário Tude Bastos, na Praia Grande, diz que em casa nada sentiu, mas que “o pessoal da orla ficou assustado”. Valéria Molina, residente na região central de São Bernardo do Campo, teve uma sensação estranha, “difícil de descrever”, ao notar que o sofá em que estava se mexia e o vaso da mesa perto da TV quase foi ao chão. Técnica em seguros, ela mora no primeiro andar de um prédio baixo. “Teve gente dos andares de cima que chegou a chamar o zelador, como o morador do quarto andar. Um dos quadros da parede da sala dele caiu. Alguns vizinhos chegaram a ir pra rua” lembra ela. Ao ver as manchetes do noticiário, mais tarde, é que Valéria se deu conta de haver passado por um terremoto. Em Santos e em São Paulo dezenas de moradores saíram às ruas por terem percebido algum tipo de movimento incomum nos cômodos dos seus apartamentos.


language Sprog langue Língua Sprache taal språk

Meio Ambiente

Márcio Thamos

Mãe A língua é um dos mais importantes fatores de coesão nacional

A

língua materna de um povo é um patrimônio imaterial de valor inestimável. A cultura geral de uma sociedade (tradições, costumes, religião, saberes, modos de fazer, formas de expressão, valores éticos, políticos, etc.) se transmite, se absorve e se transforma através da linguagem. A cultura é o elemento definidor do homem como ser no mundo, seja qual for o estágio de civilização que se considere, pois qualquer definição de cultura pressupõe a sociedade humana. Língua e sociedade estão assim, desde sempre, intrinsecamente ligadas. E não se trata de exagero quando se diz que uma língua tem o poder de moldar ou enformar a visão de mundo de seus falantes, conferindo identidade própria ao país onde é fluente. Hannah Arendt, conta que, depois da guerra hitlerista, quando voltou à Alemanha pela primeira vez (após um longo exílio motivado pela perseguição nazista aos judeus), sentiu um prazer indescritível ao ouvir sua língua materna falada naturalmente pelo povo nas ruas. A filósofa política, que sempre se recusou a perder sua própria língua, considera que “há uma diferença incrível entre a língua materna e qualquer outra língua”. E para ela, isso se resume de uma maneira simples, como explica: “sei de cor, em alemão, um bom número de poemas alemães, que de algum modo estão presentes no mais fundo de minha memória”. A língua falada num país é certamente o fator mais importante de coesão nacional. Desde a Antiguidade, as nações dominadoras tratavam de impor seu idioma como signo de supremacia cultural aos povos colonizados. E aos próprios romanos, Cícero, com certo pedantismo retórico, ensinava: non enim tam praeclarum est scire latine quam turpe nescire (“nem é tão notável sa-

ber latim, mas não sabê-lo é vergonhoso”). Ainda assim, arruinou-se a língua do Lácio. Já não se fala mais o latim de Roma – a língua materna dos antigos romanos – há pelo menos mil e quinhentos anos. Desfeita a relação visceral entre a cultura e sua expressão maior, os “latins” falados desde então, a despeito da justificativa histórica que se lhes deva reconhecer, não são, na verdade, mais do que uma língua do pê de gente letrada, um código erudito e puramente intelectual. Após a fragmentação lingüística do Império Romano, ninguém mais pôde lembrar de cor canções da infância arraigadas naturalmente na memória – canções de ninar, talvez, entoadas com doçura pela voz da própria mãe. Línguas também se perdem. E sem elas valores culturais e conhecimentos étnicos específicos tornam-se irrecuperáveis. Por isso a própria UNESCO mantém, desde 1993, o “Livro vermelho das línguas em perigo de extinção”, projeto que procura coletar informação atualizada sobre línguas que correm risco de desaparecer e promove pesquisas que possam colaborar com a manutenção e perpetuação da diver-

sidade lingüística no mundo, salvaguardando sempre a língua materna, em todos os níveis de educação. A garantia das condições socioambientais necessárias à produção, desenvolvimento e transmissão de bens culturais de natureza imaterial passa necessariamente pela preservação das línguas nacionais. Por isso, cada língua que se perde no mundo empobrece o patrimônio cultural comum construído ao longo dos séculos pela humanidade. Parece significativo que no mesmo mês em que se comemora o dia das mães, tenhamos também reservado no calendário um dia para celebrar a língua nacional. Que a nossa boa e jovem língua portuguesa possa nos embalar amorosamente através das gerações! Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Lingüística da FCL-UNESP/CAr. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

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Meio Ambiente

Cadê as

abelhas?

No mundo inteiro há casos de desaparecimento das abelhas e pra cada um, uma nova explicação. Livi Carolina

L

igadas a uma imagem tão meiga por proliferar flores e frutos, as abelhas estão sendo alvos da mídia do mundo inteiro que faz a seguinte pergunta: Aonde elas foram parar? França, Inglaterra, EUA, Canadá, Espanha, Suíça e até o Brasil estão sofrendo com o desaparecimento súbito e sem rastro das abelhas. Há notícias de que apicultores chegaram a perder cerca de 90% de toda a criação. E o espanto não é à toa! Albert Einstein, há mais de 60 anos, alertou: “Olhem as abelhas, se elas sumirem, a humanidade tem no máximo quatro anos de sobrevida, pois não haverá plantas e nem animais, a polinização é a grande responsável pela produção de alimentos”. Afinal o trabalho delas é, além de produzir mel, levar o pólen das anteras de uma flor, onde são produzidos os pólens, para o estigma de uma outra, ou da mesma flor, gerando novos frutos. No caso do Brasil, o fenômeno pode abalar até o desenvolvimento do biocom-

bustível, uma vez que uma das matériasprimas utilizadas é o girassol, que precisa de um grande potencial de abelhas para polinizar toda a área de plantação. Embora os dados sejam assustadores, para o pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Aroni Sattler, não há motivo para desespero. Segundo ele, já faz tempo que casos de desaparecimentos ocorrem, na Espanha o primeiro surto aconteceu em 2000. Assim como na França, Inglaterra, e outros, mas os episódios tiveram pouca repercussão. Somente em 2006, quando o mesmo aconteceu nos EUA, deu-se maior divulgação. “O trabalho das abelhas é prestar serviço à polinização e se não há abelhas, há comprometimento na economia. Nos EUA, o valor de 60 dólares pelo aluguel de colméias para a polinização de pomares saltou para 150 dólares, após a crise” – relata Sattler.

... embora os efeitos sejam parecidos,

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cada caso é um caso.

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Contudo, conforme afirma o especialista, pesquisas mostraram que nos EUA o provável causador do pavoroso fenômeno era um vírus, identificado pela primeira fez em Israel. Já na Espanha, os estudos atribuíram o episódio a um protozoário originário do Sudeste da Ásia. “Portanto, embora os efeitos sejam parecidos, cada caso é um caso” – destaca. Sumiço no Brasil Mesmo ocasionado por causas diferentes, quando a divulgação sobre o desaparecimento chegou ao Brasil logo relacionaram com o que estava acontecendo no resto no mundo, causando confusão para os apicultores que não sabiam que medidas deveriam tomar. “Especificamente no Sul, esse sumiço começou em 2000. E, diferente do que ocorria em outros países, não foi preciso alarme para descobrir os porquês. Identificamos que aqui o fenômeno era causado pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, má conservação e manutenção das colméias e a utilização de dessecantes com formicidas nas plantações próximas às colméias” – explica o pesquisador. Este produto, dessecante, é usado para limpar lavouras, como as de soja, para

controlar a lagarta e o percevejo, porém é muito tóxico para as abelhas, que por sua vez são extremamente sensíveis a produtos químicos. Outro fator atribuído ao desaparecimento é a mudança meteorológica. De acordo com Sattler, ano passado o inverno começou mais cedo eliminando as flores mais rapidamente, sem pólen as abelhas ficaram desnutridas e morreram. “Por isso é importante que o apicultor deixe uma boa reserva de mel para elas se alimentarem” - alerta. Em outro período, o calor foi excedente, fazendo com que elas abandonassem as colméias e longe das rainhas, elas não têm muito tempo de vida. Solução Muitas são as especulações, mas a dica do pesquisador para solucionar este problema é estar atento aos cuidados com o apiário. “Deixar uma reserva boa de mel durante o inverno e lembrar que, em determinadas épocas do ano, é normal este desaparecimento. Em 2006, aqui no Sul perdemos cerca de 40% das colméias, mas hoje já estão totalmente recuperadas. E isto foi um processo natural” – comenta Sattler.

Não é a primeira vez que isso ocorre Ao longo dos últimos vinte anos, em diversos países, pragas atacaram com freqüência provocando o desaparecimento das abelhas em todo o mundo. Por volta dos anos 50, a apicultura viveu um período de grande baixa, 80% das colméias foram dizimadas e

a produção apícola caiu drasticamente, por causa de doenças e pragas advindas da falta de cuidado com o saneamento das colméias. Em 1987, outro pico que atingiu o Brasil, Europa e EUA, dessa vez, o causador foi o ácaro Varoa.

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Saúde

BEBIDA é uma

DRO Bem aceito culturalmente, a bebida alcoólica causa dependência em 10% da população brasileira Liane Uechi

O

consumo excessivo de bebidas alcoólicas gera um dos mais graves problemas de saúde pública mundial: o alcoolismo. O Brasil não fica atrás nessa triste constatação. O Ministério da Saúde, através da Coordenadoria de Saúde Mental, Álcool e outras drogas, confirma que 75% dos brasileiros já consumiram álcool pelo menos uma vez na vida. Isso poderia parecer irrelevante, se não estivéssemos falando de uma droga, mesmo que lícita. Os demais tipos de drogas ilícitas ou não, nem chegam perto dessa estatística. De acordo com o assistente técnico, Francisco Cordeiro, do Ministério da Saúde, são dependentes do álcool cerca de 10% da população brasileira. “Não é um problema de fácil solução” – constatou ele. O consumo de álcool é considerado o responsável por diversas formas de doenças e acidentes com vítimas. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, Cordeiro afirma que metade dos acidentes de trânsito no Brasil têm alguma relação com o álcool. A bebida também é cúmplice de casos de violência doméstica, sexual e interpessoal, podendo atingir de forma devastadora, direta ou indiretamente, a sociedade.

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OGA “

Não é um problema de fácil solução

A explicação está no poder da substância em alterar padrões de comportamento, que afetam o relacionamento familiar, social e profissional. Apesar das conseqüências dramáticas do seu uso, o álcool está em evidência nas propagandas televisivas, em outdoor, e em toda a gama de veículos de comunicação. É aceita culturalmente e sem dúvida, aproveita-se de um falso status de não-droga. Ocorre que o problema vem aumentando anualmente, com o consumo cada vez mais precoce. Um estudo realizado, em 2005, em escolas, apontou que 54,3% dos adolescente de 12 a 17 anos já haviam experimentado bebida alcoólica e que 2% a consumiam diariamente. O governo, segundo Cordeiro, atua em duas frentes: o tratamento, através de uma rede de unidades de atendimento denominadas CAPS AD, que oferecem atendimento com profissionais multidisciplinares, dentre os quais médicos, assistentes sociais e oficineiros. Nesses núcleos, acontece também o trabalho para a assistência à família, que recebe orientações sobre como lidar com essa situação. A outra ação é voltada à informação e conscientização, por meio de campanhas publicitárias que pretendem mostrar o outro lado do consumo, exatamente aquele que as propagandas de bebidas não mostram e que podem destruir a vida de seus usuários.

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O que caracteriza a dependência

Desenvolvimento de tolerância (sendo necessário aumentar as doses ou quantidade da substância,

• •

Sinais e sintomas de abstinência (*); Desejo incontrolável em obter a substância;

Caminho do ácool

Dra Cintia de Azevedo Marques Perico

CONHECENDO O PROBLEMA A médica psiquiatra Cintia de Azevedo Marques Périco, professora de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC e responsável pela Clínica Psiquiátrica do Hospital Estadual Mário Covas, explicou que o dependente de álcool é considerado um portador de transtorno mental e que deve ser conscientizado das possibilidades de tratamento. Segundo ela, diversos fatores levam ao alcoolismo, sejam eles influenciados por questões genéticas, ambientais, sociais ou biológicas. “É importante ressaltar que uma grande porcentagem dos pacientes dependentes de álcool possui depressão e/ou ansiedade comórbidas” – disse ela. A médica relatou que o álcool é um depressor do sistema nervoso central, por isso inicialmente provoca uma certa euforia, felicidade, expansão, passando rapidamente para uma fase de labilidade emocional, com choro fácil, irritabilidade, fala pastosa, sonolência, andar cambaleante. O consumo de bebida alcoólica pode levar desde uma intoxicação leve até uma grave, com redução do nível de consciência e coma, por bloqueio central. “O uso continuado do álcool leva a um importante prejuízo cognitivo, com déficits de memória progressivos, podendo desenvolver demência alcoólica” – ressaltou.

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O uso contínuo desta substância pode provocar a cirrose, um “endurecimento” do fígado. Conseqüentemente, o sangue passa a ter dificuldade em atravessá-lo, refluindo pelas veias e desencadeando varizes no esôfago, que não têm cura e que sangram com facilidade, podendo levar à morte por hemorragia.

Mudança de comportamentos com a finalidade de fazer uso do produto;

Persistência no consumo, mesmo quando os prejuízos físicos, sociais e profissionais já se tornaram evidentes.

* Síndrome da abstinência Essa síndrome se dá com uma série de sintomas que se instalam ao interromper o consumo da droga. Dentre os principais sintomas, encontram-se a agitação, ansiedade, tremores nas extremidades, alteração do sono, do humor, do apetite, sudorese em surtos, aumento da freqüência cardíaca, do pulso e da temperatura.

Tratamento O tratamento começa pelo desejo do paciente em interromper o consumo. Motivá-lo com um trabalho de conscientização dos prejuízos pelo uso da substância, é sempre importante. Atualmente, há uma ampla opção de medicamentos que facilitam o trata-

mento. Faz-se uso de medicamentos com ação cerebral semelhante ao álcool, que são introduzidos e retirados gradativamente, para tratar a abstinência, bem como antidepressivos e outras, que atuam causando efeitos indesejáveis, caso haja ingestão de álcool.

Alcóolicos Anônimos - AA Já bastante difundido mundialmente, a irmandade Alcoólicos Anônimos auxilia na recuperação do alcoolismo. A base desse trabalho está em compartilhar experiências, que visa oferecer força e esperança na solução do problema. O anonimato é fator preponderante nessa terapia em grupo. “Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade”.

Os membros dividem suas experiências com qualquer um que procure ajuda com problemas de alcoolismo; eles dão depoimento cara a cara em reuniões ou apadrinhando o alcoólico recém-chegado. O programa é proposto em “Doze Passos”, que propõem uma maneira de desenvolver satisfatorriamente a vida sem o álcool. Fonte: http://www.alcoolicosanonimos.org.br/


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Especial

Vá pedala

A experiência santista de viária para garantir o uso de transporte. Liane Uechi

A

s facilidades de crédito e as condições para aquisição de veículos trouxe a baila uma situação previsível: o aumento desenfreado de quantidade de carros nas vias públicas. A frota tem crescido em todas as grandes cidades do país e já se tornou um gargalo para a eficiência das cidades. A infra-estrutura viária está saturada e a rotina de congestionamentos como os da cidade de São Paulo se repetem, mesmo que em menores escalas. A cidade de Santos também convive com um trânsito pesado e com uma malha viária acanhada, projetada no século passado. Porém, conta com uma alternativa diferenciada, o uso da bicicleta como meio de transporte. Um grande impulso para isso

O desafio é abrir espaços numa cidade pronta e com um sistema viário já acanhado, para o volume de trânsito atual

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Ademir Henrique - Secom

ando

criar uma estrutura o de bicicletas como meio

foi a implantação de 17,5 km de ciclovia, que corta boa parte do município. Claro, o clima agradável, a topografia plana e as distâncias curtas também são atrativos. O prefeito João Paulo Tavares Papa disse que a intenção é criar um sistema viário próprio para bicicletas, com capilaridade necessária para o deslocamento por todos os bairros. A Associação Brasileira de Ciclistas aprova a iniciativa e aponta números elevados em relação ao munícipio. Seu presidente, Jessé Teixeira Felix, afirma que cada família santista possui uma média de duas bicicletas. “Há mais de 400 mil ciclistas em Santos” – garantiu ele. Exagero ou não, o fato é que o santista aprovou a idéia e o trafego de bicicletas já se tornou uma característica desse município praiano. “A bicicleta nos garante o direito (constitucional) de ir e vir. Para se deslocar de um ponto a outro da cidade, mesmo numa distância curta, uma única a pessoa gastaria de ônibus cerca de R$ 5,00”. – explicou ele, que está à frente de um movimento denominado “Pedala Santos”, que já está sendo exportado para outras cidades. Felix disse que a Associação empenhase também em uma nova campanha para a direção preventiva de ciclistas, evitando acidentes muitas vezes trágicos.

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Vanessa Rodrigues - Secom

SAÍDAS POSSÍVEIS Na opinião do prefeito santista, há dois caminhos para a questão do trânsito: a ampliação e a melhoria da qualidade do transporte coletivo e a utilização de bicicletas como meio de transporte. Segundo ele, para estimular os ciclistas é necessário oferecer um espaço próprio e seguro para transitar sem precisar disputar as vias com os veículos. “O desa-

fio é abrir espaços, numa cidade pronta e com um sistema viário já acanhado, para o volume de trânsito atual” – disse. A experiência de Santos mostrou que, nesses casos, foi necessário a supressão de espaços já definidos: calçadas ou faixas de rolamento de transporte veicular.

CULTURA

GANHOS Pode-se destacar várias vantagens na adoção desse transporte: é econômico, barato, democrático, não polui e ainda combate o sedentarismo. Marcelo João Riechelmann utiliza sua bicicleta todos os dias no trajeto residência – trabalho, percorrendo em média 10 km. Esse exercício físico, segundo ele, lhe garante disposição para o dia de trabalho, além de permitir maior agilidade de locomoção. O ponto negativo, segundo ele, é quando o pneu fura em dia de chuva. “Aí é triste” – disse.

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Yury Zanata Ribeiro, morador do Guarujá, município vizinho à Santos, também utiliza a bicicleta diariamente para a locomoção até o trabalho e depois para a faculdade, percorrendo de 5 a 10 km. Economiza cerca de R$ 250,00 mensais e ainda ganha um tempo precioso. “Ficar à espera de ônibus é quase insuportável” – disse ele. Ribeiro também aproveita as pedaladas como fonte de atividade física diária e considera a ciclovia uma excelente iniciativa, pois permite segurança e um percurso mais agradável.

atracação de navio ao outro, na área portuária. Tanto, que a primeira ciclovia foi implantada na avenida de acesso ao Porto. No final da década de 90, a orla da praia também ganhou sua ciclovia, com objetivo turístico. Porém, após sua inauguração, comprovou-se o que muitos já defendiam, que ela seria utilizada pelos trabalhadores e estudantes. Ali há um volume intenso de tráfego, durante todo o dia. Isso serviu como reforço para que a Prefeitura iniciasse a expansão desse projeto de ciclovia, que ainda está em andamento.

Bene Pontes - Secom

A grande dificuldade da adoção dessa alternativa ainda é cultural. Ao contrário de países da Europa onde é aceita e utilizada com naturalidade por executivos, donas de casa e demais trabalhadores, no Brasil ainda está associada ao lazer e ao uso por operários. “No nosso país, o carro ainda está associado ao status de liberdade, de poder” – disse o prefeito. Em Santos, essa história sob duas rodas começou com a demanda do estivador, que há muito tempo a utiliza para o deslocamento interno de um ponto de

Bene Pontes - Secom

Tadeu Nascimento - Secom

O Prefeito João Paulo Tavares Papa


Especial

Exemplos da cidade de

Quioto

Q

uioto, ex-capital imperial do Japão foi fundada no ano de 794 para ser a Heiankyo, capital da paz e tranqüilidade, cercada de montanhas por todos os lados, e, o Rio Kamo a percorrendo de norte a sul. Dizem que o plano da cidade tem a forma de um dragão, cabeça ao norte, e o coração no local onde se localiza o Palácio Imperial. Tendo a presença da Corte Imperial e da nobreza, desenvolveu-se sob várias influências que se intensificaram com os samurais que estimularam o zen budismo e a cerimônia do chá. Sofreu vários terremotos, incêndios e guerras até que ao final do período Edo sua importância começa a declinar, e, em 1868 perde a condição de capital para a cidade de Tóquio. Contudo, até hoje, guarda a importância de ser centro da cultura japonesa: circundada por colinas, ao pé das quais se encontram jardins, parques, monumentos, templos, santuários budistas e xintoístas. O ano é marcado por festivais:matsuri - celebrações ligadas aos ciclos naturais.Por exemplo, a festa das cerejeiras no início da primavera; a floração da sakura (cerejeira) estimula a todos para se reunirem ao ar livre e comemorarem o recomeço da vida sob a chuva de pétalas das cerejeiras? Pelos parques e jardins circulam milhares de pessoas reunidas para a celebração do desabrochar das flores; o Rio Kamo circundado de cerejeiras de várias tonalidades constitui uma festa para os olhos e para os turistas que tiram fotos e fotos. Não por acaso a cidade foi escolhida como local para discussão e aprovação do Protocolo sobre as mudanças climáticas, reunindo representantes de vários países que apresentaram resoluções para proteção ao meio ambiente que posteriormente deveria ser implementado: reformar setores de energia e transporte, promover uso de fontes energéticas renováveis, eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da Convenção; limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; proteger florestas e outros sumidouros de carbono. O Protocolo Quioto é um instrumento para a implementação da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Cli-

máticas. As nações industrializadas que ratificaram o tratado devem reduzir, até 2012, as emissões de gases que agravam o efeito estufa, em 5,2% abaixo dos níveis registrados em 1990. Os países em desenvolvimento não têm metas obrigatórias para diminuição de suas emissões. Como sabemos, os governos dos países que mais poluem o meio ambiente não assinaram esse Protocolo; o Brasil é signatário do mesmo. Estamos perto de expirar a primeira etapa do Protocolo de Quioto, que estipula níveis de redução da emissão de gás carbônico para os países desenvolvidos até 2012, mas, o ritmo de cumprimento das metas causa preocupação em ambientalistas e em representantes de movimentos sociais. Contudo, aqui em Quioto, tais resoluções são levadas a sério e implementadas. Gostaria de destacar alguns fatos, como um primeiro exemplo do que me foi dado observar no dia-a dia da cidade. Cheguei em Quioto no dia 31 de marco deste ano, pouco mais de um mês.O primeiro fato que me impressionou e continua a impressionar diz respeito ao modo pelo qual as pessoas tratam o lixo. No primeiro dia em que cheguei ao apartamento, a mim destinado pela Universidade onde trabalho, fui apresentada ao responsável pelo prédio e à senhora presidente da Associação de Moradores; recebi uma espécie de regulamento do condomínio, com as explicações sobre o uso das áreas comuns, e, a forma pela qual se dá a coleta e separação do lixo: rigorosamente em quatro recipientes, ou seja, lixo não reciclável, depois papel / papelão / plástico; a seguir latas e vidros e depois as embalagens tipo Pet. São usadas diferentes cores nos invólucros para contenção dos resíduos, transparentes, para que o conteúdo seja visível. Sacos plásticos de cor preta são proibidos. Na área de serviço ficam os contêineres tampados onde os moradores devem colocar o que desejam se desfazer. Caso o morador queira se desfazer de móveis,equipamentos eletrônicos ou algum outro objeto deve telefonar para que a coleta seja realizada, havendo um custo para essa remoção. Existe, ainda, um local, nos arredores da cidade onde se pode ir e retirar objetos que lá são colocados.

Dilma de Melo Silva

Correspondente especial de Quioto – Japão

Por todo o lado da cidade a prática do lixo seletivo é a mesma: na universidade, metrô, pontos de ônibus, parques, ruas. Impossível errar, mesmo não entendendo nada sobre os caracteres em japonês, as cores e ícones falam por si mesmos. As ruas são limpíssimas, surpreendi-me um dia ao ver uma bituca de cigarro atirada numa calçada... confesso que pensei ...será que foi um estrangeiro? Teria sido um brasileiro? A educação ambiental é levada a sério pelas autoridades, pelo educadores, pela população como um todo. As frases: poupar energia, limpar o planeta, proteção ao meio ambiente, não desperdice água...estão por todo o lado, em várias línguas...em todas as embalagens. A prefeitura da cidade distribui material informativo sobre o tema, nas escolas, e nos meios de comunicação o assunto é sempre abordado. Lembramos ainda que neste ano de 2008, em julho, o Japão planeja organizar uma cúpula sobre a mudança climática, com presença de líderes de 25 países, durante a reunião presidencial do G-8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo, mais a Rússia). A reunião do G-8 será realizada na província de Hokkaido, no norte do país, e, o assunto referente às mudanças climáticas será abordado. Para mim ficou para sempre esta lição: reaproveitar o que seja possível, usar somente o que for necessário, reciclar todo e qualquer material que possa ter reaproveitamento. Penso que cada um de nos é responsável pelo que fazemos, pelo exemplo a ser dado aos jovens e as crianças; somos sim responsáveis pelos regulamentos que aprovamos e implementamos visando um mundo melhor para todos em nosso planeta, mesmo que os governos os deixem de lado. Quioto pode ser um desses exemplos. Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros. Neo Mondo - Maio 2008

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Comportamento

Dominado pela

Máquin A dependência de internet já ameaça ser um dos grandes problemas sociais da sociedade moderna Liane Uechi

O

surgimento da internet foi um divisor de águas para a humanidade. Através dela, o mundo foi interligado. Descortinou-se um universo de facilidades para as pesquisas, contatos, acesso às informações e agilidade de comunicação. A novidade extrapolou os meios empresariais e acadêmicos e invadiu, soberana, os lares brasileiros. Segundo pesquisa realizada pelo Ibope/NetRatings, o Brasil tinha, no início de 2007, cerca de 14 milhões de usuários ativos residenciais. Ao longo do ano passado, houve um acréscimo de 7,1 milhões de usuários ativos, o que nos torna uma comunidade de 21 milhões de internautas. Essa pesquisa, divulgada em março deste ano, indica ainda

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ina que o tempo médio de navegação do brasileiro passou, em um ano, de 3h17 para 22h24. O resultado coloca o Brasil como o país de maior tempo de navegação entre dez países pesquisados. Em segundo lugar estão os Estados Unidos, cujo tempo médio foi 19h52. Com esses dados, não é de se estranhar o aparecimento de um triste evento: a dependência de internet. Um mal que afeta o comportamento social e que já dá mostras da dimensão que o problema poderá causar à sociedade moderna. Jovens, adultos e idosos começam a ser dominados pela máquina. Não se trata de exagero, a queixa já começa a ser identificada nos consultórios médicos e clínicas

de psicologia. O Hospital das Clínicas, em São Paulo, através do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso – AMITI, iniciou um programa de psicoterapia, com acompanhamento psiquiátrico, oferecido gratuitamente à população para casos de dependência de internet. A princípio o atendimento se voltou para adultos. Este ano, abriu inscrições para o trabalho com adolescentes. A demanda surpreendeu os profissionais envolvidos, há inscrições até de pessoas que residem fora do estado. COMPORTAMENTO NOCIVO Conforme explicou a psicóloga Sylvia Van Enck Meira, que atua nesse grupo multidisciplinar do AMITI, em alguns caNeo Mondo - Maio 2008

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É preciso aprender a controlar a

máquina ao invés de ser controlado por ela

sos, o dependente altera completamente seu comportamento social, deixando de se relacionar com outras pessoas, abandonando os estudos, atividades esportivas, abalando o desenvolvimento profissional e até mesmo prejudicando hábitos de higiene e alimentação, em detrimento ao uso do computador. “Há adolescentes que trocam o dia pela noite, que precisam ser alimentados na frente do equipamento ou, simplesmente não comem” – disse. Em alguns blogs, na internet, que discutem o problema, há relatos que mostram casos de jovens que chegam a urinar nas calças para não sair da frente da máquina. Independente do grau de dependência, as queixas mostram-se crescentes. De acordo com a psicóloga, a dependência se caracteriza principalmente pelo tempo de permanência na rede e com a crescente necessidade de aumentar esse período. Nesses casos, a impossibilidade do uso torna a pessoa irritada e agressiva. Não raro, ela busca outras opções para estar conectada, como as lan houses, por exemplo. Ocorre que elas são pagas, e como qualquer outro

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vício, seu dependente acaba por buscar de qualquer forma recursos para seu acesso. Nesse estágio, nota-se também a labilidade de humor e o isolamento social, dentre outros. O QUE FAZEM NO COMPUTADOR A sedução é grande, pois são inúmeras as alternativas na internet. Jogos, chats (site de bate-papo), sites com todo tipo de conteúdo e para todos os gostos e interesses. Atualmente, uma das grandes manias dessa “comunidade virtual” é um jogo onde se cria um personagem, com características físicas e psicológicas, que passa a interagir em rede com outros personagens. “Normalmente, eles montam esse “ser” com características que gostariam de ter. A situação torna-se tão atrativa e envolvente que passam a viver nesse mundo de fantasia e esquecem de viver a vida real” – explicou a psicóloga. Para ela, isso reflete problemas de auto-aceitação, onde é mais fácil se refugiar no faz de conta. “Eles deixam de freqüentar grupos de amigos, realizar novas atividades e perdem a oportunidade de viver experiências reais” - explicou.

TRATAMENTO O tratamento, normalmente, é realizado por meio de terapia em grupo, onde em depoimentos, cada um expõe suas dificuldades, muitas vezes comuns a todos, e ainda as conseqüências desse mal. “Nesse processo, identificam-se os motivos que levam a essa fuga. Percebe-se o que a internet acrescentou e o que prejudicou na vida de cada um. A partir daí começa a busca pelo autocontrole nesse uso. É preciso aprender a controlar a máquina ao invés de ser controlado por ela” - concluiu.

Informações e inscrições para o atendimento na AMITI, do Hospital das Clínicas, devem ser obtidas através do telefone: (11) 30696975, com Nyara ou pelo e-mail: ajuda@dependenciadeinternet.com.br

O site é: www.dependenciadeinternet.com.br



Social

RESPEITO

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é bom,

e CRIANÇA gosta No ABC Paulista, o CRAMI cuida para que esse princípio se torne cada vez mais presente no cotidiano das pessoas Da Redação

“O

fato que mais me deixou triste até hoje foi a minha mãe me bater porque eu faço arte.” Este item encerra “A História da Minha Vida”, descrita numa tarefa escolar, por um aluno da segunda série do Ensino Básico de uma escola pública municipal no ABC Paulista. Exagero? Decerto que não. A questão de como disciplinar uma criança é um antigo assunto que sempre volta à tona diante de notícias de violência contra crianças, que parecem estar se tornando cada vez mais comuns na mídia. Também não é raro a “justificativa” de que se trata de um ato disciplinar. Todo pai e mãe têm o dever de orientar, estabelecer os limites, desenvolver os valores que nortearão a vida de seus filhos. Mas educação nunca será compatível com violência, crueldade ou covardia. Ela é um ato de amor.

“Não existe palmada light. De qualquer forma, bater é um desrespeito à criança. Se batermos em adulto, é agressão; em cachorro, crueldade. Em criança, é educação?”. Quem diz é a psicóloga Maria Amélia de Azevedo, do Lacri-USP. O Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD – Crami, com vinte anos de atuação e pioneiro nesse tipo de tratamento, acredita que a solução é tratar quem agride e dar acompanhamento

a quem é vítima de agressão e à sua família. “Viver sem violência - um direito que é meu, seu e de todas as crianças e adolescentes” – enuncia a Cartilha do Crami. Lígia Caravieri, coordenadora do Centro, é incisiva nesses dois aspectos e lembra que crianças e adolescentes sofrem maus-tratos todos os dias, cometidos por quem mais deveria cuidar deles: pais, mães, avós, tios. “Uma palmada já é traumatizante para uma criança. Embora ela facilmente esqueça a dor e volte a brincar, aquela cena ficará gravada ao ponto de, se um amiguinho na escola fizer algo que ela não queria, terá a mesma reação que os pais: bater. Pois aprendeu assim.” – disse a coordenadora. Em 2007, 216 famílias foram encaminhadas aos núcleos de atendimento do Crami de Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema, numa pequena mostra da dimensão real, normalmente oculta, e que pode atingir números assustadores. Dados do Unicef corroboram uma preocupante realidade: de 18 mil crianças espancadas diariamente no Brasil, apenas mil casos

aparecem nos registros. No total, o Crami atendeu 446 famílias, com quase 11 mil pessoas assistidas apenas em 2007. Segundo Lígia, em todos os casos já atendidos, até os mais graves, as agressões iniciaram com um tapa, com a intenção de ensinar o que não se pode fazer. “Acontece que os pais, depois de um dia estressante de trabalho, não têm paciência de dialogar com a criança. Se conversou uma ou duas vezes com ela, na terceira vez eles extravasam e partem para a agressão. Isso mostra que, a criança não precisa apanhar, mas o adulto precisa bater” – destaca a coordenadora. Faces da violência A violência contra crianças e adolescentes não se restringe a maus-tratos físicos. Dos casos atendidos pelo Crami, 57% se referem a violência psicológica, 17% são de ordem sexual, 13% física, e outros 13% caracterizam negligência e abandono. O que, por si só, serve de alerta: a sociedade brasileira tem muito a aprender - e apreender - ainda sobre os cuidados com as nossas crianças.

... criança não precisa apanhar, mas o adulto precisa bater.

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“O fato é que esse tipo de agressão é cultural e aceita. Os pais aprenderam que para educar é preciso bater, daí a atitude passa pelo inconsciente, tornado-se natural. Muitas vezes até a própria criança acredita que seja merecedora da agressão, pois essa cultura também já está embutida em sua mente” – destaca Lígia Caravieri. Parceiros do Crami Parceiros especiais do Crami são os Conselhos Tutelares da região – que lhe encaminham os casos -, mas há outros igualmente importantes (ver quadro). Juntos, esses organismos podem fazer muito para orientar, atender nos aspectos psicológico e jurídico, encaminhar para uma assistência social e até médica. Fundamental, porém, é que a sociedade participe por meio de ações concretas, algumas simples e outras nem tanto. Um bom começo é inteirar-se dos direitos da criança e do adolescente (o Estatuto da Criança e

do Adolescente está disponível na internet: www2.camara.gov.br/publicacoes/internet/ publicacoes/estatutocrianca.pdf), ficar atento ao menor sinal de que algo não vai bem na própria casa ou na de algum vizinho. E não se deixar levar pelo mínimo vacilo: “violência doméstica e exploração sexual ocorrem em todas as classes sociais, e não existe um perfil único da pessoa que a comete”, ensina a Cartilha da entidade. Para tanto, o Crami também tem se dedicado a prevenção desses casos, oferecendo palestras e seminários aos profissionais do ensino e da saúde, alertandoos sobre a importância de estar atento a alguns sinais de violência. “O médico ou enfermeiro podem observar se a criança é levada com certa freqüência ao hospital, sempre com hematomas, o que é um sinal de alerta. O mesmo serve para professores que devem observar e buscar soluções na ocorrência desses casos junto à família ou, em casos extremos, ao Conselho Tutelar

ou a Vara de Infância e Juventude de seu município” – ressalta Lígia. A impressão que fica é que evoluímos, em certos aspectos, a passos de tartaruga manca. O conceito de família, por exemplo, precisa ser mais bem-entendido porque muita coisa mudou. Existe hoje a figura do segundo marido da mãe, da terceira mulher do pai, dos filhos que cada um deles já trouxe de outras relações e dos novos irmãos desses relacionamentos. É o mundo moderno, bom ou mau, é uma realidade a se considerar. Mas como ficam os filhos dessas e nessas relações? Não é coerente avançar tanto, de um lado, e de outro continuar a adotar o que faziam, de pior, nossos avós ou bisavós. Ao primeiro sinal de traquinagem ou de alegado desrespeito - ou pior ainda: até mesmo sem pretexto, há crianças que sofrem violência na própria casa -, lá vêm o tapa, a chinelada, o fio de ferro, o beliscão, a queimadura, a surra... e outras tragédias muito piores, divulgadas diariamente na mídia.

(Artigo 5o. do Estatuto da Criança e do Adolescente) “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”

(Do Direito à Liberdade, Estatuto da Criança e do Adolescente) “Ir e vir, estar nos logradouros públicos e espaços comunitários;opinião e expressão; brincar, praticar esportes e divertir-se; participar da vida familiar e comunitária,sem discriminação”

(Do dever dos adultos, Estatuto da Criança e do Adolescente) “Velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor” .

Como notificar os casos de violência? Procure o Conselho Tutelar de seu município ou ligue para o Disque 100 – número nacional do Disque Denúncia.

É preciso se identificar? Não. Qualquer notificação de casos de violência é sigilosa.

O que acontece com os agressores e com as vítimas após a denúncia? Eles são encaminhados para os Centros de Atendimento, onde passarão por avaliação psicológica e tratamento adequado para cada um dos casos. No Crami, além de agressores e vítimas, os outros membros da família também passam por 36 Neo Mondo - Maio 2008 orientação profissional.


Social

Artaet Arantes da Costa Martins

Você sabe trabalhar

em EQUIPE?

Como conciliar e converter divergências em uma equipe.

S

empre que puder, delegue atividades. Não apenas as tarefas mais maçantes, mas aquelas que possam desenvolver algumas habilidades de seus subordinados. Quando bem dirigido, o funcionário poderá ser prestigiado, com liberdade e autonomia para solucionar alguns problemas. Observe, coordene, acima de tudo deixe que a pessoa faça sozinha! Veja perto o que empresa •Veja de de perto o que suasua empresa estáestá fafazendo, visitando todos os da setores zendo, visitando todos os setores emda Aempresa. intenção nãoquem é verifipresa. intençãoAnão é verificar está car quem está fazendo depor errado, fazendo algo de errado, masalgo estar denmasque estar por dentro do que acontece, tro do acontece, analisar como anda o analisar como anda oSeânimo dos uma funânimo dos funcionários. você tem cionários. Se vocêde tem uma telefonista telefonista na central informações, ligue na se central ligue como como fosse de uminformações, cliente e observe fosse um cliente observe como é o é o se atendimento. Saibae se seus funcionáse seus riosatendimento. espelham as Saiba diretrizes da funcionáempresa; rios espelham as diretrizes da empresa; • Cobre Cobre resultados resultados ee comemore comemore as as vitórias. Trace tórias. Tracemetas metasdesafiadoras, desafiadoras, mas possíveis de de serem possíveis seremcumpridas. cumpridas. Ao Ao alcançar o objetivo, divida cançar o objetivo, dividaososlouros louros com a sua equipe. Reconheça a sua equipe. Reconheçao oesforço esforçode de todosdos com umumagradecimento. com agradecimento.Sim! Sim! Diga “muito obrigado” “muito obrigado”a aseus seus funcionários; Valorizequem quem quer quer crescer. crescer. Ajude Ajude os • Valorize funcionários interesse terfuncionários queque têmtêm interesse emem termios estudos, aprender idionar minar os estudos, aprender outro outro idioma ou ou fazer cursos de aperfeiçoamenfazerma cursos de aperfeiçoamento. Se possíSe possível, traga o reconhecimento vel, to. traga o reconhecimento até o local de até o local de trabalho, por meio de litrabalho, por meio

vros e revistas atualizadas, palestras e cursos com assuntos relevantes; • Lembre-se do doaniversário aniversário do funseu do seu funcionário. Outras datas datascomo como Na-e cionário. Outras Natal tal Páscoa e Páscoa também são importantes também são importantes para paraque que ele saiba quesevocê se preoele saiba que você preocupa com cupao seu com o seu estado de espírito; estado de espírito; Administrarbem bemuma umaequipe equipeexige exige dois • Administrar elementos: força e carisma.AAforça força éé a elementos: força e carisma. autoridade formal, enquanto o carismaé autoridade formal, enquanto o carisma é autoridade conquistada. a credibiliautoridade conquistada. Se a Se credibilidade dade desaparecer, carisma se ela, irá com desaparecer, o carismao se irá com deiela,adeixando a força único insxando força como únicocomo instrumento de trumento de influência. Tome cuidado, influência. Tome cuidado, portanto, com o portanto, com dá o exemplo que vocêSeja dá exemplo que você na sua empresa. suainovador, empresa.que Sejaapóia um líder inovador, um na líder e orienta pesque apóia e as orienta soas, incentiva boas pessoas, atitudes incentiva e aponta assem boasmagoar atitudesou e aponta erros sem maerros humilhar ninguém. goar ou humilhar ninguém. Mas o que é realmente trabalho em equipe? Todos cumprirem sem contestar as decisões superiores? Todos terem exatamente a mesma opinião sobre um determinado assunto? Se alguma resposta a essas duas perguntas foi positiva, alguma coisa está errada com esta equipe. No mínimo o que pode ocorrer é um grande fracasso na sua implementação ou o projeto já é tão conhecido, para não dizer de “domínio publico”, que não deve acrescentar nenhuma vantagem competitiva para a empresa.

Portanto, opiniões divergentes e questionamentos entre níveis hierárquicos devem ser absolutamente saudáveis dentro de uma corporação aberta. Amizade e relacionamento pessoal também não devem ser confundidos com trabalho em equipe. Trabalho em equipe consiste na sinergia de duas palavras: sincronismo e velocidade. Diretores, gerentes ou funcionários são vetores, cada qual com uma determinada intensidade e sentido. O produto final de uma empresa ou de um departamento é a somatória de todos os seus vetores. A dificuldade do trabalho em equipe é que a força de cada vetor está enfraquecida pelo desgaste físico e emocional e o sentido destes vetores não está convergindo para o mesmo ponto. Mas como conciliar, tendo em vista as divergências naturais e saudáveis entre os vários componentes nos diversos níveis hierárquicos? Com o desenvolvimento do que chamamos de Consciência Corporativa, que consiste em promover a união de seus membros num nível transcendental, que está além do nível intelectual, formal ou cultural.

Currículo: Assessor da Qualidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Ouvidoria e engenheiro com mestrado em Qualidade e Pósgraduação em Gestão Ambiental. Neo Mondo - Maio 2008

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Dica

Sugestão de Livros Responsabilidade social – Das grandes corporações ao terceiro setor Ilana Goldstein Editora Ática A teoria e a prática da gestão social, assunto polêmico e ainda pouco estudado são desvendados nessa publicação. Partindo de um painel abrangente das mudanças históricas que contextualizam a importância do terceiro setor e da responsabilidade social no mundo, Ilana Goldstein avalia a realidade brasi-

leira, mostrando que, apesar dos avanços e do forte crescimento dessa área no país, ainda há muitas práticas que precisam ser aperfeiçoadas. Esse livro analisa o crescimento explosivo do terceiro setor e a preocupação das empresas em tomar atitudes socialmente responsáveis.

Cinema no Mundo – indústria, política e mercado Organizadora: Alessandra Meleiro Ed. Escrituras A fantasia do cinema, que mexe com a imaginação das pessoas, é a mesma que movimenta bilhões de dólares na economia global. Como todos os demais segmentos, a indústria cinematográfica também foi impulsionada pelo surgimento de novas tecnologias e pela globalização. Na coleção Cinema

no mundo: indústria, política e mercado essas particularidades e oportunidades são analisadas. A coleção está dividida em cinco livros, que abordam as transformações política, econômica e mercadológica da indústria cinematográfica na África, América Latina, Ásia, Estados Unidos e Europa.

Adam Smith em Pequim- origens e fundamentos do século XXI Giovanni Arrighi Ed. Boitempo O mundo se volta para a China: palco dos próximos Jogos Olímpicos, potência econômica mundial. Lançado quase simultaneamente no Brasil e em dezenas de países, Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI, do sociólogo italiano Giovanni Arrighi, se torna uma referência inescapável para todos os que

querem entender o fenômeno chinês. O autor rejeita análises simplistas e investiga as causas e as conseqüências do crescimento da China e mostra a preocupação do governo dos EUA e suas tentativas de conter a expansão chinesa, originada do crescimento econômico ocorrido nos anos 1990.

Sem dúvida A ção antrópica: Qualquer ação do homem que provoque modificações ou tenha conseqüências nos ambientes naturais (por exemplo, indústria, agricultura, mineração, transportes, construção, habitações, etc).

A gronegócio: Qualquer atividade de negócio relacionada com produção, preparo e comercialização de produtos agropecuários.

A ssentamento Agroextrativista: Resultado da luta dos seringueiros pela posse da terra. É uma modalidade de reconhecimento e regularização das suas posses coletivas, que pode ser feita pelo órgão fundiário estadual ou federal, na forma de um Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE).

A ssentamento Florestal: Forma de assentamento voltada para a produção sustentável. O modelo alia produção familiar, preservação ambiental e recuperação de áreas degradadas. Os assentamentos têm como

base o manejo da madeira e de ervas medicinais, frutas e animais, o plantio de subsistência e recuperação das matas.

A ssoreamento: Processo de elevação de um rio ou qualquer outro corpo d’água por deposição de sedimentos.

A tividade Tectônica: É o deslocamento que ocorre na superfície de um corpo celeste, no caso a Terra, devido ao movimento do material que está debaixo da superfície, ou crosta.

C orredores Ecológicos: Formados por uma rede de parques, reservas e áreas privadas, na qual um planejamento integrado de ações de conservação pode garantir a sobrevivência do maior número de espécies e o equilíbrio dos ecossistemas. Ele pode se estender por centenas de quilômetros e atravessar fronteiras estaduais nacionais para incluir áreas protegidas, habitats naturais remanescestes e suas comunidades ecológicas.

C orte seletivo: Forma de exploração vegetal onde apenas algumas árvores são derrubadas e retiradas. A floresta, com isso, mantém uma densidade maior.

M anejo: Conjunto de técnicas empregadas para produzir um bem (madeira, frutos e outros) ou serviço (como a água, por exemplo) a partir de uma floresta, com o mínimo de impacto ambiental possível, garantindo a sua manutenção e conservação a longo prazo.

Mata ciliar: É a vegetação que cresce junto às margens de um rio e ao longo delas.

M atriz energética: Instrumento gráfico que mostra a participação relativa das diversas fontes energéticas de um país (por exemplo, quanto da energia consumida vem de usinas hidrelétricas, quanto vem de queima de combustíveis, etc). Neo Mondo - Maio 2008

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RINO

Semana ECO Plaza

Meio Ambiente: nós sustentamos esse compromisso. Na semana ECO Plaza venha entender melhor a importância de um mundo sustentável e como a economia e reúso de água, a reciclagem e coleta seletiva de lixo e o consumo responsável de energia podem ajudar o nosso mundo a viver mais e melhor. *Sessões a cada 30 minutos até às 17h30.

Atividades monitoradas para o público e para as escolas. Informações e agendamento : (11) 4437-5000.

De 4 a 15 de junho, das 10 às 18 horas*

A V .

I N D U S T R I A L , 6 0 0 - S A N T O W W W . A B C P L A Z A . C O M . B R

A N D R Neo É Mondo - Maio 2008

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