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Especial - Gente do Bem

Dar esmola é finan

a miséria Campanhas conscientizam a população que quanto mais esmolas, mais crianças nas ruas. Da Redação

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echa o farol. Constrangido pela visível necessidade da criança que pede alguns trocados, é quase impossível não se sentir impotente diante desta triste realidade. As moedas estão no bolso, mas será esta a melhor maneira de ajudar? O que fazer? Não ceder pode significar que aquela criança não terá o que comer, mas doar pode contribuir para que ela continue nas ruas, possivelmente sendo explorada por algum adulto. Oferecer esmolas está na cultura do povo brasileiro por ser considerado um gesto solidário, pois enxerga-se nisso uma forma de sentir-se bem em ‘ajudar’ ao próximo. No entanto, de acordo com o consultor do Terceiro Setor, Takashi Yamauchi, esta prática assistencialista, em suprir a necessidade do momento, pode ser perigosa. “Você pode estar alimentando a criminalidade. Por exemplo, ao ter a atitude de dar um tênis a uma criança, sem fazer com que ela dê valor a isso, está implantando em seu inconsciente que ela não é capaz de comprá-lo com seus esforços. Então, quando lhe for oferecido dinheiro para ser ‘avião’ do tráfico, ela não irá pensar duas vezes para aceitar, e provar que é capaz” – destaca o consultor.

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Neo Mondo - Maio 2009

Para ele a assistência é válida, só não pode ser uma atitude isolada, mas complemento de um programa com base no desenvolvimento social em que a educação, a consciência cidadã e o fortalecimento da família sejam os principais pilares. Além disso, convencer uma criança a sair da rua, de onde ela tira seu sustento, para levá-la a um abrigo onde há regras de convivência, é um trabalho árduo, portanto é preciso ter um suporte para oferecer. Uma vez que, se na liberdade da rua ela consegue o que quer e, muitas vezes, está livre da violência doméstica, por que aceitar ir pra outro lugar? Conscientização da sociedade Cientes do risco social a que estas crianças estão submetidas e frente à problemática de convencimento, prefeituras de grandes cidades estão se organizando para combater a prática de financiar a miséria, conscientizando a população de que quem dá esmola tira a oportunidade de futuro. Marlene Bueno Zola, presidente da Fundação Criança de São Bernardo do Campo, autarquia que em 1998 substituiu a antiga FUBEM (Fundação do Bem-Estar do Menor), diz que a

sociedade em geral quer ajudar, mas por não saber como, cede aos pedidos e fixa ainda mais a criança nessa situação de risco. “Enquanto a sociedade agir assim, a rua continuará sendo violenta” – enfatiza a diretora. Para, então, conscientizar e oferecer uma nova opção para a população que deseja auxiliar os jovens pedintes, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (SEDESC), junto com a Fundação Criança, lançou em 2006 a campanha permanente “Quem dá esmola não dá futuro. Criança precisa brincar e estudar e não trabalhar”, uma extensão do trabalho que está em andamento para a erradicação e prevenção do trabalho infantil. Foram distribuídos pela cidade outdoors e panfletos com informações e dicas para não incentivar o trabalho infantil, em destaque àquele que prende a criança na situação de rua, como vendedores nos faróis e carregadores em feiras livres. Segundo Marlene, na maioria das vezes as crianças saem de casa para ‘trabalhar’ e, por passarem muito tempo na rua, perdem gradativamente o vínculo familiar, sobretudo se houver um histórico de violência doméstica.


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