Obras literarias fuvest unicamp 2014

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"A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta e pedra, e lodo, e coisa nenhuma.” A causa da morte fora uma pneumonia, mas Brás Cubas diz dever-se mais a uma grandiosa ideia que tivera e que vai apresentar em seguida. Capítulo II - O emplasto Brás Cubas revela, que, um dia, uma idéia pendurou-se no trapézio que ele tinha no cérebro e provocou-o: "Decifra-me ou devoro-te". Essa ideia era a criação de um emplasto anti-hipocondríaco, "destinado a aliviar nossa melancólica humanidade". Para o governo, afirmara que esse resultado era verdadeiramente cristão; aos amigos, falara das vantagens pecuniárias que o emplasto traria, mas, já que havia morrido, podia confessar a verdade: o que o movera fora a vaidade, queria alcançar fama e glória. "Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: — amor da Glória." Aspectos Modernos  Enredo rarefeito;  Quebra da linearidade;  Narrativa Fantástica;  Metalinguagem;  Leitor incluso; (é personagem na obra Machadiana)  Estrutura de obra aberta; (várias leituras e interpretações)  Valorização do espaço branco do papel. Capítulo III – Genealogia Evocando seu passado remoto, Brás Cubas fala das origens de sua família. O fundador havia sido um certo Damião Cubas, nascido no Rio de Janeiro na primeira metade do século XVIII, tanoeiro de profissão, que, ao tornar-se lavrador, enriquecera; ao morrer, deixara grande herança ao filho, Luís Cubas. A família só se referia aos antepassados até esse avô, que estudara em Coimbra e tivera prestígio social, omitindo Damião que, afinal, havia sido simples tanoeiro. O pai de Brás Cubas, de início, para esconder sua origem, inventara que a família provinha da mesma de que nascera o capitão-mor fundador da Vila de São Vicente, e para reforçar a falsificação dera ao filho o nome de Brás. A família do capitão-mor Brás Cubas se opusera a essa inverdade, por isso o pai do narrador forjou outra mentira: a família descendia de um cavaleiro premiado com o sobrenome Cubas por ter, heroicamente, subtraído trezentas cubas aos mouros, durante as batalhas da África. Observa Brás Cubas que seu pai, homem digno e de bom caráter, tinha esses fumos de vaidade. Capítulo IV - A ideia fixa Brás Cubas confessa que a ideia do emplasto tornara-se uma obsessão. Não lhe ocorre nada que seja tão fixo; talvez a lua ou as pirâmides. Sugere, então, ao leitor que escolha a comparação que mais o agrade e não torça o nariz, embora reconheça que o leitor deve estar impaciente porque a narrativa propriamente dita ainda não teve início, mas afirma que chegará a ela, justificando: "Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem. Pois lá iremos. Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de um homem já desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem regela, e é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado.” Capítulo V - Em que aparece a orelha de uma senhora


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