




Teresa Antunes
Nesta edição tivémos o prazer de entrevistar Lino Dias, que nos falou um pouco dos seus tempos no Técnico e sobre a sua vida profissional, nomeadamente o projeto reconhecido pelas Nações Unidas que desenvolveu: Better Life Farming.
Tal como costumamos fazer em todas as entrevistas, queríamos pedir que se apresentasse aos nossos leitores.
Sou um alentejano, de Portalegre, que foi registado há 53 anos com o nome do padrinho, Lino, tal como era tradição. Sou um feliz e babado pai de família, com quatro filhas maravilhosas que me ajudam muito a ter perspectivas rejuvenescidas do mundo de hoje. Sou licenciado (pré-Bolonha) e doutorado em Engenharia Química pelo Técnico. Vivo na Alemanha e trabalho na Bayer desde 2001, onde comecei como investigador científico e me desenvolvi profissionalmente nas áreas de gestão e de liderança. Tenho muitas atividades de tempos livres, quer culturais, quer desportivas, quer familiares, pelo que acabo por ter pouquíssimo tempo livre.
"Na minha primeira posição na Bayer, no Departamento de Tecnologia de Processamento de Fluidos (2001)"
Olhando para os seus tempos de estudante no Técnico, quais foram os seus momentos mais memoráveis? Recorda-se de algum acontecimento que o tenha marcado especialmente?
Eu vivi intensamente o Técnico, tanto científica como culturalmente. Fui membro dirigente de várias associações (incluindo a AEIST ou a AEGIST) e participei em inúmeras iniciativas culturais (fotografia, o primeiro concurso de tunas do Técnico, etc.) e académicas (Conselho Pedagógico, Conselho de Departamento, etc.). Organizei também conferências, exposições, colaborações com empresas e embaixadas, entre outras. O momento mais memorável foi, no entanto, quando o meu olhar se encontrou para sempre com o de uma colega, hoje minha mulher, na biblioteca do pavilhão central...
"Numa reunião, como gestor de projecto (2005)"
Sabemos que atingiu o feito extraordinário de ser fluente em 6 línguas diferentes. Como conseguiu conciliar a sua participação em várias atividades extracurriculares no Técnico com a aprendizagem das línguas estrangeiras?
Curiosamente, nunca fui um aluno brilhante nas línguas, que sempre preteri às ciências. Hoje, adoro ler livros e ver filmes nas versões originais das línguas que conheço. O Espa-
nhol aprendi naturalmente, enquanto criança, pois em casa dos meus avós, onde vivi durante os dois primeiros anos de escolaridade, conseguia ver os desenhos animados na televisão espanhola, porque já era a cores. Estamos a falar ainda dos anos 70... As outras línguas foram vindo: o Inglês, na escola e nos estudos; o Francês e o Italiano foram motivados por grandes amizades que fiz nesses países (além disso, a minha mulher doutorou-se em França e visitava-a sempre que podia...), e pelo cinema francês e italiano, de que gosto muito. Ou, ainda, pela ópera, que me fascina. Tudo ajuda... O Alemão só aprendi quando vim para a Alemanha, há 24 anos. Foi difícil. Precisei de dois anos para poder começar a comunicar em Alemão. Adoraria aprender mais línguas. Fico feliz quando posso ajudar alguém, nem que seja por simplesmente poder comunicar.
Durante o seu doutoramento fez um estágio na Universidade do Tennessee. O que o fez escolher este lugar para estagiar?
O Tennessee foi uma casualidade de percurso. Doutorei-me com o Prof. Jorge Calado e com o Prof. Eduardo Filipe e realizei trabalho experimental no Centro de Química Estrutural. O Prof. Eduardo Filipe tinha uma colaboração com um grupo de teoria termodinâmica do Imperial College, de Londres, cujos modelos queríamos testar usando os meus resultados experimentais. Nessa altura, uma investigadora desse grupo obteve uma posição na Universidade do Tennessee, em Knoxville, e foi mais simples fazer a modelação teórica estando em Knoxville. Foi também uma experiência muito interessante conhecer uma “américa profunda”, que me ajuda a compreender melhor os desenvolvimentos atuais.
Sabemos também que foi o criador do modelo Better Life Farming. Qual foi a sua inspiração para o desenvolvimento deste projeto? O facto de ter nascido e crescido em Portalegre teve alguma influência?
Portalegre teve uma influência enorme em tudo o que sou, pois foi ali que aprendi como são importantes as relações e a entreajuda entre as pessoas e o que significa a humildade. Tive a felicidade de viver junto dos meus quatro avós até aos catorze anos de idade.
Todos com origens humildes mas com uma riqueza de valores e um brio no trabalho que me marcaram muito. Foi também em Portalegre que vários professores excelentes despertaram em mim a curiosidade científica e a vontade de aprender. Estou-lhes eternamente grato - se todos nos lembrássemos do quão importantes são os professores na educação dos nossos filhos, talvez se lhes desse o devido valor. Permitiram-me viajar até aos confins do universo ou mergulhar no interior das moléculas e dos átomos. Mostraram-me como precisamos tanto da Ciência se quisermos tentar perceber alguma coisa do que nos rodeia. Desde essa altura tenho em mim a convicção de que há muitos obstáculos que poderão deixar de ser inultrapassáveis... se quisermos. O modelo Better Life Farming surgiu de uma entrega minha e da minha equipa a tentar resolver um desses obstáculos: Como desenvolver um modelo de negócio rentável e sustentável em geografias de pequenos produtores agrícolas. Conseguimos.
"Com os colegas da Bayer, Frederik Nyambare e Diana Gitonga, a avaliar um campo de tomate de um pequeno agricultor em Meru, no Quénia (2017)"
Também gostávamos de perguntar como foi o processo de desenvolvimento do projeto e quais os principais obstáculos na implementação deste modelo de negócio sustentável.
O mais importante foi termos estado sempre conscientes de que, apesar de trabalharmos numa das empresas líderes mundiais na agricultura, não conhecíamos na verdade os verdadeiros problemas dos pequenos produtores, para além do que estava ligado ao uso dos nossos produtos. Sabíamos, no entanto, que não seria fácil encontrar uma solução.
Existem cerca de 550 milhões de pequenos produtores globalmente, que trabalham em menos de 10 hectares, dispersos em geografias de difícil acesso e parcas infraestruturas. Iniciámos projetos-piloto no Quénia, na Índia e nas Filipinas, onde trabalhámos com um grupo pequeno de produtores (20 em cada geografia) para podermos perceber quais eram os seus verdadeiros problemas no dia-a-dia. Verificámos que a falta de conhecimento e informação, tal como a falta de acesso a soluções e a produtos, são dificuldades generalizadas que impedem uma produtividade maior e, por consequência, o acesso a uma vida melhor para essas comunidades. Havia, então, que desenvolver um sistema que trouxesse tudo isso aos produtores, que fosse economicamente viável e sustentável e que pudesse expandirse a muitas geografias.
A ideia foi identificar e apoiar uma pessoa empreendedora por comunidade –tipicamente um produtor com o desejo de se desenvolver - para abrir um pequeno centro, a que chamamos Better Life Farming (BLF) Center. Outro pilar foi a criação de parcerias com entidades públicas e empresas diversas para trazerem esses produtos e conhecimentos aos produtores servidos pelo BLF Center. Isso permitiu dar formação de como utilizar produtos de tecnologia mais avançada, como usar ferramentas digitais de apoio, quando semear ou tratar as culturas, como efetuar a irrigação, mas também como aceder a crédito ou a mercados para escoamento das colheitas. O modelo Better Life Farming (BLF) cria assim uma opção rentável de negócio para as pessoas que abrem um centro BLF em que elas próprias asseguram as conexões com os mercados e o fluir de informação e produtos para as centenas de pequenos produtores na sua proximidade. Isso permite-lhes um acesso
contínuo às soluções de que necessitam.
Hoje são já mais de 3000 centros em oito países (com igual número de novos postos de trabalho), servindo mais de um milhão de pequenos produtores. Estudos independentes publicados no ano passado vieram comprovar o impacto económico e social positivos do programa BLF, o que nos encheu de enorme satisfação.
"Lançamento oficial de Better Life Farming em Washington DC, EUA, em abril de 2018, com o Prof. Robert S. Kaplan, da Harvard Business School, e com os pequenos produtores Ruth Kajuju (Quénia) e Henry Cambangay (Filipinas)"
Inicialmente esteve mais envolvido com investigação e inovação. O que mais o fascinou nessa área e o que o motivou a migrar para a gestão?
Apesar de continuar a sentir-me ligado à ciência e à inovação, apercebi-me de que conseguia ter uma realização pessoal muito maior se sentisse um impacto directo do meu trabalho. Continuo a ser um apaixonado pelos desafios em encontrar soluções e por continuar a aprender. A passagem para outras áreas dentro da empresa permitiu-
me enfrentar sempre desafios novos e desenvolver conhecimentos muito diversos (como o supply chain, a informática, o marketing, a estratégia ou a administração).
Essa diversidade ajuda-me a encontrar soluções multidisciplinares mais facilmente.
"Cerimónia de boas-vindas em Barinagar, Jashore, Bangladesh, com Aleya Khatun e filha, em frente do seu novo Centro BLF (2023)"
Qual era o sonho do pequeno Lino Dias? E o que acha que ele diria se visse agora quem é?
O meu interesse pela Ciência vem desde pequeno. Lembro-me que misturava tudo o que eram produtos de limpeza ou de cozinha para ver o que acontecia... Ou de fazer o disjuntor do quadro elétrico disparar por algum curto-circuito de instalações elétricas que fazia em casa quando estava sozinho (que inconsciência... espero que este artigo não venha a ser lido por crianças...). Vir um dia a ser um cientista foi algo mais ou menos óbvio desde cedo. Acho, no entanto, que o pequeno Lino não iria perceber porque é que não passo agora os meus dias no laboratório
a fazer experiências cheias de cores e com muitos fumos...
Se voltasse atrás no tempo, faria alguma coisa de diferente? Se sim, o quê?
Sou uma pessoa muito feliz e realizada e considero ter tido muita sorte na vida. Além disso, sempre tive uma atitude muito pragmática em relação às decisões que tomo. Se me apercebo que tomei uma decisão errada, uso esse conhecimento para me ajudar a tomar melhores decisões no futuro. Nunca olho com amargura para o passado, pois sei que tomei a decisão em consciência e com a melhor informação que tinha disponível. Isso dá-me muita tranquilidade na vida. Tenho pena, no entanto, de não ter dedicado mais tempo para aprender música e de não saber tocar nenhum instrumento musical.
"Com Wendy Yaneth Carranza e o seu filho, em frente do recém-aberto Centro BLF em Tegucigalpita, Victoria Yoro nas Honduras (2023)"
Ao longo da sua carreira, teve a oportunidade de viajar e trabalhar com pessoas de diferentes culturas e realidades. Existe algum encontro ou experiência que tenha levado consigo?
Nós somos quem somos graças a todas as pessoas que conhecemos e com quem interagimos. Levamos todas essas experiências conosco, mesmo quando não damos por isso. Uma experiência que me marcou muito aconteceu nos meus tenros anos na empresa. Estávamos numa sessão de team building que visava integrar duas equipas internacionais, com base em países diferentes, numa só equipa. Formaram-se quatro grupos para encontrarem o mais rapidamente possível a solução para um problema. No grupo em que estava éramos cinco rapazes jovens, dinâmicos e com vontade de vencer o desafio. No grupo estava também uma colega mais velha, que tinha dificuldade em falar inglês. O tempo era pouco e o grupo tinha de ser rápido. Após a explicação do desafio, todos tivemos oportunidade de dar a nossa opinião sobre como deveríamos enfrentar o problema. A colega tinha uma opinião muito diferente da nossa e rapidamente começamos a implementar a solução com que todos os restantes tínhamos concordado, ignorando-a. Ela permaneceu sentada a um canto, enquanto todos nós, energicamente, tentávamos resolver o desafio no espaço e no tempo disponíveis. Terminou a prova e não conseguimos encontrar a solução a tempo. Fomos o único grupo a falhar. A solução encontrada por todos os outros grupos era exatamente aquela que a nossa colega defendia.
Depois de tantos anos de experiência, o que ainda o motiva a acordar todos os dias e continuar a fazer o que faz?
A experiência que acumulei ao longo destes anos permite-me fazer muito mais hoje do que podia fazer quando iniciei a minha vida profissional. Não seria, por isso, um desperdício se não acordasse motivado? A verdade é que estou continuamente à procura de desafios. Move-me a vontade de partilhar a minha experiência, tanto profissional como socialmente, e de poder contribuir para uma vida melhor.
Por fim, gostaríamos de perguntar: qual o legado pessoal e profissional que deseja deixar para a indústria e para a sociedade?
A única coisa que todos nós podemos verdadeiramente deixar neste mundo é uma geração seguinte mais forte do que a nossa. Não falo unicamente dos nossos filhos, falo de todas as pessoas que temos a felicidade de conhecer, com quem podemos aprender e quem podemos também influenciar. Espero que se consigam preservar os valores da sociedade, o respeito pelos povos e pelo próximo, independentemente de etnias, orientações sexuais, religião, ou outras características. Quanto ao legado profissional, espero que seja continuamente transformado e reinventado, para soluções sempre melhores.
"Numa ação de promoção de frutas e legumes, na minha atual função (2024)"
Beatriz Casaca e Ana António
Nesta edição entrevistamos Diogo Velez, aluno do 1º ano do Mestrado de Engenharia Biológica, ex-coordenador da NEBletter e atual membro do conselho fiscal do NEB.
O que achaste do PIC? Foi difícil escolher um tema?
O PIC foi uma ótima experiência para mim! Optei por não arranjar um tema externo e escolher uma das opções disponibilizadas pelo Técnico. Ainda me demorei a decidir qual o tema que preferia porque queria ter a certeza que passava o semestre a fazer algo que gostava e com o qual me identificava – por um lado, gostava de ter uma experiência mais “a sério” num laboratório, mas por outro, também queria experimentar algo diferente e que não é tão explorado na licenciatura. Acabei por escolher este último e fiquei no iMM, em bioinformática, a analisar dados de sequênciação de RNA.
Foi uma experiência muito boa! Os meus orientadores foram sempre super simpáticos e tinha imensa liberdade com horário e organização de trabalho, deu-me muita autonomia e noção de tudo o que se passa num laboratório desta área. Se correspondeu às minhas expectativas? Diria que não completamente, no sentido em que fiquei a perceber que se calhar passar 8 horas por dia à frente de um computador não é o tipo de trabalho que me vejo a fazer no futuro. Mas é precisamente para isso que serve o PIC, para ganhar experiência e descobrir um bocadinho mais sobre o que realmente se gosta ou não se gosta de fazer.
O que te fez querer continuar o Mestrado em Biológica?
Não houve assim nenhum grande momento de epifania, mas ao longo da licenciatura fui percebendo que Engenharia Biológica era um curso com o qual realmente me identificava. Como também não me via ainda a tirar um mestrado totalmente fora, acabei por ficar. Para além disso, foi onde criei grandes amizades e já cá me sentia “em casa” então pareceu-me mesmo a decisão mais natural e, até agora, não me arrependo nada.
Neste momento, qual a área que te interessa mais de Engenharia Biológica?
Neste momento, o que mais me interessa dentro da Engenharia Biológica seria provavelmente a área mais aplicada à saúde, seja engenharia de tecidos e medicina regenerativa, ou até desenvolvimento de biofármacos ou outras terapias, o que foi um dos critérios que usei para escolher o meu destino de Erasmus, já que o mestrado em que vou estar integrado tem uma especialização em Biotecnologia Médica. Gosto da ideia de trabalhar no desenvolvimento de soluções para a saúde, seja na regeneração de tecidos e terapias celulares, ou a investigar novos tratamentos baseados em terapias genéticas e biofármacos. A interseção entre biologia e engenharia nesta área fascina-me bastante, e vejo-me a trabalhar mais num ambiente onde possa contribuir para avanços na medicina.
Já tens ideia do tipo de trabalho futuro (profissão) que procuras?
Para ser sincero, ainda não tenho uma ideia muito concreta exatamente do tipo de trabalho que quero seguir. Sei que me interessa esta área da Bioengenharia Médica, e que vejo-me mais a trabalhar num ambiente de investigação, mas ainda estou a explorar todas as possibilidades. Acho que com o tempo e mais experiência, seja em estágios, projetos ou na tese, vou perceber melhor o caminho que quero seguir.
Se tivesses uma mensagem para o Diogo do passado e outra para o Diogo do futuro, o que dirias?
Para o Diogo do passado diria se calhar para não stressar tanto com o que está para vir. No início, tudo parece um bocado assustador, mas a verdade é que as coisas acabam por se encaixar. Diria para aproveitar ao máximo e não ter vergonha de se atirar de cabeça para as experiências.
Para o futuro a mensagem seria parecida, continuar a fazer as escolhas que realmente importam, a arriscar e a aproveitar as oportunidades sem receios. Que, ao longo do caminho, nunca perca de vista aquilo que me faz sentir realizado e continue a crescer sem medo de novos desafios.
Como sentes que toda esta aventura e tempo no Técnico até agora te mudaram para a pessoa que és hoje?
Acho que a universidade é, sem dúvida, um ponto de viragem para a grande maioria dos alunos, e comigo não foi exceção. O Técnico ensinou-me a lidar com desafios constantes e a ser muito resiliente – aprendi a organizar melhor o meu tempo e efetivamente a trabalhar (já que no secundário a minha produtividade era… quase inexistente [risos]). Sempre estive muito envolvido no NEB, na Praxe e outras atividades fora do Técnico, e nem sempre foi fácil gerir tantas coisas tão exigentes ao mesmo tempo, por cima da carga académica que todos sabem que o Técnico impõe. Mas agora, olhando para trás, percebo que foi essencial para me tornar quem eu sou hoje.
Além disso, ajudou-me muito a sair da minha zona de conforto e conhecer novas pessoas! Impossível deixar de falar em todas as amizades que criei ao longo destes anos, são elas que tornam a experiência no Técnico mais do que apenas cadeiras e avaliações. São as conversas,
as “piadas internas” e os momentos em que percebemos que estamos todos juntos nisto que realmente fazem a diferença.
Sentes que o facto de seres 1 ano mais novo que os teus colegas influenciou de alguma maneira o teu percurso tanto a nível académico como a nível inter e intrapessoal?
Claro que há sempre a piadinha de ser o bebé do grupo [risos] mas de forma geral chega a um ponto em que já nem se nota a diferença, nem eu me lembro disso, principalmente na universidade. No início, quando saltei um ano, foi talvez um pouco mais complicado porque ao mudar de turma tive de abandonar toda a gente que conhecia, mas rapidamente fiz novos amigos. Se alguma coisa, acho que isso me ajudou a me adaptar melhor a situações e a crescer mais rápido. No Técnico toda a gente está constantemente a lidar com desafios, por isso, independentemente da idade, o que realmente faz a diferença é a capacidade de te desenrascares.
Que interesses tens fora do âmbito académico?
Música! Eu toco violoncelo numa banda e tem sido ultimamente o meu maior hobby. É a minha forma de desligar da rotina académica e fazer algo completamente diferente. Desde os ensaios aos espetáculos, é um escape que me dá um equilíbrio entre o Técnico e o meu lado mais artístico. Para além disso, estou envolvido no NEB e na CP, que acabaram por se tornar uma grande parte da minha vida no Técnico. Antes da universidade fiz desporto durante muitos anos e fora disso gosto muito de ler, ver séries e fazer scroll infinitamente no Tik Tok [risos].
Entrevistámos também Mariana Gonçalves, aluna de Licenciatura em Engenharia Biológica e com uma forte presença em atividades extracurriculares.
Para começar, conta-nos como tem sido a tua experiência no curso, até agora. Tem cumprido as tuas expectativas que tinhas para o Técnico?
Antes de mais, obrigada pelo convite para ser entrevistada para a NEBletter. Quanto à minha experiência do Técnico, diria que sim, foi relativamente ao encontro das expectativas que tinha. A carga de trabalho é mais pesada do que esperava, e foi difícil inicialmente encontrar o equilíbrio entre vida académica e vida social, mas foi ficando mais fácil à medida que me fui habituando ao ambiente universitário.
Para além do Técnico também participas noutro tipo de atividades, sendo inclusive embaixadora. Fala-nos um pouco disso.
Neste momento, participo em 3 organizações diferentes. Estou inscrita como explicadora na iniciativa ExplicaMisto – um projeto que visa oferecer ajuda académica de estudantes universitários para alunos do ensino secundário. É especificamente para alunos que, por falta de meios, não teriam de outra forma acesso a um acompanhamento individual numa dada disciplina. Neste momento, estou a ajudar um aluno do 10º ano a Física e Química A e tem sido uma ótima experiência.
Também sou embaixadora da Magma Studio, uma organização que visa criar uma ponte entre o mundo empresarial e o espaço académico. Como embaixadora, sou responsável principalmente por promover os eventos e iniciativas da Magma – como workshops de soft e hard skills, visitas a sedes de empresas e reuniões com os próprios profissionais dessas empresas. Participo também frequentemente como staff em Talent Bootcamps – eventos de 1 a 2 dias em que é possível aprender soft skills, contactar diretamente com centenas de possíveis empregadores e simular entrevistas de emprego (nem sempre são simulações, também é possível sair de lá com ofertas de estágios ou de empregos). Foi também a Magma quem organizou o Recorde do Guiness da Maior Aula de Programação, em outubro de 2024 no TIC (da minha parte, peço desculpa a quem queria usar o espaço para estudar, ocupamos aquilo tudo durante 24h e percebo que tenha sido frustrante…).
Por último, sou ainda Youth Ambassador da Mary’s Meals. É uma instituição de caridade que procura oferecer refeições escolares em
locais onde existam condições graves de fome. Começou em maio de 2024 a atuar também em Moçambique, e o foco neste momento da equipa de Portugal é angariar fundos que permitam continuar a sustentar as 5 000 crianças no sul do país que já estamos a alimentar todos os dias.
Quais foram, até agora, as atividades mais interessantes que te foram propostas pelas organizações em que és embaixadora?
O que mais me salta à vista é certamente os Talent Bootcamps, principalmente os do Técnico (há várias edições, também há na Nova, na FLUL, etc). São dias muito atarefados e animados, em que posso conviver com a equipa, conhecer mais embaixadores e, ao mesmo tempo, falar com os profissionais de todas as empresas que recebemos. Sendo completamente honestaestamos constantemente ocupados a mover mesas, a encher garrafas de água ou a servir cafés, mas, nos minutinhos em que interagimos com as empresas, somos imediatamente mais respeitados assim que veem o badge de staff – sendo certamente um momento muito gratificante.
De que forma é que achas que a ideia de inovar a distribuição alimentar trazida pela Mary's Meals se relaciona ao nosso curso?
A ideia da Mary’s Meals é oferecer uma refeição diária às crianças na escola. Para muitas, acaba por ser a única refeição a que tem acesso o dia inteiro. Para muitas outras, a Mary’s Meals ainda não tem capacidade de dar resposta. Tem sempre o desafio de manter os custos baixos, totalizando 11 cêntimos por cada refeição. A refeição fornecida consiste numa papa nutritiva, utilizando sempre que possível ingredientes locais. Por exemplo, em Moçambique usase farinha de maizena e feijões. Este conceito permite, além de alimentar as crianças, promover a economia local e diminuir o impacto ambiental e as despesas de transporte. Ideias da área de bioengenharia, como o uso de microalgae na alimentação, ganham uma nova dimensão quando se pensa em aplicar em iniciativas como esta. As microalgae são constituídas por até 70% de proteína e contêm os 20 aminoácidos essenciais. Poderiam servir simultaneamente para complementar as papas nutritivas que oferece e para limpar recursos hídricos que estejam poluídos. Quanto mais todo o processo for otimizado –na conservação de ingredientes, na diminuição de custos, na inserção de “superalimentos” descobertos – melhor a Mary’s Meals consegue cumprir a sua missão.
A tua experiência na Mary’s Meals mudou de alguma forma a tua perspetiva sobre o mundo, nomeadamente sobre as desigualdades sociais?
Mudou, honestamente. Participo mais ativamente na instituição há menos de um ano, mas já tem tido um grande impacto na minha maneira de pensar. Problemas claramente desafiantes e em tão grande escala como a fome no mundo têm a tendência de deixar qualquer pessoa a sentirse impotente e insignificante. Antes de me ter tornado voluntária era precisamente assim que me sentia, como se nada que eu fizesse pudesse ter qualquer impacto.
A visão objetiva da Mary’s Meals renovou-me o entusiasmo, convenceu-me de que era possível fazer avanços e ser parte da solução. É uma solução muito direta – angaria-se 22€, alimentase uma criança durante 1 ano. 93% dos fundos angariados são usados diretamente para a alimentação das crianças. Todas as despesas da organização estão disponíveis online. Procura recorrer o máximo possível a produtos locais. É transparente, é clara, é bem estruturada e – mais importante do que qualquer outra qualidadefunciona.
Juntar-me à organização permitiu-me fazer a transição de um estado de frustração e de impotência face ao problema em questão, para um de otimismo cauteloso e, acima de tudo, de ação e de progresso. Os problemas de disparidades económicas e educativas nos países em que a Mary’s Meals atua, muito intensificados pela corrupção tipicamente enraizada nos sistemas políticos, existem e hão de existir durante algum tempo. Mas a Mary’s Meals oferece uma escapatória a este ciclo vicioso e uma luz no fundo do túnel. A curto prazo, a Mary’s Meals deixa uma criança ir hoje para a cama sem um estômago vazio. A longo prazo, a Mary’s Meals contribuirá para a existência de jovens saudáveis, felizes e com educação, capazes de construir um futuro melhor. E qualquer pessoa pode ser parte desta solução (até simplesmente dedicando umas horas do seu domingo).
Por último, tens alguma sugestão para dar aos alunos mais novos do nosso curso?
O meu conselho seria focarem-se em manter a vossa vida equilibrada. Sim, às vezes a carga de trabalho pode parecer impossível de lidar e que vão ter de passar o resto da semana numa biblioteca para resolver essa ansiedade, mas, por muito contraditório que pareça, gastar algumas algumas dessas horas com algo fora dos estudos pode ajudar imenso. Este tipo de atividades funciona como motor gerador de energia para a minha vida, e cada uma ocupa-me cerca de uma hora por semana. Dá muito mais propósito à minha vida e aos meus estudos, principalmente com ações de voluntariado – dar explicações fazme valorizar ainda mais o cargo de professor, e também me relembram do privilégio que tenho de ter acesso a uma faculdade como Técnico; participar no projeto da Mary’s Meals permite-me olhar para o curso de uma perspetiva diferente, como ferramenta para me tornar parte de uma solução.
Daniel Pereira
Dia dos Mestrados do Técnico 2025
Ainda a coçar a cabeça sobre o que se segue após terminares a tua licenciatura? Aqui está a oportunidade de aliviar algumas das tuas dúvidas. No dia 12 de março, entre as 15h e as 19h30, no Pavilhão Central do campus Alameda, irá realizar-se a 3ª edição do Dia dos Mestrados do Instituto Superior Técnico. Neste evento será possível conhecer os currículos de cada mestrado, assim como as oportunidades internacionais de desenvolvimento de carreira e bolsas de estudo. O evento conta com a participação de estudantes finalistas, professores e staff do Técnico. (As inscrições ainda não foram abertas à data).
À procura da porta de entrada para o mundo profissional? O Talent Bootcamp do Técnico está aqui para ajudar-te. Neste evento não terás só acesso exclusivo a estágios, programas de trainees e bolsas de investigação, como também a formações que irão cobrir os essenciais para te destacares no teu CV e nas tuas entrevistas. Para além disso, no evento será disponibilizado networking de alto nível dando-te a conhecer mais de 150 profissionais de topo de várias empresas. O Talent Bootcamp decorre às 9h de 14 e 15 de março no campus Alameda, e podes inscrever-te em hub.magmastudio.pt.
Sustentabilidade 360º | 1.º Encontro de Sustentabilidade da ULisboa
Em 2024 alcançou-se a preocupante marca do aumento de 1,5ºC da média da temperatura global desde a era pré-industrial. O planeta aproxima-se do seu limite e cada dia as consequências são mais indiscutíveis e severas. Tomar mais ações é indispensável! Assim, dia 11 de março das 9h às 16h30 irá se realizar no Salão Nobre da Reitoria da ULisboa e Cantina Velha o 1.º Encontro de Sustentabilidade da ULisboa. Neste evento espera-se reunir a comunidade académica da ULisboa com o objetivo promover uma discussão construtiva sobre a estratégia da ULisboa no âmbito da sustentabilidade e destacar boas práticas das escolas apresentadas pelas Associações de Estudantes. Neste encontro será realizada a apresentação da Rede Sustentabilidade (RedeSUSTENTA) da ULisboa, uma mesa-redonda para debater o tema “Sustentabilidade 360º’’ entre outras atividades relacionadas. Para mais detalhes sobre o programa completo e as inscrições acede à agenda do site da ULisboa.
Inserido no ambiente metropolitano de Lisboa há 90 anos, o Parque Florestal de Monsanto desenvolveu um ecossistema único que apenas é possível quando o Homem e a Natureza trabalham em harmonia. Como tal, para celebrar o seu 90º aniversário vai ser realizada até dia 15 de março uma exposição de fotografia por Mário Gomes. Onde será nos apresentado a única biodiversidade criada pela coexistência de plantas, animais e fungos no coração da capital portuguesa, relembrando-nos da existência deste refúgio, não só para preservar estas joias ecológicas para as gerações futuras, mas também para quem procura uma conexão com a natureza no meio do caos urbano.
Exposição Oh Selva…
A Embaixada da Colômbia em Portugal, em conjunto com a Casa de América Latina de Lisboa, inaugurou a 23 de janeiro a exposição Oh Selva…, no âmbito da celebração do centenário de La Vorágine, da autoria de José Eustasio Rivera. Nesta exposição irão encontrar as obras dos artistas colombianos contemporâneos, Felipe Arturo, Aimema Auai e o coletivo La Vulcanizadora, sobre a identidade, memória e natureza da região sul da Amazónia colombiana. Esta exposição durará até 28 de março e está aberta ao público de segunda a sexta das 10h às 18h. Para mais informações podem consultar o site da Casa de América Latina.
Coppélia ou a Rapariga dos Olhos de Esmalte
De 11 a 25 de abril será interpretado no Teatro Camões, pela companhia CNB, um bailado onde a ilusão e fantasia se misturam com o humor inspirado na obra Der Sandmann de E.T.A. Hoffmann, Coppélia ou a Rapariga dos Olhos de Esmalte. Esta obra explora a fronteira ténue entre o real e o ilusório e o fascínio humano por bonecos autómatos, intimamente ligados ao interesse pelo avanço tecnológico e científico no século XIX. Os bilhetes de 15€ a 30€ podem ser comprados no site da companhia, onde encontra-se mais informações.
Catarina Matos
No “Génios Ocultos” faremos uma breve introdução a um cientista cujas relevantes contribuições não são muito discutidas. O objetivo é dar a conhecer um pouco da sua vida e das suas descobertas mais interessantes.
Rosalind Franklin
Rosalind Franklin nasceu em 1920, numa família abastada e judaica em Notting Hill, Londres.
Desde cedo mostrou as suas capacidades escolares excecionais, tendo sido uma aluna de excelência nas áreas de ciência, latim e desportos na escola St Paul's Girls' School. Mais tarde, em 1938, estudou química na Newnham College, em Cambridge e três anos depois recebeu o prémio de “Second Class Honours”. Até à data, a Universidade de Cambridge não atribuía o nível de bacharelato (agora equivalente à licenciatura) a mulheres, como tal, o prémio que Rosalind recebeu foi aceite como diploma de bacharelato. Rosalind Franklin iniciou a sua carreira de investigadora com uma bolsa no laboratório de R.G.W. Norrish, onde esteve durante um ano mas sem grande sucesso. Entretanto, trabalhou na British Coal Utilisation Research Association (BCURA) onde estudou a porosidade do carvão e a sua relação com a densidade do hélio, tendo ajudado a classificar o carvão e a prever o seu desempenho como combustível e na produção de materiais para a guerra. Esta pesquisa foi a base da sua tese de doutoramento sobre química e física, que concluiu na Universidade de Cambridge em 1945.
Em 1951, Franklin juntou-se à Unidade de Biofísica do Conselho de Pesquisa Médica do King's College London, onde aplicou técnicas de difração de raios X a fibras de DNA. O seu trabalho levou à descoberta de duas formas de DNA: A e B. Devido a desentendimentos entre Franklin e Wilkins (investigador e colega de trabalho de Rosalind Franklin no King’s), o estudo do DNA foi dividido. Wilkins escolheu a forma B, porque as imagens anteriores sugeriam que pudesse ter forma helicoidal, pelo que Rosalind Franklin ficou responsável pela forma A. Em janeiro de 1953, ela concluiu que ambas as formas de DNA tinham duas hélices. Rascunhos não publicados de Franklin mostram que ela tinha determinado o aspeto geral da hélice de DNA na forma B e a localização dos grupos fosfato na estrutura.
Nesta altura, Watson e Crick estavam a desenvolver um modelo da estrutura do DNA e, por isso, no final de janeiro de 1953, Watson viajou até King’s e,
através de Wilkins, teve acesso à famosa “Foto 51”. Esta imagem, obtida por Franklin, foi mostrada a Watson sem a permissão ou o conhecimento da química inglesa. De acordo com Crick, os dados fornecidos foram fundamentais para determinar a estrutura e reformular o modelo de 1953 de Crick e Watson sobre a estrutura do DNA, que até então estava incorreto. Watson sugeriu que, idealmente, Rosalind Franklin teria recebido o Prémio Nobel de Química, juntamente com Wilkins.
Depois de terminar este trabalho com o DNA, Franklin liderou um trabalho pioneiro sobre o vírus do mosaico do tabaco e o vírus da poliomielite. Morreu em 1958, aos 37 anos, com cancro do ovário.
Apesar de ter enfrentado desafios num campo predominantemente dominado por homens, o trabalho de Rosalind Franklin foi extremamente essencial para a descoberta da estrutura do DNA. Infelizmente, as suas descobertas não receberam o mérito devido durante a sua vida. Contudo, hoje em dia, a comunidade científica reconhece as suas contribuições de extrema importância.
Rosalind FRANKLIN [Online]. Available at: https://scientificwomen. net/women/franklin-rosalind-38 (Accessed: 22 February 2025).
Teresa Antunes e Henrique Santos
No “Ciência em Perspetiva” apresentamos o resumo de dois artigos científicos, para enriquecer o teu conhecimento. Se quiseres aprofundar mais o tema, podes sempre encontrar o respetivo artigo seguindo as referências!
Produção de
células inteligentes: um futuro mais próximo na Biologia Sintética
Atualmente, um dos principais objetivos da Biologia Sintética é desenvolver células capazes de detetar sinais específicos de uma doença –como inflamação, marcadores de crescimento de um tumor, ou níveis de açúcar no sangue – e imediatamente reagir, administrando o tratamento apropriado. Estas "células inteligentes" estão dependentes de processadores artificiais minúsculos de composição proteica para ativar esta "inteligência".
Bioengenheiros da Universidade de Rice desenvolveram recentemente um kit de montagem para construir circuitos de deteção e reação em células humanas, baseando-se no processo natural de fosforilação. Este mecanismo desempenha, entre muitas outras funções celulares, um papel crucial na conversão de sinais extracelulares em respostas intracelulares. Por exemplo, a adição de um grupo fosfato em proteínas pode levar ao movimento da célula, à secreção de uma substância, ou à expressão de um gene.
Em organismos multicelulares, este tipo de sinalização normalmente envolve um efeito cascata, isto é, uma série de etapas interligadas, que começa no estímulo e culmina na resposta celular. Apesar do potencial terapêutico deste mecanismo, as investigações anteriores enfrentaram limitações devido à grande complexidade destas vias de sinalização natural. Ora, a equipa de Rice demonstrou que cada etapa da cascata pode ser tratada como uma unidade elementar, e que cada uma dessas unidades se pode ligar entre si, originando inúmeras combinações possíveis e, consequentemente, vias alternativas das naturais, que continuariam a ligar os INPUTS aos OUTPUTS. Esta descoberta abriu drasticamente as portas do design de circuitos sintéticos de fosfo-sinalização.
Utilizando esta estratégia, a equipa construiu os primeiros circuitos sintéticos de fosforilação, que se mostraram altamente flexíveis, compatíveis com os processos vitais da célula, e tão rápidos e eficientes quanto os circuitos naturais encontrados em células humanas. Para além disso, esta
abordagem modular replicou uma capacidade essencial destas cascatas naturais: a amplificação de um sinal fraco numa resposta macroscópica, reforçando o seu valor como ferramenta fundamental para a Biologia Sintética.
Outra vantagem significativa desta nova abordagem é a rapidez da fosforilação, que ocorre em apenas segundos ou minutos. Isto possibilita que este novo circuito sintético possa ser programado para responder a eventos fisiológicos que ocorrem nesta escala temporal. Este progresso contrasta com os modelos anteriores, baseados em processos moleculares mais lentos como a transcrição, que exigiam muitas horas para ativação.
Em suma, esta investigação demonstrou a viabilidade da construção de circuitos em células humanas capazes de responder a sinais de forma rápida e precisa. Também concebeu pela primeira vez um kit de montagem para circuitos de fosfo-sinalização, que poderá ser a chave para a construção das primeiras células inteligentes.
Bioengineer. (2025, January 3). Revolutionary Advances in “Smart Cell” Design Unveiled. BIOENGINEER.ORG. (https://bioengineer.org/ revolutionary-advances-in-smart-cell-design-unveiled/)
Um grupo de investigadores sul-coreanos desenvolveu uma tecnologia inovadora que permite reverter células tumorais em células benignas, sem a necessidade de matá-las. Esta abordagem representa uma nova forma de combater o cancro e é um método promissor de tratamento alternativo ou complementar a tratamentos tradicionais.
Reversão de cancro é um conceito que já foi teorizado e proposto durante vários anos. Ao contrário de células normais, células cancerígenas são indiferenciadas. Isto significa que, à medida que uma célula normal se torna cancerígena, esta perde a sua diferenciação, devido aos genes associados à diferenciação celular - designados genes de transcrição mestres - ficarem mutados ou inativados. Teoricamente, ao induzir novamente a expressão desses genes, poderá ser possível a sua reativação, podendo dessa forma recuperar a diferenciação da célula ou até mesmo atribuir-lhe uma nova função, um processo designado trans-diferenciação. Um exemplo de trans-diferenciação é a diferenciação de células do cancro da mama em células do fígado. Contudo, a falta de um método para identificar os genes de transcrição mestres impediu o avanço da investigação.
Recentemente, um grupo de investigadores, liderado pelo professor Kwang-Hyun Cho, do Korea Advanced Institute of Science and Technology (KAIST), desenvolveu uma tecnologia que permite a conversão de células cancerígenas do cólon em células aparentemente normais, documentado no artigo científico Control of Cellular Differentiation Trajectories for Cancer Reversion, publicado a 11 de dezembro de 2024, no jornal Advanced Science. Ao analisar o processo de formação de cancro, os cientistas da KAIST observaram a regressão das células normais ao longo da sua trajetória de diferenciação. Através de uma tecnologia inovadora, que permite a criação de um gémeo digital da rede de genes envolvida na trajetória normal de diferenciação celular, conseguiram simular as interações entre os genes. Foi possível então identificar os genes específicos mais importantes na regulação da diferenciação - os genes de transcrição mestres. Ao manipular estes genes, a equipa de investigadores reverteu com sucesso células cancerígenas do cólon em células benignas, tendo estes resultados sido confirmados através de testes animais.
Este estudo revela que a reversão de cancro pode ser alcançada através da criação e estudo
de gémeos digitais da rede genética da célula cancerígena, e as implicações desta descoberta são imensas. Não só representa uma nova forma de tratamento de cancro, mas também uma que não causa efeitos secundários no paciente, como risco de desenvolvimento de resistência. "O facto das células cancerígenas poderem ser convertidas novamente em células normais é um fenómeno surpreendente. Este estudo prova que esta reversão pode ser induzida sistematicamente", clarifica Kwang-Hyun Cho.
Moul, D.R. (2024). Researchers Develop Groundbreaking Technology To Revert Cancer Cells Into Normal Cells. IFLScience. https://www.iflscience.com/researchers-developgroundbreaking-technology-to-revert-cancer-cells-intonormal-cells-77394
The Feed (2024). Big breakthrough in medical treatment: Korean scientists find undo button that turns tumour cells into nor. The Economic Times. https://economictimes.indiatimes.com/news/ international/us/big-breakthrough-in-medical-treatmentkorean-scientists-find-undo-button-that-turns-tumour-cellsinto-normal-ones/articleshow/116807968.cms?from=mdr
Gong, J., Lee, C., Kim, H., Kim, J., Jeon, J., Park, S. and Cho, K. (2024). Control of Cellular Differentiation Trajectories for Cancer Reversion. Advanced Science. https://onlinelibrary.wiley.com/ doi/10.1002/advs.202402132
Seleção exclusiva do melhor entretenimento para te acompanhar este mês!
No livro Red Rising, Marte é governada por uma classe elite de pessoas chamadas os ‘’dourados’’, que desprezam os ‘’vermelhos’’, a classe do protagonista, Darrow. Darrow, juntamente com os outros ‘’vermelhos’’, trabalham em colónias de minas em Marte, acreditando que a Terra está a morrer e que os seus esforços permitirão a habitação de Marte. Quando descobre esta mentira, Darrow promete vingança e disfarça-se como um ‘’dourado’’ para destruir esta sociedade corrupta pelo interior. Todos os que gostam de uma história repleta de reviravoltas adorarão esta obra-prima de Pierce Brown. Henrique Santos
The Apothecary Diaries acompanha Maomao, uma jovem forçada a trabalhar no Palácio Imperial, que planeia cumprir os dois anos de serviço sem chamar a atenção de ninguém. No entanto, ao curar a grave doença que afetava os recém-nascidos e as concubinas do imperador, começa a ser cada vez mais solicitada para desvendar os vários mistérios da corte real. Com uma combinação perfeita de comédia, mistério e romance, este anime surpreende com uma protagonista inspiradora e fora do comum!
Teresa Antunes
Alguns dias após acenar instintivamente a um barco brasileiro, um homem burguês sente-se assombrado por uma entidade maligna que o impede de dormir. Será que está a enlouquecer? Claro que não! Está totalmente consciente da sua condição! O Horla de Guy de Maupassant é um conto de terror que segue o declínio mental deste homem, que acaba por tomar medidas drásticas ao tentar ver-se livre do ser que o assombra. É citado como uma das inspirações para a escrita d’O Despertar de Cthulhu, de H.P. Lovecraft. Ana António
A tripulação da nave de uma empresa de transporte intergaláctico em resposta a um estranho pedido de socorro dirige-se ao misterioso planeta Petrichor V. Assim começa a aclamada sequela de Risk of Rain. Este jogo indie é um dos mais proeminentes do género rogue-like, onde sozinho ou com amigos tentam escapar deste planeta enfrentando os seus peculiares habitantes, enquanto coletam poderosos itens, ao som de uma trilha sonora eletrizante e um ciclo de gameplay viciante.
Daniel Pereira
Considerada uma das melhores autoras de ficção especulativa, Ursula K. Le Guin atreve-se a imaginar um mundo anarquista no qual Shevek, um grande cientista, sempre viveu, isolado do resto da civilização noutros planetas. A história alterna entre passado e presente, entre os planetas Anarres e Urras, a pobreza e a riqueza mas também a paz e o terror. Os despojados descreve-nos ambos os mundos com mestria e faz-nos questionar pela primeira vez muitas das nossas ideias.
Maria Paixão
Gracie Abrams é uma cantora e compositora norte-americana que ganhou bastante destaque e fama em 2024 com o lançamento do seu álbum mais recente The Secret of Us (Deluxe). O novo hit da cantora That´s So True gerou uma onda de fama pelas diversas redes sociais, principalmente no Tik Tok, o que causou o esgotamento de vários concertos da sua tour pela Europa. Muitos associam o seu impulso para a fama com os seus concertos de abertura da The Eras Tour. A maioria das pessoas não sabe que Gracie é filha do cineasta J.J.Abrams, conhecido pelos seus filmes de Star Wars
Beatriz Casaca
Se alguma vez te perguntaste como é que chegámos aqui, ou como a humanidade evoluiu das cavernas para inventar coisas tão úteis quanto reality shows e filas de espera, Cunk on Life tem todas as respostas… e nenhuma delas faz sentido. Mas isso não impede Philomena Cunk de tentar.
Embora este nome possa não te dizer nada, muito provavelmente já encontraste algures no tiktok algumas das suas falas mais icónicas na sua série Cunk on Earth, antecessora do filme Cunk on Life, tais como “It’s difficult to believe I’m standing in the world’s oldest city, because I’m not. That’s in Iraq, which is miles away” ou “The egyptians believed that the most significant thing you could do in your life was die”
Cunk on Life é um documentário satírico apresentado por Philomena Cunk, uma personagem interpretada por Diane Morgan. Com um estilo absurdamente sério e um humor desconcertante, o filme deu continuação à missão da série de desconstruir a história da humanidade, de maneira tão ridícula quanto brilhante, para conseguir responder a “algumas das perguntas mais significantes que podes perguntar com uma boca”, através de entrevistas constrangedoras e monólogos absurdos.
O filme faz-nos rir enquanto nos questionamos sobre o quão ridícula é a própria história da humanidade ao longo de nove capítulos, abrangendo diversos temas como a arte, a religião e a ciência, assim como certos aspetos da vida humana que a certo ponto da nossa história guiaram a nossa sociedade, tais como o trabalho, o pecado, e a busca de prazer.
Gostava ainda de destacar algumas cenas deste filme que me chamaram a atenção: o foco em certos acontecimentos ou tópicos sem relação alguma com o tema que se estava a falar através de constantes referências irónicas feitas pela repórter (ex: ao seu amigo Paul, que é descrito como um homem de conhecimentos e experiências questionáveis, ou ao hit belga dos anos 80 “Pump Up The Jam”, que podes ouvir com o código que está no final desta review); e os seus comentários completamente ridículos durante os seus monólogos e entrevistas a especialistas, como quando expõe a sua opinião sobre um dos quadros de Van Gogh, “(...) It’s actively bad. Better if he’d never painted anything, not even a bog door in a home for the blind. Anyway, that’s my view. What do you think?” e a câmera passa a mostrar que ao lado dela estava um professor de história da arte da Universidade de Edimburgo, Richard Thomson, sem reação possível para o que Cunk tinha acabado de dizer (talvez alguém deva verificar se ele está bem), ou quando aborda no primeiro capítulo o tema da criação do mundo, através de monólogos satíricos e de uma entrevista a Rupert Sheldrake, um autor espiritista, a quem faz perguntas igualmente irónicas.
Maria Paixão
O desenvolvimento científico tem sido espantoso: sabemos a composição química de estrelas a anos-luz, a chave para o nosso genoma e os detalhes da vida de pessoas que viveram há milhares de anos. Com um conhecimento tão vasto seria de se esperar que a nossa vida, como seres humanos, se encontrasse num nível no mínimo satisfatório.
A ciência é incrível (excetuando-se nos dias em que há teste de cálculo), no entanto parece faltar-nos algo importante: saber usá-la. Segundo dados recentes da ONU, 27,8% das crianças vivem na pobreza, e quase mil milhões de pessoas não têm sequer combustível para cozinhar. É verdade que estes números, ainda assim, estão a diminuir, mas até quando? Basta uma catástrofe para fragilizar ainda mais a situação de muita gente. Ao que parece, a solidariedade(zinha) também não tem sido o suficiente para melhorar a situação humanitária.
Por cá, é-nos natural termos capacidade para ir ao espaço, mas “é o que é” e “apesar de ser falho, este é o melhor sistema” quando alguém (utopista!) aponta que talvez pudéssemos viver de forma mais justa. Será que o avanço científico foi sobre-alimentado, deixando de parte o nosso lado humanista e filosófico? Por que é que tantas vezes desmerecemos os nossos colegas das ciências sociais, humanas e políticas, ao invés de trabalharmos em conjunto?
Muitos de nós estudam, são académicos, mas incultos. Passamos a vida a estudar acerca de variáveis que possam afetar o nosso trabalho mas vemos a vida de forma simplista e linear. Acreditamos que a solução para os nossos problemas é um, porque o sentimos. Não vamos investigar, basta ler as letras gordas e passar por cima das miúdas, votei no X porque ouvi dizer que Y, não tenho tempo para ler (ou pensar) mais sobre isso. Nem tudo é a preto e branco, num dia somos interessados e estudiosos, no outro dizemos com confiança a coisa mais ridícula do mundo, mas é de notar o quanto a desinformação tem corrido solta por aí. É fácil sermos enganados, coagidos e manipulados, não estamos em alerta a 100% do tempo e andamos cansados de tudo. Somos animais selvagens escondidos atrás de gravatas e casamentos. Não temos a resposta para todas estas questões e iremos sempre viver alienados em relação a alguma coisa. Por este motivo, cabe-nos a nós estimular o trabalho de quem o faz e de quem o divulga. Sociologia não pode “ser para burros”, a educação tem de ser valorizada e a filosofia não pode ser algo do passado, nesta altura temos capacidade para encontrar melhores respostas se procurarmos por elas e, em conjunto, nos empenharmos. Pode demorar imenso tempo até que haja novamente real progresso, dado que são lutas difíceis. Temos muito trabalho por fazer, entre crises económicas, humanitárias e climáticas e, talvez, um dia desvendemos um dos maiores mistérios que é a solução para a civilização humana.
Ana António
Sempre fui uma grande fã de terror em praticamente todas as suas formas e feitios, mas existem alguns subgéneros que vivem perto do meu coração. Qualquer coisa que toque em temas como horror cósmico, terrores que ultrapassam a compreensão humana, e a deformação da biologia abordada no body horror suscitam automaticamente o meu interesse.
O terror mais mainstream costuma abordar outro tipo de tópicos, como o espiritualismo (terror religioso) e o instinto natural de sobrevivência, com os jumpscares e os famosos filmes slasher, mais focados num terror de ação. Temos também vindo a presenciar um crescimento no analog horror (apesar de achar que ainda não deve ser considerado mainstream), com um custo de produção bastante mais baixo, logo mais acessível, baseado em found footage e em terror psicológico. É muito difícil isolar cada subgénero no sentido em que raramente um pedaço de media (seja um filme, um vídeo no Youtube ou um livro) tem presente apenas um deles. Isto para dizer que alguém que tem um gosto muito específico (como eu) dificilmente encontrará algo que não seja uma mixórdia de ideias quando procura algo com uma qualidade de produção mais elevada.
Quando penso numa obra bem conseguida mas que, infelizmente, não me conseguiu captar a 100%, a primeira coisa que me surge é o jogo (e agora série) The Last of Us. O terror biológico com uns toques de terror cósmico (apesar do Cordyceps ser facilmente explicado pela ciência) deixaram-me fã desta história. Pensar que um ser tão insignificante para nós conseguiu reverter a dinâmica da cadeia alimentar, colocando a humanidade em segundo plano (o fungo busca a sua própria sobrevivência sem se importar com as consequências), o niilismo intrínseco a toda a situação, a impotência humana e as deformações que os fungos causam no nosso corpo provocam-me reações viscerais, no melhor sentido. No entanto, o meu interesse acaba aqui. A maior parte do jogo baseia-se em ação, no medo de ser apanhado por um destes zombies, de ser infetado e em todo o contexto de um cenário pós-apocalíptico. Não deixa de ser interessante, mas não me capta com tanto gosto.
Em contrapartida, o romance de Arkady e Boris Strugatsky, Roadside Picnic, apesar de não ser necessariamente considerado terror, encapsula perfeitamente tudo o que mais me é querido no género: terror cósmico, corporal e psicológico. A história, que veio depois a servir de inspiração para a saga de jogos S.T.A.L.K.E.R., aborda terrores alienígenas num contexto hostil de uma forma que eu considero maravilhosamente terrível, com descrições que me fazem revirar o estômago. É uma obra que, mais que terror, é filosofia.
No fundo, acho que o pior terror é o que me faz pensar. É facto que a exposição contínua ao assustador dessensibiliza uma pessoa, mas a forma como estes tipos de terror manipulam a nossa realidade e forma de pensar fazem com que tudo pareça novo, refrescante e horrível. Será normal buscar constantemente esta sensação de angústia? Será masoquismo gostar de sentir medo?
Francisco Cardoso
E que tal um desafio? Nesta sopa de letras tivemos inspiração na série Squid Game, e neste jogo todas as palavras estão interligadas umas às outras por pelo menos uma letra, mas podem tomar as direções que quiserem, as vezes que quiserem. Achas que consegues encontrar as oito palavras que escondemos?
Para te ajudar aqui vão algumas pistas: (5,1) melhor curso do técnico; (3.5) bolacha com quatro formas diferentes; (5,1) pequenas esferas com que brincávamos na infância; (6,1) o que acontece quando alguém perde num jogo com apurações; (9,4) primeira pessoa a ser eliminada na série; (10,5) verdadeiro vilão da série; (7,6) objeto usado com os jogadores eliminados; (9,5) objeto usado no segundo desafio.
Dica: O tema desta edição ajuda mais do que pode parecer ;)
Arma (7,6); Agulha (9,5)
Biologica (5,1); Dalgona (3.5); Berlinde (5,1); Eliminado ;(6,1) Kang Mi-na(9,4); Oh Il-nam (10,5);
SOLUÇÕES com a coordenada (linha,coluna) da primeira letra:
Os Mestres continuam pobres e começam a desesperar: já não sabem formas para dinheiro ganhar… Recebem então uma proposta de que suspeitam - Será que a aceitam?
Antes de decidir se no Squid Game os mestres querem entrar, nas formas como podem perder devem pensar. Recordaram, então, momentos de vida que as suas aptidões físicas e mentais poderão indicar.
Acharam então que em trabalho de equipa compensavam, pois quão difícil haveria de ser!? Ora em equipa os Mestres nunca trabalharam, por opção, gostariam eles de dizer. Mas a verdade é que em projetos de grupo, de lado sempre ficaram. O que poderá isto estar a esconder?!
Lembraram-se dos tempos de Educação Física. As suas aptidões físicas não revelaram grande sucesso. Como poderiam participar no Squid Game se antes do Vaivém realizar, já sabiam que nem sequer ao patamar saudável conseguiriam chegar?
Teriam então de tentar sobreviver sozinhos, confiando nas suas skills de sobrevivência. Mas com falta de atenção e uma miserável resistência só resta confiar no instinto - JÁ VIRAM AQUELES CANGURUS FOFINHOS?
Confrontados com memórias dolorosas, os Mestres não desanimaram! Mas pouco tempo passou, e mais uma memória chegou, a do MAP que faltaram porque o dia não viram bem. Foi então que os Mestres pensaram: que chance terão com este grau de atenção?
Cansados só de pensar e depois de uma sova do canguru levar (não é preciso um guru para saber que eles batem com força), os Mestres desistem da ideia. Recorrem então ao LinkedIn para tentar encontrar emprego - veremos o que desta procura desencadeia.