Caderno 01 - Acolher e ensinar estudantes Internacionais

Page 31

Orientações Pedagógicas para Docentes do Ensino Superior

mundovisões das pessoas envolvidas. Se alguns desses problemas podem ser facilmente resolvidos com uma pequena negociação, já outros encontram no meio académico as mesmas dificuldades que na sociedade em geral. Os incidentes críticos que apresentamos no anexo 6 ilustram essas zonas de incerteza. Compete a cada professor explorar as suas próprias convicções e competências, numa perspectiva de auto-aperfeiçoamento pessoal e profissional. Se confrontado com casos idênticos o que faria? Onde iria buscar as ferramentas para resolver os incidentes? Sugiro que a análise destes incidentes críticos seja feita nessa perspectiva auto-reflexiva. “Conhece-te a ti mesmo…” (diria o filósofo) para que possas conhecer o outro, ensinálo e aprender com ele. O anexo 2 (Coisas a perguntar-se) e o anexo 4 (Avaliação da Sensibilidade Intercultural) foram também incluídos para auxiliar essa tarefa individual.

Notas finais Grande parte do que aqui fica dito pertence ao domínio da pedagogia geral: os conhecimentos usados apenas foram aplicados e concretizados no caso do ensino de estudantes Internacionais. Muitos destes conhecimentos são, na sua base, regras de bom senso em matéria de educação. As condições de aprendizagem, poderíamos dizer, não têm nacionalidade e parte do que fica dito não é nada de surpreendente para um professor eficaz e experiente. Além disso, com o fenómeno da globalização, verifica-se a tendência para uma aproximação das gerações jovens em matéria de hábitos, preferências e estilos de comportamento. Todos estes factores nos poderiam ter desmotivado de escrever este texto e poderiam desmotivar também o leitor. Além disso, o presente guião não inclui toda a panóplia de casos complexos que se apresentam ao professor de estudantes (inter)nacionais, pelo que pode ser visto como um material incompleto. Depois, nem foi escrito como um livro de receitas nem pode ser usado como tal. Para quê o cuidado, então? Neste texto dirigimo-nos mais directamente aos professores menos experientes, mas na esperança de que algumas dicas também possam ser aproveitadas pelos mais experientes. Este guião tem a sua base pedagógica consolidada no conhecimento de inúmeros peritos no ensino de estudantes internacionais e igualmente nos princípios mais sólidos de ensino e aprendizagem que informam as ciências da educação. A pedagogia pode ter algo de arte e inspirar-se em talentos pessoais, mas, acima de tudo, é uma ferramenta (que inclui princípios teóricos e conceitos rigorosos, técnicas precisas e estratégias reforçadas na sua validade pela investigação) que merecem ser olhadas como algo mais do que idiossincrasias do professor. Por outro lado, respeita-se também o pressuposto de que “a cultura conta”. Todos somos entidades culturais e parte da nossa identidade resulta das pertenças a grupos culturais (étnicos, religiosos, linguísticos e nacionais). No ensino de grupos culturalmente diversos é fundamental ter isto presente. Este texto não teve intenção de explorar as questões culturais, nem seria o lugar adequado para o fazer, mas baseou-se também no corpo de conhecimentos trazidos à luz pela psicologia social, pela psicologia cultural e pela sociologia. A língua e a cultura desempenham papeis centrais no palco da aprendizagem. Os estudantes internacionais podem ter – e têm – inúmeras parecenças com os estudantes nacionais, mas essas parecenças podem ser superficiais e enganosas e gerar a ilusão de que aquilo que funciona com uns funciona com todos. Mesmo que seja o 31


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.