PALAVRAS FINAIS Frente ao exposto ao longo deste estudo, fica evidente que há, no contexto das produções de imagens escriturais sobre Cristóvão Colombo e suas ações, um oceano de discursos dissonantes que evocam o passado que registrou o “descobrimento” da América por Cristóvão Colombo: um projeto exaltador, apologético e mitificador da imagem do marinheiro e suas ações e outro crítico/desconstrucionista que, em algum momento, abandona os experimentalismos linguísticos e formais que estruturavam obras impugnadoras dos discursos históricos e ficcionais benevolentes ao marinheiro para, então, transformar-se em um discurso crítico/mediador. Nesse sentido, embora se edifiquem aspectos da tendência contemporânea crítica/mediadora – como o uso de relatos feitos em primeira pessoa centrados em vozes ex-cêntricas e a subjetivação da história –, os recursos escriturais aplicados à ficção pela grande maioria dos romancistas espanhóis na tessitura das obras romanescas da temática colombina distanciamse, ainda, do discurso paródico, irônico, carnavalizado, polifônico e dialógico empregado na grande maioria das obras dessa temática no contexto da literatura hispano-americana e já, em partes, também, na anglo-saxônica estadunidense. O diálogo entre as distintas correntes encontra no romance histórico contemporâneo de mediação a sua via mais frutífera. Tal modalidade crítica/mediadora de escrita híbrida de história e ficção já não precisa desconstruir imagens e discursos de modo tão ferrenho, pois essa necessária etapa de enfrentamento para a descolonização já foi realizada pela literatura hispano-americana das décadas do boom e do princípio do pós-boom. A ação crítica, ideológica e discursiva dos romances de mediação centra-se em evidenciar perspectivas muitas vezes marginalizadas, com discursos críticos ancorados em visões periféricas daqueles sujeitos que vivenciaram as ações do passado, mas não integram a galeria das personagens cujas vozes ressoam nos documentos e fontes oficiais que serviram à história tradicional hegemônica como “concretudes” para a escrita de sua versão unívoca do passado. No universo latino-americano, repetir, na atualidade, a configuração heroica de Colombo, mais de um século e meio depois da inauguração da temática na narrativa norte-americana anglo-saxônica, para avalizar o discurso colonizador de dentro mesmo do espaço colonizado é uma atitude escritural questionável, que revela a ainda forte presença de setores firmemente ancorados nos procedimentos seculares da colonização. A produção contemporânea do brasileiro Paulo Novaes (2006), e toda a ideologia colonizadora que dela ainda emana, destoa do cenário artístico literário crítico e consciente dos romancistas brasileiros que ressignificam o passado da colonização portuguesa em nossas letras. Tais escritores se unem 275