A criação de um audiolivro e a temática da acessibilidade: crítica genética

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inclusive as salas de recursos multifuncionais do tipo II, distribuídas pelo MEC para as escolas no país e que possuem equipamentos para o aluno utilizar o tocador MecDaisy. Destaca-se que, para ouvir um texto no tocador MecDaisy, o documento é salvo em arquivo do word, com os títulos e subtítulos gravados em fontes diferentes de todo o resto. As ilustrações existentes são descritas detalhadamente para, em seguida, tal material ser salvo novamente no formato daisy, em pasta que comporta vários arquivos. Para ouvi-lo, basta abrir o arquivo e rodá-lo no tocador MecDaisy. O Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro disponibiliza o link intervox.nce.ufrj.br/mecdaisy, por meio do qual é possível fazer download do programa gratuitamente, além de acessar um tutorial em vídeo sobre sua utilização e materiais de referência para livros didáticos. Nesse contexto, o Grupo de Pesquisa PRO.SOM, ao produzir audiolivros com contos literários inéditos em língua portuguesa voltados para pessoas com deficiência visual, abriu espaço para o estabelecimento de parcerias no sentido de analisar a acessibilidade do audiolivro, confrontando-o com a audição dos contos pelo MecDaisy e pelo sistema operacional DOSVOX. Dessa forma, o este estudo contou com a parceria do Programa Institucional de Ações Relativas às Pessoas com Necessidades Especiais - PEE, da Unioeste, e com a Associação Cascavelense de Pessoas Cegas - ACADEVI, que congrega pessoas com deficiência visual em Cascavel, liderando um movimento social em defesa de seus direitos e compondo o grupo de sujeitos que realizaram a recepção do audiolivro em análise.

A recepção do audiolivro Os significativos avanços e as ampliações das tecnologias que vêm marcando o início do século XXI têm influenciado muito as práticas culturais. Dentre elas, destaca-se a leitura de textos, que podem chegar ao receptor de várias formas, como citado anteriormente. Também os avanços das mídias, como a fotografia e o cinema, a partir do início do século XX, ampliaram-se com o desenvolvimento dos meios eletrônicos de comunicação, na chegada ao século XXI e, como afirma Dencker (2012, p. 131), “têm mudado radicalmente a compreensão da obra de arte e do artista”. Dilatam-se, e mesmo diluem-se, as fronteiras interdisciplinares pelo impulso das relações cada vez mais intensas entre as áreas do saber, relativizando-se assim os objetos de conhecimento. Conforme cita Araújo (2008, s.p.), “esse fato é reflexo da disseminação das tecnologias midiáticas na sociedade e a capacidade que elas têm de incorporar a expressão artística, seja em forma de códigos para serem utilizados em seus formatos ou em forma de difusão dos produtos culturais”. Num contexto marcado por tais características, importa refletir sobre o espaço ocupado pelos textos literários e seus leitores que, sob muitas formas, podem querer interagir com eles. As formas de apresentação de um texto, portanto, apropriam-se dos novos aparatos tecnológicos, dentre eles, o suporte audiolivro. Do ponto de vista dos estudos literários, o foco sobre o leitor e a recepção do texto constitui a característica principal de estudos que marcaram a metade o século XX, superando a visão tradicional sobre a criação literária, tanto da inspiração divina quanto da aura que a protegia, “num redimensionamento das noções de autor, de texto e de leitor”, como aponta Zappone (2009, p. 189). Datam desse período as três tendências dos estudos chamados de Teorias da Recepção, que estabelecem um novo patamar para o leitor como produtor 83


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