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III O AUDIOLIVRO E A ACESSIBILIDADE

III

O AUDIOLIVRO E A ACESSIBILIDADE

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Apresenta-se o processo de recepção do audiolivro em análise, considerando as condições de acessibilidade de tal produto e seu aceite por pessoas com deficiência visual. Este estudo do processo de criação de um audiolivro com dois contos sobre uma temática em comum, a saber, A cega e a negra – uma fábula, de Miriam Alves, e A terra dos cegos, de Herbert George Wells, está relacionado a investigações sobre a estética radiofônica. As diferenças das condições perceptivas e imaginativas da leitura com o uso de vozes sintéticas e com a utilização da leitura interpretada de textos literários, incluindo o aproveitamento de recursos diversos, como efeitos sonoros até contando com aparato tecnológico sofisticado, são preocupações que nortearam este estudo. A pertinência e relevância desta produção têm por base o fato de que o processo de inclusão social de pessoas com necessidades especiais demanda não apenas ambientes próprios, ou seja, a acessibilidade arquitetônica, mas também o investimento em processos para busca de informações e de conhecimento colocados ao alcance dessas pessoas. Toda essa demanda implica, na verdade, que o trabalho realizado atenda a determinadas exigências e tenha certas características relacionadas com a questão da acessibilidade. Assim, tem-se a definição de acessibilidade relativa às questões da vida das pessoas com deficiência, conforme apresentado pela Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Trata-se de

[...] um atributo essencial do ambiente que garante a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Deve estar presente nos espaços, no meio físico, no transporte, na informação e comunicação, inclusive nos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como em outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na cidade como no campo (BRASIL, 2013).

Nesse contexto e objetivando alcançar o atributo acessível dentro das características específicas das diversas deficiências, deve-se atentar para o fato de que tais circunstâncias geram necessidades particulares. Seja no mobiliário doméstico adaptado aos equipamentos eletrônicos para obter informações e conhecimentos, seja no software adequado, como os tipos de ledores de tela, de scanner com voz, de telelupas e inúmeros outros, a ideia é investir na acessibilidade e acompanhar as chamadas tecnologias assistivas, que se constituem

[...] em uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (TECNOLOGIAS ASSISTIVAS, 2013, p. 1).

Compreende-se que alcançar autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social resulta de um percurso vivido em determinado tempo, no qual o conhecimento e as

condições concretas de uso efetivo de tais tecnologias assistivas têm um papel central pela intermediação que possibilitam às pessoas com deficiência. Por um lado, nas condições gerais para a vida independente, que se referem aos cuidados pessoais, à vida social, à educação, ao transporte e ao trabalho, incluem-se os aparatos tecnológicos presentes, cada dia mais, nos equipamentos eletrônicos, na informática, no acesso à rede mundial de computadores. Por outro lado, a implantação da inclusão escolar dos alunos com deficiência visual em todos os níveis de ensino, bem como a obrigatoriedade da promoção dos recursos de acessibilidade desde a educação infantil, passa a ser de responsabilidade estatal. Por isso, o Ministério da Educação tem o dever de fornecer, além de outros materiais, como lupas, jogos com sinalização em relevo, bengalas, também os livros didáticos acessíveis para cumprir essa tarefa (BRASIL, 1996; 2004; 2008; 2009; 2011a; 2011b). A partir de 2009, iniciou-se a utilização do padrão Digital Accessible Information System, cuja sigla é Daisy, para produção e leitura de livros digitais. Conforme informações disponíveis no Portal do MEC (BRASIL, 2011) para o sistema educacional brasileiro, o Ministério da Educação estabeleceu parceria com o Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro – NCE/UFRJ, criando o MecDaisy, programa que possibilita a geração de livros digitais falados e sua reprodução em áudio gravado ou sintetizado. Esse padrão apresenta facilidade de navegação pelo texto, permitindo a reprodução sincronizada de trechos selecionados, o recuo e o avanço de parágrafos e a busca de seções ou capítulos pelo fruidor. Possibilita, também, anexar anotações aos arquivos do livro, exportar o texto selecionado para impressão em Braille, podendo-se ter acesso à sua leitura em caracteres ampliados e com contrastes de cor à escolha do usuário. Todo texto é indexado, facilitando, assim, a sua manipulação por meio de índices ou buscas rápidas.

Figura 28 – Fragmento em fac-símile da parte inicial do texto do conto A terra dos cegos em formato xml, para MecDaisy

Fonte: Elaborada pela autora

Com o recurso mencionado, os Centros de Apoio Pedagógico para alunos com deficiência visual, em instituições estaduais e municipais, utilizam essa tecnologia para a geração de seus livros didáticos, os quais são distribuídos para as escolas. As editoras que fornecem os livros didáticos para o MEC encontram-se em processo de adaptação às novas exigências,

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